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CLÍNICA – VALVULOPATIAS SCHEILA MARIA O fechamento da valva mitral (B1) ocorre no início da sístole ventricular, quando a pressão do VE eleva-se subitamente acima da pressão do AE. Isso é imediatamente seguido pelo fechamento da valva tricúspide. A pressão ventricular continua a subir. Quando as pressões forem iguais na aorta e no VE, a valva aórtica abre-se abrupta e silenciosamente, seguida imediatamente pela abertura da valva pulmonar. Se as valvas aórtica ou pulmonar forem anormais, a abertura não será silenciosa e será produzido um som de ejeção. A pressão ventricular continua a elevar-se e, em seguida, diminui, fazendo com que o fluxo anterógrado na aorta e na artéria pulmonar torne-se lento e, depois reverta, provocando o fechamento da valva aórtica e, a seguir, da valva pulmonar (B2). A medida que o ventrículo se relaxa (diástole ventricular), há uma queda rápida da pressão do VE. Quando esta pressão se iguala à pressão do AE, a valva mitral abre- se silenciosamente, assim como a valva tricúspide no lado direito. Se a valva mitral estiver estenosada, a abertura não será silenciosa, ocorrendo abruptamente e produzindo um estalido de abertura. Segue-se a fase de enchimento rápido do VE que produz uma tênue onda positiva nos traçados de pulso. Este evento usualmente é silencioso, entretanto em jovens, em estados de alto fluxo ou nos quadros de ICC, uma terceira bulha (B3) pode ser produzida pela rápida desaceleração do enchimento ventricular inicial. A B3 confere a qualidade de galope ao ritmo cardíaco, denominado GALOPE VENTRICULAR. No final da diástole, os átrios contraem-se propelindo o sangue para os ventrículos. Normalmente, este evento é silencioso. Entretanto, se o ventrículo estiver enrijecido (disfunção diastólica), o jorro vigoroso do AE se choca contra a parede não complacente do VE produzindo a quarta bulha (B4). A B4 confere a qualidade de galope ao ritmo cardíaco, denominado GALOPE ATRIAL. ESTENOSE MITRAL É o estreitamento do orifício AV esquerdo devido a espessamento e fibrose das cúspides com fusão de suas comissuras a valva mitral se abre de forma incompleta, mas seu fechamento ocorre normalmente. Explanação: Durante a diástole ventricular, a valva mitral se abre amplamente para deixar passar o sangue do AE para o VE. Esta passagem é feita praticamente sem resistência através de uma ampla área de 4 a 6 cm² (AVM – Abertura da Valva Mitral). Para a ocorrência de Estenose Mitral com gradiente pressórico é necessário que a AVM seja < 2,5 cm². Quando a AVM situa-se entre 2,5 e 4 cm², não há gradiente pressórico significativo e, portanto, ainda não temos repercussão hemodinâmica. CAUSAS PRINCIPAIS: Febre Reumática (40%), Congênita, Calcificação da Valva (de ocorrência rara), LES, Artrite Reumatoide e Endocardite infecciosa. Mulher jovem: AVC isquêmico embólico diagnóstico diferencial Estenose Mitral. Lenta progressão Classificada em leve, moderada ou grave (de acordo com a área do orifício AV). FISIOPATOLOGIA: O orifício da valva mitral normal possui uma área de 4 a 6 cm². Na presença de obstrução significativa, quando a área é reduzida a menos de 2 cm², o sangue flui do AE para o VE apenas quando propulsionado por um gradiente de pressão AV muito elevado, o padrão hemodinâmico da EM. Quando a abertura da valva mitral se reduz a menos de 1 cm² (Estenose Mitral Grave), é necessário um gradiente de pressão de cerca de 25mmHg no AE para manter o DC normal. A função ventricular esquerda estará inteiramente preservada (o pouco sangue que chega consegue manter o débito (exceto em casos graves no esforço) A função atrial esquerda será precocemente comprometida, devido à EAM que levará ao aumento da pressão e hipertrofia (excêntrica) do AE.(obs: DC aumentado e taquicardia elevam ainda + a pressão no AE) Hipertensão no AE hipertensão venosa pulmonar e hipertensão capilar pulmonar (transmissão retrógrada da pressão), que será responsável pelo início da sintomatologia clínica devido ao surgimento de edema intersticial e alveolar. Já no que diz respeito à função ventricular direita, temos que esta será tardiamente comprometida. O comprometimento do VD ocorrerá devido à hipertrofia (concêntrica) e dilatação (2º mecanismo) do mesmo, pois o DC estará diminuído a ponto de o acúmulo de sangue no “coração esquerdo” causar, de forma retrógrada, maior acúmulo de sangue no coração direito. Em casos de taquicardia (FA, por exemplo) o tempo da diástole é reduzido, tempo para a passagem do sangue, pressão no AE. Pode ocorrer formação de trombos e êmbolos (FA gera trombo e embolia). HIPERTENSÃO PULMONAR: A hipertensão pulmonar é causada por: 1) Transmissão Retrógrada passiva da pressão elevada no AE; 2) Constrição Arteriolar Pulmonar (segunda estenose), que se presume seja desencadeada por hipertensão no AE e venosa pulmonar (hipertensão pulmonar reativa); 3) Edema intersticial na parede dos pequenos vasos pulmonares; 4) Alterações obstrutivas orgânicas no leito vascular pulmonar, no estágio final da doença; A hipertensão pulmonar grave causa aumento do VD, insuficiência tricúspide e regurgitação pulmonar secundárias, bem como insuficiência cardíaca direita. SINTOMAS: A maioria dos pacientes começa a manifestar incapacidade na quarta década de vida, sendo que o aparecimento dos sintomas decorrentes de EM por febre reumática ocorre geralmente depois de uma a duas décadas do aparecimento desta. Nos pacientes cujo orifício mitral é suficientemente amplo para permitir um fluxo sanguíneo normal (> 2,5 cm² = EM leve) aumentos leves na pressão do AE. Elevações acentuadas desta pressão (ex esforço intenso ou febre) acarretam FADIGA, DISPNEIA e TOSSE. Á medida que a EM evolui (com redução das medidas do orifício mitral para ± 1,5 cm² = EM moderada ou < 1 cm² = EM grave), graus menores de esforço passam a desencadear dispneia e o paciente torna-se limitado nas suas atividades cotidianas, surgindo ORTOPNEIA, PALPITAÇÕES e DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA. Além disso, pode-se presenciar a ocorrência de SIBILÂNCIA, devido à congestão pulmonar. Pode-se ocorrer HEMOPTISE, resultante da ruptura das conexões venosas brônquicas secundárias à hipertensão pulmonar. Frequentemente, encontram-se outros sintomas importantes, tais como: DOR TORÁCICA (é sintoma frequente devido à hipertensão pulmonar ou à doença coronariana), ROUQUIDÃO (a dilatação atrial esquerda pode provocar compressão do Nervo Laríngeo Recorrente – Síndrome de Ortner), DISFAGIA e CAQUEXIA. Nas fases mais avançadas da EM, encontra-se sintomas de “INSUFICIÊNCIA VENTRICULAR DIREITA” secundária à HAP, naquilo que denominamos “COR PULMONALE”. Na IVD encontram-se alguns sinais e sintomas importantes, tais como: EDEMA DE EXTREMIDADES (principalmente inferiores), TURGÊNCIA VENOSA JUGULAR, ASCITE e VISCEROMEGALIAS (Hepatomegalia e Esplenomegalia, por exemplo). ACHADOS FÍSICOS: ISPEÇÃO E PALPAÇÃO: pode-se encontrar fácies cianóticas, turgência jugular, Ictus impalpável ou de pequena intensidade, VE normal, pulso arterial normal ou de amplitude diminuída em EM severa (devido a DC). AUSCULTA: - B1 será mais bem auscultada em FOCO MITRAL e B2 em FOCO PULMONAR; - A primeira bulha (B1) encontra-se “HIPERFONÉTICA” e um pouco retardada; - O componente pulmonar da segunda bulha (P2) frequentemente mostra-se acentuado e os dois componentes da segunda bulha (B2) podem se apresentam desdobrados; - “ESTALIDO DE ABERTURA DA VALVA MITRAL” (EAb) encontra-se mais bem audível durante a expiração, sobre o ápice cardíaco. - O EAb é seguido por um sopro grave, em RUFLAR DIASTÓLICO (proto e mesodiastólico), bem mais audível no ápice com o paciente emdecúbito lateral esquerdo; - Além disso, na presença de ritmo sinusal, geralmente ocorre uma acentuação do sopro no final da diástole, com mudança do timbre, ocasionado pela contração atrial e denominado “REFORÇO PRÉ-SISTÓLICO”; OBS: Com a evolução da doença, B1 torna-se hipofonética e P2 hiperfonética (HAP). CLASSIFICAÇÃO DA ESTENOSE MITRAL: De acordo com a área do orifício atrioventricular, temos a seguinte classificação: 1) ESTENOSE MITRAL LEVE: - Área entre 1,5cm² e 2,5cm². - Assintomático mesmo durante esforço físico. - Moderado aumento da pressão do AE. 2) ESTENOSE MITRAL MODERADA: - Área entre 1cm² e 1,5cm². - Dispneia e palpitação após esforço – congestão da circulação pulmonar; 3) ESTENOSE MITRAL GRAVE: - Área < 1cm². - Ortopneia, DPN, Tosse seca e Hemoptise. ACHADOS RADIOLÓGICOS: Os principais achados radiológicos na Estenose Mitral incluem: - Cardiomegalia, devido ao aumento do AE e VD (fase avançada) - Retificação da borda esquerda superior da silhueta cardíaca; - Proeminência do tronco das artérias pulmonares; - Dilatação das veias pulmonares do lobo superior; - Deslocamento posterior do esôfago em razão de aumento do AE; ESTENOSE AÓRTICA A Valva Aórtica se abre incompletamente, mas seu fechamento ocorre de maneira totalmente normal. Por definição, consiste na redução do orifício da valva aórtica. A área normal da valva gira em torno de 6 a 7 cm², sendo que ela se torna sintomática quando este diâmetro diminui para valores inferiores a 1 cm², predominantemente grave quando o diâmetro é cerca de 0,7 cm². Quanto à etiologia da EA, temos as principais: Doença Reumática (mais comum), Calcificação Valvar (degenerativa) e Congênita De forma similar à EM, na EA a reação autoimune provocada pela Febre Reumática leva à inflamação valvar que evolui para deformação e disfunção valvar. A doença reumática das cúspides aórticas produz fusão das comissuras, resultando às vezes em uma valva de aparência bicúspide. Tal condição torna as cúspides mais suscetíveis a traumatismos, levando finalmente à fibrose, calcificação e estreitamento. De forma mais simples, temos que a EA em adultos é causada por calcificação degenerativa das cúspides aórticas, e ocorre na maioria das vezes como consequência de doença congênita (valva aórtica bicúspide), deterioração crônica das cúspides (tricúspide) ou inflamação reumática prévia. FISIOPATOLOGIA: A obstrução do fluxo de saída do VE produz um gradiente de pressão sistólica entre o VE e a aorta. Quando uma obstrução intensa é produzida de forma súbita, o VE responde com dilatação, redução do volume sistólico (volume ejetado) e, consequentemente, redução do DC. Entretanto, em alguns pacientes, a obstrução pode estar presente desde o nascimento e/ou aumentar gradualmente ao longo de muitos anos, sendo o desempenho sistólico do VE mantido em razão da “HIPERTROFIA CONCÊNTRICA” desta câmara. Inicialmente tal processo serve como mecanismo adaptativo por reduzir o estresse sistólico do miocárdio a níveis normais. É possível manter um grande gradiente de pressão transvalvar aórtico por muitos anos sem redução do DC ou dilatação do VE. Porém, finalmente a hipertrofia excessiva deixa de ser adaptativa e a função sistólica do VE se deteriora, com anormalidades na função diastólica e evolução para fibrose irreversível do miocárdio. A hipertrofia (concêntrica) do VE causa aumento na demanda miocárdica por oxigênio. Além disso, mesmo na ausência de DAC obstrutiva, o fluxo coronariano é prejudicado a ponto de desencadear isquemia sob condições nas quais haja excesso de demanda. O número relativo de capilares se reduz em função da espessura da parede, as forças compressivas aumentam e a elevação da PDF no VE reduz a pressão propulsora nas coronárias. O subendocárdio é especialmente suscetível à isquemia causada por esse mecanismo. De uma forma mais simples, a fisiopatologia pode ser esquematizada da seguinte maneira: 1) ESTENOSE AÓRTICA COMPENSADA: ESTENOSE AÓRTICA PROGRESSIVA AUMENTO DA PRESSÃO INTRAVENTRICULAR SÍNTESE E DEPOSIÇÃO DE MIOFIBRILAS EM PARALELO AUMENTO DA ESPESSURA DA PAREDE VENTRICULAR (HIPERTROFIA CONCÊNTRICA) REDUÇÃO DA CAVIDADE VENTRICULAR HIPERTROFIA DO AE AUMENTO PROGRESSIVO DA EFICIÊNCIA. 2) ESTENOSE AÓRTICA DESCOMPENSADA: ESTENOSE AÓRTICA PROGRESSIVA AUMENTO ADICIONAL DA PRESSÃO INTRAVENTRICULAR SÍNTESE E DEPOSIÇÃO ADICIONAL DE MIOFIBRILAS EM PARALELO E MAIOR DESORGANIZAÇÃO CELULAR AUMENTO ADICIONAL DA ESPESSURA DA PAREDE VENTRICULAR (HIPERTROFIA CONCÊNTRICA) HIPERTROFIA EXCESSIVA DO AE IRRIGAÇÃO SUBENDOCÁRDICA COMPROMETIDA ISQUEMIA MIOCÁRDICA REDUÇÃO DA EFICIÊNCIA CONTRÁTIL. SINTOMAS: A partir do momento em que há alteração da fração de ejeção, do volume sistólico final, do DC e do diâmetro diastólico final, ocorre perda da eficácia dos mecanismos de adaptação e, então, o paciente passa a ser sintomático. A EA raramente tem importância clínica antes que o orifício valvar se reduza, atingindo aproximadamente 1 cm². Mesmo uma EA grave pode existir por muitos anos sem produzir quaisquer sintomas em razão da capacidade de o VE hipertrófico gerar o aumento na pressão intraventricular necessário para manter o volume sistólico normal. Geralmente, a EA se torna sintomática por volta da sexta à oitava décadas de vida. Os três principais sintomas da EA são: 1) DISPNEIA DE ESFORÇO: Resultante da elevação da pressão veno-capilar pulmonar causada por aumento das pressões diastólicas no VE, secundário à redução na complacência do VE e retardo no relaxamento; 2) ANGINA DO PEITO: Inicialmente a angina é classificada como “FUNCIONAL” e tardiamente é descrita como “ORGÂNICA” (devido à isquemia miocárdica). A angina pectoris se desenvolve refletindo o desequilíbrio entre o aumento da demanda miocárdica e a diminuição da oferta de oxigênio, isto é, o crescimento dos capilares não acompanha a hipertrofia miocárdica, com baixa oferta de O2 e maior demanda pelos sarcômeros. A DAC pode ou não estar presente, embora seja comum em pacientes com EA e mais de 65 anos de idade; 3) SÍNCOPE: Relacionada à mudança brusca para a posição ortostática, exercício e até em repouso. Pode ser causada por queda da PA produzida por vasodilatação nos músculos ativos e vasoconstrição inadequada nos músculos inativos, na presença de DC fixo ou por queda súbita do DC. De forma geral, resulta do baixo DC que ocasiona hipoperfusão do SNC e também da hipertrofia do VE que estimula barorreceptores coronários, com ativação do sistema nervoso autônomo, havendo bradicardia, diminuição do DC e diminuição da resistência arterial periférica e consequente queda da PA com má perfusão cerebral; Como o DC em repouso se mantém normal até as fases mais tardias da evolução da doença, sintomas – como “FADIGA INTENSA”, “FRAQUEZA”, “CIANOSE PERIFÉRICA”, “CAQUEXIA”, entre outras manifestações clínicas típicas de baixo débito – geralmente não são evidentes antes que essas fases sejam alcançadas. Os sintomas de Insuficiência Ventricular Esquerda, como “ORTOPNEIA”, “DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA” e “EDEMA PULMONAR”, também ocorrem apenas nos estágios mais avançados da doença. A Hipertensão pulmonar grave, levando à insuficiência do Ventrículo Direito e Hipertensão venosa sistêmica, Hepatomegalia, Fibrilação Atrial e Insuficiência Tricúspide, geralmente é um achado tardio nos pacientes com EA isolada grave. ACHADOS FÍSICOS: INSPEÇÃO E PALPAÇÃO: - O ritmo cardíaco geralmente é regular até as fases tardias; - A PA em geral encontra-se dentro dos limites normais, mas nos estágios finais, quando o volume sistólico declina, a PS pode cair assim como a PP (PS-PD); - O pulso arterial periférico sobe lentamente até um picotardio, naquele que denominamos “PULSO PARVUS ET TARDUS” (baixa amplitude e ascensão lenta); - O Ictus Cordis é propulsivo e sustentado e, geralmente, encontra-se deslocado lateralmente e para baixo (indicativo de hipertrofia ventricular esquerda concêntrica); AUSCULTA: - À medida que aumenta a gravidade da EA, a sístole do VE tende a se prolongar, de modo que o ruído de fechamento da valva aórtica deixa de preceder o do fechamento da valva pulmonar. Com isso, os dois componentes se tornam sincrônicos, ou o ruído de fechamento da valva aórtica pode mesmo suceder o da valva pulmonar, causando o “DESDOBRAMENTO PARADOXAL DA B2” (disfunção de VE ou Bloqueio do Ramo Esquerdo). O ruído de fechamento da valva aórtica é mais frequentemente audível nos pacientes que tenham EA com valva flexível, e a calcificação tende a diminuir sua intensidade; - Pode ocorrer também “HIPOFONESE DE B2”; - A B3, geralmente ocorre mais tarde, na evolução, quando há dilatação do VE e a função sistólica do VE está gravemente comprometida; - Frequentemente, uma B4 é audível no ápice, refletindo a presença de hipertrofia do VE e um aumento da PDF do ventrículo (redução da complacência); - Frequentemente é possível auscultar um ruído de ejeção protossistólico em crianças, adolescentes e adultos jovens portadores de doença da valva aórtica bicúspide, denominado “CLIQUE AÓRTICO”; - O sopro de EA é de ejeção (crescente-decrescente ou em diamante), (meso)sistólico, iniciando-se logo após a B1, aumentando de intensidade até atingir seu ápice no meio da fase de ejeção e terminando pouco antes do fechamento da valva aórtica. É grave, intenso, com timbre rude e áspero, mais bem auscultado na base do coração, particularmente no 2°EID. ACHADOS RADIOLÓGICOS: Os principais achados radiológicos na Estenose Aórtica são: - Bordas cardíacas com limites mais nítidos; - Arco Aórtico discretamente dilatado; - Aumento da Área Cardíaca com Rotação Anti-horária do coração; CLASSIFICAÇÃO: De acordo com a área do orifício aórtico, podemos ter a seguinte classificação: 1) VALVA AÓRTICA NORMAL: Situação perfeitamente normal, onde a área do orifício aórtico permanece entre 6 a 7 cm², sendo o gradiente de pressão cerca de 0,5 mmHg e o fluxo laminar; 2) ESTENOSE SUB-CLÍNICA: Ocorre cerca de 5 a 10 anos após entrar em contato com o fator etiológico (doença reumática, por exemplo). Nessa fase, a estenose possui uma redução da área do orifício aórtico para cerca de 4 cm², estando o gradiente de pressão em torno de 0,5 mmHg e o fluxo laminar; 3) ESTENOSE DIAGNOSTICÁVEL ASSINTOMÁTICA: Nessa fase, que ocorre após 8 a 15 anos, a estenose sofre uma redução drástica na área do orifício aórtico para cerca de 2 cm², sofrendo um aumento do gradiente de pressão para cerca de 4 mmHg e o fluxo torna-se turbulento. Ainda durante essa fase assintomática, por volta de 10 a 20 anos de desenvolvimento patológico, a área sofre uma redução ainda considerável, passando o orifício aórtico a possuir uma área de cerca de 1 cm², tendo o gradiente pressórico uma elevação bastante considerável, para cerca de 18 mmHg. No entanto, não possui manifestações clínicas; 4) ESTENOSE COM INDICAÇÃO CIRÚRGICA: Nessa fase de estenose com indicação cirúrgica, que surge de 15 a 25 anos de desenvolvimento patológico, tem-se a redução da área do orifício aórtico para cerca de 0,7 cm², estando o gradiente pressórico aumentado para cerca de 38 mmHg. A partir dessa fase, tem-se o surgimento e cada vez mais o agravamento dos sintomas e, sem tratamento, o prognóstico é ruim com mortalidade de 50% em 3 anos; 5) ESTENOSE AÓRTICA INCOMPATÍVEL COM A VIDA: Nessa fase, que surge após 20 a 30 anos com o desenvolvimento patológico, temos uma redução da área do orifício aórtico para cerca de 0,4 cm², com um gradiente pressórico incompatível com a vida, isto é, cerca de 118 mmHg. A estenose aórtica nessa fase tem seus sintomas exacerbados e potencialmente fatais; INSUFICIÊNCIA MITRAL A “INSUFICIÊNCIA MITRAL” (IM) ou “REGURGITAÇÃO MITRAL” consiste no fluxo retrógrado de sangue (para trás, ao invés de seguir adiante) através da valva mitral, em direção ao AE, cada vez que o VE se contrai. Isto ocorre pelo fato de que a valva mitral não fecha totalmente, apesar de sua abertura se dar de forma completamente normal. ETIOLOGIA: A IM pode resultar de anormalidade ou processo de doença que afete um ou mais dos cinco componentes funcionais do aparato valvar mitral (cúspides, anel, cordoalhas tendíneas, músculos papilares e miocárdio subjacente). INSUFICIÊNCIA MITRAL AGUDA: IAM com ruptura do músculo papilar, traumatismo com ruptura de válvula, ruptura “espontânea” ou endocardite Infecciosa; INSUFICIÊNCIA MITRAL CRÔNICA: Doença Reumática (Reação Autoimune Inflamação Valvar Deformação Valvar Disfunção Valvar); Prolapso da Valva Mitral; Miocardiopatia Dilatada (Dilatação Ventricular); Miocardiopatia Hipertrófica Obstrutiva; Calcificação do anel valvar (Tem maior prevalência entre pacientes com doença renal avançada, sendo observada comumente em mulheres com mais de 65 anos de idade com HAS e DM); Defeito congênito na Valva: Defeitos dos coxim atrioventriculares; A IM crônica ocorre como consequência do remodelamento ventricular, deslocamento dos músculos papilares e imobilização dos folhetos, ou em razão de fibrose dos músculos papilares em pacientes recuperados de IAM. Mecanismos semelhantes de dilatação do anel mitral e remodelamento ventricular em pacientes com miocardiopatia dilatada (VE > 6cm) também contribuem para o surgimento da IM crônica. Como pode ser entendido, o que ocorre na IM crônica são vários mecanismos de adaptação que, quando exacerbados e a longo prazo, provocam deformidade e disfunção valvar. FISIOPATOLOGIA: O volume do VE aumenta (para manter o DC) a medida que a intensidade da regurgitação. Ocorre então do AE também. O VE perde função contrátil e começa a ocorrer do DC a medida que o VE dilata. Por fim, ocorre dilatação do AE para comportar essa maior quantidade de sangue. Sistematicamente, temos: - Nesse tipo de disfunção valvar, o enchimento ventricular é normal, porém durante a sístole, o sangue ao ser ejetado para a aorta também reflui para o átrio esquerdo, devido ao fechamento incompleto da válvula mitral, referente à má coadaptação dos folhetos, durante a ejeção ventricular; - Decorrente do refluxo e para a manutenção de um débito cardíaco normal, há necessidade que se aumente o volume sistólico, o que é conseguido através da dilatação, estirando os sarcômeros existentes na direção de seu comprimento máximo, da cavidade ventricular (Mecanismo de Frank-Starling), tornando-a competente para abrigar o volume sanguíneo normal, acrescido do volume regurgitante; - Após a fase de dilatação, segue-se a hipertrofia excêntrica compensatória, que tem como objetivo manter a contratilidade miocárdica em níveis normais. Esta compensação hemodinâmica pode ser mantida por anos, antes que ocorra falência ventricular. Por outro lado, tem-se um aumento da distensibilidade do ventrículo e do átrio esquerdo, diminuindo o grau de hipertensão pulmonar. Sendo assim, a repercussão sobre o território pulmonar se faz devido ao refluxo em direção às veias pulmonares, por hipertensão retrógrada, razão pela qual a hipertensão pulmonar na insuficiência mitral é bem mais leve que na estenose mitral; - O orifício mitral é funcionalmente paralelo ao orifício aórtico. Dessa forma, quando ocorre insuficiência mitral, a resistência ao esvaziamento ventricular fica reduzida. Quase 50% do volume regurgitante ocorre durante o que seria a fase isovolumétrica do ciclo, ou seja, antes da abertura da valva aórtica; - Ainda que a insuficiênciamitral grave possa ser tolerada por muitos anos, a lesão eventualmente causa disfunção do ventrículo esquerdo. O ventrículo esquerdo, agora lesado, apresenta um desempenho prejudicado na ejeção e o volume sistólico final aumenta; - O grau de regurgitação varia de acordo com o orifício regurgitante, com o nível do gradiente de pressão do ventrículo esquerdo e átrio esquerdo e com a resistência vascular periférica. Aumentos da pré-carga (volume diastólico final) e pós-carga (resistência ao bombeamento do fluxo sanguíneo) e a redução da contratilidade aumentam o volume do ventrículo esquerdo e por consequência do orifício mitral, aumentando a regurgitação. A dilatação ventricular piora a regurgitação, que por sua vez gera maior volume ventricular, gerando um ciclo vicioso; OBS: O “DÉBITO CARDÍACO TOTAL” na insuficiência mitral severa está aumentado até a fase tardia da doença. No entanto, o “DÉBITO CARDÍACO EFETIVO”, que passa pela valva aórtica, está normalmente reduzido. A capacidade funcional do paciente depende deste débito efetivo durante o exercício e não do volume regurgitante. SINTOMAS: O período assintomático é muito variável e os primeiros sintomas costumam aparecer a longo prazo. Os pacientes com IM isolada crônica leve a moderada são assintomáticos, pois a forma de sobrecarga volumétrica do VE é bem tolerada. Já no que diz respeito aos pacientes com IM crônica grave (o AE tem tempo para se dilatar progressivamente pequena elevação da pressão intra-atrial e veno-capilar pulmonar = sinais de congestão pulmonar tardios) . o Pode-se ter os seguintes sintomas : “FADIGA”, “DISPNEIA AOS ESFORÇOS”, “ORTOPNEIA” e “DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA”. “PALPITAÇÕES” são comuns (principalmente quando o paciente encontra-se em decúbito lateral esquerdo), podendo significar a instalação de “FA” (geralmente um átrio muito dilatado bate rapidamente e com um padrão desorganizado e irregular, o qual reduz a eficácia do bombeamento do coração; na verdade, um átrio em FA não bombeia, apenas tremula, e a ausência de fluxo sanguíneo adequado permite a formação de coágulos). Por outro lado, nos pacientes com IM aguda grave (não houve tempo para adaptação aumento da pressão intra atrial transmissão para sistema pulmonar e congestão dispneia intensa ou EAP). é frequentemente a ocorrência de “EDEMA AGUDO DE PULMÃO” (EAP). OBS: O problema, às vezes, é identificado apenas quando o paciente é auscultado e ouve-se um sopro cardíaco característico resultante do fluxo retrógrado do sangue que retorna ao átrio esquerdo após a contração do ventrículo esquerdo. Pelo fato de ser obrigado a bombear mais sangue para compensar o fluxo retrógrado de sangue ao átrio esquerdo, ocorre um aumento progressivo do ventrículo esquerdo para aumentar a força de cada batimento cardíaco. ACHADOS FÍSICOS: INSPEÇÃO E PALPAÇÃO: - Geralmente a PA e a palpação do pulso arterial encontram-se normais; - Pode ser possível palpar um Frêmito Sistólico no ápice cardíaco ou, mais precisamente, na Área Mitral; - O VE mostra-se hiperdinâmico com um forte impulso sistólico e onda de enchimento rápido (B3) palpável; - O Ictus Cordis encontra-se difuso e deslocado lateralmente; AUSCULTA: - O sopro da IM é suave e inicia-se logo após a B1, que geralmente encontra-se encoberta pelo mesmo. É um “SOPRO HOLOSSISTÓLICO”, geralmente mais bem audível no ápice com irradiação para a axila; - Acredita-se que uma B3 de baixa frequência (após o som de fechamento da valva aórtica) seja causada pelo súbito tensionamento dos músculos papilares, das cordas tendíneas e das cúspides valvares; - Uma quarta bulha (B4) muitas vezes é audível em pacientes com IM aguda grave que estejam em ritmo sinusal; INSUFICIÊNCIA AÓRTICA Não fechamento correto da Valva Aórtica, fazendo com que uma certa quantidade de sangue que foi ejetado para a aorta sofra um refluxo para o VE. ETIOLOGIA: doença reumática, LUES, aterosclerose, endocardite infecciosa, doença primária das valvas semilunares. FISIOPATOLOGIA: O volume sistólico total ejetado pelo VE (ou seja, a soma do volume efetivamente ejetado para a aorta com o volume de sangue que regurgita para o VE) aumenta nos pacientes com IA. Ao contrário do que ocorre na IM, na qual uma parte do volume sistólico do VE retorna a um AE com baixa pressão, na IA todo o volume sistólico é ejetado em uma zona de alta pressão, a aorta. O aumento no volume diastólico final do VE (aumento da pré-carga) é a principal compensação hemodinâmica para a IA. A dilatação e hipertrofia excêntrica do VE permitem que esta câmara ejete maior volume sistólico sem que seja necessário aumentar o encurtamento relativo de cada fibra miocárdica. Por final, as medidas adaptativas tornam-se insuficientes. À medida que a função do VE se deteriora, o volume diastólico final se eleva ainda mais, e o volume sistólico anterógrado e a FE declinam. A deterioração da função do VE frequentemente precede o aparecimento de sintomas. O gradiente de pressão reverso da aorta para o VE, que determina o fluxo de sangue regurgitante, cai progressivamente durante a diástole, o que explica a natureza em decrescendo do sopro diastólico. A redução da FE é um sinal precoce de disfunção do VE. Nos estágios avançados, pode haver considerável elevação da pressão do AE, da PAP, da pressão capilar pulmonar e da pressão do VD, além de diminuição do DC anterógrado durante o processo. OBS1: Nos pacientes com IA aguda grave, o VE não está preparado para a carga de volume regurgitado. A complacência do VE mostra-se normal ou reduzida, e as pressões diastólicas no VE aumentam rapidamente, chegando a níveis superiores a 40 mmHg. A pressão do VE pode exceder à do AE quando se aproxima o final da diástole e tal gradiente de pressão reverso pode provocar o fechamento prematuro da valva mitral. Pode ocorrer também que a pressão diastólica do VE aumentada provoque elevações marcantes nas pressões do AE e em cunha da artéria pulmonar, podendo o edema pulmonar e/ou choque cardiogênico sobrevir e progredir rapidamente. OBS2: Pode haver isquemia miocárdica nos pacientes com IA porque a demanda do miocárdio por oxigênio aumenta com a dilatação e hipertrofia do VE, bem como com a elevação da tensão sistólica levando a comprometimento do fluxo sanguíneo coronariano. SINTOMAS: O surgimento dos sintomas vai depender de qual forma de Insuficiência Aórtica estamos falando, pois a IA crônica grave pode ter um longo período de latência, mantendo-se os pacientes relativamente assintomáticos por até 10 a 15 anos. Entretanto, a percepção desconfortável dos batimentos cardíacos, isto é, casos de “PALPITAÇÕES”, especialmente quando deitado, pode ser uma queixa precoce. A taquicardia sinusal durante esforço ou emoção ou as extrassístoles podem produzir palpitações desconfortáveis assim como o latejamento na cabeça. Tais queixas podem persistir por muitos anos antes que apareça: “DISPNEIA AOS ESFORÇOS”, “ORTOPNEIA”, “DISPNEIA PAROXÍSTICA NOTURNA” e “SUDORESE EXCESSIVA”, podendo ocorrer “DOR TORÁCICA - ANGINOSA” (devido ao roubo do fluxo coronariano que vai da aorta para o VE) São comuns também aqueles sintomas relacionados ao baixo DC, como “FADIGA” e “TONTURA” e da “CONGESTÃO PULMONAR”. ACHADOS FÍSICOS: INSPEÇÃO E PALPAÇÃO: PULSOS ARTERIAIS: Batimentos amplos, visíveis e palpáveis; Pulso carotídeo com alta amplitude (bem visíveis); SINAIS PERIFÉRICOS DE INSUFICIÊNCIA AÓRTICA: Pulso em “MARTELO D’ÁGUA” (de Corrigan); - “PISTOL SHOT”: Sensação de choque à ausculta de certas artérias, como a artéria pediosa; Pressão Sistólica aumentada e Diastólica muito baixa (Sons de Korotkoff persistem até zero); Frêmito nosfocos da base; Ictus Cordis do VE globoso, hiperdinâmico, impulsivo e desviado para baixo e para a esquerda (resultante da dilatação e hipertrofia do VE); AUSCULTA: B1 normofonética ou hipofonética e B2 hipofonética (componente pulmonar é ocultado pelo sopro diastólico); “SOPRO PROTODIASTÓLICO”, de alta frequência, caráter aspirativo decrescente, suave e melhor auscultado no 3° EICE (foco aórtico acessório). Existem algumas manobras para torná-lo evidente: - Posição sentada com flexão máxima do tronco; - Decúbito Ventral; - Posição de cócoras (aumenta a resistência periférica, aumentando o volume regurgitante); “SOPRO DE AUSTIN FLINT”: EM funcional pelo jato regurgitante aórtico na continuidade mitro-aórtica; OBS: A gravidade da insuficiência aórtica correlaciona-se com a duração do sopro e não com a sua intensidade;
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