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1 CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ANCHIETA – CURSO DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO ADMINISTRATIVO I PROFA. MS. SIMONE ZANOTELLO DE OLIVEIRA APOSTILA 3 – PODERES ADMINISTRATIVOS Esta apostila foi elaborada com base no resumo das principais obras de Direito Administrativo sobre o tema, destacando: CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 27. ed. São Paulo : Atlas, 2014 DI PIETRO, Maria Sylvia. Direito administrativo. 27. ed. São Paulo : Atlas, 2014. GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 13. ed. São Paulo : Saraiva, 2008. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 39. ed. São Paulo : Malheiros, 2013. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 29. ed. São Paulo : Malheiros, 2012. PODERES ADMINISTRATIVOS Conceito – conjunto de prerrogativas de direito público que a ordem jurídica confere aos agentes administrativos com o objetivo de permitir que o Estado alcance seus fins. São verdadeiros poderes-deveres utilizados na busca da promoção e defesa do interesse público, condicionados aos limites da lei. PODER DISCRICIONÁRIO É a prerrogativa concedida aos agentes administrativos de elegerem, entre várias condutas possíveis, a que traduz maior conveniência e oportunidade para o interesse público. Nesses casos, pode o agente avaliar a conveniência e a oportunidade dos atos que vai praticar na qualidade de administrador dos interesses coletivos. Discricionariedade x arbitrariedade - Essa liberdade de escolha tem que se conformar com o fim disposto na lei, para não representar um ato de arbitrariedade. A moderna doutrina tem consagrado a limitação ao poder discricionário, possibilitando maior controle do Judiciário sobre os atos que dele derivem. Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são utilizados para ensejar o controle da discricionariedade. 2 PODER VINCULADO Há atividades administrativas cuja execução fica inteiramente definida na lei. Ao agente não é concedida qualquer liberdade quanto à atividade a ser desempenhada e, por isso, deve submeter-se por inteiro ao mandamento legal. Ao praticar atos vinculados, o agente limita-se a reproduzir os elementos da lei que os compõem, sem qualquer avaliação sobre a conveniência e a oportunidade da conduta. Esses atos também estão sujeitos ao controle de legalidade a cargo do Judiciário. PODER REGULAMENTAR (OU NORMATIVO) Poder regulamentar é a prerrogativa conferida à Administração Pública de editar atos gerais para complementar as leis e permitir sua efetiva aplicação. Isso ocorre, porque o Poder Legislativo, ao editar leis, nem sempre possibilita que elas sejam executadas. Então, cumpre à Administração criar os mecanismos de complementação das leis indispensáveis para a sua aplicabilidade. Ele representa uma prerrogativa de direito público, pois que conferido aos órgãos que possuem a incumbência de gestão dos interesses públicos. É de natureza derivada (ou secundária), somente sendo exercido à luz de lei preexistente. Seu exercício somente pode dar-se “secundum legem”. Regulamentos autônomos ou independentes - Há uma grande divergência na doutrina sobre a possibilidade ou não de o Executivo editar os regulamentos autônomos, para prover situações não contempladas em lei. Todavia, há casos em que a própria CF autoriza determinados órgãos a produzirem atos, que são de natureza autônoma (ex. art. 103-B da CF – Conselho Nacional de Justiça – atribuição para expedir atos regulamentares no âmbito de sua competência, ou recomendar providências). Outro exemplo é o art. 84, VI, da CF, que dá algumas competências ao Presidente da República sobre organização e funcionamento da administração federal, bem como a extinção de funções ou cargos público, quando vagos. O poder regulamentar é formalizado, normalmente, por decretos e regulamentos, editados pelo Chefe do Executivo. No entanto, podemos ter atos editados por outras autoridades administrativas, tais como instruções normativas, portarias, resoluções, etc. Regulamentação técnica – matérias de alta complexidade técnica podem passar pelo fenômeno da deslegalização. Nele, a competência para regular certas matérias se transfere da lei para outras fontes normativas por autorização do próprio legislador. Trata-se de uma “delegação com parâmetros”, que alguns estudiosos denominam de “poder regulador” (para distinguir do poder regulamentar tradicional). Exemplo dessa atuação podemos encontrar nas agências reguladoras, que criam normas técnicas relativas a seus objetivos institucionais (ANTEL, ANEEL, etc.) 3 Controle – art. 49, V, da CF – competência exclusiva do Congresso Nacional para sustar atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa. Ausência de regulamentação que impede o exercício do direito – uso do Mandado de Injunção ou da ação de inconstitucionalidade por omissão. PODER HIERÁRQUICO Poder hierárquico é o de que dispõe o Executivo para organizar e distribuir as funções de seus órgãos, estabelecendo a relação de subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal. Hierarquia é o escalonamento em plano vertical dos órgãos e agentes da Administração que tem como objetivo a organização da função administrativa. Em razão desse escalonamento firma-se uma relação jurídica entre os agentes, que é a relação hierárquica. É cabível apenas na função administrativa. Ele é amplo e permanente. Do sistema hierárquico decorrem alguns efeitos específicos: - poder de comando de agentes superiores sobre outros hierarquicamente inferiores – dar ordens aos subordinados; - os agentes hierarquicamente inferiores possuem dever de obediência; - fiscalização das atividades desempenhadas por agentes de plano hierárquico inferior; - poder de revisão dos atos praticados por agentes de nível hierárquico inferior – anulação ou revogação; - poder de aplicar sanções em caso de infrações disciplinares; - delegação – transferência de atribuições de um órgão a outro no aparelho administrativo – plano horizontal ou vertical; - avocação – chefe superior pode substituir-se ao subalterno, chamando a si as questões afetas a este – caráter excepcional – plano vertical. PODER DISCIPLINAR O poder disciplinar é o que cabe à Administração Pública para apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores públicos e demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa. Disciplina funcional – é a situação de respeito que os agentes da Administração devem ter para com as normas que os regem, em cumprimento aos deveres e obrigações a eles impostos. Portanto, o poder disciplinar é decorrente da hierarquia. 4 Além dos servidores públicos, esse poder só atinge particulares que estão sujeitos à disciplina interna da Administração, como é o caso dos estudantes de uma escola pública ou de empresas que possuem contrato administrativo oriundo de uma licitação. Não atinge qualquer particular indistintamente. A Administração não tem a liberdade escolha entre punir e não punir, pois, tendo conhecimento da falta praticada, tem necessariamente que instaurar o procedimento adequado para sua apuração e, se for o caso, aplicar a pena cabível. A lei costuma dar à Administração o poder de levar em consideração, na escolha da pena, a natureza e a gravidade da infração e os danos que dela provierem para o serviço público. Nenhuma penalidade poderá ser aplicada sem prévia apuração por meio de procedimento legal, em que sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes (art. 5º., LV, da CF). Ele é restrito e temporário. PODER DE POLÍCIA Poder de políciaé a prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em favor do interesse da coletividade. Portanto, quando o Poder Público interfere na órbita do interesse privado para salvaguardar o interesse público, restringindo direitos individuais, atua no exercício do poder de polícia. Outro conceito importante é o do art. 78 do Código Tributário Nacional: “atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.” Em sentido amplo, poder de polícia significa toda e qualquer ação restritiva do Estado em relação aos direitos dos indivíduos. Em sentido estrito, o poder de polícia configura-se como atividade administrativa, que consubstancia verdadeira prerrogativa conferida aos agentes da Administração, consistente no poder de restringir e condicionar a liberdade e a propriedade. Competência – a competência para exercer o poder de polícia é, em princípio, da pessoa federativa à qual a CF conferiu o poder de regular a matéria. 5 Polícia administrativa x polícia judiciária - polícia administrativa – atividade da Administração que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se completa no âmbito da função administrativa. Ela incide sobre bens, atividades e direitos. Possui caráter basicamente preventivo. Usa o Direito Administrativo. - polícia judiciária – embora também seja atividade administrativa, ela prepara a atuação da função jurisdicional penal e é executada por órgãos de segurança (polícia civil ou militar). Ela incide sobre o indivíduo (pessoas). Possui caráter basicamente repressivo. Usa o Direito Penal e o Direito Processual Penal. No exercício da atividade de polícia, pode a Administração atuar de duas maneiras: editando atos normativos de conteúdo genérico, abstrato e impessoal; editar atos concretos, voltados a determinado indivíduo previamente identificado. O poder de polícia pode determinar uma obrigação de não fazer (o que é regra) e também uma obrigação de fazer (exceção). Quanto ao objeto, os atos de polícia possuem dupla qualificação: constituem determinações de ordem pública ou consubstanciam consentimentos dispensados aos indivíduos (licenças – vinculadas; e autorizações - discricionárias) Fiscalização – o poder de polícia reclama do Poder Público a atuação de agentes fiscalizadores da conduta dos indivíduos. Essas fiscalização poderá apresentar aspectos preventivos ou repressivos. Autoexecutoriedade - é uma das características do poder de polícia. Trata-se da prerrogativa de praticar atos e colocá-los em imediata execução, sem dependência de manifestação judicial. Portanto, a Administração não depende de outro poder para tornar efetivas suas ações. Mas é importante lembrar que essa característica não é absoluta, pois está adstrita ao princípio do devido processo legal. Coercibilidade - também é característica desse poder, pois refere-se à prerrogativa que a Administração tem de usar a força, caso necessário, para a efetivação de alguma ação. Discricionariedade – também é característica. Há uma margem de atuação do agente, com base na conveniência e na oportunidade. No entanto, o poder de polícia não será sempre discricionário. O poder de polícia passa a ser vinculado quando o particular cumpre os requisitos impostos pela Administração, possuindo direito à pretensão. Competência – os atos de polícia deverão ser praticados por agentes no exercício regular de sua competência. O poder de polícia, em tese, não pode ser delegado ao particular. É uma restrição que deve ser exercida pelo Estado. O que poderia ser delegado ao particular são os atos materiais, preparatórios, que antecedem o poder de polícia, com ele não se confundindo. Princípio da proporcionalidade – a medida adota e o fim a que se destina deverão ser proporcionais, sob pena de abuso de poder. 6 Sanções de polícia – sanção administrativa é o ato punitivo que o ordenamento jurídico prevê como resultado de uma infração administrativa. Esta última, por sua vez, configura- se como como o comportamento típico, antijurídico e reprovável a ensejar a aplicação da sanção administrativa, no exercício da função administrativa. Se a sanção resulta do exercício do poder de polícia, qualifica-se como sanção de polícia. As mais comuns são multa, inutilização de bens privados, interdição de atividades, embargo de obra, dentre outras. USO E ABUSO DO PODER Uso do poder – utilização normal, pelos agentes públicos, das prerrogativas que a lei lhes confere. Os poderes administrativos são outorgados aos agentes do Poder Público para lhes permitir atuação voltado aos interesses da coletividade. Eles são irrenunciáveis e devem ser obrigatoriamente exercidos pelos titulares. Abuso do poder – é a conduta ilegítima do administrador, quando atua fora dos objetivos expressa ou implicitamente traçados na lei. Formas de abuso do poder: - excesso de poder – o agente atua fora dos limites da sua competência; - desvio de poder (ou desvio de finalidade) – o agente, embora dentro de sua competência, afasta-se do interesse público que deve nortear todo o desempenho administrativo. Efeitos do abuso de poder – invalidação da conduta abusiva, na esfera administrativa (autotutela) ou por meio de ação judicial. Todo abuso de poder configura como ilegalidade.
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