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Teoria do Estado

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Teoria do stado.
realizando uma de suas maiores festas, denominada Magofonia. Nesse dia não é permitido aos magos aparecer em público, ficando eles encerrados em suas casas. LXXX — Cinco dias depois do restabelecimento da ordem, os que se tinham sublevado contra os usurpadores reuniram-se em conselho para tratar do estado atual dos negócios. Suas deliberações, embora pareçam inverossímeis a alguns Gregos, não são por isso menos verdadeiras. Otanes, exortando os Persas a exercerem a autoridade em comum, assim lhes falou: “Sou de parecer que não se deve, de agora em diante, confiar a administração do Estado a um único homem, pois o governo monárquico não é nem suave nem bom. Vistes o grau de insolência a que chegou Cambises, e acabastes de experimentar a autoridade do mago. Como, pois, poderá ser a monarquia uma boa forma de governo, se o monarca faz o que quer, sem prestar conta dos seus atos? O homem mais virtuoso, elevado a essa alta dignidade perderá logo todos os seus bons predicados. A inveja é inata nos homens, e as regalias desfrutadas com um monarca levam-no à insolência. Ora, quem possui esses dois vícios adquire todos os outros, e comete uma infinidade de crimes, ora por excesso de orgulho, ora por inveja. Um tirano devia ser um homem exemplar, já que goza de toda espécie de regalias; mas é o contrário que se verifica, e seus súditos sabem-no muito bem por experiência. O tirano odeia as pessoas honestas e parece deplorar que elas ainda existam. Somente com os maus se sente bem. Presta facilmente ouvido à calúnia e acolhe bem os delatores; e o que é mais engraçado, se o louvamos com moderação, ofende-se; se o louvamos com efusão, ofende-se do mesmo modo, atribuindo esse gesto a interesses mesquinhos. Finalmente, temos o mais terrível dos inconvenientes: infringe as leis da pátria, comete violências contra as mulheres e manda matar quem muito bem lhe pareça, sem processo ou qualquer outra formalidade. Não se dá o mesmo com o governo democrático, que chamamos isonomia, que soa como o mais belo de todos os nomes. Neste, não é 267 permitido nenhum dos abusos inerentes ao Estado monárquico. O magistrado é eleito por sorte, e torna-se responsável pelos seus atos administrativos, sendo todas as deliberações tomadas em comum. Sou, por conseguinte, pela abolição do governo monárquico e pela instauração do governo democrático, pois todo poder emana do povo”. LXXXI — Tomando a palavra, Megabizo opinou pela oligarquia. “Penso, como Otanes, que é preciso acabar com a monarquia e aprovo tudo o que ele acaba de expor; mas quando ele nos exorta a colocarmos o poder supremo nas mãos do povo, afasta-se do bom caminho. Nada mais insensato e insolente do que uma multidão inconseqüente. Procurando evitar-se a insolência de um tirano, cai-se sob a tirania do povo sem freios. Haverá coisa mais insuportável? Quando o soberano toma uma medida, sabe bem por que a toma; o povo, ao contrário, não usa a inteligência nem a razão. E que de outro modo poderia ser, se jamais recebeu instrução e não sabe o que é belo nem o que é mais conveniente? Lança-se num negócio às cegas, sem julgá-lo, qual uma torrente que tudo arrasta. Possam os inimigos dos Persas adotar a democracia! Quanto a nós, escolhamos homens virtuosos e coloquemos o poder em suas mãos. Acho que podemos incluir-nos nesse número, e, de acordo com a lógica, os homens sensatos e esclarecidos só podem dar excelentes conselhos”. LXXXII — Dario falou em seguida, formulando seu parecer nos seguintes termos: “A opinião de Megabizo sobre a democracia me parece justa e muito sensata, mas discordo quanto ao que ele afirmou em favor da oligarquia. Das três formas de governo que se podem propor — o democrático, o oligárquico e o monárquico — considerados no seu grau possível de perfeição, o monárquico me parece muito superior aos outros dois, pois é opinião geral não haver nada melhor do que o governo de um único homem, quando este é um homem de bem. Em tais condições, ele não poderá deixar de governar 268 de uma maneira irrepreensível. Todas as deliberações serão secretas, e o inimigo não terá nenhum conhecimento delas. O mesmo não acontece com a oligarquia. Sendo o governo composto de vários indivíduos aplicados ao serviço do bem público, surgem freqüentemente entre eles inimizades particulares e violentas. Cada um quer ser o mais poderoso e fazer prevalecer sua opinião; daí os ódios recíprocos, as sedições; e destas ao morticínio, e, finalmente, à monarquia. Aí está por que o governo de um só é preferível ao de muitos. Por outro lado, quando o povo manda, é impossível não implantar-se a desordem no Estado. A corrupção, uma vez estabelecida, não produz ódios entre os maus; ao contrário, une-os por laços de estreita amizade. Os que desmoralizam o Estado agem de combinação e se sustentam mutuamente; continuam a fazer o mal até erguer-se um defensor do povo para reprimi-los. Este que a eles se opõe torna-se, então, admirado, e essa admiração faz dele um monarca — o que prova ainda que a monarquia é a melhor forma de governo. Em conclusão, de onde nos vem a liberdade? De quem a obtemos? Do povo, da oligarquia ou de um monarca? Pois se é verdade que por um único homem fomos libertados da escravidão, concluo ser necessário mantermos o governo monárquico. Aliás, nunca se deve infringir as leis da pátria quando elas são verdadeiramente sábias, pois isso seria perigoso”. LXXXIII — Foram essas as três opiniões expostas, recebendo a última a aprovação dos outros quatro chefes insurrectos. Então, Otanes, que desejava ardentemente estabelecer a isonomia, vendo seu parecer rejeitado ergueu-se no meio da assembléia e falou assim: “Persas, já que é precis o que um de nós se torne rei; que a sorte ou o sufrágio da nação coloque um de nós no trono; ou que por qualquer outro meio a ele suba um de nós, não me tereis como concorrente. Não desejo nem mandar nem obedecer; cedo-vos o lugar, com a condição, porém, de não ficar sob a autoridade de nenhum de vós, nem eu, nem meus parentes, nem os meus descendentes, 269 até o fim dos tempos”. Os outros seis acederam ao pedido, com o que ele se retirou da assembléia, não lhes fazendo, como havia prometido, nenhuma concorrência, sendo essa a razão pela qual sua família é hoje a única, em toda a Pérsia, a gozar de plena liberdade, não se submetendo a ninguém, senão quando lhe apraz, contanto que não transgrida as leis estabelecidas do país. LXXXIV — Os outros seis Persas confabularam sobre a maneira mais justa de eleger um rei, ficando, antes de tudo, deliberado que aquele que dentre eles obtivesse a soberania concederia a Otanes e a seus descendentes, em caráter perpétuo, a túnica meda, fazendo-lhe também dádivas consideradas pelos Persas como as mais honrosas. Tal distinção lhe foi concedida por haver sido ele o primeiro a formular o projeto de destronar o mago e a reuni-los para a execução do mesmo. Essas honras visavam particularmente o companheiro, mas elaboraram para si próprios leis especiais e generosas. Ficou estabelecido que todos os sete teriam entrada franca no palácio, sem necessidade de se fazerem anunciar, exceto quando o soberano estivesse no leito com a esposa; que o rei não poderia desposar uma mulher que não pertencesse à família de qualquer dos que haviam destronado o mago. Quanto à maneira de eleger o novo rei, ficou decidido que, no dia seguinte pela manhã entrariam juntos a cavalo na cidade, sendo reconhecido como rei aquele cujo cavalo relinchasse em primeiro lugar, ao nascer do sol(5). LXXXV — Dario possuía um hábil escudeiro chamado Ebares. Ao deixar a assembléia, dirigiu-se a ele, dizendo-lhe: “Ebares, ficou decidido entre nós, que amanhã pela manhã montaremos a cavalo, e que será rei aquele cujo cavalo relinchar primeiro. Emprega, pois, tua habilidade, para que eu obtenha esse posto supremo”. “Senhor, — respondeu Ebares — se a vossa eleição depende unicamente disso, tende ânimo e não vos preocupeis; ninguém senão vós será o escolhido; disponho 270 de um segredo infalível”. “Se o possuís verdadeiramente, — volveu Dario— chegou o momento de fazeres uso dele; não há que hesitar; amanhã nossa sorte estará decidida”. Ao cair da noite, Ebares tomou uma das éguas pela qual mais se inclinava o cavalo de Dario e conduziu-a a um arrabalde; ali amarrou-a, e trazendo o cavalo, fê-lo passar várias vezes em torno dela, permitindo, afinal, o coito entre ambos. LXXXVI — No dia seguinte, ao alvorecer, os seis Persas encontraram-se a cavalo no local combinado, seguindo para a cidade. Ao chegarem ao arrabalde, no local exato onde, na noite precedente, a égua estivera amarrada, o cavalo de Dario empinou-se e pôs-se a relinchar. No mesmo instante, um relâmpago cortou o espaço e ouviu-se um trovão, embora o céu estivesse sereno. Esses sinais imprevistos, parecendo revelar que o céu estava de acordo com Dario, foram encarados por este último como uma saudação. Seus companheiros, descendo de seus cavalos, prosternaram-se a seus pés, reconhecendo-o como rei(6). LXXXVII — Tal foi, segundo uns, o meio de que se serviu Ebares para tornar seu amo soberano dos Persas. Outros, porém, contam o fato de maneira diversa, havendo assim duas versões sobre o mesmo, na Pérsia. Dizem que Ebares passou a mão sobre as partes sexuais da égua, mantendo-a oculta na cintura; e que no momento em que o sol começou a despontar e os cavalos se punham em marcha, retirou-a dali, aproximando-a do focinho do cavalo de Dario. O animal, sentindo o cheiro da companheira, pôs-se a relinchar. LXXXVIII — Dario, filho de Histaspes, foi, assim, proclamado rei, e todos os povos da Ásia subjugados por Ciro e depois por Cambises a ele se submeteram, com exceção dos Árabes. Estes, na verdade, nunca foram escravos dos Persas, mas seus aliados. Haviam simplesmente facultado passagem a Cambises para este penetrar no Egito. Se a isso se opusessem, o 271 exército persa jamais teria podido invadir aquele país. Foi com mulheres persas que Dario contraiu seus primeiros matrimônios: desposou duas filhas de Ciro — Atossa e Aristona. Atossa havia sido mulher de Cambises e, depois, do mago usurpador; Aristona era ainda virgem quando ele a tomou para mulher. Pouco depois, uniu-se a Pármis, filha de Esmérdis, filho de Ciro, e a Fédima, filha de Otanes e que havia descoberto a impostura do mago. Seu poder consolidou-se sob todos os aspectos. Começou por mandar erigir em pedra sua estátua eqüestre, com esta inscrição: “Dario, filho de Histaspes, subiu ao trono imperial dos Persas pela virtude do seu cavalo (o nome deste estava indicado na inscrição) e o engenho de Ebares, seu escudeiro”. LXXXIX — Feito isso, dividiu o império em vinte Estados, que os Persas denominam satrapias, estabelecendo em cada um deles um governador. Regulamentou o tributo que cada nação deveria pagar-lhe, e, para esse fim, incluía em cada naçã o os povos limítrofes. Às yezes, porém, passava por cima dos vizinhos, incluindo, num mesmo departamento, povos afastados um do outro. Eis como distribuiu ele as satrapias e como regulamentou os tributos, que lhe deveriam ser pagos todos os anos. Ordenou que os que deviam pagar sua contribuição em prata, a pagassem ao peso do talento babilônio, e os que tivessem de pagá-la em ouro, o fizessem ao peso do talento da Eubéia. O talento babilônio vale setenta minas da Eubéia. No reinado de Ciro, e mesmo no de Cambises, nada tinha sido regulamentado nesse sentido; dava-se simplesmente ao rei um donativo. Esses impostos e outras exigências semelhantes levaram os Persas a dizer que Dario era um comerciante, Cambises um senhor, e Ciro um pai: o primeiro, porque transformava tudo em dinheiro; o segundo, por ser cruel e negligente; o terceiro, enfim, por ser benévolo e ter cumulado

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