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formação socio-historica

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- -1
FORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA E 
POLÍTICA DO BRASIL
CAPÍTULO 4 - AS MUDANÇAS NA 
ECONOMIA: ONDE FICAM AS QUESTÕES 
SOCIAIS?
Maíra Pires Andrade
- -2
Introdução
Para compreender as fases da economia e sua recente mundialização, é importante entender suas dimensões
essenciais: o avanço das tecnologias, a industrialização, o fim da bipolarização do mundo com o término da
Guerra Fria, as políticas neoliberais e a globalização. Com a emergência das tecnologias de informação, temos o
rompimento das barreiras culturais e identitárias, resultando em uma multiplicidade de identidades, que deixam
de ser expressas por meio da identidade plena e cartesiana do sujeito do iluminismo. Nessas condições, surgem
alguns questionamentos: como se processa a cultura? Quais são as relações estabelecidas entre a cultura e as
identidades no contexto da globalização? A globalização causa impactos nas identidades?
Nesse contexto, assistimos à queda da formação dos chamados Estados-Nação ou Estados Nacionais, nos quais a
política era centralizada na figura do Estado e no surgimento da descentralização do poder em corporações
financeiras, alicerçadas pelas políticas neoliberais. Dentro desse movimento temos, a partir da década de 1970,
as mudanças no modo de acumulação capitalista na América Latina, e sobretudo no Brasil, a partir de 1990, que
terá que se ajustar as mudanças da nova ordem política e econômica, implementando as políticas neoliberais.
Estas mudanças inerentes ao sistema capitalista repercutiram em crises sociais, fato que fará emergir
indicadores para avaliar o desenvolvimento dos países e possibilitar a criação de políticas sociais.
Vamos aos estudos?
4.1 Mundialização da economia e suas consequências
O processo de mundialização da economia, ocorrido como consequência da globalização e da ascensão das
políticas neoliberais, teve diversas consequências para a estruturação da sociedade. A globalização e as
tecnologias da informação diminuíram a distância entre o espaço e o tempo, tendo como resultado, modificações
também nos processos de identificações culturais. As identidades deixam de ser fixas para serem fluidas e
móveis, o que favorece um fenômeno de múltiplas identidades. Portanto, a mundialização da economia será
avaliada compreendendo seus impactos sobre o consumo, a industrialização, o capitalismo, a cultura e a
globalização.
4.1.1 O consumo e a industrialização
A mundialização é um fenômeno que tem como característica o desenvolvimento da economia em termos
mundiais, o que traz diversas transformações para a sociedade, acompanhadas pelo aumento das exportações de
capital e de mudanças na divisão internacional do trabalho, como o deslocamento das produções, sendo isto uma
ocorrência em escala mundial. Com isso, temos as inovações tecnológicas que modificaram os modos produtivos
e as relações de trabalho. Ao mesmo tempo, a globalização é a expressão mais forte do desenvolvimento do
capitalismo com o viés neoliberal, isto é, com o Estado afastado da economia e maior integração econômica dos
países (CASTELLS, 1999; BAUMAN, 1999).
Com a Revolução Industrial, as relações de trabalho e o processo de fabricação passaram de um estágio artesanal
para fabril, o que mudou também o modo como as pessoas viviam e se relacionavam em sociedade. Junto com a
indústria, vemos também o desenvolvimento sob bases econômicas liberais, o que trouxe consigo um modo de
vida consumista. A revolução tecnológica, aqui, pode ser entendida como um conjunto de novas técnicas, práticas
e conhecimentos, que difundem transformações na sociedade, implementando novos padrões de
comportamentos sociais e também os padrões socioculturais (CASTELLS, 1999; BAUMAN, 1999).
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Manuel Castells (1999) apresenta duas características sobre as novas economias. A primeira é seu caráter global,
na medida em que a economia não mais se restringe ao local, ou a um país, mas tem suas fronteiras expandidas,
por meio de uma trama de relações econômicas. A segunda é seu perfil informacional, pois se desenvolve uma
forte competitividade e produtividade, que são essenciais para regular a economia.
O consumo é outra marca do capitalismo atual, que se faz por meio de mercados internos ou externos. Nessa
lógica, o intenso consumo proporciona uma expansão da produção que também acarreta na abertura de mais
empregos e de uma ampliação da renda, que é novamente investida no consumo.
A partir do final do século XX com o avanço das tecnologias, sobretudo da informação, temos a formação de uma
complexa trama mundial, isto é, o processo de globalização e mundialização da economia. Isto possibilitou uma
internacionalização da vida em sociedade, resultando em mudanças sociais, políticas, econômicas, culturais,
identitárias, de hábitos e costumes. As tecnologias e a globalização possibilitaram o rompimento das fronteiras
mundiais, que separavam as diferentes culturas (CASTELLS, 1999; BAUMAN, 1999).
A globalização se define como o modo como a sociedade se enquadra numa “aldeia global” que é direcionada
pelo poder econômico, em outras palavras, seria uma fase da mundialização sustentada pelo neoliberalismo e
pela aceleração e articulação das economias e mercados financeiros, que valorizam as políticas econômicas
nacionais e internacional, sobretudo as multinacionais. O processo de globalização pode ser pensando em três
momentos históricos: o Império Romano; o período da expansão marítima e das grandes descobertas entre os
séculos XIV e XV; e o século XIX, com as Guerras Napoleônicas (CASTELLS, 1999; BAUMAN, 1999).
VOCÊ QUER VER?
Na videoaula sobre sociologia (VERÍSSIMO, 2015) do programa de televisão Telecurso,
podemos entender as características principais do processo de globalização e industrialização,
atentando, principalmente, aos impactos para as populações, sobretudo o Brasil. O vídeo é uma
importante referência para compreender as consequências da globalização no mundo. Assista:
< >.https://www.youtube.com/watch?v=y-BQ_yHKsp0
VOCÊ QUER LER?
A obra do afro-jamaicano Stuart Hall (2006), chamada de “A identidade cultural na pós-
modernidade”, evidencia as consequências do processo de globalização da sociedade e suas
repercussões no âmbito identitário e cultural. Nesse sentido, o autor historiciza o rompimento,
com a ideia de uma identidade única, essencial e cartesiana, própria do Iluminismo, ao
surgimento das múltiplas identidades, descentradas e fragmentadas (HALL, 2006).
https://www.youtube.com/watch?v=y-BQ_yHKsp0
- -4
Figura 1 - A globalização criou conexões, encurtando distâncias e promovendo uma forma diferente de se pensar 
o espaço e o tempo.
Fonte: Anton Balazh, Shutterstock, 2018.
Nesse mundo globalizado, pautado pelas tecnologias de informação e de comunicação, e pela internet, como
meio revolucionário, a economia também se transforma, pois a escala de produção passa a ser realizada em nível
global, com empresas mundiais que crescem a partir da extrema concorrência. Com isso, emerge o que Bauman
(1999) assinala como o paradigma da modernidade, quando não sabemos se as pessoas consomem para viver,
ou vivem para consumir, uma consequência da sociedade capitalista, que tem a mídia e publicidade como
suporte, o que contribui para a difusão de um modelo de vida baseado no lucro e no consumo.
Com essa tendência, observamos o modismo que modifica o modo de vida em sociedade e proporciona um
aumento no consumo. Por exemplo, se é lançado um novo modelo de celular, e ele está na moda, o anterior,
mesmo que tenha sido comprado há pouco tempo, se torna ultrapassado.
- -5
4.1.2 A mundialização e as repercussões nas identidades culturais
A mundialização conectou as sociedades contemporâneas de diversos modos, sobretudo, pelos meios de
comunicação, nos quais a grande maioria se interliga culturalmente. Com isso, emerge, como ponto para
discussão, a questão das identidades e da cultura no mundo globalizado e contemporâneo (HALL, 2006).
Nesse contexto, as sociedades modernas se reconstituem e se transformam rapidamente, pois são sujeitas amudanças e adaptações constantes. No decorrer da interconexão entre as diferentes sociedades do mundo, há
níveis de transformação social que atingem a humanidade, de modo distinto. Mas essas transformações incidem,
principalmente, sobre o tempo e o espaço, alterando as relações sociais e identitárias globais. É nesse interstício
que vemos o descentramento do sujeito e da sociedade, que passam a ser múltiplos e fragmentados em si
mesmos e entre si (HALL, 2006).
As sociedades modernas são sustentadas não mais pela igualdade, simetria e pela unidade e homogeneidade do
Estado-Nação, mas pela diferença e pela multiplicidade, que produzem numa variedade de sujeitos e
identidades. Com isso, Stuart Hall (2006) distingue três momentos distintos sobre o processo de formação do
sujeito e da identidade.
O primeiro momento é o sujeito formado pelas bases do Iluminismo, um sujeito centrado, unificado e estável.
Isto é, era a concepção de que a identidade era algo fechado, único, estável e uno.
No segundo momento, temos o sujeito sociológico, que emerge com as primeiras reflexões geradas com o início
do mundo moderno, e a identidade começa a ser concebida a partir das relações de mediação entre o “eu” e o
“outro”. Assim, se conforma uma noção interativa da identidade, na qual o sujeito se modifica de acordo com
suas relações com o mundo cultural (HALL, 2006).
O terceiro momento seria o sujeito da pós-modernidade, no qual a identidade não é mais fixa, essencial ou
imutável, mas é um processo de constante mudança. A identidade é definida historicamente e não mais pela
biologia. Dentro de cada indivíduo, existem identidades em transformação, que são contraditórias e
contrastantes entre si. Dessa forma, a identidade unificada, completa e coerente, criada pelo sujeito do
iluminismo, um sujeito cartesiano, se torna uma fantasia, uma ilusão (HALL, 2006).
VOCÊ QUER LER?
O indo-britânico Homi Bhabha publicou em 1998 a obra “O local da cultura”. O autor traz à
tona o debate sobre as relações entre o sujeito colonizado e o colonizador, evidenciando as
relações de poder hierárquicas, construídas nesta relação. Ao ter como perspectiva os estudos
pós-coloniais, a obra contribui para o descentramento das narrativas eurocêntricas e
estereotipadas, para tratar das populações subalternas. Traz também conceitos importantes
para entender as identidades no contexto da pós-modernidade, diáspora e globalização, como
a ideia de hibridismo cultural (BHABHA, 1998).
- -6
Mas, a partir do final do século XX, as identidades serão descentradas e deslocadas mais rapidamente. Com o
poder do mundo globalizado, elas passam a atravessar fronteiras e formar novas concepções de espaço-tempo. A
globalização rompe com a ideia de uma sociedade fechada e delimitada em si mesma e reduz as distâncias entre
o espaço e o tempo repercutindo sobre as identidades culturais (HALL, 2006).
Hall (2006) aponta três consequências da globalização para as identidades: há uma desintegração das
identidades nacionais, devido à tendência à homogeneização cultural; há um reforço das identidades locais como
símbolo de resistência à globalização; as identidades nacionais estão cada vez mais em crise; e há o surgimento
das identidades híbridas.
VOCÊ SABIA?
A corrente de pensamento chamada de pós-coloniais, se concentra nos estudos das múltiplas
identidades. Os estudos pós-coloniais provêm de uma escola originada dos estudos culturais e
literários da década de 1980, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Apesar de diferentes
vertentes, são chamamos pós-coloniais, os autores que buscam articulação de vozes
subalternas, na condição de sujeitos de sua própria fala e história. Seus escritos envolvem,
principalmente, questões relativas à desconstrução de binarismos e essencialismos, à
elaboração da ideia de um sujeito não ocidental (BALLESTRIN, 2013).
- -7
Figura 2 - As interconexões culturais foram beneficiadas com a globalização, como o surgimento das identidades 
múltiplas.
Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018.
Com isso, alguns teóricos afirmam que, em razão dos processos globais, as culturas e identidades nacionais estão
sendo assolapadas, na medida em que crescem os laços identitários com outras lealdades culturais, não mais
pautadas no Estado-Nação. Outros teóricos apontam, ainda, que a globalização está levando à destruição das
identidades fortes, que agora passam a produzir elementos culturais fragmentados dentro de uma
multiplicidade de estilos.
Isto é o que Hall (2006) chama de fluxos culturais, que resultam nas identidades compartilhadas. É nesse
contexto que o advento das tecnologias e da globalização possibilita a perda da unanimidade dos símbolos
identitários, na medida em que símbolos particulares podem ser mobilizados e usado transnacionalmente
(HALL, 2006).
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A partir dessa discussão, Homi Bhabha (1998) levanta a questão de como podemos refletir sobre a demanda da
identidade, num momento contemporâneo e globalizado em que a sua principal característica é a não-fixidez, o
constante movimento e a fluidez dessa identidade, antes vista como limitada e estática. No contexto complexo
pós-colonial de populações que passaram por discriminações e privações, como o caso das populações africanas,
esta identidade além de dialógica, é também antagônica e conflituosa.
Bhabha (1998) aponta que a mobilidade das populações e de indivíduos no mundo globalizado, contribui para a
elaboração de novas territorialidades e, assim, reconfigura os modos de pertencimentos e de identificações.
Nesse interstício, Bhabha (1998) afirma que a compreensão das identidades, deve ser entendida a partir do
conceito de hibridismo cultural, já que essas populações se situam nas “margens deslizantes do deslocamento
cultural” e, em diversos momentos, recusam os traços étnicos e raciais e, em outros momentos, o reafirmam.
4.2 Mundialização da economia e o ajuste estrutural 
brasileiro
A partir dos anos 1970, temos, em toda a América Latina, diversas transformações no modo de acumulação
capitalista, o que possibilitou a emergência de políticas voltadas para os ajustes estruturais dos países que
modificaram a função do Estado na economia, dentre outros elementos.
No Brasil ocorreu o mesmo, mas aqui, sua principal fase de ajuste de estrutura foi a partir da década de 1990.
CASO
Num caso fictício da vida cotidiana, uma turma de alunos de uma escola foi visitar uma aldeia
indígena da etnia Guarani, localizada próximo da cidade de Florianópolis. Os alunos estavam
empolgados com a visita, sobretudo, para conhecer os costumes e tradições indígenas de perto.
Chegando na aldeia, viram que as casas eram de alvenaria, com jardins e um pouco de sujeira
ao redor do terreno, que os indígenas vestiam roupas comuns, como calça jeans e jaqueta,
usavam celular e tinham internet. Logo, os alunos começaram a reclamar e dizer frases como
“nossa, ele tem um celular melhor que o meu, não pode ser índio”, “eles não moram em ocas de
palha, não são índios”, “índio tem que andar pelado”.
Como aprendizado disso, é importante destacar que a cultura é um fenômeno caracterizado
como um processo constante de mudanças e transformação, isto é, a cultura, assim como a
identidade, é móvel e se reconstrói e se adapta a todo momento. Os indígenas, geralmente, são
associados a uma cultura congelada no tempo passado, e quem não os conhece, não admite que
sua cultura tenha se modificado e adaptado às consequências da globalização e da
modernidade, como ocorre normalmente. Ao considerar essas transformações como normais,
mesmo o indígena usando as novas tecnologias, ou vestindo roupas jeans, ele não deixa de ser
indígena, pois ainda possui suas crenças e modo de vida, diferentes de outras tradições. Mas
sua cultura também se modifica e isto deve ser aceito pela sociedade.
Por exemplo, se uma mulher branca ocidental, que usa roupas da moda, colocar um brinco de
pena feito por um indígena, ela irá se tornar uma indígena?
No início dos anos 2000, uma pessoa comum ouvia música num CD, e usava um determinado
tipo de cortede cabelo, que era moda. Mas agora, ela não usa mais o mesmo corte ou mesmo
CDs para ouvir música, isso quer dizer que a pessoa deixou de ser quem era? Não, isto é um
sinal da transformação natural e constante da cultura e da identidade.
- -9
No Brasil ocorreu o mesmo, mas aqui, sua principal fase de ajuste de estrutura foi a partir da década de 1990.
4.2.1 O contexto do ajuste estrutural brasileiro
O Brasil foi um dos últimos países da América Latina a realizar a troca do Modelo de Substituição de Importações
(MSI) pelo modelo de desenvolvimento liberal. Essa demora, decorreu dos obstáculos para passar pela transição,
após o desfalecimento do MSI na década de 1980. Isso foi devido à ausência de conexões entre os setores
capitalistas nacionais, como o industrial, o comercial, agrário e financeiro, que permaneciam vinculados ao
capitalismo dependente brasileiro. As dificuldades em escolher um modelo para a economia – entre as mudanças
no MSI, ou se adaptar ao modelo liberal na era da globalização –, foram resolvidas somente após o governo de
Fernando Henrique Cardoso (FHC) que implementou o “desenvolvimento liberal” (PINTO; BALANCO, 2008).
A partir disso, se constatou que a fixidez monetária, o equilíbrio fiscal, a diminuição da intervenção estatal na
economia e a concorrência internacional, eram os únicos modos de se alcançar a modernização. Assim, temos o
surgimento do Plano Real, ainda sob o governo de Itamar Franco, mas sob o comando de FHC, que aplicou o
modelo de desenvolvimento voltado à estabilização da economia e às reformas institucionais e administrativas
(VIGNOLI, 2011).
Após dez anos do Plano Real, parte de seus objetivos não foi alcançada, como a estabilidade dos preços, que
continuaram flutuando. Apesar de o Plano Real ter sido parcialmente bem-sucedido, vemos o aumento do
desemprego e das desigualdades sociais. Os autores Pinto e Balanco (2008) argumentam que a instituição do
ajuste estrutural liberal no Brasil possibilitou uma expansão da desarticulação social e setorial, aumentando a
exclusão social e a desigualdade.
Para entender o processo de mundialização da economia e o ajuste estrutural brasileiro, é necessário relembrar
a chamada “década perdida” e o governo de Fernando Collor de Mello. Nos anos finais da década de 1970, a
criação do II PND possibilitou ao Brasil, um crescimento econômico com o “milagre econômico”, em meio a um
conturbado contexto de abalo da economia internacional.
Com a política de juros altíssimos em 1979, os Estados Unidos interviram no auge da economia brasileira, que
era sustentada pelo capital externo. Como consequência, uma grande crise econômica abalou o Brasil,
repercutindo em aumento da dívida externa e ampliando os obstáculos para uma possível política de
recuperação da economia.
Esse momento teve, como principais elementos, a estagnação da economia, a exportação de capitais e o aumento
exorbitante da inflação. Com isso, vemos o início da crise do regime militar que, com problemas na economia, se
viu em dificuldade de exercer o controle social. Neste ínterim, os movimentos sociais contrários ao regime
ganham força, sobretudo, os de sindicalistas, marcando o encaminhamento do Brasil para seus anos de
redemocratização (PINTO; BALANCO, 2008).
É a partir dos anos 1990, após a crise dos anos 1980, que o neoliberalismo surge no Brasil, com o objetivo de
desenvolver a internacionalização da economia brasileira e colocá-la dentro do processo mundial de acumulação
de capital, o que resulta na necessidade de ajuste estrutural brasileiro (PINTO; BALANCO, 2008).
4.2.2 As características e as consequências do ajuste estrutural brasileiro
Em meio ao período de redemocratização e de tentativas de reestabelecer a economia, houve o deimpeachment
Fernando Collor, que foi substituído por Itamar Franco, que passa a focar esforços na redução da inflação. Para
isso, ele criou um plano de estabilização monetária, acompanhado de reformas políticas. Era o Plano Real, que se
iniciou em dezembro de 1993.
O Plano Real teve três momentos importantes: o primeiro no final de 1993, que tinha como foco a criação do
Fundo Social de Emergência (FSE), com o objetivo de diminuir o endividamento do Estado; o segundo em março
de 1994, quando foi criada a Unidade Real de Valor (URV), que passou a ser equilibrada segundo as taxas de
câmbios e salários; e em um terceiro momento, em julho de 1994, quando houve a conversão do URV para o Real
- -10
câmbios e salários; e em um terceiro momento, em julho de 1994, quando houve a conversão do URV para o Real
e seu foco passou a ser a privatização das estatais e a abertura comercial, medidas neoliberais já adotadas por
Collor (PINTO; BALANCO, 2008).
Figura 3 - Unidade monetária de Real implementada a partir do Plano Real de Fernando Henrique Cardoso, com 
o objetivo de estabilizar a economia.
Fonte: ktsdesign, Shutterstock, 2018.
O Plano Real, implementado durante o governo de Itamar Franco e concretizado no governo de FHC, tinha como
principais metas: a fixação dos preços; a abertura comercial e financeira, que visava o aumento da concorrência e
da produtividade; a privatização das estatais; a liberalização das contas de capitais do balanço de pagamento; e
políticas sociais para reduzir a pobreza do país. Veja que o Plano Real tinha o foco de criar e instituir um modelo
de desenvolvimento liberal, sustentado pela abertura e competitividade, mas também de criar estabilidade
econômica e reduzir o Estado (PINTO; BALANCO, 2008).
Vemos ainda que a bandeira pelo combate à inflação foi o grande mote para a implementação do modelo
neoliberal no Brasil, visto como uma necessidade urgente, revelando a partir da crise de 1980, o pano de fundo
adequado para a formação do ajuste estrutural liberal no Brasil (PINTO; BALANCO, 2008).
O Plano Real é colocado dentro de outros planos econômicos, desde 1990, implementados na América Latina
com o objetivo de resgatar a economia abatida pela crise. Nessa medida, Pinto e Balanco (2008) afirmam que o
ajuste estrutural brasileiro se torna um elemento substancial, em decorrência do contexto mundial de
- -11
ajuste estrutural brasileiro se torna um elemento substancial, em decorrência do contexto mundial de
globalização e mundialização da economia. Com o Brasil adotando o modelo neoliberal, de modo a integrar-se na
globalização, surge uma nova forma de acumulação de capital, sustentada pela expansão da acumulação
financeira, pelo aumento da dívida pública e pelo aumento da exploração do trabalho.
É nesse momento que teremos a ascensão das frações dominantes financeiras e financeirizadas, que assumem
uma posição de destaque no Brasil. Neste novo modelo, inclui-se o capital financeiro internacional, representado
sobretudo pelos grandes bancos multinacionais e pelos grandes grupos econômico-financeiros nacionais.
O novo ajuste estrutural brasileiro modificou as políticas econômicas e as organizações industriais, se
destacando: a rígida gestão da política macroeconômica; as reformas institucionais; a especialização regressiva
da indústria; a expansão da exploração do trabalho e a diminuição do valor da mão de obra, e o aumento do
desemprego (PINTO; BALANCO, 2008).
4.3 Reconfiguração do Estado nacional
A estrutura do Estado nacional, com o passar dos anos, vem passando pela experiência de reconfiguração e
reestruturação, tendo como principal causa, os processos de globalização, mundialização da economia e as
tecnologias da informação. Essas dimensões estão vinculadas à instituição de políticas neoliberais, sobretudo,
quando falamos do Brasil, a partir da década de 1990, até a atualidade.
4.3.1 O Estado-Nação
Antes de compreender a articulação do Estado-Nação, é necessário entender as definições do conceito de nação e
seus sentidos políticos. O conceito de nação é definido por Benedict Anderson (1989) como uma “comunidade
política imaginada”, em que os membros da nação, mesmo sem se conhecer, têm em mente que existe algo em
comum entre eles, que seria o sentimento de identificação e lealdade paracom a nação. O nacionalismo ou o
sentimento nacional não seria o despertar da consciência de uma nação, mas sim a invenção simbólica de uma
nação.
Portanto, para criar a consciência nacional, era preciso desenvolver, na população, o sentimento de
pertencimento a um grupo comum, a sua pátria, sendo imprescindível para a formação dessa consciência a
constituição de um projeto político que envolvesse os valores próprios do patriotismo e, nesse horizonte, a
posição e a participação dos intelectuais e políticos, essenciais para esse desenvolvimento.
A ideia de nação é oriunda do surgimento dos Estados nacionais na Europa, no período pós-Revolução Francesa.
Assim, a formação de Estados-Nação se espalha pelo mundo, desde o século XIX, e se reinventa a cada
circunstância e reviravolta políticas, ao longo do tempo, como os regimes totalitários que surgiram após a
Primeira Guerra Mundial e também no caso do governo de Getúlio Vargas, após 1937.
Numa outra conceituação, a nação pode ser definida como uma comunidade humana governada por um Estado
soberano, estabelecida num determinado território, com uma unidade étnica, histórica, linguística, religiosa e
econômica. O requisito de uma unidade cultural e linguística, para a constituição de uma nação, só era possível
com uma política do Estado que centralizasse e elegesse uma única língua nacional (SILVA; SILVA, 2008).
Nessa perspectiva, a presença do Estado centralizado é uma peça fundamental para a constituição da
comunidade imaginada, na medida em que este é o responsável por criar elementos e valores em comum entre o
povo.
Visto isso, há uma relação direta entre o nacionalismo, formado a partir da década de 1920, que se intensificou
com o governo de Getúlio Vargas a partir de 1930, e os intelectuais empenhados em criar um projeto político
com esses objetivos. O fortalecimento do espírito nacionalista contribuiu para a chamada invenção da tradição,
conceito cunhado por Hobsbawm (1990). Tradição então, é um conjunto de práticas regidas por normas aceitas
que, de forma simbólica, fazem circular valores e comportamentos. Por consequência, o ensino de História no
Brasil teria, como meta, ensinar as tradições nacionais, a fim de inspirar o sentimento patriótico.
A formação do Estado-Nação ocorreu, na Europa, a partir do século XII, tendo como característica a centralização
- -12
A formação do Estado-Nação ocorreu, na Europa, a partir do século XII, tendo como característica a centralização
política, como consequência da falência do feudalismo no fim do período medieval e da emergência de novas
relações políticas, que deram origem ao mundo moderno. Portugal foi o primeiro Estado centralizado formado,
seguido de outros países como França, Inglaterra e Espanha. Os Estados Nacionais surgiram da união dos antigos
feudos, tendo como principais características, a centralização do poder na mão do rei e sua aliança com a
burguesia. Outras características são a instituição de uma única moeda nacional e a formação de um exército
nacional (CASTELLS, 1999).
Figura 4 - A formação do exército nacional é uma característica própria do surgimento da estrutura do Estado-
Nação.
Fonte: Shutterstock, 2018.
O conceito de Estado, nesse sentido, é mobilizado para se referir às novas formas políticas que emergiram na
Europa a partir do fim do século XVIII. Alguns autores avaliam a formação do Estado pelo fator econômico, como
o caso de Engels e Marx, que vinculam a formação do Estado ao surgimento da propriedade privada e da divisão
das classes, sendo o Estado, responsável por ordenar o domínio das classes. Nessa medida, o Estado possui uma
estreita relação com o poder e o território (CASTELLS, 1999).
Com a Revolução Industrial, o Estado Nacional se fortificou ainda mais, sendo a principal dimensão das relações
políticas. Com a ascensão dos mercados nacionais e a expansão da economia, possibilitada pelos avanços dos
meios de transporte, o Estado nacional passou a influenciar em todo o mercado internacional, o que foi
acompanhado pela formação de um sentimento nacionalista (CASTELLS, 1999).
No final do século XIX, temos a transição para o Estado nacional contemporâneo, com a aproximação entre o
Estado político e a sociedade civil e o surgimento dos direitos fundamentais. Desse modo, o Estado permitiu a
concorrência de mercado, as liberdades fundamentais, mas também implementou reformas sociais e políticas,
- -13
concorrência de mercado, as liberdades fundamentais, mas também implementou reformas sociais e políticas,
possibilitando a divisão do poder e a inclusão da classe trabalhadora (CASTELLS, 1999).
4.3.2 A crise do Estado-Nação
A experiência do Estado-Nação começa a sofrer profundas modificações após o término da Guerra Fria e no
momento em que se inaugura uma nova fase do capitalismo, isto é, a mundialização do capital expressa pela
globalização. Nesta fase há a distinção entre o Estado e a economia, e esta relação não se restringe mais ao
âmbito nacional. Assistimos ao avanço do neoliberalismo, que determina a autonomização do capital, deslocado
para as multinacionais e grandes corporações financeiras, que ficam fora do alcance do poder do Estado
(CASTELLS, 1999).
Figura 5 - Na Guerra Fria, a disputa entre as potências de URSS e Estados Unidos, criava uma bipolarização de 
poder no mundo.
Fonte: RomanStrela, Shutterstock, 2018.
A crise que atingiu o capitalismo mundial, a partir de 1974, pressionou a busca por outras alternativas
econômicas e a substituição do modelo fordista e keynesiano, por outro padrão de acumulação. Com isso,
assistimos a um processo de mudança do padrão de acumulação para uma forte flexibilização econômica, que
repercute em mudanças também no âmbito da política, cultura e do social (CASTELLS, 1999).
É nesse período que vemos a crise da fortificação do Estado-Nação, que passa a ser reduzido, em virtude do novo
padrão de acumulação, em consequência da política neoliberal. Castells (1999) pontua que a crise do Estado-
Nação ocorre devido à impossibilidade em se conciliar as redes de globalização e as identidades singulares.
Somada a isto, há a internacionalização das políticas monetárias, em que o Estado-Nação não exerce mais seu
poder regulador da economia (CASTELLS, 1999).
Entre os estudiosos que pesquisam as consequências da globalização, há os que consideram a notável perda de
espaço e poder do Estado-Nação (CASTELLS, 1999). Assim, temos a transnacionalização da produção, vinculada
às redes produtivas, aliadas ao comércio das empresas.
Entretanto, o grande resultado é a desestruturação das organizações produtivas, gerando a instabilidade
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Entretanto, o grande resultado é a desestruturação das organizações produtivas, gerando a instabilidade
empregatícia, o aumento da desigualdade social e a exclusão. Neste entendimento, com a crise do Estado-Nação e
a redução do seu poder, vemos a ascensão e desintegração do poder em diversos espaços como corporações,
conglomerados e empresas. O Estado-Nação passa a ser submetido às pressões da globalização, nas quais se
globalizam, além do comércio e do consumo, também os problemas e conflitos sociais. Assim, o Estado passa a
ser apenas umas das inúmeras fontes de poder dentre o mundo globalizado, isto é, há uma descentralização do
poder (CASTELLS, 1999).
Com o estabelecimento dessa nova ordem mundial, o poder, antes dividido por duas potências da Guerra Fria,
passa a se modificar, exigindo também a redefinição da função do Estado. Este responsável pela soberania
militar, econômica e cultural, não mais suporta tal estrutura.
4.4 O Serviço Social e os indicadores sociais brasileiros
A formação das políticas sociais no Brasil resulta das crises inerentes à formação do capitalismo brasileiro, que
repercute em conflitos nos diferentes espaços, desde o tempo da escravidão. As lutas pelo social, de maneira
geral, sempre tiveram um perfil elitista, com a ação das massas populares na luta pela terra, migrações,
extermínio dos indígenas, movimento negro e sindicalismo.
É dessa forma que a questão socialganha espaço no decorrer da história do Brasil por meio das lutas sociais,
partidárias ou sindicais, que são realizadas no âmbito da formação do capitalismo no Brasil da colônia até a
criação do Serviço Social, nos anos 1930.
4.4.1 Historicizando a questão social no Brasil
No período do Brasil Colônia, Caio Prado Junior (2012) afirma que era um momento de muito desemprego e
miséria, sobretudo, no que diz respeito às populações negras, utilizadas como mão de obra escrava e submetidas
à exploração. Nesse momento, a ação do Estado se traduzia pelas práticas de cristianização da Companhia de
Jesus, tendo os indígenas como objeto.
A exploração, dominação e o patriarcalismo eram características da formação do Brasil nesse período, que ditou
os rumos da formação de uma sociedade brasileira pautada na exclusão social e na marginalização (SILVA, 2013).
Mesmo com a independência em 1822, com a abolição da escravidão em 1888, e com a proclamação da república
em 1889, demandas sociais que se faziam presentes desde a época colonial, permaneceriam no Império e depois
no período republicano: a dependência do mercado externo, seja antes ou depois de 1822, não alterou as
estruturas da dominação (SILVA, 2013).
Com a república em 1889, há um desenvolvimento das ideias políticas no Brasil, que tinham como propósito a
modernização administrativa, mas não a questão social do país. O político e intelectual da época, Rui Barbosa,
argumentava a necessária função do Estado em zelar pelas questões sociais do país e solucionar seus problemas,
chamando a atenção para a causa operária e dos trabalhadores (SILVA, 2013).
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Figura 6 - Rui Barbosa foi um dos intelectuais responsáveis por trazer à tona a necessidade de o Estado pensar a 
questão social brasileira.
Fonte: vkilikov, Shutterstock, 2018.
Com o início da Era Vargas, em 1930, e principalmente, no Estado Novo em 1937, temos os primeiros passos
para a aproximação entre o Serviço Social e a questão social. A proposta do Estado Novo era modernizar as
classes operárias e as relações trabalhistas, dentro do sistema fabril, era a renovação da cultura e da política.
Diversas crises surgiram nesse momento, que serão acompanhadas da efervescência de distintas correntes de
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Diversas crises surgiram nesse momento, que serão acompanhadas da efervescência de distintas correntes de
pensamentos ideológicos, como o nacionalismo e o marxismo, colocando a classe operária no centro das
questões sociais (SILVA, 2013).
É nesse contexto, por meio das ações políticas do Estado e da Igreja, que medidas serão implementadas para
atender às demandas sociais dos trabalhadores e para instituir profissões voltadas para o social, possibilitando o
surgimento do Serviço Social, enquanto profissão. De início, ainda em formação, o Serviço Social atuava próximo
ao social, porém, afastado das questões políticas (SILVA, 2013).
4.4.2 A questão social e o surgimento do Serviço Social no Brasil
A criação do Serviço Social no Brasil está estreitamente atrelada ao papel da Igreja Católica e ao Estado, nas
ações sociais, tendo como base, um suporte confessional-conservador. As primeiras escolas de Serviço Social
foram fundadas em 1936 e 1937, em São Paulo e Rio de Janeiro, sob o contexto do Estado Novo, que renovou o
âmbito do social. Neste âmbito, podemos perceber as reivindicações da classe operária, por melhores condições
de trabalho e de vida, como centro desse processo de deslocamento do social (SILVA, 2013).
Ao passar por este processo de aproximação da questão social, a Igreja Católica inicia uma mudança em suas
práticas, se afastando de uma postura passiva e atuando efetivamente nos problemas sociais. Até o período da
República Velha, a Igreja não interferia no social e afirmava que os problemas de ordem social eram fruto da
falta de fé da população, defendendo que a solução era o trabalho e a religião, em outras palavras, se pretendia
disciplinar e moralizar o povo.
Com as mudanças, a Igreja institui ferramentas para auxiliar nessa postura como as encíclicas papais “Rerum
Novarum”, publicada em 1891, por Leão XIII, e “Quadragesimo Anno”, publicada em 1931, por Pio XI, que mais se
aproximavam do Serviço Social. As novas diretrizes tinham como desígnio, reduzir os contrastes ocasionados
com o crescimento do proletariado europeu no século XIX e, no Brasil, isto será traduzido pela ação do Serviço
Social (SILVA, 2013).
A partir da década de 1930, diante das grandes crises mundiais, a Igreja irá se voltar aos problemas sociais no
Brasil, dando os primeiros passos para o Serviço Social. Nesse contexto, o Brasil se constituiu como um país
composto pela desigualdade, miséria dos proletários e uma burguesia com alta concentração de renda (SILVA,
2013).
4.4.3 Os indicadores sociais
O termo “indicadores sociais” é algo criado muito recentemente, em 1966, nos Estados Unidos, a partir da obra
de Raymond Bauer (1966), chamada “ ”. Esta obra tinha como objetivo examinar os impactos daSocial Indicators
corrida espacial no modo de vida dos americanos, atentando às transformações socioeconômicas. Esta análise só
pode ser realizada por meio da criação de indicadores de caráter social, que possibilitou avaliar as condições
VOCÊ O CONHECE?
Rui Barbosa foi um intelectual, político, advogado, escritor e jornalista brasileiro. Nasceu em
Salvador, onde exerceu sua carreira de deputado da província da Bahia. É considerado um dos
mais distintos personagens da história do Brasil, por sua atuação na fundação da Academia
Brasileira de Letras (ABL), na campanha abolicionista e nas propostas de reformulação da
política eleitoral e do ensino. Ele também foi Ministro da Fazenda no governo de Deodoro da
Fonseca e chegou a concorrer às eleições presidenciais do Brasil.
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pode ser realizada por meio da criação de indicadores de caráter social, que possibilitou avaliar as condições
sociais, políticas e econômicas dos Estados Unidos.
Portanto, este conceito será apropriado recentemente pelas Ciências Sociais, sendo uma das suas definições a
partir de Januzzi (2012), que compreende o indicador social como uma medida que se expressa por meio de um
significado social substantivo, mobilizado assim para representar um conceito social antes abstrato. Dessa
forma, ele se constitui como um recurso metodológico que detalha a realidade social.
O desenvolvimento dos indicadores surgem nos primeiros trabalhos e relatórios publicados sobre importantes
marcos históricos do século XX, como a crise de 1929, a II Guerra Mundial e o foguete Sputnik em 1957. A
formação dos indicadores se divide a partir de quatro fases: a primeira nos anos 1960, com a fundação do
conceito de indicador social; a segunda nos anos 1970, com a apropriação dos indicadores sociais por
organismos internacionais; a terceira nos anos 1980, com a desvalorização desse sistema; e a última fase dos
anos 1990 até a atualidade, com a revalorização do sistema dos indicadores sociais (JANUZZI, 2012).
Figura 7 - Os conflitos e consequências da Segunda Guerra Mundial repercutiram na valorização dos indicadores 
sociais.
Fonte: Shutterstock, 2018.
É nos anos 1990, que será criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) da
Organização das Nações Unidas, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), um dos mais conhecidos
indicadores sociais. Ele apresenta a ideia de que o desenvolvimento não está somente vinculado ao aspecto
econômico do país – como era antes, quando medido apenas pelo PIB –, mas deve ser medido também,per capita
pelos índices de educação e saúde (JANUZZI, 2012).
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Os indicadores sociais foram criados para classificar os países como desenvolvidos, em desenvolvimento
(economias emergentes) e subdesenvolvidos. Os indicadores são:
• expectativa de vida;
• taxa de mortalidade;
• taxa de mortalidade infantil;
• taxa de analfabetismo;
• Renda Nacional Bruta (RNB) ;per capita
• saúde;
• alimentação;
• condições médico-sanitárias;
• qualidade de vida e acesso ao consumo.
A questão social só se tornou uma prioridade noBrasil, a partir de 1964, quando o controle social passa a ser um
planejamento. Entre 1975 e 1979, o governo brasileiro passa a admitir a grave situação da problemática social,
propondo o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que inclui uma política de diminuição das
desigualdades sociais.
Nessa perspectiva, foi criado o Conselho de Desenvolvimento Social (CDS), em 1974, voltado para planejar a
política social. Este órgão irá propor a elaboração de sistema de indicadores sociais, seguindo as instruções da
ONU, com a finalidade de evidenciar as dimensões necessárias para a estruturação de um planejamento social.
Com isso, a atenção maior se volta para aqueles indicadores que apontavam os níveis de bem-estar material e os
grupos em situação de pobreza absoluta, estando a cargo do IBGE, a construção desse sistema no Brasil.
Síntese
Você concluiu os estudos sobre as dimensões que envolvem o processo de mudança na economia e o
deslocamento das questões que perpassaram a experiência mundial e brasileira, compreendendo as
consequências dessas transformações, tanto para o âmbito econômico e político, como também para o âmbito
cultural e identitário.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• identificar o processo de globalização e mundialização da economia, vinculado às políticas neoliberais;
• compreender os impactos da globalização na formação das identidades culturais;
• apreender o modo como ocorreu o ajuste estrutural brasileiro e a inclusão das novas políticas 
neoliberais;
• refletir sobre a fundamental importância dos indicadores sociais para o planejamento das políticas 
sociais.
VOCÊ SABIA?
A ONU (Organização das Nações Unidas) é um órgão internacional fundado após o término da
Segunda Guerra Mundial, em 1945. Seu propósito era de garantir a paz e a segurança entre os
países, assim como colaborar para o desenvolvimento das populações, sobretudo
subdesenvolvidas. Desse modo, a principal atuação da ONU se tornou buscar alternativas para
os mais graves problemas sociais, culturais e econômicos.
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sociais.
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	Introdução
	4.1 Mundialização da economia e suas consequências
	4.1.1 O consumo e a industrialização
	4.1.2 A mundialização e as repercussões nas identidades culturais
	4.2 Mundialização da economia e o ajuste estrutural brasileiro
	4.2.1 O contexto do ajuste estrutural brasileiro
	4.2.2 As características e as consequências do ajuste estrutural brasileiro
	4.3 Reconfiguração do Estado nacional
	4.3.1 O Estado-Nação
	4.3.2 A crise do Estado-Nação
	4.4 O Serviço Social e os indicadores sociais brasileiros
	4.4.1 Historicizando a questão social no Brasil
	4.4.2 A questão social e o surgimento do Serviço Social no Brasil
	4.4.3 Os indicadores sociais
	Síntese
	Bibliografia

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