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CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL O PAPEL DA DEFENSORIA PÚBLICA JUNTO AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS BEATRIZ LEÃO VAZ RIO DE JANEIRO 2012 O PAPEL DA DEFENSORIA PÚBLICA JUNTO AOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS Apresentação de monografia ao Curso de Direito Processual Civil como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Processual Civil. Rio de Janeiro 2012 RESUMO Vive-se atualmente sob uma tradição social e de poder que não existe preocupação com o carente, com aquele que marginaliza os que não têm um mínimo para a sobrevivência, os considerados cidadãos de segunda classe. Dentre as aspirações, se destaca, como direito relevante reconhecido aos homens, o direito de invocar o exercício da jurisdição, ou, de outra forma, o direito de postular a prestação jurisdicional visando à solução de conflitos de interesse, resultando dele a viabilização dos demais direitos reconhecidos e tutelados pelo ordenamento jurídico, que deve ser estendido aos hipo-suficientes econômicos. Indaga-se, então, se a defesa dos interesses de qualquer parte perante justiça não é diferente e quem pode pagar ou quem não poderá pagar. A garantia constitucional de que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos é o marco inicial do exame da importância do trabalho desenvolvido pela Defensoria Pública. Ressalte-se que a criação dos Juizados Especiais Cíveis e sua disciplina jurídica encontram-se pautadas nos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade previstos pelo art. 2°, da Lei n.º 9.099/95. Diante desses critérios norteadores, o legislador previu a possibilidade de em causas com valores inferiores a 40 salários mínimos, a parte comparecer perante o Juizado Especial Cível e demandar sem assistência de um advogado. Há de se atentar também, para prerrogativas da Defensoria Pública, entre outras, quanto ao prazo em dobro e intimação pessoal. Palavras-chave: Defensoria Pública – Juizado Especial Cível – Recursos. SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................08 1 TRAÇOS HISTÓRICOS DA DEFENSORIA PÚBLICA.....................................10 1.1 O perfil do Defensor na História...............................................................................10 1.2Traços históricos da Defensoria Pública no Brasil.....................................................11 2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS........................................................................ 14 2.1 Conceituação.............................................................................................................14 2.2 Da atuação.................................................................................................................16 2.3 Dos assistidos............................................................................................................17 2.4 Organização da Defensoria Pública...........................................................................21 3 O PAPEL DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA FUNÇÃO DE DEFENSOR PÚBLICO............................................................................................... 25 3.1 O que se entende por princípio..................................................................................25 3.2 Sobre o princípio da igualdade..................................................................................26 3.3 Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa.........................................................28 3.4 Das garantias e prerrogativas dos Defensores Públicos............................................29 4 ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: DEFESA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL........................................... 33 4.1 Critérios que orientam a Lei n.º 9.099/95.................................................................33 4.2 Os Juizados Especiais Cíveis e a atuação do Defensor Público................................34 4.3 Considerações sobre a defesa no devido processo legal............................................37 4.4 Conceito de recurso...................................................................................................46 4.5 Os recursos no Juizado Especial Cível......................................................................48 4.6 A Sistemática dos Recursos no Juizado Especial Cível e a Violação ao Princípio do Duplo Grau de Jurisdição............................................................................50 CONCLUSÃO............................................................................................................... 55 REFERÊNCIAS............................................................................................................60 INTRODUÇÃO Pretende-se no presente trabalho abordar o tema “O papel dos Juizados Especiais Cíveis junto à Defensoria Pública”, com base no espaço aberto pela Constituição Federal de 1988, o Código de Processo Civil, bem como sua atuação perante os Juizados Especiais Cíveis, Lei n.º 9.099/95, quando da defesa dos seus assistidos, sejam pessoas naturais ou jurídicas, caso estes venham afirmar a hipossuficiência nos termos da lei vigente. Como se sabe, a Defensoria Pública é uma instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, tendo como incumbência a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados. Até os dias de hoje se encontra em vigor, a Lei n.º 1.060/1950, com algumas alterações, culminando com a promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e com alterações em alguns dispositivos pela Lei Complementar n.º 80, de 1994 que organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados. Saliente-se, contudo, que no dia 07 de outubro de 2009, a Lei Complementar nº 132, altera alguns dispositivos da Lei Complementar n.º 80/94 e da Lei nº 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, dando outras providências. É neste sentido que se objetiva interpretar, em linhas gerais, a importância do órgão da Defensoria Pública, prevista pelo artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988, segundo as disposições do artigo 134 da Carta Maior, bem como sua atuação perante os Juizados Especiais Cíveis, quando da defesa dos necessitados, considerados na forma da lei. Pode-se afirmar que a Defensoria Pública é uma das instituições essenciais à função jurisdicional do Estado, e considerada responsável em todos os graus de Jurisdição, por aqueles que necessitam de orientação, bem como pela defesa jurídica do auxílio da Justiça. Constata-se, assim, que a Constituição Federal de 1988, tem o dever de oferecer assistência jurídica integral e gratuita a todos àqueles que não podem pagar honorários de advogados e custas de processo, serviço esse, imposto à União, aos Estados e ao Distrito Federal e que por isso mesmo, vem constituir um direito fundamental de todo cidadão, devendo ser prestado diretamente pelo poder público, através da Defensoria Pública. Destaque-se, ainda, que a criação dos Juizados Especiais Cíveis e sua disciplina jurídica encontram-se no art. 2°, da Lei n.º 9.099, de 26 de agosto de 1995. Dessa forma, o legislador previu, diante dos critérios norteadores, a possibilidade de, em causas com valores inferiores à quarenta salários mínimos, a parte comparecer perante o Juizado Especial Cível e demandar sem a assistência deum advogado. Justifica-se a escolha do tema a partir da observação de que dentre as aspirações se destaca como direito relevante, reconhecido aos homens, o de invocar o exercício da jurisdição, ou, de outra forma, o direito de postular a prestação jurisdicional visando a solução de conflitos de interesse, resultando dele a viabilização dos demais direitos reconhecidos e tutelados pelo ordenamento jurídico, que deve ser estendido aos hipossuficientes econômicos. Baseados, justamente na afirmativa de que a Defensoria Pública é responsável pela orientação e pela defesa jurídica dos necessitados, é que se encontra o cerne do problema e, que por sua vez, procurará resposta no decorrer da pesquisa que ora se inicia. A pesquisa se baseará nos métodos descritivo e exploratório por se tratar de métodos de abordagem, constituídos de procedimentos gerais que norteiam o desenvol- vimento das etapas fundamentais de uma pesquisa científica. A técnica utilizada será a qualitativa que servirá para apresentar, demonstrar, comparar ou reforçar as idéias do tema em questão, tendo em vista que exigirá respaldo teórico fornecido por meio de informações colhidas pela literatura específica sobre o tema em questão. Julga-se, portanto, a importância em realizar um estudo sobre o tema proposto, para que se possa oferecer subsídios concretos para uma interpretação e aplicação corretas da legislação em vigor. A partir daí, será dado prosseguimento à pesquisa onde serão elaborados os capítulos, que, para melhor compreensão didática, estarão interligados na seqüência dos temas e como conclusão, o trabalho deverá ter alcançado a primazia do esclarecimento acerca do papel da Defensoria Pública junto aos Juizados Especiais Cíveis com base na doutrina, na legislação e na opinião de autores balizados no assunto. 1 TRAÇOS HISTÓRICOS DA DEFENSORIA PÚBLICA 1.1 O perfil do Defensor na História A figura do Defensor surgiu nos tempos antigos, tendo como preocupação primordial, a questão da assistência aos menos favorecidos da sociedade. Sob o ponto de vista de registro histórico, a figura do Defensor Púbico encontra suas origens na Antiguidade Clássica, antes mesmo da era Cristã, tendo como principal preocupação, a defesa dos pobres em Juízo (ALVES, 1998, p. 265). Destacando-se, nesse período, o Código de Hamurábi, documento da antiga Mesopotâmia que significa Mestre do Povo e é considerado o texto literário mais antigo, cerca de 3000 antes de Cristo, na cidade de Ur, Caldéia, atual Mesopotâmia. O Código foi escrito na língua Sumeri. (BONZON, 2000, p. 19). Entretanto, a primeira iniciativa de ordem legal é atribuída a Constantino (288- 337), para depois ser incorporada na legislação de Justiniano (483-565), e que consistia em “dar defensor a quem não possuísse meios de fortuna para constituir patrono” (BASTOS, 2005, p. 374). Na Grécia, após a apresentação da acusação das provas e prestado o juramento, o Arconte analisava a seriedade da acusação e designava o Tribunal competente. Ao tempo da Constituição de Sólon, havia o triobolon, quantia que era percebida pelos juízes dos litigantes e que se destinavam ao custeio de sua manutenção (ALTAVILA, 1980, p. 43). No dia do julgamento, a acusação era quem primeiro falava, inquirindo suas testemunhas, em seguida a defesa. Os autores afirmam que romanos e gregos distinguiam os delicta publica dos delicta privata. No período da Monarquia Romana, o rei era o único magistrado vitalício, tendo como auxiliares os duouiri perduellionis (juízes nos casos de crime de traição ao Estado) e os quaetores parricidio (juízes nas hipóteses de assassínio voluntário de um pater, isto é, de um chefe de família); e nas infrações religiosas os membros do Colégio dos Pontífices, dos Argures e dos Feciais (ALTAVILA, 1980, p. 43). Nessa época o acusado não tinha nenhuma garantia, nem havia limites ao arbítrio dos juízes. Esse processo era denominado cognitio, e moderava o poder do juiz, o que fez com que surgisse a Lex Valeria Provocatione, que passou a facultar ao acusado recorrer da decisão para o povo reunido em comícios. Na época da República Romana, a defesa já era mais efetiva, tendo o acusado o mesmo prazo de defesa que a acusação, havendo a réplica e a tréplica. Com a Revolução Francesa, a defesa era nula durante a instrução probatória, só havendo contraditório na fase de julgamento. Com o Código Australiano de 1873, o acusado fazia-se acompanhar de seu defensor, podendo com ele converter, conferenciar na presença de um funcionário da Justiça. Em 1817, o Código Alemão admitia que o imputado fosse acompanhado de um defensor em qualquer fase do processo, contudo, a defesa só era obrigatória em casos graves e especiais. 1.2Traços históricos da Defensoria Pública no Brasil Foi nas Ordenações Filipinas que a Assistência Judiciária teve origem no Brasil, tendo vigência no país até o Código Civil de 1916, onde era previsto, em seu livro III, Título 84, § 1º, o benefício da Assistência Judiciária. Em consonância com Cleber Francisco Alves e Marília Gonçalves Pimenta o Título 84 registrava que: Em sendo agravante tão pobre que jure não ter bens móveis, nem de raiz, nem por onde pague o agravo, e dizendo na audiência uma vez Pater Noster pela alma del Rey Don Diniz, ser-lhe-á havido, como que pagasse os novecentos réis, contanto que tire de tudo certidão dentro do tempo, em que devia de pagar o agravo (ALVES; PIMENTA, 2004, p. 92). Com a proclamação da República, o Ministro da Justiça foi autorizado através do Decreto n.º 2.457, de 8/2/1897, a formulação das comissões no sentido de criar um sistema de assistência judiciária no Brasil. Os requisitos para os benefícios dessa gratuidade de justiça estavam previstos no referido Decreto, determinando que: Pobre era toda pessoa que, tendo direitos a fazer valer em juízo, estivesse impossibilitada de pagar ou adiantar as custas e despesas do processo sem privar-se de recursos pecuniários indispensáveis para as necessidades ordinárias da própria manutenção ou da família (CAMPO, 2002, p. 6). Entretanto, com a promulgação do Código Civil de 1916, houve uma introdução nos Estatutos processuais estaduais, de princípios de Assistência Judiciária nos estados da Bahia, São Paulo e Minas Gerais. Entretanto, não havia, como hoje, um sistema processual unificado, mas, um Código Civil brasileiro e cada Estado tinha seu Código de Processo. Registre-se, outrossim, que com a criação da Ordem dos Advogados do Brasil, através do Decreto n.º 19.408 e seu posterior regulamento mesmo no ano de 1930, Decreto n.º 20.784, trouxe a disciplina de uma assistência judiciária caritativa e obrigatória para os advogados, inserida nos artigos 91 a 93 do referido regulamento. Nesse caso, o Estado se negava a prestar por sua conta a Assistência Judiciária, dever- função que a ele competia. Como garantia constitucional, a assistência judiciária apareceu somente na Constituição de 1934, em seu art. 113, parágrafo 32, sendo excluída da Constituição do Estado Novo, mantendo-se a gratuidade como norma infraconstitucional, no Código de Processo Civil de 1939. A garantia retornou ao status de norma constitucional em 1946, no art. 141, parágrafo 35 (CAMPO, 2002, p. 6). A Lei n.º 1.060/1950, até hoje em vigor, com algumas alterações, culmina com a Promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e com a Lei Complementar n.º 80, de 1994. Antes, porém, a Constituição Federal de 1988, previu expressamente em seu artigo 5º, inciso LXXIV que a assistência jurídica integral e gratuita deveria ser prestada pelo Estado. Esse dever decorre do próprio princípio da Dignidade Humana, como fundamento da República Federativa do Brasil, inserto no artigo 1º, inciso III da Constituição. O Direito à vida, à liberdade, à intimidade,à imagem, e vários outros, são consequências imediatas do princípio fundamental da Dignidade da Pessoa Humana. O mesmo princípio é adotado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo a dignidade reconhecida como inerente a todos os membros da família humana e como fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo. Neste sentido, Alexandre de Moraes define a dignidade como sendo: Um valor espiritual e moral inerente a pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos (MORAES, 2004, p. 60). É óbvio que, para a efetivação dos Direitos Humanos deve ser concedida ao acusado a oportunidade de exercê-los, mesmo não existindo condições econômicas e financeiras para tanto, sendo por isto mesmo que a Defensoria Pública está inserida dentro do capítulo das funções essenciais à Administração da Justiça tendo, portanto, papel importante no Estado de Direito. Segundo afirma Guaraci de Campos Vianna, “sem os instrumentos capazes de proteger e efetivar a cidadania, esta seria utópica” (VIANNA, 1991, p. 104). A se fazer valer os direitos do homem, não se está defendendo apenas a pessoa, o cidadão, o criminoso, mas, acima de tudo, a lei, e mais, a certeza de que a lei será cumprida é interesse de todos, pois evita a possibilidade de cada indivíduo ser alvo de injustiças. 2 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS 2.1 Conceituação O Poder Judiciário passou na Constituição Federal de 1988, a ter uma participação ativa no processo democrático, especialmente com a sua presença mais efetiva na solução dos conflitos e ao ampliar a sua atuação com novas vias processuais, demonstrando preocupação voltada prioritariamente para a cidadania, através de instrumentos jurídicos, normas, preceitos e princípios que sinalizam a vontade popular de ter uma Justiça célere e distributiva. Desta feita, o art. 134 da Constituição Federal de 1988 coloca a Instituição da Defensoria Pública insculpida como essencial junto à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados. A Defensoria representa o Estado Democrático de Direito próximo e a serviço do cidadão. Representa o cuidado e a proteção jurídica dada pelo Estado ao cidadão humilde, que clama por Justiça e que já não tem forças, nem condições de pagar honorários advocatícios. Neste mesmo sentido, a atividade institucional do Defensor Público cinge-se à garantia da ampla defesa estabelecida no art. 5º, inc. LV da Carta Magna e à garantia do acesso à justiça pelos juridicamente hipossuficientes como previsto no mesmo art. 5º, inc. LXXIV, da Constituição. Em suma, a Defensoria Pública é considerada uma instituição essencial à função jurisdicional do Estado, ao mesmo tempo, responsável pela orientação e defesa jurídicas dos necessitados, em todos os graus de jurisdição. Nas palavras de José Afonso da Silva: A Constituição Federal impõe à União, aos Estados e ao Distrito Federal o dever inafastável de oferecer assistência jurídica integral e gratuita a todos aqueles que não podem pagar honorários de advogados e custas do processo. Tal serviço jurídico, que constitui um direito fundamental de todo cidadão e deve ser prestado diretamente pelo Poder público, através dos Defensores Público (SILVA, 2003, p. 586). Portanto, os Defensores Públicos exercem seu encargo no desempenho de funções típicas e atípicas, estando as primeiras atreladas ao princípio do acesso amplo e irrestrito à Justiça, ao princípio da igualdade e à prestação de assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados, e, mais, à afirmação de hipossuficiência, e as funções atípicas, atreladas ao princípio do contraditório, da ampla defesa, do devido processo legal e, assim, não se encontram vinculadas à hipossuficiência do assistido. Neste sentido, os Defensores Públicos são profissionais selecionados em concursos públicos, que lhes asseguram prerrogativas e deveres que visam o atendimento aos assistidos, de indiscutíveis qualidade e eficiência em todas as áreas do Direito, desde uma simples consulta jurídica, até a postulação de processos judiciais e administrativos. É dessa forma, que a ampla atuação dos defensores públicos abrange todos os órgãos jurisdicionais, desde os juizados especiais, juizados da infância da juventude e do idoso, varas cíveis, criminais, da família, da fazenda pública e todas as demais, até as instâncias superiores, Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal, onde há uma sala específica para a atuação dos Defensores Públicos. Desta feita, a Defensoria Pública tem destaque na defesa da área dos interesses difusos e coletivos da sociedade, notadamente na área de conflitos por terra, como assentamentos e loteamentos, e defesa dos consumidores. Na área cível, a função primordial do Defensor Público está adstrita ao compromisso com a classe economicamente menos favorecida, devendo, nesse caso, exercer seu encargo nos estritos limites conferidos pela Constituição Federal, pela Lei Federal n.º 1.060/50 e pela Lei Orgânica da Instituição. A atribuição do Defensor Público na área cível “defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, inc. LXXIV” (art. 134, Constituição Federal de 1988) é demasiadamente extensa, defrontando-se o profissional com um grande volume de trabalho, devendo, portanto, ater-se na esfera cível ao patrocínio do hipossuficiente. Observe-se que o mandamento constitucional é claro, isto é, busca atender aos necessitados nos termos do art. 5º, inc. LXXIV, da Constituição Federal de 1988. Neste ponto indaga-se, então, quais seriam os necessitados nos termos constitucionalmente firmados, obtendo-se como resposta dos Ministros do Supremo Tribunal Federal que apresentaram o magistral ensinamento, no seguinte acórdão: CONSTITUCIONAL. ACESSO A JUSTIÇA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA. LEI N.º 1.060/50 E CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º, LXXIV. I - A garantia do art. 5º, LXXIV - assistência jurídica integral e gratuita não revogou a de assistência judiciária gratuita da Lei 1.060/50, aos necessitados, certo que, para obtenção desta, basta a declaração, feita pelo próprio interessado, de que a sua situação econômica não permite vir a Juízo sem prejuízo de sua manutenção ou de sua família. Essa norma infraconstitucional põe-se, ademais, dentro do espírito da Constituição, que deseja que seja facilitado o acesso de todos à Justiça (CF, art. 5º, XXXV). II - R.E. não conhecido (Ementa do Acórdão no Recurso Extraordinário 205746/RS, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma). Depreende-se, portanto, que o acesso à justiça pelos economicamente excluídos exige do Estado uma efetiva participação no sentido de conferir meios materiais para que os excluídos socialmente não se revelem também excluídos juridicamente. A Defensoria Pública insere-se neste contexto como o órgão articulador das reivindicações jurídicas da classe oprimida socialmente e como instrumento de cidadania com o aconselhamento jurídico dos menos favorecidos. Verifica-se diante do exposto, ser indispensável a criação das Defensorias Públicas nos Estados que ainda não atendam à imposição constitucional, a exemplo de São Paulo, bem como o fortalecimento daquelas já existentes, adaptando a sua estrutura às determinações da Lei Complementar Federal n.° 80/94, que prevê a autonomia administrativa, financeira e orçamentária da Instituição. 2.2 Da atuação Como esclarecido anteriormente, o art. 134, da Constituição Federal de 1988, estabelece que a DefensoriaPública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, com a incumbência de prestar assistência jurídica, judicial e extrajudicial, integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma da lei. A Lei Complementar n.º 80, de 12 de janeiro de 1994, passou a organizar a Defensoria Pública Geral da União, do Distrito Federal e dos Territórios, trazendo os principais vetores para a estrutura e atuação das Defensorias Públicas nos Estados. Entretanto, com a promulgação da Lei Complementar nº 132, de 07 de outubro de 2009, são alterados alguns dispositivos da Lei Complementar nº 80/94. A Lei Complementar n. 132/2009 prevê: “Art. 1º - A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal. No art. 4º, a lei dispõe em seu inciso I, que será prestada orientação jurídica, bem como será exercida a defesa dos necessitados, em todos os graus, complementado pelo inciso X que “promoverá a mais ampla defesa dos direitos fundamentais dos necessitados, abrangendo seus direitos individuais, coletivos, sociais, econômicos, culturais e ambientais, sendo admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva tutela”. Muitas vezes, a atuação dos Defensores Públicos tem início na fase extrajudicial, no aconselhamento e consultoria aos assistidos de forma a solucionar os conflitos de interesses sem a necessidade de interposição de ações judiciais. Ao ser proposta a ação judicial, o assistido da Defensoria Pública tem garantido a assistência judicial em todas as fases procedimentos de forma a lhe garantir a mais ampla defesa de seus interesses jurídicos. A prestação de assistência jurídica, nas causas patrocinadas pela Defensoria Pública, se dá em todas as áreas de atuação do judiciário e em todos os graus de jurisdição visando a garantir a ampla defesa e o devido processo legal como garantia do exercício de cidadania e direito individual consagrado no art. 5° da Constituição Federal de 1988. Por força de mandamento Constitucional, a instalação da Defensoria Pública é dever do Estado e direito fundamental do indivíduo (Informativo da ANADEP – Associação Nacional dos Defensores Públicos, 2004). 2.3 Dos assistidos Como se vem afirmando, fazem jus aos serviços da Defensoria Pública as pessoas necessitadas financeiramente. Necessidade, neste aspecto, não se confunde com miserabilidade. Com efeito, não é só o miserável, o indigente, que faz jus à Defensoria Pública. Em algumas unidades federativas do país, anterior à promulgação da Carta Constitucional em vigor, o Poder Público, muitas vezes de forma precária, já prestava a Assistência Judiciária regulamentada pela Lei n.° 1.060/50. O art. 2º, do mesmo Diploma Legal, considera como necessitado, “todo aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas processuais e os honorários advocatícios em prejuízo do sustento próprio e de sua família”. Isso quer dizer que largos setores da classe média, crescentemente depauperada, podem recorrer aos préstimos da Defensoria Pública, como de fato vem recorrendo (NEDER, 2002). Ressalte-se, que não só a pessoa física pode ser atendida pela Defensoria, como também, as pessoas jurídicas em dificuldades financeiras, como as micro-empresas, podem se valer do patrocínio do Defensor Público. Do mesmo modo as sociedades sem fins lucrativos, desde que declarem insuficiência de recursos. Vale ressaltar, ainda, que estão afetas à Defensoria Pública algumas atribuições reputadas como atípicas, ou seja, desvinculadas da situação econômica do assistido. Na área criminal, por exemplo, se o réu não constituir advogado, mesmo tendo recursos para tanto, a atuação do Defensor Público é obrigatória para defesa, já que esta é indisponível no processo penal. Em casos assim, a intervenção da Defensoria Pública verifica-se para que sejam respeitados valores constitucionais de grande magnitude, como é o caso da ampla defesa e do contraditório. Como se observa, a Carta Magna de 88, no art. 5°, inciso LXXIV, trouxe não só a promessa do acesso universal à Justiça, presente nas demais Constituições pátrias, como, principalmente, a ordem para a efetiva institucionalização da Defensoria Pública em todo o território nacional. Atenta à necessidade de conceder a assistência jurídica integral, estendeu a atuação do Defensor Público ao âmbito extrajudicial e, no judicial, a todos os graus e instâncias do Poder Judiciário. Assim, ao configurar esse direito individual que permite a equalização ou igualdade das condições dos desiguais perante a Justiça, diz o artigo 5°, inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988 in verbis: "O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos." Este direito fundamental da cidadania é, pois, materializado pela Defensoria Pública, consoante o determinado pelo artigo 134 da Carta Magna de 1988, nos termos abaixo transcritos: A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5°, inc. LXXIV. Parágrafo único. Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, por concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. Vê-se, portanto, que o dever do Estado de prestar assistência jurídica aos necessitados é exercitado, como encargo público, em caráter de exclusividade pela Defensoria Pública. Segundo informa José Afonso da Silva: Tal afirmação não elide o exercício, a nível suplementar, da advocacia dativa, praticada por profissional liberal, que, no entanto, ao contrário do que ocorre com o Defensor Público, não possui o dever legal de exercê-la. Com efeito, nada pode ser mais diversa que a situação do Defensor Público e a do Advogado. É inconteste que todas as Funções Essenciais à Justiça (conforme foram denominadas pela Constituição Federal, a Advocacia e as Instituições da Defensoria Púbica, do Ministério Público e da Advocacia-Geral) possuem um radical comum. São carreiras ou profissão - esta, no caso da Advocacia - de cunho nitidamente postulatório, essenciais não só ao exercício da Função Jurisdicional do Estado, mas, como a realização da Justiça, abrangente da equidade, da legitimidade, da moralidade (SILVA, 2003, p. 194). Por outro lado, inerentes à natureza das suas atribuições constitucionais, esse radical comum observado entre as funções essenciais à Justiça não afasta as especificidades próprias a cada uma delas. Dessa forma, ao que diz respeito à Defensoria Pública em relação à Advocacia, a distinção já ocorre quanto a natureza pública de uma, e privada da outra. Estende-se, ainda, ao vínculo entre as partes e seus patronos, ou seja, para a Defensoria Pública é público-institucional; para a Advocacia, privado-contratual. É justamente, a partir do estabelecimento desse vínculo de natureza público- institucional que o Defensor Público assume, pela dicção da Constituição Federal, da lei infraconstitucional e pela investidura no cargo público, o dever e não a faculdade de assistir aos incontáveis cidadãos economicamente necessitados que a ele recorrem e, mais ainda, aos revés e aosque não constituíram advogados para a defesa dos seus direitos indisponíveis. Com efeito, é indiscutível que num País onde a estrutura político-social se revela profundamente injusta para a esmagadora maioria de seus cidadãos - cada vez mais alijada do exercício dos seus direitos de cidadania e do acesso aos bens e serviços produzidos socialmente - imensa tarefa recai sobre os ombros da Defensoria Pública. Sobre a grandeza dessa missão, José Afonso da Silva saúda a criação da Instituição, pela Carta de 1988 e ressalta: Os pobres têm acesso muito precário à Justiça. Carecem de recursos para contratar bons advogados. O patrocínio gratuito se revelou de alarmante deficiência. A Constituição tomou, a esse propósito, providência que pode concorrer à eficácia do dispositivo segundo o qual o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita para os que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5°, inc. LXXIV). Referimo-nos à institucionalização das Defensorias Públicas, a quem incumbirá a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV (art. 134). Quem sabe se fica revogada, no Brasil, a persistente frase de Ovídio: Cura pauperibus clausa est, ou as Defensorias Públicas federal e estaduais serão mais uma instituição falha? Cabe aos Defensores Públicos abrir os tribunais aos pobres, é uma missão tão extraordinariamente grande que, por si, será uma revolução, mas, também se não cumprida convenientemente será um aguilhão na honra dos que a receberam e, porventura, não a sustentaram (SILVA, 2003, p. 195). Afirma, ainda, o autor: A igualdade perante a Justiça, assim, exige a busca da igualização de condições dos desiguais, o que implica conduzir o juiz a dois imperativos como observa Ingber: ‘de um lado, cumpre-lhe reconhecer a existência de categorias cada vez mais numerosas e diversificadas, que substituem a idéia de homem, entidade abstrata, pela noção mais precisa de indivíduo caracterizada pelo grupo em que se insere de fato; de outro, deve ele apreciar os critérios de relevância que foram adotados pelo legislador’. É essa doutrina que orienta o principio da igualdade da justiça na imposição da pena para o mesmo delito. Seria injusto fosse aplicada a mesma pena sempre em atendimento a uma igualdade abstrata. Aplicando-se matematicamente a mesma pena para o mesmo crime, que, por regra, é praticado em circunstâncias diferentes, por pessoas de condições distintas. (...) Para que tal abstração não ocorra é que, além das circunstâncias agravantes se impõe a regra da individualização da pena (art. 5°, XLVI). Mas ainda é certo que as profundas diferenças de condições materiais não se igualizam por essas poucas regras de justiça penal. É muito difundida a idéia de que cadeia é só para os pobres (SILVA, 2003, p. 196). A isonomia formal e a material são distintas, ensina o autor: A afirmação do art. 1° da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão cunhou o princípio de que os homens nascem e permanecem iguais em direito. Mas aí se firmara a igualdade jurídica e formal no plano político de caráter puramente negativo, visando a abolir os privilégios, isenções pessoais e regalias de classe. Esse tipo de igualdade gerou as desigualdades econômicas porque fundada " numa visão individualista do homem, membro de uma sociedade liberal relativamente homogênea. (INGBER, L'Égalité, destacou-se). Constata-se, portanto, que as Constituições brasileiras, desde a época do Império, já inscreviam o princípio da igualdade, como igualdade perante a lei, enunciado que, na sua literalidade, se confunde com a mera isonomia formal, no sentido de que a lei e sua aplicação trata a todos igualmente, sem levar em conta as distinções de grupos (SILVA, 2003, p. 196). Nos termos do caput, do art. 5°, a compreensão do dispositivo vigente, não deve ser assim tão estreita como acima exposto. O intérprete haverá de aferi-lo com outras normas constitucionais, conforme apontado supra e, especialmente, com as exigências da justiça social, objetivo da ordem econômica e da ordem social. Diante de tais premissas, o Congresso Nacional aprovou a Lei n.° 7.871, de 1989, introduzindo ao artigo 5° da Lei n° 1.050, de 1950, que tratava da Assistência Judiciária aos necessitados, dispondo o parágrafo 5°, que: "Nos Estados em que a Assistência Judiciária seja organizada e por eles mantida o Defensor Público ou quem exerça cargo equivalente será intimado pessoalmente de todos os atos do processo, contando-se-lhes em dobro todos os prazos." 2.4 Organização da Defensoria Pública Em atendimento ao comando do parágrafo único do artigo 134 da Constituição Federal de 1988, é que foi editada a Lei Complementar n.° 80, de 12 de janeiro de 1994, que trata da organização da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios, ao mesmo tempo, estabelecer normas gerais para sua organização nos Estados. Esta Lei Complementar veio normatizar a carreira do profissional da Defensoria Pública, em cargos providos, na classe inicial, por concurso público de provas e títulos, assegurando a seus integrantes a independência política, garantida pela estabilidade funcional, a inamovibilidade do órgão de atuação em que foi regularmente lotado e a irredutibilidade de seus vencimentos. Ao mesmo tempo em que veda ao Defensor Público o exercício da advocacia fora das suas atribuições institucionais. Por outro lado, a referida Lei, determina em seu art. 142, que os Estados realizem a adaptação de suas Defensorias Públicas em consonância com a normatividade dela, emanada no prazo de cento e oitenta dias de sua publicação, o que ocorreu a partir de 14 de janeiro de 1994, ou seja, até 11 de junho de 1994. No entanto, quando se trata de dar eficácia aos direitos da cidadania e, especialmente, aos direitos dos excluídos socialmente, infelizmente, pode-se afirmar que, após mais de uma década decorrida da promulgação da Carta Magna, e desde há muito vencido o prazo dado aos Estados, inúmeros são os Entes Federativos que descumprem o dever legal de assegurar, por meio da Defensoria Pública, assistência jurídica integral e gratuita àqueles que necessitam dessa assistência. Com base nessas premissas é que José Murilo Carvalho remete: O fortalecimento da Defensoria Pública, e a conseqüente possibilidade real de vivência em um Estado Democrático de Direito aponta o caminho para o necessário surgimento do sentimento público que tanta falta faz à cidadania. Ao se tomar conhecimento de tais limitações circunstanciais quanto à atuação da Defensoria Pública, visando-se à superação desses óbices ao exercício dos direitos fundamentais da cidadania e pretendendo-se tratar desigualmente os desiguais, dando-lhes as condições para superar essa desigualdade, é que o legislador infraconstitucional atribuiu, com exclusividade, ao Defensor Público ou a quem exercesse cargo equivalente nos Estados em que a Assistência Judiciária fosse organizada e por eles mantida, as prerrogativas da intimação pessoal e do prazo duplo (CARVALHO, 2003, p. 59). Tudo isso advém do fato de os cargos públicos sujeitarem-se para o seu provimento ao concurso público de provas ou de provas e títulos, conforme previsto no art. 37, inciso II, da Constituição Federal de 1988, o que, por si mesmo, distingue a situação do Defensor Público e de seus equivalentes, daquela do Advogado. Para tanto, faz-se necessário esclarecer a diferença fundamental entre a advocacia dativa e a Defensoria Pública: esta, diz respeito “ao compromisso institucional legal com acesso à justiça e o seu papel transformador e não, como ocorre com a advocacia dativa, que é o acesso ao judiciário”. Logo, a defesa técnica não é a função primeira do Defensor Público; esta é apenas “mais uma de suas possibilidades e prerrogativas viabilizadoras da efetividade do acesso à justiça aonecessitado” (CARVALHO, 2003, p. 59). A Defensoria Publica é, por conseguinte, responsável pela descoberta do verdadeiro problema que aflige o cidadão brasileiro excluído, e o diagnóstico inicial, isto é, o provocador da procura do Defensor. Tal descoberta é viabilizada por um atendimento digno, estruturado, inserido em uma verdadeira rede de cidadania, mediante estrutura humana e material na conformidade da determinação constitucional (CARVALHO, 2003, p. 59). Logo, o desempenho liberal da profissão advocatícia, baseada em vários julgados do Superior Tribunal de Justiça e, diante da inexistência da Defensoria Pública em muitas unidades federativas, confirma a validade das prerrogativas asseguradas ao Defensor Público pela Lei n.° 7.871/89, reafirmando que “cabe ao Estado arcar com os honorários dos nomeados para o exercício da advocacia dativa, na inexistência ou insuficiência do Defensor Público”. Sem dúvida alguma, infere-se que o parágrafo 5°, do artigo 5°, da Lei n.° 1.060/50, introduzido pela Lei n° 7.871/89 é absolutamente harmônico com a Carta Maior de 88, por tratar “desigualmente os desiguais”. E, mais, afirma Suely Pletz Neder: Esse dispositivo tem endereço certo e exclusivo, qual seja, o agente público que, por regular investidura no cargo público e pela dicção da Constituição e da lei infraconstitucional, tem o dever de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados, situação em todo diversa da do Advogado que possui a faculdade de exercer a advocacia dativa, consoante o reconhecido pela doutrina e a jurisprudência. (NEDER, 2002, p. 19). Assertiva esta, confirmada por Holden Macedo comentada por Eliane Rocha, quando o mesmo diz que: Sem a Defensoria Pública não há acesso à Justiça. Sem acesso à Justiça, o Poder Judiciário não pode dirimir os conflitos de interesses adotando a decisão mais justa para o caso e combatendo o abuso e a arbitrariedade. E sem uma decisão justa para os conflitos de interesses não há participação ativa e todos os indivíduos na vida do seu governo e do seu povo. Não há cidadania! Até quando vamos ficar alheios a esta realidade? (ROCHA, 2009). Infere-se, portanto, que é facultado, pela função institucional e essencial da Defensoria Pública, o acesso à justiça aos necessitados, sendo que ajuizar ações, representar judicialmente, é apenas um dos aspectos de sua atuação. Finaliza-se, em comum, com a opinião de Elaine Rocha que: A Defensoria Pública brasileira, com sua missão constitucional de garantir o acesso à justiça e a efetivação de direitos e liberdades dos necessitados, desponta no cenário nacional como uma das mais relevantes instituições públicas, essencialmente comprometida com a democracia, a igualdade e a construção de uma sociedade mais justa, livre e solidária (ROCHA, 2009). Em suma, os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil previstos pelo artigo 3º, são os seguintes: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdade sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem raça, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Saliente-se, portanto, que os direitos fundamentais representam situações jurídicas subjetivas, sem as quais a pessoa humana não sobrevive em uma determinada sociedade, ao mesmo tempo em que esses direitos correspondem a um conjunto de faculdades e instituições que, em dado momento histórico, garantem ao cidadão o respeito à dignidade, à liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas pelos ordenamentos jurídicos, em nível pátrio e internacional. Em suma, o homem em ação é livre, e o Estado, por sua vez, tem o dever de defendê-lo através do seu mecanismo judiciário. Somente o homem livre, na sua maior expressão, pode realizar-se como ser integral, uma vez que, sendo o homem a obra- prima da criação, deve ser valorizado integralmente. Visto por esse ângulo, e respeitados os valores morais e éticos que cada indivíduo traz em seu interior, talvez se possa observar o fim da colisão dos direitos fundamentais que fazem parte da vida do homem e da sociedade, e iniciar uma nova consciência quanto aos deveres que todos os homens têm diante da mesma sociedade. 3 O PAPEL DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NA FUNÇÃO DE DEFENSOR PÚBLICO 3.1 O que se entende por princípio Etimologicamente, o termo princípio se origina no latim principium, principii, por encerrar a idéia de começo, origem, base. Em linguagem leiga é, de fato, o ponto de partida e o fundamento, ou causa, de um processo qualquer. Sem dúvida, na sua origem etimológica, princípio sempre dá a idéia de começo ou o início de qualquer situação (CARRAZA, 2006, p. 33). A Bíblia, em Gênesis, no relato da criação do mundo, o narrador inicia essa expressão para situar como o mundo era ante da decisão do Criador. "No princípio, Deus criou os céus e a terra." Como se observa, a palavra princípio é termo análogo, isto é, suscetível de inúmeros sentidos, todos, porém, ligados pelo menos por um ponto de contato comum. Princípio é, antes de tudo, ponto de partida. "Princípios de uma Ciência" são as proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturações subsequentes. Neste sentido, princípios são os alicerces, os fundamentos da ciência. Paulo Nader contribui quanto ao tema afirmando que princípios constitucionais são “aqueles que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica” (NADER, 2005, p. 236). Entretanto, isto só é possível, na medida em que estes não objetivam regular situações específicas, mas sim desejam lançar a sua força sobre todo o mundo jurídico. “Os princípios alcançam esta meta à proporção que perdem o seu caráter de precisão de conteúdo”, isto é, conforme vão perdendo densidade semântica, eles ascendem a uma posição que lhes permite sobressair, pairando sobre uma área muito mais ampla do que uma norma estabelecedora de preceitos. Portanto, “o que o princípio perde em carga normativa ganha como força valorativa a espraiar-se por cima de um sem-número de outras normas”. O reflexo mais imediato de tudo isso, é o caráter de sistema que os princípios impõem à Constituição. Sem eles a Constituição se pareceria mais com um aglomerado de normas que só teriam em comum o fato de estarem juntas no mesmo diploma jurídico, do que com um todo sistemático e congruente. Dessa forma, afirma Paulo Nader, por mais que certas normas constitucionais demonstrem estar em contradição, esta aparente contradição deve ser minimizada pela força catalisadora dos princípios. E mais, opina o autor: Uma outra função muito importante dos princípios, é servir como critério de interpretação das normas constitucionais, seja ao legislador ordinário, no momento de criação das normas infraconstitucionais, seja aos juízes, no momento de aplicação do direito, seja aos próprios cidadãos, no momento da realização de seus direitos (NADER, 2005, p. 237). Em resumo, são os princípios constitucionais aqueles valores albergados pelo Texto Maior a fim de dar sistematização ao documento constitucional, de servir como critério de interpretação e finalmente, o que é mais importante, espraiar os seus valores, pulverizá-los sobre todo o mundo jurídico. 3.2 Sobre o princípio da igualdade A igualdade, desenvolvida a partir da idéia de justiça, era amplamente discutida no âmbito do pensamento clássico, em especial nas obras de Platão e Aristóteles. Com o cristianismo adquiriu nova dimensão, passando a ser concebida como igualdade de todos os homens perante Deus, pelo reconhecimento das qualidades inerentes ao ser humano, e não como igualdade de alguns homens perante a sociedade, pela participaçãodestes nos bens da vida (SARLET, 2000, p. 99). Considerando-se as diferenças entre os homens, nos aspectos físico e intelectual, decorrentes de fatores naturais ou sociais, tem-se que a igualdade absoluta jamais será alcançada, pois contraria a própria natureza humana. Essa concepção igualitária, na medida em que transforma o Estado totalitário, favorece a tirania e o despotismo, onde não raro aqueles que criticam as desigualdades sociais, vêm a formar uma classe dominante, que rejeita abertamente a igualdade. Foi assim, segundo observa Ingo Wolfgang Sarlet que, ao longo da história, o conceito de igualdade provocou posições extremas, observando-se que para os chamados nominalistas, a igualdade não passaria de um simples nome, significação real, pois a desigualdade é a característica do universo. Os "idealistas, ao contrário, postulam uma igualdade absoluta - o igualitarismo entre as pessoas -, ligada ao estado de natureza (Rousseau denominava desigualdade natural ou física, as diferenças estabelecidas pela natureza). Uma outra corrente, denominada realista, afirma que embora os homens sejam desiguais sob vários aspectos, devem ser descritos como seres iguais, considerada a essência de seres humanos (SARLET, 2000, p. 101). No atual contexto brasileiro, adotou-se nos textos constitucionais, a igualdade relativa, proporcional, e não o igualitarismo, pois só ela se coaduna com a ordem jurídica, sendo da essência do Direito tratar de modo diferente pessoas em diferentes situações. Assim é que as próprias Constituições brasileiras estabelecem distinções, classificações, disciplinando diferentemente situações distintas. Na verdade, o princípio da igualdade como “igualdade perante a lei”, estabelece que a lei e sua aplicação deve ser igual para todos, sem que leve em conta as distinções dos grupos sociais. A igualdade das partes advém da garantia constitucional da qual goza todo cidadão que é a igualdade de tratamento de todos perante a lei. Na lição de Manoel Gonçalves Ferreira Filho: A igualdade perante a lei, da Constituição em vigor traduz-se na igualdade de direitos, ou igualdade civil, segundo a qual todos os homens têm às mesmas possibilidades quanto a adquirir direitos, e não na igualdade de fato – ou real -, que garantiria a todos o igua1 exercício desses direitos. Enfatiza o mesmo autor, que o principio da igualdade insculpido em nossa Constituição não proíbe as diferenciações de tratamento, mas somente as arbitrárias, as discriminatórias (FERREIRA FILHO, 2001, p. 242). Este princípio se baseia no caput do artigo 5º da Carta Magna: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. O inc. I deste mesmo art. 5º diz que homem e mulher são iguais em direitos e obrigações, enquanto que o seu inciso XLI deixa bem claro que “a lei punirá qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais”. Portanto, a Constituição aborda com clareza a liberdade de consciência e de crença religiosa, assim como a convicção filosófica ou política (SARLET, 2000, p. 101). Enfim, para que a igualdade seja real, ela tem que ser relativa. Isto significa que as pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às peculiaridades existentes. 3.3 Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa A Carta Magna em seu artigo 5º, inc. LV, dispõe que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os recursos a ela inerentes”, perfazendo uma mesma garantia processual, pois não pode existir ampla defesa sem contraditório e vice-versa. O processo é instrumento de garantia constitucional, manifestando-se através da constatação da eficácia de uma defesa efetiva e pleno contraditório. No Brasil, o princípio do contraditório é dogma constitucional. O pleno exercício do contraditório é faculdade concedida às partes, que podem, querendo, deixar de exercê-lo amplamente por si próprias. Há casos em que a inatividade das partes é suprida, na medida em que, em tais circunstâncias, contraditório não é mera possibilidade, mas necessidade. Assim se faz no processo criminal, no qual o acusado será defendido mesmo que contra a sua vontade. Os princípios do contraditório e da ampla defesa se complementam, não existindo isoladamente. O processo é instrumento de garantia constitucional, manifestando-se através da constatação da eficácia de uma defesa efetiva e pleno contraditório. Percebe-se, que da mesma forma que há direito de ação, para o autor, há também, direito de defesa, para o réu. Preleciona Alexandre de Moraes acerca do tema: Por ampla defesa, entende-se o asseguramento que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de calar-se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do processo (par conditio), pois a todo ato produzido caberá igual direito da outra parte de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão que convenha, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor. (MORAES, 2000, p. 63). O respeito ao princípio da igualdade é necessário para a plena realização do contraditório, pois a paridade de armas e oportunidades é imprescindível, em razão disso exige-se a defesa técnica no processo, não podendo o acusado dela dispor. Nesse contexto surge a intervenção de uma assistência jurídica integral e gratuita para o acusado, muitas vezes exercida pela Defensoria Pública, em Estados que a carreira é instituída, afinal o artigo 133 da Constituição Federal dispõe que a Defensoria Pública é encarregada de prestar assistência integral e gratuita aos que dela necessitarem. Da mesma forma ocorre em casos da revelia de réus citados por edital, casos em que para a efetivação da ampla defesa e do contraditório é necessário a nomeação de curador especial para assumir a defesa. Como afirma Augusto Marcacini: O processo verdadeiramente contraditório só será encontrado na medida em que se possa afirmar, sem dúvidas, que somente a vontade inequívoca e livre de influências outras seja motivo a não participação efetiva da parte na relação processual (MARCACINI, 2001, p. 19). 3.4 Das garantias e prerrogativas dos Defensores Públicos No que concerne às garantias, dispõe a Constituição da República no parágrafo único do art. 134, que ao Defensor Público é assegurada a garantia da inamovibilidade (MARCACINI, 2001, p. 19). Sendo que essa mesma garantia está também assegurada nos artigos 34, 43 e 127 da Lei Complementar n.º 80/94, a qual acrescenta a “independência funcional no desempenho de suas atribuições, a irredutibilidade de vencimentos e a estabilidade”. Insta esclarecer que o termo inamovibilidade, significa que o Defensor Público não pode ser removido do seu órgão de atuação contra a sua vontade. Tal garantia permanece, inclusive, dentro da mesma Comarca, não podendo o Defensor Público ser removido do órgão de atuação do qual é titular para outro da mesma Comarca ou Fórum1. Aliás, a remoção compulsória prevista no artigo 50, § 1º, inciso III, da Lei n.º 80/94 é inconstitucional visto que a Constituição da República estabelece a inamovibilidade como garantia do Defensor Público, não prevendo nenhuma exceção para tal. Essas mesmas garantias constam do artigo 181, inciso II, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro. _________________ 1 Necessário esclarecer que é vedada a remoção compulsória,mas não a UNILATERAL e POR PERMUTA (artigo 35 da Lei n.º 80/94 e artigo 44, parágrafo único, Lei n.º 06/77). A referida garantia exclui os agentes políticos de qualquer ingerência em sua atuação. Assim, ao contrário da garantia dada ao Ministério Público e à Magistratura, para os quais a Constituição permite a remoção em caso de interesse público, a inamovibilidade dada à Defensoria Pública é “absoluta”. Contudo, a garantia da independência funcional, constitui um princípio institucional da Defensoria Pública, sendo que a irredutibilidade de vencimentos, é também assegurada aos membros da Defensoria Pública. Importante esclarecer que as reduções tributárias e previdenciárias efetivadas não violam tal garantia, da mesma maneira como aqueles descontos em razão de decisão judicial. Finalmente, tem-se a estabilidade, garantia assegurada pela Carta Constitucional a todos os Defensores Públicos, ou seja, após três anos de efetivo exercício do cargo, e, portanto, após o período de estágio probatório, o Defensor Público só poderá ser demitido por processo administrativo. A Constituição Estadual do Rio de Janeiro, estabelece em seu artigo 181, inciso I, alínea "g", que os Defensores Públicos só perderão o cargo em virtude de sentença judicial, o que caracteriza a vitaliciedade (ALVES; PIMENTA. 2005, p. 115). Assim sendo, para melhor exercerem sua função, devem os Defensores Públicos possuírem certas prerrogativas como as previstas nos artigos 44 e 128 da Lei Complementar n.º 80/94. Neste sentido, lembra Glauce Mendes Franco que: Prerrogativas são privilégios funcionais, normalmente conferidos aos agentes políticos ou mesmo aos altos funcionários, para a correta execução de suas atribuições legais. As prerrogativas funcionais erigem-se em direito subjetivo de seu titular, passível de proteção por via judicial, quando negadas ou desrespeitadas por qualquer outra autoridade. (FRANCO, 1992, p. 316). Como menciona, ainda, a autora: As prerrogativas dos Defensores Públicos devem ser determinadas pela natureza da função que exercem, sempre se enfocando a necessidade de proporcionar ao necessitado os mesmos meios e possibilidade que possam os poderosos obter à custa dos seus recursos financeiros (MEIRELLES, 2006, p. 74). Quanto à intimação pessoal do Defensor Público, saliente-se que deverá prevalecer mesmo nos processos administrativos, já que o Supremo Tribunal Federal manifestou entendimento no sentido da inaplicabilidade da prerrogativa no caso dos Juizados Especiais, em razão da celeridade exigida no procedimento especial.2 Entende- se, contudo, que mesmo nesses casos, a intimação pessoal do Defensor Público deve prevalecer, em virtude de que essa prerrogativa decorre da necessidade de exercer melhor a função prevista no artigo 134 da Carta Magna, ou seja, prestar Assistência Jurídica integral e gratuita. Ocorre, porém, que a Assistência Jurídica integral e gratuita está prevista dentro do rol de Direitos Individuais previstos no art. 5º da Carta Magna, inserido no Título dos Direitos e Garantias Fundamentais, decorrendo do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, princípio fundamental do Estado Democrático de Direito disposto no art. 1º, inc. III, da Constituição. Decorre, também, dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, contidos no art. 3º, dentre eles, aquele de erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais. Das Prerrogativas De maneira diferente, a criação dos Juizados Especiais está prevista no artigo 98 da Constituição da República, dentro do Capítulo referente ao Poder Judiciário, constante no Título IV sobre a Organização dos Poderes. Por isso, em caso de conflito de regras, deve prevalecer aquela norma principiológica, ou seja, aquela da Assistência Jurídica, bem como as prerrogativas dos agentes responsáveis pela sua prestação. De qualquer forma, entende-se que não se aplicam as referidas prerrogativas aos advogados dativos ou que tenham convênio com o Poder Público. Em consonância com Cleber Francisco Alves e Marília Gonçalves Pimenta: A prerrogativa de requisitar às autoridades públicas ou seus agentes, para a formulação de material probatório tem feito com que a doutrina afirme sobre a possibilidade do Defensor Público requisitar abertura de Inquérito Policial sem que isso venha a desrespeitar o dispositivo da Carta Magna que dá a legitimidade funcional ao Ministério Público para a propositura de Ação ___________________ 2O STF decidiu pela inaplicabilidade da prerrogativa da intimação pessoal aos Defensores Públicos nos Juizados Especiais, tendo o Relator Ministro Marco Aurélio sustentado o critério da especialidade para afastar a intimação pessoal no caso em julgamento. (STF – Habeas Corpus 76.915-RS Rel. Min. Marco Aurélio, noticiado no informativo 115). Penal Pública. Não esquecendo, ainda, que requisição significa ordem, que deve ser cumprida por seu destinatário, salvo quando flagrantemente ilegal. O desentendimento de requisição formulada por membro da Defensoria Pública no exercício de suas atribuições sujeita o seu destinatário às sanções penais e administrativas cabíveis (ALVES; PIMENTA. 2005, p. 118). Quanto à “desnecessidade de mandato” outorgado ao Defensor Público, afirma o autor, é uma prerrogativa que deriva do fato de que a natureza jurídica da representação do assistido em juízo decorre de lei e da investidura do agente no cargo, e não da outorga do mandato. É um liame de natureza pública estatutária. “É óbvio que esse vínculo não envolve as questões que exigem poderes especiais e, nesse caso, a parte assistida deverá assinar a inicial juntamente com o Defensor” (ALVES; PIMENTA. 2005, p. 118). 4 ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS: DEFESA NO DEVIDO PROCESSO LEGAL 4.1 Critérios que orientam a Lei n.º 9.099/95 A Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, cumprindo o disposto no art. 98, inc. I, da Constituição Federal de 1988, instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, na condição de Órgãos da Justiça Ordinária, revogou e substituiu, com maior abrangência, a Lei n.º 7.244, de 7 de novembro de 1984, que dispunha sobre o Juizado Especial de Pequenas Causas. Ela é oriunda de Projeto de lei de autoria do deputado Michel Temer, e é mais abrangente que a lei revogada. Vale dizer, que a exigência do legislador constituinte para que os Juizados Especiais fossem criados decorreu da necessidade cada vez maior de uma democratização do acesso ao Judiciário. À época da promulgação da Carta Magna era e, ainda, é imperativo que se viabilize cada vez mais o acesso das camadas carentes da sociedade à Justiça, a fim de que esta possa oferecer uma resposta sempre rápida e eficaz àqueles que a procuram. Não foi preocupação da Lei Maior apenas democratizar tal acesso, mas também, oferecer condições que viabilizem um processo judicial menos burocrático, mais leve em sua concepção no que diz respeito à sua duração no tempo, menos formalista sobretudo. Tanto foi assim, que a norma constitucional retro previu a figura do Juiz Leigo (inovação no nosso sistema processual), fazendo menção ainda à fase da conciliação e transação. A lei refere-se à Justiça Ordinária, que é a Justiça Comum dos Estados e exclui a Justiça Federal, embora esta também seja considerada jurisdição comum, já que a especial compreende a Justiça Militar, a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho. A Constituição da República determina aos Estados a criação dos Juizados Especiais no âmbito de seus territórios, e à União, no Distrito Federal e nos Territórios. O diploma legal, dispõe sobre as causas cíveis que não exceda ao valor de até quarenta salários mínimos e as infrações penaisde menor potencial ofensivo, assim consideradas aquelas para as quais sejam cominadas penas não superiores a um ano, introduzindo profunda alteração no processo civil e penal. Na verdade, essa legislação cria uma Justiça e um Processo paralelos aos existentes, com ritos especiais para litígios de menor valor econômico, contravenções e crimes de menor gravidade, originada de um projeto governamental de desburocratização. Sua forma está ligada aos atos processuais, através do princípio da informalidade e serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados. Lembrando que ato processual é a manifestação de vontade de um dos sujeitos da relação processual ou propriamente do processo, que se desenvolve através dos atos das partes, do juiz, e dos auxiliares da justiça. Na parte relativa à competência e aos atos processuais, ressalta-se a preponderância da finalidade sobre as formas que não podem ser consideradas um fim em si mesmas (art. 65 e § 1º, da Lei 9.099/95). 4.2 Os Juizados Especiais Cíveis e a atuação do Defensor Público Os órgãos de atuação da Defensoria Pública junto aos Juizados Especiais exercem seu encargo, buscando assegurar o acesso à Justiça com efetividade da prestação jurisdicional mais célere em procedimento informal, adstritos à hipossuficiência da parte assistida, eis que não há norma específica acerca da atuação atípica do membro da Defensoria Pública junto aos Juizados Especiais Cíveis. Todavia, é do conhecimento geral que a maioria dos processos que tramitam na Justiça têm por patrocinador da causa um Defensor Público, principalmente, na área criminal, onde a grande maioria dos réus são pobres na forma da lei, sem falar dos processos na área cível, mais especificamente de família, tais como, alimentos, divórcio, separação e outros. Assim, a intervenção do Defensor Público em qualquer feito que tramite perante o Juizado Especial Cível exigirá a afirmação de carência da parte nos termos do art. 4º, da Lei n.º 1.060/50. Caso a parte não seja carente. A resposta parece óbvia: não haverá atuação do Defensor Público. Mas, surgem indagações crescentes em razão da norma insculpida no art. 9º, § 1º, Lei 9.099/95. Destaque-se, no entanto, que o legislador fez menção ao desejo da parte de ser patrocinada pelo órgão de assistência judiciária instituído junto ao Juizado Especial. Assim, o Juízo deverá informar à parte o direito que lhe assiste e indagar se diante do fato de estar a outra parte patrocinada por advogado ou ser pessoa jurídica, deseja ser patrocinada pelo órgão de assistência judiciária. Em caso de resposta afirmativa, deve- se incontinente indagar se a parte é carente de recursos e, se positiva a resposta, encaminhá-la ao órgão de atuação da Defensoria Pública para que formalize a representação da parte, assinando-se a afirmação de carência e patrocine os interesses de seu novo assistido, devendo a audiência ser adiada para que o profissional possa conhecer a causa de seu assistido e instruir-lhe de forma conveniente. Se a parte não for carente de recursos, deverá a Audiência ser redesignada para nova data a fim de que haja tempo hábil para a constituição de patrono pela parte. Outra hipótese também possível, ainda que remota, diz que a parte que não deseja ser patrocinada pelo órgão de assistência judiciária instituído junto ao Juizado Especial Cível ou pela Defensoria Pública, nesse caso, poderá demandar em juízo independente de assistência profissional, posto que o legislador, de modo excepcional, lhe conferiu capacidade postulatória. O fato de a parte contrária estar assistida por advogado ou ser a parte ré, pessoa jurídica ou firma individual, não condiciona a atuação da Defensoria Pública que se encontra adstrita na esfera cível à miserabilidade jurídica de seu patrocinado. Assim, qualquer outra interpretação que se confira à norma, ainda que, com intuito de preservar a igualdade entre as partes, fere o art. 4º, da Lei 1.060/50, e, ainda, o mandamento constitucional insculpido nas normas do art. 5º, inc. LXXIV e art. 134, da Constituição, além de criar uma nova função atípica do Defensor Público, “atuação na área cível adstrita à outra parte estar patrocinada por advogado ou em função de sua qualidade: pessoa jurídica ou firma individual”. A intenção do legislador foi nobre ao prever a instituição de um órgão de assistência judiciária junto aos Juizados Especiais Cíveis, buscando preservar a igualdade formal e substancial na relação jurídica processual, mas tal norma não pode assoberbar a tão vasta atuação do Defensor Público, sob pena, até mesmo, de desnaturar sua função na área cível. Neste sentido, leciona Paulo Cezar Carneiro: É importante destacar aqui a preocupação do legislador com a igualdade material, visando a um adequado equilíbrio técnico entre as partes durante o processo. Assim, não bastará que o juiz alerte a parte sobre a necessidade de ser assistido por advogado, ou mesmo nomeie um defensor dativo para tanto, é preciso antes de tudo que o desempenho do representante seja razoavelmente valioso, de sorte a permitir o equilíbrio preconizado pela lei. (CARNEIRO, 2003, p. 106-107). Dessa forma, o legislador infraconstitucional previu que a assistência judiciária deve ser prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local. Assim, a lei estadual deverá prever, destarte, a instituição do órgão prestador de assistência judiciária junto aos Juizados Cíveis para os fins do art. 9º, § 1º, Lei 9.099/95 e art. 41, § 2º do mesmo diploma legal. A lei que disciplina os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no Estado do Rio de Janeiro, é a Lei n.º 2.556 de 21 de maio de 1996, não disciplina a assistência judiciária junto aos Juizados Especiais Cíveis. A assistência judiciária perante os Juizados Especiais Cíveis é prestada através de serviços jurídicos de membros integrantes dos próprios Juizados Especiais, ou de acadêmicos de direito, na elaboração de petições iniciais sem assinatura conjunta com o legitimado ativo, que, por não poderem exercer a advocacia e, assim, estão impedidos de atuar em audiências, assim como na interposição de recurso inominado que exige a capacidade postulatória genérica conferida ao advogado (CARNEIRO, 2003, p. 107). Dessa forma, a assistência jurídica gratuita perante os Juizados Especiais Cíveis representa um reclamo atual e inafastável do acesso à justiça, compreendendo o aconselhamento inicial do jurisdicionado até a satisfação de seus direitos judicialmente reconhecidos. Entretanto, abre-se um parêntese para assinalar que, “a assistência judiciária não deve ser confundida com Defensoria Pública”. A assistência jurídica integral e gratuita aludida no art. 5º, inc. LXXIV da Constituição Federal de 1988, abrange o “conceito de assistência judiciária por envolver os serviços jurídicos não relacionados diretamente com a atividade processual, abrangendo serviços de orientação jurídica, aconselhamento ou informação dos direitos à comunidade” (MARTINS, 2009). De acordo com Pontes de Miranda, a assistência judiciária é a "organização estatal, ou paraestatal, que tem por fim, ao lado da dispensa provisória de despesas, a indicação de advogado. É instituto de direito administrativo" (PONTES DE MIRANDA apud BARBOSA MOREIRA, 2000, p. 50). A assistência judiciária abrange o patrocínio gratuito da causa por advogado. Trata-se de um serviço público organizado que pode ser desempenhado por entidades não estatais, conveniadas ou não com o Poder Público. Assim, não se pode entender por assistência judiciária apenas o órgão estatal. Deve ser tido como assistência judiciária todo agente que tenha por finalidade principal a prestação do serviço que o faça com frequência por determinação judicial ou mediante convênio com o Poder Público. Advogados dativos que comfrequência desempenhem o mister podem ser considerados como integrantes da Assistência Judiciária (CARNEIRO, 2003, p. 108). Pode-se afirmar, portanto, que: A assistência jurídica aos carentes de recursos se faz cumprir através da Defensoria Pública, pelo fato de ser a Defensoria Pública uma instituição que conjuga a acessibilidade econômica com a acessibilidade técnico-jurídica, prestando assistência jurídica integral e gratuita (MARTINS, 2009). Alerta-se para o fato de que, o legislador infraconstitucional não pode trazer nova atribuição ao Defensor Público que contrarie o mandamento constitucional insculpido no art. 134 da Carta Magna, sob pena de inconstitucionalidade. Assim, o Defensor Público não poderá ser nomeado para o patrocínio da parte pelo simples fato de o adversário estar assistido por profissional ou mesmo ser pessoa jurídica ou firma individual, eis que a atuação do Defensor Público na esfera cível encontra-se adstrita à carência jurídica nos termos do art. 4º da Lei n.º 1.060/50. O defensor público natural, atuará, sim, designado para atuação perante os Juizados Especiais Cíveis na defesa de seus assistidos, estejam ou não os adversos assistidos por advogado ou sejam pessoas naturais ou jurídicas, se estes afirmarem a hipossuficiência nos termos da lei de regência (ROBERT, 2002, p. 79). 4.3 Considerações sobre a defesa no devido processo legal Inicialmente, relembre-se que, como meio civilizado de solução de litígios, o processo é um instrumento da jurisdição, ou melhor, do Poder Judiciário, o qual, sendo um dos poderes do Estado brasileiro, tem sua razão de existir diretamente vinculada ao dever não só de “auxiliar na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”, mas também de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”, segundo previsto pelo art. 3º, incisos I e IV, da Constituição Federal de 1988. O princípio do devido processo legal representa a justiça social, pois, a jurisdição é praticada mediante a instauração de um processo adequado a cada caso concreto. Jurisdição e processo são dois institutos indissociáveis. O direito à jurisdição é, também, o direito ao processo, como meio indispensável à realização da Justiça. Por isso, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5°, inc. XXXV, assegura aos cidadãos o direito ao processo como uma das garantias individuais. Diante desta afirmativa, é bom lembrar que todo processo, por mais simples que seja, precisa estar cercado de princípios que lhe dêem a devida garantia legal. Há os tradicionais princípios do “processo legal”, sem os quais este não se reveste da necessária legalidade e que podem inclusive ensejar possíveis nulidades. No entanto, os princípios não deixam de ser regras fundamentais que devem ser observadas e cumpridas com o intuito de dar orientação ao processo legal. Neste sentido, Joel Dias Figueira Jr., afirma que: Os princípios processuais são um complexo de todos os preceitos que originam, fundamentam e orientam o processo. Esses princípios podem ser doutrinariamente divididos em duas espécies: informativos e gerais. Os informativos representam o caráter ideológico do processo, como objeto principal da pacificação social, influenciando jurídica, econômica e socialmente, os quais transcendem a norma propriamente dita, à medida que procuram nortear o processo pelo seu fim maior e ideal precípuo. Os princípios gerais do processo, também conhecidos por fundamentais, são aqueles previstos, de maneira explícita ou implícita, na Constituição e na legislação infraconstitucional, como fontes norteadoras da atividade das partes, do Juiz, do Ministério Público, dos auxiliares da Justiça, da ação, do processo e do procedimento (FIGUEIRA JÚNIOR, 2001, p. 45). O devido processo legal está consubstanciado no art. 5º, inciso LIV, da Constituição Federal de 1988 quando afirma que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”, sendo, portanto, um meio para a realização da ordem jurídica justa. Sua origem encontra-se no artigo 39 da Magna Carta, de 1215. A primeira expressão a designar o seu conteúdo foi “by the law of the land”, ou seja, “as restrições a direitos naturais”, poderiam somente ser realizadas mediante a autorização e no limite aos costumes aceitos pela "common law". Posteriormente, em 1354, com conteúdo exatamente igual, a denominação evoluiu para "due process of law", ou seja, “ninguém poderá ser condenado sem o processo previsto em lei” (CARVALHO, 2000, p. 42). Logo, compreende-se como um conjunto de garantias constitucionais correlativas ao direito ao processo, que, por sua vez, é subdividido em direito à ação e direito de defesa. O direito à ação é um direito público subjetivo de invocar a tutela jurisdicional, ou, de outra forma, direito público subjetivo cujo exercício pelo titular de um interesse abstratamente tutelado pelo ordenamento jurídico provoca a jurisdição, que, por sua vez, será exercida através do processo (FÜHRER, 2008, p. 54). Para os defensores da ação como direito concreto à tutela jurisdicional, este direito público subjetivo, embora diverso do direito material lesado, só existe quando também exista o próprio direito material a tutelar. A ação seria, então, o direito à sentença favorável, isto é, o direito público voltado contra o Estado, de obter uma proteção pública para o direito subjetivo material. Seus grandes defensores foram, entre outros, Wach, Bülow, Hellwig e Chiovenda. A partir, porém, de Degenkolb (Alemanha, 1877) e Plósz (Hungria) a doutrina dominante passou a ver na ação um direito abstrato de agir em juízo. Para essa teoria, o direito de ação é o direito à composição do litígio pelo Estado, que, por isso, não depende da efetiva existência do direito material da parte que provoca a atuação do Poder Judiciário. Mesmo quando a sentença nega a procedência do pedido do autor, não deixa de ter havido ação e composição da lide. É, assim, suficiente, para o manejo do direito público de ação, que o autor invoque um interesse abstratamente protegido pela ordem jurídica. É com referência a esse hipotético direito do autor que o Estado está obrigado a exercer a atividade jurisdicional e a proferir uma decisão, que tanto poderá ser favorável como desfavorável. "Sendo a ação dirigida ao Estado, é ele o sujeito passivo de tal direito (ARAÚJO CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2001, p. 252). Daí por que, modernamente, prevalece a conceituação da ação como um direito público subjetivo exercitável pela parte para exigir do Estado a obrigação da prestação jurisdicional, pouco importando seja esta de amparo ou desamparo à pretensão de quem o exerce. É, por isso, abstrato. E, ainda, é autônomo, porque pode ser exercitado sem sequer relacionar-se com a existência de um direito subjetivo material, em casos como o da ação declaratória negativa. É, finalmente, instrumental, porque se refere sempre a decisão a uma pretensão ligada ao direito material (positiva ou negativa) (ARAÚJO CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2001, p. 252). Quanto ao direito de defesa é conceituado como o "direito à adequada resistência às pretensões adversárias" (ARAÚJO CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2001, p. 252), sendo observado desde os primórdios da civilização, havendo a sua consubstanciação, inclusive, na Bíblia Sagrada encontra-se em Gênesis, 3:9 c. 3, v. 9: "Mas o Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: 'Onde estás?'" e no Evangelho de São João, c. 7, v. 51: "Condena acaso a nossa Lei algum homem, antes de o ouvir e conhecer o que ele faz ?" (ALMEDA, A Bíblia Sagrada, 2005). Tem-se, pois, que o princípio do devido processo legal como conjunto de garantias constitucionais, determina o procedimento adequado, ou seja, aquele
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