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LITERATURA PORTUGUESA

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AULA 09 DE LITERATURA PORTUGUESA Aula 9: O Modernismo em Portugal e a Poética de Fernando Pessoa 
Modernismo pode ser compreendido como um movimento no campo filosófico e artístico surgido no período entre o fim da Primeira Guerra Mundial e o início da Segunda Guerra Mundial, na Europa, especialmente na Alemanha, França e Itália.  Chamamos de “vanguardas” aos grupos artísticos com propostas estéticas profundamente inovadoras, surgidos nesse período entreguerras: o futurismo, o cubismo, o expressionismo, o cubofuturismo, o dadaísmo e o surrealismo.
 O termo vanguarda é originado do francês avant-garde e refere-se à primeira fileira de soldados de um pelotão.
Portanto, demonstra a atitude ousada e intempestiva dos artistas que propunham formas e concepções artísticas revolucionárias e muito afastadas da estética tradicional.
Falar em vanguarda europeia é, portanto, falar do modernismo europeu. Em comum, os grupos de vanguarda por nós citados – também conhecidos como “os ismos” – apontavam para o caráter autônomo da arte modernista, desvinculada da referência externa, do verossímil e da lógicA.
Tal posicionamento indicava a ruptura com a mimese figurativa e dava ao artista a autonomia para uma produção liberta de regras ou orientações estéticas prévias.
Ao mesmo tempo, há um grande desejo de experimentação, de buscar novos fazeres artísticos em consonância aos novos signos estabelecidos pela modernidade no cotidiano urbano.
O Expressionismo surgiu na Alemanha e é contemporâneo ao futurismo italiano e ao cubismo francês. 
Tem como principais características o emprego de imagens fortes no lugar de impressões e a expressão profunda e intensa da vida. 
Na obra expressionista, a realidade é percebida através da mescla dos planos físico e psíquico. Tudo se prenderia a uma realidade: a expressão  vista aqui como uma impressão interior que se manifesta sob o impulso de uma intuição superior e ordena os elementos de forma e conteúdo.
Em Portugal, a sensibilidade poética modernista já seria perceptível em determinados traços da poesia de Cesário Verde, como o uso de uma linguagem poética próxima à coloquialidade e a presença de temas relacionados ao cotidiano e ao marginal, por exemplo, como vimos na aula 8.
Os modernistas portugueses percorreram um caminho já aberto pela poética de Verde e pretenderam defender a criação de uma arte poética portuguesa distante do que viam como um marasmo no campo literário, de modo a tornar a literatura lusitana partidária dos processos criativos relacionados à estética modernista, como acontecia no restante da Europa.
O Orfismo é considerado o primeiro movimento conexo à literatura modernista, em Portugal. Seu nome refere-se à revista Orpheu, cuja primeira publicação data de 1915.
Orpheu reuniu um grupo de jovens ansiosos por dinamizar a literatura portuguesa que, para eles, estaria estagnada com princípios e formas literárias ultrapassadas.
Orientados pelas ideias das vanguardas europeias, muito especialmente pelas reivindicações estéticas do Futurismo, os jovens participantes do Orfismo defendiam uma postura inconformista diante de um quadro de imobilização cultural, que merecia ser rompido, em prol da inserção de Portugal no Modernismo europeu.
A poesia defendida pelo Orfismo era livre, irreverente e provocativa, com o fito de desestabilizar ideais estéticos e ideologias burguesas. Apresentava uma ruptura muito bem delimitada com as propostas do passado, incluindo as ideias simbolistas.
Apresentava uma ruptura muito bem delimitada com as propostas do passado, incluindo as ideias simbolistas. O Orfismo propunha a novidade e ela viria do espanto do Homem perante a vida e de seu descompromisso com quaisquer dogmas limitadores.
O momento do Orfismo é o da crise da subjetividade tão característica à modernidade, é o da assunção da angústia de existir, da falta de elementos que deem ao sujeito estabilidade e direção perante a vida, em um mundo no qual “tudo que é sólido se desmancha no ar”.
Mário de Sá-Carneiro produziu uma obra na qual se ressalta a questão da crise subjetiva.
Ao contrário de Fernando Pessoa, que encontra na heteronímia um modo de simbolizar e refletir sobre a angústia do ser estilhaçado, Sá-Carneiro mergulhou sua obra em um jogo egocêntrico, cujo movimento voltava-se para o questionamento do eu e de suas possibilidades múltiplas de representação.
A realidade aparece nos poemas de Sá-Carneiro como um labirinto capaz de fragmentar radicalmente o eu, de modo a dispersar o real em cacos incapazes de serem reunidos por uma visão poética pautada no emocional e distante da racionalidade.
eu poema revela a postura agônica diante de uma realidade filtrada pelo duplo escape: o olhar do eu lírico para o outro e para si próprio.
José de Almada Negreiros foi outro poeta fundamental do modernismo português.
É dele o Manifesto Anti-Dantas, contra o escritor Julio Dantas, tomado como signo de uma cultura literária portuguesa tacanha e no qual se declara “anti-tudo-que-seja-mau-e-falso-em-arte”. Negreiros emprega no manifesto uma linguagem irônica e ofensiva e, ao mesmo tempo, em conexão com a experimentação, pois se apresenta de modo difuso e original, empregando, inclusive, recursos gráficos originais, como o emprego das letras maiúsculas e a imagem da mão. Negreiros foi um elemento importante para a divulgação das ideias modernistas no país, tanto na poesia como na pintura, pois além de poeta, era pintor.
Fernando Pessoa, dentre os três escritores citados, é o poeta que maior destaque possui na literatura portuguesa e também na literatura ocidental. Sua obra é ampla e complexa. Ao lado, retrato de Fernando Pessoa, feito por Almada Negreiros. Destaque para o tom vanguardista da imagem e para a revista Orpheu, retratada em cima da mesa. 
A obra de Pessoa pode ser dividida em dois grupos:
ORTOMÍNIA Por ortonímia compreendemos as obras assinadas com marca “Fernando Pessoa”, ou, como dizia o próprio autor, “Fernando- Pessoa- ele- mesmo”.
HETERONIMIA A heteronímia refere-se à produção do poeta assinada por personas, isto é, por máscaras ficcionais variadas e aponta para o caráter dramático da obra na pessoa.
Para o crítico literário Carlos Felipe Moisés, em Fernando Pessoa: almoxarifado de mitos, a heteronímia era um projeto literário consciente, de um modo no qual “Cada heterônimo enraizaria seu modo próprio de ser num determinado ponto de vista, responsável por uma particular concepção de mundo”.
A construção dessas máscaras era minuciosa, chegando o poeta, além de delinear a personalidade e os modos de escrita dos heterônimos, a fazer-lhes mapa astral e a simular correspondências trocadas entre eles.
Os heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa são: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
Fernando Pessoa foi um escritor em consonância com os valores antinaturalistas da geração de Orpheu. Reivindicava, como os seus companheiros de orfismo, a dinamização do cenário literário português e a criação de uma poesia para os novos tempos.
Sua poesia, desde essa fase mais inicial, é complexa e criativa. O fazer poético era, para Pessoa, um instrumento poderoso de reflexão e de questionamento. O poeta Jorge de Sena, em relação a Pessoa, afirmou: “é um indisciplinador de almas”, dado o cárater sofisticado, profundo e inquietante da obra pessoana.
Em sua fase inicial Pessoa foi influenciado pelo estilo do saudosismo, divulgado pelo poeta Teixeira de Pascoaes. Porém, julgou dever ultrapassá-lo e criou novos estilos, dentre eles se destacando o sensacionismo e o interseccionismo.
Segundo Pessoa, o sensacionismo partiria do princípio de que todo objeto é uma sensação do sujeito e toda arte uma forma de converter essa sensação em um objeto. Logo, a arte seria a conversão de uma sensação em outra sensação. O interseccionismo, por sua vez, seria um desdobramento do sensacionismo, a partir da consciência de que cada sensação é formada pela mescla de várias outras sensaçõeS
Outro ponto importante da poesia pessoanaé a presença da dialética entre a emoção e o pensamento, revelada no verso “o que em mim sente está pensando”, é um elemento importante da poesia de Pessoa. A ideia da simbiose entre o pensar e o sentir está presente em vários poemas, inclusive de heteronímia.
Dentre a obra de Pessoa, Mensagem destaca-se. Publicado em 1934, veio a ser o único livro publicado pelo autor e alude à história portuguesa e ao mito sebastianista e do Quinto Império. Ao contrário do restante da obra pessoana, Mensagem tem um tom histórico e coletivo, com o arrefecimento da subjetividade, reduzida a poucas intervenções do eu lírico. Outro peculiaridade dessa obra é o fato de ser estruturada de modo preciso, afastando a aparência fragmentada e dispersa tão comum em Pessoa.
Mensagem possui três partes: “Brasão” , “Mar português” e “Encoberto” A primeira parte, “Brasão”, divide-se em “Os campos”, “Os castelos”, “As quinas”, “A coroa” e “O timbre”. Cada uma dessas partes está ligada ao brasão do país.
Carlos Felipe Moisés afirma que nessa obra a história portuguesa aparece como “exemplo de toda a história humana – um tortuoso e enigmático desfilar de atos cegos, no encalço de uma transcendência tanto mais ansiada quanto mais inatingível. Aquilo que se vê e se sabe, da história, não passa de aparência e equívoco, espuma de superfície; seu sentido verdadeiro é indevassável, porque remonta a sua origem mítica, “o nada que é tudo””(FELIPE MOISÉS, 2005, p. 65).
Ricardo Reis é um latinista e um helenista, cuja poesia sofre grande influência de Horácio e do Epicurismo. Portanto, é um homem cujo interesse intelectual é formado pelo amor à Antiguidade Clássica e às suas orientações filosóficas e poéticas.
No poema “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”, podemos perceber o claro diálogo da obra de Reis com as referências clássicas. As duas noções - a mutabilidade do mundo e o equilíbrio – unem-se na representação do amor no poema, como uma experiência profunda, porém contida e racional.
		Em pleno clima neo-realista apareceram grupos dissidentes. Dentre eles, surgiu o Surrealismo. A opção que NÃO caracteriza o Surrealismo,é:
	
	
	
	
	
	acima da realidade
	
	
	fusão entre pintura e poesia
	
	 
	versos tradicionais e clássicos
	
	
	além da realidade
	
	 
	exclusão do controle da razão
	 Gabarito Comentado
	
	
		2.
		A criação de heterônimos é uma inovação no quadro da literatura, e permite que Fernando Pessoa construa uma obra em que atitudes, vivências e sentimentos contraditórios pudessem ser experimentados até as últimas consequências, possibilitando a elaboração de uma antítese para cada tese organizada.
Das alternativas abaixo, assinale aquela que corresponde a uma característica do heterônimo Ricardo Reis.
	
	
	
	
	
	o idealismo cristão.
	
	
	o pastoralismo.
	
	 
	o humanismo e o paganismo.
	
	 
	o cientificismo.
	
	
	a expressão da modernidade.
	
	
	
		3.
		A criação de heterônimos é uma inovação no quadro da literatura, e permite que Fernando Pessoa construa uma obra em que atitudes, vivências e sentimentos contraditórios pudessem ser experimentados até as últimas conseqüências, possibilitando a elaboração de uma antí-tese para cada tese organizada.
Das alternativas abaixo, assinale aquela que corresponde a uma característica do heterônimo Alberto Caeiro.
	
	
	
	
	
	a expressão da modernidade.
	
	
	o humanismo e o paganismo.
	
	
	o idealismo cristão
	
	
	o cientificismo.
	
	 
	o pastoralismo.
	 Gabarito Comentado
	
	
		4.
		Em Portugal, o Modernismo surgiu com uma poesia alucinada, provocadora, irritante, com o intuito maior de desestabilizar a ordem política, social e econômica reinante na época. Também influenciada pelo contexto mundial daquele período da 1ª Guerra Mundial (1914), Revolução Russa (1919) e EUA,  assumindo a alcunha de maior potência do mundo,  acompanhando as tendências de vanguarda que nasciam pela Europa, a temática artística apresentava-se com veias de inconformismo, de instabilidade, com o desejo de romper com o passado, de aderir a ideias futuristas, dando maior vida  e visibilidade ao país. A Europa como um todo vivia um momento de efervescência cultural: a realidade reinterpretada pelos artistas, a crítica aos costumes ultrapassados e a ânsia em aderir e em acompanhar os avanços tecnológicos que rompiam com conceitos já estabilizados, porém atrasados.
 
A característica que não pertence ao Futurismo, vanguarda europeia que influenciou os poetas da geração de Orpheu, é:
	
	
	
	
	
	o uso de símbolos matemáticos musicais
	
	
	o menosprezo por adjetivos e advérbios
	
	 
	gosto pelo moralismo e passado
	
	
	a destruição da sintaxe
	
	
	abolição da pontuação
	
	
	
		5.
		Fernando Pessoa tentando definir os seus própositos junto à Geração de Orpheu, em 1915,escreve:
"Criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço..., a verdadeira arte moderna tem de ser desnacionalizada- acumular dentro de si todas as partes do mundo."
 Assinale a opção que NÃO caracteriza essas ideias:
	
	
	
	
	
	Contra o burguês
	
	
	Poesia alucinada
	
	
	Arte chocante
	
	
	Poesia irreverente
	
	 
	Arte pela Arte
	 Gabarito Comentado
	 Gabarito Comentado
	
	
		6.
		Em:
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir,precisei sentir tudo,
Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me
                                                 Álvaro de Campos
O fragmento do poema acima pertence a um processo, conhecido como:
	
	
	
	
	 
	Heteronímia
	
	
	Alegoria
	
	
	Antítese
	
	
	Aura
	
	
	Símbolo
	 Gabarito Comentado

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