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O que é Etnicidade?

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O que é etnicidade? A etnicidade é hoje uma das idéias mais importantes e poderosas da antropologia. Basicamente ela significa uma relação entre um conjunto de fenômenos sócio culturais e uma população específica. Essa população também pode ser chamada de “grupo étnico”. A origem grega do termo “étnico” possui o mesmo sentido da expressão latina “gen” (no português, gente); com ela designavam-se populações de uma mesma localidade, de um mesmo povo e, freqüentemente de uma mesma "raça" (significando uma unidade biológica na população). A nossa linguagem coloquial preserva essa relação entre o étnico e o local: por exemplo, quando nos referimos a "gente desse lugar é atrasada!" ou "não gosto da gente daqui!", "isso é coisa dessa gente" ou ainda, "a cabeça do povo daqui é muito diferente de onde eu venho", etc. Podemos imaginar muitas outras expressões do cotidiano onde a imbricação do lugar com o étnico é claramente conservada.
 Note que, quando você estabelece uma correlação entre um lugar e a "gente" daquele lugar, você também estabelece o "outro", o diferente de você mesmo. Na medida em que você identifica o "outro", o "diferente", você também cria sua própria identidade social e cultural. Ou seja, nesse sentido o étnico é sempre uma categoria de contraste e de diferença. Percepções sociais como o “outro bairro”, o “outro lado da cidade”, a “outra região”, o “outro país” ou a “outra cultura”; são citações que, dependendo das circunstâncias, podem ter uma forte coloração étnica. 
Além da correlação entre lugar e população, devemos também analisar um terceiro componente da etnicidade, que é o da raça. Na verdade o componente racial sempre esteve ligado à idéia de etnicidade: quando havia a referencia à “gente daquele lugar", podia-se estar querendo dizer "os bugres que vivem do outro lado da serra" ou "os negros fugidos que se escondem no mato para viver"; esses são exemplos de um "raciocínio" étnico. Na verdade, você está definindo que não é negro ou bugre, que não vive no mato, e sim os "outros". A novidade aqui é a inclusão do viés biológico, pois a definição de etnicidade no exemplo dado acima está atrelada ao fato de ser (ou não ser) índio ou negro.
 Etnicidade e cultura. Porém, como a partir da década dos 50 do século passado a idéia de raça tornou-se menos usada na antropologia e nas ciências em geral, a velha noção greco-romana de “gen”, foi modificada e passou a significar - de forma mais estrita - os elementos culturais de uma população. Esses elementos (comida, língua, roupas, adereços, etc.) definiriam, em última análise, o próprio grupo étnico. Assim o fenômeno da etnicidade seria identificado pela cultura do grupo: os mesmos hábitos, costumes, língua e religião formariam um grupo étnico. No entanto, não devemos pensar que a idéia de raça foi totalmente abandonada. Apenas ela não é mais considerada determinante para identificar se estamos ou não diante de um grupo étnico. 
Etnicidade sem cultura: o conceito de inclusão étnica de Barth. A partir do final da década de 70, os antropólogos e sociólogos, por influência do pesquisador norueguês Frederick Barth, passaram a considerar que a própria idéia de cultura não era suficiente para explicar e resolver os problemas étnicos. A grande mistura cultural em todo o mundo e o fato de que muitos povos perderam seus territórios originais devido às guerras, migrações ou destruição ecológica, parecia tornar necessário recorrer-se a um conceito mais “elástico” que o de cultura para se estudar a etnicidade e identificar grupos étnicos. Assim foi elaborado o conceito de inclusão étnica que transferia para a dinâmica social e para o sentimento psicológico o principal fator para se reconhecer uma etnia. Partindo desta nova visão, você pode não ter nascido no local, não falar a mesma língua, mas pode ter um “sentimento” de pertencer a um determinado grupo. Da mesma forma, se uma determinada população não vive mais com padrões culturais históricos originais (como as populações de índios do Nordeste, por exemplo), ela pode ter o sentimento e a noção de ter pertencido a um determinado povo e, a partir disto “resgatar" sua identidade (chamada então de “identidade étnica”).
A identificação do grupo étnico. Apesar de não conter mais de forma explícita a idéia de raça e, em certos casos, não necessitar da de cultura, as idéias de população (despojada da conotação biológica) e de local (acrescida do significado ecológico e histórico), ainda são fundamentais para os conceitos de etnicidade e grupo étnico. Assim, para identificar-se um grupo étnico, é necessário reconhecer o seu perfil demográfico (número de pessoas, sexo, idade, etc.) e delimitar o seu espaço físico (área ecológica, região, localidade, etc.) e, em muitos casos, o seu espaço histórico (data de ocupação da região, documentação histórica, etc.). Um exemplo interessante é o caso de Israel que luta pelo seu espaço físico (Faixa de Gaza e Cisjordânia) na Palestina e também pelo seu espaço histórico. Segundo sua religião, esse espaço histórico está registrado na Bíblia. De forma assemelhada, várias comunidades rurais brasileiras formadas por descendentes de escravos (denominadas de Quilombos) lutam pelo direito de reconhecimento e posse da terra. Em alguns casos terras doadas nos tempos do império.
	Os conflitos étnicos. No século 20, a etnicidade foi um fenômeno social extremamente problemático. O início do século 21 mostra que os problemas étnicos continuam graves. Boa parte das guerras e dos confrontos políticos na Europa, no Oriente Médio, na Ásia, são situações que envolvem a etnicidade. De tal maneira que os organismos internacionais e os governos procuram desenvolver políticas específicas para conter, contornar ou resolver os conflitos e questões desta natureza. Note que os conflitos não atingem apenas os países que são “plurétnicos” (ou seja, que tiveram seu desenvolvimento histórico a partir da conjugação de varias populações, como o Brasil). Atingem também aqueles que tiveram que importar mão de obra, dar asilo ou receber massas de migrantes, como a França, a Alemanha, a Bélgica, a Inglaterra e os Estados Unidos. Hoje existem conflitos étnicos nos cinco continentes.
	Tendência moderna. Mais modernamente, estamos assistindo certo equilíbrio entre as visões mais radicais do final da década de 70 e a perspectiva cultural. Considerando-se que a cultura do grupo é e sempre foi um elemento fundamental para se entender como uma determinada população é assimilada e outra não. Em outras palavras, embora a conservação de elementos culturais “originais” como língua, vestimentas e hábitos alimentares não seja determinante para a definição dos direitos sociais de uma população eles são elementos centrais na construção da identidade do grupo. 	
RESPONDA: 1- EXISTEM CONFLITOS ÉTNICOS NO BRASIL? EXEMPLIFIQUE SE FOR O CASO. 2- GRUPO ÉTNICO SIGNIFICA A MESMA COISA QUE GRUPO RACIAL? JUSTIFIQUE A RESPOSTA. 3- EXISTEM GRUPOS ÉTNICOS NO BRASIL? EXEMPLIFIQUE SE FOR O CASO
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