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O Papel da Defensoria Pública nos Juizados Especiais Cíveis

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CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O PAPEL DA DEFENSORIA PÚBLICA JUNTO AOS JUIZADOS 
ESPECIAIS CÍVEIS 
 
 
 
BEATRIZ LEÃO VAZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2012 
 
 
O PAPEL DA DEFENSORIA PÚBLICA JUNTO AOS JUIZADOS 
ESPECIAIS CÍVEIS 
 
 
 
 
 
Apresentação de monografia ao Curso de Direito 
Processual Civil como requisito parcial para 
obtenção do grau de especialista em Direito 
Processual Civil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2012 
 
 
 
RESUMO 
 
Vive-se atualmente sob uma tradição social e de poder que não existe preocupação com 
o carente, com aquele que marginaliza os que não têm um mínimo para a sobrevivência, 
os considerados cidadãos de segunda classe. Dentre as aspirações, se destaca, como 
direito relevante reconhecido aos homens, o direito de invocar o exercício da jurisdição, 
ou, de outra forma, o direito de postular a prestação jurisdicional visando à solução de 
conflitos de interesse, resultando dele a viabilização dos demais direitos reconhecidos e 
tutelados pelo ordenamento jurídico, que deve ser estendido aos hipo-suficientes 
econômicos. Indaga-se, então, se a defesa dos interesses de qualquer parte perante 
justiça não é diferente e quem pode pagar ou quem não poderá pagar. A garantia 
constitucional de que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que 
comprovarem insuficiência de recursos é o marco inicial do exame da importância do 
trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública. Ressalte-se que a criação dos Juizados 
Especiais Cíveis e sua disciplina jurídica encontram-se pautadas nos critérios da 
oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade previstos pelo 
art. 2°, da Lei n.º 9.099/95. Diante desses critérios norteadores, o legislador previu a 
possibilidade de em causas com valores inferiores a 40 salários mínimos, a parte 
comparecer perante o Juizado Especial Cível e demandar sem assistência de um 
advogado. Há de se atentar também, para prerrogativas da Defensoria Pública, entre 
outras, quanto ao prazo em dobro e intimação pessoal. 
Palavras-chave: Defensoria Pública – Juizado Especial Cível – Recursos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO.............................................................................................................08 
1 TRAÇOS HISTÓRICOS DA DEFENSORIA PÚBLICA.....................................10 
1.1 O perfil do Defensor na História...............................................................................10 
1.2Traços históricos da Defensoria Pública no Brasil.....................................................11 
2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS........................................................................ 14 
2.1 Conceituação.............................................................................................................14 
2.2 Da atuação.................................................................................................................16 
2.3 Dos assistidos............................................................................................................17 
2.4 Organização da Defensoria Pública...........................................................................21 
3 O PAPEL DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA FUNÇÃO DE 
DEFENSOR PÚBLICO............................................................................................... 25 
3.1 O que se entende por princípio..................................................................................25 
3.2 Sobre o princípio da igualdade..................................................................................26 
3.3 Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa.........................................................28 
3.4 Das garantias e prerrogativas dos Defensores Públicos............................................29 
4 ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA NOS JUIZADOS ESPECIAIS 
CÍVEIS: DEFESA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL........................................... 33 
4.1 Critérios que orientam a Lei n.º 9.099/95.................................................................33 
4.2 Os Juizados Especiais Cíveis e a atuação do Defensor Público................................34 
4.3 Considerações sobre a defesa no devido processo legal............................................37 
4.4 Conceito de recurso...................................................................................................46 
4.5 Os recursos no Juizado Especial Cível......................................................................48 
4.6 A Sistemática dos Recursos no Juizado Especial Cível e a Violação ao 
Princípio do Duplo Grau de Jurisdição............................................................................50 
CONCLUSÃO............................................................................................................... 55 
REFERÊNCIAS............................................................................................................60 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Pretende-se no presente trabalho abordar o tema “O papel dos Juizados Especiais 
Cíveis junto à Defensoria Pública”, com base no espaço aberto pela Constituição 
Federal de 1988, o Código de Processo Civil, bem como sua atuação perante os 
Juizados Especiais Cíveis, Lei n.º 9.099/95, quando da defesa dos seus assistidos, sejam 
pessoas naturais ou jurídicas, caso estes venham afirmar a hipossuficiência nos termos 
da lei vigente. 
Como se sabe, a Defensoria Pública é uma instituição permanente e essencial à 
função jurisdicional do Estado, tendo como incumbência a orientação jurídica, a 
promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos, de forma 
integral e gratuita, aos necessitados. 
Até os dias de hoje se encontra em vigor, a Lei n.º 1.060/1950, com algumas 
alterações, culminando com a promulgação da Constituição da República Federativa do 
Brasil de 1988 e com alterações em alguns dispositivos pela Lei Complementar n.º 80, 
de 1994 que organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos 
Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados. 
Saliente-se, contudo, que no dia 07 de outubro de 2009, a Lei Complementar nº 
132, altera alguns dispositivos da Lei Complementar n.º 80/94 e da Lei nº 1.060, de 05 
de fevereiro de 1950, dando outras providências. 
É neste sentido que se objetiva interpretar, em linhas gerais, a importância do 
órgão da Defensoria Pública, prevista pelo artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição 
Federal de 1988, segundo as disposições do artigo 134 da Carta Maior, bem como sua 
atuação perante os Juizados Especiais Cíveis, quando da defesa dos necessitados, 
considerados na forma da lei. 
Pode-se afirmar que a Defensoria Pública é uma das instituições essenciais à 
função jurisdicional do Estado, e considerada responsável em todos os graus de 
Jurisdição, por aqueles que necessitam de orientação, bem como pela defesa jurídica do 
auxílio da Justiça. 
Constata-se, assim, que a Constituição Federal de 1988, tem o dever de oferecer 
assistência jurídica integral e gratuita a todos àqueles que não podem pagar honorários 
 
de advogados e custas de processo, serviço esse, imposto à União, aos Estados e ao 
Distrito Federal e que por isso mesmo, vem constituir um direito fundamental de todo 
cidadão, devendo ser prestado diretamente pelo poder público, através da Defensoria 
Pública. 
Destaque-se, ainda, que a criação dos Juizados Especiais Cíveis e sua disciplina 
jurídica encontram-se no art. 2°, da Lei n.º 9.099, de 26 de agosto de 1995. Dessa 
forma, o legislador previu, diante dos critérios norteadores, a possibilidade de, em 
causas com valores inferiores à quarenta salários mínimos, a parte comparecer perante o 
Juizado Especial Cível e demandar sem a assistência deum advogado. 
Justifica-se a escolha do tema a partir da observação de que dentre as aspirações 
se destaca como direito relevante, reconhecido aos homens, o de invocar o exercício da 
jurisdição, ou, de outra forma, o direito de postular a prestação jurisdicional visando a 
solução de conflitos de interesse, resultando dele a viabilização dos demais direitos 
reconhecidos e tutelados pelo ordenamento jurídico, que deve ser estendido aos 
hipossuficientes econômicos. 
Baseados, justamente na afirmativa de que a Defensoria Pública é responsável 
pela orientação e pela defesa jurídica dos necessitados, é que se encontra o cerne do 
problema e, que por sua vez, procurará resposta no decorrer da pesquisa que ora se 
inicia. 
A pesquisa se baseará nos métodos descritivo e exploratório por se tratar de 
métodos de abordagem, constituídos de procedimentos gerais que norteiam o desenvol-
vimento das etapas fundamentais de uma pesquisa científica. A técnica utilizada será a 
qualitativa que servirá para apresentar, demonstrar, comparar ou reforçar as idéias do 
tema em questão, tendo em vista que exigirá respaldo teórico fornecido por meio de 
informações colhidas pela literatura específica sobre o tema em questão. 
Julga-se, portanto, a importância em realizar um estudo sobre o tema proposto, 
para que se possa oferecer subsídios concretos para uma interpretação e aplicação 
corretas da legislação em vigor. 
A partir daí, será dado prosseguimento à pesquisa onde serão elaborados os 
capítulos, que, para melhor compreensão didática, estarão interligados na seqüência dos 
temas e como conclusão, o trabalho deverá ter alcançado a primazia do esclarecimento 
 
acerca do papel da Defensoria Pública junto aos Juizados Especiais Cíveis com base na 
doutrina, na legislação e na opinião de autores balizados no assunto. 
 
1 TRAÇOS HISTÓRICOS DA DEFENSORIA PÚBLICA 
 
1.1 O perfil do Defensor na História 
 
A figura do Defensor surgiu nos tempos antigos, tendo como preocupação 
primordial, a questão da assistência aos menos favorecidos da sociedade. 
Sob o ponto de vista de registro histórico, a figura do Defensor Púbico encontra 
suas origens na Antiguidade Clássica, antes mesmo da era Cristã, tendo como principal 
preocupação, a defesa dos pobres em Juízo (ALVES, 1998, p. 265). Destacando-se, 
nesse período, o Código de Hamurábi, documento da antiga Mesopotâmia que significa 
Mestre do Povo e é considerado o texto literário mais antigo, cerca de 3000 antes de 
Cristo, na cidade de Ur, Caldéia, atual Mesopotâmia. O Código foi escrito na língua 
Sumeri. (BONZON, 2000, p. 19). 
Entretanto, a primeira iniciativa de ordem legal é atribuída a Constantino (288-
337), para depois ser incorporada na legislação de Justiniano (483-565), e que consistia 
em “dar defensor a quem não possuísse meios de fortuna para constituir patrono” 
(BASTOS, 2005, p. 374). 
Na Grécia, após a apresentação da acusação das provas e prestado o juramento, 
o Arconte analisava a seriedade da acusação e designava o Tribunal competente. Ao 
tempo da Constituição de Sólon, havia o triobolon, quantia que era percebida pelos 
juízes dos litigantes e que se destinavam ao custeio de sua manutenção (ALTAVILA, 
1980, p. 43). 
No dia do julgamento, a acusação era quem primeiro falava, inquirindo suas 
testemunhas, em seguida a defesa. Os autores afirmam que romanos e gregos 
distinguiam os delicta publica dos delicta privata. 
No período da Monarquia Romana, o rei era o único magistrado vitalício, tendo 
como auxiliares os duouiri perduellionis (juízes nos casos de crime de traição ao 
Estado) e os quaetores parricidio (juízes nas hipóteses de assassínio voluntário de um 
 
pater, isto é, de um chefe de família); e nas infrações religiosas os membros do Colégio 
dos Pontífices, dos Argures e dos Feciais (ALTAVILA, 1980, p. 43). 
Nessa época o acusado não tinha nenhuma garantia, nem havia limites ao 
arbítrio dos juízes. Esse processo era denominado cognitio, e moderava o poder do juiz, 
o que fez com que surgisse a Lex Valeria Provocatione, que passou a facultar ao 
acusado recorrer da decisão para o povo reunido em comícios. 
Na época da República Romana, a defesa já era mais efetiva, tendo o acusado o 
mesmo prazo de defesa que a acusação, havendo a réplica e a tréplica. 
Com a Revolução Francesa, a defesa era nula durante a instrução probatória, só 
havendo contraditório na fase de julgamento. 
Com o Código Australiano de 1873, o acusado fazia-se acompanhar de seu 
defensor, podendo com ele converter, conferenciar na presença de um funcionário da 
Justiça. 
Em 1817, o Código Alemão admitia que o imputado fosse acompanhado de um 
defensor em qualquer fase do processo, contudo, a defesa só era obrigatória em casos 
graves e especiais. 
 
1.2Traços históricos da Defensoria Pública no Brasil 
 
Foi nas Ordenações Filipinas que a Assistência Judiciária teve origem no 
Brasil, tendo vigência no país até o Código Civil de 1916, onde era previsto, em seu 
livro III, Título 84, § 1º, o benefício da Assistência Judiciária. 
Em consonância com Cleber Francisco Alves e Marília Gonçalves Pimenta o 
Título 84 registrava que: 
 
Em sendo agravante tão pobre que jure não ter bens móveis, nem de raiz, 
nem por onde pague o agravo, e dizendo na audiência uma vez Pater Noster 
pela alma del Rey Don Diniz, ser-lhe-á havido, como que pagasse os 
novecentos réis, contanto que tire de tudo certidão dentro do tempo, em que 
devia de pagar o agravo (ALVES; PIMENTA, 2004, p. 92). 
 
Com a proclamação da República, o Ministro da Justiça foi autorizado através 
do Decreto n.º 2.457, de 8/2/1897, a formulação das comissões no sentido de criar um 
sistema de assistência judiciária no Brasil. Os requisitos para os benefícios dessa 
gratuidade de justiça estavam previstos no referido Decreto, determinando que: 
 
 
Pobre era toda pessoa que, tendo direitos a fazer valer em juízo, estivesse 
impossibilitada de pagar ou adiantar as custas e despesas do processo sem 
privar-se de recursos pecuniários indispensáveis para as necessidades 
ordinárias da própria manutenção ou da família (CAMPO, 2002, p. 6). 
 
Entretanto, com a promulgação do Código Civil de 1916, houve uma 
introdução nos Estatutos processuais estaduais, de princípios de Assistência Judiciária 
nos estados da Bahia, São Paulo e Minas Gerais. Entretanto, não havia, como hoje, um 
sistema processual unificado, mas, um Código Civil brasileiro e cada Estado tinha seu 
Código de Processo. 
Registre-se, outrossim, que com a criação da Ordem dos Advogados do Brasil, 
através do Decreto n.º 19.408 e seu posterior regulamento mesmo no ano de 1930, 
Decreto n.º 20.784, trouxe a disciplina de uma assistência judiciária caritativa e 
obrigatória para os advogados, inserida nos artigos 91 a 93 do referido regulamento. 
Nesse caso, o Estado se negava a prestar por sua conta a Assistência Judiciária, dever-
função que a ele competia. 
Como garantia constitucional, a assistência judiciária apareceu somente na 
Constituição de 1934, em seu art. 113, parágrafo 32, sendo excluída da Constituição do 
Estado Novo, mantendo-se a gratuidade como norma infraconstitucional, no Código de 
Processo Civil de 1939. A garantia retornou ao status de norma constitucional em 1946, 
no art. 141, parágrafo 35 (CAMPO, 2002, p. 6). 
A Lei n.º 1.060/1950, até hoje em vigor, com algumas alterações, culmina com a 
Promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e com a Lei 
Complementar n.º 80, de 1994. 
Antes, porém, a Constituição Federal de 1988, previu expressamente em seu 
artigo 5º, inciso LXXIV que a assistência jurídica integral e gratuita deveria ser prestada 
pelo Estado. Esse dever decorre do próprio princípio da Dignidade Humana, como 
fundamento da República Federativa do Brasil, inserto no artigo 1º, inciso III da 
Constituição. O Direito à vida, à liberdade, à intimidade,à imagem, e vários outros, são 
consequências imediatas do princípio fundamental da Dignidade da Pessoa Humana. O 
mesmo princípio é adotado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo a 
dignidade reconhecida como inerente a todos os membros da família humana e como 
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. 
Neste sentido, Alexandre de Moraes define a dignidade como sendo: 
 
 
Um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta 
singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida 
e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, 
constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve 
assegurar, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem 
todas as pessoas enquanto seres humanos (MORAES, 2004, p. 60). 
 
É óbvio que, para a efetivação dos Direitos Humanos deve ser concedida ao 
acusado a oportunidade de exercê-los, mesmo não existindo condições econômicas e 
financeiras para tanto, sendo por isto mesmo que a Defensoria Pública está inserida 
dentro do capítulo das funções essenciais à Administração da Justiça tendo, portanto, 
papel importante no Estado de Direito. Segundo afirma Guaraci de Campos Vianna, 
“sem os instrumentos capazes de proteger e efetivar a cidadania, esta seria utópica” 
(VIANNA, 1991, p. 104). 
A se fazer valer os direitos do homem, não se está defendendo apenas a pessoa, o 
cidadão, o criminoso, mas, acima de tudo, a lei, e mais, a certeza de que a lei será 
cumprida é interesse de todos, pois evita a possibilidade de cada indivíduo ser alvo de 
injustiças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS 
 
2.1 Conceituação 
 
O Poder Judiciário passou na Constituição Federal de 1988, a ter uma 
participação ativa no processo democrático, especialmente com a sua presença mais 
efetiva na solução dos conflitos e ao ampliar a sua atuação com novas vias processuais, 
demonstrando preocupação voltada prioritariamente para a cidadania, através de 
instrumentos jurídicos, normas, preceitos e princípios que sinalizam a vontade popular 
de ter uma Justiça célere e distributiva. 
Desta feita, o art. 134 da Constituição Federal de 1988 coloca a Instituição da 
Defensoria Pública insculpida como essencial junto à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados. 
A Defensoria representa o Estado Democrático de Direito próximo e a serviço 
do cidadão. Representa o cuidado e a proteção jurídica dada pelo Estado ao cidadão 
humilde, que clama por Justiça e que já não tem forças, nem condições de pagar 
honorários advocatícios. 
Neste mesmo sentido, a atividade institucional do Defensor Público cinge-se à 
garantia da ampla defesa estabelecida no art. 5º, inc. LV da Carta Magna e à garantia do 
acesso à justiça pelos juridicamente hipossuficientes como previsto no mesmo art. 5º, 
inc. LXXIV, da Constituição. Em suma, a Defensoria Pública é considerada uma 
instituição essencial à função jurisdicional do Estado, ao mesmo tempo, responsável 
pela orientação e defesa jurídicas dos necessitados, em todos os graus de jurisdição. 
Nas palavras de José Afonso da Silva: 
 
A Constituição Federal impõe à União, aos Estados e ao Distrito Federal o 
dever inafastável de oferecer assistência jurídica integral e gratuita a todos 
aqueles que não podem pagar honorários de advogados e custas do processo. 
Tal serviço jurídico, que constitui um direito fundamental de todo cidadão e 
deve ser prestado diretamente pelo Poder público, através dos Defensores 
Público (SILVA, 2003, p. 586). 
 
 
Portanto, os Defensores Públicos exercem seu encargo no desempenho de 
funções típicas e atípicas, estando as primeiras atreladas ao princípio do acesso amplo e 
irrestrito à Justiça, ao princípio da igualdade e à prestação de assistência jurídica 
integral e gratuita aos necessitados, e, mais, à afirmação de hipossuficiência, e as 
funções atípicas, atreladas ao princípio do contraditório, da ampla defesa, do devido 
processo legal e, assim, não se encontram vinculadas à hipossuficiência do assistido. 
Neste sentido, os Defensores Públicos são profissionais selecionados em 
concursos públicos, que lhes asseguram prerrogativas e deveres que visam o 
atendimento aos assistidos, de indiscutíveis qualidade e eficiência em todas as áreas do 
Direito, desde uma simples consulta jurídica, até a postulação de processos judiciais e 
administrativos. É dessa forma, que a ampla atuação dos defensores públicos abrange 
todos os órgãos jurisdicionais, desde os juizados especiais, juizados da infância da 
juventude e do idoso, varas cíveis, criminais, da família, da fazenda pública e todas as 
demais, até as instâncias superiores, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal 
Federal, onde há uma sala específica para a atuação dos Defensores Públicos. 
Desta feita, a Defensoria Pública tem destaque na defesa da área dos interesses 
difusos e coletivos da sociedade, notadamente na área de conflitos por terra, como 
assentamentos e loteamentos, e defesa dos consumidores. 
Na área cível, a função primordial do Defensor Público está adstrita ao 
compromisso com a classe economicamente menos favorecida, devendo, nesse caso, 
exercer seu encargo nos estritos limites conferidos pela Constituição Federal, pela Lei 
Federal n.º 1.060/50 e pela Lei Orgânica da Instituição. 
A atribuição do Defensor Público na área cível “defesa, em todos os graus, dos 
necessitados, na forma do art. 5º, inc. LXXIV” (art. 134, Constituição Federal de 1988) 
é demasiadamente extensa, defrontando-se o profissional com um grande volume de 
trabalho, devendo, portanto, ater-se na esfera cível ao patrocínio do hipossuficiente. 
Observe-se que o mandamento constitucional é claro, isto é, busca atender aos 
necessitados nos termos do art. 5º, inc. LXXIV, da Constituição Federal de 1988. Neste 
ponto indaga-se, então, quais seriam os necessitados nos termos constitucionalmente 
firmados, obtendo-se como resposta dos Ministros do Supremo Tribunal Federal que 
apresentaram o magistral ensinamento, no seguinte acórdão: 
 
 
 
CONSTITUCIONAL. ACESSO A JUSTIÇA. ASSISTÊNCIA 
JUDICIÁRIA. LEI N.º 1.060/50 E CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º, 
LXXIV. 
I - A garantia do art. 5º, LXXIV - assistência jurídica integral e gratuita não 
revogou a de assistência judiciária gratuita da Lei 1.060/50, aos necessitados, 
certo que, para obtenção desta, basta a declaração, feita pelo próprio 
interessado, de que a sua situação econômica não permite vir a Juízo sem 
prejuízo de sua manutenção ou de sua família. Essa norma infraconstitucional 
põe-se, ademais, dentro do espírito da Constituição, que deseja que seja 
facilitado o acesso de todos à Justiça (CF, art. 5º, XXXV). II - R.E. não 
conhecido (Ementa do Acórdão no Recurso Extraordinário 205746/RS, Rel. 
Min. Carlos Velloso, Segunda Turma). 
 
Depreende-se, portanto, que o acesso à justiça pelos economicamente excluídos 
exige do Estado uma efetiva participação no sentido de conferir meios materiais para 
que os excluídos socialmente não se revelem também excluídos juridicamente. A 
Defensoria Pública insere-se neste contexto como o órgão articulador das reivindicações 
jurídicas da classe oprimida socialmente e como instrumento de cidadania com o 
aconselhamento jurídico dos menos favorecidos. 
Verifica-se diante do exposto, ser indispensável a criação das Defensorias 
Públicas nos Estados que ainda não atendam à imposição constitucional, a exemplo de 
São Paulo, bem como o fortalecimento daquelas já existentes, adaptando a sua estrutura 
às determinações da Lei Complementar Federal n.° 80/94, que prevê a autonomia 
administrativa, financeira e orçamentária da Instituição. 
 
2.2 Da atuação 
 
Como esclarecido anteriormente, o art. 134, da Constituição Federal de 1988, 
estabelece que a DefensoriaPública é instituição essencial à função jurisdicional do 
Estado, com a incumbência de prestar assistência jurídica, judicial e extrajudicial, 
integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma da lei. 
A Lei Complementar n.º 80, de 12 de janeiro de 1994, passou a organizar a 
Defensoria Pública Geral da União, do Distrito Federal e dos Territórios, trazendo os 
principais vetores para a estrutura e atuação das Defensorias Públicas nos Estados. 
Entretanto, com a promulgação da Lei Complementar nº 132, de 07 de outubro de 2009, 
são alterados alguns dispositivos da Lei Complementar nº 80/94. 
A Lei Complementar n. 132/2009 prevê: 
 
 
“Art. 1º - A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função 
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do 
regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção 
dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, 
dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos 
necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da 
Constituição Federal. 
 
No art. 4º, a lei dispõe em seu inciso I, que será prestada orientação jurídica, 
bem como será exercida a defesa dos necessitados, em todos os graus, complementado 
pelo inciso X que “promoverá a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos 
necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, 
culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de 
propiciar sua adequada e efetiva tutela”. 
Muitas vezes, a atuação dos Defensores Públicos tem início na fase extrajudicial, 
no aconselhamento e consultoria aos assistidos de forma a solucionar os conflitos de 
interesses sem a necessidade de interposição de ações judiciais. 
Ao ser proposta a ação judicial, o assistido da Defensoria Pública tem garantido 
a assistência judicial em todas as fases procedimentos de forma a lhe garantir a mais 
ampla defesa de seus interesses jurídicos. 
A prestação de assistência jurídica, nas causas patrocinadas pela Defensoria 
Pública, se dá em todas as áreas de atuação do judiciário e em todos os graus de 
jurisdição visando a garantir a ampla defesa e o devido processo legal como garantia do 
exercício de cidadania e direito individual consagrado no art. 5° da Constituição Federal 
de 1988. Por força de mandamento Constitucional, a instalação da Defensoria Pública é 
dever do Estado e direito fundamental do indivíduo (Informativo da ANADEP – 
Associação Nacional dos Defensores Públicos, 2004). 
 
2.3 Dos assistidos 
 
Como se vem afirmando, fazem jus aos serviços da Defensoria Pública as 
pessoas necessitadas financeiramente. Necessidade, neste aspecto, não se confunde com 
miserabilidade. Com efeito, não é só o miserável, o indigente, que faz jus à Defensoria 
Pública. 
 
Em algumas unidades federativas do país, anterior à promulgação da Carta 
Constitucional em vigor, o Poder Público, muitas vezes de forma precária, já prestava a 
Assistência Judiciária regulamentada pela Lei n.° 1.060/50. 
O art. 2º, do mesmo Diploma Legal, considera como necessitado, “todo aquele 
cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas processuais e os honorários 
advocatícios em prejuízo do sustento próprio e de sua família”. Isso quer dizer que 
largos setores da classe média, crescentemente depauperada, podem recorrer aos 
préstimos da Defensoria Pública, como de fato vem recorrendo (NEDER, 2002). 
Ressalte-se, que não só a pessoa física pode ser atendida pela Defensoria, como 
também, as pessoas jurídicas em dificuldades financeiras, como as micro-empresas, 
podem se valer do patrocínio do Defensor Público. Do mesmo modo as sociedades sem 
fins lucrativos, desde que declarem insuficiência de recursos. Vale ressaltar, ainda, que 
estão afetas à Defensoria Pública algumas atribuições reputadas como atípicas, ou seja, 
desvinculadas da situação econômica do assistido. Na área criminal, por exemplo, se o 
réu não constituir advogado, mesmo tendo recursos para tanto, a atuação do Defensor 
Público é obrigatória para defesa, já que esta é indisponível no processo penal. Em 
casos assim, a intervenção da Defensoria Pública verifica-se para que sejam respeitados 
valores constitucionais de grande magnitude, como é o caso da ampla defesa e do 
contraditório. 
Como se observa, a Carta Magna de 88, no art. 5°, inciso LXXIV, trouxe não só 
a promessa do acesso universal à Justiça, presente nas demais Constituições pátrias, 
como, principalmente, a ordem para a efetiva institucionalização da Defensoria Pública 
em todo o território nacional. 
Atenta à necessidade de conceder a assistência jurídica integral, estendeu a 
atuação do Defensor Público ao âmbito extrajudicial e, no judicial, a todos os graus e 
instâncias do Poder Judiciário. Assim, ao configurar esse direito individual que 
permite a equalização ou igualdade das condições dos desiguais perante a Justiça, diz o 
artigo 5°, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988 in verbis: "O Estado prestará 
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos." 
Este direito fundamental da cidadania é, pois, materializado pela Defensoria 
Pública, consoante o determinado pelo artigo 134 da Carta Magna de 1988, nos termos 
abaixo transcritos: 
 
A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, 
incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos 
necessitados, na forma do artigo 5°, inc. LXXIV. 
 
Parágrafo único. Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União 
e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua 
organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, 
por concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a 
garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das 
atribuições institucionais. 
 
Vê-se, portanto, que o dever do Estado de prestar assistência jurídica aos 
necessitados é exercitado, como encargo público, em caráter de exclusividade pela 
Defensoria Pública. Segundo informa José Afonso da Silva: 
 
Tal afirmação não elide o exercício, a nível suplementar, da advocacia dativa, 
praticada por profissional liberal, que, no entanto, ao contrário do que ocorre 
com o Defensor Público, não possui o dever legal de exercê-la. Com efeito, 
nada pode ser mais diversa que a situação do Defensor Público e a do 
Advogado. 
 
É inconteste que todas as Funções Essenciais à Justiça (conforme foram 
denominadas pela Constituição Federal, a Advocacia e as Instituições da 
Defensoria Púbica, do Ministério Público e da Advocacia-Geral) possuem um 
radical comum. 
 
São carreiras ou profissão - esta, no caso da Advocacia - de cunho 
nitidamente postulatório, essenciais não só ao exercício da Função 
Jurisdicional do Estado, mas, como a realização da Justiça, abrangente da 
equidade, da legitimidade, da moralidade (SILVA, 2003, p. 194). 
 
 
Por outro lado, inerentes à natureza das suas atribuições constitucionais, esse 
radical comum observado entre as funções essenciais à Justiça não afasta as 
especificidades próprias a cada uma delas. Dessa forma, ao que diz respeito à 
Defensoria Pública em relação à Advocacia, a distinção já ocorre quanto a natureza 
pública de uma, e privada da outra. Estende-se, ainda, ao vínculo entre as partes e seus 
patronos, ou seja, para a Defensoria Pública é público-institucional; para a Advocacia, 
privado-contratual. 
É justamente, a partir do estabelecimento desse vínculo de natureza público-
institucional que o Defensor Público assume, pela dicção da Constituição Federal, da lei 
infraconstitucional e pela investidura no cargo público, o dever e não a faculdade de 
assistir aos incontáveis cidadãos economicamente necessitados que a ele recorrem e, 
 
mais ainda, aos revés e aosque não constituíram advogados para a defesa dos seus 
direitos indisponíveis. 
Com efeito, é indiscutível que num País onde a estrutura político-social se revela 
profundamente injusta para a esmagadora maioria de seus cidadãos - cada vez mais 
alijada do exercício dos seus direitos de cidadania e do acesso aos bens e serviços 
produzidos socialmente - imensa tarefa recai sobre os ombros da Defensoria Pública. 
Sobre a grandeza dessa missão, José Afonso da Silva saúda a criação da 
Instituição, pela Carta de 1988 e ressalta: 
 
Os pobres têm acesso muito precário à Justiça. Carecem de recursos para 
contratar bons advogados. O patrocínio gratuito se revelou de alarmante 
deficiência. A Constituição tomou, a esse propósito, providência que pode 
concorrer à eficácia do dispositivo segundo o qual o Estado prestará 
assistência jurídica integral e gratuita para os que comprovarem insuficiência 
de recursos (art. 5°, inc. LXXIV). Referimo-nos à institucionalização das 
Defensorias Públicas, a quem incumbirá a orientação jurídica e a defesa, em 
todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV (art. 134). 
Quem sabe se fica revogada, no Brasil, a persistente frase de Ovídio: Cura 
pauperibus clausa est, ou as Defensorias Públicas federal e estaduais serão 
mais uma instituição falha? Cabe aos Defensores Públicos abrir os tribunais 
aos pobres, é uma missão tão extraordinariamente grande que, por si, será 
uma revolução, mas, também se não cumprida convenientemente será um 
aguilhão na honra dos que a receberam e, porventura, não a sustentaram 
(SILVA, 2003, p. 195). 
 
 
Afirma, ainda, o autor: 
 
A igualdade perante a Justiça, assim, exige a busca da igualização de 
condições dos desiguais, o que implica conduzir o juiz a dois imperativos 
como observa Ingber: ‘de um lado, cumpre-lhe reconhecer a existência de 
categorias cada vez mais numerosas e diversificadas, que substituem a idéia 
de homem, entidade abstrata, pela noção mais precisa de indivíduo 
caracterizada pelo grupo em que se insere de fato; de outro, deve ele apreciar 
os critérios de relevância que foram adotados pelo legislador’. É essa 
doutrina que orienta o principio da igualdade da justiça na imposição da pena 
para o mesmo delito. Seria injusto fosse aplicada a mesma pena sempre em 
atendimento a uma igualdade abstrata. Aplicando-se matematicamente a 
mesma pena para o mesmo crime, que, por regra, é praticado em 
circunstâncias diferentes, por pessoas de condições distintas. (...) Para que tal 
abstração não ocorra é que, além das circunstâncias agravantes se impõe a 
regra da individualização da pena (art. 5°, XLVI). Mas ainda é certo que as 
profundas diferenças de condições materiais não se igualizam por essas 
poucas regras de justiça penal. É muito difundida a idéia de que cadeia é só 
para os pobres (SILVA, 2003, p. 196). 
 
 
A isonomia formal e a material são distintas, ensina o autor: 
A afirmação do art. 1° da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 
cunhou o princípio de que os homens nascem e permanecem iguais em 
direito. Mas aí se firmara a igualdade jurídica e formal no plano político de 
caráter puramente negativo, visando a abolir os privilégios, isenções pessoais 
e regalias de classe. Esse tipo de igualdade gerou as desigualdades 
econômicas porque fundada " numa visão individualista do homem, membro 
de uma sociedade liberal relativamente homogênea. (INGBER, L'Égalité, 
destacou-se). Constata-se, portanto, que as Constituições brasileiras, desde a 
época do Império, já inscreviam o princípio da igualdade, como igualdade 
perante a lei, enunciado que, na sua literalidade, se confunde com a mera 
isonomia formal, no sentido de que a lei e sua aplicação trata a todos 
igualmente, sem levar em conta as distinções de grupos (SILVA, 2003, p. 
196). 
 
 
Nos termos do caput, do art. 5°, a compreensão do dispositivo vigente, não deve 
ser assim tão estreita como acima exposto. O intérprete haverá de aferi-lo com outras 
normas constitucionais, conforme apontado supra e, especialmente, com as exigências 
da justiça social, objetivo da ordem econômica e da ordem social. 
Diante de tais premissas, o Congresso Nacional aprovou a Lei n.° 7.871, de 
1989, introduzindo ao artigo 5° da Lei n° 1.050, de 1950, que tratava da Assistência 
Judiciária aos necessitados, dispondo o parágrafo 5°, que: "Nos Estados em que a 
Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida o Defensor Público ou quem 
exerça cargo equivalente será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, 
contando-se-lhes em dobro todos os prazos." 
 
 
2.4 Organização da Defensoria Pública 
 
Em atendimento ao comando do parágrafo único do artigo 134 da Constituição 
Federal de 1988, é que foi editada a Lei Complementar n.° 80, de 12 de janeiro de 1994, 
que trata da organização da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos 
Territórios, ao mesmo tempo, estabelecer normas gerais para sua organização nos 
Estados. 
Esta Lei Complementar veio normatizar a carreira do profissional da Defensoria 
Pública, em cargos providos, na classe inicial, por concurso público de provas e títulos, 
assegurando a seus integrantes a independência política, garantida pela estabilidade 
 
funcional, a inamovibilidade do órgão de atuação em que foi regularmente lotado e a 
irredutibilidade de seus vencimentos. Ao mesmo tempo em que veda ao Defensor 
Público o exercício da advocacia fora das suas atribuições institucionais. Por outro lado, 
a referida Lei, determina em seu art. 142, que os Estados realizem a adaptação de suas 
Defensorias Públicas em consonância com a normatividade dela, emanada no prazo de 
cento e oitenta dias de sua publicação, o que ocorreu a partir de 14 de janeiro de 1994, 
ou seja, até 11 de junho de 1994. 
No entanto, quando se trata de dar eficácia aos direitos da cidadania e, 
especialmente, aos direitos dos excluídos socialmente, infelizmente, pode-se afirmar 
que, após mais de uma década decorrida da promulgação da Carta Magna, e desde há 
muito vencido o prazo dado aos Estados, inúmeros são os Entes Federativos que 
descumprem o dever legal de assegurar, por meio da Defensoria Pública, assistência 
jurídica integral e gratuita àqueles que necessitam dessa assistência. 
 Com base nessas premissas é que José Murilo Carvalho remete: 
O fortalecimento da Defensoria Pública, e a conseqüente possibilidade real 
de vivência em um Estado Democrático de Direito aponta o caminho para o 
necessário surgimento do sentimento público que tanta falta faz à cidadania. 
Ao se tomar conhecimento de tais limitações circunstanciais quanto à atuação 
da Defensoria Pública, visando-se à superação desses óbices ao exercício dos 
direitos fundamentais da cidadania e pretendendo-se tratar desigualmente os 
desiguais, dando-lhes as condições para superar essa desigualdade, é que o 
legislador infraconstitucional atribuiu, com exclusividade, ao Defensor 
Público ou a quem exercesse cargo equivalente nos Estados em que a 
Assistência Judiciária fosse organizada e por eles mantida, as prerrogativas 
da intimação pessoal e do prazo duplo (CARVALHO, 2003, p. 59). 
 
Tudo isso advém do fato de os cargos públicos sujeitarem-se para o seu 
provimento ao concurso público de provas ou de provas e títulos, conforme previsto no 
art. 37, inciso II, da Constituição Federal de 1988, o que, por si mesmo, distingue a 
situação do Defensor Público e de seus equivalentes, daquela do Advogado. 
Para tanto, faz-se necessário esclarecer a diferença fundamental entre a 
advocacia dativa e a Defensoria Pública: esta, diz respeito “ao compromisso 
institucional legal com acesso à justiça e o seu papel transformador e não, como ocorre 
com a advocacia dativa, que é o acesso ao judiciário”. Logo, a defesa técnica não é a 
função primeira do Defensor Público; esta é apenas “mais uma de suas possibilidades e 
 
prerrogativas viabilizadoras da efetividade do acesso à justiça aonecessitado” 
(CARVALHO, 2003, p. 59). 
A Defensoria Publica é, por conseguinte, responsável pela descoberta do 
verdadeiro problema que aflige o cidadão brasileiro excluído, e o diagnóstico inicial, 
isto é, o provocador da procura do Defensor. Tal descoberta é viabilizada por um 
atendimento digno, estruturado, inserido em uma verdadeira rede de cidadania, 
mediante estrutura humana e material na conformidade da determinação constitucional 
(CARVALHO, 2003, p. 59). Logo, o desempenho liberal da profissão advocatícia, 
baseada em vários julgados do Superior Tribunal de Justiça e, diante da inexistência da 
Defensoria Pública em muitas unidades federativas, confirma a validade das 
prerrogativas asseguradas ao Defensor Público pela Lei n.° 7.871/89, reafirmando que 
“cabe ao Estado arcar com os honorários dos nomeados para o exercício da advocacia 
dativa, na inexistência ou insuficiência do Defensor Público”. 
Sem dúvida alguma, infere-se que o parágrafo 5°, do artigo 5°, da Lei n.° 
1.060/50, introduzido pela Lei n° 7.871/89 é absolutamente harmônico com a Carta 
Maior de 88, por tratar “desigualmente os desiguais”. E, mais, afirma Suely Pletz 
Neder: 
 
Esse dispositivo tem endereço certo e exclusivo, qual seja, o agente público 
que, por regular investidura no cargo público e pela dicção da Constituição e 
da lei infraconstitucional, tem o dever de prestar assistência jurídica integral e 
gratuita aos necessitados, situação em todo diversa da do Advogado que 
possui a faculdade de exercer a advocacia dativa, consoante o reconhecido 
pela doutrina e a jurisprudência. (NEDER, 2002, p. 19). 
 
 
Assertiva esta, confirmada por Holden Macedo comentada por Eliane Rocha, 
quando o mesmo diz que: 
 
Sem a Defensoria Pública não há acesso à Justiça. Sem acesso à Justiça, o 
Poder Judiciário não pode dirimir os conflitos de interesses adotando a 
decisão mais justa para o caso e combatendo o abuso e a arbitrariedade. E 
sem uma decisão justa para os conflitos de interesses não há participação 
ativa e todos os indivíduos na vida do seu governo e do seu povo. Não há 
cidadania! Até quando vamos ficar alheios a esta realidade? (ROCHA, 2009). 
 
 
 
 
Infere-se, portanto, que é facultado, pela função institucional e essencial da 
Defensoria Pública, o acesso à justiça aos necessitados, sendo que ajuizar ações, 
representar judicialmente, é apenas um dos aspectos de sua atuação. 
 Finaliza-se, em comum, com a opinião de Elaine Rocha que: 
 
 
A Defensoria Pública brasileira, com sua missão constitucional de garantir o 
acesso à justiça e a efetivação de direitos e liberdades dos necessitados, 
desponta no cenário nacional como uma das mais relevantes instituições 
públicas, essencialmente comprometida com a democracia, a igualdade e a 
construção de uma sociedade mais justa, livre e solidária (ROCHA, 2009). 
 
Em suma, os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil previstos 
pelo artigo 3º, são os seguintes: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II 
- garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e 
reduzir as desigualdade sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem 
preconceitos de origem raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Saliente-se, portanto, que os direitos fundamentais representam situações 
jurídicas subjetivas, sem as quais a pessoa humana não sobrevive em uma determinada 
sociedade, ao mesmo tempo em que esses direitos correspondem a um conjunto de 
faculdades e instituições que, em dado momento histórico, garantem ao cidadão o 
respeito à dignidade, à liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas 
pelos ordenamentos jurídicos, em nível pátrio e internacional. 
Em suma, o homem em ação é livre, e o Estado, por sua vez, tem o dever de 
defendê-lo através do seu mecanismo judiciário. Somente o homem livre, na sua maior 
expressão, pode realizar-se como ser integral, uma vez que, sendo o homem a obra-
prima da criação, deve ser valorizado integralmente. 
Visto por esse ângulo, e respeitados os valores morais e éticos que cada 
indivíduo traz em seu interior, talvez se possa observar o fim da colisão dos direitos 
fundamentais que fazem parte da vida do homem e da sociedade, e iniciar uma nova 
consciência quanto aos deveres que todos os homens têm diante da mesma sociedade. 
 
 
 
 
3 O PAPEL DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA FUNÇÃO 
DE DEFENSOR PÚBLICO 
 
3.1 O que se entende por princípio 
 
Etimologicamente, o termo princípio se origina no latim principium, principii, 
por encerrar a idéia de começo, origem, base. Em linguagem leiga é, de fato, o ponto de 
partida e o fundamento, ou causa, de um processo qualquer. Sem dúvida, na sua origem 
etimológica, princípio sempre dá a idéia de começo ou o início de qualquer situação 
(CARRAZA, 2006, p. 33). A Bíblia, em Gênesis, no relato da criação do mundo, o 
narrador inicia essa expressão para situar como o mundo era ante da decisão do Criador. 
"No princípio, Deus criou os céus e a terra." 
Como se observa, a palavra princípio é termo análogo, isto é, suscetível de 
inúmeros sentidos, todos, porém, ligados pelo menos por um ponto de contato comum. 
Princípio é, antes de tudo, ponto de partida. "Princípios de uma Ciência" são as 
proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturações 
subsequentes. Neste sentido, princípios são os alicerces, os fundamentos da ciência. 
Paulo Nader contribui quanto ao tema afirmando que princípios constitucionais 
são “aqueles que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica” (NADER, 
2005, p. 236). 
Entretanto, isto só é possível, na medida em que estes não objetivam regular 
situações específicas, mas sim desejam lançar a sua força sobre todo o mundo jurídico. 
“Os princípios alcançam esta meta à proporção que perdem o seu caráter de precisão de 
conteúdo”, isto é, conforme vão perdendo densidade semântica, eles ascendem a uma 
posição que lhes permite sobressair, pairando sobre uma área muito mais ampla do que 
uma norma estabelecedora de preceitos. Portanto, “o que o princípio perde em carga 
normativa ganha como força valorativa a espraiar-se por cima de um sem-número de 
outras normas”. 
O reflexo mais imediato de tudo isso, é o caráter de sistema que os princípios 
impõem à Constituição. Sem eles a Constituição se pareceria mais com um aglomerado 
de normas que só teriam em comum o fato de estarem juntas no mesmo diploma 
jurídico, do que com um todo sistemático e congruente. Dessa forma, afirma Paulo 
 
Nader, por mais que certas normas constitucionais demonstrem estar em contradição, 
esta aparente contradição deve ser minimizada pela força catalisadora dos princípios. E 
mais, opina o autor: 
 
Uma outra função muito importante dos princípios, é servir como critério 
de interpretação das normas constitucionais, seja ao legislador ordinário, no 
momento de criação das normas infraconstitucionais, seja aos juízes, no 
momento de aplicação do direito, seja aos próprios cidadãos, no momento da 
realização de seus direitos (NADER, 2005, p. 237). 
 
Em resumo, são os princípios constitucionais aqueles valores albergados pelo 
Texto Maior a fim de dar sistematização ao documento constitucional, de servir como 
critério de interpretação e finalmente, o que é mais importante, espraiar os seus 
valores, pulverizá-los sobre todo o mundo jurídico. 
 
3.2 Sobre o princípio da igualdade 
 
A igualdade, desenvolvida a partir da idéia de justiça, era amplamente 
discutida no âmbito do pensamento clássico, em especial nas obras de Platão e 
Aristóteles. Com o cristianismo adquiriu nova dimensão, passando a ser concebida 
como igualdade de todos os homens perante Deus, pelo reconhecimento das qualidades 
inerentes ao ser humano, e não como igualdade de alguns homens perante a sociedade, 
pela participaçãodestes nos bens da vida (SARLET, 2000, p. 99). 
Considerando-se as diferenças entre os homens, nos aspectos físico e 
intelectual, decorrentes de fatores naturais ou sociais, tem-se que a igualdade absoluta 
jamais será alcançada, pois contraria a própria natureza humana. Essa concepção 
igualitária, na medida em que transforma o Estado totalitário, favorece a tirania e o 
despotismo, onde não raro aqueles que criticam as desigualdades sociais, vêm a 
formar uma classe dominante, que rejeita abertamente a igualdade. 
Foi assim, segundo observa Ingo Wolfgang Sarlet que, 
 
ao longo da história, o conceito de igualdade provocou posições extremas, 
observando-se que para os chamados nominalistas, a igualdade não passaria 
de um simples nome, significação real, pois a desigualdade é a característica 
do universo. Os "idealistas, ao contrário, postulam uma igualdade absoluta - 
o igualitarismo entre as pessoas -, ligada ao estado de natureza (Rousseau 
denominava desigualdade natural ou física, as diferenças estabelecidas pela 
 
natureza). Uma outra corrente, denominada realista, afirma que embora os 
homens sejam desiguais sob vários aspectos, devem ser descritos como 
seres iguais, considerada a essência de seres humanos (SARLET, 2000, p. 
101). 
 
No atual contexto brasileiro, adotou-se nos textos constitucionais, a igualdade 
relativa, proporcional, e não o igualitarismo, pois só ela se coaduna com a ordem 
jurídica, sendo da essência do Direito tratar de modo diferente pessoas em diferentes 
situações. Assim é que as próprias Constituições brasileiras estabelecem distinções, 
classificações, disciplinando diferentemente situações distintas. 
Na verdade, o princípio da igualdade como “igualdade perante a lei”, estabelece 
que a lei e sua aplicação deve ser igual para todos, sem que leve em conta as distinções 
dos grupos sociais. A igualdade das partes advém da garantia constitucional da qual 
goza todo cidadão que é a igualdade de tratamento de todos perante a lei. 
Na lição de Manoel Gonçalves Ferreira Filho: 
 
A igualdade perante a lei, da Constituição em vigor traduz-se na igualdade de 
direitos, ou igualdade civil, segundo a qual todos os homens têm às mesmas 
possibilidades quanto a adquirir direitos, e não na igualdade de fato – ou real 
-, que garantiria a todos o igua1 exercício desses direitos. Enfatiza o mesmo 
autor, que o principio da igualdade insculpido em nossa Constituição não 
proíbe as diferenciações de tratamento, mas somente as arbitrárias, as 
discriminatórias (FERREIRA FILHO, 2001, p. 242). 
 
Este princípio se baseia no caput do artigo 5º da Carta Magna: “Todos são 
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros 
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade”. O inc. I deste mesmo art. 5º diz que homem e 
mulher são iguais em direitos e obrigações, enquanto que o seu inciso XLI deixa bem 
claro que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades 
fundamentais”. Portanto, a Constituição aborda com clareza a liberdade de consciência 
e de crença religiosa, assim como a convicção filosófica ou política (SARLET, 2000, p. 
101). 
Enfim, para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto 
significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da 
lei exige que a elas sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às 
peculiaridades existentes. 
 
 
3.3 Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa 
 
A Carta Magna em seu artigo 5º, inc. LV, dispõe que “aos litigantes, em 
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o 
contraditório e ampla defesa, com os recursos a ela inerentes”, perfazendo uma mesma 
garantia processual, pois não pode existir ampla defesa sem contraditório e vice-versa. 
O processo é instrumento de garantia constitucional, manifestando-se através da 
constatação da eficácia de uma defesa efetiva e pleno contraditório. 
No Brasil, o princípio do contraditório é dogma constitucional. 
O pleno exercício do contraditório é faculdade concedida às partes, que podem, 
querendo, deixar de exercê-lo amplamente por si próprias. Há casos em que a 
inatividade das partes é suprida, na medida em que, em tais circunstâncias, contraditório 
não é mera possibilidade, mas necessidade. Assim se faz no processo criminal, no qual o 
acusado será defendido mesmo que contra a sua vontade. 
Os princípios do contraditório e da ampla defesa se complementam, não 
existindo isoladamente. O processo é instrumento de garantia constitucional, 
manifestando-se através da constatação da eficácia de uma defesa efetiva e pleno 
contraditório. Percebe-se, que da mesma forma que há direito de ação, para o autor, há 
também, direito de defesa, para o réu. 
Preleciona Alexandre de Moraes acerca do tema: 
 
Por ampla defesa, entende-se o asseguramento que é dado ao réu de 
condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos 
tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de calar-se, se entender 
necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla 
defesa, impondo a condução dialética do processo (par conditio), pois a todo 
ato produzido caberá igual direito da outra parte de opor-se-lhe ou de dar-lhe 
a versão que convenha, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica 
diversa daquela feita pelo autor. (MORAES, 2000, p. 63). 
 
 
O respeito ao princípio da igualdade é necessário para a plena realização do 
contraditório, pois a paridade de armas e oportunidades é imprescindível, em razão 
disso exige-se a defesa técnica no processo, não podendo o acusado dela dispor. 
Nesse contexto surge a intervenção de uma assistência jurídica integral e gratuita 
para o acusado, muitas vezes exercida pela Defensoria Pública, em Estados que a 
 
carreira é instituída, afinal o artigo 133 da Constituição Federal dispõe que a Defensoria 
Pública é encarregada de prestar assistência integral e gratuita aos que dela 
necessitarem. Da mesma forma ocorre em casos da revelia de réus citados por edital, 
casos em que para a efetivação da ampla defesa e do contraditório é necessário a 
nomeação de curador especial para assumir a defesa. 
Como afirma Augusto Marcacini: 
 
O processo verdadeiramente contraditório só será encontrado na medida em 
que se possa afirmar, sem dúvidas, que somente a vontade inequívoca e livre 
de influências outras seja motivo a não participação efetiva da parte na 
relação processual (MARCACINI, 2001, p. 19). 
 
 
3.4 Das garantias e prerrogativas dos Defensores Públicos 
 
No que concerne às garantias, dispõe a Constituição da República no parágrafo 
único do art. 134, que ao Defensor Público é assegurada a garantia da inamovibilidade 
(MARCACINI, 2001, p. 19). 
Sendo que essa mesma garantia está também assegurada nos artigos 34, 43 e 127 
da Lei Complementar n.º 80/94, a qual acrescenta a “independência funcional no 
desempenho de suas atribuições, a irredutibilidade de vencimentos e a estabilidade”. 
Insta esclarecer que o termo inamovibilidade, significa que o Defensor Público 
não pode ser removido do seu órgão de atuação contra a sua vontade. Tal garantia 
permanece, inclusive, dentro da mesma Comarca, não podendo o Defensor Público ser 
removido do órgão de atuação do qual é titular para outro da mesma Comarca ou 
Fórum1. Aliás, a remoção compulsória prevista no artigo 50, § 1º, inciso III, da Lei n.º 
80/94 é inconstitucional visto que a Constituição da República estabelece a 
inamovibilidade como garantia do Defensor Público, não prevendo nenhuma exceção 
para tal. Essas mesmas garantias constam do artigo 181, inciso II, da Constituição do 
Estado do Rio de Janeiro. 
 
_________________ 
1
Necessário esclarecer que é vedada a remoção compulsória,mas não a UNILATERAL e POR 
PERMUTA (artigo 35 da Lei n.º 80/94 e artigo 44, parágrafo único, Lei n.º 06/77). 
 
 
A referida garantia exclui os agentes políticos de qualquer ingerência em sua 
atuação. Assim, ao contrário da garantia dada ao Ministério Público e à Magistratura, 
para os quais a Constituição permite a remoção em caso de interesse público, a 
inamovibilidade dada à Defensoria Pública é “absoluta”. Contudo, a garantia da 
independência funcional, constitui um princípio institucional da Defensoria Pública, 
sendo que a irredutibilidade de vencimentos, é também assegurada aos membros da 
Defensoria Pública. 
Importante esclarecer que as reduções tributárias e previdenciárias efetivadas 
não violam tal garantia, da mesma maneira como aqueles descontos em razão de decisão 
judicial. 
Finalmente, tem-se a estabilidade, garantia assegurada pela Carta Constitucional 
a todos os Defensores Públicos, ou seja, após três anos de efetivo exercício do cargo, e, 
portanto, após o período de estágio probatório, o Defensor Público só poderá ser 
demitido por processo administrativo. 
A Constituição Estadual do Rio de Janeiro, estabelece em seu artigo 181, inciso 
I, alínea "g", que os Defensores Públicos só perderão o cargo em virtude de sentença 
judicial, o que caracteriza a vitaliciedade (ALVES; PIMENTA. 2005, p. 115). 
Assim sendo, para melhor exercerem sua função, devem os Defensores Públicos 
possuírem certas prerrogativas como as previstas nos artigos 44 e 128 da Lei 
Complementar n.º 80/94. 
Neste sentido, lembra Glauce Mendes Franco que: 
 
Prerrogativas são privilégios funcionais, normalmente conferidos aos agentes 
políticos ou mesmo aos altos funcionários, para a correta execução de suas 
atribuições legais. As prerrogativas funcionais erigem-se em direito subjetivo 
de seu titular, passível de proteção por via judicial, quando negadas ou 
desrespeitadas por qualquer outra autoridade. (FRANCO, 1992, p. 316). 
 
Como menciona, ainda, a autora: 
 
As prerrogativas dos Defensores Públicos devem ser determinadas pela 
natureza da função que exercem, sempre se enfocando a necessidade de 
proporcionar ao necessitado os mesmos meios e possibilidade que possam os 
poderosos obter à custa dos seus recursos financeiros (MEIRELLES, 2006, p. 
74). 
 
Quanto à intimação pessoal do Defensor Público, saliente-se que deverá 
prevalecer mesmo nos processos administrativos, já que o Supremo Tribunal Federal 
 
manifestou entendimento no sentido da inaplicabilidade da prerrogativa no caso dos 
Juizados Especiais, em razão da celeridade exigida no procedimento especial.2 Entende-
se, contudo, que mesmo nesses casos, a intimação pessoal do Defensor Público deve 
prevalecer, em virtude de que essa prerrogativa decorre da necessidade de exercer 
melhor a função prevista no artigo 134 da Carta Magna, ou seja, prestar Assistência 
Jurídica integral e gratuita. 
Ocorre, porém, que a Assistência Jurídica integral e gratuita está prevista dentro 
do rol de Direitos Individuais previstos no art. 5º da Carta Magna, inserido no Título dos 
Direitos e Garantias Fundamentais, decorrendo do Princípio da Dignidade da Pessoa 
Humana, princípio fundamental do Estado Democrático de Direito disposto no art. 1º, 
inc. III, da Constituição. Decorre, também, dos objetivos fundamentais da República 
Federativa do Brasil, contidos no art. 3º, dentre eles, aquele de erradicar a pobreza e a 
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. 
 
Das Prerrogativas 
 
De maneira diferente, a criação dos Juizados Especiais está prevista no artigo 98 
da Constituição da República, dentro do Capítulo referente ao Poder Judiciário, 
constante no Título IV sobre a Organização dos Poderes. Por isso, em caso de conflito 
de regras, deve prevalecer aquela norma principiológica, ou seja, aquela da Assistência 
Jurídica, bem como as prerrogativas dos agentes responsáveis pela sua prestação. De 
qualquer forma, entende-se que não se aplicam as referidas prerrogativas aos advogados 
dativos ou que tenham convênio com o Poder Público. 
Em consonância com Cleber Francisco Alves e Marília Gonçalves Pimenta: 
 
A prerrogativa de requisitar às autoridades públicas ou seus agentes, para a 
formulação de material probatório tem feito com que a doutrina afirme sobre 
a possibilidade do Defensor Público requisitar abertura de Inquérito Policial 
sem que isso venha a desrespeitar o dispositivo da Carta Magna que dá a 
legitimidade funcional ao Ministério Público para a propositura de Ação 
 
___________________ 
2O STF decidiu pela inaplicabilidade da prerrogativa da intimação pessoal aos Defensores Públicos nos 
Juizados Especiais, tendo o Relator Ministro Marco Aurélio sustentado o critério da especialidade para 
afastar a intimação pessoal no caso em julgamento. (STF – Habeas Corpus 76.915-RS Rel. Min. Marco 
Aurélio, noticiado no informativo 115). 
 
Penal Pública. Não esquecendo, ainda, que requisição significa ordem, 
que deve ser cumprida por seu destinatário, salvo quando flagrantemente 
ilegal. O desentendimento de requisição formulada por membro da 
Defensoria Pública no exercício de suas atribuições sujeita o seu destinatário 
às sanções penais e administrativas cabíveis (ALVES; PIMENTA. 2005, p. 
118). 
 
Quanto à “desnecessidade de mandato” outorgado ao Defensor Público, afirma o 
autor, é uma prerrogativa que deriva do fato de que a natureza jurídica da representação 
do assistido em juízo decorre de lei e da investidura do agente no cargo, e não da 
outorga do mandato. É um liame de natureza pública estatutária. “É óbvio que esse 
vínculo não envolve as questões que exigem poderes especiais e, nesse caso, a parte 
assistida deverá assinar a inicial juntamente com o Defensor” (ALVES; PIMENTA. 
2005, p. 118). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA NOS JUIZADOS 
ESPECIAIS CÍVEIS: DEFESA NO DEVIDO PROCESSO LEGAL 
 
 
4.1 Critérios que orientam a Lei n.º 9.099/95 
 
A Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, cumprindo o disposto no art. 98, 
inc. I, da Constituição Federal de 1988, instituiu os Juizados Especiais Cíveis e 
Criminais, na condição de Órgãos da Justiça Ordinária, revogou e substituiu, com maior 
abrangência, a Lei n.º 7.244, de 7 de novembro de 1984, que dispunha sobre o Juizado 
Especial de Pequenas Causas. Ela é oriunda de Projeto de lei de autoria do deputado 
Michel Temer, e é mais abrangente que a lei revogada. 
Vale dizer, que a exigência do legislador constituinte para que os Juizados 
Especiais fossem criados decorreu da necessidade cada vez maior de uma 
democratização do acesso ao Judiciário. À época da promulgação da Carta Magna era e, 
ainda, é imperativo que se viabilize cada vez mais o acesso das camadas carentes da 
sociedade à Justiça, a fim de que esta possa oferecer uma resposta sempre rápida e 
eficaz àqueles que a procuram. 
Não foi preocupação da Lei Maior apenas democratizar tal acesso, mas 
também, oferecer condições que viabilizem um processo judicial menos burocrático, 
mais leve em sua concepção no que diz respeito à sua duração no tempo, menos 
formalista sobretudo. Tanto foi assim, que a norma constitucional retro previu a figura 
do Juiz Leigo (inovação no nosso sistema processual), fazendo menção ainda à fase da 
conciliação e transação. 
A lei refere-se à Justiça Ordinária, que é a Justiça Comum dos Estados e 
exclui a Justiça Federal, embora esta também seja considerada jurisdição comum, já que 
a especial compreende a Justiça Militar, a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. A 
Constituição da República determina aos Estados a criação dos Juizados Especiais no 
âmbito de seus territórios, e à União, no Distrito Federal e nos Territórios. 
O diploma legal, dispõe sobre as causas cíveis que não exceda ao valor de até 
quarenta salários mínimos e as infrações penaisde menor potencial ofensivo, assim 
 
consideradas aquelas para as quais sejam cominadas penas não superiores a um ano, 
introduzindo profunda alteração no processo civil e penal. 
Na verdade, essa legislação cria uma Justiça e um Processo paralelos aos 
existentes, com ritos especiais para litígios de menor valor econômico, contravenções e 
crimes de menor gravidade, originada de um projeto governamental de 
desburocratização. 
Sua forma está ligada aos atos processuais, através do princípio da informalidade 
e serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados. 
Lembrando que ato processual é a manifestação de vontade de um dos sujeitos 
da relação processual ou propriamente do processo, que se desenvolve através dos atos 
das partes, do juiz, e dos auxiliares da justiça. 
Na parte relativa à competência e aos atos processuais, ressalta-se a 
preponderância da finalidade sobre as formas que não podem ser consideradas um fim 
em si mesmas (art. 65 e § 1º, da Lei 9.099/95). 
 
4.2 Os Juizados Especiais Cíveis e a atuação do Defensor Público 
 
Os órgãos de atuação da Defensoria Pública junto aos Juizados Especiais 
exercem seu encargo, buscando assegurar o acesso à Justiça com efetividade da 
prestação jurisdicional mais célere em procedimento informal, adstritos à 
hipossuficiência da parte assistida, eis que não há norma específica acerca da atuação 
atípica do membro da Defensoria Pública junto aos Juizados Especiais Cíveis. 
Todavia, é do conhecimento geral que a maioria dos processos que tramitam na 
Justiça têm por patrocinador da causa um Defensor Público, principalmente, na área 
criminal, onde a grande maioria dos réus são pobres na forma da lei, sem falar dos 
processos na área cível, mais especificamente de família, tais como, alimentos, divórcio, 
separação e outros. 
Assim, a intervenção do Defensor Público em qualquer feito que tramite perante 
o Juizado Especial Cível exigirá a afirmação de carência da parte nos termos do art. 4º, 
da Lei n.º 1.060/50. Caso a parte não seja carente. A resposta parece óbvia: não haverá 
atuação do Defensor Público. Mas, surgem indagações crescentes em razão da norma 
insculpida no art. 9º, § 1º, Lei 9.099/95. 
 
Destaque-se, no entanto, que o legislador fez menção ao desejo da parte de ser 
patrocinada pelo órgão de assistência judiciária instituído junto ao Juizado Especial. 
Assim, o Juízo deverá informar à parte o direito que lhe assiste e indagar se diante do 
fato de estar a outra parte patrocinada por advogado ou ser pessoa jurídica, deseja ser 
patrocinada pelo órgão de assistência judiciária. Em caso de resposta afirmativa, deve-
se incontinente indagar se a parte é carente de recursos e, se positiva a resposta, 
encaminhá-la ao órgão de atuação da Defensoria Pública para que formalize a 
representação da parte, assinando-se a afirmação de carência e patrocine os interesses de 
seu novo assistido, devendo a audiência ser adiada para que o profissional possa 
conhecer a causa de seu assistido e instruir-lhe de forma conveniente. Se a parte não for 
carente de recursos, deverá a Audiência ser redesignada para nova data a fim de que 
haja tempo hábil para a constituição de patrono pela parte. 
Outra hipótese também possível, ainda que remota, diz que a parte que não 
deseja ser patrocinada pelo órgão de assistência judiciária instituído junto ao Juizado 
Especial Cível ou pela Defensoria Pública, nesse caso, poderá demandar em juízo 
independente de assistência profissional, posto que o legislador, de modo excepcional, 
lhe conferiu capacidade postulatória. 
O fato de a parte contrária estar assistida por advogado ou ser a parte ré, pessoa 
jurídica ou firma individual, não condiciona a atuação da Defensoria Pública que se 
encontra adstrita na esfera cível à miserabilidade jurídica de seu patrocinado. 
Assim, qualquer outra interpretação que se confira à norma, ainda que, com 
intuito de preservar a igualdade entre as partes, fere o art. 4º, da Lei 1.060/50, e, ainda, o 
mandamento constitucional insculpido nas normas do art. 5º, inc. LXXIV e art. 134, da 
Constituição, além de criar uma nova função atípica do Defensor Público, “atuação na 
área cível adstrita à outra parte estar patrocinada por advogado ou em função de sua 
qualidade: pessoa jurídica ou firma individual”. 
A intenção do legislador foi nobre ao prever a instituição de um órgão de 
assistência judiciária junto aos Juizados Especiais Cíveis, buscando preservar a 
igualdade formal e substancial na relação jurídica processual, mas tal norma não pode 
assoberbar a tão vasta atuação do Defensor Público, sob pena, até mesmo, de desnaturar 
sua função na área cível. Neste sentido, leciona Paulo Cezar Carneiro: 
 
É importante destacar aqui a preocupação do legislador com a igualdade 
material, visando a um adequado equilíbrio técnico entre as partes durante o 
processo. Assim, não bastará que o juiz alerte a parte sobre a necessidade de 
ser assistido por advogado, ou mesmo nomeie um defensor dativo para tanto, 
é preciso antes de tudo que o desempenho do representante seja 
razoavelmente valioso, de sorte a permitir o equilíbrio preconizado pela lei. 
(CARNEIRO, 2003, p. 106-107). 
 
Dessa forma, o legislador infraconstitucional previu que a assistência judiciária 
deve ser prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local. 
Assim, a lei estadual deverá prever, destarte, a instituição do órgão prestador de 
assistência judiciária junto aos Juizados Cíveis para os fins do art. 9º, § 1º, Lei 9.099/95 
e art. 41, § 2º do mesmo diploma legal. A lei que disciplina os Juizados Especiais Cíveis 
e Criminais no Estado do Rio de Janeiro, é a Lei n.º 2.556 de 21 de maio de 1996, não 
disciplina a assistência judiciária junto aos Juizados Especiais Cíveis. 
A assistência judiciária perante os Juizados Especiais Cíveis é prestada através 
de serviços jurídicos de membros integrantes dos próprios Juizados Especiais, ou de 
acadêmicos de direito, na elaboração de petições iniciais sem assinatura conjunta com o 
legitimado ativo, que, por não poderem exercer a advocacia e, assim, estão impedidos 
de atuar em audiências, assim como na interposição de recurso inominado que exige a 
capacidade postulatória genérica conferida ao advogado (CARNEIRO, 2003, p. 107). 
Dessa forma, a assistência jurídica gratuita perante os Juizados Especiais Cíveis 
representa um reclamo atual e inafastável do acesso à justiça, compreendendo o 
aconselhamento inicial do jurisdicionado até a satisfação de seus direitos judicialmente 
reconhecidos. 
Entretanto, abre-se um parêntese para assinalar que, “a assistência judiciária não 
deve ser confundida com Defensoria Pública”. A assistência jurídica integral e gratuita 
aludida no art. 5º, inc. LXXIV da Constituição Federal de 1988, abrange o “conceito de 
assistência judiciária por envolver os serviços jurídicos não relacionados diretamente 
com a atividade processual, abrangendo serviços de orientação jurídica, aconselhamento 
ou informação dos direitos à comunidade” (MARTINS, 2009). 
De acordo com Pontes de Miranda, a assistência judiciária é a "organização 
estatal, ou paraestatal, que tem por fim, ao lado da dispensa provisória de despesas, a 
indicação de advogado. É instituto de direito administrativo" (PONTES DE MIRANDA 
apud BARBOSA MOREIRA, 2000, p. 50). 
 
A assistência judiciária abrange o patrocínio gratuito da causa por advogado. 
Trata-se de um serviço público organizado que pode ser desempenhado por entidades 
não estatais, conveniadas ou não com o Poder Público. Assim, não se pode entender por 
assistência judiciária apenas o órgão estatal. Deve ser tido como assistência judiciária 
todo agente que tenha por finalidade principal a prestação do serviço que o faça com 
frequência por determinação judicial ou mediante convênio com o Poder Público. 
Advogados dativos que comfrequência desempenhem o mister podem ser considerados 
como integrantes da Assistência Judiciária (CARNEIRO, 2003, p. 108). 
Pode-se afirmar, portanto, que: 
A assistência jurídica aos carentes de recursos se faz cumprir através da 
Defensoria Pública, pelo fato de ser a Defensoria Pública uma instituição que 
conjuga a acessibilidade econômica com a acessibilidade técnico-jurídica, 
prestando assistência jurídica integral e gratuita (MARTINS, 2009). 
 
Alerta-se para o fato de que, o legislador infraconstitucional não pode trazer 
nova atribuição ao Defensor Público que contrarie o mandamento constitucional 
insculpido no art. 134 da Carta Magna, sob pena de inconstitucionalidade. Assim, o 
Defensor Público não poderá ser nomeado para o patrocínio da parte pelo simples fato 
de o adversário estar assistido por profissional ou mesmo ser pessoa jurídica ou firma 
individual, eis que a atuação do Defensor Público na esfera cível encontra-se adstrita à 
carência jurídica nos termos do art. 4º da Lei n.º 1.060/50. 
O defensor público natural, atuará, sim, designado para atuação perante os 
Juizados Especiais Cíveis na defesa de seus assistidos, estejam ou não os adversos 
assistidos por advogado ou sejam pessoas naturais ou jurídicas, se estes afirmarem a 
hipossuficiência nos termos da lei de regência (ROBERT, 2002, p. 79). 
 
4.3 Considerações sobre a defesa no devido processo legal 
 
Inicialmente, relembre-se que, como meio civilizado de solução de litígios, o 
processo é um instrumento da jurisdição, ou melhor, do Poder Judiciário, o qual, sendo 
um dos poderes do Estado brasileiro, tem sua razão de existir diretamente vinculada ao 
dever não só de “auxiliar na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”, mas 
também de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
 
idade e quaisquer outras formas de discriminação”, segundo previsto pelo art. 3º, incisos 
I e IV, da Constituição Federal de 1988. 
O princípio do devido processo legal representa a justiça social, pois, a 
jurisdição é praticada mediante a instauração de um processo adequado a cada caso 
concreto. Jurisdição e processo são dois institutos indissociáveis. O direito à jurisdição 
é, também, o direito ao processo, como meio indispensável à realização da Justiça. Por 
isso, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5°, inc. XXXV, assegura aos cidadãos 
o direito ao processo como uma das garantias individuais. 
Diante desta afirmativa, é bom lembrar que todo processo, por mais simples que 
seja, precisa estar cercado de princípios que lhe dêem a devida garantia legal. Há os 
tradicionais princípios do “processo legal”, sem os quais este não se reveste da 
necessária legalidade e que podem inclusive ensejar possíveis nulidades. No entanto, os 
princípios não deixam de ser regras fundamentais que devem ser observadas e 
cumpridas com o intuito de dar orientação ao processo legal. 
Neste sentido, Joel Dias Figueira Jr., afirma que: 
 
Os princípios processuais são um complexo de todos os preceitos que 
originam, fundamentam e orientam o processo. Esses princípios podem ser 
doutrinariamente divididos em duas espécies: informativos e gerais. Os 
informativos representam o caráter ideológico do processo, como objeto 
principal da pacificação social, influenciando jurídica, econômica e 
socialmente, os quais transcendem a norma propriamente dita, à medida que 
procuram nortear o processo pelo seu fim maior e ideal precípuo. Os 
princípios gerais do processo, também conhecidos por fundamentais, são 
aqueles previstos, de maneira explícita ou implícita, na Constituição e na 
legislação infraconstitucional, como fontes norteadoras da atividade das 
partes, do Juiz, do Ministério Público, dos auxiliares da Justiça, da ação, do 
processo e do procedimento (FIGUEIRA JÚNIOR, 2001, p. 45). 
 
 
O devido processo legal está consubstanciado no art. 5º, inciso LIV, da 
Constituição Federal de 1988 quando afirma que “ninguém será privado da liberdade ou 
de seus bens sem o devido processo legal”, sendo, portanto, um meio para a realização 
da ordem jurídica justa. 
Sua origem encontra-se no artigo 39 da Magna Carta, de 1215. A primeira 
expressão a designar o seu conteúdo foi “by the law of the land”, ou seja, “as 
restrições a direitos naturais”, poderiam somente ser realizadas mediante a autorização e 
no limite aos costumes aceitos pela "common law". Posteriormente, em 1354, com 
 
conteúdo exatamente igual, a denominação evoluiu para "due process of law", ou seja, 
“ninguém poderá ser condenado sem o processo previsto em lei” (CARVALHO, 2000, 
p. 42). Logo, compreende-se como um conjunto de garantias constitucionais 
correlativas ao direito ao processo, que, por sua vez, é subdividido em direito à ação e 
direito de defesa. 
 
O direito à ação é um direito público subjetivo de invocar a tutela 
jurisdicional, ou, de outra forma, direito público subjetivo cujo exercício pelo 
titular de um interesse abstratamente tutelado pelo ordenamento jurídico 
provoca a jurisdição, que, por sua vez, será exercida através do processo 
(FÜHRER, 2008, p. 54). 
 
Para os defensores da ação como direito concreto à tutela jurisdicional, este 
direito público subjetivo, embora diverso do direito material lesado, só existe quando 
também exista o próprio direito material a tutelar. A ação seria, então, o direito à 
sentença favorável, isto é, o direito público voltado contra o Estado, de obter uma 
proteção pública para o direito subjetivo material. Seus grandes defensores foram, entre 
outros, Wach, Bülow, Hellwig e Chiovenda. 
A partir, porém, de Degenkolb (Alemanha, 1877) e Plósz (Hungria) a doutrina 
dominante passou a ver na ação um direito abstrato de agir em juízo. 
Para essa teoria, o direito de ação é o direito à composição do litígio pelo Estado, 
que, por isso, não depende da efetiva existência do direito material da parte que 
provoca a atuação do Poder Judiciário. Mesmo quando a sentença nega a 
procedência do pedido do autor, não deixa de ter havido ação e composição da lide. 
É, assim, suficiente, para o manejo do direito público de ação, que o autor 
invoque um interesse abstratamente protegido pela ordem jurídica. 
 
É com referência a esse hipotético direito do autor que o Estado está obrigado 
a exercer a atividade jurisdicional e a proferir uma decisão, que tanto poderá 
ser favorável como desfavorável. "Sendo a ação dirigida ao Estado, é ele o 
sujeito passivo de tal direito (ARAÚJO CINTRA; GRINOVER; 
DINAMARCO, 2001, p. 252). 
 
 
Daí por que, modernamente, prevalece a conceituação da ação como um direito 
público subjetivo exercitável pela parte para exigir do Estado a obrigação da prestação 
 
jurisdicional, pouco importando seja esta de amparo ou desamparo à pretensão de quem 
o exerce. É, por isso, abstrato. E, ainda, é autônomo, porque pode ser exercitado sem 
sequer relacionar-se com a existência de um direito subjetivo material, em casos como o 
da ação declaratória negativa. É, finalmente, instrumental, porque se refere sempre a 
decisão a uma pretensão ligada ao direito material (positiva ou negativa) (ARAÚJO 
CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2001, p. 252). 
Quanto ao direito de defesa é conceituado como o "direito à adequada resistência 
às pretensões adversárias" (ARAÚJO CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2001, p. 
252), sendo observado desde os primórdios da civilização, havendo a sua 
consubstanciação, inclusive, na Bíblia Sagrada encontra-se em Gênesis, 3:9 c. 3, v. 9: 
"Mas o Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: 'Onde estás?'" e no Evangelho de 
São João, c. 7, v. 51: "Condena acaso a nossa Lei algum homem, antes de o ouvir e 
conhecer o que ele faz ?" (ALMEDA, A Bíblia Sagrada, 2005). 
Tem-se, pois, que o princípio do devido processo legal como conjunto de 
garantias constitucionais, determina o procedimento adequado, ou seja, aquele

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