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Capitulo I - Apresentação 1 Capitulo I - Apresentação PD 77 - Alinhamento de Imagens Médicas Relatório final submetido ao Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores para satisfação parcial dos requisitos do: Projecto, Seminário, Trabalho de Fim de Curso Por: Nuno José Sá Couto Sérgio Vasconcelos de Barros Finalistas do curso de Engenharia Electrotécnica e de Computadores da Universidade do Porto Orientador: Armando Jorge Padilha Prof. Associado do Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 2 Capitulo I - Apresentação Agradecimentos Ao Instituto de Engenharia Biomédica da Universidade de Karlsruhe por todo o seu apoio e disponibilidade, em particular na pessoa do Eng. Ingo de Boer. Ao Prof. A. Jorge Padilha pela orientação e oportunidade que nos deu de trabalharmos numa área que sempre nos motivou. Ao Eng. João Tavares por toda a sua disponibilidade e pela disponibilização de funções por si desenvolvidas. Ao INEB e em particular aos Eng. Pimenta Monteiro e Eng. Miguel Velhote por toda a disponibilidade e apoio prestado ao longo deste projecto. Ao Dr. Lusitano pelo estabelecimento da ligação ao Instituto de Química Fisiológica, laboratório de radioisótopos da Faculdade de Medicina de Coimbra, em particular ao Prof. Adriano Rodrigues, e ao departamento de medicina nuclear do Hospital de S. João, em particular ao director de serviço Dr. Jorge Rodrigues. 3 Capitulo I - Apresentação Índice Capítulo I - Apresentação 1. Proposição 1 1.1 Objectivos do Projecto 2 1.2 Estrutura do Relatório 3 2. Etapas do Projecto 4 Capítulo II – Medicina Nuclear, SPECT e PET Introdução 7 1. Medicina Nuclear 8 1.1 Introdução 8 1.2 História 8 1.3 Factos 9 1.4 Computadores em Medicina Nuclear 10 1.4.1 Introdução 10 1.4.2 Imagens Digitais 10 1.4.3 Aquisição de Imagem 11 1.4.4 Conclusão 11 1.5 Segurança e Controlo da Qualidade 11 1.6 Futuro 12 2. Single Photon Emission Computed Tomography (SPECT) 13 2.1 Introdução ao SPECT 13 2.2 História do SPECT 14 2.3 Teoria e Instrumentação 15 2.4 Aquisição e Processamento de Imagem em SPECT 15 2.5 Reconstrução de Imagem 17 2.5.1 Projecção Inversa Filtrada 17 2.5.2 Método dos Parâmetros Directos 18 2.5.3 Método dos Mínimos Quadrados com Restrição Linear 18 2.5.4 Reconstrução Iterativa 19 2.6 A Câmara Gama 19 2.6.1 Características da Câmara Gama 19 2.6.2 Controlo de Qualidade da câmara 20 2.7 Colimador 20 2.7.1 Resolução e Sensibilidade 21 2.7.2 Tipos de Colimadores 21 2.7.2.1 Converging Hole 21 I Capitulo I - Apresentação 2.7.2.2 Convergência e divergência 21 2.7.2.3 Pin- Hole 22 2.8 Detector de Cintilação 22 2.9 Tubos Fotomultiplicadores 22 2.10 Circuitos de Posicionamento 23 2.11 Computador para Análise de Dados 23 2.12 Visualização SPECT 23 2.12.2 Artefactos que influenciam a visualização SPECT 23 2.13 Protocolos de Aquisição 25 2.13.1 Imagem Planar 25 2.13.1.1 Aquisição de imagem planar dinâmica 26 2.13.2 Aquisição de Imagem SPECT 26 2.13.2.1 Aquisição de Imagem SPECT Dinâmica 26 2.13.3 Aquisição SPECT GATED 26 2.14 Aplicações SPECT 26 2.15 Avanços Técnicos do SPECT 28 2.15.1 Câmara de Compton 29 2.16 Conclusão 29 3. Positron Emission Tomography (PET) 29 3.1 Introdução ao PET 29 3.2 Aspectos Históricos do PET 30 3.3 Teoria e Instrumentação 30 3.4 Radionuclidos 31 3.5 Metabolismo da glucose 31 3.6 Aquisição e Processamento de Imagem em PET 32 3.7 Funções do PET 32 3.8 Aplicações e Investigação Associada ao PET 32 Capítulo III – Fundamentos Teóricos 1. Introdução à Visão por Computador 35 1.1 Introdução 35 1.2 Visão por Computador 35 1.3 Áreas Associadas à Visão por Computador 36 1.3.1 Processamento de imagem 36 1.3.2 Gráficos Computadorizados 36 1.3.3 Reconhecimento de Padrões 36 1.3.4 Inteligência Artificial 36 1.3.5 Psicofísica 37 1.4 Áreas de Aplicação 37 2. Técnicas de Aquisição de Informação Tridimensional 37 2.1 Introdução 37 2.2 Técnicas Activas de Aquisição Tridimensional 38 2.3 Técnicas Passivas de Aquisição Tridimensional 38 II Capitulo I - Apresentação 3. Processamento e Análise de Imagem 39 3.1 Thresholding 39 3.2 Filtragem de Imagem 40 3.2.1 Filtros de Suavização e Realce 40 3.2.1.1 Filtro de média 40 3.2.1.2 Filtro de mediana 41 3.2.1.3 Filtro Gaussiano 42 3.2.2 Filtros Derivativos 43 3.2.2.1 Operadores de Gradiente 43 3.2.2.2 Operadores Laplacianos 44 3.3 Detecção de Orlas de Intensidade 45 3.3.1 Detecção de Orlas de Intensidade Canny 45 3.3.2 Detecção de Orlas de Intensidade Deriche 45 3.3.3 Operações Complementares 46 3.4 Transformação de Hough 47 3.4.1 Detecção de Linhas 47 3.4.2 Detecção de Círculos 48 3.4.3 Detecção de Elipses 49 3.5 Transformações e Coordenadas Homogéneas 50 3.6 Modelos Deformáveis 50 3.6.1 Snakes 51 3.6.2 Balloons 52 Capítulo IV – Sistema Desenvolvido 1. Introdução ao Sistema Desenvolvido 53 1.1 Problemática do Projecto 53 1.2 Método 53 1.3 Conceitos Básicos 55 1.3.1 Esteroscopia Passiva 55 1.3.2 Triangulação 55 1.3.3 Óptica 56 1.3.3.1 Equação da Lente 56 1.3.3.2 Resolução da Imagem 56 1.3.3.3 Profundidade de Campo 57 2. Sistema Desenvolvido 57 2.1 Material Utilizado 57 2.1.1 Câmaras e Lentes 57 2.1.2 Suporte para Câmaras 58 2.1.3 Frame Grabber 58 2.1.4 PC 59 2.1.5 Alvo a Colocar no Paciente 59 2.1.6 Alvo para Calibração das Câmaras 59 2.1.7 Transformadores e Cabos de Ligação 59 2.1.8 Interruptor Porta Série 60 2.2 Aquisição de imagens Estereoscopicas 60 III Capitulo I - Apresentação 2.2.1 Introdução 60 2.2.2 Software Desenvolvido 60 2.2.2.1 Opções de Aquisição 60 2.2.2.2 Esquemas de Aquisição 62 2.2.2.3 Configuração de Níveis de Referência 63 2.2.2.4 Análise do Software Desenvolvido 63 2.3 Calibração das Câmaras 63 2.3.1 Introdução 63 2.3.2 Fundamentos Teóricos 64 2.3.3 Abordagem seguida no Projecto 65 2.3.3.1 Introdução 66 2.3.3.2 Modelo de Câmara 66 2.3.3.3 Calibração de uma Câmara 69 2.3.3.4 Considerações sobre o Modelo Utilizado 72 2.3.3.5 Influência de uma Determinação Incorrecta do Centro de Imagem 72 2.3.3.6 Determinação das Coordenadas dos Pontos de Calibração 73 2.3.4 Software Desenvolvido 74 2.3.4.1 Calibração de uma Câmara 74 2.3.4.2 Determinação das Coordenadas na Memória Frame 76 2.3.4.3 Formatação dos Pontos de Calibração 77 2.3.4.4 Simulador de uma Câmara 78 2.3.5 Resultados Experimentais 80 2.3.5.1 Determinação dasCoordenadas dos Pontos de Calibração 80 2.3.5.2 Simulação de Calibrações de Câmaras 83 2.3.5.3 Formatação dos Pontos de calibração 85 2.3.5.4 Calibração de Câmaras 86 2.4 Detecção de Alvos e Obtenção de Informação 3D 86 2.4.1 Introdução 86 2.4.2 Detecção de Pontos Característicos 87 2.4.2.1 Dimensionamento do Alvo 87 2.4.2.2 Detecção do Alvo 89 2.4.3 Emparelhamento de Pontos Característicos 91 2.4.4 Obtenção de Informação Tridimensional 92 2.4.4.1 Princípio da Triangulação Estereoscopica 92 2.4.4.2 Implementação Desenvolvida 93 2.4.5 Software Desenvolvido 93 2.4.5.1 Comprovação dos Algoritmos Desenvolvidos 93 2.4.5.2 Implementação do software 96 2.5 Estimação e Correcção de Movimento 100 2.5.1 Introdução 100 2.5.2 Método Utilizado 100 2.5.3 Software Desenvolvido 103 2.5.3.1 Comprovação dos algoritmos desenvolvidos 103 2.5.3.2 Implementação do Software 104 IV Capitulo I - Apresentação Capítulo V – Análise de Resultados 1. Introdução 105 2. Estimação do Ângulo de Visão das Câmaras 106 3. Testes Efectuados 107 4. Influência dos Parâmetros de Calibração 116 Capítulo VI – Conclusões e Trabalho Futuro 1. Pesquisa de Informação 119 2. Etapas do Projecto 119 3. Abordagem Seguida 120 4. Equipamento utilizado 120 5. Algoritmos desenvolvidos 121 Bibliografia_____________________________________ 1. Publicações 123 2. Internet 126 V Capitulo I - Apresentação Capítulo I 1 – Proposição Cada vez mais a Engenharia torna-se uma aliada poderosa da Medicina. Os sistemas de apoio à decisão contribuem significativamente para um melhor e mais rápido diagnóstico por parte do pessoal médico. Isto deve-se ao facto da capacidade de processamento e de armazenamento de informação dos computadores actuais ser de tal ordem elevada, que estes conseguem processar e analisar grandes quantidades de informação em espaços de tempo extremamente curtos. Se essa mesma informação fosse analisada por pessoas, além de levar um tempo de processamento e análise muito superior, levaria a que as conclusões fossem imprecisas e variáveis, devido a influências externas tais como cansaço, más condições de visualização, etc. Assim, no âmbito deste projecto foi desenvolvido um sistema de apoio à decisão médica através do processamento e análise de imagens digitais, em parceria com um exame de medicina nuclear SPECT planar. Este exame de medicina nuclear tem como objectivo estudar o funcionamento dos órgãos, como por exemplo os rins. O funcionamento do órgão é avaliado através da análise da quantidade de um determinado radionuclido que está presente nesse órgão durante um determinado período de tempo. Este tipo de exame necessita de alguns requisitos para que o diagnóstico final seja o mais preciso possível, sendo um desses requisitos, o paciente permanecer imóvel durante todo o período de tempo do exame médico. Se esse requisito não for preenchido, a capacidade de diagnóstico deteriora-se de tal forma que a solução geralmente usadas nestes casos é a repetição do exame. Assim a motivação para este trabalho é dimensionar e implementar um sistema de aquisição de imagem com duas câmaras para detectar movimentos do paciente de modo a efectuar a correcção desse movimento nas imagens médicas finais. Para a implementação torna-se assim importante obter informação tridimensional. Existem actualmente várias técnicas para tornar possível esta obtenção utilizando visão por computador. Normalmente as técnicas existentes são divididas em duas categorias: activas e passivas. O sistema a desenvolver será um sistema do tipo passivo. Neste caso irão ser utilizadas duas câmaras, ligadas a um computador (que será responsável pela aquisição das imagens digitais), com um suporte físico e alvos para detecção devidamente dimensionados. O presente trabalho enquadra-se assim numa técnica passiva de estereoscopia de obtenção de informação tridimensional. Quando se pretende obter informação tridimensional de uma cena, a partir de uma sequência de pares de imagens obtidas simultaneamente por duas câmaras, torna-se indispensável o prévio conhecimento do modelo da câmara utilizada. Assim, é necessário conhecer previamente o modo como os pontos no espaço tridimensional são transformados em pontos plano imagem da câmara, para cada par de imagens ao longo da sequência. Essa determinação do modelo da câmara – isto é, a 1 Capitulo I - Apresentação determinação da geometria interna e das características ópticas (parâmetros intrínsecos) e a orientação e posição da câmara relativamente a um certo sistema de coordenadas mundo (parâmetros extrínsecos) – é designada por calibração da câmara. Estes parâmetros são conseguidos através da análise da posição de diversos pontos ao longo de um plano de calibração propriamente dimensionado para este efeito. A calibração é geralmente realizada apenas uma vez e constitui a primeira fase da abordagem seguida neste projecto. Após a calibração da câmara, é então possível obter-se a sequência de pares de imagens, ou a sequência de imagens - dado que, a abordagem seguida teve como maior preocupação a execução de um sistema modular e flexível de modo a ser possível a sua utilização em diversas situações (não só especificamente direccionada para os exames médicos) e de diversas formas (por exemplo, ser possível a utilização de uma ou de duas câmaras). Em cada imagem surge a necessidade de determinar as entidades que irão ser consideradas, sendo estas entidades, formas geométricas colocadas num cinto. Este cinto por sua vez será colocado no paciente e será este o alvo que vai permitir a análise do movimento do paciente. Para a detecção destas entidades, decidiu-se empregar um detector de orlas de intensidade (como por exemplo, os detectores de Sobel, Roberts, Laplaciano, Laplaciano do Gaussiano, Canny, Deriche, Shen, etc.), após o que é executado um seguimento das linhas determinadas e consequente determinação da forma geométrica detectada. Desta forma para o dimensionamento do alvo a colocar no paciente procurou-se colocar o maior número de formas diferentes geométricas, de maneira a que a identificação de cada uma destas entidades fosse mais eficiente facilitando o emparelhamento destas nos pares de imagens e consequentemente a extracção de coordenadas 3D. Assim como candidatos surgiram as seguintes figuras geométricas: triângulos, quadrados, rectângulos, losângulos e cruzes. Destas figuras existem algumas que se destacam por algumas características internas, que por si só facilitam a sua detecção. Como é perceptível existem muitas hipóteses para o dimensionamento deste alvo, que serão objecto de estudo deste relatório. Estando o emparelhamento das várias figuras geométricas (em pares de imagens sucessivas) devidamente realizado, torna-se então possível extrair as coordenadas 3D dos pontos de cada figura. Determinadas as coordenadas 3D destes pares de imagens é possível estimar se houve movimento do paciente ao comparar essas coordenadas 3D com as coordenadas 3D do par de imagens inicial. Assim os movimentos detectados podem ser classificados em dois grandes grupos: rotação e translação. Finalmente, após a classificação do movimento efectuado pelo paciente é feita a correcção das imagens médicas. Esta correcção é feita através de um modelo fisiológico que associa os movimentos dos pontos detectados das figuras geométricas com o movimento efectuado pelo órgão. Este modelo inicialmente vai ser um modelo simplificado, que poderá ser refinado adquirindo-semais informação acerca da posição relativa dos rins no corpo humano, e se se verificam e quais os tipos de movimentos solidários que se efectuam com o movimento do corpo humano. Este projecto foi realizado no INEB – Instituto de Engenharia Biomédica– no laboratório de Sinal de Imagem Biomédica, situado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. 1.1 Objectivos do projecto: Este projecto tem como objectivo geral a concepção e implementação de métodos de captura de informação posicional (3D) para alinhar imagens renais de medicina nuclear obtidas em sequência temporal, com vista a potenciar a capacidade de análise diagnóstica. Para ser atingido este objectivo, foram realizadas várias etapas, etapas estas que definiram as linhas mestras do que tem que ser feito para atingir o objectivo acima mencionado. Estas etapas foram: 1. Pesquisa de informação relevante para o projecto, em particular no que respeita ao processo de obtenção de imagens de radioisótopos e aos métodos passivos de aquisição de informação tridimensional. 2. Implementação do sistema de aquisição 3D, incluindo concepção de alvos e/ ou marcas corporais. 3. Realização do alinhamento geométrico da sequência de imagens, a partir da estimação da posição e pose da zona renal. 4. Montagem e ensaios práticos em exames clínicos reais e, se necessário, com recurso a fantomas. 2 Capitulo I - Apresentação 1.2 Estrutura do relatório: Pretendeu-se estruturar este relatório em secções que se apresentem de forma completamente autónoma e independente, de maneira a permitir uma fácil leitura e compreensão deste relatório. Em seguida, de forma resumida, são apresentados os restantes capítulos e anexos deste relatório. ��Capítulo II – Medicina Nuclear e seus Protocolos de Aquisição Neste capítulo é apresentada a recolha de informação realizada sobre a área de medicina nuclear e dos seus protocolos de aquisição, SPECT e PET. É feita uma pequena introdução, onde é referida como e quais as condições em que se fez esta recolha de informação. O objectivo deste capítulo é dar a conhecer esta área específica da medicina, a sua missão, suas condicionantes, os princípios físicos e de funcionamento dos protocolos, seus constituintes e suas problemáticas e também aquilo que se está a fazer para que este tipo de análise chegue cada vez mais a um maior número de pessoas sem que isso implique um custo económico (para as pessoas e para as instituições que detêm os equipamentos) incomportável. ��Capítulo III – Fundamentos Teóricos Neste capítulo é abordado o tema da visão por computador, importância e riqueza de informação que este tipo de visão nos faculta, informação esta que permite a detecção e o seguimento de alvos. De uma forma geral existem várias áreas associadas à visão por computador tal como o processamento e análise de imagem, reconhecimento de padrões, etc. Serão também apresentadas as áreas de aplicação da visão por computador. Como área associada da visão por computador é apresentada o processamento e análise de imagem. Nesta secção são apresentados as ferramentas de análise e extracção de informação das imagens. São assim apresentados vários tipos de filtros e seus critérios de desempenho, transformações para detecção de formas geométricas, coordenadas homogéneas e uma introdução aos modelos deformáveis. O objectivo deste capítulo é fornecer as bases do processamento e análise de imagem, bases estas que constituem os pilares deste projecto. ��Capítulo IV – Sistema Desenvolvido Neste capítulo é apresentada uma solução global para a problemática do projecto. É feita uma descrição detalhada do material usado e suas características. Em seguida são apresentados os diversos módulos que constituem a solução apresentada. Pretendeu-se que estes módulos fossem independentes entre si, de modo a poderem, por si só, ser acompanhadas e utilizadas independentemente em outros domínios da visão por computador. Os módulos a apresentar são os de: aquisição de imagem, calibração de câmaras, detecção e obtenção de informação 3D e correcção das imagens de medicina nuclear. Em cada um dos módulos é feita a apresentação do método utilizado, abordagem seguida no projecto e é demonstrado o software desenvolvido assim como alguns resultados experimentais obtidos. ��Capítulo V – Análise de resultados e conclusões. Após a apresentação da abordagem global utilizada, neste capítulo são apresentados resultados desse processo. São assim apresentados resultados experimentais obtidos para a calibração das câmaras, aquisição simultânea, determinação das entidades a considerar em cada imagem da sequência e para a obtenção de informação tridimensional, assim como para a estimação e correcção do movimento. Na apresentação destes resultados serão feitas análises e conclusões dos resultados obtidos. Será também apresentada uma análise crítica, onde será referido aquilo que foi feito e o que deveria ter sido feito, o que faltou (ou não) fazer e condições a nível de equipamento e acessibilidades. Serão também apresentadas conclusões globais referentes a todo o projecto em si. 3 Capitulo I - Apresentação ��Capítulo VI – Trabalho Futuro Neste capítulo serão apresentadas métodos para o desenvolvimento da solução apresentada assim como alternativas à solução apresentada. Como anexos ao relatório, serão apresentados os seguintes: ��Anexo A – Manual do Utilizador ��Anexo B - Características da câmara ��Anexo C - Características do frame grabber ��Anexo D - Transformações geométricas em 2D e 3D ��Anexo E - Exemplo de imagens obtidas por exame SPECT planar ��Anexo F - Radionuclidos ��Anexo F - Código implementado 2 – Etapas do projecto Nesta secção serão apresentadas, em ordem cronológica, todas as etapas que simbolizam o progresso do projecto: 12/03/2001: Início do Projecto 15/03/2001: Publicação do site PD-77 Alinhamento de Imagens de Medicina Nuclear no seguinte URL: http://www.fe.up.pt/~nuclear, para satisfação parcial dos requisitos da disciplina de Projecto Seminário Trabalho Fim de Curso. 22/03/2001: Conclusão da primeira fase do projecto: pesquisa de informação acerca dos processos de obtenção de imagens de radioisótopos e aos métodos passivos de aquisição de informação tridimensional. 31/03/2001: Compra e montagem do material necessário à elaboração do projecto. Início do desenvolvimento, em paralelo, das rotinas de calibração e de aquisição 6/04/2001: Implementação da rotina de simulação de calibração. 10/04/2001: Implementação da rotina de determinação de parâmetros extrínsecos e intrínsecos do modelo das câmaras. 16/04/2001: Implementação das rotinas de aquisição de imagens ou sequências de imagens de uma ou duas câmaras. 20/04/2001: Implementação da rotina de detecção dos pontos de calibração. 28/04/2001: Dimensionamento em paralelo dos alvos de calibração e de aquisição de coordenadas 3D. 5/05/2001: Elaboração do relatório de progresso para satisfação parcial dos requisitos das regras do Projecto Seminário Trabalho Fim de Curso. 10/05/2001: Correcção e optimização das rotinas de calibração e aquisição. 12/05/2001: Desenvolvimento das rotinas de detecção de pontos característicos em imagens. 15/05/2001: Concentração numa só aplicação de todos os módulos desenvolvidos até ao momento. 4 Capitulo I - Apresentação 20/05/2001: Implementação e conclusão da rotina de detecção de pontos característicos numa imagem. 27/05/2001: Implementação da rotina de emparelhamento de pontos característicos em pares de imagens. 5/06/2001: Implementação da rotina de detecção e emparelhamento de pontos característicos em pares de imagensao longo de uma sequência de imagens. 6/06/2001: Criação do laço institucional entre o INEB e o Serviço de Medicina Nuclear do Hospital S. João do Porto, com o objectivo de obtermos mais informações acerca dos exames a que no propusemos a corrigir e ter um contacto directo com o ambiente clínico. 10/06/2001: Implementação da rotina que permite fazer a actualização dos dados de calibração a partir de ficheiro em disco. 15/06/2001: Dimensionamento do suporte para as câmaras e desenvolvimento das rotinas para o cálculo de coordenadas 3D. 20/06/2001: Implementação da rotina para cálculo de coordenadas 3D 22/06/2001: Ida ao serviço de radiologia do Hospital Universitário de Coimbra com o intuito de obter exames do tipo SPECT planar em formato de imagem .bmp e .img 28/06/2001: Implementação da rotina de cálculo de coordenadas 3D numa sequência de pares de imagem. Conclusão da 2ª fase do projecto. 2/07/2001: Desenvolvimento das rotinas de estimação e correcção de movimento. Implementação física do sistema de duas câmaras através do suporte. 10/07/2001: Inicio da elaboração do relatório. 15/07/2001: Finalização das rotinas de estimação e correcção de movimento. Conclusão da 3ª fase. 16/07/2001: Elaboração do poster de apresentação do projecto. 17/07/2001: Obtenção de dados para análise e conclusões acerca da validade do projecto. Realização de testes laboratoriais. 18/07/2001: Conclusão da 4ª fase do projecto. 19/07/2001: Finalização do relatório final do projecto. De referir também que houve sempre uma actualização periódica da página do projecto, com novas imagens, software, vídeos, informação acerca de eventos, etc.. 5 Capitulo I - Apresentação 6 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET Capítulo II Introdução: Neste segundo capítulo é apresentada a recolha de informação efectuada sobre os temas de medicina nuclear e seus protocolos de aquisição: Single Photon Emission Computed Tomography (SPECT) e Positron Emission Tomography (PET). A recolha de informação foi dividida em duas fases: 1) a recolha propriamente dita da informação 2) organização da informação. A recolha propriamente dita da informação teve início durante o 1º semestre do 5º ano lectivo de 2000/01, semestre esse que foi realizado por ambos os membros do grupo em Karlsruhe – Alemanha, prolongando-se pelo início do segundo semestre desse ano lectivo. Nesse primeiro semestre lectivo foi nos dada a oportunidade de realizar um projecto de investigação no IBT (Institut fur Biomedzisniche Technik), sobre o tema da segmentação do tórax da Visible Female, com base no dataset do Visible Human Project da National Library of Medicine. Desta maneira, aproveitando do facto de estarmos a trabalhar na mesma área do nosso projecto final de curso e das condições óptimas de acesso à informação, tentamos retirar o máximo de informação possível acerca da medicina nuclear e seus protocolos de aquisição. De salientar toda a disponibilidade das pessoas que trabalham nesse Instituto em nos tentar esclarecer todas as nossas dúvidas que foram surgindo durante a recolha de dados, e de nos alertar para as dificuldades com nos iríamos defrontar ao longo deste projecto, não só nos aspectos técnicos relativos ao sistema que nos proponhamos a desenvolver, mas também para as dificuldades inerentes ao trabalho nesta área (tais como, a falta de informação por parte dos fabricantes das máquinas de aquisição nuclear). Da fase de recolha de informação também faz parte uma visita à MEDICA 2000 em Dusseldorf (maior exposição mundial sobre equipamentos de aquisição, tratamento e diagnóstico médico). A segunda fase já foi realizada no segundo semestre do referido ano lectivo e consistiu na compilação da informação adquirida, retirando para este relatório apenas a informação que consideramos essencial à percepção daquilo que se faz nesta área e suas linhas mestras para o presente / futuro. De referir ainda que a informação que foi adquirida tanto no primeiro como no segundo semestre não se restringiu apenas à medicina nuclear e seus protocolos, mas também foi adquirida informação que irá ser exposta nos capítulos seguintes, informação essa que forma os pilares teóricos do sistema que nos propusemos a desenvolver. Assim neste capítulo irá ser feita uma breve descrição do que consiste a medicina nuclear como uma disciplina específica da medicina geral, seus aspectos históricos, suas preocupações, aplicações e futuro. Em seguida é feita uma descrição dos protocolos de aquisição existentes na medicina nuclear: SPECT e PET, sendo dado mais relevo ao SPECT, dado que é esse o protocolo para o qual foi 7 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET desenvolvido o sistema deste projecto. Desta maneira, é feita um pequeno sumário do SPECT, seus aspectos históricos, teoria e instrumentação inerentes ao SPECT, seus constituintes, problemas e artefactos existentes nos diversos exames, avanços tecnológicos e são feitas algumas conclusões. Da mesma maneira é feita uma pequena abordagem ao PET onde os itens expostos são semelhantes aos expostos no SPECT embora sem o mesmo nível de detalhe. É assim nosso objectivo que o leitor no final deste capítulo seja capaz de entender esta área específica da medicina, a sua missão, suas condicionantes, os princípios físicos e de funcionamento dos protocolos, seus constituintes e suas problemáticas e também aquilo que se está a fazer para que este tipo de análise chegue cada vez mais a um maior número de pessoas sem que isso implique um custo económico (para os utentes e para as instituições que detêm os equipamentos) incomportável. 1 – Medicina Nuclear 1.1 - Introdução à Medicina Nuclear Medicina Nuclear é uma especialidade médica que usa técnicas seguras, indolores e com custo eficaz tanto para processamento e análise de imagem de todo o corpo humano, assim como para o tratamento de doenças. O processamento e análise de imagem em Medicina Nuclear, é único no facto de que documenta e estrutura funções dos orgãos, em contraste com diagnósticos feitos em radiologia, diagnósticos estes que são baseados na anatomia dos orgãos. É uma maneira de adquirir informação médica, que doutra forma seria provavelmente impossível, ou então, requerendo intervenções cirúrgicas ou testes diagnósticos mais caros. O campo da medicina nuclear é uma mistura de muitas áreas da matemática e ciência, tais como a física, química, matemática, tecnologia de computadores e medicina. Como parte de um tratamento integral de um paciente, a medicina nuclear é usada no diagnóstico, gestão, tratamento e prevenção de doenças graves. Os procedimentos utilizados na análise de imagem em medicina nuclear frequentemente identificam anormalidades numa fase precoce no progresso de uma doença, muito antes do que os outros testes consigam detectá-los. Esta detecção precoce permite o tratamento da doença numa fase em que o prognóstico tem mais probabilidades de ter sucesso. Medicina nuclear usa uma pequena quantidade de material radioactivo ou rádiofarmaco para o diagnóstico e tratamento de doenças. Rádiofarmacos são substâncias que são atraídas para orgãos, ossos ou tecidos específicos. Os rádiofarmacos usados em medicina nuclear emitem raios gama que podem ser detectados externamente por tipos especiais de câmara: gama ou PET câmaras. Estas câmaras funcionam em conjunção com computadores que são usados para formar imagens que providenciam dados e informação acerca da área do corpo que está sujeita a exame. O físico pode então visualizar a anatomia do paciente a partir do resultado da câmara. O rádioisótopo tem que ter uma meia - duração de vida curta de modo a que não permaneça no corpo, por um período de tempo muitoprolongado. Meio-tempo de vida é o tempo necessário para que metade do material radioactivo presente deixe de emitir. Assim a medicina nuclear é essencialmente a criação mapas anatómicos de orgãos. O material radioactivo é administrado oralmente, intra venosamente ou inter cavitalmente. O material radioactivo é absorvido pela região doente e pode então destruir as células ou promover a cura dessa região. A quantidade de radiação de um procedimento de medicina nuclear e comparável com aquele que é recebido durante um diagnóstico raio- X. As imagens de medicina nuclear têm mais definição e são capazes de mostrar mais partes da anatomia do que as máquinas de raio-x usuais. Físicos licenciados são as únicas pessoas autorizadas a praticar medicina nuclear. De modo a alguém estar certificado para tal, deverá ter um curso médico e pelo menos 1 ou mais anos de. Os físicos tem assim 2 anos de treino em medicina nuclear para no final fazer um exame de certificação. Uma vez certificado o físico será então assistido por outros físicos e farmacologistas especialmente treinados. Hoje em dia, medicina nuclear oferece procedimentos que são de grande ajuda para uma vasta área de especialidades médicas, desde pediatria ate cardiologia passando pela psiquiatria. Existem quase cem tipos de processamento e análise de imagem em medicina nuclear disponíveis e não existe nenhum sistema do corpo humano que não seja adquirido por medicina nuclear. Hipertiroidismo, cancro da tiróide, desequilíbrios sanguíneos, e alívio da dor de certos tipos de cancro de ossos são tratados através da medicina nuclear. 1.2 - História da Medicina Nuclear 8 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET De acordo com Hamilton a descoberta da radioactividade artificial foi um ponto fulcral na medicina nuclear. A história da medicina nuclear pode ser seguida ate aos anos 1800. O primeiro marco surgiu quando Becquerel descobriu actividade radioactiva natural em 1896. Isto foi seguido pela descoberta do Rádio por Marie Cury em 1898. Um dos primeiros tipos de medicina nuclear foi o raio-x desenvolvido em 1890. Material radioactivo foi usado para constituir a imagem dos ossos sem técnicas invasoras ao corpo. O uso de radionuclidos foi outro desenvolvimento inicial da medicina nuclear. Os radioisótopos são pequenas quantidades de material radioactivo colocadas num corpo, sendo inicialmente usados com finalidade terapêutica. Mais tarde viriam a constituir-se como instrumentos para diagnósticos. A primeira utilização de radioisótopos num humano com finalidade de diagnóstico, foi o Pa (228) para estudar o tempo de circulação do sangue no corpo humano ( Colombetti 1979). A radioactividade artificial foi descoberta em 1934. O primeiro uso clínico foi em 1937 quando um material radioactivo foi usado, para tratar um paciente com leucemia na Universidade de Berkeley na Califórnia. O acontecimento que é considerado como sendo o marco da medicina nuclear moderna foi o uso de iodo radioactivo para tratar doenças da tiróide. O iodo radioactivo foi injectado no paciente e seguiu o trajecto normal que o iodo seguiria. Foi absorvido pela tiróide onde era usado tanto para fins terapêuticos como para obtenção de imagens. Durante a segunda guerra mundial, foram recrutados biologistas para o campo do radar. Este trabalho preparou-os para o desenvolvimento da electrónica na medicina nos anos pós guerra. No entanto surgiram dois problemas. A geração seguinte de biologistas não tiveram o benefício desses conhecimentos e a tecnologia avançou tão rapidamente que depressa ultrapassou até os conhecimentos da geração da guerra. Obviamente uma ponte sobre a lacuna entre conhecimento técnico e biologia era necessária. Assim médicos e biologistas com interesse e compreensão da engenharia para além de engenheiros electrotécnicos com interesse na biologia, transformaram-se assim nos primeiros bioengenheiros. Aqueles que se interessavam principalmente com medicina tornaram-se nos primeiros engenheiros biomédicos. 2.1 - Medicina Nuclear no passado Em 1946 foi relatado que após um tratamento com iodo radioactivo o crescimento do cancro no paciente tinha completamente desaparecido. Na década de 1950 o uso da medicina nuclear alargou-se e na década de 60 tornou-se numa especialidade de estudos médicos. Nos anos 70 era utilizada para visualizar o baço, fígado, cérebro, e sistema gastrointestinal. Os rádiofarmacos começaram então a ser usados para o diagnóstico de doenças do coração nos anos 80. Avanços tecnológicos tinham que ser feitos de modo a acompanhar os avanços na área médica. Câmaras tinham que ser desenvolvidas de modo a poder detectar material radioactivo e fazer imagens da anatomia que sustinha o material radioactivo. O primeiro exame rectilíneo foi o engenho de Cassen. Um grande desenvolvimento nesta área deveu-se ao aparecimento da câmara gama. Esta foi a primeira câmara estacionária que conseguiu ver um órgão por inteiro. Esta evolução fez com que nos anos mais recentes protocolos de aquisição tais como PET, SPECT e MRI fossem desenvolvidos. Tanto o PET como o SPECT fornece uma visão tridimensional da região de interesse. Hoje em dia existem mais de 100 procedimentos de medicina nuclear e a medicina nuclear pode ser aplicada a qualquer órgão do corpo humano. Se os avanços na medicina nuclear continuarem a avançar ao ratio actual a possibilidade de novos desenvolvimentos e interminável. 1.3 - Factos acerca da Medicina Nuclear ��Nos EUA 10 a 12 milhões de exames de medicina nuclear são efectuados anualmente ��Os procedimentos da medicina nuclear são dos procedimentos mais seguros, mais eficientes do ponto de vista de custos e únicos por si só. ��Informação acerca da função e estrutura de qualquer órgão pode ser obtido pela medicina nuclear. 9 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET ��A quantidade de radiação recebida num procedimento de analise nuclear pode ser equiparada a quantidade de radiação recebida num exame de raio-x. ��Existem cerca de 2,700 físicos de medicina nuclear a tempo inteiro e 14000 técnicos em toda a nação (1997). ��Existem mais de 100 exames disponíveis em medicina nuclear. ��Os exames de medicina nuclear estão catalogados como sendo dos mais seguros teste / diagnóstico existentes. 1.4 - Computadores na Medicina Nuclear 1.4.1 - Introdução Medicina nuclear conta com os computadores para adquirir, processar, transferir informação e imagens. A história dos computadores na medicina nuclear e radiologia é mesmo assim bastante curta. Nos anos 60 e princípios da década de 1970, CT (Tomografia Computorizada) e subtracção angiográfica digital foram introduzidos na prática clínica pela primeira vez. A subtracção angiográfica digital usa computadores para digitalmente subtrair de uma angiografia padrão os efeitos de tecidos moles e ossos circundantes, levando assim a uma melhoria das imagens disponíveis para diagnóstico. Tomografia Computorizada (CT) usa os computadores para reconstruir digitalmente informação seccionada usando vários tipos de algoritmos de reconstrução de imagem tais como a projecção inversa filtrada. O pior elemento numa unidade CT era sem dúvida nessa altura o computador, mas sem ele não era possível executar um CT. SPECT e MRI foram desenvolvidas tecnologias alguns anos após o CT e também necessitam de um computador para ser possível a execução de um exame. No caso do MRI o computador tem um papel de maior importância, dado que controla o movimento da torre e todo o equipamento mecânico relacionado. No caso do SPECT, como no CT, a reconstrução da imagem tem que ser feita por computador. O uso de computadores em medicina nuclear tem também as suas raízes na física das partículas de grande energia e também na física nuclear. Estas duas disciplinas usamanálises estatísticas de grandes números de contagem de fotões, colectados e processados por um computador. É primeiramente através dessa análise e processamento que descobertas experimentais em medicina nuclear são feitas. O objectivo da medicina nuclear não é a descoberta de novas leis da física ou de partículas, mas sim a de detecção e diagnóstico de uma doença, mas como todos os outros métodos, não se baseia na detecção de uma grande número de fotões para atingir uma conclusão acerca do objecto em estudo. O problema de arquivar e transmitir essa larga quantidade de informação começou a ser resolvida na década de 1970. Tentativas anteriores de transmitir imagens médicas de um hospital para outro ou de uma clínica para outra para a visualização e análise foram encorajadas, mas a perda de qualidade de sinal, e em particular resolução, degrada severamente a qualidade de imagem final. Então em 1981 um projecto na Universidade de Arkansas usou a Ethernet como meio de transmitir com sucesso imagens digitais de CT e de Ultra-sons. Desde esse tempo muita pesquisa tem vindo a ser dedicada para o desenvolvimento do arquivo de imagens e sistemas de computadores ou PACS (Picture Archiving and Communications Systems) com a esperança de criar um departamento de radiologia digital totalmente controlado por computador. 1.4.2 - Imagens Digitais De maneira a uma melhor compreensão dos requisitos na aquisição e transferência de imagem em radiologia e em particular medicina nuclear, alguma terminologia básica é necessária. Para início uma imagem digital é essencialmente uma disposição ou colecção de valores inteiros que representam o espectro de graus de cinzento ou cor que aparecem numa imagem. Num computador, uma imagem digital pode ser uma matriz de duas ou três dimensões constituída por valores inteiros que fazem um número variável de bits. Dependendo do formato e do sistema computacional usado, uma imagem representada por uma matriz de números num computador terá ligada a si informação na forma de um cabeçalho, informação esta que fornece detalhes sobre a imagem tais como: dia do exame, nome do paciente e número de estudo. Cada valor inteiro pertencente a matriz é chamado de pixel. A quantidade de preto, branco ou cor em cada pixel da matriz é representada pelo valor inteiro nesse elemento de matriz. A qualidade de uma imagem digital é afectada pelo tamanho da matriz usada para representar a imagem, o número de bits para representar cada pixel e o nível de ruído presente na imagem. 10 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET Se a matriz da imagem é composta por apenas por poucos pixels e de grande dimensão, a resolução resultante será baixa. Se a matriz da imagem é composta por muitos pixels de reduzida dimensão, e a falta de nitidez subjacente à imagem não é muito severa, a resolução será boa. Se o tamanho do pixel é muito inferior a falta de nitidez da imagem subjacente, a imagem irá aparecer com algo parecido a borrões. O número de bits usado para representar cada pixel deverá idealmente depender da quantidade de ruído presente na imagem. Quanto maior for o nível de ruído na imagem inicial, menor será o número de bits necessários para definir a informação que esta contém. Assim as imagens digitais podem ser degradadas de duas maneiras: 1. poucos pixels ou 2. poucos bits usados por cada pixel. O uso de muitos pixels ou de muitos bits por pixel para uma dada aquisição de imagem exige um processamento de imagem muito mais elevado, além de maior capacidade de armazenamento e manipulação, sem que isso implique necessariamente uma melhoria na qualidade final da imagem. Isto significa um aumento do custo sem um correspondente aumento na capacidade de diagnóstico (no caso de imagens médicas). A maneira na qual uma imagem de medicina nuclear é adquirida e o protocolo de aquisição de imagem associado devem ser seleccionados cuidadosamente de maneira a maximizar a qualidade de imagem, conforto do paciente e maximizar o rendimento do hospital ou clínica. 1.4.3 - Aquisição de Imagem Imagens de medicina nuclear podem ser adquiridas num formato digital usando, por exemplo, um scanner SPECT. A distribuição do radionucleido no corpo do paciente corresponde à imagem analógica. Uma imagem analógica é aquela que tem uma distribuição contínua da densidade representando a distribuição contínua de radionuclido acumulada num órgão particular. Um melhor exemplo de uma imagem digital será uma fotografia típica onde a distribuição contínua da densidade (preto, branco ou cor) representa na realidade a continuidade da densidade da luz. A contagem dos raios gama provenientes do corpo do paciente são digitalizados e guardados no computador na forma de uma matriz de imagem. As matrizes típicas usadas em aquisição de imagem SPECT são: 256x256, 128x128, 128x64, 64x64. A terceira dimensão corresponde ao numero de camadas transaxiais, frontais ou coronais usadas para definir o órgão que esta a ser pesquisado. Um exame típico SPECT tem um limite de armazenamento de 16 bits por pixel. Quando um exame SPECT tiver sido completamente executado, a informação sem tratamento contida na matriz de imagem é denominada de informação projectada e está pronta a ser reconstruída. O processo de reconstrução coloca a informação a sua forma final digital pronta a ser transmitida para outro computador ou sistema para posterior visualização e análise física. 1.4.4 - Conclusão O tratamento de imagens médicas moderno não seria possível sem os avanços que ocorreram no software e hardware nos últimos 30 anos. A radiologia automatizada oferece potencialidades de grande poupança de custos e reduzido trabalho humano. No entanto devemos ter em mente que os computadores não são perfeitos e até instrumentos como digitalizadoras (de extrema importância para a terapia de radiação) podem ter problemas. Sem os feitos tecnológicos que se iniciaram a 100 anos no dia 8 de novembro de 1895 e continuando hoje em dia com a evolução do hardware, software e equipamento, a radiologia como uma disciplina médica não existiria. 1.5 - Segurança e Controlo da Qualidade Os procedimentos de medicina nuclear são actualmente considerados dos mais seguros para diagnósticos por imagem disponíveis aos pacientes actualmente. É administrado aos pacientes apenas uma pequena quantidade de rádio fármaco. O procedimento de medicina nuclear expõe o paciente a menos radiação que um raio-x. A maioria das pessoas estão expostas a quantidades de radiação muito mais superiores diariamente do que pensam. Radiação do solo, rochas espaço e dos átomos de carbono e potássio nos seus próprios organismos perfazem 85 % da exposição anual de uma pessoa a radiações. Televisões a cores e detectores de fumo são alguns dos equipamentos do dia a dia que nos expõe a radiação. O resto é contribuído pelos materiais radioactivos e raio-x usados na medicina. Por isso em média os procedimentos da medicina nuclear contribuem como que com alguns meses de vida diária em termos de radiação. Os físicos são especialmente treinados de modo a administrar as dosagens apropriadas de 11 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET rádio fármacos para expor os pacientes apenas ao estritamente necessário protegendo-os de radiação desnecessária. 1.6 - Futuro A área de medicina nuclear tornou-se muito diversa, sendo que se vai tornar numa das áreas de maior focus na medicina. Novos procedimentos e aplicações estão a ser desenvolvidas todos os dias por todo o mundo. Uma das áreas de maior avanço é a área dos rádio fármacos. Actualmente o techtenium é o rádiofarmaco mais usado de momento para imagem na medicina nuclear. Ate à poucos anos tinha havido pouco esforço para tentar arranjar novos rádiofarmacos. Os cientistas aperceberam-se agora que certos procedimentos obteriamresultados mais satisfatórios se usassem rádiofarmacos com meio-tempo de vida mais longo, como por exemplo imagens de tumores. Pensa-se que se um paciente com cancro for injectado com um rádioisótopo com período de vida mais longo a imagem do tumor será visualizada mais tempo. Isto permitiria obter uma imagem mais precisa do tumor. Outra área de desenvolvimento dos rádiofarmacos e a área das drogas orfãs. São drogas que são desenvolvidas para o tratamento de doenças raras. É estimado que 1 em cada 12 pessoas tem uma doença ou condição rara. estas condições raras não recebem tanta atenção por parte das empresas de investigação uma vez que estas se preocupam mais com as doenças dos pacientes da maior parte da população e ignoram os pacientes raros ou pequenos. A medicina cardiovascular é também uma área de grande crescimento mas a ênfase nesta área vai para a instrumentação. Novos sistemas de câmaras estão a ser desenvolvidas de modo a obter imagens do coração muito mais pormenorizadas e precisas. As novas câmaras têm várias cabeças ao contrário das antigas que só tinham 2 cabeças. Estas câmaras são usadas nos sistemas SPECT. Câmaras digitais estão também a ser desenvolvidas. Com as câmaras antigas o sinal captado a partir da emissão de radiação por parte do radio farmacêutico era um sinal analógico. O sinal era então convertido para um sinal digital por um processador na câmara. O uso de sinais analógicos produz alguns erros nas leituras que poderiam ser evitadas se usasse um sistema apenas digital. A primeira câmara totalmente digital foi produzida pela Summit Nuclear. Neste sistema há um conversor analógico para digital dentro do circuito de modo que o sinal de saída do circuito é digital. Estas câmaras permitem maior resolução espacial, resolução de energia e melhores capacidades de processamento. 2.2 - Equipamento SPECT actual (Hospital Universitário de Coimbra) Com os avanços na medicina nuclear irá haver uma revolução no campo da medicina. Passar-se- á de uma visão de ver a doença como o ataque de um agente externo ao corpo para uma visão de que a doença e uma disfunção de produtos genético tais como substratos e enzimas. Os procedimentos médicos actuais consistem na medida do conteúdo de fluídos corporais ou biópsias de modo a determinar o tipo de doença. Com os avanços na medicina nuclear estes procedimentos irão ser substituídos por procedimentos que medem a química no interior do organismo. Os radioisótopos serão utilizados para ver exactamente a constituição química de todo o corpo. Será dado mais importância ao lado molecular da medicina. A medicina nuclear permite estudar a biologia humana e a doença a um nível genético. O uso de rádiofarmacos para determinar o excesso ou falta de actividade química em determinadas regiões do corpo. Assim os médicos poderão afirmar o que está errado a nível genético no paciente. Ao ser capaz de apontar especificamente a disfunção genética ou desordem o médico poderá prescrever medicamentos que irão contrabalançar o problema e a fonte do problema. A nova perspectiva genética irá também criar uma nova necessidade para drogas que possam interagir com os genes. O campo da medicina nuclear espera abrir uma nova era no tratamento de doenças neuronais e de comportamento pelo estabelecimento da relação das doenças com desequilíbrios químicos. De modo a estes desenvolvimentos ocorrerem tem que haver desenvolvimento na área de detecção de radiação, processamento de dados e sistemas de visualização. 12 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET Um novo método que está a ser desenvolvido é a detecção dos níveis de oxigénio em tecidos. Se uma área tem um abastecimento deficiente de oxigénio e sinal de que poderá haver problemas a nível vascular ou de tumores. Os rádiofarmacos que estão a ser usados são o iodo - 123 e o techtenium. Estes radioisótopos agregam-se a áreas de níveis de oxigénio baixos e podem então ser scannerizadas mostrando os tecidos que se encontram privados de oxigénio. Este tipo de obtenção de imagem é denominado de hypoxia. A hypoxia indica-nos se encontram células viáveis numa determinada área. Isto pode ser útil na determinação de que parte do cérebro foi afectada em pacientes que tenham sofrido um enfarte ou quanto do tecido muscular do coração foi afectado após um ataque cardíaco. De acordo com testes feitos em animais a hypoxia será extremamente útil no diagnostico e tratamento do coração, cérebro e extremidades. Também se concluiu que os rádiofarmacos tal como strontium-89 podem ser utilizadas em terapia radionuclida. É administrado a pacientes que tenham dores de ossos intratáveis. Os radionuclidos diminuem a dor sentida pelo paciente reduzindo ao mesmo tempo a quantidade de narcóticos que este teria que tomar. Em 20% dos pacientes e mesmo eliminada a necessidade de uso de medicação. Quando a dor reaparece após o tratamento geralmente não tem a mesma expressão que anteriormente. Estudos de sono estão também, a ser efectuados na área de medicina nuclear. Os medicamentos actualmente no mercado para perturbações a esse nível induzem sono mas já se provou que este sono é menos reabilitativo que o sono biológico normal. Um estudo feito em gatos descobriu que existe uma molécula no corpo responsável por induzir sono. Pensa-se que esta molécula viajara pelo fluido da espinal medula passando pela barreira sangue cérebro agregando- se a receptores no cérebro. Pesquisadores de medicina nuclear estão a tentar etiquetar a molécula com carbono-11 ou nitrogenio-13. Uma vez a molécula etiquetada esta pode então ser scannerizada no cérebro para determinar quais os receptores no cérebro responsáveis por induzir sono. Esta investigação espera produzir uma droga que interaja com os receptores do sono no cérebro produzindo um sono verdadeiramente reabilitador tal como o sono fisiológico normal. 2.3 - Resultado de exame SPECT Com todos os avanços na medicina nuclear, é possível perder de vista o mais importante aspecto que é a qualidade de cuidados a preços acessíveis para todos os pacientes. Alguns físicos debatem actualmente se todos os detalhes de procedimento dos exames e obtenção de imagem são necessários. Olhando para a maioria da população, a maioria dos diagnósticos pode ser feita correctamente usando um mínimo de procedimentos. Por exemplo alguns médicos defendem exames aos ossos para pessoas que tenham dores nas costas. Um scan de ossos dá uma imagem muito detalhada mas é também um procedimento muito caro. Um procedimento alternativo é o MRI, porque é mais barato e fornece ainda assim uma imagem suficientemente boa para diagnosticar problemas. Um estudo foi recentemente efectuado em pacientes com problemas coronários. Estes pacientes tinham passado por procedimentos de obtenção de imagens extensos de modo a determinar se a operação era necessária. Foi provado que muitos destes pacientes não necessitavam de estudos de imagem. A simples monitorização dos sinais vitais expressão sanguínea seriam suficientes. A medicina nuclear continuará a criar novas técnicas e novos procedimentos, mas o paciente e não a tecnologia terão que ser a principal preocupação. 2 – SPECT (Single Photon Emission Computed Tomography) 2.1 - Introdução ao Single Photon Emission Computed Tomography 13 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET Emissão (3-D) tridimensional da tomografia computorizada (ECT) fornece um olhar qualitativo e quantitativo na distribuição de um volume de radioisótopo após a sua injecção no corpo humano. O ECT junto com (a 2-D) imagem planar bidimensional são as técnicas de aquisição de imagem principais, usadas em todos os departamentos de medicina nuclear. ECT tridimensional - um processo que envolve a rotação de até três câmaras foto - sensíveis (câmaras gama) emtorno de um paciente - resulta numa imagem 3-D da distribuição de um rádioisótopo injectado que é apontado geralmente para um órgão em particular, como por exemplo o coração. A imagem 3-D obtida assim é o resultado da reconstrução de uma série de projecções 2 D, que de seguida " empilham-se " de modo a criar a terceira dimensão. SPECT corresponde a Single Photon Emission Computed Tomography. Em primeiro lugar SPECT é uma forma de Tomografia Computorizada. Como o nome sugere, a emissão de raios gama constituem a fonte de informação, em vez de transmissões de raios - X tal como é utilizado em Tomografia Computorizada. Ao contrário do raio X Computed Tomography (CT) ou Magnetic Resonance Imaging (MRI) o Single Photon Emission Computed Tomography (SPECT) permite-nos a aquisição de informação funcional sobre o orgão de um paciente ou o sistema específico do corpo. A radiação interna é administrada por meio de um fármaco que é etiquetado como um isótopo radioactivo. Este rádiofarmaco, ou tracer, é injectado, ingerido, ou inalado. Estes rádiofarmacos podem ser por exemplo o: Technetium-99m e Thallium-201. Um rádiofarmaco é uma proteína ou uma molécula orgânica que tem ligado a si um rádionuclido. As proteínas e moléculas orgânicas são seleccionadas com base nas suas propriedades de absorção dentro do corpo humano. Por exemplo alguns rádiofarmacos são colectados nos músculos do coração e são utilizados para aquisição de imagem SPECT cardíaca. Outros são dimensionados para os pulmões e são usados para exames SPECT de perfusão. Muitos mais são utilizados de maneira a possibilitar a execução de exames SPECT noutras áreas do corpo. Depois o isótopo radioactivo deteriora-se, tendo por resultado a emissão de raios gama. Estes raios gama dão-nos um retracto de o que está a acontecer dentro do corpo do paciente. Assim, num modo geral, um órgão saudável irá absorver uma determinada quantidade de rádiofarmaco, que irá aparecer como uma área brilhante numa imagem SPECT. Uma absorção anormal de rádiofarmaco irá ter como consequência um surgimento de uma área mais clara ou mais escura do que o brilho padrão na imagem SPECT, levando à suspeita da presença de um estado de doença. Estes raios gama permitem-nos uma visão interna do corpo humano usando a ferramenta mais essencial na medicina nuclear, a câmara gama. A câmara gama pode ser usada no processamento latente planar de modo a adquirir imagens 2-D, ou em processamento latente SPECT para adquirir imagens 3- dimensionais. A câmara gama adquire os raios gama que são emitidos de dentro do paciente, permitindo- nos assim a reconstrução de uma imagem de onde os raios gama são emitidos. A partir desta informação podemos determinar como um orgão ou um sistema particular está a funcionar. De salientar que existem vários centros SPECT em Portugal com particular incidência nos grandes centros urbanos (Lisboa e Porto). Mas como cada vez mais este tipo de exames se torna mais acessível a todos e se revelam como exames de extrema importância, mais pontos do país também já possuem ou estão prestes a ter centros SPECT, tais como: Coimbra e Braga. 2.2 - História do SPECT O primeiro dispositivo de ECT foi denominado de MARK IV e foi desenvolvido por Edwards e Kuhl. A MARK IV consistia em diversos bancos de detectores de fotões de NaI arranjados de uma forma rectangular em torno da cabeça do paciente. O primeiro dispositivo comercial de Single Photon-ECT (SPECT) era similar no desenho ao projecto MARK IV mas tinha 32 detectores de fotões e foi chamado o Tomomatic-32. As primeiras aplicações do ECT resultaram em imagens que do ponto de vista do diagnóstico não eram usáveis, e a técnica não foi aceite de uma forma generalizada. É só quando os métodos evoluíram durante a introdução do raio-x CT por Hounsfield e Cormack no ECT da medicina nuclear, que esta modalidade passou a ganhar a atenção da comunidade médica que relacionada com análise de imagem. Os algoritmos de reconstrução inventados para o CT de raio-x tiveram que ser reformulados para o ECT de modo a ter em atenção efeitos de atenuação de fotões e de espalhamento no corpo humano para alem das limitações mecânicas e eléctricas dos detectores. Quando se conseguiu técnicas de reconstrução de imagem tais como o FBP (projecção inversa filtrada) produziram-se imagens de ECT que pela primeira vez permitiram análise qualitativa e que foram consideradas 2.4 - Exame de MRI 14 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET quantitativamente válidas para uso clínico. Ao contrário de outras modalidades tais como MRI e raio-x, o ECT obtém imagens da função do organismo e não da anatomia no sentido estrito. Isto é devido, por exemplo, o SPECT envolve a detecção de radiação gama emitidos somente por átomos radioactivos, chamados radionuclidos, tais como o Techtenium -99m e Thalium-201. Um rádiofarmaco é uma proteína ou molécula orgânica com um radionuclido ligado a si. As proteínas e moléculas orgânicas são seleccionadas baseadas no seu uso ou nas suas propriedades de absorção por parte do corpo humano. Por exemplo alguns rádiofarmacos acumulam - se no músculo do coração e são por isso usadas para fazer SPECT cardíacos. Assim no caso geral um coração, ou pulmões ou cérebro saudáveis irão absorver uma determinada quantidade do rádiofarmaco, que aparece como uma área mais clara nas imagens obtidas por SPECT. Hoje em dia quase todos os pacientes cardíacos recebem um ECT planar ou um SPECT como parte dos seus exames para detectar e avaliar o estado de desenvolvimento de uma doença coronária. Os exames SPECT ao fígado e cérebro são também áreas de grande utilização do SPECT. O SPECT é usado de uma forma rotineira para ajudar no diagnóstico e avaliação de cancros, enfartes, doenças de fígado para alem de outras anormalidades funcionais. 2.3 - Teoria e Instrumentação Assim como num exame raio-x CT, aquisição de imagem SPECT envolve a rotação de um detector de fotões em volta do corpo humano de maneira a adquirir informação de diversos ângulos. Usando esta técnica procuramos as posições e concentrações da distribuição de radionuclidos. Por causa das fontes de emissão (radionuclidos injectados) se encontrarem dentro da cavidade corporal, esta tarefa é de maior dificuldade de execução do que para o raio-x CT, onde a posição e força da fonte de emissão (exterior ao corpo humano) é sempre conhecida. Isto é, no raio-x CT a atenuação é medida, não a fonte de transmissão. De maneira a compensar a atenuação ocorrida pela emissão de fotões pelos tracers injectados no corpo, o SPECT contemporâneo usa algoritmos de reconstrução de maneira a aumentar a resolução. A aquisição de imagem em SPECT é inferior a do PET por causa da sensibilidade e resolução alcançadas. Diferentes radionuclidos são usados em SPECT, sendo que todos eles emitem um fotão apenas (usualmente a volta dos 140keV), em vez de emissão de positrões (511 keV) como é usado em PET. Como apenas um fotão é emitido pelos radionuclidos usados em SPECT, uma lente especial denominada de colimador é usada para adquirir toda a informação resultante de vários ângulos a volta do corpo. O uso de um colimador resulta numa tremenda diminuição da eficiência de detecção quando comparada com PET. Para tomografias de emissão de positrões, a colimação é alcançada de uma maneira natural pelo facto de que um par de fotões detectados (raios gama) podem ser localizados na sua origem desde que sigam uma trajectória ao longo da mesma linha de produção. Em PET existem pelos menos 500 detectores capazes de detectar um isótopo PET a qualquer momento, enquanto que em SPECT existem apenas 1 a 3 colimadores. Resoluções superiores requerem sensibilidade superior e a resolução do SPECT é muitas vezes inferior que a atingida em PET. A resolução resultante que pode ser utilizada (cerca de 7mm)para SPECT é inferior à resolução do PET num factor de 3 ou 4. Mesmo sendo a resolução resultante da aquisição de imagem em SPECT não tão boa como a obtida em PET, a disponibilidade de novos rádiofarmacos, particularmente para a cabeça e cérebro, e tendo em conta aspectos económicos (um exame SPECT custa cerca de um terço de um exame PET) e práticos da instrumentação SPECT faz deste método de emissao tomográfica atractiva para estudos clínicos. 2.4 - Aquisição e Processamento de imagem O SPECT tem como base a determinação da concentração da quantidade de radionuclido num determinado e específico orgão em função do tempo. A introdução do rádioisótopo Tc-99m por Harper que emite um só fotão de raio gama de energia 140KeV, que tem como tempo de vida cerca de 12 horas assinalou um grande passo para o SPECT uma vez que este fotão é facilmente detectado pelas câmaras gama. No entanto um problema técnico de engenharia envolvendo a colimação destes raios gama, antes 15 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET de entrarem propriamente na câmara gama, teve que ser resolvido antes do SPECT se poder afirmar como uma modalidade de imagem viável. Sendo assim é essencial em SPECT, a colimação dos raios gama emitidos pela distribuição no corpo onde foram injectados os radionuclidos. Os colimadores para SPECT são tipicamente de chumbo e tem cerca de 4 a 5 cm de espessura e 20 a 40 cm de lado. Os colimadores contem milhares de canais quadrados, circulares ou hexagonais paralelos através dos quais e apenas através dos quais os raios gamas são permitidos passar. Tipicamente um colimador de baixa energia para o SPECT pesa cerca de 23 Kgs mas os modelos de energia elevada podem pesar acima de 92 Kgs. Apesar de pesados estes colimadores são colocados directamente por cima de um cristal muito delicado de NaI que existe em todas as câmaras gama. Qualquer câmara gama assim equipada com um colimador é apelidada de câmara Anger, devido ao nome do seu inventor. Os raios gama que sejam emitidos numa direcção que coincida com os canais do colimador passarão pelo colimador sem serem absorvidas, e interagirão com o cristal de NaI criando luz. Por detrás do cristal, uma rede de tubos fotomultiplicadores (sensíveis a luz) receberão a luz para processamento, e a partir da análise destes sinais de luz são constituídas as imagens SPECT. Dependendo do tamanho da câmara de Anger orgãos inteiros tais como o coração ou fígado podem ser visualizados em imagens SPECT. Câmaras de Anger maiores são usadas para obter imagens de todo o corpo humano, como por exemplo para visualização da estrutura óssea. Para os raios gama emitidos pelos rádiofarmacos típicos de SPECT há duas importantes interacções com a matéria. A primeira envolve o espalhamento dos raios gama resultante da interacção com as moléculas e átomos (DNA) no corpo humano. Este espalhamento é chamado como Compton Scattering. Alguns fotões que sofrem esta influência são deflectidos para fora da câmara Anger e perdidos para o processo de detecção. A segunda interacção consiste na absorção por parte de um átomo do corpo do fotão com a elevação do potencial energético ou até mesmo com a libertação de um electrão. Este processo é chamado de efeito fotoeléctrico e foi detectado por Einstein nos metais tendo recebido o prémio Nobel pela sua descoberta. Ambos os processos resultam em perdas ou degradação da informação acerca da distribuição do rádiofarmaco no corpo. O segundo processo cai no conceito geral de atenuação em termos de imagens médicas e é uma área de investigação activa. A atenuação resulta na redução do numero de fotões que chegam a câmara de Anger. A quantidade de atenuação sentida por cada fotão depende no caminho que este percorre no corpo e da sua energia. Os fotões que experimentam o espalhamento são geralmente reflectidos, perdendo muitas vezes energia, acabando assim por ser absorvidas ou reflectidas para fora do ângulo de recepção da câmara de Anger. Em qualquer um dos casos, o fotão e a informação que este transporta consigo acerca da distribuição do rádiofarmaco no corpo, não vai ser detectado e é assim considerado perdido devido a atenuação. Aos 140KeV Compton Scattering é a causa mais provável de interacção de um fotão de radiação gama com a água ou tecidos do corpo. Uma percentagem mais pequena de fotões é perdida devido a interacção fotoeléctrica. É possível, que os fotões quando sujeitos ao efeito de Compton Scattering serem espalhados para o ângulo de visão da câmara de Anger. Estes fotões no entanto não transportam informação útil acerca da distribuição do rádiofarmaco no corpo uma vez que não indicam de onde no corpo foram emitidos. Como resultado a detecção de fotões espalhados no SPECT levam a perdas de contraste na imagem bem como imagens tecnicamente imprecisas. A aquisição e processamento de uma imagem SPECT, quando correctamente efectuada, envolve compensações e ajustes de muitos parâmetros físicos e de parâmetros do sistema. Uma selecção destes inclui: atenuação, espalhamento, uniformidade e linearidade de resposta do detector, resolução geométrica espacial e sensibilidade do sistema, truncagem da imagem, shift mecânico da camera ou gantry, shift electrónico, eixo de rotação de calibração, ruído de imagem, espessura das fatias de imagem, tamanho da matriz de reconstrução e filtros, intervalos angulares e lineares de amostragem, variações estatísticas nas contagens de fotões detectados, mudanças no campo de visão da câmara de Anger com a distância à fonte e tempo morto do sistema. A calibração e monitorização de muitos destes parâmetros caem na designação geral de Controlo de Qualidade e são usualmente efectuadas por um técnico de medicina nuclear certificado ou médico físico. Nesta lista a colimação tem o maior efeito em termos de resolução espacial e sensibilidade do sistema, sendo a sensibilidade relacionada com o número de fotões por segundo que são detectados. A resolução e a sensibilidade do sistema são as medidas físicas mais importantes na qualidade da performance de um sistema SPECT. A melhoria destes parâmetros é raramente conseguida simultaneamente na prática apesar de ser o grande objectivo de qualquer investigador na área SPECT. A distribuição do radionuclido no corpo do paciente corresponde à imagem analógica (imagem que tem uma distribuição contínua de densidade) que representa a concentração de um radionuclido num 16 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET determinado orgão. A radiação gama proveniente do paciente é digitalizada e armazenada numa matriz ou vector de imagem. A 3ª dimensão na matriz é o número de fatias transaxiais, coronais ou sagitais usadas para representar o orgão. uma vez o scan SPECT terminado, a informação obtida na matriz de imagem e chamada de dados de projecção e esta pronto para ser reconstruído. A reconstrução coloca essa informação no seu formato digital final de modo a poder ser analisada pelo físico. 2.5 - Reconstrução de Imagem 2.5.1 - Projecção Inversa Filtrada O algoritmo mais comum usado na reconstrução tomográfica de informação clínica é o método da projecção inversa filtrada. Existem também outros métodos, mas estes serão discutidos na secção sobre métodos de reconstrução iterativos. Para a reconstrução da imagem final são necessárias cinco fases: projecção da informação, transformada de Fourier da informação, filtragem da informação e filtragem inversa. 1. Projecção da informação À medida que a câmara SPECT gira em volta do paciente, cria uma série de imagens planares chamadas projecções. Em cada paragem, apenas fotões movendo-se perpendicularmente à face da câmara passam através do colimador. Como muitos desses fotões tem como origem várias zonas diferentes em profundidade do paciente, o resultado é uma sobreposição de todos os órgãos, sujeitosa acção do rádioisótopo, que se encontrem no mesmo caminho específico, da mesma maneira que uma radiografia raio-x é a sobreposição de todas as estruturas anatómicas de 3-D para 2-D. Um estudo SPECT consiste em muitas imagens planares retiradas desta forma e tendo em conta vários ângulos diferentes. Após a aquisição de todas as projecções, estas são sub – divididas, tirando todas as projecções referentes a uma parte, a uma pequena fatia do paciente. Todas as projecções referentes a cada fatia são ordenadas e colocadas numa imagem chamada sinograma. 2. Transformada de Fourier da informação. Se a informação contida no sinograma fosse reconstruída neste ponto, artefactos iriam aparecer na imagem reconstruída devido a natureza da subsequente operação de projecção inversa. Adicionalmente, devido a natureza da radioactividade, existe um ruído inerente na informação que faz com que as imagens reconstruídas tendam a ter um aspecto pouco suave. De maneira a evitar estes dois factores é necessário fazer uma filtragem da informação. Quando se efectua a filtragem da informação, esta pode ser feita directamente no espaço da projecção, que significa que temos de multiplicar a informação por um factor de suavização (smoothing kernel). Este processo é conhecido como convolucão. A convolucão é uma tarefa muito intensiva do ponto de vista computacional e por isso é útil evitá-la sempre que possível. É sabido que a convolucão no domínio do tempo corresponde a uma multiplicação do domínio das frequências. Isto significa que qualquer filtragem feita por uma operação de convolucão do domínio dos tempos pode ser muito facilmente ser feita por uma multiplicação no domínio das frequências. Em SPECT faz-se uma transformação similar da informação projectada para o domínio das frequências, domínio este onde se pode fazer uma filtragem mais eficiente da informação. A transformada de que se faz uso para a passagem de domínio é denominada de Transformada de Fourier Unidimensional. 3. Filtragem da informação. Uma vez que a informação tenha sido transformada para o domínio das frequências, é então filtrada de maneira a suavizar a acção do ruído estatístico. Existem muitos filtros diferentes disponíveis para efectuar esta operação e todos tem certas características diferentes. Por exemplo alguns filtros irão efectuar uma suavização tão forte que deixará de haver na imagem contornos afiados, e isso faz com que haja uma degradação na resolução da imagem final. Ha também filtros que mantém uma resolução final muito alta mas a suavização efectuada é muito ligeira. 17 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET Assim os filtros tipicamente utilizados são: filtro de Hanning, Butterworth, Cosseno passa - baixo, Weiner, etc... . Independentemente do filtro utilizado, o resultado final será uma imagem que é relativamente sem ruído e agradável a visualização. 4. Transformada inversa da informação Como a informação filtrada encontra-se no domínio das frequências temos que proceder a transformação inversa para colocar novamente a informação no domino espacial de maneira a obter a informação x,y,z da distribuição espacial obtida. Este procedimento é feito da mesma maneira que foi feito a primeira transformada, só que a esta transformada chamamos de transformada inversa de Fourier unidimensional. Neste ponto a informação resultante e similar a informação do sinograma original excepto no aspecto que a informação final se encontra suavizada e praticamente sem ruído. 5. Projecção inversa O passo mais importante na reconstrução envolve um processo conhecido como projecção inversa. Como a informação original foi adquirida deixando apenas que os fotões emitidos perpendicularmente a face da câmara entrem na câmara, a projecção inversa faz um esbatimento da informação binária da câmara no sinograma filtrado ao longo das mesmas linhas de onde o fotão foi emitido. Regiões onde as linhas de diversos ângulos da projecção inversa se intersectam representam áreas que contêm uma alta concentração de rádioisótopo. 2.5.2 - Método dos parâmetros directos Tem sido mostrado através da aquisição de imagem planar dinâmica que o metabolismo de tracers no miocárdio podem ser modelizados através de uma função exponencial dual no tempo. Este modelo corresponde ao tracer ser levado até um particular compartimento do coração, ser metabolizado e expelido desse compartimento. A taxa à qual o tracer é metabolizado e expelido é modelado por essa função no tempo. Tem sido também sugerido que os parâmetros desta função são uma boa indicação da viabilidade geral do coração, isto é, se o tracer for expelido com taxas elevadas que o coração se encontra num estado saudável enquanto zonas não saudáveis têm taxas baixas. Se nós soubermos o tempo total do comportamento do coração, podemos ir um passo adiante e supor que regiões individuais do coração têm o mesmo comportamento funcional. Devido ao facto de que em SPECT, nós lidarmos com representações por pixels de objectos, é natural aplicar a nossa função exponencial dual a cada pixel do coração. Desta maneira a nossa função pode ser aplicada em ordem ao tempo a cada pixel, e assumir que cada pixel tem um comportamento específico. Para tal é necessário que cada pixel siga esta equação: P(T) = A.e-l*t + B.e-m*t +C É possível determinar os parâmetros através de optimização computacional. O resultado desta reconstrução de imagem são cinco imagens representando as cinco variáveis desconhecidas. A partir deste método, os pixels com rápidas taxas cinéticas, representam regiões que podem ser facilmente diferenciadas de regiões mais lentas. 2.5.3 - Método dos mínimos quadrados com restrição linear A desvantagem primária da aproximação dos parâmetros directos é o facto que nós termos que assumir uma determinada forma da funcionalidade do movimento do tracer. É ainda desconhecido se fazer essa suposição para todas as circunstâncias é verdade e também pode não ser verdade que o tracer pode ser descrito por uma função exponencial dual em todos os instantes de tempo. Por estas razões é extremamente vantajoso desenvolver um método de reconstrução totalmente dinâmica, que não faça qualquer tipo de suposições acerca do comportamento do tracer. Assim uma aproximação possívelé usar o método dos mínimos quadrados com restrições lineares (LLS). A LLS aproximação não faz qualquer tipo de suposição quanto à forma funcional de alteração de actividade, mas supõe minimamente que a actividade de cada pixel apenas decresce no tempo. Este suposição é correcta no evento de que o tracer é administrado antes do exame ter lugar e que a maior parte do tracer está presente no orgão de interesse no início do exame. 18 Capítulo II - Medicina Nuclear, SPECT e PET Quando reconstruído com LLS, o resultado é uma série de imagens, cada uma delas referindo a distribuição espacial do tracer a um dado instante de tempo. O problema é referido como uma restrição linear dos mínimos quadrados porque nós assumimos que a diferença nas actividades num pixel entre imagens consecutivas é apenas um valor positivo. Então, isto assegura que a actividade do pixel é continuamente decrescente ao longo tempo. 2.5.4 – Reconstrução iterativa De maneira a incorporar informação dos data sets morfológicos para o processo de reconstrução, são feitas as seguintes considerações: a radioactividade continua numa região anatómica tende a ser homogénea (isto é, matéria cinzenta), as fronteiras entre regiões anatómicas são também fronteiras entre regiões, nas quais, a absorção do tracer é similar e finalmente as fronteiras de regiões anatómicas podem ser extraídas através de informação à priori com um método apropriado de segmentação. O algoritmo da reconstrução iterativa consiste em combinar um método iterativo rápido
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