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Ponto 2 - A organização da Administração Pública

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DIREITO ADMINISTRATIVO
Prof. Durval Carneiro Neto
ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Sumário: 1) Titularidade e prestação de atividades administrativas: Centralização e órgãos públicos. Desconcentração. Descentralização e entes administrativos. 2) Descentralização administrativa funcional ou por serviços (descentralização para pessoas públicas e governamentais). 3) Descentralização administrativa territorial ou geográfica. 4) Descentralização administrativa por colaboração (descentralização para pessoas privadas): noções de concessões, permissões, autorizações e outras formas de delegação de atividades. 
1) TITULARIDADE E PRESTAÇÃO DE ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS.
O presente estudo busca examinar como a Administração Pública se organiza para prestar os serviços e demais atividades públicas que titulariza, seja direta ou indiretamente. 
De fato, “deve-se distinguir, ao tratar da execução de serviços públicos, a titularidade da prestação. A titularidade é exclusiva do ente político ao qual a Constituição haja cometido, explícita ou implicitamente, a competência específica. Quanto à prestação, tanto poderá ela caber ao titular, dizendo-se direta, como pode ser por ele delegada a terceiros, denominando-se indireta”.� 
Em suma, os serviços públicos podem ser prestados ou executados de dois modos: execução centralizada e execução descentralizada.
“A organização administrativa resulta de um conjunto de normas jurídicas que regem a competência, as relações hierárquicas, a situação jurídica, as formas de atuação e controle dos órgãos e pessoas, no exercício da função administrativa. Como o Estado atua por meio de órgãos, agentes e pessoas jurídicas, sua organização se calca em três situações fundamentais: a centralização, a descentralização e a desconcentração. A centralização é a situação em que o Estado executa suas tarefas diretamente, ou seja, por intermédio dos inúmeros órgãos e agentes administrativos que compõem sua estrutura funcional. Pela descentralização , ele o faz indiretamente, isto é, delega a atividade a outras entidades. Na desconcentração, desmembra órgãos para propiciar melhoria na sua organização estrutural. Exatamente nessa linha distintiva é que se situam a centralização e a descentralização. Quando se fala em centralização, a idéia que o fato traz à tona é a do desempenho direto das atividades públicas pelo Estado-Administração. A descentralização, de outro lado, importa sentido que tem correlação com o exercício de atividades de modo indireto. Nessa linha de raciocínio, pode-se considerar a existência de uma administração centralizada e de uma administração descentralizada, ambas voltadas para o cumprimento das atividades administrativas. Por via de conseqüência, já é oportuno observar, nessas notas introdutórias, que a denominada administração direta reflete a administração centralizada, ao passo que a administração indireta conduz à noção de administração descentralizada”.�
Na execução centralizada, o ente político titular de determinada atividade administrativa executa diretamente a mesma, por meio de seus órgãos e agentes. Portanto, além de ser o titular, ele será o prestador da atividade. É a chamada centralização administrativa ou Administração direta. No âmbito da centralização o Estado distribui a prestação de serviços entre os seus órgãos e agentes, consubstanciando o fenômeno da desconcentração.
Segundo Maria Sylvia Di Pietro, na desconcentração ocorre “uma distribuição interna de competências, ou seja, uma distribuição de competências dentro da mesma pessoa jurídica; sabe-se que a Administração Pública é organizada hierarquicamente, como se fosse uma pirâmide em cujo ápice se situa o Chefe do Poder Executivo. As atribuições administrativas são outorgadas aos vários órgãos que compõem a hierarquia, criando-se uma relação de coordenação e subordinação entre uns e outros. Isso é feito para descongestionar, desconcentrar, tirar do centro um volume grande de atribuições, para permitir seu mais adequado e racional desempenho. A desconcentração liga-se à hierarquia”. �
A desconcentração tem estreita relação com a hierarquia, que é o liame de subordinação existente entre órgãos dentro de uma mesma estrutura administrativa, ou seja, dentro de uma mesma pessoa jurídica (entidade administrativa).
Na execução descentralizada, conforme assinala Diógenes Gasparini, “a atividade administrativa (titularidade e execução) ou a sua mera execução é atribuída a outra entidade, distinta da Administração Pública, para que a realize. Desloca-se a atividade, ou tão só o seu exercício, da Administração Pública central para outra pessoa jurídica, esta privada, pública ou governamental. O serviço vai da Administração Pública, sua titular, ao administrado, seu beneficiário último, através de uma interposta pessoa jurídica, esta privada, pública ou governamental”.�
Na execução descentralizada, o ente administrativo titular de determinada atividade, transfere a sua prestação para outra entidade, que poderá ser uma pessoa jurídica de direito público (ex.: autarquia) ou uma pessoa jurídica de direito privado (ex.: empresa pública). 
Além disso, esta entidade prestadora poderá ser uma empresa privada (ex.: concessionária).
Valiosas as palavras de Celso Antônio Bandeira de Mello, ao apontar a distinção entre desconcentração e descentralização:
“A descentralização pressupõe pessoas jurídicas diversas: aquela que originalmente tem ou teria titulação sobre certa atividade e aqueloutra ou aqueloutras às quais foi atribuído o desempenho das atividades em causa. A desconcentração está sempre referida a uma só pessoa, pois cogita-se da distribuição de competências na intimidade dela, mantendo-se, pois, o liame unificador da hierarquia. Pela descentralização rompe-se uma unidade personalizada e não há vínculo hierárquico entre a Administração Central e a pessoa estatal descentralizada. Assim, a Segunda não é ‘subordinada’ à primeira. O que passa a existir, na relação entre ambas, é um poder chamado controle”. �
Observe-se que o fenômeno da desconcentração poderá também ocorrer no âmbito interno de uma entidade da Administração Indireta (autarquias, empresas públicas etc). De fato, em relação à Administração central, tal entidade é descentralizada, o que não impede que possa ter órgãos internos desconcentrados. 
Convém não confundir a descentralização administrativa, objeto do presente estudo, com a descentralização política, objeto do Direito Constitucional.
A descentralização política tem relação com a formação do Estado Federal no tocante à divisão de competências entre os entes que compõe a Federação. São os entes políticos: União, Estados, Distrito Federal e Municípios, que são pessoas jurídicas de direito público dotadas de competências não apenas administrativas, mas também legislativas.
“É costumeiro diferenciar, dentro da categoria das pessoas dotadas de personalidade jurídica de direito público, as chamadas pessoas políticas. São aquelas manifestações estatais insuprimíveis, instituídas pela Constituição Federal como materialização da organização política que é o Estado. As pessoas políticas são dotadas de competências não apenas administrativas, mas também legislativas, ainda que não sejam titulares necessariamente de função jurisdicional. São elas a União, os Estados-membros, os Municípios e o Distrito Federal. Ou seja, as pessoas políticas são as manifestações formais da existência da Federação”.�
“Ocorre quando o ente descentralizado exerce atribuições próprias que não decorrem do ente central; é a situação dos Estados-membros da federação e, no Brasil, também dos Municípios. Cada um desses entes locais detém competência legislativa própria que não decorre da União nem a ela se subordina, mas encontra seu fundamento na própria Constituição Federal. As atividades jurídicas que exercem não constituem delegação ou concessão do governo central, pois delas são titulares de maneira originária”.�
Osentes políticos são, ao mesmo tempo, entes administrativos, porque têm a sua própria estrutura administrativa interna (é o que se chama de Administração Direta). A Administração Direta poderá ser federal, estadual, distrital ou municipal.
Quando, todavia, a atividade administrativa não vier a ser prestada dentro da Administração Direta do ente político titular, ocorre a descentralização administrativa, mediante a transferência da execução da atividade para outros entes administrativos, que podem ser criados pelo próprio Poder Público (autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia mista, consórcios públicos etc.) ou oriundos da iniciativa privada (concessionárias, permissionárias, parceiros público-privados etc.). 
Utilizaremos aqui a classificação advinda do direito francês e consagrada entre nós por diversos autores, a exemplo da Maria Sylvia Zanella Di Pietro, que faz a separação entre “desconcentração” e “descentralização”, e, no tocante a esta, a subdivisão em “descentralização territorial”, “descentralização funcional” e “descentralização por colaboração”.
2) DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA FUNCIONAL OU POR SERVIÇOS: a descentralização para pessoas públicas e governamentais.
Na descentralização administrativa funcional ou por serviços “o poder público (União, Estados ou Municípios) cria uma pessoa jurídica de direito público ou privado e a ela atribui a titularidade e a execução de determinado serviço público. No Brasil, essa criação somente pode dar-se por meio de lei e corresponde, basicamente, à figura da autarquia, mas abrange também as fundações governamentais, sociedades de economia mista e empresas públicas, que exerçam serviços públicos”.�
Conforme disposto no art.37, XIX, da CF/88, se o ente criado pelo Poder Público tiver personalidade jurídica de direito público (ex.: autarquias), a sua criação se dá no exato momento em que entra em vigor a sua lei de criação. Fala-se então em criação por lei. Já se o Poder Público resolve criar um ente com personalidade jurídica de direito privado (ex.: empresas estatais), a lei apenas autoriza a sua criação, ou seja, tem-se a criação autorizada por lei, o que significa que o nascimento do ente deve seguir os mesmos moldes previstos para a criação das pessoas jurídicas em geral. Assim, nesse caso não basta a edição da lei, sendo ainda preciso o registro dos atos constitutivos do ente, além de outras formalidades. 
CF/88, art.37, XIX: “somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação”.
Esse tipo de descentralização na França caracterizou-se inicialmente pela instituição de serviços públicos dotados de personalidade jurídica, como centros autônomos de decisão (établissements publics administratifs). Houve naquele país uma larga evolução dessas entidades , alcançando inclusive formas empresariais para atuação em áreas econômicas que antes não eram ocupadas pelo Estado (établissements publics industriels et commerciaux). Mais recentemente, após o final da década, foram surgindo entes com estas características, porém dotados de maior autonomia em relação à Administração central, chamados de autoridade administrativas independentes (les autorités administratives indépendants). 
No Brasil, desde a década de 60, vem a administração pública federal sendo organizada sob o modo descentralizado, tendo o art.10 do Decreto-lei n. 200/67 previsto uma ampla descentralização.
3) DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA TERRITORIAL OU GEOGRÁFICA.
Na descentralização administrativa territorial ou geográfica tem-se uma entidade geograficamente delimitada e com capacidade administrativa genérica. 
Esta forma de organização é típica dos estados unitários, como a França, nos quais se confere blocos de competências gerais e autonomia administrativa a coletividades locais (na França existem as seguintes figuras: la region, le departement, la commune).
Nos modelos federativos, como é o caso do Brasil, tais entidades com competência geral são menos necessárias, ocorrendo eventualmente em razão de longas distâncias geográficas em relação à sede da Administração central, como ocorreu no passado com a criação dos nossos Territórios federais. 
No Brasil, tal modalidade de descentralização é prevista com a eventual criação de territórios federais, entes ligados à União (CF, art.18) e instituídos para ter como objeto a administração geral de determinado território nacional, nele prestando uma grande variedade de serviços públicos.
“A descentralização territorial – assinala Tito Prates – desloca o eixo da administração segundo um critério local, regional, geográfico. O território divide-se, então, em circunscrições que servem de base a unidades administrativas, autônomas, capazes de reger os interesses próprios da população fixada nessa parcela territorial”.�
Há autores que qualificam os territórios federais como autarquias territoriais, o que não nos parece correto, pois as autarquias são criadas para prestar serviço público específico, tendo relação com a descentralização funcional, como adiante se verá. Atualmente não existem territórios federais no Brasil.
“Descentralização territorial ou geográfica é a que se verifica quando uma entidade local, geograficamente delimitada, é dotada de personalidade jurídica própria de direito público, com capacidade administrativa genérica. São características desse ente descentralizado: 1. personalidade jurídica de direito público; 2. capacidade de auto-administração; 3. delimitação geográfica; 4. capacidade genérica, ou seja, para exercer a totalidade ou a maior parte dos encargos públicos de interesse da coletividade; 5. sujeição a controle pelo poder central. Este tipo de descentralização administrativa ocorre nos Estados unitários, como França, Itália, Bélgica, constituídos por Departamentos, Regiões, Províncias, Comunas, e é o que se verificava no Brasil, à época do Império. No Brasil de hoje, podem ser incluídos nessa modalidade de descentralização os territórios federais, que, tal como estão disciplinados pela Constituição (embora não tenham existência fática), não integram a Federação, mas têm personalidade jurídica de direito público, são geograficamente delimitados e possuem capacidade genérica, que abrange serviços de segurança, saúde, justiça etc. É importante realçar que a descentralização administrativa territorial nem sempre impede a capacidade legislativa; só que esta é exercida sem autonomia, porque subordinada a normas emanadas do poder central”.�
“As chamadas autarquias territoriais correspondem a desmembramentos geográficos em certos países, normalmente com regime unitário (ou de centralização política), aos quais o poder central outorga algumas prerrogativas de ordem política e administrativa, permitindo-lhes uma relativa liberdade de ação. Não chegam a ser verdadeiras autonomias, mas têm a seu cargo algumas funções privativas conferidas pelo Estado. Esse, aliás, foi o sentido inicial do termo autarquia. Costuma-se considerar como integrantes dessa categoria os nossos Territórios, entes despidos de autonomia, que executam, por delegação, algumas funções próprias de Estado (art.33, CF)”.�
Odete Medauar leciona que o termo “autarquia” foi utilizado pela primeira vez por Santi Romano, em 1897, para identificar a situação de entes territoriais e institucionais do Estado unitário italiano (as comunas) Portanto, a origem da expressão encontra-se na forma de descentralização territorial acima referida. 
Por isso a doutrina, ainda hoje, considera que os territórios seriam espécie de “autarquias territoriais”, apesar de dotadas de competências gerais.
Atualmente no Brasil não existem as autarquias territoriais; todas as autarquias decorrem da chamada descentralização funcional, voltadas para atuação em área específica.
4) DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVAPOR COLABORAÇÃO: a descentralização para pessoas privadas.
Maria Sylvia Di Pietro leciona que “descentralização por colaboração é a que se verifica quando, por meio de contrato ou ato administrativo unilateral, se transfere a execução de determinado serviço público a pessoa jurídica de direito privado, previamente existente, conservando o poder público a titularidade do serviço”.�
Alguns autores não reconhecem o regime de colaboração propriamente como forma de descentralização administrativa, eis que nele o serviço público é delegado a entes desvinculados direta ou indiretamente do Estado e que, portanto, não integram a estrutura orgânica do Poder Público. Nessa linha, o tema da organização da Administração Pública ficaria restrito às pessoas públicas e governamentais (entes da Administração direta e da Administração indireta), não abrangendo as pessoas privadas que recebam delegação de atividades administrativas por meio de contratos ou outros atos negociais.
Daí que, não sendo propriamente entes vinculados à Administração Pública direta ou indireta, tais pessoas privadas (concessionárias, permissionárias, parceiros etc.) geralmente são estudadas nos manuais de Direito Administrativo em capítulos destinados aos serviços públicos e aos contratos administrativos. O mesmo ocorre em relação aos entes de cooperação que prestam serviços privados de interesse público, denominados entes do terceiro setor (serviços sociais autônomos, organizações sociais, organizações da sociedade civil de interesse público, fundações de apoio etc.).
Não obstante, tais temas serão aqui abordados, ainda que superficialmente, reservando o aprofundamento para quando do estudo dos negócios jurídicos firmados pela Administração Pública. 
As formas tradicionais de descentralização por colaboração são a concessão e a permissão de serviços públicos ou de obras públicas. 
O contrato de concessão de serviço público, “ou, simplesmente, concessão de serviço público, é o que tem por objeto a transferência da execução de um serviço do Poder Público ao particular, que se remunerará dos gastos com o empreendimento, aí incluídos os ganhos normais do negócio, através de uma tarifa cobrada aos usuários. É comum, ainda, nos contratos de concessão de serviço público a fixação de um preço, devido pelo concessionário ao concedente a título de remuneração dos serviços de supervisão, fiscalização e controle de execução do ajuste, a cargo deste último”.� O contrato de concessão de obra pública, “ou simplesmente, concessão de obra pública, é o ajuste administrativo que tem por objeto a delegação a um particular da execução e exploração de uma obra pública ou de interesse público, para uso da coletividade, mediante remuneração ao concessionário, por tarifa (Lei 8987/95)”�.
O regime de concessões predominou num primeiro momento da organização estatal, sob o modelo liberal (fase do liberalismo clássico). Com o surgimento do modelo burocrático (fase do estatismo ou Estado Social), as concessões tiveram a sua importância reduzida, e o Estado passou a intervir diretamente, por meio de seus entes, em diversos setores que antes eram delegados. Por fim, com o desenvolvimento do modelo gerencial (fase da democracia), as concessões voltaram a ter destaque no cenário da Administração Pública, desenvolvendo-se, em contrapartida, um regime sistematizado de regulamentação (intervenção estatal indireta por meio de agências reguladoras), que já estudamos quando tratamos dos serviços públicos. Diogo de Figueiredo enfoca bem este aspecto histórico:
“As concessões tiveram seu momento histórico de preeminência no final do século XIX e no início do século XX, época em que os capitais à disposição do Governo eram reduzidos e a modalidade era largamente utilizada para atendimento dos mais importantes e dispendiosos serviços públicos, como luz, gás, telefone, água, esgotos, transportes urbanos e ferroviários, todos, em regra, interessando o investimento no País de vultosos capitais externos. Com a hipertrofia econômica do Estado, experimentada a partir da Primeira Guerra Mundial, e com a mudança de concepção política, notadamente quanto à obsessiva preocupação com a segurança nacional, típica do período da chamada Guerra Fria, as concessões foram perdendo sua importância nesses setores tradicionais e os serviços públicos passaram a ser executados, preferente quando não exclusivamente, por empresas estatais. Nem por isso o instituto chegou a desaparecer totalmente, sem bem que tivesse remanescido com expressão bem mais reduzida, quase que concetrada no ramo dos transportes públicos. Mas, quando já se prenunciava o ocaso da concessão, eis que o término da tensão armamentista e o esgotamento das possibilidades de capitalização pública, por via tributária, para investimentos, e os cada vez mais necessários reinvestimentos em serviços públicos determinaram o seu retorno, renovada e robustecida. Este reaparecimento, que se deu em diversos países, como solução para a exploração de vários serviços públicos, que, reconhecidamente, poderiam ser entregues, com vantagem e sem compromentimento de seus princípios regedores, à execução das empresas privadas, foi o exemplo exitoso para reentronizar o instituto, rapidamente e em escala global. Afinal, passava-se a reconhecer, depois de um longo período hegemônico do pesado Estado-Providência, que a iniciativa privada apresenta maior capacidade de imprimir um alto grau de eficiência e economia às suas atividades, dispensando – e isto é que é mais importante – o Poder Público, de preocupações secundárias, de modo a liberá-lo para concentrar-se em suas atividades primárias, na solução de problemas de maior premência e envergadura, como são hoje os da segurança, da educação e da saúde e, em escala crescente, no desenvolvimento do fomento público”.�
Além das concessões, pode haver a delegação do serviço ou obra pública por meio de permissões ou autorizações administrativas. A doutrina aponta as diferenças entre a concessão, a permissão e a simples autorização de serviço público:
“A diferença fundamental entre permissão e concessão é que esta se efetiva mediante contrato precedido de licitação da modalidade concorrência tendo como concessionário pessoa jurídica ou consórcio de empresas por prazo certo e longo. A permissão verifica-se mediante licitação segundo a modalidade própria de acordo com cada caso, através de contrato de adesão de natureza precária. Não é obrigatório, portanto, a adoção exclusiva da concorrência, como na concessão. Outra diferença está no fato de que, pela permissão, se pode delegar a prestação de serviços à pessoa física ou pessoa jurídica, excluída a participação de consórcio de empresas, enquanto que a concessão se faz a pessoa jurídica ou a consórcio de empresas. À pessoa física é vedado participar de concorrência que tenha por objeto a concessão de serviço público”.�
“a autorização de serviço público é o ato administrativo discricionário e precário mediante o qual a Administração Pública competente investe, por prazo indeterminado, alguém, que para isso tenha demonstrado interesse, na execução e exploração de certo serviço público. A autorização de serviço público é formalizada por ato administrativo, veiculado por portaria ou decreto, precedido de licitação”.�
Há autores, porém, que, com vistas à atual legislação, consideram não mais haver diferenças substanciais entre a concessão e a permissão de serviço público. Assim entende José dos Santos Carvalho Filho:
“Com todos esses pontos de identidade, caberia a indagação: qual a diferença, então, entre a concessão e a permissão de serviço público? Perpassando o texto legal relativo às definições dos institutos (art.2º, II e IV), deparamo-nos com dois pequenos (e insignificantes) pontos distintivos, mas únicos, segundo nos parece, para traçar a linha demarcatória. Primeiramente, enquanto a concessão pode ser contratada com pessoa jurídica ou consórcio de empresas, a permissão só pode ser firmada com pessoa física oujurídica. Extrai-se, portanto, que não há concessão com pessoa física, nem permissão com consórcio de empresas. A diferença, pois, se encontra na natureza do delegatário, o que, deve registrar-se, é de uma irrelevância a toda a prova. Em segundo lugar, consta no conceito de permissão (art.2º, IV), que esse ajuste estampa delegação a título precário, ressalva que não se encontra na definição do negócio concessional (art.2º, II). Parece, assim, que o legislador considerou a permissão (mas não a concessão) como dotada de precariedade, qualidade, aliás, que também consta do art. 40 da Lei. Mas, o que será essa precariedade, não existente para a concessão e atribuída somente à permissão? A resposta é praticamente impossível. Precariedade é um atributo indicativo de que o particular que firmou ajuste com a Administração está sujeito ao livre desfazimento por parte desta, sem que se lhe assista direito à indenização por eventuais prejuízos. Não cremos que essa seja a situação jurídica do permissionário diante do contrato que celebrou com o Poder Público visando à execução de serviço público. A conclusão, diga-se de passagem, emana do próprio art. 40, parágrafo único, da Lei, que admite a incidência na permissão de regras inerentes à concessão. Ora, como em relação a esta, o desfazimento unilateral do contrato pela Administração por razões de interesse público a obriga a indenizar o concessionário, o mesmo é de se esperar que ocorra com o permissionário, que, afinal, está prestando o mesmo serviço público que o concessionário poderia executar. Portanto, não está na ausência do direito indenizatório a precariedade apontada pela lei”.�
Mais recentemente o ordenamento jurídico brasileiro passou a admitir a figura das parcerias público-privadas (PPP’s), cujas normas gerais vêm dispostas na Lei 11.079/2004, já havendo também diversas leis estaduais tratando de normas específicas sobre o tema.
As PPP’s nada mais são do que uma modalidade especial de concessão de serviço ou obra pública. Não dispondo de recursos para investir em certos serviços ou obras públicas, o Poder Público conta com a participação da iniciativa privada para financiar a sua realização, assegurando de logo o benefício à população, remunerando futuramente o parceiro privado. Se esta remuneração for integralmente financiada por recursos do próprio Poder Público, fala-se em concessão administrativa. Caso ocorra, além do pagamento feito pelo Poder Público, a cobrança de alguma tarifa por parte do usuário do serviço ou obra pública, estar-se-á diante de uma concessão patrocinada.
Segundo Celso Antônio, “como a lei pretende que as parcerias público-privadas (PPPs) sejam consideradas modalidades de concessão de serviço público, obviamente seu objeto só pode ser a prestação de um serviço público (ainda que para isto necessite englobar outras atividades); vale dizer: seu objeto será necessariamente a prestação de utilidade ou comodidade material fruível singularmente pelos administrados. Assim, toda tentativa de efetuar PPPs tendo como objeto alguma atividade que não seja serviço público seria aberrante, resultando em evidente nulidade do contrato”.�
Outras formas de delegação vêm surgindo, por meio de atos unilaterais ou acordos de vontade que não se enquadram como concessão ou permissão, mas que também podem ser considerados como formas de descentralização por colaboração. Citem-se, por exemplo, os contratos de gestão com organizações sociais e entidades afins (Lei 9637/98) e os termos de parceria com organizações da sociedade civil de interesse público (Lei 9790/99). São os chamados entes paraestatais ou terceiro setor, consoante veremos no tópico seguinte. 
� Diogo de Figueiredo, op. cit., p. 420-421.
� José dos Santos Carvalho, op. cit., p.351.
� Direito Administrativo, op. cit., p.342.
� Op. cit., p.279-280.
� Op.cit., p.133.
� Marçal Justen Filho, op. cit., p.99.
� Di Pietro, Parcerias..., op. cit., p.50-51
� Idem, p.53.
� Carlos Barros Júnior. Compêndio de Direito Administrativo, 1969, p.19.
� Di Pietro, Parcerias..., op. cit, p.52-53.
� José dos Santos, op. cit.,p.367.
� Parcerias..., op. cit., p.54.
� Hely Lopes Meirelles, op. cit., p.232.
� Idem.
� Op. cit., p.426-427.
� Edimur Ferreira de Faria, op. cit., p.392.
� Diógenes Gasparini, op. cit., p.405.
� Op. cit., p.357-358.
� Op. cit., p.754-755.
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