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CADERNO DE CIVIL IV

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CADERNO DE CIVIL IV
Profa: Raquel
	Avaliações
	1º TVC: 100 pts com peso 40 - 19/10
	2º TVC: 100 pts com peso 40 – 01/12
Arguição: 10 pts no valor do 2º TVC
	Questionário manuscrito: 100 pts com peso 20 
	Bibliografia:
- PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil.
- TEPEDINO, Gustavo. Código Civil Comentado. Vol. 2.
REVISÃO DE CONCEITOS IMPORTANTES:
PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
	Tradicionalmente os princípios são estudados como decorrentes da autonomia da vontade. São eles:
- p. da liberdade contratual: cada contratante tem a liberdade de contratar ou não e escolher o conteúdo do contrato e ainda com quem contratar.
- p. da relatividade do contrato: o contrato gera efeitos apenas entre as partes que contrataram, não afetando terceiros.
- p. da obrigatoriedade do contrato: determina que o contrato faz lei entre as partes (pacta sunt servanda) e, por isso, deve ser cumprido.
	Esse princípio traz consigo o subprincípio da intangibilidade, segundo o qual, como o contrato decorre da liberdade, não pode ser tocado pelo Estado (juiz). A intangibilidade, portanto, impede a revisão do contrato pelo Estado. Por isso, se um contrato se tornar desequilibrado, deveria ser extinto por impossibilidade no seu cumprimento, o Estado não poderia interferir para equilibrá-lo.
	Esse era o contexto do liberalismo, em que a esfera privada era distante da pública.
	Os três princípios não deixaram de existir, porém foram relativizados e novos princípios foram agregados. A partir do momento em que surge a preocupação com a pessoa do sujeito (já que os abusos começaram a ser mais freqüentes), o Estado começa a pensar que a sua posição apartada da esfera contratual não mais atende à necessidade pública.
	Diante disso, surgem outros princípios conjuntos a esses três já existentes. 
	O p. da liberdade contratual deve ser analisado sob o ponto de vista material, e não só pelo lado formal. Assim, junto ao p. da liberdade contratual, surge o p. da boa-fé objetiva, que obriga que a relação entre credor e devedor seja de coordenação, lealdade, honestidade. A boa-fé cria deveres anexos, que tentam equilibrar a relação sob o aspecto material. São deveres anexos: lealdade, informação, honestidade, veracidade, cooperação, etc..
	Além disso, a lógica da relatividade do contrato é própria dos direitos pessoais e não dos reais, que estabelecem oponibilidade erga omnes. Assim, quando se busca entender o contrato dentro da lógica social, percebe-se que a relatividade estanca (engessa) o contrato fora de seu contexto. Surge o p. da função social, que determina que o contrato gera efeitos entre as partes e pode também gerar efeitos frente a terceiros, de modo que estes não interfiram na relação. Não se pode permitir que terceiros ajudem na quebra do contrato pelas partes. Isso porque o tradicional p. da relatividade (absoluta) não consegue a responsabilização dos terceiros.
	O p. da obrigatoriedade do contrato sofreu também uma complementação do p. do equilíbrio econômico do contrato e do p. da conservação dos negócios jurídicos. Diante da necessidade de se verificar o interesse dos contratantes, percebeu-se que a situação de extinguir ou não mudar prejudica as partes. Constatava-se com freqüência que as pessoas preferiam continuar celebrando o contrato, mesmo havendo desequilíbrio, ao invés de extinguirem. Daí surgiu a necessidade de flexibilizar a solução dada aos casos de desequilíbrio, que era a resolução, permitindo a revisão contratual. 
	O p. do equilíbrio econômico do contrato determina que os prejuízos econômicos devem ser suportados por ambas as partes, evitando uma desigualdade material. Assim, para manter o equilíbrio econômico de um contrato, permite-se que este seja revisto, garantindo a igualdade material. 
	O p. da conservação dos negócios jurídicos determina que deve-se buscar ao máximo a continuidade do negócio, apenas em última hipótese é que há a sua extinção. Está previsto no par. 2º, art. 51, CDC. Se, por ex, advir um fato superveniente que cause onerosidade excessiva superveniente, uma saída possível é a resolução do contrato (art. 478, CC). Contudo, a extinção não satisfaz o interesse das partes de obterem a prestação e, por isso, seja mais vantajoso o reequilíbrio das prestações ao invés da resolução do contrato. 
	Assim, o Estado pode, diante de uma relação contratual em desequilíbrio, revisar ou até mesmo substituir cláusulas contratuais com o intuito de assegurar a igualdade e a liberdade material dos contratantes.
	Os três princípios foram relativizados para que a autonomia atue em nome de uma igualdade, liberdade, cada vez mais material, e não meramente formal.
Inadimplemento
Inadimplemento:	- absoluto
Prestação + Correção + Juros de mora + pena			- relativo = mora:	- resolução 
						- execução
	O direito contratual só se torna útil frente às patologias. Se todos os contratos fossem cumpridos corretamente, respeitando-se a liberdade e a igualdade contratuais, não haveria necessidade da intervenção do direito. Entretanto, não é isso que ocorre na prática, necessitando da regulação pelo direito.
	O inadimplemento pode ser absoluto ou relativo (=mora). 
	O inadimplemento absoluto ocorre quando o cumprimento não é mais útil ao credor, já que não cumprido no tempo, modo ou lugar devidos. 
	O inadimplemento relativo consiste na mora, que é o cumprimento da obrigação fora do lugar, modo (ex: bem defeituoso) ou tempo devidos. Na mora a prestação ainda é útil ao credor, pois se não o for, ter-se-á o inadimplemento absoluto. Pode-se considerar como mora o cumprimento retardado ou imperfeito da obrigação.
Consequências do inadimplemento
	No caso do inadimplemento absoluto, as consequências são principalmente a extinção do contrato (resolução) e o pagamento de perdas e danos.
	Quando, porém, o inadimplemento for relativo, os remédios cabíveis ao credor são a execução do contrato ou pode pedir a resolução, se por ex, não for mais viável a execução, mesmo que inicialmente o tenha sido. Se o credor promove a execução, pode cobrar a prestação devida junto com a correção monetária pelo índice eleito no contrato e, ainda, juros de mora.
	A função dos juros de mora é pré-fixar perdas e danos, ou seja, indenizar a parte. Esses juros são de 1% ao mês, 12% ao ano, segundo o art. 406, CC. Os juros legais se aplicam a qualquer situação de mora. Esse valor é o teto que o CC estabelece na omissão das partes. 
	Há ainda outra figura: a multa (também chamada de cláusula penal). Cada instituto tem seu objetivo e a multa deve ser prevista contratualmente sob pena de não ser aplicada. O CDC diz que a multa não pode ultrapassar 2%.
	Em caso de inadimplemento relativo, pode-se pedir indenização suplementar se os juros não cobrirem totalmente o valor dos prejuízos e não havendo multa estipulada (art. 404, CC).
	Caso o credor decida não executar, mas resolver o contrato, no caso do inadimplemento relativo ou ainda no caso da resolução por inadimplemento absoluto, a primeira consequência é a extinção do vínculo contratual. Além disso, cabe perdas e danos, desde que comprovado o prejuízo judicialmente ou se valendo da multa compensatória, que tem a função cabível aos juros de mora, a de pré-fixar as perdas e danos decorrentes do inadimplemento absoluto. 
	A grande vantagem da cláusula penal (multa) é não ter o ônus de mostrar o efetivo prejuízo, o que concretiza o p. da abstração. Uma vez inserida no contrato e havendo o inadimplemento, a cláusula penal opera-se ipso iure.
	Falta ainda observar a função punitiva (que no inadimplemento relativo é da multa moratória). Essa função é embutida na multa compensatória que passa a ter 2 funções. Pode-se pedir perdas e danos suplementares se o contrato prever uma cláusula, se a multa não cobrir o efetivo prejuízo (art. 416, caput e par. único, CC).
	Importante ressaltar que no art. 413, CC o legislador trouxe a possibilidade de o juiz reduzir por equidade uma multa abusiva, levando em contaas circunstâncias do caso. Tem-se uma cláusula geral que precisa do caso concreto. 
	Ex: locação – multa se o inquilino romper o contrato, que seja por ex o valor de todos os alugueis faltantes. A jurisprudência reduz multa a um valor proporcional ao inadimplemento.
Extinção dos contratos
	A primeira forma de extinção é a resolução por inadimplemento, que gera perdas e danos, geralmente associada ao descumprimento culposo. No caso de ausência de culpa (caso fortuito ou forçar maior) ocorre a extinção ipso iure do contrato e não há perdas e danos. 
	Outra hipótese de resolução é a resilição. O CC diferencia resilição de resolução. Trata na extinção do contrato da resolução, nos arts. 472 e subseqüentes o CC ora se refere a resolução, ora a resilição. Quando se fala em resilição, trata-se de hipóteses de extinção voluntária, como também entende a doutrina. A resilição pode ser unilateral ou bilateral (distrato).
	A resilição unilateral é excepcional, pois pode violar a força obrigatória (p. da obrigatoriedade dos contratos). Pode-se utilizá-la quando a lei permite ou as partes estabelecem (sinônimo de resilição = denúncia). Em situações que os contratos vigorarem por tempo indeterminado sempre cabe resilição unilateral, porque não é lógico obrigar os contratantes a manter o vinculo contratual eternamente, o que fere a liberdade contratual.
	Outra forma de extinção é a chamada resilição bilateral (= distrato). É hipótese de resilição porque se dá por vontade e ela é possível se o contrato ainda está em vigor.
	Outra forma é a resolução por excessiva onerosidade. Ela é prevista no art. 478, CC, que adota a teoria da imprevisão no que diz respeito à onerosidade excessiva. Segundo esta teoria, a onerosidade excessiva superveniente só permite a resolução do contrato sem perdas e danos desde que o fato seja extraordinário, imprevisível.
Revisão dos contratos
	Segundo o CC, ensejam a possibilidade de revisão dos contratos: desequilíbrio contratual e onerosidade excessiva. O CDC inclui mais uma possibilidade nos casos de relação de consumo: a cláusula abusiva.
	Para se falar em revisão é preciso provar um desequilíbrio que nasce junto com o contrato (lesão ou estado de perigo). 
	Na lesão há um estado de necessidade e o outro contratante se vale disso. Ex: enchente. A lesão está previsto no art. 157, CC.
	O estado de perigo é semelhante, mas há um elemento da intenção, necessidade de salvar a si ou terceiro de perigo atual ou iminente. O estado de perigo está previsto no art. 156, CC.
	Esses vícios geram a anulabilidade do contrato (art. 171, II, CC).
	As cláusulas abusivas também são formas de desequilíbrio concomitante à formação do contrato. Pelo art. 51, CDC, a cláusula é nula, ou seja, considera não escrita. 
	Essa cláusula fora das relações de consumo pode ser considerada ineficaz e ensejar a revisão dos contratos. Apesar de não estar prevista no CC, é possível enquadrar a conduta como ato ilícito (art. 187, CC), que tem como consequência reparação de dano.
	A lesão e estado de perigo, a princípio, não geram revisão, apenas as cláusulas abusivas, pois no caso deles só ocorre a revisão contratual se houver consentimento da outra parte.
	Fatores supervenientes também podem gerar desequilíbrio contratual e, consequentemente, resolução ou revisão.
	No âmbito do CDC, se ocorrer fato superveniente que desequilibre a relação, uma vez demonstrado a onerosidade em cumprir a obrigação, dá azo a revisão do contrato ou a resolução, pois, no âmbito do CDC, vige a “teoria da onerosidade excessiva objetiva”. O elemento subjetivo é irrelevante, ou seja, não é necessário o fato superveniente tenha sido imprevisível. Basta o consumidor provar que a relação tornou-se onerosa.
	Se não for relação de consumo (CC), aplica-se a “teoria revisionista da imprevisão” (art. 478, CC), que exige que a onerosidade tenha sido imprevisível. Se previsível, houve risco e não se pode reclamar.
CONTRATOS EM ESPÉCIE
CONTRATO DE COMPRA E VENDA
Origem histórica 
	Só é possível haver compra e venda a partir do momento em que há uma unidade monetária, ou seja, a partir do surgimento da moeda. Antes disso, as pessoas se utilizavam da troca, escambo. 
	Com o surgimento da moeda, passaram a se valer tanto do contrato de permuta quanto do contrato de compra e venda. Assim, o contrato de permuta tem como característica essencial o pagamento de preço ser feito por troca de bens, ao passo que na compra e venda o pagamento de preço é pecuniário. Ambos recebem o mesmo tratamento no CC.
Conceito – art. 481, CC (art. 1.245, par. 1º e art. 1.267, CC)
- Conceito legal do contrato de compra e venda está previsto no art. 481, CC.
- Conceito doutrinário: “é o contrato em que uma pessoa (vendedor) se obriga a transferir a outra pessoa (comprador) o domínio de uma coisa corpórea ou incorpórea, mediante o pagamento de certo preço em dinheiro ou valor fiduciário correspondente”.
 	Valor fiduciário é um título (papel) que representa um valor pecuniário. Isso não descaracteriza a pecuniariedade exigida para o contrato de compra e venda.
	A partir do conceito, nota-se que a transferência do domínio não se dá por si só pelo contrato de compra e venda, pois no nosso ordenamento este não tem o condão de transferir o domínio. Ele apenas gera a obrigação dessa transferência, a qual se dá através do registro imobiliário (se for imóvel) ou através da tradição (bem móvel).
	O domínio (propriedade) só se efetiva no momento em que houver o registro imobiliário. Assim, o contrato de compra e venda só gera o efeito entre as partes de cumprir a obrigação de transferir o domínio.
	Assim, por ex, se eu compro um carro, pago o valor, mas não recebo o carro (tradição), não possuo domínio. 
	OBS: A transferência no DETRAN é meramente declaratória.
	O registro imobiliário é constitutivo. Ou seja, só a partir dele é que se transfere a propriedade – art. 1.245, CC.
	Essa compreensão supre dúvidas recorrentes. Muitas vezes, as pessoas fazem contratos de compra e venda de imóvel e o comprador não faz o registro. Anos depois, o vendedor morre e não se encontra os herdeiros, aí não há como fazer a outorga de transferência do domínio por registro. Resta apenas ao comprador a possibilidade de transferência por usucapião, o que dará trabalho, pois o comprador terá que entrar como uma ação de usucapião. 
	O instrumento particular (contrato de compra e venda) não transfere o domínio. É preciso o instrumento público (registro). 
	Há situações fáticas problemáticas. Ex: José vende para Maria, que vende para João, que vende para Pedro. Se nenhum fez o registro, teoricamente ninguém poderia dispor da propriedade, pois ninguém senão José era dono.
	Em outros ordenamentos, o contrato por si só transfere o domínio, sendo o registro apenas declaratório.
	O registro serve basicamente para conferir publicidade, conferir oponibilidade erga omnes. Assim, em caso de compra de imóvel, o comprador deve ir ao cartório, podendo analisar se está tudo certo, se o imóvel realmente é de domínio do vendedor. 
	Se o vendedor morre, os herdeiros ou o espólio podem fazer a transferência do domínio. 
	Registro imobiliário quer dizer registro de bens imóveis, feito no Cartório de Registro de Imóveis. 
	Se eu faço um contrato de compra e venda por instrumento particular (ou seja, só gera efeitos entre as partes, não tendo oponibilidade erga omnes), no caso de imóvel, o CC exige, para a efetiva transferência do domínio, o registro. Mas antes do registro, é preciso fazer outra formalidade: lavratura da escritura pública. 
	Isso porque é a escritura pública que se faz o registro imobiliário. A escritura pública é feita no Cartório de Notas. Não é neste que se dá publicidade, isso porque esses cartórios existem no Brasil inteiro aos milhares. Assim, como cada um é independente, não é possível faticamente que a pessoa procure em todos os cartórios de notas. Assim, o cartório de registro de imóveis possui um sistema nacional unificado, possibilitandoa publicidade.
	A escritura pública consiste na celebração formal do contrato feito por instrumento particular mediante a presença de oficial de cartório, testemunhas, com reconhecimento de firma no ato.
	A necessidade de fazer a escritura pública surgiu em virtude da nossa cultura jurídica em dar mais fidedignidade ao contrato celebrado entre as partes.
	A escritura pública é exigida para imóveis com valor superior a 30 salários mínimos (art. 108, CC).
	OBS: - cartório de registro civil de pessoas naturais – certidão de nascimento, de óbito.
- Juntas comerciais – pessoas jurídicas revestidas de empresarialidade.
- Cartório de registro de pessoas jurídicas e cartório de títulos e documentos – 
- Cartório de protesto - funciona para deixar sujo o nome da pessoa que não paga. Tecnicamente, a pessoa protesta o título que a contraparte não pagou.
- Cartório de Notas
- Cartório de Registro Imobiliário
Características (arts. 482, 483, 458, CC)
	Vejamos as características do contrato de compra e venda.
	Quando à formação, os negócios jurídicos se dividem em: unilaterais e bilaterais. Unilateral é aquele que basta a manifestação de uma única pessoa para se formar (ex: testamento). Bilateral é aquele que precisa o ajuste das manifestações das partes.
	O contrato, qualquer que seja sua espécie, será sempre bilateral (quanto a sua formação).
	Quanto aos seus efeitos, os contratos podem ser unilaterais ou bilaterais. Unilateral é aquele que gera obrigações para apenas uma das partes. Bilateral é aquele que gera obrigação para ambas as partes. 
	Aqui temos que prestar atenção não apenas se o contrato gera obrigação para ambas as partes ou para uma só, pois todo contrato gera necessariamente obrigação para ambas as partes. Temos que reler a relação obrigacional de forma complexa, dinâmica, de forma que sempre ambas as partes terão obrigações, decorrentes da boa-fé objetiva (dever de lealdade, informação, etc.).
	Essa classificação baseia-se na prestação e contraprestação principais. Essas prestações têm que ser ligadas entre si por um nexo de sinalagmidade ou de correspectividade. Uma é tão intrinsecamente ligada à outra que o descumprimento de uma, autoriza a outra parte valer-se, por ex, do remédio da exceção de contrato não cumprido. O não cumprimento da prestação pode até mesmo possibilitar a extinção do contrato (remédio da resolução com perdas e danos). Além disso, é possível a evicção. Ou seja, nota-se o nexo de sinalagmidade quando a pessoa faz o contrato pensando na contraprestação.
	Existem contratos que são unilaterais com relação às obrigações que eles trazem. Ex: eu posso doar um terreno para uma instituição, sob o encargo de construir uma creche. Esse encargo não é contraprestação (não é obrigação principal, contraprestação), é um elemento acidental do negócio jurídico. Esse contrato será unilateral. Não há aqui um nexo de correspectividade entre a prestação e a contraprestação. Nesse caso, não é possível exceção de contrato não cumprido (a transferência da coisa já ocorreu). A doação, na sua formação, é um contrato bilateral (a pessoa tem que aceitar).
	A compra e venda é sempre um contrato bilateral. Desse modo, é cabível ao credor os remédios da exceção de contrato não cumprido, a resolução por perdas e danos, admite-se a cláusula resolutiva tácita, etc..
	Um contrato pode ser gratuito ou oneroso. Oneroso é aquele que traz vantagem para ambas as partes. Gratuito, aquele que traz vantagem para apenas uma das partes. O contrato de compra e venda é oneroso.
	Um contrato pode ser real ou consensual. Consensual é aquele cuja formação depende apenas do ajuste, do consenso, não depende, por ex, da tradição. Real é aquele cuja formação depende da entrega da coisa. 
	O contrato de compra e venda é consensual. 
	Ex 1: contrato de compra e venda de coisa futura. Nele a tradição da coisa não é necessária para a formação do contrato. Ela é apenas importante na execução da coisa.
	Ex 2: contrato de depósito – deixo meu veículo para guardar num estacionamento. Só haverá depósito quando efetivamente houver a entrega da coisa. Assim, o contrato de dtraepósito é contrato real.
	Um contrato pode ser comutativo ou aleatório. Comutativo é aquele em que as prestações já são previamente conhecidas pelos contratantes. Ex: vendo um carro por R$30 mil – eu já sei o bem e o preço. Nos contratos aleatórios, existe uma álea (risco), que permite, por ex, que um contratante assume o risco se ele terá a contraprestação ou não.
	Existem contratos aleatórios de 2 tipos: “emptio spei” (venda de esperança) e “emptio re sperate” (venda de coisa esperada).
	Ex de contrato “emptio spei”: eu comprei uma safra de uva raríssima por R$1 milhão. Mesmo que não de um cacho de uva, vou ter que pagar R$1 milhão. Eu corro o risco da coisa não vir a existir. Esse tipo de contrato diz respeito a existência ou não da coisa. O comprador assume o risco sobre a existência. 
	Ex de contrato “emptio re sperate”: eu vou comprar 1t de uva por R$1 milhão. Se der ½t, eu tenho que pagar R$1 milhão. Aqui não é quanto à existência, mas quanto à quantidade. Se a coisa não vier a existir, eu não tenho que pagar o preço. No contrato, cabe um juízo de razoabilidade (por ex: se deu apenas 10 cachos de uva, o juiz pode decidir que inexistiu a safra).
	A cláusula de aleatoriedade deve ser expressa no contrato. Se as partes não disserem nada, em regra, o contrato é comutativo.
	No contrato comutativo, tem-se que analisar se há culpa dos contratantes no inadimplemento. 
	Via de regra, portanto, o contrato de compra e venda é comutativo.
	Um contrato pode ser formal ou informal. Formal é aquele cuja forma está prescrita em lei, como requisito de validade do contrato. Informal é aquele que não tem forma prescrita em lei.
	Normalmente o contrato de compra e venda é informal, ou seja, não há forma prescrita em lei. 
	A lei somente prescreve forma para contrato de compra e venda de bens imóveis que superem o valor de 30 salários-mínimos, de acordo com o art. 108, CC.
	Contrato de compra e venda
	Quanto à formação
	Bilateral
	Quanto aos efeitos
	Bilateral
Oneroso
Consensual
Comutativo ou aleatório
Informal ou formal (art. 108, CC)
Elementos essenciais
	Temos 3 elementos: coisa, preço e consentimento.
4.1) coisa (“res”)
	
	Todo negócio jurídico tem que ter agente, objeto e forma. 
	Agente diz respeito às partes. 
	A coisa é o objeto do negócio jurídico. Podem ser coisas bens móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos (ex: ações, direitos autorais, etc.). 
	- existência (art. 426, CC)
	O primeiro ponto a se observar é a existência da coisa. Essa existência pode ser atual ou futura. 
	No caso de compra e venda em que a entrega é futura, se a coisa não vier a existir, tem que analisar o motivo: se foi por culpa, é inadimplemento (cabe resolução com perdas e danos, exceção de contrato não cumprido, etc.); se não foi por culpa, é causa de extinção para ambas as partes.
CC, art. 426 - Diz que é nula a compra e venda de herança de pessoa viva. Ex: o filho não pode vender a parte que lhe será de direito, se seus pais ainda estão vivos.
	- individuação (art. 484, CC – “amostra”) 
	O segundo ponto é que haja a individuação da coisa. O objeto precisa ser determinado, delimitado. Isso não impede que se faça compra e venda de gênero, de protótipo (modelo).
	Segundo o art. 484, CC, o modelo ofertado para o contrato de compra e venda prevalece sobre qualquer cláusula contratual.
- disponibilidade
	A disponibilidade das coisas deve ser natural, legal e voluntária. Não pode haver indisponibilidade. 
- Indisponibilidade natural: venda da lua, chuva, ar. 
- Indisponibilidade legal: venda de bens públicos. 
- Indisponibilidade voluntária: quando o doador faz um contrato de doação, ele pode redigi-lo com uma cláusula de inalienabilidade. Essa cláusula só pode ser quebrada judicialmente, com uma justificativa razoável perante o juiz, demonstrando que a inalienabilidade seja favorávela pessoa que recebeu a coisa.
	- o problema da venda “a non domino” (v. art. 1.268, par. 1º, CC)
	Existem bens que muitas vezes são objetos de compra e venda, mas que na verdade o vendedor não é o real proprietário (“compra e venda fajuta”).
	Venda a non domino são vendas por pessoas que não são as reais proprietárias.	
	Existe discussão sobre a natureza da venda a non domino, se ela é inexistente, nula ou anulável.
	A tese da inexistência não é defensável. Isso porque ela teve agentes, objeto e forma. Ela até pode gerar efeitos. Por ex, ela transfere a posse. 
	A tese da nulidade também não é defensável. Isso porque os atos nulos não convalescem com o tempo. Ex: compra e venda de bem imóvel – se a pessoa comprou um bem de uma pessoa que não é o real vendedor, mas posteriormente ela adquire a propriedade por usucapião ou mediante instrumento público do real proprietário, a venda a non domino será ratificada. 
	Assim, essa venda pode convalescer, o proprietário originário pode validar o ato nulo. Se for admitido o convalescimento, ela não poderia ser nula e nem inexistente, mas só restaria aceitar que a venda a non domino só pode ser anulável. Esse ato pode ser anulado por alguém que seja interessado (proprietário, herdeiros, etc.). Este é o entendimento da professora.
4.2) preço (“pretium”)
	- pecuniariedade (art. 481; 318, CC) ≠ dação em pagamento 
	A compra e venda depende da pecuniariedade, que pode ser representada por dinheiro ou papel.
	Não se pode desde a origem do contrato aceitar um pagamento mediante um objeto – dação em pagamento –, o que caracterizaria a permuta e não a compra e venda. Depois de formado o contrato, é possível dar um bem como pagamento, desde que o valor pecuniário seja substancialmente quitado.
	Posso pagar o preço mediante barras de ouro ou moeda estrangeira? Isso descaracteriza a pecuniariedade? O art. 318, CC diz que são nulas as cláusulas de pagamento que determinam o pagamento mediante ouro ou moeda estrangeira, salvo quando lei especial permitir.
	Assim, por ex, em comércios internacionais, é comum contratos de compra e venda que tenham moeda estrangeira. Mas, internamente, não é admitido, para evitar a onerosidade excessiva, em virtude da (des)valorização da moeda. 
	Na prática, se houver um contrato que preveja moeda estrangeira ou ouro, o contratante deve ter em mente que é possível a revisão contratual, com base no desequilíbrio do contrato. Isso porque a cláusula é nula, mas até que esta seja declarada, ela gera efeitos. É um risco para aqueles que façam contratos assim.
	
	OBS: cláusula rebus sic standibus – admite a possibilidade de alguém alegar que o equilíbrio do contrato previsto anteriormente foi quebrado, gerando a necessidade de sua revisão. Essa cláusula explica a teoria da imprevisão – adotada pelo CC –, segundo a qual é possível a revisão do contrato com o intuito de equilibrá-lo em virtude de um fato superveniente imprevisível. 
O CDC não adota a teoria da imprevisão, mas sim a teoria da onerosidade excessiva, de forma que, independentemente do fato superveniente ser imprevisível, o consumidor poderá se valer da revisão contratual caso haja um desequilíbrio no contrato.
	- seriedade 
	O contrato deve ter um preço sério. Não pode ser um preço irrisório, sob pena de se camuflar uma doação.
	Dizer que o preço deve ser sério não quer dizer que o preço seja justo. O preço deve refletir, razoavelmente, o mínimo conteúdo econômico do contrato.
	Ex: digamos que um apartamento vale R$200.000,00, mas, na prática, as pessoas só pagam R$150.000,00. O preço justo é o primeiro, mas o segundo será o sério, razoável.
	Em regra, portanto, o preço deve ser sério, não confundindo com preço justo. 
	Excepcionalmente, pode-se admitir o preço justo como causa de nulidade do contrato, por ex, quando se tem vício de consentimento.
	Ex: hipótese de lesão (o contratante se vale do estado de necessidade do outro e estipula um valor muito maior do que efetivamente vale). Nessa hipótese, a injustiça do preço pode gerar a anulabilidade do contrato. É a única possibilidade que se admite que a justiça seja revisora do contrato para manter o equilíbrio.
	Não se pode simular uma doação por meio de uma compra e venda. Isso porque o comprador paga impostos diferentes dos donatários. Mas o motivo principal é que a doação muitas vezes configura fraude contra credores (art. 158, CC).
	A fraude contra credores gera a anulabilidade do ato de alienação (art. 171, II, CC). Se for uma alienação onerosa, precisa provar a insolvência do devedor e também a má-fé do terceiro comprador, pois tinha conhecimento da situação econômica de insolvência do vendedor.
	Por outro lado, os credores que se sentirem prejudicados, bastam para eles provar que a doação agrava a insolvência do devedor (vendedor). Não precisa mostrar a má-fé do terceiro.	Assim, a doação é muito mais fácil de ser anulada do que a compra e venda. 
	A simulação de negocio jurídico é causa de nulidade (art. 157, CC). Além disso, pode ter o intuito de fraude contra credores.
	OBS: ITCD – imposto de transmissão causa mortis ou doação
ITBI – imposto sobre compra e venda
	- certeza (arts. 482 a 489, CC)
	O preço tem que ser certo, determinado.
	Essa certeza pode se dar de diversas maneiras. A mais comum é o ajuste de vontades, ou seja, as partes combinam o preço para o contrato.
	É possível também que pelo fato das partes não terem conhecimento sobre o contrato, elas nomeiem um terceiro que determinará o preço das prestações. 
	Ex: compra e venda de um quadro de Picasso.
	
	Outra forma: bens de primeira necessidade, produtos de cesta básica, produtos que tem tarifamento do governo. Pode ser que o preço tenha determinação legal. Ex: quando pego um ônibus, não há ajuste, mas o preço é aquele pré-estabelecido pela prefeitura.
	
	Outra forma seria com base em parâmetros referenciais variáveis. Ex: eu posso comprar uma fazenda com base no valor do alqueire; eu posso comprar café segundo o preço da tabela de uma instituição tal; eu posso fazer uma compra e venda com base no parâmetro da bolsa de valores, etc.. 
	É importante que esse parâmetro seja corretamente determinado, fixando-se a instituição correta, o local, o dia que se tem como parâmetro, etc.. Isso com o intuito de evitar o desequilíbrio das prestações. A cláusula não pode ser aberta. Apesar de não ser muito usual, pode o parâmetro não ter correlação com a obrigação.
	Discute-se se há a possibilidade de se estabelecer índices de reajuste de preço de um contrato. Trata-se da correção monetária, que reflete sobre a prestação o impacto inflacionário que sofreu a economia.
	Ex: dono de uma construtora faz um contrato de compra e venda no qual promete entregar o imóvel depois de 5 anos. Nesse tempo, os materiais sofreram reajustes em virtude da inflação. É possível a correção monetária, neste caso, de acordo com o INCC (índice nacional da construção civil).
	OBS: IGPM (divulgados pela FGV) – índice geral sobre produtos manufaturados
	Os reajustes serão possíveis nos contratos a prazo. Não faz sentido falar em reajuste nos contratos de prestação imediata.
	Antes as pessoas utilizavam dos índices de reajuste de preço de forma livre. Hoje, porém, o reajuste de preços nos contratos é limitado, de acordo com a lei do plano real – lei 9.069/1995.
	Requisito para a incidência de reajuste de preço:
		1 – contrato tem que ter duração maior que 1 ano; e
		2 – a periodicidade do contrato tem que ser anual.
	
	Assim, por ex, se tiver contrato de locação, só é possível o reajuste de preço se o contrato tiver um tempo mínimo 1 ano.
	A lei do plano real prevê exceções a esses requisitos.
	É possível determinar que o preço seja determinado segundo os valores habituais do mercado. Isso ocorre, normalmente, em compra e venda de bens móveis fungíveis. Essa possibilidade está previsto no art. 488, CC.
	Ex: grande indústria que compra o pãozinho na padaria. Não se vai estabelecer um preço todavez que for feita a compra e venda, mas o que vale é o valor do pão praticado no mercado. 	
	Os requisitos são: bens móveis, fungíveis e vendas habituais.
Acessórios do preço – art. 490, CC
	São elementos que não estão dentro do preço, mas que são acessórios ao bem e que geram alguns custos.
	Ex: quando eu compro um imóvel por R$100.000,00, não está incluído o custo para a lavratura da escritura pública.
	O art. 490, CC determina as divisões dos custos dos acessórios do preço: as despesas de escritura e registro ficam a cargo do comprador, e a cargo do vendedor, as da tradição.
	A regra do art. 490 pode ser excepcionada por acordo das partes.
4.3) Consentimento
	Consentimento e consenso são elementos de todos os negócios jurídicos.
	Na compra e venda todas as pessoas que tem capacidade de direito, e alguns casos de capacidade de fato, tem aptidão para os atos da vida civil. Na compra e venda tem-se algumas restrições para o ato.
- incapazes: arts. 1691; 1748, IV, CC.
	Ex: incapaz herdou um carro do seu pai. Ele pode vender o bem desde que os pais o representem e haja autorização judicial.
	Os pais têm o poder-dever de administrar os bens dos filhos. Mas eles tendem a administrar segundo os seus interesses pessoais, e não pensando nos interesses do menor.
	A interferência judicial é importante para analisar se administração dos pais está feita em consonância com os interesses do menor. Isso está previsto no art. 1691, CC.
	Bens móveis não precisam da interferência judicial, mas apenas os imóveis.
	
	Se for incapacidade decorrente de interdição, será o curador que o representará. Se for menor sem pais, será o tutor. Curador e tutor não podem alienar os bens dos representados e assistidos. Neste caso, eles não podem alienar qualquer bem, móvel ou imóvel, senão com a autorização judicial – art. 497, CC.
	OBS: “Conduta social típica tolerada” – o ordenamento entende que os atos de compra e venda de bens móveis de pequeno valor são tolerados socialmente. Eles não violam nenhum interesse público. Assim, esses atos não são nulos. Eles são exceções a necessidade de representação dos incapazes por tutor ou curador.
- venda de ascendente a descendente: art. 496 (v. 164 e 1647, I), CC.
	Ex: pai pode vender bens para seus filhos? Ele pode vender tudo que quiser, mas há condições legais.
	Venda de ascendente a descendente tem as mesmas características da compra e venda normal. Por isso, o pai pode vender tudo que tem para o filho. A única exceção é a necessidade dos demais descendentes consentirem com a alienação. Isso porque pode o pai mascarar uma compra e venda por meio de uma doação, o que geraria prejuízo para o patrimônio dos herdeiros. 
	Nenhuma pessoa pode doar mais que 50% de seu patrimônio, independentemente se existem ou não herdeiros. Isso caracteriza desfalque patrimonial.
	Se não for séria, a venda de ascendente a descendente configura desfalque patrimonial.
	Em contratos onerosos, pode-se dispor todo o patrimônio desde que haja o consentimento dos outros descendentes. 
	A compra e venda que não atender os requisitos é anulável – art. 496, CC.
Requisitos:
1 – não houve o consentimento; e
2 – a compra e venda não foi séria.
	De acordo com o art. 1647, CC, em geral, o cônjuge precisa de autorização do outro caso o regime de bens não seja o de separação absoluta de bens (voluntária ou obrigatória – art. 1641, CC). Caso o regime seja de comunhão ou separação parcial, é necessária a autorização. Só é dispensável a autorização quando casado por regime de separação absoluta de bens.
	Não obstante essa previsão legal, o art. 496, CC diz que a venda de ascendente para descendente só precisa da autorização do outro cônjuge quando o regime for o de separação obrigatória de bens. 
	Se for união estável, não precisa da autorização do outro cônjuge, exceto se o bem for dos dois (eles são condôminos). Apesar da tentativa de se dar à união estável o mesmo tratamento do casamento, não há como, nesse caso, permitir que o companheiro precise dar autorização ao outro. 
	
Anulável: art. 179, CC - 2 anos
- impedimentos: art. 497
	Algumas pessoas estão impedidas de realizarem contrato de compra e venda, conforme obriga o art. 497, CC.
- venda entre cônjuges: art. 499
	Um cônjuge pode vender para o outro dependendo do regime de bens:
- se o regime for de comunhão total – não tem como a venda de bens entre cônjuges.
- se o regime for de comunhão parcial – é possível desde que o contrato verse sobre bens possuídos antes do casamento e os bens adquiridos por herança ou doação. Neste caso, é possível a venda do bem para o outro. Se forem bens comuns, não pode. Se forem bens próprios, pode.
- venda em condomínio: art. 504
	Imagine uma propriedade indivisível que pode ter vários condôminos. Toda vez que um condômino quiser vender (no caso de bens indivisíveis) sua parte, deve dar preferência ao outro condômino. Se isso não for feito, o prejudicado pode entrar com ação de adjudicação compulsória, prevista no art. 504, CC. requerendo a anulação do contrato. Se não o fizer dentro do prazo de 180 dias, ocorre a decadência. O terceiro será indenizado pelo condômino faltoso.
	É preciso o consentimento do condômino para que ocorra a alienação? Não. Se ele não quis comprar, a pessoa pode vender para terceiro, desde que tenha dado o direito de preferência de compra ao(s) condômino(s).
	???? Resolução de coisa comum. Ex: 2 irmãos tem um bem indivisível em comum. Se um quiser vender, o outro tem preferência. Se não quiser comprar, vende o bem e divide o dinheiro – art. 1.322, CC ????
Efeitos
- interligação funcional das prestações – art. 491, 495 (477)
	A compra e venda é um contrato bilateral, ou seja, existe correspectividade entre prestação e contraprestação, de modo que o descumprimento de uma enseja a possibilidade de não cumprimento da outra, através da exceção de contrato não cumprido. Essa bilateralidade gera o chamado p. da interligação funcional da prestação.
	As consequências estão na parte geral e, especificadamente na compra e venda, no art. 491, CC.
	Se a venda não é a prazo, ela é instantânea. O vendedor não é obrigado a entregar primeiro a coisa, mas ao mesmo tempo em que o comprado lhe dá o preço.
	Quando a venda é a prazo, a regra é que o vendedor entregue primeiro a coisa e depois haja o pagamento. Mas as partes podem estipular ao contrário. A regra do art. 491 é dispositiva.
	Quando temos prestações sucessivas, é mais fácil perceber a exceção de contrato não cumprido. Isso porque uma parte pode deixar de cumprir uma prestação se a outra parte não cumpriu a prestação anterior que lhe cabia.
	Quando temos prestações simultâneas, também é possível arguir exceção de contrato não cumprido. Mas é raro de acontecer. Isso porque o art. 491, CC prevê que a entrega é instantânea. 
	Ex: eu estou no balcão de uma loja de roupa e a pessoa não me entrega, embora seja possível alegar a exceção de contrato não cumprido, é um formalismo exagerado, o que vai acontecer, na prática, é que o eu deixo de pagar. 
	Quando existem obrigações simultâneas e obrigações sucessivas é possível que o contratante que deve cumprir a prestação em primeiro lugar alegue exceção de contrato não cumprido, em caso de ficar demonstrado que chegado o termo da contraprestação, há um risco de descumprimento. 
	Ex: insolvência da outra parte – art. 495, CC. Trata-se de uma exceção de contrato não cumprido invertida. O dispositivo prevê que o vendedor poderá obstar a entrega da coisa até que o comprador ofereça garantia que lhe pagará.
	Inadimplemento antecipado x risco do inadimplemento das obrigações.
	Risco de descumprimento tem indícios sérios de que a parte não cumprirá sua obrigação. 
Há, todavia, casos em que não há a probabilidade, mas a certeza de que a parte não cumprirá. 
Ex: eu compro um imóvel de uma construtora, que fica obrigada a me entregá-lo daqui a 2 anos. Digamos que já se passaram um ano e meio e o prédio não começounem a ser construído. Faticamente é impossível a entrega no termo avençado. Assim, o comprador concluiu que não há o mero risco de inadimplemento, mas a certeza de que não haverá o adimplemento, caracterizando um inadimplemento antecipado. Este ocorre de maneira certa antes de se tornar exigível a prestação.
	O inadimplemento antecipado permite que o credor se utilize dos remédios cabíveis no inadimplemento absoluto, como a exceção de contrato não cumprido. Para não incorrer em mora, ele deposita em juízo – consignação em pagamento. Pode pedir resolução do contrato por inadimplemento da outra parte. Ou seja, pode se valer de todos os remédios cabíveis a um inadimplemento comum. No caso tem-se uma “prestação antecipadamente não cumprida”. Se o devedor demonstrar que não cumprirá, é retirado dele o beneficio do termo e pede-se antecipadamente medidas decorrentes do inadimplemento. 
Um dos fundamentos principiológicos do inadimplemento antecipado é a boa-fé objetiva.
	OBS: Inadimplemento absoluto ou relativo x inadimplemento total ou parcial – este diz respeito à quantidade de cumprimento da obrigação; já aquele diz respeito à qualidade.
É possível, assim, um inadimplemento absoluto parcial. Ex: uma empresa contrata uma agência de viagens para que seus funcionários passem 7 dias de férias em Natal. A empresa paga pelo transporte, alimentação, hospedagem. Entretanto, a agência não faz a reserva do hotel e não consegue hospedar os funcionários. Ela inadimpliu parcialmente o contrato e de forma absoluta.
	Não se pode fazer confusão com o “vencimento antecipado de dívida”, que não tem nada a ver com inadimplemento antecipado. 
	O CC considera uma dívida antecipadamente vencida em hipótese de insolvência – art. 333, CC. Este dispositivo autoriza que se pode considerar automaticamente vencida a dívida antes do tempo previsto. O vencimento antecipado da divida está restrita as hipóteses previstas no art. 333, CC, não necessitando demonstrar que o devedor não irá adimplir o contrato. Já no inadimplemento antecipado o credor tem o ônus da prova de que o devedor não terá condições de cumprir sua obrigação.
	
- vícios redibitórios e evicção
	São garantias legais inerentes a qualquer contrato bilateral, como a compra e venda, pois, independentemente do contrato prevê-las, a lei impõe sua obrigatoriedade. 
Vícios redibitórios – são vícios ocultos preexistentes à formação do contrato.
	Em caso de vício redibitório, o comprador pode pedir a ação para abatimento do preço ou ação para resolver o contrato (neste caso ele devolve o bem e recebe o preço que pagou).
	OBS: Ação de abatimento de preço = ação estimatória ou ação “quanti minoris”
Ação de resolução = ação redibitória
	A disciplina dos vícios redibitórios se aplica nas relações que não são de consumo. Nestas, as garantias são muito mais ampla para o consumidor.
		No CDC, existem a “responsabilidade por vício do produto ou serviço” e a “responsabilidade por fato do produto ou serviço”. 
Responsabilidade por vício do produto ou serviço - diz respeito a um vício incidente sobre a coisa, podendo ser oculto ou aparente. 
Se for aparente, o consumidor pode reclamar depois. Se não for relação de consumo, o comprador não pode reclamar depois. 
Quando se tem bens duráveis (que não são consumíveis de imediato), o prazo para reclamar é de 90 dias. Quando os bens são não-duráveis, o prazo é de 30 dias. 
Se for vício aparente, conta a partir do ato de compra e venda. Se for vício oculto, conta a partir de quando se manifesta o vício. 
Quando se fala em reclamar, o art. 18, CDC prevê que se pode: pedir o conserto do produto viciado (troca da peça viciada), se isso não for feito pelo fornecedor dentro do prazo de 30 a partir do dia em que foi comunicado o defeito, o consumidor pode escolher a troca do produto, a devolução do preço ou o abatimento do preço.
Digamos que eu compro um carro com garantia contratual de 2 anos. Depois de 3 anos se manifesta o vício oculto, começando a contar o prazo legal de 90 dias. O prazo contratual vem apenas para complementar o prazo legal. Assim, a garantia legal dura enquanto durar a vida útil do motor, claro que é muito mais difícil o comprador demonstrar o vício oculto a medida que os anos passarem. A responsabilidade do fornecedor é objetiva. No CDC é sempre necessário provar o nexo entre defeito e o dano.
	
Responsabilidade por fato do produto ou serviço - diz respeito ao art. 12, CDC. Dá-se quando se tem originalmente um vício redibitório no serviço e que se externaliza com um dano ao consumidor. 
Ex: eu compro um carro com problema na pastilha do freio e alego vício redibitório (isso cai na primeira hipótese). Caso eu sofra um acidente por esse acidente, aí não é a responsabilidade da primeira hipótese, mas é fato do produto, enquadra-se nesta segunda hipótese. 
E esse dano pode ser material ou moral. 
Ex: leite condensado com uma barata viva (STJ) – dano moral. 
Portanto, nessa hipótese, há um dano ao consumidor. Já na primeira hipótese, o interesse é meramente patrimonial. Já na segunda hipótese, trata-se de interesses patrimoniais e da pessoa do consumidor. 
No caso dessa segunda hipótese já não cabe mais exceção de contrato não cumprido ou resolução, cabendo indenização - art. 12 e 27, CDC -, tendo prazo prescricional de 5 anos. Na primeira hipótese, o prazo é decadencial. 
Quando não for relação de consumo, o prazo prescricional para ação de indenização prescreve em 3 anos, segundo o art. 206, CC. 
O que é relação de consumo? 
Para caracterizar relação de consumo, é obrigatória uma relação de natureza comercial entre um fornecedor e um destinatário final.
Destinatário final é aquela pessoa, física ou jurídica que adquire ou se utiliza de produtos ou serviços em benefício próprio, ou seja, é aquele que busca a satisfação de suas necessidades através de um produto ou serviço, sem ter o interesse de repassar este serviço ou esse produto a terceiros.
Caso este produto ou serviço seja repassado a terceiros, mediante remuneração, inexiste a figura do consumidor e surge imediatamente a do fornecedor.
Não pode ser relação entre fornecedor e fornecedor, o consumidor tem que ser o destinatário final. Só pode ser compra para uso próprio, etc. 
Ex: siderúrgica compra um forno com vício redibitório. Ela irá se valer das garantias legais do CC. Não irá se valer do CDC porque não é relação de consumo.
	
Evicção – é a perda da coisa ou de um direito em razão de um direito precedente de terceiro. 
	Ex: compra de coisa roubada. O vendedor não era o proprietário. Quem comprou, ainda que de boa-fé, sofrerá os efeitos da evicção, podendo ajuizar ação de indenização contra o vendedor. 
	Nos vícios redibitórios, quando ocorre má-fé, existe diferença? Não precisa provar que o vendedor estava de má-fé. A responsabilidade é objetiva.
	Ex 1: vendeu o carro e não sabia do vício.
	Ex 2: vendeu o carro e sabia do vicio.
	No caso de má-fé, além da ação redibitória ou estimatoria, é possível pleitear perdas e danos. Se agir de boa-fé, cabe apenas a ação redibitória (com correção monetária) ou a ação estimatória.
	Só há responsabilidade por perdas e danos em caso de culpa (dolo e culpa). Isso no caso do CC. Se for relação de consumo, a responsabilidade é objetiva, independente de culpa.
	No caso de evicção e vício redibitório, tanto no CC quanto no CDC, a responsabilidade é objetiva. Assim, não precisa provar culpa.
	 
- venda de universalidade – art. 503, CC
	Caso, por ex, eu compre uma biblioteca, um rebanho, conjunto de bens de determinado espólio, estou comprando uma universalidade, disciplinada no art. 503, CC.
	O art. 503, CC diz que, se um dos objetos apresentar defeito, o credor não está autorizado a rejeitar a universalidade inteira.	
	Mas isso tem que ser temperado. Isso porque o vício que se manifesta em um objeto pode repercutir em toda a universalidade. Ex: compro um rebanho no qual uma das cabeças está com uma doença que compromete todo o rebanho.Assim, a regra do art. 503 não é absoluta, pois um vício oculto de um objeto que comprometa a universalidade pode ensejar a rejeição desta.
	
- riscos incidentes sobre a coisa – art. 492, CC
	Estamos falando de caso fortuito ou forca maior, que faz com que a coisa pereça ou se extinga.
	Nas obrigações de dar, pode acontecer de antes da prestação a coisa se perder. 
	A coisa perece para quem é o dono (“res perit domino”). Antes da tradição, o domínio não se transferiu, logo o vendedor é responsável – art. 492, CC. Se ocorrer a tradição, o responsável será o comprador.
	O vendedor terá que entregar outra coisa igual, se for bem fungível, ou devolver o preço dado pelo comprador.
	Ex: compra e venda de um carro. Há a tradição e ocorre um caso fortuito sobre a coisa. Ainda que o vendedor não tenha recebido o preço, ele não será o responsável. A responsabilidade é do dono, e como com a tradição o dono é o comprador, este responde.
CC, art. 492:
	O que é “risco do preço”? Desvalorização da moeda, inflação, crise econômica, etc.. Ou seja, qualquer oscilação normal que não enseja a aplicação da teoria da imprevisão. 
	Ex: eu estou andando com o dinheiro e sou roubado. Eu não posso alegar que não tem como pagar. Eu serei o responsável. O vendedor não tem nada a ver com isso.
Par 1º - como vai saber se houve a tradição se o caso fortuito ou forca maior acontece no momento em que esta acontecendo o ato da tradição? O par. 1º diz que a responsabilidade é do comprador.
Par. 2º - isso acontece em todo contrato. Há uma inversão do p. res perit domino quando há a mora do credor. 
	Ex: o comprador não vai receber o produto no dia avençado. Se ocorrer um caso fortuito depois de já ter incorrido em mora, o comprador será o responsável pelos riscos.
	OBS: perdas e danos = sempre atrelado a noção de culpa. 
- tradição – arts. 493, 494; 502
	Tradição é o mecanismo de transferência de domínio da coisa móvel. Na coisa imóvel também acontece a tradição, mas não tem o condão de transferir o domínio, mas apenas a posse.
	Ex: quando há a entrega da chave do apartamento, transfere a posse.
	Regra geral, a tradição ocorre no local onde se encontra a coisa (art. 493, CC).
	Outra situação que pode ocorrer é quando o comprador pede ao vendedor entregue a coisa fora do lugar. Se a coisa se perde no itinerário, o risco é do comprador.
	A doutrina faz uma construção segundo a qual quando o comprador solicita ao vendedor que entregue a coisa fora do lugar onde ela se encontra, entende-se que houve uma transmissão ficta da propriedade, motivo pelo qual, a partir daquele pedido de entrega, considera-se que o comprador passa a ter a propriedade ficta e, por isso, é responsável pelos riscos.
	Quando o vendedor contrata um terceiro em nome do comprador para transportar a coisa, e há o perecimento da coisa porque o terceiro não é habilitado, tendo o vendedor contratado de forma culposa, será o vendedor que será o responsável. É a chamada culpa in eligendo (escolha mal feita). Está previsto no art. 494, CC.
	
	Nas relações de consumo é comum, para atrair o comprador, que o vendedor se prontifique a entregar a coisa. Logo, ele assume o risco sobre a coisa durante o transporte. Assim, não há a transmissão ficta, mas apenas a transmissão real que configura o momento em que o comprador passa a ter a responsabilidade do bem. Devemos entender que nas relações de consumo é natural que o fornecedor assuma a responsabilidade pelo transporte da coisa.
	Outro aspecto: o pagamento das despesas da coisa até o momento da tradição fica a cargo do vendedor. 
	Ex 1: antes de transmitir o carro, as despesas com IPVA são do vendedor, que é o responsável pela coisa (res perit domino).
	Ex 2: até a tradição quem paga condomínio é o vendedor. 
	As despesas com a coisa imóvel após a tradição (posse) são de responsabilidade do comprador. Isso não vai casar com a regra que a coisa perece para o dono, pois o comprador ainda não é o dono, haja vista não ter ocorrido o registro público da escritura. Independentemente disso, as partes podem alterar essa disposição.
CC, art. 492 – a responsabilidade é do comprador depois da tradição.
- venda “ad corpus” e “ad mensuram” – art. 500 e ss
 
	Esses dois tipos de venda dizem respeito à bem imóvel, mais especificamente a terrenos.
	A venda pode ser estabelecida com cláusula ad corpus ou cláusula ad mensuram
	A cláusula ad mensuram significa que a metragem do terreno é essencial para a decisão do comprador. Este só compra porque o terreno possui aquela determinada metragem.
	Ex: eu quero comprar um terreno para fazer um campo de futebol com dimensões oficiais. Foi feito a escritura, o registro. Além disso, o pagamento foi pago com base na metragem, ficando sempre claro no contrato que o comprador só estava comprando por conta da dimensão do terreno.	Depois, na hora de construir o campo de futebol, constata-se que a dimensão está errada. 
	
	O comprador pode reclamar da seguinte forma:
Entrar com a ação ex empto – ação que visa ao complemento de área para chegar ao valor que se precisa.
Quando não é possível ação ex empto, cabe 2 ações: ação redibitória (resolução) ou ação estimatória ou quanti minoris (abatimento de preço)
	É importante que fique claro que a venda é ad mensuram. De preferência, deve estar expressa. Mas pode ser que pelas circunstâncias negociais (pagamento por metragem, intuito da compra, etc.) fique claro que a metragem é essencial para o comprador, logo permite a reclamação.
	A venda ad corpus é aquela realizada sem que a metragem seja um valor determinante. 
	Esse tipo de venda acontece muito na prática. Isso porque, por ex, os terrenos são objeto de erosão, usucapião, desastre, etc.; isso tudo altera a metragem registrada nos registros imobiliários, às vezes, devido ao tempo, até consideravelmente.
	Se a metragem é essencial para o comprador, este deve contratar um topógrafo e verificar as reais dimensões do terreno. 
	Assim, na venda ad corpus o comprador não pode reclamar depois que as dimensões estão alteradas.
	Na venda ad corpus o comprador está comprando pelo corpo que ele está vendo. Assim, depois não pode reclamar.
	Não há importância em analisar a boa-fé ou má-fé, o quanto a metragem é menor, etc..
	A venda ad corpus tem a vantagem de dar segurança a vendedor.
CC, art. 500:
Par. 1º - fala que quando as dimensões constarem no contrato apenas de forma enunciativa, ela não vincula, ou seja, não caracteriza a venda ad mensuram.
	Até 1/20 a lei considera que a diferença é irrelevante, exceto se o comprador demonstrar que a diferença é importante.
Par 2º - O comprador descobre que o terreno tem área maior do que estava no contrato. Em regra, o vendedor não tem o direito de reclamar, exceto quando ele mostre que tinha motivos para não conhecer a real medida. Isso porque presume-se que aquele que vende sabe o que está vendendo. Na hipótese do vendedor provar que houve motivo para não conhecer o terreno, o comprador terá a faculdade de escolher entre pagar pelo excesso ou devolver o excedente.
Par. 3º - venda ad corpus. Para configurar essa venda não é necessário que haja uma cláusula expressa. Mas, se pelas circunstancias negociais, ficar comprovado que a dimensão não era essencial para que o comprador tomasse sua decisão, fica implícito que a venda era ad corpus.
	Ex: o comprador tem a intenção de comprar a FAZENDA PEDRA BRANCA, não pode alegar depois que a dimensão não corresponde com o que estava no registro.
	Prazo decandencial de 1 ano para ajuizar – art. 501, CC
	Na venda ad corpus cabe a ação ex empto e não podendo esta cabe a ação redibitória e a ação estimatória.
COMPRA E VENDA DE BEM IMÓVEL
	A transferência de domínio de bem imóvel se dá com a lavratura da escritura pública. É preciso, entretanto, para que a escritura tenha efeitos, registrá-la.
- natureza do “compromisso” ou “promessa”
	Normalmente as pessoas fazem o contrato por instrumento particular. Em algumas situações,a lei exige que se faça a escritura pública (art. 108, CC).
	Promessa de bem imóvel normalmente as pessoas fazem por instrumento particular. O contrato é perfeito. Mas ele não será suficientemente válido para a transferência de domínio, pois é necessária a lavratura de escritura pública e, posteriormente, o seu registro. 
	Apesar disso, o contrato particular de promessa de compra e venda é válido, eficaz. Principalmente nas hipóteses de compra a prazo, pois dificilmente alguém vai transferir o domínio antes de receber todo o preço. Assim, em regra, se dá a transferência do domínio depois da quitação. Mas não há óbices que aconteça de forma diferente.
	Se a transferência ocorrer antes da quitação, o registro será condicionado a sua ocorrência. Se não houver a quitação, o registro não será válido.
	OBS: “certidão de matrícula do imóvel” – é um documento que relata a “história” do imóvel: o primeiro proprietário (aquele que fez a matrícula pela 1ª vez), as transferências que foram feitas e quem é o último proprietário; as características; a localização, etc..
	Muitas pessoas fazem confusão entre o contrato (particular) de compra e venda – vulgo “promessa de compra e venda” - e o contrato preliminar. 
	O contrato preliminar é um contrato propriamente dito, definitivo, que tem como objeto uma obrigação de fazer outro contrato futuramente. 
	Ex: contrato preliminar de locação – as partes fazem esse contrato em 2011 para garantir que em 2012 farão um contrato de locação.
	Na venda de imóvel se tornou frequente que o contrato particular seja denominado de “compromisso de compra e venda”, contrato preliminar, ou promessa de compra e venda, pois é necessário que haja posteriormente a lavratura da escritura pública e, depois, o registro.
	As pessoas deram esse nome de compromisso porque depende de uma formalidade posterior, que é a escritura pública. Mas isso não quer dizer que ele seja um contrato preliminar típico. Ele não tem por objeto uma obrigação de fazer outro contrato. 
	Na verdade, pode-se falar que é um contrato prévio a escritura pública. Mas o conteúdo do contrato de promessa já é válido: preço, objeto, etc.. 
	O contrato de compra e venda já é um contrato definitivo, em que já contém a assunção de obrigação de todas as partes.
	É possível se fazer um contrato preliminar (típico) de compra e venda. Mas, na prática, não é usual. Assim, a chamada “promessa de compra e venda” se trata de um contrato definitivo de compra e venda que necessita de uma formalidade posterior (escritura pública e depois registro). Esse nome ficou no CC 2002 para se referir ao instrumento particular que realiza a compra e venda.
	Mas, como já dito, não há óbices para um contrato preliminar típico de compra e venda. Entretanto, na prática, faz-se uma escritura pública condicionada à quitação. Assim, se não houver a quitação, a escritura não produz efeitos.
	
- evolução:
	O contrato de compra e venda passou por uma série de alterações nas leis extravagantes.
CC/1916: admitia o arrependimento nos contratos preliminares;
	No CC 1916 havia a previsão do direito de arrependimento dos contratos. As partes podiam combinar que, depois de feito o contrato, é possível o arrependimento. A razão para esse direito é que ninguém pode se obrigado a fazer algo que não queira (direito de liberdade).
	Lembrar do instituto da arras ou sinal. Há 2 tipos de arras: confirmatórias (o valor de início já é o próprio pagamento da prestação) e penitenciais (se você deu um sinal como um possível direito de arrependimento, perde esse direito; aquele que recebeu o sinal, caso se arrependa, deve devolver em dobro).
	 O CC 1916 admitia o arrependimento nos contratos preliminares.
DL 58/37: imóveis loteados em prestação: contratos
	Nessa época o Brasil teve um alto crescimento de loteamento de imóveis. Como era fácil para as pessoas se arrependerem, especulava-se muito. Ou seja, a pessoa fazia um contrato, aí, aparecendo uma proposta mais vantajosa, ela se arrependia. Isso gerou uma especulação imobiliária, o que não garantia a segurança jurídica.
	Por isso, o DL 58 disse que os imóveis loteados por pagamento em prestações não admitiam o direito de arrependimento. Só poderia se tivesse uma cláusula expressa, inequívoca.
	Antes no CC 1916 a previsão sobre a cláusula era ambígua. 
Lei 649/49: estendeu o DL 58 aos imóveis não loteados
	Terrenos que não foram objeto de loteamento também perderam o direito de arrependimento. A finalidade era evitar a especulação imobiliária.
Lei 6.766/79: imóveis loteados urbanos: vedado o arrependimento
	Nem mesmo uma cláusula expressa sobre o direito de arrependimento podia mais.
	Para os demais tipos de imóveis – não loteados e loteados rurais – continua a viger a lei 649.
	Hoje na prática, mesmo nos demais imóveis, não se usa mais a cláusula de arrependimento. O normal é colocar o contrario.
- quando configura um direito real
	CC 2002: arts. 1.4117, 1.418, 1.225, 1.227
	É possível registrar um instrumento particular num cartório imobiliário? Sim! Mas, obviamente, os efeitos são diferentes, não transferindo o domínio, que só ocorre com a lavratura da escritura pública.
	Quais são esses efeitos? Quando se leva o compromisso de compra e venda (instrumento particular) ao registro, se não houver direito de arrependimento, esse registro vai gerar um direito real de aquisição, hoje chamado de direito real do promitente comprador.
	O contrato particular tem efeito apenas entre as partes. Assim, se quiser dar publicidade a esse contrato, é preciso registrá-lo. Isso faz com que ele gere efeitos a terceiros.
	Esse registro do contrato evita a “venda dupla”, para evitar a má-fé do vendedor. Além disso, por ex, evita que um credor do vendedor penhore o bem do qual o comprador já realizou um contrato.
	Normalmente as pessoas não fazem o registro do contrato particular porque precisa pagar. 
	Em síntese, a função do registro do contrato é resguardar o comprador de terceiros.
	O CC 2002 trouxe essa novidade do direito real do promitente (ou compromissário) comprador no art. 1.225, V, CC.
	Para que ele seja um direito real e não somente um direito obrigacional entre as partes, tem-se os arts. 1417 e 1418, CC. Esse direito garante que o promitente comprador oponha esse bem a terceiros.
	Ex: José (vendedor) vendeu o imóvel para Maria (comprador 1). Maria não registrou o contrato. Depois de um tempo, José vendeu para Antonio (comprador 2), que pagou a vista, realizou a escritura e registrou-a (adquiriu o direito real de propriedade) ou registrou o contrato (adquiriu o direito real de compromissário comprador). Maria, então, questiona o contrato, falando que já tinha realizado o negócio. Mas, como ela não registrou o contrato e nem a escritura, ela não possui nenhum direito real sobre o imóvel. Assim, prevalece o direito de Antonio e resta a Maria perdas e danos.
- ação de adjudicação compulsória
	Sumula 239 / STJ
	É uma ação judicial por meio da qual o juiz dá uma sentença que autoriza a emissão de uma carta de adjudicação, por meio da qual o Cartório de Notas fará a escritura pública para o comprador.
	Ex: Maria comprou o imóvel de José, terminou de pagar e quer a escritura pública. José não quer outorgar a escritura. Maria pode se valer da ação de adjudicação compulsória.
	A ação de adjudicação compulsória não precisa de direito real sobre o imóvel. A natureza da ação é estritamente pessoal, e não real. Assim, o comprador pode entrar com essa ação mesmo que não tenha havido o registro do contrato ou da escritura. Isso é o que diz a súmula 239 do STJ.
	Ex 2: digamos que Maria entre com a ação de adjudicação quando Antonio já possuísse um direito real sobre o imóvel. Assim, mesmo que José queira lavrar a escritura pública, não será possível, pois já possui outro direito real sobre o imóvel. Assim, só cabe perdas e danos contra José.
	Se José morrer, entra com ação de adjudicação contra o espólio (o inventário está aberto) ou contra os sucessores (inventárioencerrado). A ação de usucapião só será possível quando não for possível encontrar o proprietário e os sucessores.
	Ex 3: Maria e Antônio compraram o imóvel, mas ambos não registraram o contrato particular. Nenhum tem direito real. Há discussão sobre quem tem o direito de ficar com o imóvel. Isso terá que ser analisado no caso concreto, levando em conta quem celebrou o contrato primeiro. Mas isso, às vezes, é mitigado, pois, por ex, mesmo que o contrato tenha sido fechado primeiro, o outro já possui a posse.
- constituição em mora:	- imóveis loteados: 30 dias – DL 58, art. 32
				- imóveis não loteados: 15 dias – DL 745/69
	Mora ex re é a mora automática, quando se tem obrigações líquidas e a termo. Atingido o termo e não cumprida a obrigação, o devedor incorre em mora.
	Mora ex personae é aquela que depende de interpelação para que o devedor se constitua em mora. Pode ser uma interpelação pela própria pessoa, através de uma carta, por ex.; ou através de uma interpelação judicial.
	Na venda de imóvel, o mais provável é que se estabeleça obrigações líquidas e a termo. Ex: compra de apartamento em que todo mês tem que pagar X reais.
	Apesar de haver uma obrigação líquida e a termo, o que poderia ensejar a mora ex re, existe a imposição legal para que a venda de imóvel precisa de interpelação, logo está ligada à mora ex personae. Isso porque são contratos que possuem valores altos, além de lidar com um direito individual muito importante – a propriedade. 
	Assim, o credor precisa interpelar o devedor, estipulando o prazo para que ele cumpra sua obrigação. Passado esse prazo, aí o credor pode entrar na justiça, com uma ação de resolução do contrato. Se essa ação for iniciada sem a interpelação, há a extinção do processo sem o julgamento de mérito, pois o devedor ainda não se constituiu em mora. Feita a interpelação e o devedor não cumpriu a obrigação depois do prazo, pode pedir a execução ou a resolução.
	O DL 58 – para imóveis rurais e imóveis não loteados - diz que o prazo é de 15 dias, no mínimo, para que o devedor possa cumprir sua obrigação.
	Quando o imóvel for loteado, o prazo é de 30 dias. 
- cláusula resolutiva expressa: restrições
	Nos contratos bilaterais há o nexo de correspectividade > p. da sinalagmidade. Diante disso, pode-se dizer que em todo contrato bilateral existe uma cláusula resolutiva tácita, que significa que se o contrato é bilateral, qualquer dos contratantes pode resolver o contrato caso o outro contratante não cumpra sua prestação. 
	Contudo, o credor precisa mover uma ação de resolução, precisa da extinção do contrato pela via judicial. Ele não pode, antes do provimento juridicional, dispor do bem, por ex, se for um vendedor. 
	A cláusula resolutiva expressa, prevista no art. 474, CC, tem que estar escrita no contrato. Quando há essa cláusula, o contratante está dispensado da obrigatoriedade da extinção pela via judicial. A extinção é de pleno direito.
	Mas isso nem sempre é possível. Ex: venda de imóvel. A parte para de pagar a prestação, mas já estava morando no imóvel. Se aceitarmos a extinção do contrato de pleno direito, o vendedor poderia despejar o comprador a qualquer hora, sem a necessidade da via judicial.
	Na cláusula resolutiva expressa a ação de resolução é meramente declaratória e constitutiva na condenação por perdas e danos. 
	Na cláusula tácita a ação de resolução é constitutiva e constitutiva na condenação por perdas e danos - ação de resolução cumulada com perdas e danos cumulada com restituição da posse. 
	Só que a cláusula expressa, muitas vezes, não tem boa acolhida na jurisprudência. Isso porque são relações de consumo, em que há uma disparidade entre as partes. Por isso, a jurisprudência mitiga os efeitos previstos para a cláusula expressa, entendendo que o credor tem que entrar com uma ação de resolução do contrato, ou seja, o credor precisa, obrigatoriamente, valer-se da via judicial.
	A cláusula resolutiva expressa, então, no que diz respeito à venda de imóvel, vem sendo considerada abusiva pela jurisprudência. 
	Por isso, independentemente da cláusula ser expressa ou tácita, segundo a jurisprudência, é preciso entrar no judiciário para que a resolução seja aceita, não se admitindo que o credor alegue a resolução do contrato extrajudicialmente. 
- hipóteses em que se dispensa a escritura pública
	Loteamentos populares – art. 26, par. 6º, lei 6.766/79
	A escritura, em regra, será obrigatória nas vendas de bens imóveis, mas há exceções:
Quando o imóvel é inferior a 30 salários;
Hipóteses de loteamento populares;
Imóveis financiados pela CEF – o próprio contrato com a Caixa tem força de uma escritura;
	OBS: Cláusulas especiais da compra e venda – arts. 505 a 532, CC
	As cláusulas especiais de compra e venda estão em desuso. 
CONTRATO DE PERMUTA
	A permuta é regulada pelas mesmas regras da compra e venda, com 2 diferenças essenciais:
- CC, art. 533
Inc. I – na compra e venda cabe ao comprador as despesas com escritura e registro e ao vendedor as despesas com tradição (art. 490, CC).
	No contrato de permuta, ambos os contratantes são ao mesmo tempo compradores e vendedores, e assim cada um pagará as despesas com registro relativas ao imóvel que estará adquirindo.
	A permuta é um único instrumento que na verdade conjuga duas compras e vendas, só que não há a pecuniariedade. 
	Ex: troca de um fusca por um corcel. 
	O “metade” aqui não é necessariamente metade. Na verdade, quer dizer que cada um vai pagar proporcionalmente ao valor do imóvel que está adquirindo.
Inc. II – permuta entre ascendente e descendente só é admitida se os valores das coisas forem iguais,
	É possível um permuta com “torna”. Ex: troco um imóvel de R$ 100 mil por um de R$ 80 mil. O primeiro terá que dar uma torna (troco), que pode ser em dinheiro ou com outro objeto.
	A permuta entre ascendente e descendente não admite a permuta com torna, exceto se houver consentimento dos demais descendentes.
	Quando o valor dos bens for desigual, é preciso esse consentimento para evitar que se faça uma “permuta fajuta”. 
	Com exceção dessas previsões do art. 533, as normas de compra e venda aplicam-se à permuta.
DOAÇÃO
Conceito – art. 538
	Em muitos ordenamentos a doação é um ato unilateral (que não depende de aceitação). No entanto, no ordenamento brasileiro, a doação é um contrato, ou seja, ato bilateral. Assim, precisa-se do consentimento do donatário em receber a doação.
	Considera‑se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.
	Liberalidade quer dizer que alguém faz por vontade própria, por livre escolha.
	A propriedade (domínio) somente se transfere por tradição ou registro. Assim, a doação, por si só, não é suficiente para a transferência de domínio. Ela é apenas um ato causal para a futura transferência do domínio. Na verdade, a doação tem o efeito obrigacional das partes transferirem o domínio. Para este ser transferido, portanto, obrigatoriamente deve ocorrer a tradição ou o registro.	
	Existe na doação a chamada “transmudação patrimonial”, ou seja, uma transferência de patrimônio. Para configurar uma doação, é preciso que haja a saída de um bem do patrimônio do doador e o ingresso desse bem no patrimônio do donatário.
	Alguns institutos do direito poderiam ser confundidos com a doação. Mas essa característica de transmudação é essencial para diferenciá-la.
	Ex: renúncia de direito - é comum acontecer na herança. O herdeiro renuncia o direito de receber. Não é doação porque não chegou a acontecer a saída do bem de um patrimônio e o ingresso em outro. O que houve foi apenas a não entrada de um bem no patrimônio de um herdeiro.
	Quando o herdeiro renuncia o direito hereditário e indica o beneficiário, entende-se que isso é uma forma de doação. Por outro lado, quando o herdeiro renuncia o direito hereditário e não indica o beneficiário, não é doação, caracteriza umarenuncia ao monte; ou seja, o bem volta ao “monte” dos direitos.
	Quando se tem uma renuncia propriamente dita, não incide o imposto da doação. Toda vez que esta ocorre, o beneficiado tem que pagar o ITCD (Imposto de transmissão causa mortis e doação). 
	OBS 1: normalmente quando há ingresso de bem no patrimônio há o pagamento de imposto.
	OBS 2: Nem todos os atos de liberalidade são uma doação, logo nem sempre incidira imposto.
Características
- contrato unilateral – unilateral porque não existe contraprestação vinculada à prestação do doador. Existe apenas esta, que é de transferir o bem doado. Não existe bilateralidade de prestações.
	Nem mesmo quando existe doação com encargo (ex: doação de um terreno com um encargo de construir um hospital) caracteriza a bilateralidade. Esse encargo não descaracteriza a unilateralidade da doação.
	O encargo não é considerado uma obrigação propriamente dita. Trata-se de um elemento acidental do negócio jurídico (este pode ser termo, condição ou encargo). Não é, portanto, uma contraprestação.
	O que muda é que a doação pode ser puramente gratuita ou onerosa. Quando for uma doação com encargo, será uma doação onerosa.
	Bilateralidade e onerosidade são características diversas.
- contrato formal – existe forma prescrita em lei como requisito de validade. A doação tem que ser sempre por escrito. E essa forma pode ser por instrumento público (art. 108) ou privado, conforme dispõe o art. 541, CC
	Exceções quanto à forma: no art. 541, par. único diz que a doação pode ser verbal quando versar sobre bem móvel de pequeno valor e quando a tradição ocorre simultaneamente com o ato da proclamação da doação. 
	Ex 1: eu dou uma caneta para uma pessoa, ocorre a tradição imediatamente. É um ato contínuo.
	Ex 2: gratificações, ajudas a instituições (Criança Esperança, Ricardo Moyses). Nesses casos também ocorre a doação juntamente com a tradição, além do bem, normalmente, ser móvel (dinheiro) e de pequeno valor.
- contrato consensual – porque não precisa da tradição para que seja reputado um contrato formado. É possível doar um apartamento e só entregar daqui a uma semana. Mesmo assim o contrato de doação já terá sido feito.
Requisitos especiais de validade
Capacidade
- ativa – art. 544 (202 e ss), 550, 1749
	Quem pode ser doador? Para celebrar qualquer contrato é preciso ter capacidade de fato. Isso quer dizer que menores não podem ser doadores, nem mesmo se representados.
Doação de ascendente a descendente:
	É preciso o consentimento dos demais descendentes, sob pena de ser nula a doação na parte que ultrapassar a parte indisponível do patrimônio, prejudicando os quinhões necessários dos demais herdeiros. 
	A consequência da nulidade é o necessário reembolso aos herdeiros daquilo que o donatário prejudicou os quinhões hereditários. É a chamada “doação inoficiosa”, ou seja, aquela que ultrapassa a parte indisponível e, por isso, é nula – art. 544, CC. 
	Por lei, não é necessário o consentimento dos demais herdeiros em caso de doação que não ultrapasse a parte indisponível. Mas, na praxe, costuma-se cientificar os demais herdeiros para garantir-lhes a possibilidade de fiscalizar o ato do pai e garantir este está antecipando a herança e não invadindo o patrimônio necessário dos herdeiros. 
	Ex: 50 % do patrimônio do pai são indisponíveis. Dentro destes 50%, 1/3 cabe necessariamente a um dos filhos (considerando 3 filhos). Esse 1/3 pode ser doado por ato entre vivos. Em relação aos outros 50% do patrimônio, o pai pode fazer o que quiser com eles, até mesmo doar para esse filho que já recebeu sua parte necessária na herança. Esses 50% não serão antecipação de herança e não serão computados no inventário. Apenas 1/3 do patrimônio disponível será considerado antecipação de herança e entrará no inventário.
	No caso de nulidade da doação na parte que excede a parte indisponível, os prejudicados podem entrar contra ambos (doador e donatário).
	O art. 2002, CC prevê a colação: no momento do inventário, os demais herdeiros irão levar aos autos a informação de que o herdeiro já teve uma antecipação da herança, descontando no patrimônio que será repartido o quinhão já transferido para o herdeiro donatário.
Doação entre cônjuges:[1: Tópico retirado do livro do Carlos Roberto Gonçalves.]
	No regime de separação absoluta, convencional ou legal, todos os bens podem ser doados, em virtude da inexistência de bens comuns;
No regime da comunhão parcial podem ser doados pelo cônjuge ao outro os bens particulares; por ex, nos casos de bens havidos por herança.
No regime de comunhão universal podem ser doados os bens excluídos da comunhão (CC, art. 1.668); 
No regime de participação final dos aquestos os bens próprios de cada cônjuge, excluídos os aquestos (CC, art. 1.672).
Tutor e curador não podem doar bens dos pupilos ou curatelados.
- passiva – art. 542, 543, 546 e 554
	Quem pode ser donatário? A doação é um contrato e, como tal, precisa de aceitação. O agente que recebe precisa de capacidade de fato. Mas isso não quer dizer que aqueles que não a possuem não possam ser donatários, podem desde que representados.
- Para os absolutamente incapazes, existe uma presunção de que quando a doação é pura, de acordo com o art. 543, CC, há uma ficção que a aceitação do representante legal é fictícia (não precisa ser expressa). Quando a doação é com encargo, a aceitação do representante deve ser expressa.
	Isso porque a doação sem encargo (pura) é extremamente benéfica para o incapaz. Já no caso de doação com encargo, é preciso a aceitação expressa do representante.
	E se quiser doar um presente de grego para o incapaz? Nesse caso, o representante pode se opor expressamente a doação. 
- Nascituro pode ser donatário? Ele ainda não tem personalidade jurídica, mas a lei põe a salvo os seus interesses (art. 2º, CC). Assim, ele pode ser representado. A doação ao nascituro é condicionada ao seu nascimento. A doação vai depender da aceitação do representante – art. 542, CC
	
- Na doação a um relativamente incapaz depende da autorização do assistente.
	OBS: a aceitação sempre será expressa, salvo no caso da doação pura para absolutamente incapaz.
- Doação “propter núptias” ou doação em prol de casamento – alguém promete doar um bem desde que ocorra o casamento.
	Ex: o pai diz que, se houver o casamento, ele doa um apartamento.
	Hoje está fora de uso, mas é possível. Admite-se também a doação em prol de união estável, em virtude do tratamento igualitário.
- Existe também a doação condicionada ao fato de ter filhos.
- Doação a entidade futura – art. 554, CC. É possível doar bens a uma instituição que ainda não existe para o mundo jurídico. 
	Ex: doar um terreno a uma instituição que está em organização.
	O CC impõe que o prazo para que a instituição venha a existir é de 2 anos. Caso não aconteça, a doação será extinta. Trata-se de cláusula resolutiva.
Consentimento (art. 539)
	A aceitação, em regra, será expressa, salvo em algumas hipóteses em que será ficta.
	A aceitação pode ser presumida - art. 539 – se houver um prazo para que o donatário aceita a doação, findo esse prazo, será presumido que o silêncio caracteriza anuência. Se a doação for com encargo, o silencio na implica aceitação. 
	OBS: Ficta é algo determinado pela lei, ao passo que a presumida depende de uma conduta da parte.
Objeto (arts. 548, 549)
	Na doação tem-se um ato de alienação, logo tem que ser um bem disponível. Além disso, tem que ser um bem que esteja em trânsito comercial. Não é possível alienar bens indisponíveis, como bens públicos, impossíveis.
	O objeto tem que ser lícito, possível, determinado ou determinável, sob pena de ser invalido, conforme prevê o art. 104, II, CC.
	O CC proíbe a doação universal – art. 548. A doação universal é considerada nula. Sendo assim, ninguém pode doar todos os bens que possui.
	Por que dessa proibição? O Estado está preocupado em garantir condições essenciais mínimas para as

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