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31. ECOS.pdf

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EEEECCCCOOOOSSSS 
 
Teatro Imagético 
 
Roteiro de: 
JULIO CARRARA 
 
 
Escrita em 2014 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara EcosEcosEcosEcos 1111 
 
PERSONAGENS: 
NOIVA 
MÃE 
MULHER 
 
ÉPOCA: Indefinida 
 
CENÁRIO: Palco nu. Apenas um candelabro com velas, um montinho de 
areia, uma echarpe e um aquário com água que estarão perfilados no proscênio. 
O espetáculo será cenografado via luz. 
 
OBSERVAÇÃO: Roteiro escrito especialmente para o grupo da Terceira Idade 
do SESI. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara EcosEcosEcosEcos 2222 
 
 
PRÓLOGO 
No proscênio, perfilados, mas com uma certa distância um do outro para que se 
preencha toda a extensão do palco estão um candelabro com velas, um montinho de 
areia, um aquário com água e um echarpe que se move com o vento de ventiladores 
escondidos nas coxias. 
Após o terceiro sinal ouvimos a música “As Montanhas”, de Madredeus. 
No pano fechado é projetado o video de uma ultrassonografia. Depois de um 
tempo, lentamente, projetam-se fotos das atrizes desde bebês até a idade atual. É 
importante que cada foto resgate momentos significativos das famílias de cada uma 
como: brincadeiras de rua, festinhas de aniversário, ida à escola, formatura, namoro, 
noivado, casamento, filhos, netos, etc. As fotos não precisam ser mostradas numa 
ordem cronológica. Quanto mais fora de ordem, melhor. As lembranças não são assim? 
Desordenadas, mas cheias de significados? 
A apresentação de slides finda-se no mesmo momento em que a música cessa em 
fade-out. Black-out. Silêncio por alguns segundos. 
 
 
PRIMEIRO MOVIMENTO 
Ao som de “Nothing Else Matters”, de Apocalyptica, o pano se abre lentamente 
revelando o palco iluminado por uma contraluz azul que se destaca através da forte 
neblina. 
O palco está vazio. 
Após alguns segundos entra a NOIVA pela Esquerda-Alta, caminhando 
lentamente pelo corredor de luz em diagonal que termina num foco à Direita-Baixa, 
jogando uma flor vermelha a cada passo para marcar o seu caminho. Ao entrar no foco 
da Direita-Baixa, o corredor que a trouxe até ali se apaga lentamente e A NOIVA 
deixa escorregar o buquê das mãos que cai aos seus pés. 
Ela tem nos olhos uma expressão angustiada, as mãos crispadas de tensão e 
aguarda, ansiosa, por alguém que não chega. Cobre o rosto na tentativa inútil de se 
esconder e em seguida coloca as mãos no peito para tentar amenizar o seu sofrimento e 
paralisa. Seu vestido e seu veu se movem com o vento. 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara EcosEcosEcosEcos 3333 
 
A NOIVA permanece parada por um bom tempo e lágrimas começam a brotar 
de seus olhos e escorrer pelo seu rosto. 
Quando percebe que a pessoa a quem espera não vem mais, cobre o rosto com o 
veu e mantém-se estática, como se fosse uma pintura. 
O objetivo desta cena estática é fazer com que o público possa analisar a cena 
como se estivesse em um museu observando um quadro. 
Foco cai lentamente em resistência, deixando A NOIVA em silhueta. 
 
 
SEGUNDO MOVIMENTO 
Música instrumental tétrica funde-se com a música anterior. 
Entra A MÃE pela Direita-Alta caminhando lentamente pelo corredor de luz 
em diagonal que termina num foco à Esquerda-Baixa. Ela traja um vestido negro e traz 
nas mãos uma urna funerária. À medida em que caminha, as cinzas escapam por uma 
pequena abertura da parte inferior da urna deixando um rastro pelo caminho. 
Ao entrar no foco da Esquerda-Baixa, A MÃE olha para urna e o corredor que a 
trouxe ali cai lentamente em resistência. No momento em que ela abre a urna, um 
acorde forte da música pontua o momento e, lentamente, vai se fundindo com a música 
“Pedaço de Mim”, de Chico Buarque. 
Com o olhar perdido e movimentos lentos, ela espalha as cinzas pelo chão, 
repetindo o mesmo gesto. Ao sentir as cinzas escorrerem pelos vãos dos dedos, sua dor 
se intensifica como expressa o trecho da música: “oh pedaço de mim, oh metade 
arrancada de mim, leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto, a 
saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.” 
MÃE fecha a urna depois de esvaziá-la, ajoelha-se e deposita o objeto à sua 
frente. Cobre o rosto com o veu negro e pousa a cabeça sobre a urna. 
Luz cai em resistência e música cai em fade-out até o black-out. 
 
 
TERCEIRO MOVIMENTO 
Durante o black-out, uma música pesada e minimalista modifica o clima das 
cenas anteriores. Depois de um bom tempo na escuridão, as luzes de dois moving 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara EcosEcosEcosEcos 4444 
 
heads se acendem e começam a se mover freneticamente e o que vemos é um espaço 
lúgubre coberto por fumaça e as silhuetas das duas mulheres: A NOIVA e A MÃE que 
continuam estáticas no mesmo lugar. 
Num determinado momento da música, as duas mulheres saem daquele estado 
letárgico e como se recobrassem a consciência correm em círculos com as pontas dos 
pés tentando alcançar uma à outra, fazendo o jogo do Gato e Rato. Pela maneira como 
correm parece que estão em outra dimensão: nas nuvens, por exemplo. Tentam, sem 
sucesso, descobrir o veu uma da outra. 
Durante a perseguição, uma MULHER que permaneceu desde o primeiro 
movimento do espetáculo, de costas, ao fundo do palco, vira-se e desce da área central 
alta para o centro, trazendo uma cesta de flores no braço. Trata-se de um personagem 
arquetípico. O importante é que fique claro para o espectador que ela vem de outro 
plano, acima dos mortais. Não é um espírito; uma figura mitológica está mais próxima 
do que imagino. 
Quando A MULHER para no centro, A NOIVA e A MÃE cessam a 
perseguição e se prostram ao lado da MULHER quando a música chega ao ápice e 
cessa abruptamente. 
Luz geral sobe rapidamente. Silêncio de três segundos. Entra a música 
“Paradise”, de Café del Mar. 
A MULHER deposita a cesta de flores no chão e dirige-se para A NOIVA, 
descobrindo seu veu. Em seguida, dirige-se para A MÃE e faz o mesmo. A NOIVA e A 
MÃE estão agora com uma expressão mais serena. 
MULHER pega a cesta do chão e entrega um grande ramo de flores vermelhas 
para A NOIVA e outro grande ramo de flores para A MÃE. Elas olham para as flores e 
ficam perfiladas de frente para o público sem saber o que fazer. 
Tomando a iniciativa, A MULHER começa a jogar as flores para a plateia. A 
MÃE e A NOIVA repetem o gesto até ficarem com as mãos vazias. 
Enquanto jogam as flores, bolhas de sabão caem do urdimento tomando de 
assalto todo o espaço cênico. As três mulheres brincam com as bolhas como se 
retornassem à infância e riem feito crianças. 
 
 
Julio CarraraJulio CarraraJulio CarraraJulio Carrara EcosEcosEcosEcos 5555 
 
EPÍLOGO 
Após a brincadeira, o trio vira-se de costas para o público e caminham 
lentamente para o fundo do palco. No áudio, a música “Love is the Sweetest Thing”, 
na voz de Mary Hopkin. Enquanto caminham, como se estivessem numa estrada, 
ouve-se o poema “Caso de Amor”, de Manoel de Barros. Música cai a BG. 
 
VOZ OFF 
 Uma estrada é deserta por dois motivos: por abandono ou por 
desprezo. Esta que eu ando nela agora é por abandono.Chega que os 
espinheiros a estão abafando pelas margens. Esta estrada melhora muito de eu 
ir sozinho nela. Eu ando por aqui desde pequeno e sinto que ela bota sentido 
em mim. Eu acho que ela manja que eu fui para a escola e estou voltando 
agora para revê-la. Ela não tem indiferença pelo meu passado. Eu sinto mesmo 
que ela me reconhece agora, tantos anos depois. Eu sinto que ela melhora de 
eu ir sozinho sobre seu corpo. De minha parte eu achei ela bem acabadinha. 
Sobre suas pedras agora raramente um cavalo passeia. E quando vem um, ela 
o segura com carinho. Eu sinto mesmo hoje que a estrada é carente de pessoas 
e de bichos. Emas passavam sempre por ela esvoaçantes. Bando de caititus a 
atravessavam para ir ao rio do outro lado. Eu estou imaginando que a estrada 
pensa que eu também sou como ela: um coisa bem esquecida. Pode ser. Nem 
cachorro passa mais por nós. Mas eu ensino para ela como se deve comportar 
na solidão. Eu falo: deixe deixe meu amor, tudo vai acabar. Numa boa: a gente 
vai desaparecendo igual quando Carlitos vai desaparecendo no fim de uma 
estrada… Deixe, deixe, meu amor. 
 
Assim que chegam ao fundo do palco, as mulheres congelam num tableaux-vivant 
como se estivessem caminhando numa estrada deserta. Quando o poema chega ao fim, 
música cresce e luz cai em resistência até o black-out final. 
 
FIM 
 
Novembro/2014

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