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Boletim Conteúdo Jurídico ISSN 1984 0454


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BOLETIM CONTEÚDO 
JURÍDICO N. 599 
(ano VIII) 
(28/04/2016) 
 
		
ISSN	-	ͧͦ͟͢-ͣ͢͢͞	
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA ‐ 2016 
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COORDENADOR GERAL (DF/GO/ESP) - 
VALDINEI CORDEIRO COIMBRA: 
Fundador do Conteúdo Jurídico. Mestre em 
Direito Penal Internacional Universidade 
Granda/Espanha. 
Coordenador do Direito Internacional 
(AM/Montreal/Canadá): SERGIMAR 
MARTINS DE ARAÚJO - Advogado com 
mais de 10 anos de experiência. Especialista 
em Direito Processual Civil Internacional. 
Professor universitário 
 Coordenador de Dir. Administrativo: 
FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA 
MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito 
Administrativo pela UFMG. 
Coordenador de Direito Tributário e 
Financeiro - KIYOSHI HARADA (SP): 
Advogado em São Paulo (SP). Especialista 
em Direito Tributário e em Direito Financeiro 
pela FADUSP. 
 Coordenador de Direito Penal - RODRIGO 
LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em 
Ciências Jurídicas e Sociais pela 
Universidad del Museo Social Argentino - 
UMSA. 
 
 
País: Brasil. Cidade: Brasília – DF. 
Contato: editorial@conteudojuridico.com.br 
WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR 
   
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SUMÁRIO 
COLUNISTA DO DIA 
 
 
28/04/2016 Carlos Eduardo Rios do Amaral 
» O que é esse tal de impeachment? 
ARTIGOS  
28/04/2016 Rômulo de Meneses Marques 
» A possibilidade de compensação da atenuante da confissão espontânea com a agravante da 
reincidência 
28/04/2016 Renata Silva Couto 
» Uma análise crítica do artigo 156, inciso I, do Código de Processo Penal à luz do sistema 
acusatório constitucional 
28/04/2016 Paula Vasconcelos de Melo Braz 
» O direito à amamentação nos casos de mãe privada de liberdade e o prazo mínimo de seis meses 
estabelecido pela Lei de Execução Penal 
28/04/2016 Paula de Goes Brito Pontes 
» Efetividade do direito fundamental à educação: uma leitura à luz da constituição federal de 1988 
28/04/2016 Bryan Douglas Souza Santos 
» O Direito Internacional e a dependência sistêmica: como as Organizações Internacionais herdaram 
essa dependência? 
28/04/2016 Diego Melo da Fonseca 
» Ação civil pública e ativismo judicial no direito brasileiro 
28/04/2016 Marcela Bezerra Galvão Morquecho 
» A paternidade socioafetiva como condição impeditiva para a desconstituição da paternidade 
registral 
28/04/2016 Bruno Medrado dos Santos 
» Produtos e serviços no direito do consumidor 
 
 
 
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O QUE É ESSE TAL DE IMPEACHMENT? 
CARLOS  EDUARDO  RIOS  DO  AMARAL:  Defensor 
Público do Estado do Espírito Santo. 
O assunto do momento em toda a imprensa brasileira e redes 
sociais da internet é o processo de impeachment da presidente 
Dilma Rousseff. Mas o que é esse tal de impeachment? 
Impeachment é o termo que denomina o processo 
constitucional de cassação do mandato do presidente da república 
no Brasil. Acredita-se que a expressão impeachment derive do 
latim, de pedica – em português, peia –, que significaria os ferros 
com que se prendem os pés do prisioneiro ou de um animal para 
impedir seu movimento. 
Todas as autoridades públicas, aí incluído o presidente da 
república, devem exercer seus cargos de acordo e na medida exata 
das atribuições conferidas pela Constituição e pelas leis. A Lei nº 
1.079, de 1950, descreve uma série de condutas classificadas como 
crimes de responsabilidade do presidente da república e de demais 
agentes públicos. 
Os crimes de responsabilidade não se confundem com os 
crimes comuns. A diferença básica encontra-se na resposta estatal 
ao cometimento da infração. Nos crimes comuns comina-se uma 
pena criminal de privação da liberdade, que poderá vir a ser 
substituída por uma pena restritiva de direitos ou multa. Já nos 
crimes de responsabilidade não há prisão, a condenação limita-se 
à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício 
de função pública. 
 
 
 
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O processo e julgamento dos crimes de responsabilidade do 
presidente da república é uma das exceções ao monopólio da 
jurisdição exercido pelo Poder Judiciário. É o Poder Legislativo 
quem realiza todo esse procedimento. Primeiramente, na Câmara 
dos Deputados exerce-se o juízo de admissibilidade da acusação, 
para eventualmente autorizar-se a instauração do processo de 
impeachment. Em seguida, caberá ao Senado Federal, sob a 
presidência do presidente do Supremo Tribunal Federal, o processo 
e o julgamento do mérito da acusação. 
Interessante observar que o modelo brasileiro de 
impeachment ao copiar o modelo norte-americano cometeu uma 
gafe. Pois nos Estados Unidos o vice-presidente é quem preside as 
sessões legislativas do Senado. Justificando-se, assim, a 
nomeação do presidente da Suprema Corte para a função de 
presidente do processo de impeachment. Mas no Brasil o 
presidente do Senado é um senador eleito democraticamente pelo 
povo. Talvez isso aconteça em razão de nossa primeira 
Constituição, de 1891, prever que candidatos disputavam a 
presidência e a vice-presidência de forma separada, o que poderia 
sugerir serem inimigos políticos de longa data. 
Como se vê, o processo legal do impeachment talvez se revele 
como o mais precioso instituto jurídico de nosso Estado 
Democrático de Direito a serviço do povo e das liberdades 
fundamentais. Nessa etapa de nossa civilização, a humanidade 
conhece muito bem as atrocidades e barbáries cometidas pelo uso 
da violência, descomedida e ilimitada, em nome de uma suposta 
luta contra a tirania. Não há mais espaço nos países civilizados para 
crucificações, banimentos, fuzilamentos, enforcamentos e 
guilhotinagens que tanto mancharam de sangue nossa história 
universal, conduzindo no passado as nações do mundo a longos 
regimes totalitários e a guerras civis que ultrajaram suas 
populações. 
 
 
 
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A POSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO DA ATENUANTE DA 
CONFISSÃO ESPONTÂNEA COM A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA 
 
RÔMULO DE MENESES MARQUES: Defensor Público 
do Estado do Acre; ex assessor do Ministério Público 
Federal no Piauí; Pós-graduado, em nível de 
Especialização, em Direito Público, pela Universidade 
Federal do Piauí - UFPI em convênio com a Escola 
Superior da Magistratura do Piauí - ESMEPI; Bacharel em 
Direito pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. 
Resumo: O presente artigo analisa o concurso da circunstância 
atenuante da confissão espontânea e da circunstância agravante da 
reincidência, na segunda fase da dosimetriada pena, bem como a 
possibilidade de compensação entre ambas, apresentando o atual 
posicionamento dos Tribunais Superiores. 
Palavras-chave: confissão espontânea, reincidência, dosimetria da 
pena, agravante, atenuante, compensação de circunstâncias 
preponderantes, divergência jurisprudencial. 
 
Introdução 
Busca-se traçar linhas gerais acerca da dimensão da 
circunstância atenuante da confissão espontânea, entendo-a como 
reflexo de aspectos positivos da personalidade do agente ao qual 
se impõe a pena. 
Analisa-se a incidência desta circunstância atenuante na 
segunda fase da dosimetria da pena, quando também estiver 
presente a circunstância agravante da reincidência. 
Estuda-se a possibilidade de compensação da atenuante da 
confissão espontânea com a agravante da reincidência, a partir do 
 
 
 
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entendimento de que ambas se encontram no mesmo patamar 
axiológico de circunstâncias preponderantes. 
 Ademais, busca-se demonstrar qual o posicionamento dos 
Tribunais Superiores acerca da questão, evidenciando a 
divergência jurisprudencial acerca do tema, e destacando o 
entendimento que reputamos mais consentâneo com o sistema 
penal. 
1. As fases da dosimetria da pena 
Consoante dispõe o Código Penal Brasileiro, adotamos o 
sistema trifásico para a aplicação da pena, o qual, segundo ensina 
a doutrina, é o sistema de Nelson Hungria. Neste ponto, já foram 
superadas as questões preliminares, e o julgador, ao menos em 
tese, diante das provas constantes dos autos, já formulou seu 
convencimento e prolatou um decreto condenatório em desfavor do 
imputado, entendendo que está provada a existência do delito e que 
o réu é o autor deste. 
A partir do julgamento procedente dos pedidos condenatórios, 
passa o julgador à dosimetria da pena, determinando, segundo 
critérios legais do sistema trifásico acima referido, a quantidade de 
pena que será imposta ao condenado. 
Na primeira fase, serão analisadas as circunstâncias judiciais, 
as quais se referem à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta 
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e 
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, 
nos termos do artigo 59, do Código Penal. Ao final da primeira fase, 
conforme tenham sido anotadas, ou não, em desfavor do acusado, 
as circunstâncias judiciais acima referidas, será fixada a pena base, 
utilizando como balizas o mínimo e o máximo de pena cominada em 
abstrato pelo legislador no tipo penal. 
Empós, na segunda fase da dosimetria da pena, será fixada 
o que se chama de pena intermediária, a partir da análise das 
 
 
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circunstâncias agravantes e das circunstâncias atenuantes. O 
quanto de exasperação ou de diminuição da pena, contudo, não 
está estabelecido na lei, ficando a critério do magistrado, sempre 
respeitada a proporcionalidade. 
Por fim, na terceira fase da dosimetria da pena, serão 
analisadas as causas de aumento (majorantes) e as causas de 
diminuição de pena (minorantes), cujos patamares de aumento ou 
de diminuição se encontram dispostos na lei. Ao final desta análise, 
teremos o estabelecimento da pena privativa de liberdade definitiva. 
2. A verificação da confissão espontânea e da reincidência 
na segunda fase da dosimetria da pena 
A análise que se pretende desenvolver no presente estudo 
tem foco na segunda fase do sistema de Nelson Hungria. Conforme 
mencionado, nesta fase da dosagem da pena são analisadas as 
circunstâncias atenuantes e as circunstâncias agravantes, dentre as 
quais estão a confissão espontânea e a reincidência. 
É inegável que, nesta fase, pode-se reconhecer uma ou mais 
atenuantes ou agravantes, hipóteses em que haverá concurso entre 
elas. Caso tal ocorra, a solução é trazida pelo Código Penal, em seu 
artigo 67, o qual determina que a pena deve se aproximar do limite 
indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se 
como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da 
personalidade do agente e da reincidência. 
Em outras palavras, havendo circunstância agravante e 
circunstância atenuante, o magistrado deverá analisar qual delas é 
preponderante, na forma da lei, a fim de exasperar ou reduzir a pena 
base, estabelecida na primeira fase da dosimetria da pena. 
A questão a ser aqui discutida se refere ao concurso da 
circunstância atenuante da confissão espontânea e da circunstância 
agravante da reincidência. 
 
 
 
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Nos termos do artigo 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal, 
consubstancia-se em circunstância que “sempre” atenua a pena, ter 
o agente confessado espontaneamente, perante a autoridade, a 
autoria do crime. Nesse sentido, podemos conceituar a confissão 
como uma circunstância atenuante em que há o reconhecimento, 
pelo próprio imputado, perante a autoridade policial ou judicial, da 
prática de uma infração penal. 
Conforme ensina Paulo Queiroz, “confessar a autoria do crime 
não significa, porém, admitir a prática de um fato típico, ilícito e 
culpável, mas sua materialidade e autoria. Justamente por isso, se 
o agente, embora confessando a prática do fato, alega excludentes 
de criminalidade (v. g., legítima defesa), fará jus à atenuante”[1]. 
Por sua vez, a agravante da reincidência tem definição legal 
trazida no bojo dos artigos 63 e 64, do Código Penal. Verifica-se tal 
agravante quando o agente comete novo crime, depois de transitar 
em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha 
condenado por crime anterior. Ressalva-se, entretanto, que não 
prevalece a condenação anterior (ou seja, não há reincidência), se 
entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração 
posterior tiver decorrido período de tempo superior a cinco anos. 
3. A divergência jurisprudencial no âmbito dos Tribunais 
Superiores 
Pois bem, como visto acima, por expressa previsão legal, a 
reincidência é circunstância agravante preponderante, em caso de 
concurso de circunstâncias na segunda fase da dosimetria da pena. 
O mesmo entendimento de preponderância não é uníssono no que 
atine à atenuante da confissão espontânea. 
Pela corrente jurisprudencial que defende que a confissão 
espontânea é uma circunstância atenuante preponderante, é 
apresentado o fundamento de que a confissão é aspecto positivo da 
personalidade do imputado, razão pela qual, em concurso com 
agravante igualmente preponderante, deve haver a compensação 
 
 
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entre estas, de modo que, não havendo outras circunstâncias a 
serem analisadas na segunda fase da dosimetria, a pena 
intermediária corresponderia à pena base (definida na primeira fase 
da dosimetria), sem exasperação ou diminuição. 
Em sentido oposto, apresenta-se corrente cujo entendimento 
é no sentido de que a confissão espontânea não possui relação com 
a personalidade do agente, razão pela qual não se consubstancia 
em circunstância preponderante e, em eventual concurso com a 
agravante da reincidência, deveria perder espaço para esta, de 
modo que a pena base, na ausência de outras circunstânciasa 
serem analisadas, seria majorada na segunda fase da dosimetria. 
A divergência acima relatada, hodiernamente, é verificada no 
âmbito dos Tribunais Superiores. 
O Supremo Tribunal Federal tem posicionamento de suas 
turmas no sentido de que a reincidência, quando em concurso com 
a confissão espontânea, deve sempre preponderar[2]. 
Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça vaticina que a 
confissão espontânea é circunstância atinente à personalidade do 
agente e, por tal motivo, é igualmente preponderante, de modo que, 
em concurso com a agravante da reincidência, pode haver a 
compensação entre estas[3]. 
A dissonância que atualmente se verifica entre o STF e o STJ, 
outrora também se verificava entre as turmas que compõem a 
Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, que solucionou 
divergência, fixando entendimento de que é possível a 
compensação de reincidência e confissão espontânea, conforme se 
depreende do julgamento dos Embargos de Divergência no 
Recurso Especial n° 1154752/RS[4]. 
O relator dos embargos de divergência acima referidos, 
Ministro Sebastião Reis Júnior, em seu voto, aduziu não 
desconhecer a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca 
 
 
 
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da matéria, contudo, sustentou que a confissão está efetivamente 
ligada aos aspectos da personalidade do imputado. Destacou, 
ainda, que, no seu modo de ver, “a confissão espontânea demonstra 
também personalidade mais ajustada, a ponto de a pessoa 
reconhecer o erro e assumir suas consequências. O peso entre a 
confissão e a reincidência deve ser o mesmo, daí a possibilidade de 
haver a compensação”[5]. 
O voto de desempate no julgamento dos embargos de 
divergência no âmbito da Terceira Seção do STJ foi proferido por 
sua então presidente, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, a 
qual fundamentou que a personalidade do agente é um universo 
amplo, com diversas peculiaridades a serem consideradas. Aduziu 
que a personalidade pode ser valorada negativamente na fixação 
da pena base, todavia, à luz da confissão espontânea, apresenta 
peculiaridade nobre, de tal forma a, na segunda fase, repercutir, 
positivamente, no cômputo da pena.[6] 
4. A confissão como circunstância atenuante 
preponderante e a possibilidade de compensação com a 
agravante da reincidência 
Ora, a confissão, inegavelmente, traduz aspecto positivo da 
personalidade do agente, uma vez que, ao confessar, reconhece a 
autoria e a materialidade de delito contra si imputado, colaborando 
para o deslinde da persecução criminal. 
Não é ocioso destacar que, por garantia constitucional, o 
acusado, se assim o quiser, pode permanecer em silêncio, não se 
manifestando sobre os fatos tratados no processo. E tal silêncio, 
como consabido, não pode ser utilizado em seu desfavor. Ainda que 
o acusado não produza qualquer prova, ainda que permaneça, por 
opção, silente, o ônus de provar as imputações narradas na peça 
acusatória continua sendo da acusação. Assim, pode-se afirmar 
que, ao confessar, perante a autoridade, seja ela policial ou judicial, 
o imputado contribui para a produção de provas contra si. Em outras 
 
 
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palavras, o acusado, voluntariamente, introduz, no processo, 
elementos probantes em seu desfavor, corroborando, em certos 
termos, a própria acusação, indo de encontro ao seu estado de 
inocência. 
A prática diária em atuação na área criminal mostra que, por 
vezes, a prova produzida pela acusação, por si só, não seria 
suficiente a embasar um decreto condenatório e, por via de 
consequência, a absolvição do acusado, diante de tais 
circunstâncias, seria a medida necessariamente a ser adotada. 
Contudo, em situações tais, quando decide confessar a prática 
delitiva contra si atribuída, o acusado engendra a tese acusatória, 
reforçando as provas contra si, o que pode culminar na sua 
condenação. 
Ora, quando reconhece a prática delituosa, o imputado não 
está a acusar outrem, mas, sim, a reconhecer conduta própria, a 
qual, diante de todo o cenário que se desenvolve na persecução 
penal, tende a corroborar as alegações em seu desfavor, e a 
embasar um decreto condenatório. Como consequência benéfica 
única a tal conduta há eventual diminuição de pena. 
Assim, em nosso sentir, não há como não entender que a 
confissão está intimamente ligada aos aspectos positivos da 
personalidade do agente e, por tal razão, deve ser compreendida 
como circunstância atenuante preponderante, nos termos do já 
mencionado artigo 67, do Código Penal. 
Entendendo a circunstância atenuante da confissão como 
preponderante (pois relacionada à personalidade do agente), 
quando em concurso com a reincidência, temos que entre estas não 
há diferença axiológica, porquanto ambas são preponderantes, nos 
termos do artigo 67, do Código Penal. 
A solução mais adequada, pois, é a da compensação da 
atenuante da confissão espontânea e agravante da reincidência, 
 
 
 
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mantendo-se, na ausência de outras circunstâncias, a pena base 
inalterada. 
Conclusão 
Por tudo quanto exposto, temos que a confissão 
espontânea, enquanto circunstância atenuante, deve ser aplicada 
na segunda fase da dosimetria da pena, sendo entendida como 
circunstância preponderante, uma vez que se consubstancia em 
expressão de aspectos positivos da personalidade do agente. 
Em concurso da circunstância atenuante da confissão 
espontânea e da circunstância agravante da reincidência (esta 
expressamente prevista como preponderante), há possibilidade de 
compensação de ambas, uma vez que se encontram no mesmo 
patamar axiológico. Não sendo, pois, consentâneo com o sistema 
penal o entendimento de que deve preponderar a agravante da 
reincidência em relação à atenuante da confissão. 
A despeito da divergência jurisprudencial verificada nos 
Tribunais Superiores, reputamos mais adequado o entendimento 
esposado pelo Superior Tribunal de Justiça, a quem compete 
vaticinar a “última palavra” no que atine à interpretação das normas 
infraconstitucionais, obviamente respeitada a compatibilidade 
destas com a Constituição Federal. 
Portanto, em havendo concurso da agravante da 
reincidência com a atenuante da confissão espontânea, sustenta-
se a possibilidade de compensação de ambas, na segunda fase da 
dosimetria da pena. 
Referências 
BRASIL. Código Penal. Decreto-lei n. 2.848, de 07 de dezembro 
de 1940. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. 
 
 
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QUEIROZ, Paulo. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 11ed. 
Salvador: Juspodivm, 2015. 
STJ. EREsp 1154752/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS 
JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/05/2012, DJe 
04/09/2012. 
STJ. REsp 1341370/MT, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS 
JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2013, DJe 
17/04/2013. 
STF. HC 105543, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, 
Primeira Turma, julgado em 29/04/2014, PROCESSO 
ELETRÔNICO DJe-100 DIVULG 26-05-2014 PUBLIC 27-05-2014. 
NOTAS: 
[1] QUEIROZ, Paulo. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 
11ed.Salvador: Juspodivm, 2015. p. 484 
[2] STF. HC 105543, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, 
Primeira Turma, julgado em 29/04/2014, PROCESSO 
ELETRÔNICO DJe-100 DIVULG 26-05-2014 PUBLIC 27-05-2014 
[3] STJ. REsp 1341370/MT, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS 
JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2013, DJe 
17/04/2013. 
[4] STJ. EREsp 1154752/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS 
JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/05/2012, DJe 
04/09/2012. 
[5] Idem. 
[6] Idem. 
 
  
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UMA ANÁLISE CRÍTICA DO ARTIGO 156, INCISO I, DO CÓDIGO DE 
PROCESSO PENAL À LUZ DO SISTEMA ACUSATÓRIO 
CONSTITUCIONAL 
RENATA SILVA COUTO: Advogada. Graduada pela 
Universidade Federal de Juiz de Fora. Pós-graduada em 
Direito Público pela Universidade Anhanguera-Uniderp. 
Resumo: O presente artigo tem por objeto a análise do artigo 156, 
inciso I, do Código de Processo Penal brasileiro em face do modelo 
acusatório de processo adotado pela Constituição Federal. 
Palavras-chave: Iniciativa probatória do juiz. Princípio da verdade 
real. Sistema acusatório constitucional. 
 
INTRODUÇÃO 
A Lei 11.690/2008 alterou o artigo 156 do Código de Processo 
Penal para prever, em seu inciso I, a possibilidade de o magistrado, 
ainda durante a etapa preliminar da persecução penal, determinar, 
de ofício, a produção de provas consideradas urgentes e relevantes, 
desde que observada a necessidade, adequação e 
proporcionalidade da medida. 
Tendo em vista o sistema acusatório encampado pela 
Constituição Federal de 1988, busca-se confrontar, ao longo do 
presente trabalho, o dispositivo supramencionado com as garantias 
inerentes ao modelo acusatório de processo penal, sobretudo como 
forma de se assegurar, contra os abusos do poder punitivo estatal, 
os direitos e liberdades fundamentais daquele que tem contra si 
instaurado um inquérito policial. 
1. DAS PROVAS NO PROCESSO PENAL 
 
 
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A demonstração da verdade processual é realizada 
através da colheita probatória, constituindo prova tudo aquilo capaz 
de contribuir para a formação do convencimento do órgão julgador. 
É importante salientar que esta verdade construída não 
necessariamente corresponde à verdade dos fatos, pois que 
limitada pelos princípios e regras procedimentais inerentes ao 
devido processo penal. 
Guilherme de Souza Nucci entende que existem “três 
sentidos para o termo prova: a) ato de provar: é o processo pelo 
qual se verifica a exatidão ou a verdade do fato alegado pela parte 
no processo (ex.: fase probatória); b) meio: trata-se do instrumento 
pelo qual se demonstra a verdade de algo (ex.: prova testemunhal); 
c) resultado da ação de provar: é o produto extraído da análise dos 
instrumentos de prova oferecidos, demonstrando a verdade de um 
fato” [1]. 
O ônus da prova, por sua vez, consiste no encargo 
atribuído à parte de provar os fatos alegados, assumindo, caso se 
mantenha inerte, as consequências de sua inatividade. Em matéria 
criminal, a prova da alegação incumbe a quem a fizer, de acordo 
com a dicção do artigo 156, 1ª parte, do Código de Processo Penal 
brasileiro, tendo-se entendido que a acusação possui o ônus de 
provar a autoria, a materialidade, os elementos subjetivos do crime 
(dolo ou culpa), bem como eventuais circunstâncias que exasperem 
a pena, ao passo que a defesa possui o ônus de provar excludentes 
da ilicitude e da culpabilidade, causas de extinção da punibilidade e 
eventuais circunstâncias que mitiguem a pena. 
À luz do sistema acusatório adotado pelo ordenamento 
jurídico pátrio, é importante salientar que o magistrado deve se 
manter alheio à gestão da atividade probatória, que incumbe 
precipuamente às partes. Apenas em caráter complementar, com 
vistas a dirimir dúvida sobre ponto essencial à demonstração da 
verdade, deve se revelar admissível a iniciativa probatória do órgão 
 
 
 
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julgador, não podendo substituir-se à atuação das partes. Tal 
limitação à proatividade do magistrado impõe-se como medida 
assecuratória de sua imparcialidade, com vistas à prolação de um 
provimento jurisdicional justo. 
No que tange à apreciação do manancial probatório pela 
autoridade judicial, o ordenamento jurídico pátrio adota como 
sistema reitor o do livre convencimento motivado ou da persuasão 
racional, consagrado no artigo 155 do Código de Processo Penal. 
Por ele, o juiz possui liberdade para apreciar as provas carreadas 
aos autos, desde que o faça de forma motivada, em obediência ao 
disposto no artigo 93, inciso IX, da Carta Magna, rechaçadas, de 
antemão, as provas reputadas ilícitas. 
Por sua vez, nas palavras de Paulo Rangel, os meios de 
prova “são todos aqueles que o juiz, direta ou indiretamente, utiliza 
para conhecer da verdade dos fatos, estejam eles previstos em lei 
ou não” [2]. 
Nesse contexto, vigora, em regra, o princípio da liberdade 
probatória, não consagrando o Código de Processo Penal brasileiro 
exaustivamente todos os meios de prova admissíveis, os quais 
podem ser nominados (especificados em lei) ou inominados (não 
especificados em lei), desde que moralmente legítimos e não 
afrontem o ordenamento jurídico. 
Impende salientar, por fim, que, a despeito de possuir 
previsão legal, o meio de prova pode revelar-se ilícito na medida em 
que “os princípios constitucionais de proteção e garantia da pessoa 
humana impedem que à procura da verdade utilize-se de meios e 
expedientes condenáveis dentro de um Estado Democrático de 
Direito” [3]. 
2. O PRINCÍPIO DA VERDADE REAL: UMA REFLEXÃO 
CRÍTICA 
 
 
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Dentre os princípios tradicionalmente apontados como 
pilares da estrutura do processo penal, destaca-se o princípio da 
verdade real. Por ele, o processo criminal não se conforma com 
conclusões fictícias, devendo o magistrado buscar a reconstrução 
da verdade dos fatos, ainda que, a princípio, com realização de 
prova ordenada de ofício, no intuito de superar eventual desídia 
entre as partes na colheita probatória e proferir um provimento 
jurisdicional. 
Contudo, a verdade real, em termos absolutos, pode se 
revelar inatingível. A propósito, Luigi Ferrajoli afirma que a 
“impossibilidade de formular um critério seguro de verdade das 
teses judiciais depende do fato de que a verdade ‘certa’, ‘objetiva’ 
ou ‘absoluta’ representa sempre a ‘expressão de um ideal 
inalcançável’” [4]. 
A despeito desta assertiva, o processo penal, ainda hoje, 
é comumente associado ao princípio em comento, atribuindo-se ao 
magistrado a tarefa de conduzi-lo de modo a revelar a “verdade” 
ínsita aos fatos. Trata-se, no entanto, de uma mera utopia, 
especialmente tendo em vista que o próprio juiz, enquanto sujeito, 
carrega consigo uma história e carga valorativa capazes de influir 
em sua concepção da verdade, o que acaba por contaminar a sua 
necessária imparcialidade. 
Neste contexto, Aury Lopes Jr. identifica um grave erro na 
expressão “verdade real”, seja em razão da própria noção de 
verdade ser excessiva e difícil de ser apreendida, seja pelofato de 
não se poder imputar o adjetivo de “real” a um fato pretérito. Para o 
autor, o real está vinculado à ideia de presente e o crime, como fato 
histórico e existente apenas no imaginário, será reconstruído no 
processo [5]. E, tendo em vista que o juiz, na sentença, constrói a 
“sua” história do delito, elegendo os significados que lhe parecem 
válidos, conclui que a sentença é um ato de fé, de crença, um 
sentimento declarado pelo juiz, sendo a verdade tomada como algo 
contingencial, e não como fator estruturante do processo [6]. 
 
 
 
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Não se pode olvidar que a busca pela verdade, como fim 
precípuo do processo penal, tornou-se argumento legitimador de 
arbitrariedades cometidas pelos responsáveis pela persecução 
penal, bem como da ampla iniciativa probatória concedida ao 
magistrado, própria da lógica inquisitiva. 
Nesse contexto, no dizer de Aury Lopes Jr., lembrando as 
lições de Perfecto Andrés Ibáñez, “historicamente, está 
demonstrado empiricamente que o processo penal, sempre que 
buscou uma ‘verdade mais material e consistente’ e com menos 
limites na atividade de busca, produziu uma ‘verdade’ de menor 
qualidade e com pior trato para o imputado” [7]. 
Como forma de se assegurar o respeito às garantias 
penais e processuais penais, especialmente à luz do sistema 
acusatório consagrado pela ordem constitucional de 1988, deve-se 
renunciar à lógica inquisitiva e buscar uma verdade processual ou 
formal, sempre limitando a proatividade judicial no campo 
probatório, com vistas a evitar a perda da necessária imparcialidade 
para apreciar a demanda penal. 
A verdade processual, como afirma Luigi Ferrajoli, “pode 
ser concebida como uma verdade aproximada a respeito do ideal 
iluminista da perfeita correspondência” [8]. Ainda segundo o autor, a 
verdade processual não é obtida mediante indagações inquisitivas 
alheias ao objeto processual, mas sim condicionada em si mesma 
pelo respeito aos procedimentos e garantias de defesa. Conclui que 
a verdade formal é mais controlada quanto ao método de aquisição 
e mais reduzida quanto ao conteúdo informativo que qualquer 
hipotética verdade substancial[9]. 
Ante ao exposto, revela-se imprescindível e urgente a 
releitura constitucional dos instrumentos colocados à disposição da 
atividade persecutória, especialmente sob o prisma do sistema 
acusatório e dos direitos e garantias fundamentais dele decorrentes, 
com vistas a expurgar do ordenamento jurídico pátrio quaisquer 
 
 
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resquícios inquisitórios, dentre os quais se destaca o artigo 156, 
inciso I, do Código de Processo Penal brasileiro. 
3. O SISTEMA ACUSATÓRIO CONSTITUCIONAL 
O modelo de processo penal pode se caracterizar como 
inquisitivo, acusatório ou misto (também denominado sistema 
acusatório formal). 
No sistema inquisitivo, há uma verdadeira concentração, 
na figura do órgão julgador, das funções de acusar, defender e 
julgar, com possibilidade de proceder de ofício a persecução penal 
ou a colheita probatória, inclusive na fase investigatória da 
persecução penal. Nesse sistema, o acusado é tratado como mero 
objeto do processo penal, e não como sujeito de direitos. 
Por outro lado, o sistema acusatório é marcado pela 
separação entre as funções de acusar, defender e julgar, que são 
atribuídas a órgãos distintos. Nesse sistema, ao contrário do que se 
dá no âmbito do modelo inquisitivo de processo penal, vigora a 
necessidade de preservação da imparcialidade do órgão julgador, 
assim como de fundamentação de suas decisões, na perspectiva 
do princípio do livre convencimento motivado. 
Como terceiro modelo de processo penal, tem-se o 
sistema misto, também denominado acusatório formal. Neste 
sistema, a persecução penal se divide em três etapas: investigação 
preliminar, concretizada pelos órgãos de polícia judiciária; instrução 
preparatória, realizada pelo juiz, dotado de poderes inquisitivos na 
realização da colheita probatória; e julgamento, fase judicial em que 
se aplicam os princípios do contraditório e da ampla defesa. 
Não obstante haja resquícios do sistema inquisitório e do 
sistema acusatório formal no processo penal brasileiro, a 
Constituição Federal de 1988 consagrou o sistema acusatório, 
sobretudo em face das garantias fundamentais expressamente 
consagradas em seu texto, a exemplo dos princípios do 
 
 
 
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contraditório e da ampla defesa (artigo 5º, inciso LV), da presunção 
de inocência (artigo 5º, inciso LVII), da dignidade da pessoa humana 
(artigo 1º, inciso III) e do devido processo legal (artigo 5º, inciso LIV). 
Tendo em vista a adoção expressa pelo texto 
constitucional do modelo acusatório de processo penal, eventuais 
resquícios inquisitórios devem ser expurgados do ordenamento 
jurídico pátrio, de modo a atender ao comando constitucional. 
4. A INICIATIVA PROBATÓRIA DO JUIZ E O ARTIGO 156, 
INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 
Na forma do artigo 156, inciso I, do Código de Processo 
Penal brasileiro: 
“Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem 
a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, 
a produção antecipada de provas consideradas 
urgentes e relevantes, observando a 
necessidade, adequação e proporcionalidade da 
medida; 
(...)” 
Com base em uma suposta busca pela verdade real, o 
inciso supratranscrito permite ao do juiz, de ofício, determinar, 
durante o curso do inquérito policial, a produção da prova 
antecipada, constituindo um evidente resquício do sistema 
inquisitivo, sendo, pois, incompatível com o modelo constitucional 
acusatório de processo penal. 
Neste passo, ao proceder de ofício à colheita probatória 
em momento anterior à instauração do processo penal, o juiz acaba 
por elaborar verdadeira hipótese acusatória antes de o órgão 
acusador fazê-lo, restando prejudicada a separação entre as 
 
 
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funções de acusar, defender e julgar, que se concentram nas mãos 
do órgão julgador. Nesta linha de entendimento, haverá flagrante 
contaminação da necessária imparcialidade do magistrado, em 
prejuízo do sistema acusatório constitucional. 
Ademais, este reforço acusatório levado a efeito pelo juiz 
viola, em desfavor do investigado, o princípio da paridade de armas, 
consectário do princípio constitucional do contraditório (artigo 5º, 
inciso LV, da Lei Maior) e da cláusula geral do devido processo legal 
(artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal). 
CONCLUSÃO 
O artigo 156, inciso I, do Código de Processo Penal, 
incorre em flagrante violação do sistema acusatório constitucional, 
ao afastar diversas garantias que lhes são ínsitas, sobretudo os 
princípios da verdade processual, da imparcialidade do órgão 
julgador e do contraditório. 
Neste passo, acaba por legitimar, a partir de uma suposta 
busca pela verdade real, verdadeiras arbitrariedades na etapa 
preliminar persecução penal, ao conferir ampla iniciativa probatória 
ao magistrado, característica própria do modelo inquisitivo de 
processo. 
A verdade buscadano âmbito de um processo penal 
garantista deve ser sempre uma verdade processual ou formal, 
inclusive como forma de se limitar a proatividade judicial no campo 
probatório e, assim, evitar a perda da necessária imparcialidade 
para apreciar a demanda penal. 
Tendo em vista as premissas discorridas ao longo do 
presente trabalho, é forçoso concluir pela necessidade do 
afastamento do artigo 156, inciso I, do Código de Processo Penal, 
por ser patentemente inconstitucional, ao violar o modelo acusatório 
de processo penal, único compatível com a Constituição Federal de 
1988. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão. Teoria do Garantismo 
Penal. 2. ed. São Paulo: RT, 2006. 
LOPES JR, Aury. Direito processual penal e sua conformidade 
constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. v.1. 
LOPES JR, Aury. Introdução crítica ao processo penal 
(Fundamentos da Instrumentalidade Garantista). 4. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2007. 
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e 
execução penal. 3. ed. São Paulo: RT, 2007. 
RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 7. ed. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2003. 
NOTAS: 
[1] NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e 
execução penal. 3. ed. São Paulo: RT, 2007. p. 351. 
[2] RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 7. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 414. 
[3] RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 7. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 407. 
[4] FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão. Teoria do Garantismo 
Penal. 2. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 52. 
[5] LOPES JR, Aury. Direito processual penal e sua 
conformidade constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. v.1. 
p. 540-550. 
[6] LOPES JR, Aury. Introdução crítica ao processo penal 
(Fundamentos da Instrumentalidade Garantista). 4. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 283-284. 
 
 
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[7] LOPES JR, Aury. Introdução crítica ao processo penal 
(Fundamentos da Instrumentalidade Garantista). 4. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 272. 
[8] FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão. Teoria do Garantismo 
Penal. 2. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 53. 
[9] Idem, ibidem. 
 
 
 
 
 
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O DIREITO À AMAMENTAÇÃO NOS CASOS DE MÃE PRIVADA DE 
LIBERDADE E O PRAZO MÍNIMO DE SEIS MESES ESTABELECIDO 
PELA LEI DE EXECUÇÃO PENAL 
 
PAULA VASCONCELOS DE MELO BRAZ: advogada, 
graduação pela universidade FUMEC, pós-graduação em 
Direito Constitucional pelo IDDE (certificado pelo Centro 
Universitário UNA). 
Resumo: o presente artigo tem como objetivo analisar os direitos 
envolvidos quanto à amamentação a ser realizada por mãe presa, 
assim como a adequação ou inadequação dos prazos estabelecidos 
por lei para tal atividade de convivência familiar. 
Palavras-chave: Direito Constitucional. Direito da Criança e do 
Adolescente. Execução Penal. 
 
Introdução 
A decisão do Supremo Tribunal Federal na ADPF 347, 
declarando o Estado de Coisas Inconstitucional no tocante à 
situação carcerária no Brasil, deu novo brilho às discussões 
relativas às condições impostas àqueles que cumprem medida 
restritiva de liberdade em estabelecimentos penais. 
No presente trabalho abordaremos um ponto muito específico 
da discussão, que reside na amamentação a ser realizada por mães 
em situação de cárcere, analisando, além dos direitos destas, os 
direitos das crianças envolvidas. 
Analisaremos também as previsões legais quanto ao tempo 
mínimo a ser garantido pelo Estado para que haja a amamentação, 
 
 
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em especial o art. 83, § 2º da LEP, sempre à luz dos preceitos 
constitucionais. 
Dos direitos da criança e do adolescente 
Para a compreensão do tema proposto, devemos abordar os 
direitos da criança e do adolescente, os quais se encontram, em sua 
maioria, elencados na Constituição da República de 1.988 e no 
Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8069/90). 
O princípio basilar de todo o sistema de proteção às crianças e 
aos adolescentes é o princípio da proteção integral, que surge como 
novo paradigma a substituir a doutrina da situação irregular. 
Até o advento da CR/88 e do ECA, a tutela jurídica relativa a 
crianças e adolescentes se restringia a situações em que houvesse 
alguma irregularidade na situação do “menor” (nomenclatura 
anteriormente utilizada), como por exemplo nos casos de 
cometimento de ilícitos ou ausência de responsáveis legais. A 
proteção integral, expressamente prevista pelo art. 1º, art. 3º, caput 
e e pelo art. 100, parágrafo único, inciso II do ECA, rompe com este 
paradigma na medida em que coloca a criança e o adolescente 
como sujeitos de direitos, e não meros objetos de política pública ou 
provimento judicial. A criança e o adolescente passam a ser vistos 
como titulares de todos os direitos previstos pelo ordenamento, 
assim como daqueles elencados especificamente para a pessoa em 
desenvolvimento. Vejamos disposição do ECA neste sentido: 
“Art. 3º A criança e o adolescente gozam de 
todos os direitos fundamentais inerentes à 
pessoa humana, sem prejuízo da proteção 
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-
lhes, por lei ou por outros meios, todas as 
oportunidades e facilidades, a fim de lhes 
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, 
espiritual e social, em condições de liberdade e 
de dignidade.” (sem grifos no original) 
Neste sentido, a proteção integral impõe a observância de 
inúmeros direitos em relação à criança e ao adolescente, devendo 
haver, ainda, absoluta prioridade em relação a este grupo de 
pessoas que está em fase de desenvolvimento. 
 
 
 
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Vejamos o que diz a CR/88: 
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e 
do Estado assegurar à criança, ao adolescente e 
ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e 
à convivência familiar e comunitária, além de 
colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão. (Redação dada 
Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)” 
(sem grifos no original) 
Percebe-se, portanto, que a criança e o adolescente devem 
receber a proteção conferida a qualquer pessoa, e de forma ainda 
mais cuidadosa, conforme o devido respeito ao estágio de 
desenvolvimento no qual se encontram. 
É possível afirmar, portanto, que a ordem jurídica protege o 
direito da criança a ser amamentada pela mãe que está privada de 
sua liberdade, de forma a preservar o direito à dignidade (art. 1º, III 
da CR/88), à alimentação e à saúde (art. 6º da CR/88), assim como 
o direito à convivência familiar (art. 227, caput da CR/88, art. 4º 
caput e art. 19, caput e §4º do ECA), sem qualquer discriminação 
em relação àsituação de cárcere da genitora (art. 3º, IV e art. 227 
da CR/88, art. 3º, parágrafo único e art. 5º do ECA). Nesse sentido, 
é essencial mencionar o princípio da instranscendência da pena: 
“Tal princípio está previsto no 
art. 5º, XLV da CF. Também denominado 
princípio da intranscendência ou da 
pessoalidade ou, ainda, personalidade da pena, 
preconiza que somente o condenado, e mais 
ninguém, poderá responder pelo fato praticado, 
pois a pena não pode passar da pessoa do 
condenado.”[1] 
Se ninguém além do condenado pode responder por sua pena, 
como justificar, sob a ótica da proteção integral, o afastamento da 
criança que necessita de aleitamento materno? Como veremos no 
 
 
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decorrer deste trabalho, esse direito, que está intimamente ligado 
ao direito à saúde, deve ser garantido mesmo nos casos de mãe em 
cárcere. 
Quanto aos direito à convivência, o ECA prevê expressamente 
a hipótese de visitas aos genitores privados de liberdade. Este 
diploma, apesar de homenagear o direito à convivência, não é 
suficiente quanto à questão de amamentação, pois neste caso não 
bastam meras visitas, mas sim a permanência da mãe e da criança 
no mesmo local. Vejamos o dispositivo legal: 
“§ 4o Será garantida a convivência da criança 
e do adolescente com a mãe ou o pai privado de 
liberdade, por meio de visitas periódicas 
promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de 
acolhimento institucional, pela entidade 
responsável, independentemente de autorização 
judicial. (Incluído pela Lei nº 12.962, de 2014)” 
Já estando demonstrado o direito da criança a ser amamentada 
durante privação de liberdade da genitora, passemos agora à 
analise do direito desta. 
Do direito da mãe presa a amamentar a prole 
Além do direito da criança a ser amamentada, a genitora 
também possui direito a participar desta fase de desenvolvimento 
dos filhos, a qual traz benefícios à saúde e à qualidade da 
convivência familiar. Quanto à saúde, é possível citar, a título de 
exemplo, que a mãe que amamenta previne o câncer de mama e 
de ovário[2], assim como doenças cardiovasculares.[3] 
A situação de cárcere não é suficiente para justificar o 
afastamento entre mães e filhos, uma vez que a segregação 
cautelar ou o cumprimento de pena privativa de liberdade não 
podem atingir outros direitos que não a liberdade, conforme 
previsão da lei de execuções penais (lei 7.210/84). Este diploma 
estabelece a assistência social e à saúde do preso (art. 11 da LEP), 
e ainda a garantia constitucional de integridade (art. 5º da CR/88). 
Vejamos: 
“Art. 11. A assistência será: 
 
 
 
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I - material; 
II - à saúde; 
III -jurídica; 
IV - educacional; 
V - social; 
VI - religiosa.” 
“XLIX - é assegurado aos presos o respeito 
à integridade física e moral;” 
Além disso, a CR/88, no art. 5º, XLVII, alínea “e”, proíbe penas 
cruéis, o que certamente seria o caso do sofrimento psíquico e físico 
causado pela separação entre mãe e filho na fase de amamentação. 
A própria CR/88 reconheceu a importância do aleitamento 
materno e previu de forma expressa que o poder público deve 
garantir sua realização nos casos de mãe presa. Vejamos o inciso 
L do art. 5º da Magna Carta: 
“L - às presidiárias serão asseguradas 
condições para que possam permanecer com 
seus filhos durante o período de amamentação;” 
Estando demonstrado o direito das crianças e das mães quanto 
ao aleitamento mesmo em situação de cárcere, passemos agora a 
discutir sobre o suposto prazo mínimo para tal espécie de 
convivência familiar (art. 83 §2º da LEP). 
Da aplicação do direito ao aleitamento materno 
Em obediência ao art. 5º, L da CR/88, tanto a Lei de Execuções 
Penais (art. 83 §2º), quando o ECA (art. 9º) preveem o direito ao 
aleitamento no cárcere, como exposto: 
Ҥ 2o Os estabelecimentos penais 
destinados a mulheres serão dotados de 
berçário, onde as condenadas possam cuidar de 
 
 
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seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, 
até 6 (seis) meses de idade.”(Redação dada 
pela Lei nº 11.942, de 2009)” (sem grifos no 
original) 
“Art. 9º O poder público, as instituições e os 
empregadores propiciarão condições 
adequadas ao aleitamento materno, inclusive 
aos filhos de mães submetidas a medida 
privativa de liberdade.” 
Apesar de a lei ter determinado o período mínimo de seis 
meses de permanência da mãe presa com a prole, essa disposição 
não pode servir como subterfúgio para que o poder público deixe de 
garantir a convivência por maior período de tempo nos casos em 
que ela é recomendável. 
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, 
visando preservar os direitos aqui já debatidos, editou a resolução 
nº 4 de 2009, dispondo, no art. 2º: 
“Art. 2º: Deve ser garantida a permanência 
de crianças nomínimo até um ano e seis 
meses para as(os) filhas(os) de mulheres 
encarceradas junto as suas mães, visto que a 
presença da mãe nesse período éconsiderada 
fundamental para o desenvolvimento da 
criança, principalmente no que tange à 
construção do sentimento de confiança, 
otimismo e coragem, aspectos que podem ficar 
comprometidos caso não haja uma relação que 
sustente essa primeira fase do desenvolvimento 
humano; esse período também se destina para 
a vinculação da mãe com sua(seu) filha(o) e para 
a elaboração psicológica da separação e futuro 
reencontro.” (sem grifos no original) 
Essa regra, apesar de ser desrespeitada com frequência na 
realidade brasileira, deveria ser implementada de forma obrigatória, 
conforme Bruno César da Silva: 
 
 
 
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“A Resolução do CNPCP tem força 
vinculante e, ao trazer o período de um ano e 
seis meses, sobrepõe-se à LEP, que traz apenas 
um período mínimo, podendo ser estendido pelo 
poder regulamentar, como foi feito no caso em 
tela.”[4] 
Além de haver essa resolução do CNPCP, a própria LEP 
determina a existência de creches e berçários em unidades 
prisionais, de forma que haja convivência da mãe presa com a 
criança de até seis anos. Ora, se a própria LEP preza pela 
manutenção da relação familiar até tal idade, é de se entender que 
o aleitamento também deve ser estendido, sendo sua limitação a 
seis meses, além de uma contradição com a própria lei, desrespeito 
aos direitos da mãe e da criança. 
“Art. 89. Além dos requisitos referidos no art. 
88, a penitenciária de mulheres será dotada de 
seção para gestante e parturiente e de creche 
para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses 
e menores de 7 (sete) anos, com a finalidade de 
assistir a criança desamparada cuja responsável 
estiver presa. (Redação dada pela Lei nº 
11.942, de 2009) 
Parágrafo único. São requisitos básicos da 
seção e da creche referidas neste 
artigo: (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009) 
I – atendimento por pessoal qualificado, de 
acordo com as diretrizes adotadas pela 
legislação educacional e em unidades 
autônomas; e (Incluído pela Lei nº 11.942, de 
2009) 
II – horário de funcionamento que garanta a 
melhor assistênciaà criança e à sua 
responsável. (Incluído pela Lei nº 11.942, de 
2009)” 
Quanto à importância do aleitamento materno, a Organização 
Mundial da Saúde e a UNICEF recomendam que a amamentação 
 
 
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dure de forma exclusiva por até seis meses, mas que após esse 
prazo ela seja mantida em conjunto com outros alimentos até a 
idade de dois anos, no mínimo.[5] 
O direito à amamentação, portanto, deve ser garantido por todo 
o período em que esta dure, não sendo possível determinar de 
forma apriorística e rígida qual o prazo necessário para que haja 
garantia da saúde da mãe e da criança, assim como da formação 
de laços familiares. O prazo mínimo de seis meses previsto pela 
LEP, portanto, não pode ser utilizado para isentar o poder 
público de promover a amamentação por maior período de 
tempo quando esta é recomendável. 
Conclusão 
É de se concluir, tendo em vista todo o exposto, que a 
amamentação é um direito tanto da mãe privada de liberdade, 
quanto da criança, devendo o estado garantir condições para sua 
realização por todo o tempo em que for conveniente para a mulher 
presa e sua prole. 
A criança e o adolescente são titulares de todos os direitos 
previstos pelo ordenamento, assim como dos direitos 
especificamente determinados para este grupo de pessoas (direito 
à prioridade, por exemplo). Nesse sentido, como garantia do direito 
à dignidade, à alimentação, à saúde, à convivência familiar, e à não 
discriminação, a criança possui o direito a ser amamentada por sua 
mãe, sem sofrer qualquer efeito negativo da pena que a ela não 
pode ser imposta (intranscendência da pena). 
A mulher presa sofre restrição apenas quanto à sua de 
liberdade de locomoção, mantendo o direito à saúde e à convivência 
familiar. A mulher, portanto, também possui direito de amamentar 
seu filho pelo tempo que for conveniente às partes. 
Tendo em vista as recomendações internacionais quanto ao 
período de amamentação, assim como as garantias constitucionais, 
o prazo mínimo de seis meses previsto pela LEP para convivência 
entre mãe presa e filho não deve ser considerado suficiente sem 
haver análise do caso concreto. 
Referências bibliográficas 
 
 
 
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ALONSO, Marcelo. Em que consiste o princípio da 
responsabilidade pessoal no direito penal?Disponível em: 
[http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2118340/em-que-consiste-o-
principio-da-responsabilidade-pessoal-no-direito-penal-marcelo-
alonso]. Acessado em 10 de abril de 2016. 
16 benefícios da amamentação. Disponível em: 
[http://revistacrescer.globo.com/Bebes/Amamentacao/noticia/2013/
02/16-beneficios-da-amamentacao.html]. Acessado em 1º de março 
de 2016. 
MEDEIROS, Thainá. Semana do aleitamento materno 
ressalta importância da amamentação. Disponível em: 
[http://drauziovarella.com.br/crianca-2/semana-do-aleitamento-
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de março de 2016. 
Recomendações OMS. Disponível em: 
[http://www.leitematerno.org/oms.htm]. Acessado em 10 de março 
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SILVA, Bruno César da. Primeira infância, sistema prisional 
e o direito ao desenvolvimento, à saúde, à convivência familiar 
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v. 2, n. 3, jan./jun. 2014. 
SPOSATO, Karyna B.. Pedagogia do medo: adolescentes 
em conflito com a lei e a proposta de redução da idade penal. 
2006. 
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; et al. Direito Penal Brasileiro I. 3. 
ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003. 
NOTAS: 
[1] ALONSO, Marcelo. Em que consiste o princípio da 
responsabilidade pessoal no direito penal? Disponível em: 
[http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2118340/em-que-consiste-o-
principio-da-responsabilidade-pessoal-no-direito-penal-marcelo-
alonso]. Acessado em 10 de abril de 2016. 
 
 
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[2] MEDEIROS, Thainá. Semana do aleitamento materno 
ressalta importância da amamentação. Disponível em: 
[http://drauziovarella.com.br/crianca-2/semana-do-aleitamento-
materno-ressalta-importancia-da-amamentacao/]. Acessado em 1º 
de março de 2016. 
[3] 16 benefícios da amamentação. Disponível em: 
[http://revistacrescer.globo.com/Bebes/Amamentacao/noticia/2013/
02/16-beneficios-da-amamentacao.html]. Acessado em 1º de março 
de 2016. 
[4] Silva, Bruno César da. Primeira infância, sistema prisional 
e o direito ao desenvolvimento, à saúde, à convivência familiar 
e à liberdade. Revista de Direito da Infância e da Juventude: RDIJ, 
v. 2, n. 3, jan./jun. 2014, p. 113. 
[5] Recomendações OMS. Disponível em: 
[http://www.leitematerno.org/oms.htm]. Acessado em 10 de março 
de 2016. 
 
 
 
 
 
 
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EFETIVIDADE DO DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO: UMA 
LEITURA À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
PAULA DE GOES BRITO PONTES: Servidora 
pública federal, lotada na Procuradoria da 
República em Alagoas (MPF). Bacharel em Direito, 
Pós-Graduada em Direito Constitucional. 
RUSUMO: A presente obra tem como objetivo discorrer sobre a 
efetividade do direito social a educação a luz da constituição de 
1988, enquanto direito fundamental. Discorre sobre os principais 
dispositivos constitucionais sobre o tema, abordando a posição da 
doutrina majoritária e da jurisprudência, levando em consideração 
os postulados da mínimo existencial, da máxima efetividade dos 
diretos fundamentais e da reserva do possível. Por fim, chegou-se 
a conclusão de que o Estado não pode abster-se se dessa 
obrigação constitucional, devendo adotar as medidas necessárias e 
pertinentes a proporcionar a máxima efetividade ao direito 
fundamental da educação, honrando com o postulado da dignidade 
da pessoa humana, fundamento da república. 
SUMÁRIO: INTRODUÇÃO. 1 DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. 
1.1 Conceito de direitos fundamentais. 1.2 Evolucao dos direitos 
fundamentais. 1.3 Da divisão doutrinária dos direitos fundamentais. 
2 O DIREITO SOCIAL À EDUCAÇÃO. 2.1 Conceito de direito social. 
2.2 Princípio da máxima efetividade. 2.3 O direito a educação. 3 
EDUCAÇÃO: UM DEVER DO ESTADO. 3.1 A educacao como 
direito publico subjeivo. 3.2 O Minimo Existencial. 4 A 
EFETIVIDADE DA EDUCACAO À LUZ DA CONSTITUIÇÃO. 4.1 A 
efetividade dos direitos fundamentais. 4.2 A reserva do possivel. 4.3 
Os instrumentos de controle social. CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS. 
 
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Sendo revestido pela característica da essencialidade, o direito 
à educação foi positivado na Constituição Federal como direito 
fundamental de todos, cuja realização é dever de Estado e da 
Família. 
A relevância desse direito se deve ao fato de ser a educação 
um dos principais instrumentos a possibilitar o pleno 
desenvolvimento do homem, tornando-o capacitado para o trabalho 
e propiciando sua formação como cidadão, apto a conviver eprogredir em seu meio social. 
Ademais, a partir de uma análise macro sobre a questão, 
apura-se que a qualidade da educação está diretamente 
relacionada com ao grau de desenvolvimento econômico e social 
do Estado, uma vez a oferta de ensino ajuda a diminuir os índices 
de pobreza por capacitar as pessoas com o conhecimento, 
habilidades e a competência necessárias para modificarem o 
contexto social em que estão inseridas. 
Ocorre que, não obstante a relevância desse direito 
constitucionalmente assegurado, o fato é que, na prática, a 
população brasileira ainda encontra remotos óbices à efetivação 
dessa garantia, tornando-se a sua concretude um dos maiores 
desafios da atualidade. 
Nesse contexto, percebe-se que, em muitos casos, os maiores 
obstáculos derivam da omissão estatal, utilizando-se o Poder 
Público dos mais diversos argumentos, em especial a escassez de 
recursos públicos, para justificar a desídia na efetivação desse 
direito indispensável à dignidade da pessoa humana, os quais, 
porém, não podem prosperar, uma vez que, com base no próprio 
texto constitucional, resta indiscutível torna-se clara a exigibilidade 
constitucional desse fundamental direito. 
Destarte, passados mais de vinte e cinco anos da promulgação 
da Magna Carta, a discussão sobre a efetividade do direito social à 
educação revela-se sobremaneira relevante e pertinente, sendo a 
 
 
 
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obrigação do Estado em promover o mínimo existencial o ponto 
central do presente estudo, como corolário de um dos mais 
importantes fundamentos da república: a dignidade da pessoa 
humana. 
Baseado no estudo de obras notáveis de Direito Constitucional, 
em estudos de Teoria dos Direitos Humanos e em artigos científicos 
sobre o direito à educação, desenvolve-se o trabalho. Por meio de 
uma metodologia descritiva e explicativa, realizada com pesquisa 
bibliográfica e jurisprudencial, parte-se do princípio da dignidade da 
pessoa humana e da demonstração de seu aspecto basilar no 
constitucionalismo contemporâneo, mormente no Estado 
Democrático de Direito. 
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
1.1 Conceito de direitos fundamentais 
Diz-se fundamentais os direitos do homem que são 
reconhecidos e positivados na ordem Constitucional de um 
determinado ordenamento jurídico. 
Corroborando com essa conceituação, Sandoval Alves da Silva 
(2007, p.27) dispõe que a expressão direitos fundamentais 
“representa os direitos positivados nos documentos 
constitucionais”. 
No mesmo sentido lecionam Luiz Araújo e Vidal Serrano Nunes 
Júnior (2005), que entendem que os direitos representam a 
categoria jurídica instituída com a finalidade de proteger a dignidade 
humana em todas as dimensões, buscando resguardar o homem na 
sua liberdade, na sua necessidades e na sua preservação. 
Dessa forma, é possível afirmar que os direitos fundamentais 
consubstanciam-se como valores supremos da ordem jurídica, 
atuando como garantia de liberdade e proteção do indivíduo em face 
da atuação Estatal e dos demais componentes da sociedade, bem 
 
 
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como mandado de atuação dirigido ao Estado, no sentido de lhe 
impor o dever de, permanentemente, buscar sua concretização. 
2.2 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS 
Sobre o surgimento dos direitos fundamentais, leciona 
Alexandre de Moraes (1999, p. 178) que “(...) surgiram como 
produto da fusão de várias fontes, desde tradições arraigadas nas 
diversas civilizações, até a conjugação dos pensamentos 
filosóficos-jurídicos, das idéias surgidas com o cristianismo e com o 
direito natural”. 
Nesse sentido, percebe-se que todos os direitos fundamentais 
não foram assegurados ao mesmo tempo. Isso porque, a conquista 
de deu de forma gradativa, com o decorrer dos anos e de acordo 
com o panorama social de cada época, em razão do que a doutrina 
tradicional costuma agrupá-los em gerações, também chamadas 
dimensões. 
Conforme elucida Scalquette (2004, p. 34), os chamados 
direitos fundamentais de primeira “são os direitos de liberdade, pois 
são fruto do pensamento liberal burguês, de caráter fortemente 
individualista, aparecendo como uma esfera limitadora da atuação 
do Estado, isto é, demarcando uma zona de não-intervenção do 
Estado nas liberdades do indivíduo”. 
Como exemplos de direitos de primeira dimensão destacam-se 
o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de religião, 
à participação política, etc. 
Já sobre direitos de segunda geração afirma Bonavides (2012, 
p.517) que 
[...] são os direitos sociais, culturais e 
econômicos bem como os direitos coletivos ou de 
coletividades, introduzidos no constitucionalismo 
 
 
 
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das distintas formas de Estado social, depois que 
germinaram por obra da ideologia e da reflexão 
antiliberal deste século. Nasceram abraçados ao 
princípio da igualdade, do qual não se podem 
separar, pois fazê-lo equivaleria a desmembrá-los 
da razão de ser que os ampara e estimula. 
 Os direitos de terceira geração, visão de Alexandre de Moraes 
(2006, p. 60) são os chamados “direitos de solidariedade e 
fraternidade, que englobam o direito a um meio ambiente 
equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, a paz, 
a autodeterminação dos povos e a outros direitos”. 
Apesar de não haver consenso doutrinário acerca de qual seria 
o conteúdo, há estudiosos que defendem a existência dos direitos 
de quarta geração, que para Noberto Bobbio (1992) referem-se 
àqueles relacionados à engenharia genética. 
Já para Paulo Bonavides (2012, p. 571-572), 
[...] A globalização política na esfera da 
normatividade jurídica introduz os direitos de 
quarta geração, que, aliás, correspondem à 
derradeira fase de institucionalização do Estado 
social. É direito de quarta geração o direito à 
democracia, o direito à informação e o direito ao 
pluralismo. Deles depende a concretização da 
sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de 
máxima universalidade, para a qual parece o 
mundo inclinar-se no plano de todas as relações 
de convivência. [...] os direitos da primeira 
geração, direitos individuais, os da segunda, 
direitos sociais, e os da terceira, direitos ao 
desenvolvimento, ao meio ambiente, à paz e à 
fraternidade, permanecem eficazes, são infra-
 
 
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estruturais, formam a pirâmide cujo ápice é o 
direito à democracia. 
Por fim, destaca-se que alguns autores defendem uma quinta 
geração de direitos fundamentais, como é o caso de Raquel 
Honesko (2008, p. 195-197), que elucida que 
[...] em recentes debates científicos (IX 
Congresso Íbero-Americano e VII Simpósio 
Nacional de Direito Constitucional, realizados em 
Curitiba/PR, em novembro de 2006, bem como II 
Congresso Latino-Americano de Estudos 
Constitucionais, realizado em Fortaleza/CE, em 
abril de 2008), BONAVIDES fez expressa menção 
à possibilidade concreta de se falar, atualmente, 
em uma quinta geração de direitos fundamentais, 
onde, em face dos últimos acontecimentos (como, 
por exemplo, o atentado terrorista de “11 de 
Setembro”, em solonorte-americano), exsurgiria 
legítimo falar de um direito à paz. Embora em sua 
doutrina esse direito tenha sido alojado na esfera 
dos direitos de terceira dimensão, o ilustre jurista, 
frente ao insistente rumor de guerra que assola a 
humanidade, decidiu dar lugar de destaque 
à paz no âmbito da proteção dos direitos 
fundamentais. 
1.3 Da divisão doutrinária dos direitos fundamentais 
Os direitos fundamentais são gêneros, cujas espécies são os 
direitos individuais, direitos coletivos, direitos sociais, direitos 
nacionais e direitos políticos, conforme o disposto no Título II da 
Constituição da República de 1988. 
O DIREITO SOCIAL À EDUCAÇÃO 
2.1 Conceito de direitos sociais 
 
 
 
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Na ilustre conceituação de André Ramos Tavares (2012) os 
direitos sociais são aqueles que impõem ao Poder Público uma 
atuação positiva, a fim de proporcionar a implementação da 
igualdade social aos hipossuficientes. Por esse motivo, também são 
conhecidos como direitos prestacionais. 
Assim, enquanto os direitos individuais tem por essência 
garantir a liberdade do indivíduo, impondo limites ao poder estatal, 
os direitos sociais visam promover igualdade material entre as 
pessoas, buscando um nivelamento das desigualdades sociais. 
O surgimento dessa espécie do gênero direito fundamental 
ocorreu em razão de que a igualdade formal, assegurada pelos 
direitos individuais da primeira geração, não obstante haver logrado 
êxito em limitar o arbítrio estatal frente a liberdade do particular, não 
foi suficiente para garantir que o desenvolvimento da sociedade 
ocorresse de forma homogênea, de forma que a dignidade da 
pessoa humana a todos fosse assegurada. 
Destarte, é nesse contexto que nascem os direitos sociais 
visando a proteção dos desfavorecidos pelas desigualdades 
sociais, “assegurando-lhes situação de vantagem, direta ou indireta, 
a partir da realização de igualdade real [….] Visam, também, 
garantir a qualidade de vida das pessoas” (Uadi Lammêgo Bulos, 
2011, p. 789). 
Desta feita, o traço característico dos direitos sociais é sua 
dimensão positiva, uma vez que, conforme explica Manoel 
Gonçalves Ferreira Filho (2006), não são meros poderes de agir, 
como ocorre com liberdades públicas em modo geral, mas sim 
poderes de exigir, ou seja, são direitos de crédito. 
Na Constituição Federal de 1988, tais direitos estão previstos 
no art. 6º, a saber: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, 
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na 
forma da Constituição. 
 
 
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2.2 Princípio da máxima efetividade 
Na preciosa lição de Paulo Bonavides (2012, p. 582-583), os 
direitos sociais passaram por um “ [...] ciclo de baixa normatividade, 
ou, ainda, tiveram eficácia duvidosa, em razão de sua concretização 
exigir do Estado determinadas prestações materiais nem sempre 
resgatáveis por exiguidade, carência ou limitação essencial de 
meios e recursos”. 
Assim, resta claro que positivar direitos e reconhecer sua 
relevância não são suficientes para garantir sua efetividade, 
devendo haver previsão dos meios adequados a assegurá-la. 
Nesse sentido, a própria Constituição Federal de 1988 previu 
no §1º, artigo 5º, que “as normas definidoras dos direitos e garantias 
fundamentais têm aplicação imediata”. Ou seja, a própria Lei 
Fundamental apresenta regra norteadora da aplicação dos direitos 
fundamentais. 
Sobre o supracitado dispositivo, a respeitável doutrina entende 
que o mesmo deve ser interpretado de forma ampla, a garantir a 
máxima efetividade das normas às quais se destina. É Nesse 
sentido, o magistério de Para Luís Roberto Barroso (2011, p. 329), 
O intérprete constitucional deve ter 
compromisso com a efetividade da Constituição: 
entre interpretações alternativas e plausíveis, 
deverá prestigiar aquele que permita a atuação da 
vontade constitucional, evitando, no limite do 
possível, soluções que se refugiem no argumento 
da não aplicabilidade da norma ou na ocorrência 
de omissão do legislador. 
Assim, o princípio da máxima efetividade dos direitos 
fundamentais representa norma de interpretação constitucional, 
cujo objetivo é conferir aos direitos humanos a maior eficácia 
 
 
 
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possível. Na visão de Gomes Canotilho (2003, p. 227), o princípio 
da máxima efetividade 
[...] é um princípio operativo em relação a 
todas e quaisquer normas constitucionais, e 
embora a sua origem esteja ligada à tese da 
atualidade das normas programáticas (THOMA), 
é hoje sobretudo invocado no âmbito dos 
direitos fundamentais (no caso de dúvidas deve 
preferir-se a interpretação que reconheça maior 
eficácia aos direitos fundamentais. 
Destarte, a máxima eficácia ou efetividade dos direitos 
fundamentais consiste na adoção de medidas que visem à 
concretização desses direitos da maneira mais abrangente 
possível, a fim de garantir, a partir dos parâmetros estabelecidos na 
própria CF/88, a efetiva realização do direito positivado no mundo 
dos fatos. 
2.3 DIREITO À EDUCAÇAO 
Nas célebres palavras de José Afonso da Silva (1999, 109) a 
educação é um dos "[...] indicadores do conteúdo normativo eficaz 
da dignidade da pessoa humana”. 
Quanto à previsão normativa, o direito à educação foi 
amplamente disciplinado na Constituição Federal de 1988, a qual 
prevê a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, 
devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da 
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu 
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o 
trabalho. 
Em seu art. 206, a Lei Maior estabeleceu os princípios 
norteadores do direito à educação: igualdade de condições para o 
acesso e permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, 
pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de 
 
 
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ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de 
instituições públicas e privadas de ensino;.gratuidade do ensino 
público em estabelecimentos oficiais; valorização dos profissionais 
da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira. 
EDUCAÇÃO: UM DEVER DO ESTADO 
3.1 A educação como direito público subjetivo 
Conforme anteriormente exposto, os direitos sociais pertencem 
à segunda geração de direitos fundamentais, cuja concretização 
impõe uma atuação positiva do Estado, conferindo ao seu titular a 
possibilidade de exigir-lhe sua efetivação, consubstanciando-se em 
verdadeiros direito de crédito (Manoel Gonçalves Ferreira Filho, 
2009, p. 50) 
Dessa forma, os direitos sociais “se realizam pela execução de 
políticas públicas, destinadas a garantir amparo e proteção social 
aos mais fracos e mais pobres; ou seja, aqueles que não dispõem 
de recursos próprios para viver dignamente” (Fábio Konder 
Comparato, 2010, p. 77). 
Isso porque, nos dizeres de Pinho (2010, p. 96), não se mostra 
suficiente que o Estado apenas reconheça direitos formalmente, 
devendo buscar concretizá-los