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Esporte Contemporâneo

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
 Centro de Ciências Sociais 
 Faculdade de Serviço Social 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Adriana Machado Penna 
 
 
 
 
 
Esporte contemporâneo: 
um novo templo do capital monopolista 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2011 
 
 
 
 
 
 
Adriana Machado Penna 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esporte contemporâneo: 
um novo templo do capital monopolista 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada, como requisito parcial 
para obtenção do título de Doutor, ao 
Programa de Pós-Graduação da 
Faculdade de Serviço Social, da 
Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro. Área de concentração: Trabalho 
e Política Social 
 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Profª Drª Silene de Moraes Freire 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CATALOGAÇÃO NA FONTE 
UERJ/REDE SIRIUS/ BIBLIOTECA CCS/A 
 
 
 
 
 
 
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Tese. 
 
 _____________________________________ ___________________________ 
 Assinatura Data 
 
 
 
 
 
 
P412e Penna, Adriana Machado 
 Esporte contemporâneo: um novo templo do capital 
monopolista / Adriana Machado Penna. – 2011. 
 172 f. 
 
 Orientadora: Silene de Moraes Freire. 
 Tese (doutorado) - Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro, Faculdade de Serviço Social. 
 Bibliografia. 
 
 1. Esportes e globalização – Teses. 2. Capitalismo – Teses. 
I. Freire, Silene de Moraes. II. Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro. Faculdade de Serviço Social. III. Título. 
 
 CDU 796 
 
Adriana Machado Penna 
 
 
 
Esporte contemporâneo: 
um novo templo do capital monopolista 
 
 
Tese apresentada, como requisito parcial 
para obtenção do título de Doutor, ao 
Programa de Pós-Graduação da 
Faculdade de Serviço Social, da 
Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro. Área de Concentração: Trabalho 
e Política Social. 
Aprovada em 27 de abril de 2011. 
Banca Examinadora: 
 
 __________________________________________ 
Profª Drª Silene de Moraes Freire (Orientadora) 
Faculdade de Serviço Social da UERJ 
 
 __________________________________________ 
Prof. Dr. Hajime Takeuchi Nozaki 
 Universidade Federal do Mato Grosso do Sul 
 
 __________________________________________ 
 Prof. Dr. Leovegildo Pereira Leal 
 Universidade Presidente Antônio Carlos 
 
 __________________________________________ 
 Profª Drª Sara Granemann 
 Universidade Federal do Rio de Janeiro 
 
 __________________________________________ 
 Prof. Dr. Waldyr Lins de Castro 
 Universidade Federal Fluminense 
 
_________________________________________ 
Prof. Dr. Ney Luiz Teixeira de Almeida 
 Faculdade de Serviço Social da UERJ 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2011 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este trabalho é dedicado a todos que perderam suas vidas por 
lutarem e acreditarem na emancipação humana como única 
fonte de liberdade possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As relações de produção entre diferentes nações dependem do ponto 
de vista até onde cada uma delas tenha desenvolvido suas forças 
produtivas, a divisão do trabalho e o intercâmbio interno. Esse 
princípio é, em geral, reconhecido. Mas não apenas a relação de uma 
nação com outras, como também toda a estrutura interna dessa mesma 
nação depende do nível de desenvolvimento de sua produção e de seu 
intercâmbio interno e externo. A que ponto as forças produtivas de 
uma nação estão desenvolvidas é mostrado de modo mais claro pelo 
grau de desenvolvimento da divisão do trabalho. Cada nova força 
produtiva, na medida em que não é a mera extensão quantitativa de 
forças produtivas já conhecidas (…), tem como consequência um 
novo desenvolvimento da divisão trabalho 
Marx e Engels 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
PENNA, Adriana Machado. Esporte contemporâneo: um novo templo do capital 
monopolista. 2011. 172 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) - Faculdade de Serviço Social, 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. 
 
 
Esta pesquisa teve por objetivo abrir uma discussão sobre o papel do esporte 
contemporâneo junto ao processo de alienação humana em tempos de domínio do capitalismo 
monopolista e do fortalecimento da ideologia dominante. Para tal, no primeiro capítulo, 
analisou-se as principais transformações vividas historicamente pelo capitalismo com a 
intenção de identificar o impacto do capitalismo monopolista sobre o novo ordenamento da 
humanidade. No segundo capítulo, demonstrou-se como o esporte contemporâneo constituiu-
se como uma instituição burguesa, socialmente determinada e integrada ao conjunto de 
normas, ideias e estratégias inerentes ao modo de produção capitalista, participando do 
processo de mascaramento da “questão social”. Destaca-se neste capítulo o uso de fontes 
documentais que demonstraram como o esporte contemporâneo tem ocupado lugar estratégico 
tanto junto à produção da ideologia dominante, quanto junto ao controle da queda da taxa de 
lucro. Identificou-se que sob tais condições o esporte contemporâneo compõe os processos 
compensatórios frente à queda tendencial da taxa de lucro e, ao mesmo tempo, integra-se ao 
processo de alienação humana, tendo por maior expressão a sua materialização sob a forma 
dos megaeventos esportivos. Neste ponto, a pesquisa concentra-se na análise dos 
megaeventos esportivos no Brasil e na criação das políticas do esporte, desde o primeiro 
governo Lula da Silva até os dias atuais. Identificou-se que os projetos de desenvolvimento do 
esporte no país, no período em tela, têm participado do processo de gerenciamento da crise do 
capital e do refluxo das lutas dos trabalhadores. O último capítulo abordou as particularidades 
que envolvem a ideologia pós-moderna, tendo por objetivo identificar as relações desta com 
fenômeno esportivo. Constatou-se que, em tempos de domínio do capitalismo monopolista e 
de suas políticas neoliberais, as contradições que aguçam o processo de alienação sob o qual 
encontra-se a classe trabalhadora de todo o mundo, coloca a humanidade em um novo 
patamar de alienação, ainda mais brutal e desumanizador. Nesta conjuntura, o esporte 
contemporâneo destaca-se por ser funcional tanto ao mercado globalizado, quanto ao projeto 
imperialista, impondo-se como instrumento da contenção de conflitos em nome da tolerância 
e da paz no mundo. A presente pesquisa pôde concluir que as condições impostas pela fase 
monopolista do capitalismo ocultam a natureza dialética do esporte transforma-o num 
instrumento eficiente ao projeto dominante de incremento da alienação humana. O esporte, 
sob a forma assumida na contemporaneidade, não contribui para o avanço da consciência da 
classe trabalhadora, pois vem colaborando para adiamento do projeto de emancipação da 
humanidade. Projeto este que só será produzido pela organização consciente da classe 
trabalhadora em busca da superação do modo de produção capitalista. 
 
Palavras-Chave: Capitalismo monopolista. Esporte contemporâneo. Nacionalismo. Alienação, 
Emancipação humana.ABSTRACT 
 
 
This study aimed to open a discussion about the role of contemporary sports with the 
process of alienation in a time domain of monopoly capitalism and the strengthening of the 
dominant ideology. To this end, the first chapter, we analyzed the major transformations 
experienced by capitalism historically intended to identify the impact of monopoly capitalism 
on the new order of humanity. In the second chapter, it was demonstrated how the sport from 
its origins to today, has been integrated into the capitalist mode of production, participating in 
the masking process of "social issue". This chapter highlights the use of documentary sources 
that demonstrated how the contemporary sports has occupied a strategic place along both the 
production of the dominant ideology, as with the control of the falling rate of profit. It was 
identified that under such conditions the contemporary sports make up the front of the 
compensatory processes falling tendency of the rate of profit and at the same time, integrates 
the process of alienation, with the highest expression and its materialization in the form of 
sports mega-events . At this point, the research focuses on the analysis of sports mega-events 
in Brazil and the creation of policies of the sport since the first Lula da Silva to the present 
day. It was identified that the development projects of the sport in the country during the 
period under consideration here, have participated in the process of managing the crisis of 
capital and the reflux of workers' struggles. The last chapter dealt with the particular 
involving the post-modern ideology with the purpose to identify the relations with this sport 
phenomenon. It was found that, once the domain of monopoly capitalism and its neoliberal 
policies, the contradictions sharpen the divestiture process under which is the working class 
around the world, puts humanity into a new level of alienation, even more brutal and 
dehumanizing. At this juncture, the contemporary sports stands out for being both functional 
in the globalized market, as the imperialist project and is viewed as an instrument of 
containment of conflicts in the name of tolerance and peace in the world.This research could 
conclude that the conditions imposed by the monopoly stage of capitalism conceal the 
dialectic nature of sport makes it an efficient tool to increase the dominant design of human 
alienation. The sport, in the form assumed in contemporary, does not contribute to the 
advancement of working-class consciousness, as has been helping to postpone the project for 
the emancipation of humanity. This project will only be produced by the organization aware 
of the working class in pursuit of overcoming the capitalist mode of production. 
 
Keywords: Monopoly capitalism. Contemporary sports. Nationalism. Alienation human 
Emancipation. 
RESUME 
 
 
Este estudio tuvo como objetivo abrir un debate sobre el papel del deporte 
contemporáneo con el proceso de la alienación humana en el dominio del tiempo del 
capitalismo monopolista y el fortalecimiento de la ideología dominante. Con este fin, el 
primer capítulo, se analizaron las principales transformaciones experimentadas por el 
capitalismo históricamente la intención de identificar el impacto del capitalismo monopolista 
en el nuevo orden de la humanidad. En el segundo capítulo, se demostró cómo el deporte se 
estableció como una institución burguesa, determinado y socialmente integrado conjunto de 
reglas, ideas y estrategias inherentes al modo de producción capitalista, que participan en el 
proceso de enmascaramiento de la "cuestión social". En este capítulo se destaca el uso de 
fuentes documentales que han demostrado cómo el deporte contemporáneo ha ocupado un 
lugar estratégico tanto con la producción de la ideología dominante, como en el control de la 
tasa decreciente de ganancia. Se encontró que en esas condiciones el deporte en este punto, la 
investigación se centra en el análisis de los deportes de mega-eventos en Brasil y la creación 
de políticas de este deporte desde los primeros Lula da Silva, el día de hoy. Se identificó que 
los proyectos de desarrollo del deporte en el país durante el período que nos ocupa, han 
participado en el proceso de gestión de la crisis del capital y el reflujo de las luchas obreras. 
El último capítulo discute los detalles que rodean la ideología posmoderna, con el objetivo de 
identificar la relación con este fenómeno deportivo. Se encontró que, una vez que el dominio 
del capitalismo monopolista y sus políticas neoliberales, las contradicciones afinar el proceso 
de desinversión en las que la clase está trabajando en todo el mundo, pone a la humanidad a 
un nuevo nivel de alienación, aún más brutal y deshumanizante. En esta coyuntura, el deporte 
contemporáneo se destaca por ser tanto funcionales como en el mercado globalizado, como el 
proyecto imperialista, imponiéndose como un instrumento de la contención de los conflictos 
en el nombre de la tolerancia y la paz en el mundo. Esta investigación podría concluir que las 
condiciones impuestas por la etapa monopolista del capitalismo ocultar la naturaleza 
dialéctica del deporte hace que sea un instrumento eficaz para el proyecto de aumento de la 
alienación humana dominante. El deporte, en la forma que adoptó en el actual no contribuye a 
la promoción de la conciencia de clase trabajadora, ya que ha estado ayudando a retrasar el 
proyecto para la emancipación de la humanidad. Este proyecto sólo será producido por la 
organización consciente de la clase obrera en la búsqueda de la superación del modo 
capitalista de producción. en el capitalismo. 
 
Palabras clave: Capitalismo monopolista. El deporte contemporáneo. El nacionalismo. La 
Alienación. La emancipación humana. 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10 
1 BASES PARA A COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO DO MODO 
DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ......................................................................... 27 
1.1 Origens do Estado burguês: aspectos clássicos da questão nacional.....................27 
1.1.1 Nacionalismo: um estado de espírito burguês .............................................................35 
1.1.2 Questão Nacional nas Américas: do reformismo ao anti-imperialismo ......................38 
1.2 Sobre o Imperialismo e as Nações ............................................................................43 
1.2.1 O papel das nações sob o poder do imperialismo ........................................................52 
1.3 O capitalismo monopolista e a expansão dos mercados mundiais ........................60 
2 O ESPORTE SOB O MANTO DA INCLUSÃO SOCIAL E DA PAZ 
MUNDIAL: CONSTATAÇÕES E TENDÊNCIAS ............................................... 65 
2.1 Origens do Esporte na Inglaterra: Breve Histórico ................................................66 
2.2 O Esporte sob os Impactos da Globalização Neoliberal .........................................70 
2.2.1 Esporte: a farsa da cultura da paz .................................................................................72 
2.3 Nacionalismo (s) no Brasil .........................................................................................87 
2.3.1 Esporte e Nacionalismo: o Brasil entra no jogo do século XXI ..................................89 
2.3.2 Nacio-lulismo: “sou brasileiro e não desisto nunca!” ..................................................94 
2.4 O Fenômeno dos Megaeventos Esportivos no Brasil sob o Imperialismo 
Contemporâneo ....................................................................................................... 105 
2.4.1 Megaeventos esportivos no Brasil ..............................................................................121 
3 CAPITALISMO E ESPORTE:A RACIONALIDADE IRRACIONAL ............133 
3.1 A Emergência da Nova Ordem Mundial Dominante e a Crise do Pensamento 
Revolucionário ......................................................................................................... 134 
3.2 Mercado Esportivo globalizado: Celeiro da Conciliação de Classes e Templo 
do Fetiche ................................................................................................................ 140 
3.3 Esporte-alienação X Esporte-Emancipação Humana ..........................................153 
4 CONSIDERAÇÃOES FINAIS ...............................................................................160 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................166 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
A discussão de fundo, trazida ao longo deste estudo, teve como eixo de análise as 
condições objetivas nas quais se movem a lógica do modo de produção capitalista. Passamos, 
assim, a apontar os desdobramentos decorrentes das principais transformações ocorridas neste 
sistema social, desde a sua origem aos dias atuais. Nossa atenção esteve voltada, sobretudo, 
para os impactos de tais transformações sobre as relações humanas determinadas pelo 
capitalismo. 
Por este motivo, mantivemo-nos atentos ao processo de construção de fenômenos 
sociais que, sob uma investigação crítica, ajudam na explicitação da crescente alienação que 
se abate sobre as relações humanas capitalistas. Tal alienação, a rigor, impõe-se na mesma 
medida em que controla o antagonismo inconciliável entre as classes fundamentais, trazendo 
como uma de suas maiores consequências o mascaramento das expressões da “questão 
social”. Este processo contribui, em grandes proporções, para a produção de relações sociais 
cada vez mais desumanizadas e brutalizadas, tendo em vista que vêm sendo postas as 
condições para a sua imersão numa conjuntura de avanço da alienação humana. A nosso ver, a 
forma pela qual este fenômeno vem se apresentando tem colaborado para o fortalecimento do 
pensamento único, produzindo e reproduzindo mecanismos que descaracterizam e minimizam 
as expressões da “questão social”. Esta última, entendida aqui como uma consequência dos 
entraves e das contradições próprias das determinações inerentes às relações capitalistas. 
A este respeito, valemos-nos dos ensinamentos de José Paulo Netto1, ao insistir na 
necessidade de identificarmos os elementos constitutivos da “questão social”. Para tanto, o 
autor diz ser fundamental a compreensão de que também as sociedades que precederam as 
relações sociais capitalistas terem experimentado toda a sorte de “desigualdades” e 
“privações” constituindo, desta forma, entraves àquelas sociedades. Tais entraves resultaram 
do “baixo nível de desenvolvimento das forças produtivas” que passaram, a partir de então, a 
não dar conta das demandas daquele período histórico. A retomada de tais aspectos, como diz 
Netto, é essencial para o entendimento de que a “questão social” não se relaciona com o 
“desdobramento de problemas sociais que a ordem burguesa herdou ou com traços invariáveis 
da sociedade humana”. Ao contrário, tem a ver “exclusivamente com a sociabilidade erguida 
 
1
 NETTO, José Paulo. Cinco notas a propósito da “Questão Social”. Temporalis, n.3, jan./jul, 2001. 
 
11 
 
sob o comando do capital”2. Assim, na sociedade burguesa, as desigualdades e privações são 
socialmente produzidas nas, e, por suas relações de produção, tendo em vista o avançado grau 
das forças produtivas. 
Esta sociabilidade, como já nos ensinou Marx, é resultante de um processo 
contraditório que constitui e, simultaneamente, é constitutivo do próprio sistema do capital. 
Portanto, estamos diante de uma socialização crescente das forças produtivas, 
permanentemente embarreiradas pelas relações sociais de produção e dirigidas pelas decisões 
privadas que naturalizam a “questão social”. É neste sentido, que podemos partir da 
compreensão de que o processo produtivo capitalista, na sua totalidade articulada, produz 
“não apenas a mercadoria, não apenas a mais-valia, mas produz e reproduz a própria relação 
capital, de um lado o capitalista, do outro o trabalhador assalariado3. 
A compreensão acima – e isto é importante que deixemos claro desde logo –, foi 
determinante para o nosso trato com a “questão social”, pois não coincide com a concepção 
positivista dominante que insiste numa relação mecânica entre a produção e perpetuação da 
pobreza, da desigualdade e, por consequência, dos movimentos de exclusão/inclusão social. 
Tal concepção entende que os supostos desajustes sociais e as grandes massas de seres 
humanos sobrantes, têm uma relação de causa e efeito enquanto determinantes dos conflitos 
sociais e, em consequência, da pobreza no mundo. Este discurso se empenha na produção de 
teses que justifiquem a própria existência da exclusão de milhares de seres humanos, sem se 
voltarem para o fato de que o fenômeno da exclusão e da pobreza são o fundamento para a 
própria existência da expansão e produção capitalista, bem como para o crescimento e 
acúmulo privado da riqueza. 
Ao contrário dos discursos acima, Marx4 já demonstrou que a dinâmica na qual se 
processa a “produção progressiva de uma superpopulação relativa” não está determinada pelo 
volume de capital total produzido. Ao contrário, esta mantém relação direta com o seu 
“componente variável”5, o qual decresce progressivamente com o crescimento do capital total, 
“ao invés de, como antes se pressupôs, crescer de modo proporcional com ele”6. 
Assim, dentro da lógica da naturalização social capitalista, ao se valer do binômio 
 
2
 Ibid. p. 46. 
 
3
 MARX, KARL. O capital: crítica da economia política, livro 1, t. 2. São Paulo: Abril Cultural, 1984. 
 
4
 Ibid. 
 
5
 Marx entende por componente variável do capital, a força de trabalho humana. 
 
6
 Ibid., p. 199-200. 
12 
 
inclusão/exclusão, a ideologia dominante – propalada aos quatro cantos do mundo por seus 
maiores representantes, tais como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco 
Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a 
Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização Mundial do Comércio (OMC), 
entre outros –, produz justificativas tanto para a existência da pobreza, bem como para o que 
entendem por exclusão, passando a legitimá-las. A solução aventada para a minimização de 
ambas, segundo o discurso dominante, deve passar pela criação de programas assistencialistas 
de inclusão social, em âmbito mundial, dos quais emergem parâmetros para projetos 
focalizados de alívio à pobreza e para a contenção, segundo tais organismos, das chamadas 
instabilidades sociais. 
Segundo a ONU7, toda a atenção deve ser dada à persistência das condições de 
extrema pobreza8 no mundo globalizado. O controle da pobreza é considerada pela ONU 
como o “pivô para a segurança global”. Daí surge a necessidade da organização de “grandes 
líderes mundiais”, dispostos a alcançar as MDMs (Metas de Desenvolvimento para o 
Milênio)9, em busca da redução da pobreza no mundo, até o ano de 2015. Estes foram o 
argumentos que levaram governantes dos países do centro do capitalismo a 
“comprometer[em] suas nações” em nome de uma parceria global para “reduzir a pobreza, 
melhorar a saúde e promover a paz, os direitos humanos, a igualdade de gênero e a 
sustentabilidade ambiental”. Para a ONU o cumprimento das Metas do Milênio: 
 
(…) não apenas refletem a justiça global e os direitos humanos – eles são também vitais para 
a segurança e a estabilidade no plano internacional e nacional (...) As sociedades pobres e 
com fome são muito mais propensas do que sociedades de alta renda a seenvolverem em 
disputas por recursos vitais escassos, como poços de água e terra cultivável – e por 
recursos naturais escassos como petróleo, diamantes e madeira. Muitos líderes mundiais 
nos últimos anos enfatizaram com razão a poderosa relação entre a redução da pobreza e a 
segurança global (…) A consecução dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio deve, 
portanto, ser colocada no centro dos esforços internacionais para eliminar os conflitos 
violentos, a instabilidade e o terrorismo. Conforme recomenda o Painel de Alto Nível, os 
 
7
 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Investimento no desenvolvimento: um plano para atingir os objetivos 
do Desenvolvimento do Milênio. Nova Iorque, 2005. 
 
8
 De acordo com a ONU (Ibid.), pode-se definir por “extrema pobreza” a “'pobreza que mata', privando indivíduos dos meios 
de permanecerem vivos diante da fome, da doença e dos perigos” (Ibid., p. 4). 
 
9
 Entre 6 a 8 de setembro de 2000 fora organizada a “Cúpula do Milênio”. Segundo a ONU, foi a “maior reunião de líderes 
mundiais” o que gerou a adoção da “Declaração do Milênio das Nações Unidas”. Ainda Segundo a ONU, os objetivos 
prescritos pela Declaração do Milênio levaram inúmeros líderes mundiais a comprometerem “suas nações numa parceria 
global para reduzir a pobreza, melhorar a saúde e promover a paz, os direitos humanos, a igualdade de gênero e a 
sustentabilidade ambiental. Logo depois, os líderes mundiais encontraram-se novamente na Conferência Internacional de 
março de 2002 sobre Financiamento para o Desenvolvimento, em Monterrey, México, estabelecendo um marco de 
referência para balizar a parceria global de desenvolvimento, no qual os países desenvolvidos e os países em 
desenvolvimento concordaram em adotar ações conjuntas para reduzir a pobreza (…) Mais tarde no mesmo ano, os 
Estados-membro das Nações Unidas reuniram-se na Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 
Joanesburgo, África do Sul, onde reafirmaram os Objetivos como as metas de desenvolvimento já aprazadas para o mundo” 
(Ibid.). 
13 
 
países que aspiram à liderança global através de assento permanente no Conselho de 
Segurança das Nações Unidas têm uma responsabilidade especial na promoção dos Objetivos, 
assim como no cumprimento dos compromissos internacionais de ajuda oficial ao 
desenvolvimento e outros tipos de apoio essenciais para sua consecução10. 
 
A matriz ideológica promotora destas políticas está articulada ao discurso da 
solidariedade e dos esforços pela união dos povos, em busca da paz mundial. Todo este 
aparato vem se consolidando como ferramenta necessária ao mascaramento da “questão 
social” e à contenção das lutas de classes, em prol do gerenciamento da crise do capitalismo 
monopolista, na sua luta contra a queda tendencial da taxa de lucro. 
Identificamos tanto nos discursos como nas práticas anteriormente apresentadas, uma 
ampla integração com o fenômeno esportivo contemporâneo, o qual vem assumindo formas 
que são inerentes a nova fase de gerenciamento da crise do capital. O esporte contemporâneo 
está, nesse sentido, cada vez mais integrado à totalidade do modo de produção capitalista, já 
que se integra ao desenvolvimento das forças produtivas sob o controle do capital. 
A presente pesquisa aponta para o recente papel assumido pelo esporte, incluindo o 
discurso e as ações que o elegeram como um dos instrumentos capazes de promover a 
tolerância entre os povos, “a fim de se atingir a paz no Milênio”11. Ocorre, neste contexto, que 
o esporte vem ganhando novas finalidades frente aos condicionantes da globalização e aos 
novos padrões que compõem a economia neoliberal, sob o predomínio do capitalismo 
monopolista. As políticas neoliberais promovem amplo e profundo processo de desigualdades 
e de drástica redução das condições básicas de sobrevivência da classe trabalhadora. O 
acirramento deste período potencializou a pobreza e a precarização do trabalho em todo o 
mundo o que, frente ao acirramento da crise, foi necessário ser tratado, como vimos acima, 
com a produção de políticas de controle e alívio da pobreza, dada a imanente possibilidade de 
explosão de revoltas e insurreições no mundo. Este momento marcou uma forma determinada 
de desenvolvimento do esporte pelo mundo, como veremos. O esporte, juntamente aos 
mercados que o cercam na atualidade, passa a atuar tanto no equilíbrio da crise do capital, na 
medida em que concorre para o controle da queda da taxa de lucros, como faz parte de uma 
importante e necessária estratégia ideológica, na busca pelo controle e alienação das 
consciências. 
Aqui reside a necessidade de analisarmos a natureza do Estado burguês12, na medida 
 
10
 Ibid., p. 6, grifo nosso. 
 
11
 Relatório da Força Tarefa entre Agências das Nações Unidas sobre o Esporte para o Desenvolvimento e a Paz: em direção 
às metas de desenvolvimento do milênio. 2003. Disponível em: <http://wwwesporte.gov.br> Acesso em: 15, nov, 2004. 
 
12
 A discussão sobre o Estado capitalista, sua origem e desenvolvimento, será abordado no primeiro capítulo desta pesquisa. 
14 
 
em que este possibilita as condições para o livre movimento de capitais os quais, 
consequentemente, promovem políticas de desregulamentação das relações de trabalho, de 
liberalização do comércio e de privatizações. Pode-se ver, nesta análise, suas consequências 
sobre o mascaramento da “questão social”, no refluxo da organização e da luta da classe 
trabalhadora. Como nos mostra Iamamoto13: 
 
(…) na raiz do atual perfil assumido pela questão social encontram-se as políticas 
governamentais favorecedoras da esfera financeira e do grande capital produtivo – das 
instituições e mercados financeiros e empresas multinacionais. Estas são forças que capturam 
o Estado, as empresas nacionais, o conjunto das classes e grupos sociais que passam a 
assumir o ônus das ‘exigências dos mercados’. Afirma-se existir uma estreita dependência 
entre a responsabilidade dos governos no campo monetário e financeiro e a liberdade dada 
aos movimentos do capital concentrados para atuar no país sem regulamentação e controles, 
transferindo lucros e salários oriundos da produção para valorizar-se na esfera financeira e 
especulativa, que (re)configuram a questão social na cena contemporânea. O predomínio do 
capital fetiche conduz à banalização do humano, à descartabilidade e indiferença perante o 
outro, o que se encontra na raiz das novas configurações da questão social na era das 
finanças. Nessa perspectiva, a questão social é mais do que as expressões da pobreza, 
miséria e ‘exclusão’. Condensa a banalização do humano, que atesta a radicalidade da 
alienação e a invisibilidade do trabalho social – e dos sujeitos que o realizam – na era do 
capital fetiche14. 
 
A mercantilização do esporte15, sob o comando do capitalismo monopolista, assimila 
uma nova funcionalidade ao inserir-se no processo contemporâneo de produção e reprodução 
das relações sociais capitalistas contemporâneas, tanto em escala internacional quanto 
nacional. O esporte, nesse contexto, fortalece a sua aparência unificadora da sociedade, ao 
mostrar-se como um elemento impermeável a qualquer ideologia ou a qualquer discussão de 
viés crítico. 
 
Atualmente, o esporte é um assunto do qual se fala constantemente, mas pouco se interroga 
sobre o seu sentido. Que é o esporte? Esta questão parece ter caído no esquecimento. Não 
porque esteja ausente da literatura pedagógica, mas porque está colocada como dogma e 
como mito, também porque está camuflada sob o ‘humanismo’, e a ‘inovação’ do Esporte 
para Todos, que oferece ao homem o remédio ideal para os males da sociedade industrial e a 
esperança de superar desigualdades sociais. Há um consenso universal sobre os ‘valores 
ideais’ do esporte.E, portanto, é preciso praticar esporte, praticar sempre e cada vez mais. É 
exatamente esta universalidade, juntamente com a neutralidade atribuída ao esporte, 
que permite utilizá-lo, dando-lhe o sentido que convém aos interesses da classe 
dominante 16. 
 
13
 IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: 
Cortez, 2007. 
 
14
 Ibid. p. 124-125. 
 
15
 Apoiamo-nos em Marx e sua teoria do valor, ao identificarmos o fenômeno esportivo como uma mercadoria. O esporte, 
mediado por um sistema próprio e dominante da divisão do trabalho na sociedade contemporânea, sofre um profundo e 
avançado processo de reificação na medida em que as relações entre os sujeitos sociais que o produzem e reproduzem, 
perdem sua magnitude. Assim, o que passa a se impor, na sua forma imediata, são as relações entre “coisas”, ou seja, entre 
produtos de grandes empresas, marcas empresariais, o marketing, a grande mídia etc. 
 
16
 CAVALCANTI, Brandão. Tendência crítica e revolucionária da ed. física brasileira. Revista Sprint. 1985. p. 20. Grifo 
nosso. 
15 
 
 
A aparente expressão de homogeneidade do esporte (com toda a sua linguagem e 
vestuários específicos, padrões de comportamentos, além de uma gama interminável de 
mercadorias que prometem um novo estilo de vida), é funcional à propagação e 
fortalecimento da ideologia dominante. Isto posto, é pertinente afirmar que, se por um lado, o 
esporte serve de instrumento para a socialização de novos hábitos e para a produção de novas 
mercadorias àqueles poucos que efetivamente os consomem, por outro, serve de importante 
elemento para a propagação de políticas assistencialistas inclusivas, aprofundando o processo 
de conciliação e alienação da classe trabalhadora. 
 
 
Objetivos da pesquisa e problemas levantados 
 
 
Diante do contexto acima, a presente pesquisa pretende abrir uma discussão sobre o 
papel do esporte junto à atual fase monopolista do modo de produção capitalista, com o 
objetivo principal de identificar a sua influência no processo de alienação humana. 
Justificamos nosso interesse neste estudo, tendo em vista que a manutenção e a ampliação da 
alienação poderão constituir-se numa tendência a naturalização de uma sociedade hedonista, 
consolidada pela existência de um homem desprovido de pensamento crítico facilitando, 
assim, o processo de dominação burguesa e a manutenção dos lucros capitalistas. 
O capitalismo, em sua nova fase de controle da crise do capital monopolista, vem 
promovendo o fortalecimento e a propagação de um corpus ideológico, fundamental a sua 
continuidade via naturalização e simplificação de suas relações sociais. Isto posto, algumas 
questões gerais se apresentam como objeto de investigação nesta pesquisa, tais como: quais os 
principais impactos do capitalismo, na sua fase monopolista, sobre os rumos da humanidade?; 
como estão organizados as instituições da burguesia que se utilizam do esporte para levar a 
cabo as políticas de expansão do capital?; de que maneira a crise da esquerda mundial tem 
contribuído para o avanço do capitalismo sobre a organização da classe trabalhadora, 
dificultando-nos a construção do processo de emancipação humana? 
De modo mais específico, perguntamos: quais os principais processos de 
transformação no modo de produção capitalista que, ao serem incorporados pelo esporte, 
possibilitaram a sua adequação ao mercado monopolista?; como os interesses vinculados ao 
mercado esportivo se materializam nas relações sociais capitalistas contemporâneas?; qual 
16 
 
será, de fato, a função reservada ao esporte ao se encontrar integrado à reestruturação 
produtiva do capital?; como o esporte vem participando da ideologia dominante, contribuindo 
para a consolidação de uma sociedade hedonista e desumanizada? 
Para responder a estas questões, partimos para a investigação das determinações que 
compõem o esporte contemporâneo, localizando-o enquanto um elemento conectado à 
totalidade da estrutura social capitalista. Assim, surgiu a necessidade de explicitarmos como 
vem operando o domínio dos monopólios, em prol do deslocamento do capital para a área de 
serviços ligados ao esporte. Entendemos que estes fenômenos têm a sua maior expressão na 
tentativa de se contrapor à queda tendencial da taxa de lucro. 
O esporte, sob esta perspectiva, encontra-se integrado a mecanismos vitais para a 
manutenção e, até mesmo, para o prolongamento da lógica capitalista contemporânea, pois, 
sob a ameaça de suas contradições, o capitalismo necessita criar meios que acelerem a 
circulação de grandes massas de capital. Estas, ao se encontrarem na impossibilidade de gerar 
lucros, caem na contradição que historicamente ronda o capitalismo: a crise da 
superprodução. Diante desta dinâmica, ao se expandir como serviço e, ao mesmo tempo, 
como mercadoria, o esporte assimila e é assimilado por novos interesses de setores da 
economia mundial, os quais, originalmente, não mantinham relação direta com o seu processo 
produtivo. 
Às relações sociais contemporâneas têm sido impostas uma permanente reestruturação 
em sua dinâmica, atuando sobre as bases das relações humanas, impondo-lhes novos padrões 
que são condicionados pela própria necessidade de perpetuação da ordem material capitalista. 
Com o intuito de banalizar as consequências decorrentes do aprofundamento de sua 
dominação, o capitalismo precisa investir na reestruturação das relações entre os seres 
humanos, brutalizando-as cada vez mais. Nesta medida, o capitalismo tem conduzido a 
humanidade a mais perversa forma de alienação vista desde a sua origem. Tal necessidade 
vem se sobrepondo a todas as atividades das relações humanas, expressando-se portanto, em 
todos os setores da vida. 
Verifica-se que, em nome do estabelecimento de um novo ordenamento da 
humanidade, institucionalizou-se a busca desenfreada pela satisfação imediata, advindas de 
relações humanas efêmeras e hedonistas, baseadas no individualismo e na competitividade. 
Características já presentes em fases anteriores da estrutura social capitalista, mas que, agora, 
por se tratar de uma fase ainda mais complexa, precisam galgar degraus ilimitados. 
Conforma-se, deste modo, um padrão mundial de indivíduo: desconectado do mundo 
concreto, pois, alienado do sentido mesmo de sua existência social e da sua condição 
17 
 
enquanto sujeito e objeto da sua história. 
No intuito de alcançarmos o objetivo proposto, dividimos a presente pesquisa em três 
capítulos. No primeiro, trouxemos ao debate as principais transformações vividas pelo 
capitalismo contemporâneo. Optamos, no entanto, por dar especial destaque ao papel do 
Estado-nação e seu desenvolvimento histórico, enquanto elemento indispensável à reprodução 
da dominação de classes. Discussão que fora complementada num segundo momento, ao 
chamarmos a atenção para o Estado-nação enquanto instituição responsável pelas condições 
objetivas de superação temporária das crises cíclicas do capitalismo. 
Ainda, no primeiro capítulo, demos destaque às contradições inerentes ao modo de 
produção capitalista e, sobretudo, à importância vital da lei tendencial da queda da taxa de 
lucro para a produção e reprodução do próprio sistema, mostrando como esta tendência é 
responsável pela corrida para a constituição de monopólios via concentração e centralização 
de capitais. 
No segundo capítulo, procuraremos demonstrar as formas pelas quais o esporte 
mercadoria vem integrando o modo de produção capitalista contemporâneo, ocupando um 
lugar privilegiado junto às estratégias de equilíbrio da queda tendencial da taxa de lucro. É 
dentro desta lógica que pretendemos identificar o esporte como um elemento útil, tanto aos 
processos compensatórios da queda da taxa de lucro como,ao mesmo tempo, ao processo de 
alienação humana, ambos, indispensáveis à manutenção e aprofundamento da atual fase do 
capital. 
Nesta linha de argumentação, iniciamos o capítulo citado fazendo um brevíssimo 
resgate das origens do esporte moderno na Europa Ocidental, no século XIX, em vias de 
avanço de seu processo de industrialização, apontando as demandas do capital à época. O 
esporte fora utilizado, desde então, como instrumento de controle dos corpos e das mentes do 
proletariado, repercutindo na ampliação da exploração do trabalho, na medida em que 
conseguiu influenciar no mascaramento da “questão social” e na reprodução de um 
proletariado ordeiro e dócil. 
Deste modo, procuraremos também demonstrar que o capitalismo sempre buscou 
integrar o esporte à sua engrenagem, seja em função de sua expansão ideológica, política, 
econômica ou militar. Assim, o esporte vem servindo historicamente aos Estados nação como 
instrumento para o fortalecimento e a unificação da pátria e do nacionalismo. No entanto, 
como será demonstrado no primeiro capítulo deste estudo, identifica-se uma mudança no 
projeto ao qual a nação contemporânea está associada, migrando do local ou nacional, para 
um projeto internacional e imperialista. Em um segundo momento, abriremos a polêmica a 
18 
 
respeito da construção dos nacionalismos, questionando-os sobre a sua validade, sob uma 
conjuntura na qual o poder do imperialismo é supremo. Neste sentido, a expansão do esporte 
na sociedade capitalista pós-moderna não atende mais aos mesmos interesses anteriores, de 
construção das nações e dos nacionalismos. 
Nossa intenção será a de identificar as determinações presentes no processo que 
transformou o fenômeno do esporte moderno em um mercado com características próprias, 
representando os interesses que, apenas aparentemente, respondem aos clássicos ideais 
burgueses da nação e do nacionalismo apontando para a farsa na qual se escondem os projetos 
nacionais, na sua grande maioria. Pois, embora ainda se expressem num determinado espaço 
geográfico – numa nação específica – estão subjugados à dominação imperialista, cujo corpo 
constitui-se das nações parceiras e das corporações multinacionais. 
Para darmos conta da explicitação destas novas características adotadas pelo esporte 
contemporâneo, introduziremos o debate sobre a expansão do fenômeno dos megaeventos 
esportivos que, a nosso ver, é a maior expressão deste novo mercado do esporte globalizado. 
Este último, ao promover o deslocamento do capital de outros setores para o setor de serviços, 
e de uma região do mundo a outra, conforme o valor da força de trabalho e das garantias 
dadas pelo Estado nacional age como um importante elemento que se contrapõe à lei da queda 
tendencial da taxa de lucro cumprindo, deste modo, a função de contenção frente às crises 
sistêmicas do capital. 
Para demonstrar esta dinâmica, traremos exemplos de alguns países sede de grandes 
eventos esportivos, tais como copas do mundo de futebol e jogos olímpicos. Para uma análise 
mais específica e rigorosa sobre esta questão, investigaremos seus desdobramentos no Brasil, 
desde o primeiro governo Lula da Silva aos dias atuais17. Assim, poderemos trazer alguns 
aspectos da sua política esportiva e os significados da abertura do país aos megaeventos 
esportivos, especificamente, os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro de 2007, a Copa do 
Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016. 
No terceiro e último capítulo buscaremos apontar as particularidades que envolvem a 
ideologia pós-moderna, tendo por objetivo identificar como a mesma serve-se do fenômeno 
esportivo. Partiremos do princípio de que a ideologia pós-moderna participa de uma nova 
ordem mundial, em tempos de domínio do capitalismo monopolista e de suas políticas 
neoliberais. Disto resultaram as circunstâncias nas quais engendrou-se o quadro de consenso 
alienante sob o qual a classe trabalhadora de todo o mundo encontra-se submetida atualmente. 
 
17
 Estamos considerando como dias atuais, os primeiros três meses do governo Dilma Rousseff. 
19 
 
Esta discussão nos remeterá ao debate sobre as causas do refluxo de lutas da classe 
trabalhadora que, em grande medida, localiza-se na crise vivida pelo pensamento crítico, na 
década dos anos de 1970, na Europa Ocidental. Crise esta que repercutiu em todo o mundo e 
mostra seu peso ainda na atualidade por, de certa forma, ter colaborado para a transição do 
Estado de Bem-Estar para o Estado neoliberal, sem que se identificassem maiores resistências 
da classe trabalhadora. 
A inserção das políticas neoliberais na nova ordem mundial colocou a humanidade em 
um novo patamar de alienação, ainda mais brutal e desumanizador. Sobressai-se, nestas 
circunstâncias, o avanço das investidas burguesas contra a classe trabalhadora, mas, ao 
mesmo tempo, chamou a atenção a lacuna deixada pela esquerda. Esta lacuna se expressa 
tanto na ausência de partidos e de ações revolucionárias da esquerda junto à classe 
trabalhadora, como pelos equívocos cometidos por parte da esquerda que, mesmo ao se 
colocar como críticos do Estado capitalista e das políticas neoliberais, acabam por optar pela 
estratégia de humanização do sistema, em busca da ampliação das conquistas e dos direitos 
políticos aos trabalhadores. 
Sob tais condições, é pertinente dizer que a esquerda acaba por incorrer num erro – já 
sublinhado por Marx, em 1843, em A Questão Judaica –, ao priorizar a luta pela ampliação da 
emancipação política, em detrimento da emancipação humana. Estratégia que tem conduzido 
a classe trabalhadora à redução das lutas às esferas institucionais e parlamentares. 
É nesta conjuntura que o esporte vem ganhando peso mundialmente, enquanto 
mercadoria desejada, porém, de fato, acessível a poucos. Aqui ergue-se o papel dos Estados 
nacionais que, sob os desígnios dos interesses do capital monopolista e dos comandos 
imperialistas, fortalecem o discurso da igualdade de acesso e do direito de todos às práticas 
esportivas. Este discurso exacerba o duplo caráter do esporte contemporâneo sendo funcional 
tanto como instrumento privado, apropriado pelo mercado, quanto como instrumento da 
contenção de conflitos, em nome da tolerância e da paz. O que acaba por promover e facilitar, 
ainda mais, a abertura de fronteiras para a expansão deste mercado. Tais condições ocultam a 
natureza dialética do esporte, dificultando a sua contribuição no processo de emancipação 
humana. 
20 
 
Materialismo histórico e dialético: caminho da práxis revolucionária 
 
 
O desenvolvimento da presente pesquisa traz em si, antes de tudo, um propósito que 
extrapola os limites de seu objetivo mais imediato, já enunciado acima. Este estudo filia-se a 
outros esforços que se expressem na busca do resgate da perspectiva da realidade e da história 
como uma produção social da existência humana. Associa-se, portanto, ao compromisso da 
transformação das formas de exploração e de redução humanas, produzidas pelas relações 
sociais capitalistas. Daí a necessidade de superarmos questões revestidas pela ideologia 
dominante, colocando-nos em busca de respostas que tenham sua fundamentação na histórica 
concreta. Isto explica a nossa opção teórico-metodológica consolidada no materialismo 
histórico e dialético e em suas categorias analíticas. 
Para realizarmos o presente estudo, julgamos ser necessária a apropriação de um 
referencial teórico-metodológico que nos levasse para além das manifestações fenomênicas 
do real e nos conduzisse a sua essência. Tarefa que, como sabemos, não é fácil, posto que 
exige uma busca rigorosa por uma elaboração dentro da totalidade da vida real na qual as 
relações sociais são produzidas historicamente. Impôs-se, assim, a necessidade de 
assimilarmos os conhecimentos produzidos pelateoria marxista, na perspectiva de tê-los 
como parte de nós mesmos, como condicionante de nossa práxis. Nesse sentido, não nos basta 
a mera reprodução de conceitos ou a exposição de pensamentos filiados ao marxismo e a sua 
herança, posto que, deste modo, não estaríamos nos defrontando de forma revolucionária com 
a realidade, mas, isto sim, apenas a reproduzindo. 
Neste contexto, o nosso objeto de estudo, qual seja, o esporte contemporâneo 
submetido às determinações do capitalismo monopolista, foi analisado sob uma conduta 
metodológica que nos possibilitou enxergá-lo como um processo que ganha vida ao mesmo 
tempo em que se desenvolve como parte de uma totalidade social complexa. Por isto, nosso 
objeto de estudo fora tratado como um elemento que assume a sua realidade na medida em 
que é apreendido nas múltiplas determinações que o produziram, ou seja, na totalidade que 
compõe a sociedade capitalista. 
Utilizamos a categoria totalidade, acima apresentada, entendendo que a observação do 
real deve se processar a partir da saturação dos elementos contraditórios que compõem o 
conjunto de complexos particulares que, interrelacionados dialeticamente, conformam o 
universal. Tratamos nesta pesquisa, como totalidade, a economia política, cujas circunstâncias 
históricas produzidas pela sua utilização acabam por definir as condições materiais objetivas e 
21 
 
as relações sociais de produção da vida material do homem. Marx demonstra ao longo de toda 
a sua obra, que o processo histórico de produção da vida material não se dá de forma 
espontânea, ao contrário, está condicionado pelas relações jurídicas e políticas, ou seja, pelas 
“suas formas ideológicas” engendradas pelas relações dominantes de seu tempo. Para fins 
deste estudo, consideramos a totalidade como o “sistema da economia burguesa”, nesta 
ordem: “capital, propriedade fundiária, trabalho assalariado; Estado, comércio exterior, 
mercado mundial”, conforme enunciado por Marx18. 
Aqui é fundamental compreender que a sociedade burguesa em geral – base da 
estrutura econômica da formação social capitalista sob a superestrutura jurídico-política e 
ideológica – move-se pela força de suas contradições internas, representada na relação entre o 
avanço das forças produtivas sob os constantes impedimentos das relações de produção. No 
caso específico da sociedade capitalista, como nos ensina Marx: “O capital é a potência 
econômica da sociedade burguesa, que domina tudo”19. Contudo, é em meio a estas 
contradições que se ergue a força que movimenta a história, promovendo o surgimento do 
novo a partir do velho; promovendo a transformação social à medida que resolve tais 
contradições. O homem é, neste contexto, parte constitutiva desta totalidade contraditória. 
O objeto investigado e explicitado no presente estudo não fora produzido 
naturalmente. Por este motivo, não pode ser apresentado como independente da totalidade, 
nem mesmo possuidor de autonomia e espontaneidade. Tampouco pode ser produzido e 
reproduzido no pensamento humano, como deseja a ideologia dominante. 
No famoso texto que ficou conhecido por Introdução à Crítica da Economia 
Política20, escrito em 185721, Marx, ao criticar o “caminho que foi historicamente seguido 
pela nascente econômica”, referindo-se aos economistas do século XVIII, destaca que o 
equívoco daqueles estava em iniciarem suas análises “sempre por uma totalidade viva”. Desta 
forma, Marx chama a atenção para o fato de que o concreto que os economistas clássicos 
utilizavam como ponto de partida, não era tido como a “unidade do diverso”. Assim sendo, 
decorre que “a representação plena volatiliza-se em determinações abstratas [...]”. O real, dirá 
 
18
 MARX, K. Para a crítica da economia política do capital. Editora Nova Cultural Ltda. 1999. p. 50-52. Grifos do autor. 
 
19
 Ibid. p. 45. 
 
20
 MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Martins Fontes, 1977. 
 
21
 Referimo-nos, neste ponto, especificamente, à terceira parte do texto Introdução à Crítica da Economia Política. Considera-
se conter esta terceira parte o Método da Economia Política, tratado de forma explícita. Este é, justamente pelo motivo 
mencionado, considerado um dos textos de maior relevância da obra de Marx. Esta Introdução fora publicada junto a 
outros textos, que expressavam os primeiros apontamentos econômicos de Marx, em 1939, sob o título de Grundrisse der 
Kritik der politischen Ökonomie. 
22 
 
Marx, visto desta maneira, livre de qualquer determinação, é reduzido a mera abstração já que 
concebe o real “como resultado do pensamento, que se concentra em si mesmo, se aprofunda 
em si mesmo e se movimenta por si mesmo”. Dito isto, Marx nos leva à constatação de que se 
a realidade for percebida daquela maneira, sob uma análise imediata, perderá todo e qualquer 
vínculo com uma totalidade muito mais ampla e complexa, não contribuindo, desta maneira, 
para a produção do conhecimento real22. 
Ao optarmos por percorrer o caminho apontado por Marx, qual seja, o caminho 
oferecido pelo “método cientificamente correto”23, o fazemos por considerá-lo o percurso 
possível para nos aproximarmos da lógica que propaga as profundas desigualdades históricas 
entre os homens. Estamos certos de que este método, rigorosamente acompanhado pelas 
constantes transformações associadas ao capitalismo contemporâneo, será capaz de nos 
conduzir aos objetivos de nossa investigação. 
Na constante busca por explicitar o conflito maior do sistema capitalista, Marx e 
Engels, em A Ideologia Alemã24, mostram as implicações contraditórias e inerentes à divisão 
do trabalho. Afirmam que, sob estas condições, a “atividade intelectual” e a “atividade 
material” ficam destinadas a indivíduos diferentes. Pois, enquanto houver “cisão entre o 
interesse particular e o interesse comum, enquanto, portanto, também a atividade não é 
dividida voluntariamente, mas sim, naturalmente, a própria ação do homem se transforma 
para ele em força estranha, que a ele se opõe e o subjuga, em vez de ser por ele dominada25. 
O poder da divisão de trabalho sobre a atividade social representa a presença dos 
elementos centrais que produzem a contradição entre o interesse particular e o coletivo, ainda 
na atualidade. Assim, a possibilidade de esses elementos não entrarem em conflito reside 
unicamente no fato de se abolir a divisão do trabalho. 
Contudo, a história tem nos mostrado que é do próprio seio das relações sociais que 
emergem as contradições, já que o mesmo trabalho que aliena é também o responsável pela 
produção da força da transformação social. À medida que a força de cooperação dos 
indivíduos estiver pronta para superar a alienação sob a qual se encontra submersa, neste 
momento terá sido alcançada a máxima exploração da humanidade, do antagonismo entre o 
avanço das forças produtivas e a natureza das relações de produção. Este momento se 
 
22
 MARX, Karl, op. cit. nota 19, p. 218-219. 
 
23
 Ibid. p. 218 
 
24
 MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 7ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. 
 
25
 Ibid. p. 28. 
23 
 
consubstanciará, inevitavelmente, na potencialização da luta de classes. Será o momento da 
tomada de consciência, no qual a classe em si passa a ser classe para si, negando o poder das 
relações dominantes, visto que: 
 
(...) a força produtiva multiplicada que nasce da cooperação dos diversos indivíduos, 
condicionada pela divisão do trabalho, não aparece a esses indivíduos como sendo sua própria 
força conjugada, porque essa própria cooperação não é voluntária, mas sim natural; ela lhes 
aparece, ao contrário, como uma força estranha, situada fora deles, que não sabem de onde ela 
vem nem para onde vai, que portanto, não podem maisdominar e que, inversamente, percorre 
agora uma série particular de fases e de estádios de desenvolvimento, tão independente da 
vontade da marcha da humanidade, que na verdade é ela que dirige essa vontade e essa 
marcha da humanidade26. 
 
Na sociedade capitalista, na qual o trabalho é visto como uma categoria em geral – 
como uma categoria simples, como trabalho sem quaisquer determinações –, diversos são os 
possíveis tipos de trabalho. O trabalho, aqui, perde a sua particularidade enquanto categoria 
criativa, capaz de humanizar o homem. Este passa a travar uma relação direta com o produto 
do seu trabalho, reconhecendo-o simplesmente como mais uma mercadoria dentro do 
processo produtivo. 
Ao tratar da divisão social do trabalho, frente à possibilidade moderna de construção 
de uma categoria de análise do trabalho em geral, Marx27, nos diz que: 
 
A indiferença em relação ao gênero de trabalho determinado pressupõe uma totalidade muito 
desenvolvida de gêneros de trabalhos efetivos, nenhum dos quais domina os demais. 
Tampouco se produzem as abstrações mais gerais senão onde existe o desenvolvimento 
concreto mais rico, onde um aparece como comum a muitos, comum a todos. Então já não 
pode ser pensado somente sob uma forma particular. Por outro lado, essa abstração do 
trabalho em geral não é apenas o resultado intelectual de uma totalidade concreta de 
trabalhos. A indiferença em relação ao trabalho determinado corresponde a uma forma de 
sociedade na qual o gênero determinado de trabalho é fortuito, e, portanto, é-lhes indiferente. 
Nesse caso o trabalho se converteu não só como categoria, mas na efetividade em um meio de 
produzir riqueza em geral, deixando, como determinação, de se confundir com o indivíduo em 
sua particularidade. Esse estado de coisa se encontra mais desenvolvido na forma de 
existência mais moderna da sociedade burguesa (...). Aí, pois, a abstração da categoria 
‘trabalho’, ‘trabalho em geral’, trabalho sans pharse (sem rodeios), ponto de partida da 
Economia moderna, torna-se pela primeira vez praticamente verdadeira. Assim, a abstração 
mais simples (...) só aparece no entanto nessa abstração praticamente verdadeira como 
categoria da sociedade moderna28. 
 
Assim, dada a complexidade das estruturas da realidade social capitalista, os homens 
se percebem determinados por relações objetivas de produção nas relações jurídicas e 
políticas. Mas, é a sua relação cotidiana com o real que os levam a perceber os efeitos da ação 
desta relação como algo que os impede de alcançar a essência da mesma. Contudo, não será a 
 
26
 Ibid. p. 30. 
 
27
 MARX, Karl. op. cit., nota 17. 
 
28
 Ibid. p.17. 
24 
 
simples observação que levará o homem a conhecer a essência desta realidade. Ficando, desta 
forma, claro para nós que o conhecimento do real só se faz pela atividade do conhecimento, 
pelo “método do desenvolvimento e da explicitação dos fenômenos culturais partindo da 
atividade prática objetiva do homem histórico”29. 
Kosik30 chama-nos a atenção para o fato de que os diversos fenômenos existentes no 
cotidiano31, no dia a dia da atividade humana, são “formas fenomênicas da realidade”, as 
quais penetram na consciência “daqueles que realizam uma determinada práxis histórica”, 
assumindo um aspecto independente e natural que constitui o mundo da 
“pseudoconcreticidade”. Este, tal como Kosik nos apresenta, constitui-se de um elemento de 
“duplo sentido”, ou de sentidos contraditórios. Por isso mesmo, dada a contradição, cria-se a 
dependência entre fenômeno e essência. Neste sentido: “A essência se manifesta no 
fenômeno, mas só de modo inadequado, parcial, ou apenas sob certos ângulos e aspectos. O 
fenômeno indica algo que não é ele mesmo e vive apenas graças ao seu contrário”32. 
Assim, a destruição da pseudoconcreticidade só se dará no processo de criação do 
mundo real, que se desenvolve no próprio movimento de construção da realidade vivida nas 
relações do homem social. A destruição da pseudoconcreticidade promoverá a emancipação 
tanto do sujeito quanto do objeto, posto que a realidade social dos homens, sua realidade 
histórico-social, é criada na unidade dialética entre sujeito e objeto. 
A realidade da divisão da sociedade em classes e sua divisão do trabalho refletem os 
interesses e as ideias da classe que detém os meios privados de produção. No entanto, esta 
realidade só será eliminada e superada, por meio da transformação destas circunstâncias 
existentes, o que na dialética expressa-se na transformação da quantidade em qualidade. Mas, 
nunca, por puras argumentações teóricas. Ao contrário, a transformação revolucionária se fará 
na associação da teoria e da prática revolucionárias. 
O presente estudo privilegiará o método da pesquisa bibliográfica. Para tanto, 
buscaremos fundamentação em fontes primárias tanto da obra marxista, quanto de autores 
ligados a esta herança teórico-metodológica. 
Também será objeto de nossa análise um grupo de documentos que nos aproximarão 
 
29
 KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 7ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. p. 39. 
 
30
 Ibid. 
 
31
 Para Kosik o cotidiano ou a “práxis utilitária cotidiana” cria o “‘pensamento comum’ – em que são captados tanto a 
familiaridade com as coisas e o aspecto superficial das coisas quanto a técnica de tratamento das coisas – como forma de 
seu movimento e de sua existência. O pensamento comum é a forma ideológica do agir humano de todos os dias” (2002, p. 
19). 
 
32
 Ibid. p. 15. Grifo do autor. 
25 
 
da realidade empírica a ser investigada. Os mesmos serão objeto de nossa crítica a qual, 
esperamos, fará emergir as contradições ali contidas, as quais utilizaremos para demonstrar o 
quanto o esporte tem sido um instrumento da ideologia da dominação burguesa. Entre tais 
documentos podemos citar, de um modo geral, a utilização de documentos de organismos 
internacionais, tais como a ONU e a FIFA. Bem como, utilizaremo-nos da análise de 
documentos veiculados pelo governo brasileiro, principalmente aqueles relativos aos dois 
mandatos do governo Lula da Silva. 
Também irão sobressair neste estudo a contribuição decorrente da análise de artigos 
científicos, bem como de notícias publicadas em jornais os quais poderão balizar a nossa 
crítica mais pontualmente no tempo presente. 
Além das fontes anunciadas acima, acreditamos que a nossa experiência docente, 
adquirida em nossos vinte anos de ação pedagógica junto à educação física nos campos 
escolar e não-escolar, nos credenciou a fazer uma análise que não passa simplesmente por 
uma perspectiva teórica. Nossa análise vem enriquecida pela prática pedagógica e militante no 
campo da educação em geral, e da educação física, especificamente. A necessidade de maior 
integração entre a explicitação teórica e prática tem balizado a nossa participação junto à luta 
pela educação e pela educação física. Esta última que juntamente aos professores de educação 
física, em tempos de megaeventos esportivos no Brasil, têm sido apontados nas escolas como 
os supostos responsáveis por descobrir e incentivar a formação de futuros atletas. Este quadro 
tem esvaziado e negligenciado, ainda mais, sua função pedagógica e crítica junto à escola e ao 
processo de formação humana. Tal conjuntura nos impõe a tarefa de construir meios para 
negarmos não a cultura do movimento humano que é, como se sabe, produto da sua história, 
mas, sim, negarmos este modelo de esporte que vem acompanhado por todo um arsenal de 
exploração da mais-valia, da mercantilização e da alienação das relações humanas. 
Um esforço desta nossa busca para integrar teoria e prática pôde ser vista em nossa 
dissertação de mestrado33, defendida em 2006, na Universidade Federal Fluminense, na 
Faculdade de Educação,no campo de Trabalho e Educação. À época, sob outras 
circunstâncias, já estávamos problematizando a questão do esporte no Brasil e as políticas que 
o cercam. Momento no qual vimos surgir a necessidade de aprofundarmos o objeto que ora 
estamos aqui abordando na presente pesquisa. Assim, nossos questionamentos desdobraram-
se, a partir de então, objetivando-se em alguns de nossos trabalhos, entre eles, artigos 
 
33
 Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade Federal 
Fluminense – Linha de Pesquisa: Trabalho e Educação. Título do trabalho: “Sistema Confef/Crefs: a expressão do projeto 
dominante de formação humana na educação física” (Abril, 2006). 
26 
 
publicados ao longo dos últimos quatro anos, além da participação em congressos, seminários 
etc. Esse período, sem dúvida, possibilitou-nos maior aproximação com o objeto de pesquisa 
ora apresentado. 
27 
 
1 BASES PARA A COMPREENSÃO DO DESENVOLVIMENTO DO MODO DE 
PRODUÇÃO CAPITALISTA 
 
 
Tivemos por objetivo, neste primeiro capítulo, expor o processo de desenvolvimento 
do modo de produção capitalista, identificando-o como um sistema dinâmico que opera 
repleto de contradições. Estas se expressam, ao mesmo tempo, na forma de avanços e 
retrocessos na medida em que recuperam e expandem os níveis de seu desenvolvimento. 
No entanto, as transformações do modo de produção capitalista só poderão ser 
apreendidas, em sua totalidade, se passarmos a uma análise integrada sobre a natureza do 
Estado burguês. A estrutura do Estado sempre deu suporte à construção de mecanismos 
suficientemente fortes e eficientes para que o capitalismo pudesse manobrar as suas 
contradições. Sobretudo no tocante àquela que é inerente ao próprio movimento do 
capitalismo: a tendência à estagnação das economias modernas. 
Este capítulo trará subsídios teóricos indispensáveis à pesquisa, porque apontará 
algumas transformações históricas, fundamentais para localizarmos o nosso objeto de estudo 
dentro das mudanças vividas pela sociedade capitalista. 
 
 
1.1 Origens do estado burguês: aspectos clássicos da questão nacional 
 
 
Para entendermos, minimamente, a complexidade inerente à longa transição do 
feudalismo para o capitalismo no Ocidente, bem como “os sistemas políticos que a 
diferenciaram” e, por consequência, para compreendermos as bases que possibilitaram a 
estrutura do Estado Moderno, recorreremos a uma breve discussão sobre a “natureza social do 
absolutismo”34. 
Os séculos XIV e XV serviram como pano de fundo para a “longa crise da economia e 
da sociedade européias”. Estas podem ser consideradas como circunstâncias que marcaram, 
em dimensões continentais, “as dificuldades e os limites do modo de produção feudal no 
último período da Idade Média”35. As consequências, ao fim e ao cabo desta crise, trouxeram, 
 
34
 ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado absolutista. Tradução: João Roberto Martins Filho. São Paulo: Brasiliense, 2004. 
p. 17. 
 
35
 Perry Anderson (Ibid.) nos remete, para o aprofundamento deste ponto, à discussão feita em um de seus estudos anteriores 
ao citado acima: Passages from Antiquity to Feudalism, Londres, 1974. 
28 
 
entre outras mudanças, fortes transformações políticas, as quais tiveram como principal 
expressão, “no curso do século XVI”, a emersão do “Estado Absolutista”36. 
Como elemento principal neste processo, Anderson chama-nos a atenção para os 
impactos da ruptura efetivada pelas “monarquias centralizadas da França, Inglaterra e 
Espanha”. Este fenômeno desencadeou o rompimento decisivo com a “soberania piramidal e 
parcelada das formações sociais medievais, com seus sistemas de propriedade e de 
vassalagem”. Anderson destaca que apesar do Estado absolutista no Ocidente ter inaugurado 
as condições para o fim da servidão – “uma instituição nuclear do primitivo modo de 
produção feudal na Europa” –, tal fato não pode ser confundido com o “desaparecimento das 
relações feudais no campo”37. 
Neste sentido, mediante algumas reflexões sobre as monarquias absolutistas que 
mostravam-se “mais ou menos casuais e alusivas”38, Anderson afirma ser importante ter a 
clareza de suas especificidades políticas. Sobre as monarquias recaíram a responsabilidade 
pela implementação de todo um aparato institucional e burocrático, além de sua ascensão ter 
coincidido com o desaparecimento da servidão. Fora o absolutismo que implementara “os 
exércitos regulares, uma burocracia permanente, o sistema tributário nacional, a codificação 
do direito e os primórdios de um mercado unificado. Todas essas características parecem ser 
eminentemente capitalistas”39. 
Porém, as características apontadas no estudo do historiador marxista Perry Anderson 
não nos autoriza a afirmar, segundo ele, que o aparato burocrático absolutista tenha servido 
como “um mecanismo de equilíbrio político entre a nobreza e a burguesia”. Esta 
caracterização “desliza, com freqüência para a sua designação implícita ou explícita 
fundamentalmente como um tipo de Estado burguês enquanto tal”, o que, deste modo, 
configuraria-se-ia como “um erro comum”. As “relações de produção rurais”, mesmo sob as 
condições estabelecidas pelo Estado Absolutista “permaneciam feudais”, enquanto não fora 
 
36
 Ibid. p. 15. 
 
37
 Ibid. 
 
38
 O destaque de Anderson está relacionado a sua preocupação com análises que provocam, ainda nos dias atuais, algumas 
controvérsias sobre o processo de desenvolvimento e ascensão das monarquias absolutistas. Afirma que o centro desta 
controvérsia sobre as monarquias absolutistas tem persistido “desde que Engels [em sua obra A origem da Família, da 
Propriedade Privada e do Estado], numa máxima famosa, declarou-as produto de um equilíbrio de classe entre a antiga 
nobreza feudal e a nova burguesia urbana” (Ibid., p. 15). Além disso, Marx chegou a afirmar no 18 Brumário de Luiz 
Bonaparte que “as estruturas administrativas dos novos Estados absolutistas eram um instrumento tipicamente burguês”. 
Perry Anderson argumenta que “uma teorização direta” sobre as monarquias absolutistas não fora “efetuada por nenhum 
dos fundadores do materialismo histórico”. Contudo, há ainda, nos dias atuais, um debate intenso, por parte dos 
historiadores marxistas, sobre o problema da natureza social do absolutismo (Ibid. p. 15-16). 
 
39
 Ibid. p. 17. 
29 
 
“separado de suas condições sociais de existência para se transformar em 'força de 
trabalho'”40. 
As mudanças advindas das formas de exploração feudal, sobretudo aquelas difundidas 
já no final da era medieval, tiveram grande significado, pois a natureza do estado feudal 
absolutista pôde expressar o reflexo destas mudanças. Muito embora o estado absolutista não 
tenha sido uma ponte entre a classe ascendente, a burguesia, e a classe decadente, a 
aristocracia, “ele era a nova carapaça política de uma nobreza atemorizada”41. 
Contudo, apesar de uma nobreza atemorizada, a reorganização pela qual passara o seu 
sistema político promoveu a diluição das relações feudais primitivas, fazendo a propriedade 
da terra progressivamente menos “'condicional'” enquanto, ao mesmo tempo, a soberania se 
tornava correspondentemente mais “'absoluta'”. As origens do modo de produção feudal, 
balizadas por seu estatuto de propriedade condicional e pela instituição do trabalho servil, 
adaptava-se bem à economia predominantemente natural, “que surgiu na Idade das Trevas”. 
Mas, ao contrário, isto já não era possível à nova forma de poder vigente, visto que 
encontrava-se determinada pela expansão da produção e da troca de mercadorias. Era 
necessária a legitimação de novas formas de propriedade. 
Assim, o enfraquecimento dofeudalismo tradicional, seguido do desaparecimento 
gradual da servidão, passou a atuar num sentido duplo, pois, ao mesmo tempo que 
providenciava novos e amplos poderes à monarquia, tratava de emancipar os domínios da 
nobreza frente aos possíveis limites impostos pelas relações feudais tradicionais. Por um lado, 
esta reorganização propiciou aos membros individuais da classe aristocrática (que 
historicamente vinham perdendo direitos de representação política neste novo período), a 
vantagem de auferir grandes ganhos econômicos sobre a propriedade da terra. Ao mesmo 
tempo, outra consequência da reorganização do poder da nobreza diz respeito à “maquina do 
Estado e a ordem jurídica do absolutismo, cuja coordenação iria aumentar a eficácia da 
dominação aristocrática ao sujeitar um campesinato não-servil a novas formas de dependência 
e exploração”. Ou seja, à medida que os senhores feudais perdiam o seu poder percebia-se o 
deslocamento da “coerção político-legal” rumo à “uma cúpula centralizada e militarizada – o 
Estado absolutista”42. 
 
40
 Anderson (Ibid. p. 16-17) chama a atenção para a análise da “renda da terra em O Capital” na qual Max deixara claro o tipo 
de relação de trabalho existente especificamente nas formas de exploração feudal demonstrando, assim, as distinções na 
exploração da força de trabalho sob as relações capitalistas. 
 
41
 Ibid. p. 18. 
 
42
 Ibid. p. 19-20. 
30 
 
O poder, outrora diluído e localizado pelos diversos limites impostos pelo feudo, 
agora, ao contrário, encontrava-se concentrado em âmbito nacional e nas mãos de uma 
monarquia centralizada. O advento dos estados absolutistas representaram, antes de tudo, um 
mecanismo moderno pelo qual perpetuava-se o “domínio da nobreza sobre as massas rurais”. 
Porém, contraditoriamente, estas mesmas circunstâncias abriram as possibilidades, ainda em 
momento de crise, para o surgimento de uma burguesia mercantil que se desenvolvia nas 
cidades medievais. Tiveram a oportunidade de dinamizar o crescimento técnico e das 
indústrias manufatureiras, o que facilitou, sobremaneira, a ampliação dos mercados e as 
inúmeras descobertas marítimas43. Dava-se o fortalecimento de uma dupla determinação 
inerente ao próprio estado absolutista. Assim, o próprio absolutismo criou as condições para o 
fortalecimento das ameaças por parte do campesinato. Este último, por sua vez, conjugava-se 
aos avanços do capital mercantil ou manufatureiro, presentes no conjunto das economias 
ocidentais daquela nova era. 
Deste modo, mediante esta dualidade, deu-se o ressurgimento do direito romano, 
presente já em praticamente todos os grandes países da Europa no final da Idade Média. Esta 
retomada do direito romano já era resultado de esforços jurídicos no sentido “'de endurecer' e 
delimitar noções de propriedade inspiradas nos preceitos clássicos então disponíveis”. 
Criaram-se, assim, instrumentos jurídicos para se tratar de formas distintas a propriedade. 
Entre eles constavam instrumentos jurídicos capazes de justificar a “existência de uma 
hierarquia de vassalagem”, que abria um leque de direitos sobre a terra. Outro instrumento foi 
o trato dado à “noção de seisin, uma concepção intermediária entre a “'propriedade'” e a 
“'posse' latina”. A “seisin” era a garantia de “uma propriedade protegida contra eventuais 
apropriações conflituosas”44. 
Após a produção e a troca de mercadorias atingirem níveis universais assistiu-se, de 
maneira ascendente, à retomada do direito romano antigo. Contudo, o renascimento pleno da 
noção de propriedade privada da terra ganhou vigor apenas no início da época moderna. Ao 
que parece, o uso “do direito romano na Europa do Renascimento foi, assim, um indício da 
difusão das relações capitalistas nas cidades e no campo: economicamente, ela corresponderia 
 
43
 Segundo Perry Anderson (Ibid.p. 22), logo que os Estados absolutistas se consolidaram no Ocidente a sua estrutura foi 
determinada por uma nova reorganização feudal que se colocara contra o campesinato, após a dissolução da servidão. Mas 
a sua estrutura também sofreu uma segunda determinação ou, como diz o autor, uma sobredeterminação. Esta, 
caracterizava-se pela ascensão da burguesia urbana que, após desenvolver um complexo aparato técnico e comercial, 
avançava agora, velozmente, rumo às manufaturas pré-industriais. Foi, segundo Anderson, “este impacto secundário da 
burguesia urbana que Marx e Engels procuraram apreender com as noções incorretas de 'contra-peso' ou 'pedra angular'”. 
 
44
 Ibid. p. 25. 
31 
 
aos interesses vitais da burguesia comercial e manufatureira”45. 
Amplamente adotado pelo estado absolutista, o ressurgimento do direito romano 
respondia politicamente, segundo Anderson: 
 
(…) às exigências constitucionais dos Estados feudais reorganizados da época. Com efeito, 
não restam dúvidas de que, na escala européia, a determinante primordial da adoção da 
jurisprudência romana reside na tendência dos governos monárquicos à crescente 
centralização dos poderes. (…) O duplo movimento social inscrito nas estruturas do 
absolutismo do Ocidente encontrou, então a sua harmonia jurídica na reintrodução do direito 
romano. (…) Em outros termos, à intensificação da propriedade privada na base contrapõe-se 
o incremento da autoridade pública no topo, corporificada no poder discricionário do 
monarca. Os Estados absolutistas ocidentais fundamentavam seus novos objetivos em 
precedentes clássicos: o direito romano era a mais poderosa arma intelectual disponível para o 
seu programa característico de integração territorial e centralismo administrativo. (…) 
Efetivamente, a transformação do direito refletia inevitavelmente a distribuição de poder entre 
as classes proprietárias da época: o absolutismo, enquanto aparelho de Estado reorganizado de 
dominação da nobreza, foi o principal arquiteto da assimilação do direito romano na Europa46. 
 
Enquanto aparelho de proteção dos privilégios e das propriedades dos aristocratas, o 
absolutismo revela-se paradoxal posto que, ao mesmo tempo os meios utilizados para tal 
proteção podiam, também, garantir os interesses fundamentais das classes ascendentes, 
mercantis e manufatureiras. Este estado, centralizador e promotor de sistemas jurídicos, 
passou a adotar os mecanismos de abolição das barreiras internas ao comércio. Além de 
assumir os custos de tarifas externas como medida protecionista contra a concorrência 
estrangeira, e de facilitar investimentos lucrativos ao capital usurário. 
Em resumo, segundo Anderson, o estado absolutista “cumpriu certas funções parciais 
na acumulação primitiva necessária ao triunfo do próprio modo capitalista de produção”. Isto 
explica-se pelo fato de que tanto o capital mercantil quanto o manufatureiro podiam se 
desenvolver dentro dos limites impostos pelo feudalismo reorganizado. Porém, nem por toda 
parte isto era possível. Diante destas impossibilidades, a história nos mostrou casos de 
profundas insatisfações com o absolutismo, cuja expressão materializava-se em conflitos e 
revoluções, ainda que não fossem raros os momentos de conciliação entre o programa 
absolutista e as operações do capital mercantil e manufatureiro. Estes últimos, diante do 
quadro de competições entre mercados internacionais, tinham a proteção da nobreza feudal, 
ou seja, da classe no poder. O fim do absolutismo representou, ao mesmo tempo, a crise do 
poder e da classe que o detinha, inaugurando o “advento das revoluções burguesas e a 
emergência do Estado capitalista”47. 
 
45
 Ibid. p. 26. Grifos do autor. 
 
46
 Ibid. p. 26-28. Grifos do autor. 
 
47
 Ibid. p. 40-41. Grifos do autor. 
32 
 
Este, produzido para cumprir a tarefa de propagar a concepção liberal

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