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A Geopolítica do tempo presente: Uma análise da reestruturação espacial contemporânea. Robson de Sousa Moraes Universidade Estadual de Goiás robsondesousamoraes@hotmail.com Lindomar Rodrigues dos Santos Junior Universidade Estadual de Goiás Resumo: O cenário geopolítico neste início de século apresenta um conjunto de dramáticas situações. As limitações estabelecidas pelo Pacto Fordista, forjado no contexto das Grandes Guerras Mundiais, aliadas às tentativas de recomposição de matriz neoliberal, a mundialização dos Euromercados, a formação das Transnacionais e a financeirização do sistema produtivo, fornecem alguns dos ingredientes indispensáveis para a compreensão das angustiada contemporaneidade. Vivenciamos uma crise da sociabilidade capitalista expressada em inúmeras configurações, tais como: a crise ecológica, crise econômico- financeira, crise política, crise do estado, crise urbana, crise agrária, entre outras formas de manifestação deste fenômeno. Passado duas décadas de frustradas tentativas do Império estadunidense de se consolidar como única potencial mundial, o século XXI ainda continua uma incógnita. A não concretização da ALCA, a crise da União Europeia, aliados a edificação da UNASUL e da ALBA (Aliança Bolivariana das Américas), bem como o despontar da China, contribuem decisivamente para a rearticulação e reposicionamento dos variados Estados Nacionais em todo o planeta, iniciando um novo ciclo de contradições capaz de alterar o sistema mundo. Identificar as novas características da atual espacialidade do Modo de Produção Capitalista, descortinando seus focos de tensionamentos e sua dinâmica política e econômica é o Palavras Chave: Geopolítica; Mundialização do Capital; Globalização. Introdução: A crise dos mercados financeiros que eclodiu em 2008, tornou evidente que o processo organizativo do Modo de Produção Capitalista, está vivenciando uma profunda transformação. Durante a década de 1970, os limites e consequente esgotamento das macropolíticas de matriz keynesiana, desencadearam uma ruptura com o denominado Pacto Fordista e alavancou um expressivo reordenamento das bases produtivas do vigente sistema produtivo. O intervencionismo estatal e o denominado “Estado do Bem Estar Social” passam a ser confrontados pela ideologia do mercado regulador da totalidade das relações sociais (FRIGGOTO, 2003). As perspectivas apresentadas pelo escocês Adam Smith e sua defesa do “livre comércio”, é revalorizada e alçada a uma forma de pensamento único e transformado em programa de governo, inicialmente no Chile, Inglaterra e Estados Unidos. Implementadas no Chile, soba orientação do violento golpe militar, que destituiu o governo democrático-popular de Salvador Allende, os preceitos de Adam Smith, agora convertido em Neoliberalismo, tem como expoente teórico o economista norte americano Milton Friedman e sua proposta de “Estado Mínimo”, explicitadas na defesa de programas de privatização, desregulamentação e cortes em gastos sociais, iniciando uma intensa e traumática terapia de choque na economia chilena (KLEIN, 2007). A experiência chilena seria o laboratório mundial das novas demandas de empreendimentos e aspirações econômicas que estavam sufocadas pela intervenção e normatização estatal. A dinâmica da sociedade capitalista, estruturada na Conferência de Breton Woods, necessitava ser revisada para destravar as novas potencialidades de maximização das taxas de lucros. As alterações desencadeadas pelas mudanças do e no Regime de Acumulação afeta significativamente a Configuração Espacial do Planeta. Em cada período histórico, existe uma correspondente forma de organização do Espaço, que articula uma íntima e contraditória relação entre as inúmeras territorialidades, o Modo de Produção e sua Configuração Espacial. Qualquer transformação nas estruturas societárias vigente implica em uma mudança nas relações espaciais e territoriais (MORAES, 2004). As mudanças alavancadas pela metamorfose do regime de acumulação estimula uma recomposição da Configuração Espaço – Territorial em todo o planeta. Na tentativa de interpretação do novo cenário geopolítico surgem abordagens simplificadoras (como as expressadas em HUNTINGTON, 1997), buscando confeccionar uma cartografia que pudesse representar a complexa e inédita realidade. Nesta perspectiva alguns modelos e teorias são apresentados, entre as quais podemos destacar: As Teorias de “Um só Mundo”: defendia a tese da qual o fim da guerra fria representava a eliminação dos grandes conflitos internacional e da possibilidade da superação das crises econômicas. Tal modelo explicativo identificava que o motor dos desequilíbrios econômicos residia na corrida armamentista e os principais enfrentamentos armados eram derivados da luta ideológica entre o bloco capitalista e seu antagônico bloco socialista. O fim da bipolarização indicava o encerramento das hostilidades e constituía o ambiente para a paz e a prosperidade internacional (FUKUYAMA, 1992). Uma leitura, mesmo que panorâmica e superficial, da Geopolítica contemporânea desautoriza esta interpretação, que apesar de ufanista e irreal foi de extrema utilidade para a política externa americana durante a década de 1990. As Teorias de dois mundos: Com a incapacidade das teorias de um mundo só de explicar a continuidade dos conflitos e das constantes crises na economia, emerge outra perspectiva interpretativa fundamentada em uma reedição de novas bipolaridades como advogam as teses da divisão do globo em torno de uma disputa “Ocidente x Oriente”; “Norte x Sul”; Centro x Periferia; “Modernos x Tradicionais”; “Desenvolvido x Subdesenvolvido”; “Pobres x Ricos” etc. Teoria “realista”: Nesta perspectiva os Estados Nacionais são apontados como os únicos atores relevantes no campo das relações internacionais, tendo estes que invariavelmente elevar sua escala de poder como forma se afirmar no cenário mundial, através de políticas de alianças e acordos econômicos, como os expressados pela ALCA, ALBA, UNASUL, União Europeia, ASEAN, entre outros. No entanto cabe destacar, que apesar dos Estados Nacionais continuarem a ser atores centrais no cenário internacional, sua soberania é afetada pelos interesses de grandes corporações que atuam transnacionalmente. Outra possibilidade analítica compreende que os Estados Nacionais que há em curso um processo de esfacelamento do aparato estatal e da autoridade de governos, com intensificação de conflitos étnicos, religiosos e tribais, com surgimento de máfias internacionais, a expansão da atividade terrorista, a proliferação de armas nucleares e a volta da corrida armamentista. O cenário internacional é caracterizado pela existência de Estados Fracassados (CHOMSKY, 2009), caos e pela anarquia. A Revisão Bibliográfica se apresenta como instrumento privilegiado da metodologia da pesquisa aqui apresentada. O estudo da literatura dos referenciais teóricos utilizados é a chave para a verificação da possibilidade de (re)significar conceitos e elaborar uma cartografia da Geopolítica do tempo presente. A análise textual e temática seguiu-se uma análise interpretativa, momento este que se elabora um ponto de visto próprio a partir das questões previamente abordadas, indo além da mensagem estrita formulada por cada autor em sua respectiva obra, explorando toda a fertilidade das ideias fomentadas. Desenvolvimento: A GEOPOLÍTICA E O ATUAL SISTEMA MUNDO A história da produção territorial do Modo de Produção Capitalista revela uma Geografia da acumulação do Capital a partir de relações espaciais definidas (HARVEY, 2006). O sistema de créditos e de transportes e a própriaprodução, tem a capacidade de alterar a relação tempo- espaço, agitando e impulsionando a circulação como meio fundamental da realização do lucro pela extração da mais valia. A urbanização das sociedades modernas é o mais completo exemplo deste fenômeno, na medida em que a Divisão Social do Trabalho desencadeia uma correspondente Divisão Territorial do Trabalho. A tensão existente entre a concentração geográfica do capital e sua necessária expansão, promove a hierarquização do espaço em Centro e Periferia, articulado em uma totalidade político, social e econômico que se realiza em diferentes escalas no/do Espaço e não podendo dela se divorciar (SANTOS, 2011). A produção do espaço capitalista não está imune às contradições, as estruturas fixas na paisagem que viabilizam o capital fixo (estradas, aeroportos, indústrias etc) acabam limitadas a um valor de uso específico, anacronizado pelos avanços das técnicas e tecnologias. Em cada mudança de regime de acumulação e de modelos de desenvolvimentos a paisagem construída pelo capital fixo agregado reivindica uma apropriada adaptação. A elevação da composição orgânica atua também de forma contraditória, pois, ao mesmo tempo em que pode elevar o custo da produção é um alavancador do processo produtivo. Rosa Luxemburgo (1976) afirma que a única possibilidade de fuga das contradições inerentes ao sistema é uma constante expansão, absorvendo e destruindo formas de organização social de matrizes pré-capitalistas, incorporando-a a sociedade consumidora e produtora O gigantesco trabalho analítico realizado por K. Marx ao interpretar a sociedade capitalista, não culminou com uma Teoria do Imperialismo, estas foram desenhadas tendo como referência o método científico proposto em seus inúmeros trabalhos. A categoria de análise marxista de Formação Social e Econômica, bem como a Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado, foram alguns das ferramentas conceituais usadas para a formulação das Teorias do Imperialismo, como consequência do processo de acumulação capitalista. Uma das alternativas encontradas pelo sistema capitalista em seu esforço de perpetuar-se está na aceleração contínua de novos recursos produtivos (HARVEY, 2006). Criadora de novas necessidades e mundializando o mercado com o intuito de intensificar e fortalecer o volume das transações comerciais, o Capitalismo fomenta inúmeros e diversos ajustes espaciais. A Geografia Histórica do Modo de Produção Capitalista pode ser bem avaliadas, observando os imperativos da produção, mobilização e absorção do excedente de Capital e de Força de Trabalho (HARVEY, 2006). Importante salientar, ainda, que a Configuração Espacial da Produção e Consumo da sociedade capitalista ocorre através da relação do Homem com a Natureza, mediada pelo Trabalho e articulado com significados estabelecidos diante de sua capacidade de criação de símbolos (MORAES, 2005). É pela divisão Social do Trabalho, que se dá a materialização das territorialidades permeadas de culturas e ideologias. Com o aprofundamento da Internacionalização do Capital, transmutada em transnacionalização, com o alargamento do Estado restrito, para o Estado ampliado (BERNADO, 2000), há o revigorar dos estudos em Geopolítica, bem como o de Geografia Política, que presencia a (re)valorização de sua envergadura analítica, teórica e conceitual, como instrumento de verificação da realidade. A produção e reprodução ampliada do Capital é marcado pelas dinâmicas de concentração e centralização. No entanto, este fenômeno é caracterizado por frequentes crises cíclicas e pela estrutural tendência de declínio das taxas de lucros (MARX, 2008), gerada em função das transformações na composição orgânica do Capital, isto é, devido à gradual e contraditória diminuição da aplicação de Capital Vivo em benefício do Capital Morto, que mediado pelas novas tecnologias compromete a formação do Mais Valor (VIANA, 2009). Neste contexto o metabolismo do sistema produtivo, necessita para efetivar seu pleno funcionamento, de edificar formas superestruturais (ideologias, normas, instituições etc.), além de estabelecer uma base material (Território, tecnologias etc.), que configurem um Regime de Acumulação, amparado por uma íntima relação com a máquina Estado, diante de um contexto e de relação internacional favorável. A doutrina do choque imposta ao Chile é uma ilustração da mudança do padrão internacional do Capital, que migrava de um Regime de Acumulação Intensivo para uma nova fase de Acumulação Integral (VIANA, 2009), ou ainda para um momento histórico caracterizado pela Acumulação Flexível (HARVEY, 2012). Os mecanismos de expansão e consolidação do Modo de Produção Capitalista organizou o Sistema Mundo (Wallesrtein, 2001) contemporâneo, tendo como centro de sua intervenção política, social e econômica a geração de mais – valor (MARX, 2008), sendo esta modificada ao longo da história, adquirindo características particulares. Na dinâmica produtiva capitalista percebem-se diferentes momentos com distintas formas de regulação social, tal como apresentado por André Gunder Frank (1980) em seu “Acumulação dependente e subdesenvolvimento. Repensando a teoria da dependência”. Em cada fase das singulares formas de acumulação de valor, há uma correspondente forma de organização, denominada por Lipietz (1991) como Regime de Acumulação, uma parte integrante de um modelo de desenvolvimento, contendo específicos e hegemônicos paradigmas articuladores da vida em sua individualidade com os elementos sócios produtivos. No mundo contemporâneo, vivenciamos um momento ou período da acumulação capitalista denominada de Acumulação Integral (VIANA, 2009), caracterizado pela consolidação de um amplo mercado transnacional (BERNADO, 2000), capaz de fomentar a articulação de um significativo sistema mundo, ordenador da edificação de regras, valores, normas e comportamentos em No moderno sistema mundial (Wallesrtein, 2001), há diversificados centros políticos que disputam a hegemonia do sistema, interconectando a Divisão Internacional do Trabalho e um sistema interestatal. As tentativas de unificação do sistema em apenas um Império Mundial, apesar de ocorrer em diferentes momentos da História, não foram exitosas, mas resultaram no surgimento de potências hegemônicas que lideraram e impulsionaram a economia mundial, além de concentrarem poder político e econômico. A manutenção de sua situação de liderança impõe a necessidade de elevados investimentos militar, sendo que o uso da guerra como forma privilegiada de manutenção do status quo, acaba minando a legitimidade política, a liderança ideológica e competitividade econômica. O processo analítico da construção do tempo estabelecido pela leitura de Wallerstein está intimamente associado às teses do Historiador francês Fernand Braudel (1995) e seu tempo de longa duração. Contextualizado pelo esforço de renovação historiográfico, que visava superar a ênfase dada pela História tradicional aos eventos e indivíduos, Braudel apresenta os ritmos da temporalidade como uma nova forma de conceber a ciência histórica. O tempo possui diferentes gradações, incorporando a longa duração como uma expressão temporal larga, quase imóvel, pautada na relação com o meio, sendo aos olhos humanos, caracterizados pelo retorno de pequenos ciclos que terminam e insistentemente recomeçam. Interconectada com o tempo largo, haveria uma História social de grupos e agrupamentos com sua lenta temporalidade, ainda marcada pelas continuidades e permanências. A ocorrência e os fatos valorizados pela historiografia tradicional seriam derivados destas outras expressões de temporalidade. A História seriauma interface de múltiplas temporalidades, velocidades e lentidões, há, portanto, um tempo geográfico, um tempo social e um tempo individual (COBÉRIO, 2008). O conceito de economia mundo (BRAUDEL, 1995) vislumbra a articulação do tempo e do espaço em uma lógica sistêmica constituidoras de centros e periferias com mecanismos de construção da totalidade. Arrigh (2012) aponta suas análises para as disputas pela hegemonia do sistema mundial. Segundo este autor, o modo de Produção Capitalista passou por diferentes ciclos sistêmicos de acumulação e expansão, sendo o primeiro liderado pela Cidade Estado genovesa, substituída pela Holanda, o Império Britânico e os Estados Unidos respectivamente. O conceito de hegemonia trabalhado por Arrigh foi alicerçado teoricamente pelas análises do italiano Antônio Gramsci, identificando-o como um operador definidor da compreensão e aplicação da economia, política, cultura, dos modos de pensar e conhecer socialmente definidos. O fenômeno do aparecimento de um estado nacional hegemônico, ocorre em função da crença na qual a expansão do poder de um estado nacional em sistema interestatal, é do interesse geral de todos. A construção do hegemon depende, portanto do interesse internacionalmente estabelecido em aceitar as novas formas de cooperação interestatais capaz de produzir uma expansão sistêmica capitaneada pelo estado hegemônico. As crises hegemônicas podem ser caracterizadas por diferentes processos distintos, mas articulados entre si, sendo eles: a ampliação da concorrência interestatal e interempresarial; a intensificação dos conflitos sociais e a manifestação de novas configurações do poder (ARRIGH, 2012). Considerações finais: Os arranjos espaciais da acumulação capitalista resultam inevitavelmente em conflitos geopolíticos. A continuidade da extração e repartição da mais valia, dependem mesmo que ainda, da ação dos estados nacionais. A transição para o século XXI impulsionou uma intensa Desterritorialização com desenraizamento de culturas e afrouxamento das crenças e certezas. Ainda em sua primeira década, o novo século desmentiu o historiador nipo-americano Francis Fukuyama (1992), que havia preconizado o fim da História e a morte das ideologias. A busca pela identidade, pelo reconhecimento de si e o estranhamento nunca foram tão intensos, levados as últimas consequências por uma cultura, mas mediado medo reforçado por uma grande variedade de geografias das exclusões catapultadas em geografia das exceções descartografadas pela imprecisão de uma presença – ausência da ordem e desordem. Uma Geopolítica do Caos se afirma sobre o cadáver das regionalizações desprovidas do sopro da vida, mas animada pela artificializada energia dos mercados, criada e recriada ao sabor das bolsas de valores. Tal perspectiva não anula a relação centro – periferia, mas a dissemina em múltiplas escalas tornando sua representação cartográfica praticamente impossível. Pessoas inseguras e temerosas com suas fragilidades expostas e amplificadas pela dificuldade cada vez mais crescente de se encontrar no mundo, diante da ruptura em cadeia de lugares reconfigurados pela gravidade globalitária (SANTOS, 2011), se apegam cada vez mais em suas identidade primárias como forma e tática de sobrevivência (CASTELLS, 2000). Medo, esperança e humilhação em sua relação com a confiança, ganham status de categoria de análise em Geopolítica, compondo o cenário subjetivo com capacidade de desafiar a ordem instituída (MOISI, 2009). Os Estados Nacionais, apesar de não estarem anulados frente as novas soberanias perderam o monopólio, enquanto sujeitos, da ação política contemporânea. No entanto, as debilidades das antigas identidades erodidas e as fugacidades dos novos arquétipos ainda não conformam um novo sujeito histórico pela insustentabilidade da realização do desejo. Vivenciamos uma situação pós-social, (TOURAINE, 2011), na qual o espaço ocupa o lugar do tempo iniciando uma compulsão a repetição e ao imobilismo traumático. Apesar da liderança inconteste dos E.U.A e sua ação de matriz imperialista diante do mundo, os sujeitos não estatais, mesmo que desorientados em uma multipolaridade assimétrica e fragmentária em termos de poder e influência ganham as ruas em protestos cada vez mais numerosos. A teoria dos choques de civilizações divulgada por Samuel Huntington (1997) ostenta uma ambiciosa leitura que interpreta os conflitos existentes na atualidade como originados por diferenças de cunho civilizacionais. Huntington faz uma explosiva confusão entre distintos padrões culturais com comportamento político. Esta análise colabora, conscientemente ou não, com a necessidade da política externa americana em fundamentar academicamente sua busca por novos inimigos, após a queda do muro de Berlim e depois do descrédito das teses do fim da história. Sem dúvida, a aproximação dos variados agrupamentos de localidades distantes, mediados pelos instrumentais tecnológicos, nos colocando em contato imediato e diário com o outro, forma um caldeirão cultural de alta complexidade interpretativa, mas que não deságua, previamente em nenhum tipo de comportamento político, podendo ser adaptado e incorporado em vários arranjos institucionais. A identificação com o outro passa, necessariamente, na própria formulação de linhas indenitárias heterogêneas de difícil catalogação quantitativa. Sua expressão cartografada não espelha uma realidade naturalizada, mas visões de extrema subjetividade, reificada para servir de ferramentas para políticas de estado. São fartos os exemplos no mundo. Na maioria dos mapas árabes, Israel é inexistente, já a Judéia e Samaria, fazem parte da Cisjordânia no mapa israelense; o Chipre nos mapas turcos é dividido em duas partes e mostrado unificado nos mapas gregos; o Golfo é Árabe para Arábia Saudita e Persa para os iranianos. A Turquia é vista pelos europeus como asiática e muçulmana, mas suas elites se autoproclamam europeia e querem aderir ao bloco político–econômico do velho continente. Não esquecendo que conceitos aparentemente basilares e muito utilizado por nó, tais como, Ásia, Ocidente, Oriente Médio, são invenção europeias não aceitas universalmente (MOISE, 2009). Formulações de caráter simplista frente a uma realidade fortemente emaranhada são estupidamente frágeis. A História não indica apenas o tempo dos acontecimentos, mas também aponta para o lugar geopolítico da ação dos sucessivos eventos. Uma mudança de lugar pode implicar em expressiva modificação em sua geopolítica e consequentemente na estrutura filosófica do pensar. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ARRIGH, G. O longo século XX. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. BERNADO, J. Transnacionalização do Capital e Fragmentação dos Trabalhadores. São Paulo: Boitempo, 2000. BRAUDEL, F. Civilização Material, Economia e Capitalismo. São Paulo: Martins CASTELLS, M. O Poder da Identidade. São Paulo: Paz e Terra, 2000. CHOMSKY, N. Estados Fracassados: o abuso do poder e o ataque a democracia. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. COBÉRIO, C.G.V. O Sistema Mundo e a Globalização. In: RACE - Revista de Administração, Contabilidade e Economia V 7, Nº 1 Joaçaba/SC: UNOESC, 2008 FRANK, A. G. Acumulação dependente e subdesenvolvimento. Repensando a Teoria da dependência. São Paulo: Braziliense, 1980. FRIGOTO, G. A Educação na crise do Capitalismo real. São Paulo: Cortez, 2003. FUKUYAMA, F. O Fim da História e o ultimo Homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992. HARVEY, D. A Produção Capitalista do Espaço. São Paulo: Annablume, 2006. _____________ O Novo Imperialismo. 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