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Resumo da matéria de CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 - 1º semestre São Judas

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USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 
I - NICCOLÒ MACHIAVELLI (1469 - 1527)
"É necessário ser príncipe para conhecer perfeitamente a natureza do povo, e pertencer ao povo para conhecer a natureza dos príncipes". Se ensinei aos príncipes de que modo se estabelece a tirania, ao mesmo tempo mostrarei ao povo os meios para dela se defender".
 Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram sua obra, mas um número consideravelmente maior de pessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos que aí tem sua origem. "Maquiavélico e maquiavelismo" são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções, porém, o maquiavelismo está associado à idéia de perfídia, a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. 
 Assim, hoje em dia, na maioria das vezes, Maquiavel é mal interpretado. Ao escrever sua principal obra, O PRÍNCIPE, criou um "manual da política", que pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes. Talvez por isso sua frase mais famosa, (que ele nunca escreveu): -"Os fins justificam os meios"- seja tão mal interpretada. Maquiavel não quis dizer que qualquer atitude é justificada dependendo do seu objetivo. Seria totalmente absurdo. O que Maquiavel quis dizer foi que os fins determinam os meios. É de acordo com o seu objetivo que você vai traçar os seus planos de como atingi-los.     É possível perceber que "Maquiavel, fingindo ensinar aos governantes, ensinou também ao povo". E é por isso que até hoje, e provavelmente para sempre, ele será reconhecido como um dos maiores pensadores da história do mundo.
Maquiavel viveu durante a Renascença Italiana, o que explica boa parte das suas ideias.  Na Itália do Renascimento reina grande confusão. A tirania impera em pequenos principados, governados despoticamente por casas reinantes sem tradição dinástica ou de direitos contestáveis. A ilegitimidade do poder gera situações de crise instabilidade permanente, onde somente o cálculo político, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra os adversários são capazes de manter o príncipe. Esmagar ou reduzir à impotência a oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com outros principados constituem o eixo da administração. Como o poder se funda exclusivamente em atos de força, é previsível e natural que pela força seja deslocado, deste para aquele senhor.
 Maquiavel nasceu em Florença em 3 de maio de 1469, numa Itália "esplendorosa, mas infeliz", segundo o historiador Garin. Sua família não era aristocrática, nem rica. Seu pai, advogado como um típico renascentista era um estudioso das humanidades, tendo se empenhado em transmitir uma aprimorada educação clássica para seu filho. Maquiavel com 12 anos, já escrevia no melhor estilo e, em latim.     Mas apesar do brilhantismo precoce, só em 1498, com 29 anos Maquiavel exerce seu primeiro cargo na vida pública. Foi nesse ano que passou a ocupar a segunda chancelaria na república florentina (espécie de ministro do interior e das relações exteriores). Nessa atividade, cumpriu uma série de missões, tanto fora da Itália como internamente, destacando-se sua diligência em instituir uma milícia nacional.
    Com a queda de Soverine, em 1512, a dinastia Médici volta ao poder, desesperando Maquiavel, que é envolvido em uma conspiração, torturado e deportado. É permitido que se mude para São Cassiano, cidade pequena próxima de Florença, onde escreve sobre a Primeira Década de Tito Lívio , mas interrompe esse trabalho para escrever sua obra prima: O Príncipe, segundo alguns , destinado a que se reabilitasse com os aristocratas, já que a obra era nada mais que um manual da política.     Maquiavel viveu uma vida tranqüila em S. Cassiano. Pela manhã, ocupava-se com a administração da pequena propriedade onde está confinado. À tarde, jogava cartas numa hospedaria com pessoas simples do povoado. E à noite vestia roupas de cerimônia para conviver, através da leitura com pessoas ilustres do passado.
    A obra de Maquiavel é toda fundamentada em sua própria experiência, seja ela com os livros dos grandes escritores que o antecederam, ou seja os anos como segundo chanceler, ou até mesmo a sua capacidade de olhar de fora e analisar o complicado governo do qual terminou fazendo parte A partir de 1519, recupera Maquiavel certo favor dos Médicis, mas devido sua reputação de funcionário prudente, de hábil político, e não por causa de O Príncipe. Recebe uma pensão para escrever a sua História de Florença. Em 1527 os Médicis são de novo expulsos de Florença, restabelecendo-se a República, Maquiavel que achava estarem findos os seus problemas, viu-se identificado por jovens republicanos como alguém que tinha ligações com os tiranos depostos. Esgotaram-se suas forças. Foi a gota d’água que estava faltando. A república considerou-o seu inimigo. Desgostoso, adoece e morre em Junho.     
Maquiavel faleceu sem ter visto realizados os ideais pelos quais se lutou durante toda a vida. A carreira pessoal nos negócios públicos tinha sido cortada pelo meio com o retorno dos Médici e, quando estes deixaram o poder, os cidadãos esqueceram-se dele, "um homem que a fortuna tinha feito capaz de discorrer apenas sobre assuntos de Estado". Também não chegou a ver a Itália forte e unificada. Para Maquiavel, como renascentista que era, quase tudo que veio antes estava errado. Esse tudo deve incluir os pensamentos e as idéias de Aristóteles. Ao contrário deste, Maquiavel não acredita que a prudência seja o melhor caminho. Para ele, a coerência está contida na arte de governar. Maquiavel procura a prática. A execução fria das observações meticulosamente analisadas, feitas sobre o Estado, a sociedade. 
Maquiavel, ao refletir sobre a liberdade de sua época, elaborou não uma teoria do Estado moderno, mas sim uma teoria de como se formam os Estados, de como na verdade se constitui o Estado moderno. Isso é o começo da ciência política; ou, se quisermos, da teoria e da técnica da política da política entendida como uma disciplina autônoma, separada da moral e da religião.
 O Estado, para Maquiavel, não tem mais função de assegurar a felicidade e a virtude, segundo afirmava Aristóteles. Também não é mais - como para os pensadores da Idade Média - uma preparação dos homens ao Reino de Deus. Para Maquiavel o Estado passa a ter suas próprias características, faz política, segue sua técnica e suas próprias leis. Logo no começo de O príncipe, Maquiavel escreve: "Como minha finalidade é a de escrever coisa útil para quem a entender, julguei mais conveniente acompanhar a realidade efetiva do que a imaginação sobre esta". Trata-se já da linha do pensamento experimental, na mesma senda de Leonardo da Vinci: as coisas como elas são, a realidade política e social como ela é, a verdade efetiva.  Isso significa que devemos estudar as coisas como elas são e devemos observar o que se pode e é necessário fazer, e não aquilo que seria certo fazer.
 Maquiavel afirma: "Há uma dúvida se é melhor sermos amados do que temidos, ou vice-versa. Deve-se responder que gostaríamos de ter ambas as coisas, sendo amados e temidos; mas, como é difícil juntar as duas coisas, se tivermos que renunciar a uma delas, é muito mais seguro sermos temidos do que amados... pois dois homens, em geral, podemos dizer o seguinte: eles são ingratos, volúveis, simuladores e desestimuladores; eles furtam-se aos perigos e são ávidos de lucrar. Enquanto você fizer o bem para eles, são todos teus, oferecem-te seu próprio sangue, suas posses, suas vidas, seus filhos. Isso tudo até o momento que você não tem necessidade. Mas, quando você precisar, eles viram as costas.
Com isso, Maquiavel contradiz profundamente o que ele próprio havia escrito sobre a primeira década de Tito Lívio: isto é, queo poder baseia-se na democracia, no consentimento do povo, entendendo-se como povo a burguesia do seu tempo. Mas agora Maquiavel pensa na construção de um Estado unitário e moderno, portanto do Estado absoluto, e descreve o que será o processo real da formação dos Estados unitários.   Maquiavel funda uma nova moral que é a do cidadão, do homem que constrói o Estado; uma moral imanente, mundana, que vive no relacionamento entre os homens. Não é mais a moral da alma individual, que deveria apresentar-se ao julgamento divino "formosa" e limpa.
O Príncipe 
 "O Príncipe" consiste de um manual prático dado ao Príncipe Lorenzo de Médici como um presente, o qual envolve experiência e reflexões do autor. Lourenço de Médici recebeu O Príncipe em manuscrito. Não lhe dispensou atenção alguma. Nas mãos de contemporâneos onde circulou o manuscrito, o interesse foi medíocre. Quatro anos após a morte de Maquiavel, O Príncipe é publicado, com um breve de autorização do Papa Clemente VI (1531); a edição é dedicada a um cardeal. Inicialmente inofensiva, as edições vão se multiplicando. A Renascença pagã sucedeu a Reforma protestante, que obrigou a própria Igreja a reformar-se interiormente. Assim o livro de Maquiavel achou-se envolvido nos turbilhões de vastas contendas. O Cardeal - Arcebispo de Canteerbury, Reginald Pole, católico, julga O Príncipe escrito “pela mão do Demônio”. Em1557, o escrito indigno e celerado denunciado pelo Papa Paulo IV; é condenado pelo Concílio de Trento, e muitas outras acusações. Também os protestantes abominam Maquiavel como jesuíta. Os jesuítas o denunciam à indignação católica. A obra é dividida em 26 capítulos.
PONTOS IMPORTANTES DA TEORIA DE MAQUIAVEL SOBRE O ESTADO E O PODER 
A) a verdade efetiva das coisas 
O foco para Maquiavel sempre foi o Estado, não aquele imaginário e que nunca existiu; mas aquele que é capaz de impor a ordem! O ponto de partida e de chegada é a realidade corrente, ou seja: ver e examinar a realidade como ela é e não como se gostaria que fosse. O que Maquiavel se questiona incessantemente é: como fazer reinar a ordem – como instaurar um estado estável – como resolver o ciclo de estabilidade e caos. Ele chega a algumas conclusões interessantes – A ordem deve ser construída para evitar a barbárie. Uma vez alcançada, não é definitiva. 
B) natureza humana e história 
Fiel ao conceito da verdade efetiva, Maquiavel estuda a história, sobretudo a antiguidade clássica. Conclui que qualquer que seja o tempo e o espaço o homem tem traços humanos imutáveis quais sejam: ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro – O Príncipe cap. XVII. Destes atributos negativos temos os fundamentos para o conflito e a anarquia. Para Maquiavel o estudo do passado indicará os acontecimentos que se sucederão em qualquer estado e também quais os meios empregados para solucionar problemas pela coincidência ou similaridade.
C) Dos tipos de principado
Segundo Maquiavel, os principados são dois os tipos de principados: REPUBLICA ou PRINCIPADOS. Os Principados podem ser hereditários ou novos. Principados mistos: Quando não são inteiramente novos. Quando se conquista um pais acostumado a viver segundo as suas próprias leis e em liberdade, três maneiras ha de proceder para conservá-lo : DESTRUI-LO; ou IR MORAR NELE; ou DEIXA-LO VIVER COM SUAS LEIS. Quando o príncipe reside em seu domínio, dificilmente acontece de vir a perde-lo. 
Outro meio igualmente eficaz e mandar colonizar algumas regiões que sejam como chaves do novo Estado. Neste caso, os lesados por ficarem pobres e dispersos, nunca poderão acarretar-lhe embaraços. Note-se, dizia Maquiavel, que os homens devem ser suprimidos ou lisonjeados, pois se vingam das ofensas leves, mas não podem faze-lo das graves. Por conseguinte, a ofensa que se faz ao homem deve ser tal, que o impossibilite de tirar desagravo. 
D) Virtú e fortuna
Os conceitos de virtù e fortuna são empregados várias vezes por Maquiavel em suas obras. Para ele, a virtù seria a capacidade de adaptação aos acontecimentos políticos que levaria à permanência no poder. A virtù seria como uma barragem que deteria os desígnios do destino. Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a mesma conduta quando esta frutifica e assim acabam perdendo o poder quando a situação muda. A idéia de fortuna em Maquiavel vem da deusa romana da sorte e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como tirá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na política. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá. A crença na predestinação ou fatalidade dominava há muito tempo. A fortuna era uma deusa que possuía os bens que o homem deseja possuir: honra, riqueza, glória e poder. Era importante seduzi-la antes que outros o fizessem. Como era deusa - mulher era necessário mostrar-se vir homem de inquestionável coragem. Desta forma o homem que possuísse uma virtú no mais alto grau seria agraciado com a fortuna. Maquiavel na sua obra O Príncipe monta um cenário para comprovar que é possível se estabelecer uma aliança com a virtú pois parece haver um sentido de complementaridade e não de sobreposição. 
Virtú é, como vimos, energia, vontade dirigida para um objetivo. Fortuna é sorte (boa ou má), acaso ou oportunidade (propícia ou desfavorável). No caso do príncipe é o momento certo, antecipadamente calculado por ele; momento no correr do tempo, porém o momento com certeza de êxito garantida pela perspicácia do príncipe. Outro aspecto marcante de sua obra é quando são tratados os meios de se tornar príncipe, que podem ser dois: pelo valor ou pela fortuna. Entretanto ele adverte que aqueles que se tornaram príncipes pela fortuna têm muita dificuldade para se manter no poder.
O poder que nasce da própria natureza humana encontra sua base na força, mas o importante é a sabedoria no uso da força; ao governante para se manter no poder não basta ser simplesmente o mais forte – ele deve possuir virtú para manter o domínio adquirido. Segundo Maquiavel, existem ainda duas outra maneiras de um simples cidadão chegar ao poder que não por meio da fortuna ou da virtude – através da pratica de ações celeradas e nefastas ou favor dos outros concidadãos. Quando um cidadão chega ao poder por meio da ajuda dos seus concidadãos, o principado pode ser chamado de civil e para alguém governá-lo, não precisa Ter exclusivamente VIRTUDE ou FORTUNA, mas sim ASTUCIA AFORTUNADA. Conseguir reunir a “fortuna” e a “virtú” constitui uma situação ideal para a manutenção do poder político. Diz Maquiavel: "Minha opinião é de que é melhor ser ousado que prudente".
Continua Maquiavel: "Sou de parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna (oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (...) contrariá-la. Vê-se , que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia".
E) Chegar e manter o poder com ajuda dos poderosos ou do povo?
O Príncipe elevado pelos grandes – que se julgam seus iguais, que são insaciáveis, e aos quais não domina – encontra uma dificuldade em manter-se do que um Príncipe elevado pelo povo. 
Quem chega ao poder com o auxilio dos grandes, tem maiores dificuldades do que aquele que chega com o apoio dos vulgos. Desejo do povo e ficar livre de opressão enquanto os grandes querem oprimir o povo. 
F) Como se devem medir as forças dos principados? 
Deve-se verificar se o príncipe tem condições de oferecer resistência sozinho a quem lhe ataca, isto é, dinheiro e exército para resistir. Se necessita de ajuda alheia para defender seu trono, ou seja, refugia-se dentro dos muros de sua cidade para defender estes. Um príncipe para ter um estado forte é necessário que ele tenha um bom exército e boas leis. 
G) Das coisas pelasquais um homem ou príncipe são louvados ou censurados 
Faça o que for necessário para não cair em ruína o seu trono, mesmo que seja censurado. O príncipe deve aprender a não ser sempre bom, a ser ou não ser bom “conforme a necessidade”. O príncipe deve conservar o seu reino. Na escolha, do que se deve fazer, encontrará algo com aparência de virtude, que cuja adoção lhe trará a ruína, e algo com aparência de defeito que o conduzirá a uma situação de segurança e bem-estar. Diz Maquiavel: “Pois o homem que queira professar o bem por toda parte é natural que se arruíne entre tantos que não são bons."
H) De que maneira os príncipes devem cumprir suas promessas 
Só deverá cumpri-las se forem benéficas. Um príncipe sábio não pode e nem deve manter-se fiel as suas promessas quando extinta a causa a que o levou fazê-las. Este preceito não servia se todos os homens fossem bons, como são maus por isso faltariam com a palavra que deram e nada impede que venhamos faltar com a nossa também. 
“Os homens em geral formam suas opiniões guiando-se pela vista, do que pelo tato; vê o que parecemos ser, e não sentem o que realmente somos. Os homens são tão simplórios e obedecem de tal forma as necessidades presentes que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar. Quando se é príncipe, pode-se “deixar de encontrar razões legítimas para colorir a falta de cumprimento” do que se prometeu.
Como se deve evitar o desprezo e o ódio 
O príncipe deve em geral abster-se de praticar o que o torne malquisto ou desprezível. 
O que acarreta ódio dos súditos é usurpar os seus bens e as suas mulheres, pois os homens vivem contentes enquanto ninguém lhes toca nos haveres e na honra. O desprezo incorre quando os seus governados o julgam, inconstante, leviano e irresoluto. Tem de ter o máximo de cuidado, esta reputação é perigosa, seus atos devem ser de grandeza, coragem, austeridade e vigor.
Diz Maquiavel: "A um príncipe pouco devem importar as conspirações se é amado pelo povo, mas, quando este é seu inimigo e o odeia, deve temer tudo e a todos".
J) Como deve portar-se um príncipe para ser estimado e manter o apoio do povo 
Torna-se estimado quando sabe ser verdadeiro amigo ou inimigo, isto é, quando abertamente se declara a favor de alguém e contra outrem, é sempre melhor que manter-se neutro. O príncipe deve fazer com que seus súditos necessitem sempre do Estado e dele porque a ele se submeterão. 
É necessário a um príncipe que ele tenha um espírito pronto adaptar-se as variações das circunstâncias e da fortuna e manter-se quanto possível no caminho do bem, mas pronto igualmente a enveredar pelo do mal, quando for necessário. Deve mostrar-se também amante da virtude, premiando os homens que se sobressaiam. 
Para um príncipe ser considerado liberal, generoso é bom, todavia ser parcimonioso é um dos vícios que fazem reinar. Mais vale ser amado que temido, ou temido que amado? É melhor ser temido. Por quê? Os homens são ingratos. O vínculo do amor rompem-no ao sabor do próprio interesse, enquanto o temor se conserva por um medo do castigo, que jamais os abandona. Ser temido não significa ser odiado. Há uma singela receita para evitar o ódio: é abster-se de atentar, seja contra os bens dos súditos, seja contra a honra de suas mulheres. Diz Maquiavel : "Os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo de obrigação, o qual, devido a serem os homens pérfidos é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de castigo, que é um sentimento que não se abandona nunca. Deve, portanto o príncipe fazer-se temer de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio". 
O príncipe deve escolher por modelo a raposa e o leão. Deve tratar de ser simultaneamente a raposa e leão, pois, se for apenas leão, não perceberá as armadilhas; se for apenas raposa, não se defenderá contra os lobos. Diz Maquiavel: Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos."
O novo príncipe deve observar em jamais tornar poderoso outro príncipe, pois seria trabalhar para sua própria ruína. Também o novo príncipe não se deve permanecer neutro, pois os que abraçam esta posição quase sempre vão à ruína.
Somente um príncipe já sábio por si mesmo pode ser bem aconselhado. Deve tomar conselho quando quer e não quando outros o querem. Jamais se deixar dominar por aqueles que o aconselham. Um bom ministro é aquele que nunca pensa em si mesmo, mas sempre no príncipe. Mas o príncipe também deve pensar neste seu ministro, cumulando-o de riquezas, de consideração, de honras e dignidades, para que receie toda mudança.
K) Como conquistar o estado
“O desejo de conquistar é sem dúvida algo de ordinário e natural, e todo aquele que se entrega a tal desejo, quando possui os meios para realizá-lo é antes louvado que censurado; mas formar o desígnio sem poder executá-lo é incorrer na censura e cometer um erro”. Para todo Estado antigo, novo ou misto, “as principais bases são: boas leis e boas armas.” Não há boas leis onde não há boas armas. 
Diz Maquiavel: "Toda ação é designada em termos do fim que se procura atingir".
TEXTO COMPLEMENTAR
NOTAS SOBRE A POLITICA E O ESTADO EM MAQUIAVEL� - Hannah Arendt
O primeiro capítulo do Príncipe contém o quadro conceitual principal de toda a obra. O Príncipe é como a condensação dos Discorsi [os Comentários à Primeira Década de Tito Lívio], os Discorsi são um comentário do Príncipe; a ênfase do Príncipe incide nas “monarquias”, nos Discorsi, sobre as “repúblicas”, mas a monarquia e a república estão presentes nas duas obras. Para Maquiavel é decisivo que ele tenha achado uma
nova palavra para designar ambas. Essa palavra é Estado.
O Estado: pouco importa de onde vem a palavra – ela designa o que é estável, sua fazenda (Burkhardt) – concebido como um “novo sistema” (capítulo 26) que deve ser “introduzido”. Mas, por outro lado, é algo que já existe. 
O que é o Estado? Os franceses não compreendiam o “Estado”, do contrário jamais teriam permitido á Igreja tornar-se tão poderosa (capítulo 3). Em primeiro lugar, pois: o Estado contra a Igreja. Isso significa duas coisas: a ascensão do secular contra o cristianismo e a ascensão da nação contra as ingerências internacionais. (O grande pecado da Igreja foi permitir que os estrangeiros se instalassem na Itália. A Itália dividida entre Milão, Nápoles. Veneza, Florença e os estados pontifícios).
Significa também: a ascensão do “homem novo” – os condottieri que sabem como bem fundar um Estado e dar às coisas a sua “grandeza” (capítulo 26). Esse homem será o fundador de algo novo. Em consequência, aparece o conceito de fundação. Ele libertará o seu país; portanto, aparece o conceito de liberdade.
A ação desse homem novo, que funda uma nova organização, um corpo político, deve seguir certas normas que são igualmente “novas”: uma nova moralidade, mas não uma razão de Estado. Não é o Estado, uma instituição, que raciocina, mas os homens. É a necessidade, e não a razão, que “constrange” os estados a “numerosas coisas a que a razão não nos impele” (Discorsi, I, 6). Mas a razão não é a necessidade, e a necessidade não é razoável. Se a necessidade está do seu lado, ela pode impor-lhe a razão ou a não razão. Que a necessidade talvez pudesse ser ela própria razoável, racional, é uma ideia alheia a Maquiavel.
A primeira frase: “Todos os estados, todos os domínios, que tiveram poder sobre os homens eram ou são seja repúblicas seja principados”. As repúblicas e as monarquias são estados. Elas são meras formas de governo, e os governos podem ir e vir, o que deveria permanecer é o Estado. Com esse termos ele não designa a administração ou a maquinaria estatal. Por exemplo: a Rússiaé tanto o Estado czarista quanto a Rússia bolchevista.
Esse “governo” que permanece não é governo, mas o território e o povo, representado pelo Estado. Enquanto existir o povo sobre o território, a Itália, o Estado – o Estado nação – existe.
Dois tipo de monarquia: hereditária, como a dos reis e dos imperadores; aqueles que reinam também sobre territórios que herdaram mas nos quais não nasceram. Ou então recente – são os condottieri, pessoas que surgem durante períodos turbulentos e se tornam dirigentes. E pode-se esperar dos condottieri, as quais só Maquiavel presta atenção, que eles fundem um novo sistema, pois eles são “homens novos”. Eles adquiriram essas monarquias pela força das armas ou pela fortuna e pela virtú.
Temos aqui todos os conceitos. Desde logo temos o Estado, a nova organização que Maquiavel queria ver fundada. Temos as principais formas de governo, as repúblicas e as monarquias, às quais devemos juntar a aristocracia (Veneza), mas elas não são muito interessantes para Maquiavel. Pensa ele que, seja qual for a forma de governo que o Estado assuma, o principal é que dure. Ou ainda: ainda que os governos possam
mudar, o Estado deve durar; ele pode passar de uma forma a outra. O Estado só é destruído quando o país é dividido, vale dizer, quando há muitos governos no mesmo país, quando o mesmo povo vive sob diferentes tipos de regras, ou quando um estrangeiro penetra no país. O conceito de estrangeiro é muito novo. Ele significa que não são idênticos todos os cristãos, que um novo princípio de distinção entre os homens se introduz, um princípio que não é religioso mas secular: onde vocês nasceram, que língua falam, quais as suas lembranças históricas? Maquiavel tinha razão: o Estado nacional podia desenvolver-se sob a forma da monarquia e da república. Maquiavel contempla ambas, não do ponto de vista do desenvolvimento histórico mas como igualmente possíveis. Em consequência, sua discussão das formas de governo, embora muito importante na sua obra, não nos ocupará. Ela é secundária em relação ao seu principal tema: o Estado. Discutiremos as formas de governo em Montesquieu, quem, sob muitos aspectos, lembra Maquiavel. Isso nos deixa com os seguintes conceitos: O Estado; a ascensão de homens novos capazes de fundar – a fundação; virtú e fortuna como as forças maiores encerradas nesta última; a grandeza como critério último.
O Estado: o Estado é um termo para o secular, contra a Igreja e o cristianismo. Entre os numerosos estrangeiros a Igreja é a mais perigosa, não somente porque sempre apela aos estrangeiros para manter seu poder temporal mas porque enquanto poder temporal, e somente como tal, ela atravessa as fronteiras. Se a Igreja se restringisse à religião isso não seria problema. 
A religião como crença cristã é antipolítica. E é somente pela comparação das duas – a religião e a política – que podemos compreender o que Maquiavel entendia por ser político, por viver numa esfera política. Maquiavel não é um ateu moderno, que não crê em Deus. Ele quer por em risco sua alma e enfrentar a danação eterna pelo seu país (ver Kant a propósito do orgulho: desprezo pelos que são bons porque esperam ser recompensados no céu). Talvez haja egoísmo naqueles que vivem por sua própria salvação ao invés de redimir seu país. Aqueles que não amam o mundo mas amam sua própria alma são maus para o mundo: a maldade do mundo e a bondade das almas puras. (Este argumento está sempre presente na fórmula “os que não querem sujar as mãos para permanecer limpos”, que se ouve em todas as revoluções). Mas essas pessoas [os cristãos] permanecem fora da esfera pública e não pronunciam exortação nessa esfera, então há um certo respeito. (Cf. o tratamento de Savonarola).
Há uma razão mais profunda: a Igreja, se fosse aceitável, o que não é o caso, ensinaria os homens como serem bons (se não faz isso a Igreja é o pior de todos os poderes temporais). E os italianos tornaram-se tão maus porque a Igreja não cumpre mais o seu dever. Como ela não sabe ensinar aos homens como serem bons (...) ela os tornou maus. O verdadeiro problema é então o seguinte: que é a bondade? É possível ser ao mesmo tempo bom e agir na esfera política?
O principal conceito da ação política é a glória, que é alcançada pela fortuna e pela virtú: a glória para um povo ou um príncipe ou quem quer que esteja envolvido nos negócios mundanos. A glória brilha – doxa [aparência, louvor], aparece, é vista e se faz ver. O príncipe realiza grandes empresas pela glória eterna e a glória presente. A fama é o prolongamento da glória, é a glória tornada durável. A glória brilha por si mesma graças a todas as grandes ações e empreendimentos. Ela se difunde. O homem aparece e se mostra. Em consequência, surge a questão da distinção entre aparecer e ser. Em política: devemos aparecer, ver e ser vistos, ouvir e ser ouvidos, o que mostramos é o que somos e não o inverso. O que somos não é importante, é privado. A glória é o apogeu da aparência e ela só é possível onde outros veem e onde eu sou visto.
A bondade: em sentido absoluto ela não existe nessa esfera, pois uma boa ação se dissimula. Uma vez conhecida ela não é mais boa mas vaidade, desejo de aparecer como boa. O conceito de bondade é o agathon. Jesus: não dizei que sou bom, só nosso pai que está nos céus é bom. O homem não pode ser bom no sentido de que tão logo parece sê-lo a bondade se vai; a bondade desaparece no processo de sua aparição. O embaraço quando a bondade aparece: o príncipe em O Idiota [de Dostoiévski]. No mundo o homem bom é um idiota, vale dizer, bom no sentido cristão. Idiota no antigo sentido do termo [isolado, só ele].
Maquiavel ensina não a ser bom mas a agir politicamente no mundo das aparências, onde nada conta senão o que aparece. O mundo. Eis alguém que ama verdadeiramente o mundo. 
Um outro problema está envolvido nisso, é a questão da imortalidade. A “boa nova” do cristianismo é que a vida, enquanto bios individual, é eterna, que a morte está superada. É a nova mensagem bem sucedida em face do mundo antigo e, com ele, do pessimismo, e essa mensagem se apodera desse mundo. Os antigos acreditavam na eternidade – aei on – da natureza e do universo e na potencial permanência do mundo. Em consequência buscava sempre o melhor, vale dizer, o governo mais estável. No seio deste, na polis, na cidade eterna, o homem pode deixar o seu traço e tornar-se eterno, mas o que ele faz são grandes obras. As instituições políticas existem em parte para tornar possível esse athanatidzein [ ser imortal].
Assim, Aquiles troca sua vida breve por proezas que serão lembradas para sempre (ele precisa de Homero). A polis ateniense dispensa Homero. 
Temos assim, por este lado, as ideias seguintes: os homens são mortais, eles desaparecem e aparecem, o mundo continua se os homens são bons para o mundo, e o cosmos é aei on [permanente]. O cosmos é aei porque não foi criado, ele não tem fim porque não tem começo.
Do lado do cristianismo: o universo é criado, tem um começo, está sujeito a perecer. Mas o homem é criado à imagem de Deus e partilha da sua imortalidade. Mas tudo que criam os homens, que são mortais e criam num mundo mortal, perece. Temos portanto aqui a concepção seguinte: o mundo está condenado à morte, o universo poderia não durar, são eternos Deus e a vida do homem.
A atitude em face da política: os antigos poderiam tornar-se imortais somente ao juntar algo ao mundo, que continua após a morte. Os cristãos, pelo contrário, estão seguros da imortalidade façam o que fizerem, e só devem então escolher a “boa vida” para estarem certos da vida além. Os antigos: a vida como tal, sendo mortal, nada é senão uma oportunidade para tornar-se imortal. Para os cristãos: a vida como tal é imortal, e portanto ela é tudo. A vida e o mundo. Vivemos no mundo: a vida continua após ter-se extinto o mundo; ou o mundo continua após ter-se extinta a vida.
Maquiavel não pergunta jamais: para que serve a política? Isto é muito surpreendente. Ninguém salvo ele põe inteiramentede lado essa questão. A política não tem fim mais elevado do que ela própria. O cristianismo: a política deve ser organizada de tal modo que o homem e sua alma possam estar certos da salvação eterna. Este é o critério último. Platão e Aristóteles pensavam que a política devesse ser organizada de tal modo que a filosofia – o cuidado com as coisas eternas – fosse possível. Ou: a política existe para possibilitar a “boa vida” (Aristóteles), enquanto que as necessidades da mera existência são satisfeitas no âmbito doméstico. Ou mais tarde: a política deve ser instituída para assegurar uma existência pacífica e prevenir a “morte violenta” (Hobbes). Maquiavel menciona numa ocasião a necessidade dos homens de se defenderem e que esse é provavelmente o primeiro motivo para os homens juntarem-se em corpos políticos. Mas isso não lhe interessa. A política não tem fim em si mesma, ela não é um meio. Mas tudo na política regula-se por esta máxima: o fim justifica os meios. 
II - FORMAS DE GOVERNO
O QUE SÃO FORMAS DE GOVERNO
 A teoria das formas de governo se deriva de duas questões básicas: quem governa e como se governa. Formas de Governo são representações do Poder do Estado (Governo) da maneira como a sociedade a percebe através da história da humanidade. 
Em ciência política, chama-se forma de governo (ou sistema político) o conjunto de instituições políticas por meio das quais um Estado se organiza a fim de exercer o seu poder sobre a sociedade. Cabe notar que esta definição é válida mesmo que o governo seja considerado ilegítimo.
Tais instituições têm por objetivo regular a disputa pelo poder político e o seu respectivo exercício, inclusive o relacionamento entre aqueles que o detêm (a autoridade) com os demais membros da sociedade (os administrados). A forma de governo adotada por um Estado não deve ser confundida com a forma de Estado (unitária ou federal) nem com seu sistema de governo (presidencialismo, parlamentarismo, dentre outros).
Outra medida de cautela a ser observada ao estudar-se o assunto é ter presente o fato de que é complicado categorizar as formas de governo. Cada sociedade é única em muitos aspectos e funciona segundo estruturas de poder e sociais específicas. Assim, alguns estudiosos afirmam que existem tantas formas de governo quanto há sociedades. 
As formas de Governo podem variar conforme o número de pessoas que ocupa o poder como queria Aristóteles, pela forma como são escolhidos os governantes, pela maneira como governam, etc.
CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS DE GOVERNO
A primeira classificação sistemática das diferentes Formas de Governo foi realizada por Aristóteles, que organizou-as tendo em vista a quantidade de pessoas que governavam:
a) ANARQUIA – Ausência total do governo e do Estado. Segundo a teoria anarquista, os homens formam comunidades, e se autogovernam. Não deve haver qualquer tipo de imposição de vontade entre os grupos humanos.
b) REALEZA – Governo de um só, o rei. Para Aristóteles, quase sempre a realeza transforma-se em Monarquia, onde todo o poder emanava dos interesses particulares do governante (Monarca). O governo resume-se ao poder e a vontade do soberano. Forma de governo muito comum na Antiguidade e na Idade Média.
c) ARISTOCRACIA – Governo de poucas pessoas, da elite. Para Aristóteles, um grupo de pessoas assume o poder,pelo costume ou pela força,e vincula seus interesses e opiniões, aos interesses do Estado. 
Muitos pensadores políticos questionaram se a elite intelectual de uma sociedade não seria o corpo ideal para governá-la. Aristóteles aponta entre outros problemas, que quase sempre é inevitável a degeneração (deterioração) do sistema aristocrático, quando o grupo que está no poder deixa de governar em nome do interesse de todos (bem comum) e passa a governar em nome dos interesses do próprio grupo transformando-se em Oligarquia (Governo um grupo). Os interesses do grupo prevalecem sobre os coletivos. É por exemplo o que ocorreu com o governo dos grandes latifundiários brasileiros durante a política do café com leite até 1929.
d) DEMOCRACIA – Nasceu em Atenas na Grécia, cerca de 500 anos antes de Cristo. Os atenienses cansados de serem governados por pessoas ou grupos que não representavam diretamente seus interesses, (caso da Oligarquia, quando foram escolhidos trinta dos mais destacados cidadãos atenienses para governar o país, e foram chamados dos “30 Tiranos”), resolveram. Através de um sistema de eleições e sorteios escolhiam os “administradores executivos” da cidade, mas as decisões eram tomadas em praça pública, pelo voto direto.
Sócrates, Platão e Aristóteles nunca foram muito simpáticos a esse sistema, pois acreditavam que os líderes populares se utilizariam de seu carisma e prestígio para cooptar o povo a acatar seus pontos de vista. Com o passar do tempo, conforme aumentasse seu prestígio, esses líderes conseguiram impor seus interesses sobre os demais, gerando a TIRANIA ou DITADURA, e quando esta não mais conseguisse se impuser restaria a anarquia.
Apesar das críticas a DEMOCRACIA se transformou na forma de governo mais utilizada e prestigiada dos últimos dois séculos.
MAQUIAVEL
Depois de Aristóteles, Maquiavel, sempre cético quanto a possibilidade de uma forma política ideal, afirmou que os governos funcionavam por ciclos, cada forma de governo dando origem a outra subsequente: 
No início das sociedades, como não existe governo prevalece a ANARQUIA. Necessitando de uma liderança, os homens recorrem a REALEZA OU MONARQUIA. Com o passar do tempo as monarquias quase sempre, transformam-se em TIRANIAS (DITADURAS), gerando descontentamento. Um grupos da elite toma o poder, tendo como forma de governo a ARISTOCRACIA. A aristocracia (governo da elite), com o tempo tende a transformar-se em OLIGARQUIA (Governo de um grupo, que visa apenas seus próprios interesses).
O povo descontente escolhe livremente seu próximo governante, criando a REPÚBLICA ou DEMOCRACIA. O governante eleito, ao sentir-se fortalecido pelo apoio popular começa a defender apenas seus próprios interesses, sem ouvir a sociedade, e é deposto. Então temos novamente a ANARQUIA e o ciclo recomeça.
MONARQUIA E REPÚBLICA
Nos tempos modernos, costuma-se agrupar as formas de governo contemporâneas, em duas grandes classificações que englobam todas as demais: MONARQUIA e REPÚBLICA. Estas são as formas de governo utilizadas na quase totalidade dos Estados contemporâneos.
CARACTERÍSTICAS DA MONARQUIA
Monarquia o governo é representado por uma única personalidade. Antigamente o poder do rei era total, não havendo divisão de poderes, por isso esta forma de governo era chamada de MONARQUIA ABSOLUTA. Com o tempo, muitos países evoluíram para a MONARQUIA CONSTITUCIONAL, ou seja, os poderes do Rei e suas atribuições estão limitados pela Constituição, que é a lei maior de um Estado soberano.
As principais características da MONARQUIA são:
HEREDITARIEDADE – Transmissão do cargo por consangüinidade (parentesco). Não há escolha popular, ou mesmo de um grupo.
VITALICIDADE – Permanência no cargo até a morte ou doença grave. 
IRRESPONSABILIDADE – o Rei não é responsabilizado pelos seus atos administrativos, pois não existe nenhum tipo de controle externo sobre seu governo. Não existem órgãos superiores ao Rei que possam fiscalizá-lo.
CARACTERÍSTICAS DAS REPÚBLICAS
As Repúblicas são governos eleitos, direta ou indiretamente pelo conjunto da sociedade, e expressam a vontade popular na escolha do governante. Tem como característica a proibição de privilégios no exercício do poder político. Além disso, uma das mais importantes conquistas do sistema republicano é o acesso do cidadão comum as esferas de poder do Estado. Qualquer cidadão, desde que preenchidos os requisitos, pode ocupar os cargos eletivos ou técnico-operacionais do Governo. Ao deixar o cargo, o cidadão volta a seus “status” anterior perdendo toda autoridade, ou privilégios decorrentes do período em que ocupou cargo público.
a) TEMPORARIEDADE – Mandatoscom prazo pré-determinado, ninguém pode exercer o poder vitaliciamente.
b) ELETIVIDADE – Participação popular na escolha do chefe de governo (presidente, ou primeiro ministro). O governante é sempre escolhido através do poder eletivo da população, através de diferentes sistemas eleitorais. 
c) RESPONSABILIDADE – Tanto o Chefe de Estado, como o Chefe de Governo, tem de prestar contas de seus atos, quando no exercício do mandato popular, ou ao ocupar cargos públicos. A tripartição de poderes, o controle popular, o judiciário, etc., são diferentes formas encontradas para fiscalizar o exercício do poder.
PAÍSES DO MUNDO DE ACORDO COM SUA FORMA DE GOVERNO EM 2011
  Repúblicas presidencialistas
  Repúblicas semipresidencialistas
  Repúblicas parlamentaristas
  Estados unipartidários
  Monarquias constitucionais parlamentares
  Monarquias absolutas
  Ditaduras militares
  Monarquias constitucionais onde o monarca exerce poder pessoalmente
  Repúblicas com um presidente executivo dependente do parlamento
  Países que não se encaixam em nenhum dos sistemas políticos acima
 III - CHARLES DE MONTESQUIEU - 1689 - 1755
Charles-Louis de Secondat, ou simplesmente Charles de Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de Janeiro de 1689 — Paris, 10 de Fevereiro de 1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais. Aristocrata, filho de família nobre, nasceu no dia 18 de Janeiro de 1689 e cedo teve formação iluminista com padres oratorianos. Revelou-se um crítico severo e irônico da monarquia absolutista decadente, bem como do clero católico. Adquiriu sólidos conhecimentos humanísticos e jurídicos, mas também frequentou em Paris os círculos da boêmia literária. Em 1714, entrou para o tribunal provincial de Bordéus, que presidiu de 1716 a 1726. Fez longas viagens pela Europa e, de 1729 a 1731, esteve na Inglaterra.
Proficiente escritor, concebeu livros importantes e influentes, como Cartas persas (1721), Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734) e O Espírito das leis (1748), a sua mais famosa obra. Contribuiu também para a célebre Enciclopédia. Morreu em Paris, no dia 10 de Fevereiro de 1755.
O ESPÍRITO DAS LEIS (L'ESPRIT DES LOIS)
Montesquieu elaborou uma teoria política, que apareceu na sua obra mais famosa, O Espírito das Leis (L'Esprit des lois, 1748), inspirada em John Locke e no seu estudo das instituições políticas inglesas. É uma obra volumosa, dividida em 6 partes, cada qual em vários livros, composta de muitos capítulos. Nela, ele discute a respeito das instituições e das leis, e busca compreender as diversas legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Esta obra inspirou os redatores da Constituição de 1791 e tornou-se na fonte das doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário. A pertinência das observações e a preocupação com o método permitem encontrar no seu trabalho elementos que prenunciam uma análise sociológica. Eis algumas das principais ideias de Montesquieu expressas nesta obra tão importante:
As leis escritas ou não, que governam os povos, não são fruto do capricho ou do arbítrio de quem legisla. Ao contrário, decorrem da realidade social e da História concreta própria ao povo considerado. Não existem leis justas ou injustas. O que existe são leis mais ou menos adequadas a um determinado povo e a uma determinada circunstância de época ou lugar. O autor procura estabelecer a relação das leis com as sociedades, ou ainda, com o espírito dessas. 
Pontos fundamentais da obra de Montesquieu
Sua preocupação central foi a de compreender, em pri​meiro lugar, as razões da decadência das monarquias, os conflitos intensos que minaram sua estabilidade, mas também os mecanis​mos que garantiram, por tantos séculos, sua estabilidade, e que Montesquieu identifica na noção de moderação. Essa busca das condições de possibilidade de um regime está​vel, está pre​sente em dois aspectos da obra de Montesquieu: a tipologia dos go​vernos, ou a teoria dos princípios e da natureza dos regimes; e a teoria dos três poderes, ou a teoria da separação (tripartição) dos poderes.
a) Das leis em geral
Até Montesquieu, a noção de lei compreendia três dimensões essencialmente ligadas à ideia de lei de Deus. As leis ex​primiam uma certa ordem natural, resultante da vontade de Deus. Elas exprimiam também um dever-ser, na medida em que a ordem das coisas estava direcionada para uma finalidade divina. Finalmen​te, as leis tinham uma conotação de expressão da autoridade. As leis eram simultaneamente legítimas (porque expressão da autorida​de), imutáveis (porque dentro da ordem das coisas) e ideais (porque visavam uma finalidade perfeita). Montesquieu introduz o conceito de lei no início de sua obra fundamental, O espírito das leis, para escapar a uma discussão vi​ciada que, dentro da tradição jurídica sua contemporânea, ficaria limitada a discutir as instituições e as leis quanto à legitimidade de sua origem, sua adequabilidade à ordem natural, e a perfeição de seus fins. Uma discussão fadada a confundir, nas leis, concepções de natureza política, moral e religiosa.
Definindo lei como "relações necessárias que derivam da natureza das coisas", Montesquieu estabelece uma ponte com as ciên​cias empíricas, e particularmente com a física newtoniana, que ele parafraseia. 
Montesquieu está dizendo, em primeiro lugar, que é possível encontrar uniformidades, constâncias na variação dos comportamentos e formas de organizar os homens, assim como é possível encon​trá-las nas relações entre os corpos físicos. Tal como é possível esta​belecer as leis que regem os corpos físicos a partir das relações entre massa e movimento, também as leis que regem os costumes e as instituições são relações que derivam da natureza das coisas. Com o conceito de lei, Montesquieu traz a política para fora do campo da teologia e da crónica, e a insere num campo propria​mente teórico. As instituições políticas são re​gidas por leis que derivam das relações políticas. As leis que regem as instituições políticas, para Montesquieu, são relações entre as di​versas classes em que se divide a população, as formas de organiza​ção econômica, as formas de distribuição do poder etc.
b) Das leis positivas
Mas o objeto de Montesquieu não são as leis que regem as re​lações entre os homens em geral, mas as leis positivas, isto é, as leis e instituições criadas pelos homens para reger as relações entre os homens. Montesquieu observa que, ao contrário dos outros se​res, os homens têm a capacidade de se furtar às leis da razão (que deveriam reger suas relações), e além disso adotam leis escritas e costumes destinados a reger os comportamentos humanos. O objeto de Montesquieu é o espírito das leis, isto é, as rela​ções entre as leis (positivas) e "diversas coisas", tais como o clima, as dimensões do Estado, a organização do comércio, as relações en​tre as classes etc. Montesquieu tenta explicar as leis e instituições hu​manas, sua permanência e modificações, a partir de leis da ciência política. 
C) Do poder e do governo
Retoma a problemática de Maquiavel, que discute essencial​mente as condições de manutenção do poder. Para Montesquieu: “Há três espécies de governo: o REPUBLICANO, o MONÁRQUICO e o DESPÓTICO. Para descobrir-lhes a natureza, basta a ideia que deles tem os homens menos instruídos. Suponho três definições ou, antes, três fatos: 
a) O Governo Republicano é aquele em que todo o povo, ou apenas uma parte do povo, tem o poder soberano; 
b) O monárquico, aquele em que uma só pessoa governa, mas por meio de leis fixas e estabelecidas;
c) No despótico, uma só pessoa, sem lei e sem regra, tudo conduz, por sua vontade e por seus caprichos.
Eis o que denomino a natureza de cada governo. É precisoque se examine quais as leis que decorrem diretamente dessa naturezae que, consequentemente, são as primeiras leis fundamentais.”
No que concerne a República, por exemplo, Montesquieu lembra que, por tratar-se de um governo em que o poder é do povo, é fundamental distinguir a fonte do exercício do poder, e estabelecer criteriosamente a divisão da sociedade em classes com relação à origem e ao exercício do poder. O povo, diz ele, sabe escolher muito bem, mas é incapaz de governar porque é movido pela paixão e não pode decidir. Portanto, na natureza dos governos republicanos está compreendida a relação entre as classes e o poder.
Curiosa paixão, que tem três modalidades: o princípio da monarquia é a honra; o da república é a virtude; e o do despotismo é o medo. Esta é a única paixão propriamente dita, o único móvel psicológico dos comportamentos políticos, razão por que o regime que lhe corresponde é um regime que se situa no limiar da política: 0 despotismo seria menos do que um regime político, quase uma extcnsão do estado de natureza, onde os homens atuam movidos pe​los instintos e orientados para a sobrevivência.
A honra é uma paixão social. Ela corresponde a um sentimen​to de classe, a paixão da desigualdade, o amor aos privilégios e prerrogativas que caracterizam a nobreza. O governo de um só basea​do cm leis fixas e instituições permanentes, com poderes intermediários c subordinados — tal Montesquieu caracteriza a monarquia — só pode funcionar se esses poderes intermediários orientam sua ação pelo princípio da honra. É através da honra que a arrogância e os apetites desenfreados da nobreza, bem como o particularismo dos seus interesses se traduzem em bem público.
Só a virtude é uma paixão propriamente política: ela nada mais é do que o espírito cívico, a supremacia do bem público sobre os interesses particulares. É por isso que a virtude é o princípio da república. Onde não há leis fixas nem poderes intermediários, on​de não há poder que contrarie o poder como a nobreza contraria o rei e este à nobreza, somente a prevalência do interesse público poderia moderar o poder e impedir a anarquia ou o despotismo eternamente a espreita dos regimes populares. 
No governo republicano o regime depende dos homens. Sem republicanos não se faz uma república. Os grandes não a querem e o povo não sabe mante-la. Trata-se de um regime muito frágil, porque repousa na virtude dos homens. Em todo povo existem ho​mens virtuosos, capazes de colocar o bem público acima do bem próprio, mas as circunstâncias — isto é, essas famosas "relações que derivam da natureza das coisas" — nem sempre ajudam.
É possível agora redefinir a natureza dos três governos: o despotismo é o gover​no da paixão; a república é o governo dos homens; a monarquia é o governo das instituições. 
O despotismo está condenado à autofagia: ele leva necessaria​mente à desagregação ou às rebeliões. A república não tem princí​pio de moderação: ela depende de que os homens mais virtuosos contenham seus próprios apetites e contenham os demais. Na mo​narquia, são as instituições que contêm os impulsos da autoridade executiva e os apetites dos poderes intermediários. Na monarquia, em outras palavras, o poder está dividido e, portanto, o poder con​traria o poder. Essa capacidade de conter o poder, que só outro po​der possui, é a chave da moderação dos governos monárquicos.
Para Montesquieu, a república é o regime de um passado em que as cidades reuniam um pequeno grupo de homens moderados pela própria natureza das coisas: uma certa igualdade de riquezas e de costumes ditada pela escassez. Com o desenvolvimento do co​mércio, o crescimento das populações e o aumento e a diversifica​ção das riquezas ela se torna inviável: numa sociedade dividida em classes a virtude (cívica) não prospera.
Trata-se, dentro dessa ordem de ideias, de assegurar a existên​cia de um poder que seja capaz de contrariar outro poder. Isto é, trata-se de encontrar uma instância independente capaz de moderar o poder do rei (do executivo). É um problema político, de correla​ção de forças, e não um problema jurídico-administrativo, de orga​nização de funções.
Na sua versão mais divulgada, a teoria dos poderes é conheci​da como a separação dos poderes ou a equipotência. De acordo com essa versão, Montesquieu estabeleceria, como condição para o Esta​do de direito, a separação dos poderes executivo, legislativo e judi​ciário e a independência entre eles. A ideia de equivalência consiste em que essas três funções deveriam ser dotadas de igual poder.
Para que haja moderação é preciso que a instância moderado​ra (isto é, a instituição que proporcionará os famosos freios e con​trapesos da teoria liberal da separação dos poderes) encontre sua força política em outra base social. Montesquieu considera a existên​cia de dois poderes — ou duas fontes de poder político, mais preci​samente: o rei, cuja potência provém da nobreza, e o povo. É pre​ciso que a classe nobre, de um lado, e a classe popular, de outro la​do (na época "o povo" designa a burguesia), tenham poderes inde​pendentes e capazes de se contrapor. Em outras palavras, a estabilidade do regime ideal está em que a correlação entre as forças reais da sociedade possa se expres​sar também nas instituições políticas. Isto é, seria necessário que o funcionamento das instituições permitisse que o poder das forças so​ciais contrariasse e, portanto, moderasse o poder das demais. Lida desta forma, como propõe Althusser, a teoria dos pode​res de Montesquieu se torna vertiginosamente contemporânea. 
Para Montesquieu a essência do equilíbrio entre os poderes, é que a tripartição desenvolve um sistema de freios e contrapesos, ou seja, nenhum poder possui autonomia para governar ilimitadamente. A liberdade de cada um dos poderes é limitada pela competência de seu igual.
Frases de Montesquieu
A injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos.
Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem.
A sisudez é a armadura dos tolos.
Todos os homens são bestas; os príncipes são bestas que não estão atreladas.
A adversidade é nossa mãe; a prosperidade é apenas uma madrasta.
A maioria dos homens é mais capaz de grandes ações do que de boas.
Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda a parte.
A liberdade, esse bem que nos permite desfrutar dos outros bens.
Qualquer homem é capaz de fazer bem a outro homem; mas contribuirmos para a felicidade de uma sociedade inteira é parecermo-nos com os deuses.
Não gosto de Deus, porque não o conheço, nem do próximo, porque o conheço.
O que não for bom para a colmeia também não é bom para a abelha.
A ignorância é a mãe das tradições.
Normalmente, são tão poucas as diferenças de homem para homem que não há motivo nenhum para sermos vaidosos.
Se quiséssemos ser apenas felizes, isso não seria difícil. Mas como queremos ficar mais felizes do que os outros, é difícil, porque achamos os outros mais felizes do que realmente são.
A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios.
IV - SISTEMAS DE GOVERNO
PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO
As Repúblicas podem ser PARLAMENTARISTAS ou PRESIDENCIALISTAS.
 No Presidencialismo o governante é eleito diretamente pelo povo, em votação específica para este fim, e tem como função chefiar o executivo, com todos os poderes administrativos que lhe são delegados pela Constituição. Os integrantes do Poder Legislativo são eleitos separadamente, e tem com atribuição aprovar leis e fiscalizar o executivo. O Brasil e os EUA são exemplos de Repúblicas Federativas Presidencialistas. 
Já o regime parlamentarista foi inventado na Inglaterra, num período em que o pais era governado por reis estrangeiros. Assim, fez-se necessária a existência de um conselho local, organizar a sociedade e zelar por seus interesses. Com o tempo, mesmo quando mantida formalmente a figura do monarca, o poder administrativo eraexercido pelos conselheiros, que posteriormente foram eleitos deputados. O Rei tinha como função somente representar a unidade e os objetivos do país. 
PRESIDENCIALISMO
Desde a proclamação da República (1889), o Brasil adotou o presidencialismo, regime tão só interrompido por breve período, quando contingências políticas impuseram o parlamentarismo (EC nº 4 – após renúncia do cargo de Presidente da República subscrita pelo professor e advogado (eleito) Jânio da Silva Quadros). Teve essa Emenda Constitucional breve duração, pois, fora revogado por plebiscito nacional, que se formalizou através da EC nº 6, restabelecedora do presidencialismo. 
Tem suas origens na Constituição dos Estados Unidos da América de 1787. No presidencialismo, exerce o Presidente da República, concomitantemente, as funções de Chefe de Estado e as de Chefe de Governo, isto é, tem não só as atribuições inerentes à função política e administrativa, como ainda é ele o representante legitimo do Estado inclusive nas aproximações com os Estados Estrangeiros (o exercício da chefia do Estado e o exercício da chefia do Governo são entregue a uma mesma pessoa – dizemos ser monocrático–). É o sistema mais rígido, centralizado, tendo em vista, que eleito o Presidente da República será difícil tirá-lo do cargo, a não ser por “impeachment” (afastamento definitivo) pela prática de crime de responsabilidade. No sistema, o Presidente da República, é o responsável pela fixação dos princípios e ação do Poder Executivo, auxiliado pelos Ministros de Estado e (especialmente quando convocado) pelo Vice-Presidente da República. O Presidente da República é eleito, direta ou indiretamente, por um prazo determinado (atualmente é de quatro anos, com direito a uma recondução pelo mesmo período = reeleição). Tem poder de veto. É unipessoal. 
Sobre os princípios básicos do presidencialismo, assim escreve Paulo Bonavides (in Ciência Política): “... Cumprem por consequência buscar os verdadeiros traços que nos permitem distinguir ou separar, sem maior equívoco, os conceitos de presidencialismo e parlamentarismo. Vejamos, pois o que pertence ao presidencialismo, em ordem a emprestar-lhe a nota configurativa. Três aspectos principais se destacam na fisionomia do presidencialismo: 
1º ASPECTO = Historicamente é o sistema que perfilhou de forma clássica o princípio da separação de poderes, que tanta fama e glória granjearam para o nome de Montesquieu na idade áurea do Estado liberal. O princípio valia como esteio máximo das garantias constitucionais da liberdade. A Constituição americana o recolheu, tomando-o por base de todo o edifício político. Da separação rígida passou-se com o tempo para a separação menos rigorosa, branda, atenuada, à medida que o velho dogma evolveu, conservando-se sempre e invariavelmente”. Entre os traços dominantes de todo o sistema presidencial; 
2º ASPECTO = A seguir, vai deparar no presidencialismo a forma de governo onde todo o poder executivo se concentra ao redor da pessoa do Presidente, que o exerce inteiramente fora de qualquer responsabilidade política perante o poder legislativo. Via de regra, essa irresponsabilidade política total do Presidente se estende ao seu ministério, instrumento da imediata confiança presidencial, e demissível “ad nutum” do Presidente, sem nenhuma dependência política do Congresso. 
3º ASPECTO = Enfim, terceiro e último aspecto na caracterização do presidencialismo: o Presidente da República deve derivar seus poderes da própria Nação; raramente do Congresso, por via indireta. 
Os poderes do Presidente da República conhecem a mais larga extensão. São considerados assoberbantes e esmagadores e continuam em expansão nos distintos sistemas presidenciais. O presidencialismo tem sido até criticado como o regime de um homem só. 
Com efeito, os encargos presidenciais abrangem sumariamente: 
(a) a chefia da administração, através de ministérios e serviços públicos federais, entregue a pessoa da confiança do Presidente, responsáveis perante este, que livremente os escolhe e demite; 
(b) o exercício do comando supremo das forças armadas; 
(c) a direção e orientação da política exterior com atribuições de celebrarem tratados e convenções, declararem guerra e fazer a paz, debaixo das ressalvas do controle exercido pelo poder legislativo, nos termos estatuídos pela Constituição.
PARLAMENTARISMO
No PARLAMENTARISMO o partido que obtém a maior bancada (de parlamentares) tem o direito de escolher um dentre eles para exercer a função de PRIMEIRO-MINISTRO (Chefe de Governo) com poderes equivalentes praticamente ao de Presidente da República. Entretanto, quando um partido perde a maioria no congresso, o Primeiro-Ministro é substituído por outro parlamentar escolhido pelo partido que conquistou o maior número de cadeiras. Também é possível ao parlamento, destituir o primeiro ministro caso ele não esteja correspondendo às expectativas. Para isso é necessário que o parlamento aprove um VOTO DE DESCONFIANÇA, que depõe o Primeiro-Ministro em exercício. Não existe período de mandato fixo para o Primeiro-Ministro. Enquanto seu partido tiver a maioria no parlamento, caso seus pares desejem, ele pode prosseguir exercício do mandato. Após as eleições, o partido político ou a coligação que teve a maioria dos votos escolhe um primeiro-ministro e os que vão ocupar os diferentes ministérios e levam esses nomes ao chefe de Estado, que os submete ao Parlamento.
Melhor explicando, se os nomes forem aprovados pela maioria, esse ministério ou gabinete é empossado e governa até que haja novas eleições (quatro ou cinco anos depois) ou que perca a confiança da maioria parlamentar.
Se a maioria, em algum momento, discordar do gabinete, vota uma moção de desconfiança e o governo cai. A maioria vitoriosa no Parlamento indica ao chefe de Estado o nome dos novos ministros, que são submetidos à votação. Se forem aprovados, começam a governar; se não forem, novos ministros têm de ser escolhidos até que o gabinete indicado tenha o apoio da maioria dos deputados.
Se a maioria aprovar uma moção de desconfiança contra o gabinete, mas o primeiro-ministro achar que ele representa a vontade da maioria do povo, dissolve-se o Parlamento e realizam-se eleições imediatamente (prazo de poucas semanas). O povo então decide a quem dá maioria. Se ele der maioria aos partidários do gabinete, este se mantém. Se der aos seus adversários, cai o governo, e seus oponentes submetem ao Parlamento um novo ministério.
No parlamentarismo, o Executivo é um mero delegado da maioria parlamentar. Em um regime parlamentarista puro, só parlamentares podem ser ministros, e eles comparecem normalmente às sessões do Parlamento, dando contas de sua atuação e sendo interpelados por seus pares.
Talvez a característica mais destacada do Parlamentarismo seja a separação entre CHEFE DE ESTADO e CHEFE DE GOVERNO. Isto ocorre, porque alguns países não aboliram formalmente a Monarquia ou mantiveram o cargo de Presidente, mesmo tendo optado pelo regime PAARLAMENTARISTA. Nestes casos o Rei ou o Presidente, exercem funções não apenas simbólicas, mas com finalidades específicas.Cada um destes governantes exerce suas funções de maneira diferenciada:
CHEFE DE ESTADO – é responsável pela unidade política do Estado, encarna os valores e a finalidade (objetivos maiores) da sociedade. Representa o País, enquanto símbolos da unidade nacional, por isso dizemos que tem por característica principal a função de REPRESENTAÇÃO DO ESTADO. O mandato do Chefe de Governo pode ser vitalício. É o caso do Rei em países como a Inglaterra e Espanha, e do Presidente, em países como a França.
CHEFE DE GOVERNO – exerce efetivamente a administração executiva do Estado e a implementação das políticas publicas. São as atribuições do PRIMEIRO MINISTRO. Normalmente seu mandato é sempre temporário.
O chefe de Estado apenas simboliza a Nação, mas não tem poderes administrativos. Pode ser um monarca ou presidente escolhido pelo Parlamento ou eleito diretamente pelo povo.A rainha da Inglaterra, por exemplo, reina, mas não governa: ela é apenas chefe de Estado. O chefe do governo é quem governa e administra. Ele é sempre escolhido pelo Parlamento, que pode destituí-lo.
No Brasil, ainda que presidencialista, também temos constitucionalmente a distinção entre Chefe de Estado e Chefe de Governo. Ainda que ambos os cargos sejam exercidos conjuntamente pela mesma pessoa, cabe ao Presidente, segundo a CF:
Como CHEFE DE GOVERNO: 
(a) exercer, com o auxilio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal (inciso II); 
(b) iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição (inciso III); 
(c) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução (inciso IV); 
(d) vetar projetos de lei, total ou parcialmente (inciso V); 
(e) dispor, mediante decreto, sobre:...(inciso VI); 
(f) ainda os (incisos IX a XII). 
Como CHEFE DE ESTADO: 
(a) manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos (inciso VII); 
(b) celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional (inciso VIII); 
(c) celebrar a paz, autorizada ou com referendo do Congresso Nacional (inciso XX); 
(d) conferir condecorações e distinções honoríficas (inciso XXI); 
(e) ainda os (incisos XIV (somente quanto à nomeação), XV e XVI (somente primeira parte), XVIII (segunda parte); 
(f) permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente (inciso XXII)). 
São muito raros os sistemas parlamentaristas puros, que subsistiram, sobretudo, nas Monarquias (Reino Unido, Suécia, Holanda, etc.). Na França, por exemplo, embora o regime seja chamado de parlamentarista, o chefe de Estado (presidente da República) tem várias funções de governo, às vezes até superiores às do primeiro-ministro. O poder é dividido entre os dois.
No Brasil, as formas de parlamentarismo sempre foram impuras. Na Monarquia, tínhamos um regime parlamentarista, mas o imperador dispunha do "Poder Moderador", o que lhe permitia até nomear primeiros-ministros que não dispusessem do apoio da maioria parlamentar.
Em 1962, tentou-se criar um sistema parlamentarista, com João Goulart como presidente da República. O sistema nunca funcionou porque o presidente era quem indicava ao Parlamento o nome do primeiro-ministro. Os chefes de governo que o presidente indicava eram seus aliados políticos, e a direção do país, na prática, continuava nas mãos do chefe de Estado. Foi realizado um plebiscito e o povo resolveu voltar ao presidencialismo.
A Constituição de 1988 é presidencialista, mas repleta de instituições parlamentaristas. Quando a Constituinte começou a votar a Constituição, pensava-se em estabelecer o regime parlamentarista, e vários artigos foram votados com esse espírito. Depois, aprovou-se o presidencialismo, mas aqueles artigos já estavam na Constituição.
No parlamentarismo, quando há problemas, o governo simplesmente cai. Cabe aos congressistas formar uma nova maioria, com um novo governo. Quando não conseguem, o próprio Congresso é dissolvido, e eleições são antecipadas. O sistema permite que governos considerados bons durem o necessário e que os duvidosos terminem antes do prazo previsto.
 No parlamentarismo, todo o poder concentra-se no Parlamento, que é, de fato, o único poder. Se o governo executivo discordar do Parlamento, a maioria dos deputados dissolve esse governo. A Justiça não se opõe ao Parlamento, até porque, em um sistema parlamentarista puro, a Constituição não é rígida: se uma lei for considerada inconstitucional, o Parlamento simplesmente altera a Constituição. No Reino Unido, o exemplo mais puro de parlamentarismo, não há sequer uma Constituição escrita.
As funções parlamentares são exercidas em sua plenitude por uma casa legislativa que se pode chamar, por exemplo, de Câmara dos Deputados, Parlamento, Câmara dos Comuns (Reino Unido) ou Assembleia Nacional (França). Esse poder não pode ser dividido com outra casa legislativa que não tenha as características populares do Parlamento. No Reino Unido, por exemplo, existe a Câmara dos Lordes, mas suas funções são praticamente decorativas na elaboração das leis. Os lordes não destituem gabinetes.
SEMI-PRESIDENCIALISMO
O semi-presidencialismo é um sistema de governo no qual o chefe de governo (geralmente com o título de primeiro-ministro) e o Chefe de Estado (geralmente com o título de presidente) compartilham em alguma medida o poder executivo, participando, ambos, do cotidiano da administração pública de um Estado. Difere do parlamentarismo por apresentar um chefe de Estado, geralmente eleito pelo voto direto, com prerrogativas que o tornam mais do que uma simples figura protocolar; difere, também, do presidencialismo por ter um chefe de governo com alguma medida de responsabilidade perante o legislativo .
Cenários possíveis: a) Presidente e Primeiro Ministro do mesmo partido: Constituição "material"; b) Presidente e Primeiro Ministro de partidos contrários: Constituição "formal".
-Presidente da República: Chefe de Estado; -Primeiro Ministro: Chefe de Governo.
Legenda
laranja – Repúblicas Parlamentaristas;
verde – Repúblicas Presidencialistas, presidência executiva ligada a um parlamento;
amarelo – Repúblicas Presidencialistas, sistema Semi Presidencialista;
azul – Repúblicas Presidencialistas, sistema presidencialista pleno;
vermelho – Monarquias Constitucionais Parlamentares, em que o monarca não exerce o poder pessoalmente;
magenta – Monarquias Constitucionais em que o monarca exerce o poder pessoalmente, muitas vezes (mas nem sempre) ao lado de um parlamento fraco;
púrpura – Monarquias Absolutas;
castanho – Repúblicas em que o papel dominante de um partido único é codificado na constituição;
verde escuro – Países em que as disposições constitucionais para o governo estejam suspensas;
cinzento – Países que não se encaixam em quaisquer dos sistemas acima.
V - DEMOCRACIA
Origem da Democracia - Grécia
Atenas, a mais próspera das cidades-estados da Grécia Ocidental, no decorrer do século IV A.C., estava sendo governada por um regime tirânico. Em 560 A.C. Pisístrato, um líder popular, havia tomado o poder por meio de um astucioso estratagema, tornando-se o homem-forte da polis. Apesar da ilegalidade da sua ascensão, isso não o impediu de fazer uma administração que muito impulsionou a prosperidade e o bem-estar da capital da Ática. Seus filhos, Hípias e Hiparco, que o sucederam em 527 a. C., não tiveram o talento paterno para manter a fidelidade dos cidadãos, e foram perseguidos e mortos. A queda da tirania abriu caminho para que os dois partidos tradicionais da cidade, o dos ricos, chefiado por Iságoras, e o dos populares, liderado por Clístenes, passassem a disputar o controle de Atenas. Iságoras, apoiado pelo rei espartano Cleômenes, conseguiu desterrar Clístenes. 
Mas o povo se sublevou e conseguiu trazer o líder de volta, dando-lhe plenos poderes para elaborar uma nova constituição. A tirania havia perseguido os partidários da aristocracia, enfraquecendo a nobreza urbana, criando-se assim as condições para a implantação de um regime novo. Abriam-se as portas, depois da expulsão do descendente do tirano, para uma experiência inédita: o regime governado diretamente pelo povo, a democracia. Com poderes delegados pelo povo, Clístenes implementou uma profunda reforma política que tinha como objetivo deslocar o poder das mãos dos nobres para as dos demos, palavra que significava não apenas povo, como também os bairros e comunidades habitados. Considerava-se cidadão (thetes) qualquer ateniense maior de 18 anos que tivesse prestado serviço militar e que fosse homem livre. 
A base da democracia é a igualdade de todos os cidadãos. Igualdade perante a lei (isonomia), e igualdade de poder se pronunciar na EKKLESIA(Assembleia/ Isagoria), quer dizer, direito à palavra. Essas duas liberdades são os pilares do novo regime, estendidos a ricos e pobres, a nobres e plebeus. O sistema de sorteio evitava, em parte, a formação de uma classe de políticos profissionais que atuassem de uma maneira separada do povo, procurando fazer com que qualquer um se sentisse apto a manejar os assuntos públicos, eliminando-se a alienação política dos indivíduos. Sob o ponto de vista grego, o cidadão que se negasse a participar dos assuntos públicos, em nome da sua privacidade, era moralmente condenado. Criticavam-no por sua apatia ou idiotia. 
Quem participava efetivamente da vida democrática da cidade de Atenas? Estimativas calculam que sua população, no apogeu da cidade, nos séculos V-IV a. C., dificilmente ultrapassava 400 mil habitantes 130 mil cidadãos (thètes), 120 mil estrangeiros (métoikion) e 120-130 mil escravos (andrapoda)]. A sociedade ateniense vivia em parte do trabalho dos escravos, sendo esses estrangeiros, visto que, desde os tempos das leis de Sólon (cerca de 594 a.C.), gregos não podiam escravizar gregos. Além dos escravos, tanto os públicos como os domésticos (oikétès) - ex-prisioneiros de guerra ou comprados nos mercados de escravos - excluídos da cidadania, contavam-se os estrangeiros (métoikion) e seus filhos, que igualmente não eram considerados cidadãos. As mulheres, independentemente da sua classe social ou origem familiar, encontravam-se afastadas da vida política. A grande parte da população, dessa forma, não participava dos destinos públicos, estimando-se que os direitos de cidadania estavam à disposição, no máximo, de 30-40 mil homens, mais ou menos um décimo da população total. 
A partir da Grécia, a democracia evoluiu de diferentes maneiras em diferentes Estados, com a famosa REPÚBLICA em Roma, onde os Senadores que detinham o poder eram votados pelo povo (ou parte dele), a democracia liberal, produto do avanço e desenvolvimento da burguesia, o Estado Racional Burocrático de Weber, a democracia liberal burguesa, o Estado de Direito, etc.
ESTADO MODERNO E DEMOCRACIA
São pontos fundamentais que caracterizam o moderno Estado Democrático:
1) Sufrágio Universal - Não existe sufrágio completamente universal, todo sufrágio sofre algum tipo de restrição. Define-se o sufrágio universal como aquele em que a participação não fica adstrita às condições de riqueza, instrução, nascimento, raça e sexo. As limitações feitas à capacidade do eleitor , em regime de sufrágio universal, se prendem mais às condições de nacionalidade, residência (por exemplo, tempo de residência), sexo, idade, capacidade física ou mental, grau de instrução, serviço militar e alistamento, indignidade (prática de delitos). 
Embora muitas vezes utilizados como sinônimos, voto, escrutínio e sufrágio possuem significados diferentes. Sufrágio é o direito de votar e de ser votado; voto é a forma de exercer o direito ao sufrágio; e escrutínio é a forma como se pratica o voto, seu procedimento. 
De acordo com a Constituição Federal, artigo 14, A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. Isso significa o direito ao sufrágio é completamente desligado de qualquer forma de discriminação, sendo, portanto, um direito universal, de todos, exceto os estrangeiros e os conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório, nos termos do 2º do dispositivo supra. 
O voto será, ainda, secreto e direto, ou seja, não há qualquer tipo de intermediação entre eleitor e candidato. De acordo com a Constituição, há alistamento eleitoral e voto obrigatórios para os maiores de dezoito anos e facultativos para os analfabetos, maiores de setenta anos e maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (art. 14, 1º). 
2) Supremacia da vontade popular - O objetivo do sistema como um todo é fazer valer e preservar a vontade da população na escolha de seus representantes, e na gestão do Estado. Trata-se a da predominância daquilo que Rousseau chama de VONTADE GERAL, ou VONTADE COLETIVA, em substituição do conjunto de vontades individuais, ou seja o conjunto de desejos populares que visam o bem comum da sociedade.
3) Igualdade de direitos – proibição de distinguir gozo de direitos por situação econômica, raça, etc., (isonomia jurídica)
4) Pluralismo político - O direito da população se organizar politicamente, seja na forma de partidos, ou outra forma de agremiação, militância política, emissão de opiniões, etc.
5) Autonomia do parlamento - Os órgãos legislativos eleitos são o principal fórum para deliberar, debater e aprovar leis em uma democracia representativa. Não são Parlamentos que se limitam a por o carimbo, simplesmente aprovando as decisões de um líder autoritário.
Os poderes de supervisão e investigação permitem aos legisladores questionar publicamente os membros do governo por atos e decisões e servir de controle ao poder dos vários ministérios -especialmente no sistema presidencialista de governo em que o Legislativo é independente do Executivo. Os legisladores podem aprovar orçamentos nacionais, interrogar testemunhas sobre questões prementes e confirmar os nomeados pelo Poder Executivo para os tribunais e ministérios. Em algumas democracias, as comissões parlamentares fornecem aos legisladores um fórum para esses exames públicos de questões de interesse nacional.
Os legisladores podem apoiar o governo no poder ou podem fazer parte duma oposição leal que apresenta políticas e programas alternativos. Os legisladores têm a responsabilidade de articular as suas opiniões da forma mais eficiente possível. Mas têm que trabalhar dentro da ética democrática de tolerância, respeito e colaboração para chegarem a consensos que beneficiem o bem-estar geral de todos - e não apenas daqueles que lhes dão apoio político. Cada legislador deve decidir sozinho como equilibrar o bem-estar geral com as necessidades de uma base eleitoral.
O parlamento deve possuir total autonomia frente aos demais poderes e às demais instituições (exército, justiça, etc.), bem como total isenção legislativa, não podendo legislar em nome de grupos específicos da população, ou sofrer qualquer forma de coação, inclusive por parte de grupos organizados da sociedade.
6) Liberdades públicas -  Direito Constitucional brasileiro, assim como o de outras nações, não prescinde da verificação do real sentido da palavra liberdade. Apesar da Constituição republicana do Brasil não conter conceito explícito do que sejam as liberdades públicas, estas se espraiam por todo o corpo da mesma, tendo como nascedouro a dignidade da pessoa humana, e como berço natural o artigo 5º da norma jurídica em referência.
 Os direitos do homem são prerrogativas legais que aquele detém em face do Estado, bem como de outros indivíduos. Nestes termos pondera Israel Jean-Jacques, ao tratar dos mesmos: Trata-se de direitos que são a fonte de liberdade do homem. (...) Dar ao homem direitos é colocar o Direito a serviço de sua liberdade. As prerrogativas humanas tornam-se, portanto, direitos do homem quando elas têm um estatuto jurídico. Neste diapasão, infere-se que para que haja direitos do homem é preciso um Estado de Direito, pois apenas neste é possível encontrar garantias de observância e respeito essenciais para a efetividade e aplicabilidade daqueles. E é a partir do somatório de todos estes mencionados conceitos (direitos do homem, liberdades, Estado de Direito) que se chega à ideia de liberdades públicas como sendo aquelas garantidas e limitadas dentro de um Estado de Direito. É neste sentido (garantista) que se utiliza o adjetivo "públicas" atrelado ao conceito de liberdade. 
Trata-se, em verdade, de um superprincípio, como pondera Flávia Piovesan: (...) é no valor da dignidade humana que a ordem jurídica encontra seu próprio sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, na tarefa de interpretação normativa. Consagra-se, assim, a dignidade humana como verdadeiro superprincípio a orientar o Direito Internacional

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