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25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 1/8 Oogênese A oogênese é a história da formação, crescimento e maturação do gameta feminino (Baker, 1982). Em mamíferos, a oogênese iniciase durante a vida fetal e somente é completada meses ou até anos mais tarde. Uma vez que as células germinativas se estabeleceram no ovário em desenvolvimento, elas passam a se chamar oogônias. Estas células sofrem muitas divisões mitóticas e eventualmente passam por uma última etapa de replicação de seu DNA, anteriormente a sua entrada em meiose sendo então denominadas oócitos (Picton et al., 1998). No ovário humano, a meiose tem início no final do primeiro trimestre de gestação, mas algumas poucas oogônias permanecem presentes no ovário, até próximo ao nascimento (Byskov, 1982). Controvérsias existem sobre a condição do ovário mamífero, após o nascimento. A visão mais conservadora admite que as fêmeas dos mamíferos nascem com os Figura 1: a. Córtex de ovário fetal bovino (MO, HE); * oogônias; b. Detalhe do córtex repleto de oogônias (MO, HE). ovários contendo seu contingente total de gametas, os quais são mantidos no bloqueio meiótico até a puberdade, quando uma pequena população deles é acionada a iniciar seu crescimento (Byskov, 1982). Em contrapartida, evidencias recentes em murinos sugerem que os oócitos que são constantemente perdidos podem vir a ser substituídos a partir de uma pequena população de células tronco germinativas presente nos ovários adultos, durante a vida reprodutiva do animal (Johnson et al, 2004). A meiose consiste de duas divisões celulares, a primeira envolve a redução pela metade do número de cromossomos (a célula diplóide passa a ser uma célula haplóide) e permite a troca de material genético entre os pares de cromossomos homólogos, onde um membro de cada par foi derivado da mãe e o outro do pai. As células resultantes são oócitos primários, os quais permanecem neste estágio até que, sob estímulo hormonal, o folículo dominante no qual ele está contido é estimulado à ovular (Baker, 1982) (Esquema 1). 25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 2/8 Esquema 1: Fases da meiose feminina e foliculogênese. A segunda divisão meiótica é semelhante a uma mitose, embora apenas um cromossomo haplóide esteja envolvido na divisão. Uma característica diferencial das duas divisões meióticas do gameta feminino é o fato que ambas divisões nucleares são seguidas por divisões citoplasmáticas desiguais, de maneira que dois fragmentos citoplasmáticos pequenos são formados, um a cada divisão, os chamados corpúsculos polares. A nomenclatura utilizada para subdividir as fases da meiose em prófase, metáfase, anáfase e telófase é meramente 25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 3/8 Figura 2: i. Fases da prófase I de gameta feminino fetal bovino; a,bleptoteno; c,dzigoteno; epaquiteno; fdiploteno; ii. Detalhe de paquíteno de gameta feminino fetal bovino (MO, GIEMSA). arbitrária, visto que o processo é dinâmico e procede sem muitas interrupções uma vez iniciado (Baker, 1982). Entretanto, a prófase da primeira divisão meiótica feminina é excepcional, no sentido de que ela é muito longa e altamente especializada sendo interrompida em dois períodos de parada do desenvolvimento, o diplóteno e a metáfase II. O período da prófase pode então ser subdividido em cinco estágios identificáveis citologicamente: leptóteno, zigóteno, paquíteno e diplóteno, este último também chamado de “dictióteno” ou “vesícula germinativa” (Figura 2, Esquema 1). A característica mais marcante do estágio de dictióteno é o elevado grau de descondensação dos cromossomos (Figura 3). É neste estágio também, que os oócitos primários sofrem a sua primeira parada do desenvolvimento até que sejam induzidos a retomar a meiose sob estímulo de gonadotrofinas. Quando os oócitos atingem o diplóteno, eles são bem maiores que as oogônias, têm um número bastante aumentado de organe las citoplasmáticas e mais importante, Figura 3: Dictióteno; a. MO, GIEMSA; b. M.O corte histológico, HE. eles já sofreram recombinação genética do DNA de origem materna e paterna. Os sinais inibitórios que mantém o oócito bloqueado no dictióteno parecem vir do tecido ovariano adjacente, visto que a remoção deles deste ambiente resulta em um certo número de ocasiões na retomada da meiose em algumas horas (Edwards , 1965a,b). Um dos fatores intracelulares mais creditados com o papel de inibidor da meiose é o AMPcíclico (cAMP). As junções tipo gap verificadas entre o oócito e as células da granulosa podem também desempenhar um papel na manutenção do bloqueio meiótico visto que uma vez removidas as células do cumulus oophorus, os oócitos em geral reiniciam a meiose. Tal mecanismo inibitório pode se dar a partir da transferência de cAMP das células da granulosa para o oócito (Eppig et al., 1994). Embora esteja bem estabelecido que a exposição de folículos antrais ao LH leva a maturação do oócito, nem o oócito nem as células do cumulus oophorus possuem receptores para LH. Estes receptores encontramse nas células da teca que contornam a massa de células da granulosa e o oócito. Portanto, fatores parácrinos, entre eles membros da família dos fatores de crescimento epidérmicos, produzidos por estas células murais em resposta ao LH iriam acionar a expansão das células do cumulus oophorus e a maturação 25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 4/8 final do oócito (Peng et al., 1991). Coincidentemente com o início da meiose, os gametas da região medular do ovário perdem suas junções intercelulares e passam a ser envolvidos por uma única camada de células prégranulosas pavimentosas apoiadas em uma membrana basal. Estes ninhos de células germinativas passam a ser classificados como folículos primordiais (Gosden & Bownes,1995) (Figura 4). Neste momento do desenvolvimento folicular, as células da granulosa não são ativas endocrinologicamente, nem apresentam receptores para gonadotrofinas, especialmente para o hormônio estimulador do folícular (FSH), o que só ocorrerá quando o folículo entrar em uma fase de crescimento (Oktay et al., 1997). Folículos permanecem em estágio primordial até o seu recrutamento ao desenvolvimento, provavelemente por ação do hormônio antimülleriano (Weenen et al., 2004), o que no caso humano pode acontecer de uma a cinco Figura 4: Corte de ovário fetal bovino; * Folículo Primordial; # Folículo Primário (MO, HE). décadas após sua formação. Folículos em fase de crescimento apresentam suas células da granulosa ligadas metabolicamente umas as outras e ao oócito em dictióteno, através de processos citoplasmáticos que atravessam a zona pelúcida, discutida a seguir, de forma a formarem junções tipo gap com o oolema (Anderson & Albertini, 1976) (Figura 5). Figura 5: Detalhe da íntima associação das células do cumulus oophorus com a zona pelúcida do oócito (MO, HE). O crescimento dos oócitos, dentro da estrutura folicular é de fundamental importância para que eles adquiram capacidade de completar a meiose, serem fertilizados e sofrerem as clivagens do desenvolvimento embrionário inicial. O processo de crescimento e maturação do gameta feminino mamífero é surpreen dentemente lento, em humanos levando até alguns meses desde o recrutamento do folículo primordial ao conjunto de folículos em crescimento. Durante este período, o oócito expande de 35 a 120 micrometros de diâmetro, o que representa um aumentode 100 vezes de seu volume quando de sua competência a sofrer a 25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 5/8 quebra da vesícula germinativa e reentrada em meiose (Gosden & Bownes, 1995; Gougeon, 1996) (Figura 6). Paralelamente 'a expansão do volume celular, a célula germinativa acumula água, lipídios e íons e tanto a taxa de síntese proteica como o acúmulo de proteínas, também sofrem um aumento considerável. Portanto, quando o oócito adquire seu volume máximo, ele está apto a reassumir meiose, mas a competência para permitir a entrada do espermatozóide, descondensar sua cromatina e bloquear a poliespermia somente é adquirida nos dias anteriores a ovulação. Durante a fase de crescimento, o oócito adquire uma nova organização citoplasmática dependente tanto da redistribuição das organelas préexistentes, como da replicação de algumas delas. Os processos de replicação são cruciais para o desenvolvimento embrionário inicial, visto que a herança citoplasmática do zigoto é quase que exclusivamente materna. Uma Figura 6: Oócito na fase final de crescimento (MO, HE). exceção notável a esta situação é o centríolo, o qual desaparece durante a fase de crescimento do oócito e é herdado do espermatozóide fertilizador (Schatten, 1994). Em contraste, as mitocôndrias aumentam muito em número durante a fase de crescimento do gameta feminino e alteram sua estrutura passando a apresentar vacúolos e cristas arqueadas, sugestivos de menor atividade funcional. Sabese já há algum tempo, que o genoma mitocondrial humano tem 16560kb de DNA dupla hélice (Clayton, 2000; Trounce 2000) sendo que as mitocôndrias são herdadas através da linhagem materna, pois que as paternas são destinadas à destruição por proteólise dependente de ubiquitina na fertilização (Schwartz & Vissing, 2002). A transmissão materna das mitocôndrias entre gerações é a base genética para a transmissão de certas doenças metabólicas debilitantes ou letais em humanos (Chinnery, 2004). Um dos eventos mais característicos da oogênese é a secreção de uma membrana 25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 6/8 Figura 7: a.início da deposição da zona pelúcida em folículo iniciando seu crescimento (MO, PAS); b.Zona pelúcida totalmente formada em um folículo Antral (MO, HE) . glicoproteica acelular, a zona pelúcida (Figuras 7 e 8). Após início do desenvolvimento folicular, a zona pelúcida é produzida e secretada no espaço perivitelínico, única e exclusivamente pelo oócito (Ringette et al., 1988). Bioquimicamente, a estrutura da zona pelúcida é bastante simples, composta por três glicoproteínas, ZP1, ZP2 e ZP3, as quais se combinam para formar uma camada de aproximadamente 15 micrometros de espessura em torno do oócito (Bleil & Wassarman, 1980). A matriz da zona pelúcida é composta por longos filamentos entrelaçados de dímeros de ZP2 – ZP3, que são ligados nãocovalentemente por dimeros de ZP1 (Wasserman et al., 1996). A ZP3 atua como o receptor primário do espermatozóide, ligando a sua cabeça e induzindo a reação acrossômica (Wasserman 1988). Após a reação acrossômica, a ZP2 atua como um receptor secundário do espermatozóide, para facilitar sua penetração através da zona pelúcida. As proteínas da zona pelúcida são modificadas pelo conteúdo Figura 8: a.Oócito recoberto pela zona pelúcida e células do cumulus oophorus; b.Oócito aparente sob a zona pelúcida e poucas células do cumulus oophorus (MEV). exocitado dos grânulos corticais, a dita reação cortical, logo após a penetração do espermatozóide fertilizador, o que representa um mecanismo importante de prevenção da polispermia em humanos. O fato de os folículos primordias permanecerem inalterados morfologicamente por períodos muito longos de tempo leva muitas vezes a uma interpretação errônea de que estas estruturas estejam metabolicamente quiescentes. Entretanto, estes folículos apresentam altos índices de síntese protéica, como demonstram a presença de um ou mais nucleoli, atividade de polimerase e captação contínua de amino ácidos e ribonucleotídeos (Schultz et al, 1978) (Figura 9). A síntese e acúmulo protéico e de mRNA tem dupla finalidade, além da manutenção do próprio gameta, ela serve também para armazenar produtos e informação, que darão subsídios para o desenvolvimento 25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 7/8 Figura 9: Oócito em dictióteno apresentando um (a) e três (b) nucleoli (MET). embrionário pós fertilização, até a ativação do genona embrionário (Picton et al., 1998). Uma vez iniciado o desenvolvimento, o oócito é ainda mais ativo na síntese de proteínas, a partir de transcripts nucleares e mitocondriais. Algumas das proteínas sintetizadas são necessárias para a diferenciação do próprio oócito, outras são importantes para as interações com as células somáticas vizinhas e ainda outras são importantes para a formação da zona pelúcida, para a fertilização e para o desenvolvimento embrionário inicial. Por fim, algumas das proteínas que podem ser detectadas no oócito são captadas por pinocitose do fluido folicular, ou de secreções das células da granulosa. O desenvolvimento completo do oócito dentro da estrutura folicular exige uma comunicação bidirecional constante entre o oócito e as células da granulosa. Esta comunicação é alcançada através da manutenção de junções comunicantes tipo gap que ligam as células da granulosa entre si e com o oócito (Anderson & Albertini, 1976). Estas junções são mantidas ao longo de toda fase de crescimento até pouco antes da retomada da meiose, quando os processos entre o oócito e as células da granulosa são recolhidos, de forma a impedir a passagem de metabólitos e moléculas informacionais. Não obstante da importância da estrutura folicular para o crescimento do oócito, ele próprio também tem um papel fundamental na regulação de seu próprio desenvolvimento. A partir da produção de fatores parácrinos, o oócito é responsável pela proliferação, deposição de matriz extracelular, esteroidogênese e função das células da granulosa (Vanderhyden, 1996). Esta capacidade regulatória do oócito sobre o crescimento e diferenciação folicular é alcançada através da síntese e secreção de fatores específicos do oócito, tais como o fator de crescimento e diferenciação9 e a proteína morfogenética óssea15, os quais atuam nas células da granulosa para modificar sua multiplicação, função e diferenciação bem como através de contatos físicos diretos que ocorrem na interface oocitocélulas da granulosa. Tal controle do desenvolvimento próprio, assim como do ambiente folicular pelo gameta feminino levou alguns autores a proclamarem uma visão oocêntrica da foliculogênese e embriogênese (Hutt & Albertini, 2007). Um dos estágios finais do desenvolvimento do oócito é a maturação. A maturação do oócito é definida como a fase desde a reentrada em meiose que ocorre pouco antes da ovulação até subseqüente fertilização (Albertini & Carabastos, 1998; Albertini et al, 2001). Um número de geneschave foram identificados os quais são expressos pelas células do cumulus durante a fase de maturação e cujos modelos murinos knockout resultam em infertilidade. Estes genes incluem: HAS2 (sintetase 2 do ácido hialurônico), 25/04/2016 Fertilização http://www.ufrgs.br/gametaembriao/oogenese.htm 8/8 TNFAIP6 (proteína 6 induzida pelo fator de necrose tumoral alfa) e PTX3 (pentraxin3), responsáveis pela síntese e estabilização da matriz do cumulus, PTGS2 (sintetase responsável pela síntese de prostaglandinas) e GREMLIN (uma proteína ligadora da proteína morfogenética do osso 15, BMP 15). Estes genes englobam uma série de funções das células do cumulus, desde os estágios finais da maturação do oócito, antes do pico de LH (GREMLIN) até Figura 10: Folículo de Graaf ou Antral com oócito primário; a.Antro (MO, HE). a resposta inicial ao sinal ovulatório (PTG2) e durante a ovulação (a qual requer a expressão de TNFAIP6 pelo cumulus) e a estabilidade do cumulus durante a fertilização e transporte no oviduto (PTX3). Assim, estes e outros genes expressos pelas células do cumulus tanto refletem como determinam a interação entre cumulus e oócito e o embrião inicial (Russell & Robker , 2007). O oócito é lançado de seu folículo, agora dito um folículo de Graaf (Figura 10, Esquema 1), pelo processo de ovulação, pouco tempo após o início da elevação do LH. Durante a fase de maturação final do oócito uma pequena área do folículo e o tecido conjuntivo ovariano supraadjacente ficam mais finos e translucentes formando o estigma, o qual se assemelha a uma bolha na superfície do ovário. Copyright © 2008 por Adriana BosMikich. Todos os direitos reservados.
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