Buscar

Anásile da conjuntura política brasileira sob um olhar anarquista 2016

Prévia do material em texto

Alisson Wagner de Arruda Silva[2: Graduando do curso Licenciatura em História pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB]
A conjuntura política brasileira sob o olhar anarquista
“Fazer política [partidária] é limpar as mãos na merda”.
Pierre-Joseph Proudhon, depois de ser 
expulso (foi eleito deputado em 1848) da
 Assembléia em Paris por atacar os deputados
 que roubavam despudoradamente a nação.
A atual conjuntura política em que o Brasil está imerso requer uma análise mais crítica do que aquilo que temos lido/assistido/ouvido na grande imprensa brasileira. Sabemos que o país vive uma crise enorme e complexa, e que está ligada mais ao sistema econômico capitalista.
Uma função importante dentro da política é o gerenciamento do Estado para garantir melhores condições para a acumulação e reprodução de capital, afinal, os políticos e partidos da ordem estão claramente alinhados com os grandes capitalistas, dissimulando uma política voltada para o povo. Um exemplo disso foi a “lei antiterror”, sendo ela essencial nos momentos de crise onde a classe trabalhadora não avance com seus projetos políticos e se a conciliação não consegue mais frear as lutas, cabe a repressão tanto física quanto jurídica garantir isso.
Portanto, deve ser compreendido que cabe ao Estado desempenhar duas funções que são a de se assumir como o que ele não é; e a de garantir os lucros do grande capital. Só assim podemos ver qual o campo que verdadeiramente determina a realidade política, e, portanto qual o real caráter da crise que vivemos.
No governo do PT, Lula firmou a “Aliança pelo país”, trazendo crescimento e estabilidade ao Brasil, e os grandes setores capitais lucrando imensamente até que a grande crise econômica estoura no mundo. Lula manteve o pacto com as classes, baixando juros, com programas de estímulo fiscal e programas de redistribuição de rendas. Quando Dilma assume, ela terá um governo de enfrentamento à a crise. Porém já não estamos em 2002, depois da crise de 2008 não há espaço para o tipo de política praticado por Lula. O que vem depois disso são inúmeros e sucessivos fracassos do governo Dilma em conter a crise. Temos a elevação da taxa de juros diversas vezes, aumento do desemprego e cortes nos programas sociais. 
Portanto temos, desde o fim de 2014, um governo que não consegue mais manter a taxa de lucro do grande capital, tampouco conter a classe trabalhadora de maneira eficiente. Isso significa que a “Aliança pelo país” entrou em decomposição, enquanto o pacto de classes rapidamente se dissolve. O projeto petista de paz social é inviável, pois a conciliação de classes é insustentável durante a crise, mas, apesar disso, os apoiadores e auxiliares Petista insiste cegamente nesse projeto.
Analisando os dias atuais com todo esse histórico em mente, vemos que o PT não tem mais função a ser cumprida. É um gestor incompetente para a burguesia e um entrave para a classe trabalhadora, que quer se manter viva através de frases retórica e estrategicamente bem posicionadas: Contra o golpe e pela democracia. Portanto o PT em nada se diferencia dos outros partidos da ordem, se tornou completamente burguês em sua degeneração e usará dos mesmos métodos dos seus opositores para a superação da crise.
O fato é que toda essa crise chegou às ruas e ela ocasionou em uma polarização social bastante evidente nos meios de comunicação e na própria rua. As manifestações de massa dos dias 13 de março de 2016 dirigida pelo bloco burguês-conservador ou a chamada “direita” e do dia 18 de março organizada pelo bloco socialdemocrata-governista, dirigida por um setor de pequena burguesia e da aristocracia operária e sindical, a chamada “esquerda”, mostram que esta polarização social alcançou um nível que merece um olhar mais atento, exigindo uma compreensão pra uma resposta teórica e prática.
Esta polarização social entre direita e esquerda empobreceu o debate político em vários âmbitos da sociedade, no qual levou a uma leitura maniqueísta e a soluções simplistas e contraditórias, chegando ao ponto em que personagens, no mínimo ridículos, tomem proporções de “heróis do povo” e de “solução para os problemas do Brasil”. O grande exemplo disso é o que vem acontecendo acerca da figura do deputado Jair Bolsonaro, o qual recentemente defendeu a imagem de um falecido torturador da época da ditadura no Brasil, em plena câmara dos deputados.
Para nos desprendermos dessa dualidade a qual a sociedade se dividiu, tentaremos analisar este momento atual de crise da política brasileira a partir de um ponto de vista anarquista e revolucionário, contribuindo assim para aqueles que querem uma alternativa que não seja nem burguesa, nem conservadora e nem governista.
Ao que parece, quanto mais se investiga, mais se comprova que todos os parlamentares, estão envolvidos com corrupção, desvio de verbas, negociatas sujas e coisas do tipo. O sentimento da população nas ruas é de que “tudo está perdido”, que “a política é isso aí, não adianta esperar nada desses corruptos”, que “esse sistema está corrompido”, ou que “nada nesse país funciona mesmo”. Uma situação da qual os libertários já esperavam, pois desde o século XIX, advertiam sobre os perigos da política parlamentar. Essa política, agora, mostra suas fraquezas ao grande público que, espantado, acredita que essa situação é fruto do governo da situação ou da oposição e esquecem-se da culpabilidade da representação burguesa.
Muito mais do que mostrar uma crise política do PT, mostra-se outra crise: a crise da democracia representativa e de seus valores. O que vemos agora com as denúncias e o que se descobre nas investigações é apenas um sintoma, de algo que vai mal há muito tempo. São apenas as práticas parlamentares da administração pública. Por isso há uma necessidade de desmistificar o significado da palavra crise.
A democracia representativa há muito tempo se mostrou ser insuficiente para a solução dos grandes problemas da humanidade. O fato de cada um de nós irmos às urnas de dois em dois anos e dar a um oportunista qualquer desses o direito completo de tomar quaisquer decisões sem ao menos nos prestar contas, é algo que deveria ser questionado. A tal “democracia”, palavra que se esvaziou de conteúdo, não serviu para outra coisa senão para alienar as pessoas, deixando aquela imagem de que “a política é para os políticos”.
O próprio PT, ao longo dos anos 1980 e 1990 comprovaram as teses daqueles que afirmavam que “uma vez no parlamento, haveria uma sede pelo poder e pelo dinheiro que acabaria com qualquer ideal democrático ou qualquer interesse real pela população”. Para tornar-se um grande partido e chegar a eleger um presidente, o PT deveria ser um partido que não representasse uma ameaça ao status quo, deveria ser um partido que trabalhasse com as alianças e que entrasse no “esgoto”... E assim o PT o fez, mostrando-se um ótimo aluno na arte de fazer política parlamentar. 
Vale ainda notar que esse tipo de lição aprendida pelo PT e as suas inúmeras denúncias de corrupção, já eram praticados há muito tempo por parlamentares do PSDB, PMDB, PP, PL, PFL, dentre outros, e que isso não é uma característica de um ou outro partido mais ou menos corrupto, mas sim fruto de um sistema parlamentar corrompido e alienante que existe para isso e é sustentado com este objetivo: possibilitar que alguns poucos vivam ricos com o dinheiro roubado de outros muitos que morrem de fome, para que alguns poucos tomem decisões enquanto a maioria assista e não fale absolutamente nada, para que alguns empreguem a família inteira à custa do povo, para sustentarmos o bem-estar desta classe de corruptos.
Na minha visão é bastante preocupante o fato dessa crise, ao invés de fazer a população enxergar que a política parlamentar é exatamente essa podridão que estamos vendo agora, fazendo também com que as pessoas se afastassem da política, ou as levando a acreditar que na próxima eleição deveriam votar melhor e colocar “gente que preste” no poder. Gente “que preste na política”: Isso seria a verdadeirautopia.
Essa “crise” mostra, mais uma vez, a falência da democracia representativa, a falência do sistema burguês de representação política. Já está mais do que na hora de acordarmos para o fato de que a política partidária, institucional, não traz respostas às questões mais relevantes da sociedade, aquelas que giram em torno do bem estar, da felicidade, da liberdade e da igualdade de todos. Portanto, a alternativa libertária pode se tornar uma ótima alternativa. Concluímos, com isso, que a política deve ser realizada fora do âmbito parlamentar, pelas pessoas nas ruas, por meio da ação direta. Desta forma, enquanto movimento, deveremos constituir algo que seja uma real alternativa a essa política institucional que está deteriorada.
Quantos partidos ainda será preciso ver chegar ao poder para confirmarmos que a política parlamentar não funciona?
Referências bibliográficas
Comunicado nº 46 da União Popular Anarquista – UNIPA. Brasil, Março de 2016
VIANA, Nildo: O anarquismo segundo Daniel Guérin
Aliança Anarquista: O projetos capitalistas diante à crise política no país
http://alianca-anarquista.org/category/comunicados/conjuntura/

Continue navegando