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Meduda Provisória n. 2.143

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reportagem
REVISTA CONSULEX - ANO V - N° 103 - 30 DE ABRIV2001a
9
Advogado-Geral da União e destacados juristas analisama constitucional idade e o conflito de interesses
A defesa pela Advocacia Geral daUnião é um direito de todas as autori-dades, numa vasta gama que abrangeo presidente da República, ministros,parlamentares, juízes e assessoresde nível superior, inclusive depois deabandonarem os cargos e funções.Então, pessoas acusadas de improbi-dade administrativa pelo Estado brasi-l eiro, como o juiz aposentado Nicolaudos Santos Neto, podem ser defendi-das pela AGU, se fizerem a solicita-ção? Elas estariam amparadas pelaMedida Provisória n° 2.143-31, quealterou o art. 22 da Lei n° 9.028/95?Segundo o entendimento do Advo-gado-Geral da União, Gilmar FerreiraMendes, "somente se defenderá oagente público se houver interessepúblico na defesa do ato por ele prati-cado, o que elimina a mais remotapossibilidade de conflito de interessese afigura-se obviamente conseqüên-cia absolutamente natural da defesado ato impugnado. A esse respeito,assevere-se que a Advocacia Geral daUnião já se recusou a promover adefesa de agentes políticos - emborapara tal expressamente provocada -por não identificar os pressupostosl egais que a autorizariam."É ou não constitucional a MP n°2.143-31? Existe conflito de interes-ses no fato de a União apurar irregula-ridades de um servidor e, ao mesmotempo, defender o acusado? A Revis-taJurídica CONSULEX resolveu parti-cipar deste debate, consultando, alémdo Ministro Gilmar Mendes, váriosoutros juristas, sobre as questões le-vantadas em relação ao tema.
GILMAR FERREIRA MENDES
Tornou-se objeto de acesa e surpre-endente controvérsia a "descober-ta" por parte do meio jurídico naci-onal de que se encontra em vigor - já há
vários anos-autorização para que os órgãos
de representação judicial da União ofere-
çam também a defesa da legitimidade dosatos funcionais das autoridades públicas.
Sustentaram alguns que a defesa dos
atos funcionais das autoridades públicaspor parte dos órgãos de representação
judicial da União poderia vir a configurar
um suposto "conflito de interesses" entre,de um lado, o mister de defesa do patrimô-
nio e do interesse públicos e, de outro, a
atuação em defesa de atos funcionais deautoridades públicas.
Tal pré-compreensão não resiste a um
mínimo e superficial exame da questão-o
que se oferece nas seguintes ebrevíssimasconsiderações.
Em verdade, a Advocacia Geral da
União encontra-se meramente autorizadapor lei a proceder à defesa de servidor
público em juízo, quando acionado este
por ato ou fato praticado no exercício doseu múnus público. Assim firmam as dis-
posições permissivas do art. 22 da Lei n°
9.028, de 12 de abril de 1995, com as altera-ções trazidas pelo art. 50 da Lei n° 9.649, de
27 de maio de 1998, na redação dada pelo
art.1° da Medida Provisória n° 2.143-31, de
2 de abril de 2001, que, como dito, nem tãorecentes são, na essência - com efeito,
regramento semelhante já se havia intro-
duzido entre nós por meio do Decreto-Lei
n° 5.335, de 22 de março de 1943.Com efeito, estabelecia a redação ori-
ginal do art. 22 da Lei n° 9.028, de 1995:
'Art. 22.O a rt. 36 do Código de Processo
Civil passa a vigorar acrescido dos seguin-tes parágrafos:
'§ 1 ° Caberá ao Advogado-Geral da
União patrocinaras causas de interesse do
Poder Público Federal, inclusive as relati-vas aos titulares dos Poderes da República,
podendo delegar aos respectivos represen-
tantes legais a tarefa judicial, como tam-bém, se for necessário, aos seus substitutos
nos serviços de Advocacia Geral.
§ 2° Em cada Estado e Município, asfunções correspondentesàAdvocacia Geral
da União caberão ao órgão competente
indicado na legislação específica'."A Lei n° 9.649, de 1998, a seu turno,
alterou o dispositivo referido nos termos
seguintes:' Art. 50.0 art. 22 da Lei n° 9.028, de 12
de abril de 1995, passa a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 22. Cabe à Advocacia Geral daUnião, por seus órgãos, inclusive os a ela
vinculados, nas suas respectivas áreas deatuação, a representação judicial dos titu-
lares dos Poderes da República, de órgãos
da Administração Pública Federal direta ede ocupantes de cargos e funções de direção
em autarquias e fimdações públicas fede-
rais, concernente a atos praticados no exer-cício de suas atribuições institucionais ou
legais, competindo-lhe, inclusive, a impe-
tração de mandado desegu rança em nomedesses titulares ou ocupantes para defesa
de suas atribuições legais.
Parágrafo cínico. O disposto neste artigoaplica-se, ainda, às pessoas físicas designa-
das para execução dos regimes especiais
previstos na Lei n° 6.024, de 13 de março de
1974, nos Decretos-Leis n°s 73, de 21 de no-vembrode 1966, e2.321, de25defevereirode
1987, e, conformedispostoem regulamento,
aos militares quando eu volvidos em inqué-
ritos ou processos judiciais'."O art. 50 da Lei n° 9.649, de 1998, restou
REVISTA CONSULEX - ANO V - N 4 103 - 30 DE ABRIL/2001 23
reportagem
alterado pela Medida Provisória n° 2.143-
31, de 2 de abril de 2001, cujo art. 1° assim
dispôs:"Art. 1°A Lei n°9.649, de27demaiode
1998, passa a vigorar com as seguintes
alterações:
(...)A rt. 50. O art. 22 da Lei n° 9.028, de 12
de abril de 1995, passa a vigorar com a
seguinte redação:
Art. 22. AAdvocacia Geral da União eos seus órgãos vinculados, nas respectivas
áreas de atuação, ficam autorizados a re-presentar judicialmente os titulares e os
membros dos Poderes da República, das
Ins ti n i ições Federais referidas no Título IV,
Capitulo IV, da Constituição, bem como ostitulares dos Ministérios e demais órgãos
da Presidência da República, de autarqui-
as e f undações públ icas federais, e decargos
de natureza especial, de direção e assesso-ramento superiores e daqueles efetivos, in-
clusivepromovendo ação penal privada ou
representando perante o Ministério Públi-co, quando vítimas de crime, quanto a atos
praticados no exercício de suas atribuições
constitucionais, legais ou regulamentares,no interesse público, especialmente da
União, suas respectivas autarquias e fin-
dações, ou das Instituições mencionadas,
podendo, ainda, quanto aos mesmos atos,impetrar habeas corpus e mandado de
segurança em defesa dos agentes públicos
de que trata este artigo.§ 1Q O disposto neste artigo aplica-se
aos ex-titulares dos cargos ou funções refe-
ridos no caput, e ainda:
1-aos designados para a execução dosregimes especiais previstos na Lei n° 6.024,
de 13de março de 1974, nosDecretos-Leis n°'
73, de21 denovembro de 1966, e2.321, de25
de fevereiro de 1987; eII - aos militares das Forças Armadas e
aos integrantes do órgão de segurança do
GabinetedeSegurançaInstitucionaldaPre-
sidência da República, quando, em decor-
rência do cumprimento de deverconstituci-onal, legal ou regulamentar, responderem a
inquérito policial ou a processo judicial.
§ 2° O Advogado-Geral da União, em
ato próprio, poderá disciplinara represen-tação autorizada por este artigo'.' (NR)"
A disciplina constante da Lei n° 9.028,
de 1995, sugeria, destarte, o imperativo depromover-se a defesa de autoridades pú-
blicas: "Caberá ao Advogado-Geral daUnião patrocinaras causas de interesse do
Poder Público Federal, inclusive as relati-
vas aos titulares dos Poderes da República,
... ". A isso, seguiu-se comandolegal em quese atenuava a redação, explicitando-se a
24 REVISTA CONSULEX - ANO V - N° 103 - 30 DE ABRIL2001
afetação de tal atribuição aos órgãos de
representação judicial da União: "cabe à
Advocacia-Geral da União a representa-ção judicial... ". Modificações posteriorestransmudaram o "cabe", por a "Advocacia-
Geralda Un ião e os seus órgãos vincu lados,(..), ficam autorizados...". Nos termos da
expressa imposição legal constante da MP
n° 2.143-31, de 2001, essa "autorização"
encontra-se condicionada por dois requi-sitos: a) a natureza estritamente funcional
dos atos praticados, e b) a configuração de
interesse públicona defesa da legitimidade
de tais atos ("quanto a atos praticados noexercício de suas atribuições constitucio-
nais, legais ou regulamentares, no interesse
público, especiabnenteda União, suas res-pectivas autarquias e fundações, ou das
Instituições mencionadas"). Essa regula-
ção, obviamente, obriga aum juízo prévio devalor quanto à verossimilhança das alega-
ções postas na ação contra o servidor ou
agente público, justamente para prevenir
situações em que o servidor, acionado, quetenha contrasi severas e pesadas acusações
de prática de atos ilegítimos (com substan-
ciais elementos sinalizadores ou evidencia-dores de tal procedimento, nos autos), ve-
nha ater a prática de tais atos, pelo menos no
primeiro momento processual, indevida-mente legitimada pela assunção de sua de-
fesa pela Advocacia-Geral da União.
Dito isso, resta evidente que a autoriza-
ção legal - que hoje alcança igualmente ostitulares de cargos efetivos e não somente
aqueles ocupantes de cargos em comissão
e funções de direção e assessoramentosuperior -jamais haverá de implicar con-
flito algum de interesses entre a defesa do
patrimônio público e a defesa da autorida-
de pública. Com efeito, se os atos a seremdefendidos vinculam-se estritamente ao
desempenho das atribuições institucionais
dos agentes públicos e se somente se ofe-
recerá defesa em havendo interesse públi-co em fazê-lo, é manifesto que o dado
paradigmático reside na existência de um
ato oficial veiculador de manifestação dopróprio e autêntico interesse público. Em
verdade, o crivo decisivo haverá de restar
configurado exatamente na existência de
interesse público em defesa do ato oficialeventualmente impugnado. Assim, verifi-
cado o interesse público na defesa do ato,
haverá a representação judicial da União
de contestar a impugnação contra ele ofe-
recida, o que, ao contrário do que sugeridopor alguns, constituirá ato evidentemente
coerente com a defesa do agente público
responsável pela prática do ato impugna-
do. Essas exigências evidenciam, destarte,
que somente se defenderáo agente público
se houver interesse público na defesa do
ato por ele praticado, o que elimina a mais
remota possibilidade de conflito de inte-resses e afigura-se obviamente conse-
qüência absolutamente natural da defesado ato impugnado.
A esse respeito, assevere-se que a Ad-
vocacia Geral da União já se recusou a
promover a defesa de agentes políticos -
embora para tal expressamente provoca-da - por não identificar os pressupostos
l egais que a autorizariam.I magine-se, por outro lado, a circuns-tância em que agente público cujos atos
representam amais inequívoca manifesta-
ção da legalidade e do interesse públicoqueda alvo de dezenas de ações judiciais
decorrentes de motivações eminentementepolíticas. Em um tal contexto, seria legíti-
mo que viesse o Estado a promover a
defesa dos atos praticados e declinasse do
dever moral de promover a defesa da prá-tica desses mesmos atos pelo agente públi-
co responsável? Seria igualmente ético re-
legar o agente público à ruína financeiradecorrente da necessidade de fazer-se re-
presentar em juízo-incontáveis vezes - a
expensas próprias?

iEsboçadas a ausência de conflitos de
interesses e exigência de ética e coerência
imposta pela defesa dos atos oficiais dota-dos de interesse público, importa demons-
trara ausência de inconstitucionalidade na
disciplina impugnada.Muito embora incapazes de indicar o
fundamento constitucional da alegada in-
constitucionalidade, sustentam alguns queo alegado conflito de interesses macularia
a norma impugnada. Demonstrada acima
a simples inexistência deum tal conflito de
interesses, éclaríssimaaimprocedênciada
alegação.Alegam outros a ausência de pressu-
postos de edição de medida provisória.
Ora, afigura-se evidente a relevância damedida, o que resta reconhecido inclusive
pela acendrada controvérsia acerca do
Diploma. Do mesmo modo (e sobretudo
para seus críticos), resta manifesta a ur-gência da medida impugnada. Com efeito,
para aqueles que sustentavam existir con-
flito de interesses, a atual redação do dis-
positivo determinada pela Medida Provi-sória em vigor afigura-se fortemente - e
em grau muito Superiora disciplina origi-
nalmente constante da Lei n° 9.028, de
1 995 -vinculada ao interesse público e aocaráter estritamente institucional do ato
praticado como elementos justificadore'
da defesa dos atos praticados e daatuaçãn
dos agentes públicos por eles responsá-
veis. Assim, foi exatamente a redação atual
cia Medida Provisória criticada que elimi-
nou, expressa e definitivamente, a mais
remota eventualidade de quaisquer con-
flitos de interesse ou defesa de atividades
transcendentes à atuação estritamente
institucional da autoridade. Do mesmo
modo, por cuidar-se de Medida Provisó-
ria reeditada há mais de dois anos (seu
nossa Constituição de 1988 é
clara ao dispor, em seu art. 131,
ue a Advocacia Geral da União
é a instituição que, diretamente ou por
intermédio de órgão vinculado, repre-
senta a União, judicial e extrajudicial-
mente, cabendo-lhe, nos termos da lei
complementar que dispuser sobre sua
organização e funcionamento, as ativi-
dades de consultoria e assessoramento
jurídico do Poder Executivo. Portanto,
resta claro que cabe à Advocacia Geral
texto originário constava da Medida Pro-
visória n° 1.795, de 1° de janeiro de 1999),
resta evidente a urgência em sua adoção e
a impossibilidade de discipliná-la por meio
do processo legislativo de urgência dado o
prazo até hoje já consumido para apreciar
o texto já constante da Medida Provisória
em questão. Nessa medida, o longo decur-
so do prazo de quase dois anos e meio sem
uma manifestação definitiva do Congres-
da União a defesa dos interesses do Estado
brasileiro, é dizer, dos Poderes Públicos no
nível federal.
Assim sendo, a Medida Provisória n°
2.143-31 extrapolou os limites impostos
pela Carta Magna ao estabelecer que a
Advocacia Geral da União e os seus órgãos
vinculados estão autorizados a represen-
tarjudicialmente os titulares e os ex-titula-
res membros dos Poderes da República e
outros cargos por ela citados, até mesmo
para promoção da ação penal privada e
so Nacional sobre a matéria evidencia
exatamente a urgência necessária à intro-
dução da disciplina que vem exatamente
superar as críticas opostas à redação ori-
ginal da norma impugnada.
inexistem, destarte, as alegadas ilegiti-
midades na norma impugnada. ∎
GILMAR FERREIRA MENDES é Advogado-Geralda União.
CELSO RIBEIRO BASTOS E SAMANTHA MEYER-PFLUG
impetração de habeas corpus e manda-
do de segurança. Estas competências
não se encontram previstas na Lei Mai-
or, que faz menção, única e exclusiva-
mente, à defesa dos interesses da União.
Vê-se, portanto, que o texto constituci-
onal nada dispôs sobre a defesa de inte-
resses particulares e privados, estando
estes excluídos da competência da Ad-
vocacia Geral daUnião assegurada cons-
titucionalmente.
Há que se levar em consideração,
também, que, na maioria das vezes, a
defesa dos interesses da União encon-
tra-se em oposição aos interesses do
acusado, configurando-se, assim, um
conflito de interesses. Ademais, não é
lícito,=moralmente admissível, que
a Advocacia Geral da União figure nos
dois pólos da relação processual, quais
sejam, o ativo e o passivo.
De outra parte, a Carta Magna é
expressa, em seu art. 131, ao exigir que
a regulamentação da Advocacia Geral
da União seja feita por intermédio de lei
complementar, lei que já foi editada sob
o número 73, e que nada dispôs acerca
da possibilidade de defesa dos agentes
políticos. Portanto, a Medida Provisória
não é veículo normativo apto a regula-
mentar a matéria.
Nesse sentido, fica evidente que a
Medida Provisória encontra-se eivada
tanto de inconstitucionalidade formal,
quanto material, vez que não compete à
Advocacia Geral da União a defesa de
interesses particulares e privados.Há um inequívoco conflito de inte-
resses na medida em que a União apura
irregularidades de um servidor e, ao
mesmo tempo, defende o acusado. Isso
porque a defesa dos interesses da União
não coincide com a defesa dos titulares
ou ex-titulares dos cargos citados naMP
n° 2.143-31. Cabe à Advocacia Geral da>
REVISTA CONSULEX - ANO V - N° 103 - 30 DE ABRIU2001 25
reportagem
União, consoante ao disposto no art. 131 da
Lei Maior, a defesa dos interesses deste
ente federativo e não de interesses particu-
lares e privados. Não se pode admitir num
Estado democrático de Direito que o mes-
mo órgão figure nos dois pólos da relação
processual. Tal situação compromete o
princípio do devido processo legal (art. 5°,
LIV, CF/88) além de ofender ao princípio
da moralidade que rege a Administração
Pública direta e indireta dos Poderes da
União, Estado, Distrito Federal e municípi-
os (art. 37).
Ademais, vale lembrar que, antes do
advento da Constituição de 1988, a repre-
sentação judicial da União era exercida
pelo Ministério Público, que cumpria um
dúplice mister. De um lado, levava a efeito
as clássicas funções de defensor da ordem
jurídica, de guardião da lei, promovendo
a acusação penal, bem como de fiscal da
aplicação do Direito em processos entre
terceiros. De outro lado, desempenhava o
papel de advogado da União, defenden-
do-a nos processos contra ela movidos ou
mesmo quando autora. Essa duplicidade,
na ocasião, foi motivo de não poucas crí-
ticas, vez que não é lícito ao mesmo órgão
exercer a desinteressada função de custus
legis e ao mesmo tempo assumir os inte-
resses de uma das partes em juízo.
AConstituição de 1988 pôs cobro a essa
situação conflituosa, institucion alizando a
Advocacia Geral da União, com as funções
de representá-la, judicial e extrajudicial-
mente, cabendo-lhe ainda, nos termos da
lei complementar que dispuser sobre sua
organização e funcionamento, as ativida-
des de consultoria e assessoramento jurí-
dico do Poder Executivo.
Diante do exposto, resta claro que há
conflito de interesses quando aAdvoca-
cia Geral da União atua na defesa de
interesses da União e, concomitante-
mente, defende o acusado. Ao admitir-
se tal hipótese estar-se-á restabelecen-
do uma situação que o constituinte de
1988 achou por bem extinguir, qual seja,
a de que o mesmo órgão atue nos dois
pólos da relação processual. ∎
CELSO RIBEIRO BASTOS é Professor de DireitoConstitucional do curso de pós-graduação da PUC/SP,Diretor Geraldo IBDC- Instituto Brasileiro de DireitoConstitucional e sócio fundador do Celso BastosAdvogados Associados.SAMANTHA MEYER-PFLUG é membro do IBDC -Instituto Brasileiro de Direito Constitucional,mestranda em Direito Constitucional do curso de pós-graduação da PUC/SP e advogada-sócia do CelsoBastos Advogados Associados.
26 REVISTA CONSULEX - ANO V - N° 1 03 - 30 DE ABRIU2001
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
I
E constitucional. Todo administra-dor público pode produzir nor-mas inconstitucionais, e o Poder
Judiciário aí está para restabelecer a or-
dem jurídica.0 governo pode, portanto,
perder questões. Da mesma forma, to-
dos os advogados podem não ser bem-
sucedidos nas demandas, que conside-
ram a priori como defensáveis e corre-
tas. Nem o governo nem os advogados
são infalíveis nos seus processos em
juízo. Nem mesmo os magistrados. Quan-
do uma norma é considerada inconsti-
tucional por 6 x5 na Suprema Corte, fica
evidente que cinco dos maiores juízes do
País entendem que a norma seria cons-
titucional. Por outro lado, o direito à
ampla defesa é assegurado na lei supre-
ma (artigo 5°, inciso LV). Ora, não há
como retirar o direito de que a defesa de
quem agiu na gestão da coisa pública seja
realizada pelos próprios órgãos do Po-
der Público para tais fins constituídos.
Por suas ações pessoais, não cabe o
direito de defesa por intermédio dos
órgãos oficiais. Nesta hipótese, nitida-
mente, a participação da AGU feriria o
princípio da moralidade pública (art. 37).
Por atos na gestão da coisa pública, a
omissão da defesa da AGU é que feriria
o princípio da moralidade. Alei, portan-
to, é manifestamente constitucional.
Não há qualquer conflito de interesses,
na medida em que os órgãos de correição
dos poderes têm a obrigação de perma-
nente fiscalização dos atos de seus servido-
res. Todas as corregedorias, enquanto in-
vestigam, de um lado, não impedem que os
investigados continuem atuando como ad-
ministradores, de outro lado. Somente após
decisão final condenatória é que podem
afastar, por condenação, o servidor. Vale
dizer, o segmento do Poder que é obrigado
a proceder a correição é diferente daquele
que defende as ações externas das autori-
dades em questões vinculadas à sua ação.
Tanto os corregedores não podem deixar
de fazer as investigações necessárias, quan-
do há suspeitas de administração temerá-
ria ou dolosa, como os órgãos de defesa do
Poder Público de defender os servidores
acionados em juízo por atos vinculados a
sua Administração. São funções separa-
das, distintas, que devem ser exercidas, nos
limites das competências outorgadas pela
Constituição e pela lei. ∎
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS é ProfessorEmérito das Universidades Mackenzie, Paulistae Escola de Comando e Estado-Maior do Exér-cito, Presidente do Conselho de Estudos Jurídi-cos da Federação do Comércio do Estado de SãoPaulo e do Centro de Extensão Universitária.
r'
ANTÔNIO iANTÔNIO Fe ALVARES DA SILVAM inha posição é, liminarmente,pela inconstitucionalidade daLei n° 9.028195, porque, tendo
a Constituição, no caputdo art. 131, es-tabelecido, em nu-
merusclausus, que
a organização e o
funcionamento,
bem como as ativi-dades de consulto-
ria e de assessora-
mento do PoderExecutivo, seriam
regulados por lei
complementar,não se pode admi-
tiraeficáciadequal-
querordenamento
jurídico que não se
revistado mencio-nado condiciona-
mento constitucional, presente, in casu,
o precedente configurado na ADIn n° 4-DF (RTJ 147/719), versando sobre o § 3°
do art. 192 da Carta Magna, e também,
por contrariedade ao mencionado dis-positivo constitucional, por ampliar o
elenco das atribuições por ele definidas,
porquanto, mutatis mutandis, "tanto vul-
nera a lei o provimento judicial que im-plica exclusão do campo de aplicação de
hipótese contemplada, com o que inclui
exigência que se lhe mostra estranha"
(RE n° 128.519-DF, Tribunal Pleno, Rel.Min. Marco Aurélio, RTJ 133/1355) e,
conseqüentemente, pela inconstitucio-
nalidade da Medida Provisória n° 2.143-31, pelas mesmas razões e por contrari-
nicialmente, não vislumbro a ur-gência que a regra constitucional
exige para a edição dessastáboas de
castigos que são as Medidas Provisórias.
A MP sub censura altera o art. 22 daefêmera Lei n° 9.028/95, que dispunha
sobre o exercício da AGU "em caráter
emergencial e provisório, até a criação
e implantação da estrutura administra-
tiva da Advocacia Geral da União..." Jáestá criada e implantados estão seus
serviços e sua estrutura. Assim, a Lei n°9.028195 sofreu "dessuetude". Além dis-
so, o art. 22 (modificado pela MP), por
suavez, modificava dispositivo do Códi-
edade ao art. 62 da Constituição Federal
e por lhe faltar o pressuposto de urgên-
cia. No tocante à segunda questão e
diante dos comandos da ventilada or-
dem jurídica, pode-rá, inevitavelmen-
te, nos casos de im-
probidadepratica-
da pelo servidor,ocorrer conflito de
interesses no fato dea União apurar ir-
regularidades e, ao
mesmo tempo, de-
fender o acusado.
A meu sentir, talconflito só poderá
ser evitado por in-
termédio de hábilreformulação da
mencionada legis-
lação, com a indigitada delegação regu-
larmente autorizada em Emenda Cons-titucional e sob o condicionamento de
que o servidor tenha agido no estritodever funcional e sob fiel observância
aos comandos do caput do art. 37 da
Constituição Federal, hipótese em que
sua defesa estatal se toma um direito decidadania.∎
ANTONIO F. ÁLVARES DA SILVA é autor do
anteprojeto transformado no Decreto-Lei n!167/67 e dos livros A Correção Monetária e o
Crédito Rural e Correção Monetária - Sua
llicitude no Crédito Rural. Advogado em Bra-
aRla, Consultor Jurídico do Escritório de Advo-cacia Rogério Avelar e membro do Conselho
de Editores de Revista Jurídica CONSULEX.
MARCELLO CERQUEIRA
go Civil, o que soma ilegalidade, já queMP não pode modificar norma cons-
tante de Código.
Há conflito de interesses: a União
não pode figurar em ambos os pólos.Para além do que me foi pergunta-
do, peço atenção para a criação da
Divisão de Conflitos Agrários e Fundiá-rios no âmbito da Polícia Federal, que
reforça o termo de que o governo veja
os conflitos agrários como casos de
Polícia, e não questões sociais. ∎
MARCELLO CEROUEIRA é presidente do IAS
(Instituto dos Advogados do Brasil).
FRANCISCOLACERDA NETOToda Medida Provisória é, em princípio,inconstitucional, por sua incompatibi-lidade com o regime presidencialista daConstituição. No caso presente, além de in-constitucional, é imoral, pois o Presidente daRepública legislou em causa própria, ou seja,
colocou a AGU a seu serviço pessoal e de seusacólitos, para não ter gastos coma contrataçãode advogados na defesa das ilegalidades queessas autoridades cometem. A defesa do Pre-sidente e daqueles que ocupam cargos públi-cos, de indicação política, deveria, se vivêsse-mos em país verdadeiramente democrático,ser atribuição do partido político que o elegeu,e não como pretende essa excrescência de lei,que obriga o contribuinte a pagar não só pelasilegalidades, como também pela defesa dosque as cometeram. É um absurdo conviver-
mos com esse tipo de situação.Alei que regulamenta a OAB e o seu Códi-go de Ética proíbe que o mesmo escritório deadvocacia, ainda que possua 200 advogados,seja ao mesmo tempo patrono do autor e doréu de uma mesma ação judicial como aconte-ce com a norma dessa absurda Medida Provi-sória, sendo portanto, no mínimo, aética, essasituação. Nem se alegue que o Presidente res-ponde a 150 ações populares, para justificar
esse fato. O seu Partido que o defenda, pois éinerente ao próprio exercício do cargo o en-frentamento de questões judiciais, sem queisso possa dar direito a ter advogados públi-cos, altamente qualificados, de graça.Enquanto isso, não há verbas, nem regu-lamentação da Defensoria Pública, para ofe-recer assistência judiciária, àqueles que real-mente dela necessitam, a imensa maioria demiseráveis criados por essas mesmas ilegali-dades, cometidas por essas autoridades. Háevidente conflito de interesses e o que é pior, é
imoral, ilegal e aético além de não atender aosprincípios do regime democrático, onde pre-valece a igualdade entre todos os cidadãos. ∎
FRANCISCO LACERDA NETO é presidente do Ins-
tituto dos Advogados do DF e ex-presidente de
OAB.
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