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História do Brasil

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CÁCERES, Florival. História do Brasil. São Paulo: Moderna, 1993.
Fundação da Colônia do Santíssimo Sacramento: “para participar do comércio do Rio da Prata e do Vice-Reino espanhol do Peru, o governador do Rio de Janeiro, Manuel Lobo, fundou em 1580, às margens do Rio da Prata, a Colônia do Sacramento.” (79) [Um dos principais objetivos era romper o exclusivo comercial espanhol e obter acesso à prata do Vice-Reino do Peru.]
A Colônia do Sacramento transformou-se em ponto de discórdia entre Portugal e Espanha. “Em agosto de 1580, os espanhóis invadiram e tomaram a colônia, mas foram obrigados a devolvê-la três anos mais tarde. Voltaram a atacá-la outras vezes, até que em 1877 Colônia do Sacramento passou definitivamente para a Espanha.” (79) [É importante lembrar que, à exceção de Sacramento, o ponto mais ao sul da colonização portuguesa, até meados do século XVII, era Paranaguá, que hoje compõe o Paraná.]
“Para se precaver da expansão dos portugueses na região do Prata, a Espanha fundou a cidade de Montevidéu, próximo a Colônia do Sacramento. A presença portuguesa no noroeste do Mato Grosso e na região do Rio da Prata criava conflitos com os espanhóis.” (80)
Pelo Tratado de Utrecht (1815. Preciso de pesquisar, mas acho que a data é 1715), a Espanha foi obrigada a devolver Colônia do Sacramento aos portugueses. 
“No Sul, Colônia do Sacramento estava praticamente cercada. Enquanto o governo português procurava colonizar o atual Rio Grande do Sul, os espanhóis estavam ocupando e colonizando todo o atual Uruguai, área próxima a Colônia do Sacramento. Os portugueses não tinham condições de se expandir mais no Sul.” (81)
Tratado de Madri (1750): “A Espanha aceitou as condições e assinou o Tratado de Madri, que reconheceu as pretensões portuguesas sobre a Bacia Amazônica, em troca, obteve a posse de Colônia do Sacramento. Os portugueses receberam a missão jesuítica espanhola de Sete Povos das Missões. Portugal trocava uma colônia que nada lhe rendia por uma região rica em gado e erva-mate.” (81) [Assim, por meio da atuação de Alexandre de Gusmão, eram estabelecidas as fronteiras que, com poucas modificações posteriores, definiram o contorno atual do país.]
“Desde o final do século XVII, os jesuítas haviam fundado no noroeste do atual Rio Grande do Sul, então território espanhol, várias missões (São Miguel, São Lourenço, São João, Santo Ângelo, São Luís, São Nicolau e São Borja), que ficaram conhecidas como Sete Povos das Missões. (...) Cada uma das missões era praticamente autônoma e não pagava impostos à Coroa espanhola, que sequer inspecionava essas unidades. (...) Dizia-se que a Companhia procurava criar um império teocrático independente de Portugal e Espanha.” (82)
“Pelo Tratado de Madri, as missões deveriam se retirar para as margens ocidentais do Rio Uruguai, e isso representava o trabalho de gerações, durante décadas, jogado fora. (...) [Devido à resistência das missões] foram dezessete anos de carnificina e mortandade.” (82)
“Os jesuítas, acusados entre outras coisas de insuflar a guerra dos índios, foram expulsos de Portugal, do Brasil e de todo império espanhol.” (82)
“O novo rei espanhol, Carlos III, denunciou o Tratado de Madri. (...) os problemas das fronteiras do Sul continuavam sem solução. Em 1777, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Santo Ildefonso, pelo qual Sete Povos das Missões e Colônia do Sacramento ficavam para a Espanha. Esta, por sua vez, deveria se retirar de Santa Catarina, a qual havia sido invadida e ocupada. // Caudilhos e estancieiros gaúchos, no entanto, voltaram a ocupar a região de Sete Povos das Missões, levando à assinatura do Tratado de Badajós (1801), que confirmou o que havia sido estabelecido no Tratado de Madri. Sete Povos das Missões ficou para Portugal, e Colônia do Sacramento, para a Espanha. O longo e tortuoso problema das fronteiras do Sul estava resolvido.” (82)
Guerra da Cisplatina: A banda oriental do Rio da Prata (atual Uruguai) fazia parte do Vice-Reinado do Prata e pertencia à Espanha. Por influência da rainha Carlota Joaquina, tropas portuguesas ocuparam a região em 1816, aproveitando-se das dificuldades causadas pelas lutas de independência que desorganizavam a administração da América Hispânica. Quando o Brasil se tornou independente, a região passou a constituir a Província Cisplatina. Em 1825, líderes cisplatinos proclamaram sua independência e se anexaram à República das Províncias Unidas do Prata (atual Argentina). Em represália, dom Pedro I declarou guerra à Argentina.
Como a guerra não interessava à Inglaterra, pois, além de não ver com bons olhos o fato de a Argentina dominar as duas margens do Rio da Prata, o conflito também atrapalhava os interesses comerciais ingleses na região, a potência européia pressionou pelo fim da disputa, o qual resultou na criação de um Estado independente: a República Oriental do Uruguai. (157)
Vinda da família real
1808: abertura dos portos às nações amigas; criação em Salvador de uma escola de Medicina e Cirurgia.
“Em apenas oito anos, mais de cinco mil brasileiros foram agraciados com títulos honoríficos.” Significavam prestígio, status. Os títulos honoríficos compravam àqueles que os recebiam a lealdade para com a Coroa portuguesa.
Autorização para a instalação de indústrias no Brasil.
1810: tarifas alfandegárias privilegiadas com a Inglaterra.
Criação do Banco do Brasil, com função de emitir dinheiro para cobrir os gastos do governo e manter a Corte e seus fidalgos.
Fundação da Escola de Medicina do Rio de Janeiro, criação da Biblioteca Real, da Escola Nacional de Belas-Artes, da Imprensa Régia.
Melhoramento de estradas, incentivo à siderurgia, urbanização do Rio de Janeiro.
“A Revolução Liberal do Porto pôs fim ao período de relativa estabilidade política que o Brasil havia conhecido desde a chegada da família real.” (146)
As Cortes portuguesas e a Inglaterra pressionaram pela volta de dom João VI, que deixou seu filho como príncipe regente.
As Cortes tinham o projeto claro de recolonizar o Brasil, voltando com o exclusivo comercial. A burguesia portuguesa sentia a falência em que se encontrava, resultado da quebra do exclusivo e pressionava pela volta de Pedro I. Vários setores da sociedade brasileira estavam divididos entre alinhar-se ao governo regente ou alinhar-se às ordens emanadas das Cortes de Portugal. “Diante das pressões das Cortes, os comerciantes que não queriam o restabelecimento do pacto colonial tornaram-se adeptos da independência.” Uma considerável quantidade de portugueses, que aqui tinham chegado com a família real, já tinha estabelecido interesses próprios na terra e não via com bons olhos uma possível recolonização. Tornaram-se, então, partidários de uma independência negociada, com o príncipe regente no poder. Os grandes proprietários, que saíram ganhando com a quebra do exclusivo colonial, “temiam que das lutas de independência pudesse ocorrer a fragmentação da unidade política do Brasil, o questionamento do seu poder e de seus privilégios e, além disso, a abolição da escravidão.” (147)
Nos momentos que precederam a independência, havia três correntes políticas no Brasil:
o partido português: apoiava a política das Cortes de recolonizar o Brasil.
o partido brasileiro: queriam manter o Brasil como uma monarquia associada à monarquia portuguesa; depois, passaram a apoiar a independência do Brasil com dom Pedro no poder.
Partido Liberal Radical: queriam a implantação de uma república democrática.
“A dissolução da Constituinte, a outorga da Constituição e a repressão violenta à Confederação do Equador afastavam o ‘partido brasileiro’ do imperador. Dom Pedro governava com apoio do ‘partido português’ e dos militares.” (158)
“Em 1826 morreu dom João VI. Seu primogênito, dom Pedro I, seria o novo rei de Portugal. Os brasileiros não escondiam a preocupação: dom Pedro rei de Portugal e do Brasil era sinônimo de recolonização.” (158) Pedro I abdica em nome de sua filha decinco anos, Maria da Glória, que estava prometida em casamento com dom Miguel, que regeria Portugal até a maioridade da herdeira. Dom Miguel restaurou o absolutismo e se tornou rei. Políticos constitucionalistas portugueses fugiram para o Brasil. O Tesouro brasileiro passou a financiar os liberais que, em Portugal, lutavam contra dom Miguel.
O jornalista Líbero Badaró, que fazia virulentas críticas ao Imperador foi assassinado. 
Noite das garrafadas: os portugueses tinham organizado uma festa para receber Pedro I, que retornava de uma viagem a Minas. Os brasileiros decidiram acabar com a festa e atacaram o bairro português.
Depois da abdicação de Pedro I, “a classe dominante brasileira havia chegado ao poder político. Tratava-se agora de consolidar o Estado nacional e afastar definitivamente o perigo de recolonização do Brasil.” (159)
Abdicação de Pedro I: 7 de abril de 1831.
“Em junho de 1831, a Assembléia dos Deputados votou a lei da regência, estabelecendo que os regentes não teriam o poder Moderador, não poderiam dissolver a Câmara, criar impostos, conceder títulos de nobreza e decretar a guerra. O verdadeiro poder residia na Câmara, e não nos regentes.” (161)
Grupos Políticos: 
Liberais moderados: combatiam os “anarquistas irresponsáveis”. “A grande obsessão dos moderados era o federalismo, isto é, a autonomia dada às províncias, embora a cúpula dirigente e a maior parte de seus membros defendessem o regime monárquico liberal, e não a república.” (161-62) “Sua preocupação era fazer reformas políticas que não alterassem os fundamentos econômico-sociais do Brasil.” (162)
Liberais exaltados: defendiam a idéia de uma república federativa, com províncias autônomas, como nos Estados Unidos. Excluídos do poder, participaram das revoltas do período regencial.
Restauradores (caramurus): queriam a volta de dom Pedro I ao poder. 
O homem forte da Regência Trina Permanente (1831-1835) foi padre Diogo Antônio Feijó. Para estabelecer a segurança nacional, diante das agitações promovidas pelos setores mais insatisfeitos da população, ele criou a Guarda Nacional, “uma força paramilitar constituída de cidadãos armados.” [Apenas homens mais ricos poderiam integrar a Guarda Nacional. Tratava-se de uma manobra para esvaziar o poder dos militares, já que muitos deles tinham posicionamento restaurador. “A Guarda Nacional constituiu-se no protetor e sustentáculo do regime, preservando os interesses dos grandes proprietários rurais.”] (163)
Ato Adicional de 1834, uma solução de compromisso entre as elites:
as províncias não poderiam ter constituição própria;
o presidente de província era nomeado pelo governo central;
as assembléias provinciais podiam legislar em matéria de finanças (despesas e impostos locais);
a autonomia dos municípios foi suprimida;
extinção do Conselho de Estado, que era o órgão que ajudava o imperador a aplicar o poder Moderador; porém manutenção do Senado vitalício.
Após a morte de Pedro I, o Partido Liberal Moderado enfrentou uma cisão: os que apoiavam o Ato Adicional de 1834 denominaram-se progressistas e formariam o futuro Partido Liberal; os contrários ao ato, por achá-lo muito liberal e federalista, denominaram-se regressistas, e formariam o futuro Partido Conservador.
Política externa do Segundo Reinado
“A política externa do Segundo Reinado girou em torno de dois eixos fundamentais: as relações privilegiadas com a Inglaterra, que foram interrompidas momentaneamente com a Questão Christie, e as constantes intervenções do Brasil na Bacia do Prata, que geraram conflitos com vários países da região, como, por exemplo, Argentina e Paraguai.” (191)
Questão Christie: “o rompimento de relações diplomáticas entre Brasil e a Inglaterra (1863-1865) teve origem num longo atrito ligado ao tráfico negreiro. (...) Devido à atitude do Brasil em relação ao tráfico [resistência em extinguir o tráfico] e à tarifa alfandegária Alves Branco, (...) a Inglaterra passou a perseguir navios negreiros mesmo em águas territoriais brasileiras.” (Bill Aberdeen) Apesar da extinção do tráfico, permaneceu o ressentimento, que se agravou com alguns pequenos incidentes gerados pela postura do embaixador inglês William Christie. [Caso do navio inglês que naufragou na costa gaúcha e cuja carga desapareceu; e o caso de dois marinheiros ingleses que foram presos no Rio de Janeiro por estarem embriagados e causando desordens.] (191)
Questões platinas: a guerra contra Oribe (Uruguai) e Rosas (Argentina)
“Em 1850 o Brasil entrou em guerra contra o presidente Oribe, do Partido Blanco Uruguaio, e Rosas, presidente argentino.” (191)
Rosas conseguiu a unificação da Argentina e tinha o sonho de unificar todo o antigo Vice-Reinado do Prata, unindo o “Uruguai e o Paraguai à então República das Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina), sob a forma de repúblicas confederadas.” (191-92)
Para isso, Rosas estabeleceu uma aliança com o presidente uruguaio, Oribe. O Brasil viu nessa aliança uma ameaça por pelo menos três motivos:
temia o surgimento de um poderoso rival no Sul;
temia pela livre navegação do Rio da Prata, na qual sempre teve interesse;
temia levantes no Sul, porque os países platinos haviam ajudado os farrapos, e a aliança entre o Uruguai e Rosas poderia novamente levantar os caudilhos gaúchos contra o Império.
O Brasil se aliou ao Partido Colorado, no Uruguai e aos governadores das províncias argentinas de Entre-Rios e Corrientes, contrários a Rosas. O Império contou também com a ajuda dos ingleses e dos franceses, cujos governos não estavam satisfeitos com a política nacionalista e protecionista de Rosas.
Guerra contra Aguirre: em 1864, Aguirre, um caudilho blanco, havia firmado uma aliança político-militar com o Paraguai. Diante de conflitos fronteiriços com o Brasil (desrespeito às fronteiras, roubo de gado do outro lado da fronteira, etc), Aguirre, interpelado pelo governo brasileiro, respondeu rudemente. O Brasil, auxiliado pelos caudilhos colorados, declarou guerra aos blancos em agosto de 1864. Aguirre foi derrotado e os colorados assumiram o poder no Uruguai.
A política econômica de Rui Barbosa e a crise do encilhamento
“A política econômica que a República herdara do império necessitava da emissão de mais moedas. Os cafeicultores falidos do Vale do Paraíba e os donos de engenho do Nordeste também arruinados precisavam de créditos para pagar suas dívidas. Os cafeicultores do Oeste Paulista necessitavam de moeda para pagar os trabalhadores assalariados.” (212) [Percebe-se claramente que a necessária expansão monetária, com o fim da escravidão e a incorporação de mão-de-obra assalariada, está por trás da crise do encilhamento.]
“Animado pela safra recorde de café em 1889 e pela entrada de empréstimos externos, Rui Barbosa lançou-se a uma política emissionista favorável à criação de indústrias e outros tipos de empresas. (...) permitiu que bancos particulares emitissem moeda para aumentar o meio circulante e facilitar o crédito para as novas atividades empresariais, estimulando a produção interna e os negócios.” (212)
A política externa na República Velha
“Entre 1893 e 1895, o Barão do Rio Branco foi nomeado representante brasileiro em Washington para resolver problemas fronteiriços com a Argentina. Os dois países disputavam, na região das antigas missões, uma área não-demarcada de mais de 35 mil quilômetros quadrados. Essa disputa ficou conhecida como Questão das Palmas.” O então presidente dos Estados Unidos, Grover Cleveland, foi nomeado árbitro e deu ganho de causa ao Brasil. (257)
Na disputa com a França, entre o território do atual Amapá e a Guiana Francesa, o Barão também levou a melhor, quando o presidente suíço, árbitro da questão, deu ganho de causa ao Brasil em 1900. Nessa negociação, mais 250 mil quilômetros quadrados foram acrescentados ao território brasileiro.
O caso do Acre está relacionado ao desenvolvimento da borracha como commodity que alcançava altospreços no mercado internacional. Pelo Tratado de 1867, a região que hoje corresponde ao Acre, pertencia à Bolívia que, no entanto, não se preocupou em colonizar a região. Seringueiros brasileiros ocuparam aquele espaço e atritos surgiram entre esses novos habitantes e o governo boliviano. Diante do impasse, tropas bolivianas e brasileiras chegaram a ser enviadas para a região. A Bolívia, que já tinha questões de limites com o Chile e a Argentina, aceitou o acordo proposto pelo Barão do Rio Branco. (Tratado de Petrópolis, 1903) Indenização: dois milhões de libras e a promessa de construção da ferrovia Madeira-Mamoré.
Na geopolítica da Bacia do Prata, considerava-se Paraguai e Uruguai dois países-tampão.
“O Chile tinha rivalidades com a Argentina pela disputa de territórios e enfrentara guerras com a Bolívia e o Peru. Por isso precisava de um aliado na América do Sul. Para o Chile, o melhor aliado seria o Brasil, com o qual não tinha conflitos fronteiriços e ambos eram rivais da Argentina.” (259)

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