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DIREITO CIVIL I Obrigações Alternativas

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DIREITO CIVIL I
DAS OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS (Disjuntivas)
CLASSIFICAÇÃO:
OBRIGAÇÃO SIMPLES: É aquela que tem por objeto uma única prestação.
OBRIGAÇÃO COMPOSTA (COMPLEXA, PLURAL): É aquela que possui uma pluralidade de objetos, dividindo-se em: cumulativas/conjuntivas (todos os objetos devem ser realizados), facultativas e alternativas.
CONCEITO – obrigação alternativa: é uma espécie de obrigação complexa (composta) que possui uma multiplicidade de objetos, sendo que o seu cumprimento ocorre com a realização de apenas uma das prestações.
- Obrigação subjetivamente alternativa: é aquela na qual o devedor tem a alternativa de cumprir a obrigação em favor de qualquer um dos credores, liberando-se perante os demais.
FONTE: Convencional ou legal (ex: art. 1.701, 1.932 do CC)
FINALIDADE: aumentar a possibilidade de adimplemento por parte do devedor e as garantias do credor.
OBJETO: a obrigação alternativa, na sua infinita variedade, pode objetivar coisas, fatos, serviços e abstenções, isto é, obrigação de dar ou de restituir, de fazer e não fazer; pode ainda objetivar coisas determinadas individualmente ou prestações genéricas. (Washington de Barros Monteiro). Ex: Posso contrair a obrigação de escrever o roteiro de uma novela (Obrigação de Fazer) ou, alternativamente, pagar uma multa (Obrigação de Dar).
CARACTERÍSTICAS:
pluralidade de objetos
independência das prestações
determinação do objeto condicionada a escolha do credor, devedor ou terceiro
concentração do objeto na prestação escolhida.
INDEPENDÊNCIA DAS PRESTAÇÕES: em razão desta característica, o devedor não poderá obrigar o credor a receber parte de uma prestação e parte de outra e vice-versa (Princípio da indivisibilidade do objeto)1. Além disso, se uma das obrigações se torna impossível, isto não afetará a exigibilidade da outra.
IMPOSSIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO POR ILICITUDE OU VÍCIO ORIGINÁRIO: Se a impossibilidade é jurídica, por ilícito um dos objetos (praticar um crime, p. ex.), toda a obrigação fica contaminada de nulidade, sendo inexigíveis ambas as prestações. Se uma delas, desde o momento da celebração da avença, não puder ser cumprida em razão de impossibilidade física, será alternativa apenas na aparência, constituindo, na verdade, numa obrigação simples.(Álvaro V. Azevedo).
DIREITO DE ESCOLHA: na ausência de estipulação contrária, o direito de concentração pertence ao devedor. Do mesmo modo, se há dúvida, a convenção deverá ser interpretada em favor do devedor (neste sentido: Sílvio Venosa, Renan Lotufo, Washington de B. Monteiro, Nélson Rosevald).
EFEITO DA ESCOLHA: Como mencionado, a escolha tem efeito retroativo, de forma que, uma vez realizada, a obrigação será simples desde a sua constituição em relação ao objeto concentrado.
PRAZO PARA ESCOLHA: o Código Civil é omisso em relação ao prazo para escolha, no entanto, existe regra prevista pelo Código de Processo Civil (art. 571).
NÃO EXERCÍCIO DO DIREITO DE ESCOLHA: se aquele que tem o direito de escolha não o exerce na forma e prazo convencionados, o direito será transferido à outra parte.
ESCOLHA NAS OBRIGAÇÕES PERIÓDICAS: (Jus variandi) nas prestações periódicas a escolha por determinada prestação não impede que esta seja alterada quando do cumprimento da prestação sucessiva, mas esta prerrogativa somente é concedida ao devedor. Ex: se o inquilino (locatário) pode pagar o aluguel através de dinheiro ou, alternativamente, mediante a entrega de mercadorias, poderá escolher a forma que quiser no vencimento de cada aluguel.
FORMA DA ESCOLHA (CONCENTRAÇÃO): A escolha deverá ser realizada dentro do prazo convencionado através da declaração unilateral de vontade, sem forma especial, seguindo-se a oferta real. Cientificada a escolha, configura-se a concentração, impossibilitando a retratação unilateral.
Irrevogabilidade da escolha -O direito de escolha é irrevogável, de forma que, uma vez exercido, transforma a obrigação alternativa em simples2, todavia, admite-se a retratabilidade em caso de vício de consentimento (ex: erro, dolo). (neste sentido: Sílvio Venosa, Pablo Gagliano, Washington de B. Monteiro).
PLURALIDADE DE OPTANTES: Caso a prerrogativa da escolha fique a critério de várias pessoas e inexista consenso entre elas, caberá ao juiz decidir a respeito. Há entendimento doutrinário de que deve prevalecer a vontade da maioria (neste sentido: Sílvio de S. Venosa).
Ex: Se cinco irmãos assumem a obrigação de entregar dois cavalos ou duas vacas do sítio que possuem ao credor e ocorre uma divergência sobre qual o objeto será entregue, o juiz dará um prazo para que os devedores decidam de forma “unânime” e, caso isso não ocorra, o próprio juiz fará a escolha.
ESCOLHA POR TERCEIRO: o direito de escolha poderá ser definido em favor de terceiro e, caso este se recuse ou não possa exercê-lo e inexistindo acordo das partes, competirá ao juiz decidir. Cuida-se de uma inovação do CC/2002, já que, anteriormente, por inexistir previsão legal, a doutrina entendia que, em razão da não ocorrência do implemento de uma condição (escolha de terceiro) a obrigação não era exeqüível.
IMPOSSIBILIDADE DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO POR PERECIMENTO DO OBJETO ANTES DA ESCOLHA: a solução será variada conforme a quem pertença o direito de escolha:
I) DIREITO DE ESCOLHA DO DEVEDOR:
a) impossibilidade de cumprimento de uma das obrigações com ou sem culpa do devedor: Neste caso, independentemente da existência de culpa, o devedor será obrigado a cumprir qualquer das obrigações restantes (concentração ficta). Não é admitido que este busque substituir a coisa que pereceu por dinheiro ou qualquer outro objeto, nem mesmo complementá-la em razão da deterioração.
Exemplo: o devedor se compromete a entregar um touro ou um cavalo, porém, um raio atinge mortalmente o touro, subsistirá a obrigação da entrega do cavalo. A solução seria a mesma se o devedor tivesse matado o touro dolosamente.
b) impossibilidade de cumprimento de todas as obrigações por culpa do devedor: com a perda da primeira prestação, por culpa do devedor, a obrigação se concentrará na subsistente3, com a perda desta, na mesma circunstância, resultará o dever de entregar o seu equivalente, além das perdas e danos.
Exemplo: se o devedor se obriga a entregar um touro ou um cavalo, mas, por sua culpa, ambos morrem, ficará o devedor obrigado a pagar o valor equivalente ao que morreu por último, acrescido de perdas e danos.
b.1) Perda da primeira sem culpa do devedor e da segunda com culpa deste:segue a mesma regra anterior.
b.2) Perda da primeira com culpa do devedor e da segunda sem culpa deste: Mesmo assim, de acordo com vários autores, a solução continua sendo na previsão do art. 886, isto é, cabe a indenização do valor da última, porquanto, do contrário, pioraria a situação do credor, diminuindo-lhe as probabilidades e aumentando os riscos, e porque assim está na lei. (Arnaldo Rizzardo). Há, porém, entendimentos no sentido de que o devedor responde pela primeira prestação acrescida de perdas e danos, já que foi aquela que se perdeu por culpa do devedor.
c) Perda de todas as obrigações sem culpa do devedor: Como dispõe o art. 256, neste caso a obrigação se resolve.
II) DIREITO DE ESCOLHA DO CREDOR:
a) impossibilidade de cumprimento de uma das obrigações com culpa ou sem culpa do devedor: Se não existe culpa do devedor, a solução será aquela prevista pelo art. 253, ou seja, a obrigação ficará restrita ao objeto subsistente. No caso de culpa do devedor, como o direito de escolha do credor não pode ser prejudicado, assistirá a este o direito de exigir a prestação subsistente ou, se desejar, o equivalente em dinheiro da que se perdeu por culpa do devedor, acrescida de perdas e danos.
b) Impossibilidade de todas prestações por culpa do devedor:como o direito de escolha do credor não pode ser prejudicado, assistirá a este o direito de exigir o equivalente em dinheiro de qualquer das prestações, acrescida de perdas e danos.
c) Impossibilidade de todas as obrigações sem culpa do devedor (“impossibilidadeinocente”): segue a regra geral de que a obrigação será resolvida, devolvendo-se eventual pagamento realizado pelo credor, salvo se o devedor estiver em mora.
d) Impossibilidade de cumprimento por culpa do credor: esta hipótese não foi prevista pelo Código Civil, mas doutrinariamente entende-se que:
d.1) perecimento de uma das prestações – escolha do devedor: o devedor poderá considerar resolvida a obrigação ou, alternativamente, cumprir a obrigação subsistente, com direito a perdas e danos em relação a que se perdeu. (Sílvio Venosa).
Ex: obrigação da entrega de um touro ou um cavalo. Se o touro morre por culpa do credor, o devedor poderá considerar a obrigação cumprida ou entregar o cavalo e exigir a indenização pela perda do touro.
d.2)perecimento de uma das prestações – escolha do credor: a obrigação será resolvida, ou o credor poderá exigir o cumprimento da subsistente, indenizando o devedor em relação as perdas e danos daquela que se perdeu.
d.3) Perecimento de todas prestações – escolha do devedor: o devedor poderá pedir a indenização de qualquer uma delas, se for o caso (ex: morte de um animal), e a obrigação será considerada cumprida.
e) escolha do devedor – perda da primeira por culpa do devedor e da segunda por culpa do credor: como a escolha pertence ao devedor, com a perda da primeira, por culpa sua, a obrigação se concentrará na segunda, com a perda desta, por culpa do credor, a obrigação será resolvida. (neste sentido: Serpa Lopes).
DIREITO DE ESCOLHA DE TERCEIRO - Não há previsão no Código Civil. Mário Júlio de Almeida Costa sugere que: “caso a impossibilidade seja imputável ao devedor, o terceiro pode por uma das prestações possíveis ou pela indenização dos danos resultantes do não cumprimento da prestação que se tornou impossível. Se a impossibilidade é imputável ao credor, considera-se cumprida a obrigação. Ressalta-se a faculdade de o terceiro optar pela prestação possível, com a indenização dos danos que o devedor tenha sofrido”.
Acréscimos sofridos pelas coisas: O Código não tratou desta hipótese. Sílvio Venosa propõe as seguintes regras:
a) se todas as coisas sofreram acréscimos, o credor deve pagar o maior volume daquela que ele ou o devedor escolher; se não se chegar a esta solução, o devedor pode dar como extinta a obrigação.
b) se alguma das coisas aumentou de valor e a escolha couber ao devedor, poderá ele cumprir a obrigação entregando a de menor valor; se a escolha couber ao credor, deverá ele contentar-se com a escolha da que não sofreu melhoramentos, ou, então, se escolher a coisa de maior valor, pagar a diferença.
DIFERENÇAS EM RELAÇÃO A OUTRAS MODALIDADES:
Obrigações cumulativas (conjuntivas): em ambas há uma pluralidade de objetos, contudo, nas cumulativas, todas as prestações devem ser cumpridas, enquanto nas alternativas o cumprimento recai sobre apenas um dos objetos.
Obrigação de dar coisa incerta: em ambas há necessidade da escolha do objeto, porém, nas alternativas existemvários objetos, ao passo que nas obrigações de dar coisa incerta o objeto é único (obrigação simples), apenas indeterminado em relação quanto à qualidade. Ex: se o hoteleiro reservar um dos quartos do hotel para o cliente, a obrigação será genérica; se a reserva se referir à suíte do 1° ou à suíte do 2° andar, a obrigação será alternativa.(Antunes Varela).
Além disso, o perecimento de um dos objetos faz com que a coisa se concentre em outro no caso das obrigações alternativas, o que não acontece com as obrigações de dar coisa incerta, que mantém o objeto pactuado. Ex: se o devedor se obrigou a entregar um dentre quatro cavalos determinados, o perecimento de três deles faz com que a obrigação perca a natureza de complexa e se torne simples, pois há a concentração no objeto remanescente, no caso o cavalo sobrevivente. E mais, se todos perecerem, a obrigação se extingue. Contudo, se a obrigação for de dar coisa incerta, isto é, cavalo de determinada raça, o perecimento de todos os animais de propriedade do vendedor não extingue a obrigação, pois este poderá buscar alhures o animal para o oferecer ao credor. O gênero, em tese, não perece. (Sílvio Rodrigues).
Apesar da diversidade, nada impede que uma obrigação seja concomitantemente alternativa e de dar coisa incerta, ex: entregar duas vacas nelore ou dois cavalos quarto de milha.

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