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Teorias: Cognitiva – Comportamental – 2016.1 O Que é Terapia Cognitiva ? O objetivo desta sessão é apresentar alguns conceitos básicos a respeito da Terapia Cognitiva, centrando-se mais especificamente no modelo cognitivo, nível de cognição e algumas técnicas utilizadas em sessão de TC. A Terapia Cognitiva iniciou na década de 60 nas mãos do brilhante A. Beck psiquiatra e psicanalista da Universidade da Pensilvânia (EUA). Na época Beck estava pesquisando a respeito dos mecanismos psíquicos centrais envolvidos com o processo depressivo. Beck estava preocupado em validar teorias psicanalíticas sobre a depressão. Acreditava que pudesse desenvolver técnicas adequadas para realizar estudos controlados e com isto apresentar dados empíricos necessários a aceitação da psicanálise pela sociedade científica. Com o desenvolvimento de suas pesquisas estas foram fornecendo evidências que contradiziam a teoria psicanalítica da depressão, ou seja, a hostilidade retroflexa. Em seu estudo Beck foi concluindo que seus pacientes depressivos não tinham necessidade de sofre. As manipulações experimentais indicaram que os pacientes depressivos tendiam mais que os não depressivos a evitar comportamentos evocadores de rejeição ou desaprovação em favor de respostas evocando aprovação e aceitação dos outros. Estas observações fizeram com que Beck passasse a reavaliar a teoria psicanalítica reformulando totalmente a psicopatologia da depressão. Foram anos de pesquisa e estudos até concluir que o paciente depressivo sistematicamente distorcia suas experiência de uma forma negativa. O paciente depressivo apresenta uma visão negativa global de si mesmo, do mundo ao seu redor e do futuro. Beck à medida que acumulava evidências para apoiar o papel proeminente das distorções cognitivas tentava aliviar a sintomatologia usando técnicas para corrigir as distorções usadas pelos pacientes, dando início assim a terapia cognitiva. O princípio básico da teoria cognitiva levanta a hipótese que a ativação de estruturas de atribuição de significado (esquemas) em grande parte determina como alguém pensa, sente e se comporta. Em outras palavras não é a situação por si só que determina o que o indivíduo sente e faz, mas sim o significado que ele dá para aquele fato. Vamos a um exemplo de caso clínico: A paciente darei o nome de F, ela tem 23 anos, solteira, estudante do curso de física. Ela relata em sessão que teve que estudar física quântica no final de semana e não conseguiu e ficou muito triste. Terapeuta: Então você abriu o livro de física e começou a ler? Paciente: Sim. Terapeuta: E o que aconteceu então? Paciente: Eu comecei a ler, devo ter lido uns dois parágrafos e não estava entendendo nada e ai pensei que não iria aprender e que física quântica é muito difícil. Terapeuta: Certo! E como você se sentiu pensando desta forma? Erros cognitivos e seus correspondentes PAs Erros cognitivos Pensamentos (cognições) Catastrofizar “O pior certamente ocorre´ra e nao mais o que fazer”. Tudo ou nada “Já que nao conseguirei fazer este trabalho com perfeição, não vou nem começar.” Generalização “Eu nunca faço nada certo mesmo!” Abstração seletiva “Hoje meu dia foi só problema!” Julgamento global “Cometi outro erro. Sou um inútil!” Paciente: Fiquei triste. Terapeuta: E então o que você fez? Paciente: Fechei o livro e desisti de estudar. Na terapia cognitiva a primeira tarefa do terapeuta é conscientizar o paciente do modelo cognitivo demonstrando para o paciente a associação entre seu pensamento, sentimento e seu comportamento. Para tal usamos o Registro de Pensamento Disfuncional. Nas sessões iniciais preenchemos junto com o paciente para que o mesmo aprenda a identificar seus pensamentos, emoções e comportamentos. Vamos voltar a F para exemplificar. Terapeuta: F o que te parece de identificarmos seu pensamento, a sua emoção e o seu comportamento utilizando o Registro de Pensamentos Disfuncional (RPD), tudo bem para você? F: Ok! Tudo bem. Terapeuta: Ok primeiramente vamos identificar a situação onde ocorreu a emoção. Você me contou que estava lendo um livro de física. Certo? F: Isto mesmo. Terapeuta: Ótimo vamos colocar a situação estudando física no quadro (1) do RPD. Ok? F: Posso escrever? Terapeuta: Claro. Terapeuta: Bem então você estava estudando e que passou em sua mente nesta hora? F: Eu não vou aprender. Isto é muito difícil. Terapeuta: Este é o pensamento disfuncional. Certo? F: Sim. Coloco ele no quadro (2)? Terapeuta: Por favor. Pensando que não iria aprender deixou você triste. Anote no quadro (3) por favor. E o que você fez em seguida a este pensamento? F: Fechei o livro e desisti de estudar. Terapeuta: Ok! Este é o comportamento certo? Coloque no quatro (4). Assim F finalizamos o nosso Registro de Pensamento Disfuncional. Este é um instrumento muito útil da terapia cognitiva. Ele vai te ajudar a aprender e reconhecer a conexão entre pensamento, emoção e comportamento. O que te parece? F: Interessante!! SITUAÇÃO PENSAMENTO EMOÇÃO COMPORTAMENTO LENDO LIVRO DE FÍSICA. NÃO VOU APRENDER, ISTO É MUITO DIFÍCIL TRISTEZA DESISTE DE ESTUDAR E FECHA O LIVRO Terapeuta: Então F, aqui temos um exemplo do Modelo Cognitivo. Você deu um significado ao fato de estar lendo e não conseguindo entender o livro de física (Quadro 2), tal significado modificou seu estado emocional (Quadro 3) e ditou o seu comportamento de desistir de estudar (Quadro 4). É com tal modelo que iremos trabalhar. Isto ficou claro pra? Tudo bem? F: Quer dizer que o que eu penso das situações é que me deixa mal e faz eu fazer coisas. Terapeuta: Isto mesmo, você está pegando bem o modelo. Vamos continuar treinando. F: Ok. A terapia cognitiva tem características que a difere dos outros métodos terapêuticos. Por exemplo, contrário da psicanálise, o material trazido à consulta não é interpretado pelo terapeuta, mas elaborado em conjunto com o paciente num trabalho de identificar, examinar e corrigir as distorções do pensamento que causam sofrimento emocional ao indivíduo. A TC focaliza seu trabalho na identificação e correção de padrões de pensamentos conscientes e inconscientes. O levantamento das possíveis hipóteses explicativas de por que as coisas na vida do paciente são como são, e a testagem empírica quanto à exatidão e validade de cada uma dessas hipóteses, fazem parte do processo terapêutico. Em outras palavras, tomar a explicação para o fato que está acontecendo naquele momento como uma hipótese, mas não tomá-las como uma verdade absoluta e inquestionável. Se valendo de um processo de reflexão, questionar a validade da hipótese levantada para explicar e dar sentido aquela situação. A TC propõe que a testagem da realidade seja dirigida ao pensamento do paciente. Uma das técnicas usada em TC é o Desafio de Pensamento Disfuncional – uma técnica que treina e capacita o paciente a fazer a reestruturação cognitiva. Com o Desafio de PD, o paciente aprende a desafiar as suas hipóteses explicativas iniciais para a situação experienciada, criando pensamentos alternativos mais funcionais e não disfóricos. Voltemos ao nosso exemplo clínico. Terapeuta: F gostaria de te propor um exercício agora que identificamos seu PD, sua emoção e sua ação. Ok? F: Vamos lá. Terapeuta: Primeiramente F eu gostaria que você me dissesse o quanto você acreditou no pensamento: – “Não vou aprender, isto é muito difícil”. Você Acreditou pouco, mais ou menos, acreditou muito ou totalmente nele? Você conseguiria quantificar em porcentagem a sua crença? F: Acho que na hora eu acreditei muito nele acho que uns 90%. Terapeuta: E você conseguiria quantificar a tristeza que sentiu na hora? F: Fiquei muito triste acho que 90% também. Terapeuta: Ok F., você está me dizendo que acreditou muito neste pensamentonão é? Bem vejamos o que fez você acreditar tanto nele desta forma, ou melhor quais são as evidências que você utilizou no momento para acreditar que não iria aprender física? F: Hum… Eu não estava entendendo nada do que eu estava lendo. Terapeuta: Muito bem pode continuar que eu vou enumerando aqui. Certo? F: Hum rumm….Física quântica é muito difícil. Eu não tinha tido contato com tal matéria antes deste aprofundamento. Humm... Não sei mais o que me levou a acreditar que eu não iria aprender, ah!! Acho que o pensamento dizendo que eu não vou aprender, acreditei nele e pronto. Faltei em algumas aulas da matéria então perdi explicações importantes do professor. Nas últimas provas minhas notas ficaram abaixo da média, o meu desempenho caiu muito neste bimestre. Não me passa mais nenhuma evidência. Terapeuta: Certo. E evidências contrárias ou melhor provas que você tem que mostra que tal pensamento não é verdadeiro. F: Já aconteceu antes de eu iniciar o estudo de alguma matéria de física e não entender nada o que eu estava estudando. Mas eu insisti, procurei professor e colegas eles me ajudaram e ai eu consegui entender e aprender a matéria. Estou deprimida nos últimos meses e isto é a causa do meu baixo desempenho. Deixa eu ver se tem mais alguma coisa. Bem nos meses anteriores estava indo bem, minhas notas foram boas. Eu não estava entendendo o livro porque tinha alguns conceitos que perdi devido minhas faltas.Acho que é isto!!! Terapeuta: Excelente. E o que você me diz do tempo verbal do pensamento? Eu não VOU aprender. F: Como assim??? Terapeuta: O pensamento está dizendo de algo do presente ou do futuro? F: Futuro. Terapeuta: E o que sabemos do futuro? F: Ah!!! É verdade…estou prevendo o futuro!!!! Terapeuta: Sim! Bem F mais alguma evidência contrária? F: Não me ocorre mais nenhuma. Terapeuta: F como uma colega sua que não pensa e sente como você reagiria nesta situação? F: O C por exemplo não esquentaria ele traria em aulas as coisas que não entendeu e pediria uma explicação pro professor. Ele ficaria tranquilo não é de esquentar a cabeça não. T: E que conselho você daria a um colega que contasse uma história como a sua? F: Calma você está se precipitando. Precisa ler mais vezes o capítulo do livro, anotar sua dúvidas e levar ao professor. Você sempre vai bem não acredito que você não vá aprender. Terapeuta: Ok F olhando para as evidências contrárias que você apresentou você acredita que o Pensamento é realmente verdadeiro? Ele estava realmente representando os fatos de uma forma acurada? F: Não. Terapeuta: Qual seria uma alternativa mais realista a este pensamento? F: Humm.. vejamos…ah!!! Eu já passei por isto antes. Tenho que insistir no estudo só assim vou aprender sou uma boa aluna e estava indo bem no curso. Terapeuta: Quais evidência que sustenta a alternativa? F: Experiências anteriores de estudo, tive matérias que no início eu não conseguia entender, mas com o tempo e insistência eu aprendi. O fato de eu ser uma boa aluna. Terapeuta: Qual é sua meta nesta situação? F: Não ficar triste por não estar entendendo e nem desistir de estudar. Terapeuta: O PD ajuda ou atrapalha você alcançar a sua meta. F: Não tenho duvida nenhuma que me atrapalhou, me deixou pra baixo e me fez desistir de estudar. T: Qual é o efeito de se acreditar no PD? F: Tristeza e não estudar. Terapeuta: Qual é o efeito de mudar seu pensamento? F: Nossa!!!!(sorrindo) ficar bem e acreditar mais em mim. Terapeuta: Quanto você acredita no PD agora? F: Não acredito nada. Terapeuta: E a sua emoção quanto de tristeza você está sentindo agora? F: Zero, estou bem. T: Muito bem F. O que podemos concluir deste desafio de PD? F: Se eu mudar meus PD’s eu posso ficar melhor? Terapeuta: Isto mesmo. Que tal você levar para casa alguns RPD e tentar identificar e desafiar alguns PD’s? F: Vou tentar. O desafio de Pensamento Disfuncional tem como objetivo capacitar o paciente para questionar seus pensamentos e atraves de um processo racional de coleta de informações verificar se sustentam ou não a ideia do paciente; no caso da paciente F vimos que o Pensamento Disfuncional não era verdadeiro, portanto, o significado que F deu a vivência no momento que estava estudando foi distorcido levando-a disforia. O objetivo da Terapia Cognitiva está voltado a capacitar o paciente a reconstruir sua cognição com pensamentos alternativos mais realistas. Um questionamento se faz necessário. Por que a paciente F. deu o significado de que não iria aprender aquilo que estava lendo? Quais estruturas mentais estão envolvidas com as significações que nos humanos damos as coisas? O principio central do modelo cognitivo é que o processamento de informação humano ou, atribuição de significado, influencia as emoções e os comportamentos do homem. O processamento da informação do ambiente é essencial à adaptação e sobrevivência humana. Para sobreviver e se adaptar ao meio, o homem desenvolveu sistemas conscientes que incluem capacidade de representação conceitual de si mesmo no mundo. O sistema conceitual humano pode incluir eventos acontecendo não só no presente, mas também no passado e atecipar o futuro. A capacidade humana de processamento de informação é representada em termos da função cognitiva pela percepção, assimilação e elaboração do significado da experiência. O processamento de informação refere-se a estrutura, processos e produtos envolvidos na representação e na transformação do significado estabelecidos a partir de dados sensoriais ocorridos devido estimulação interna ou externa. A atribuição de significado não leva diretamente a uma emoção, mas antes a uma cognição e avaliação do significado pessoal da situação é este produto cognitivo envolvido com tipos de cognição e padrões de avaliação que em parte constituem a experiência emocional. O conceito de representação mental é o cerne da ciência cognitiva. Para a teoria cognitiva os Esquemas são os elementos básicos ou os tijolos para a representação do significado. Esquemas são estruturas internas relativamente estáveis das memórias genéricas ou precursores dos estímulos, ideias, ou experiências que são usadas para organizar novas informações de forma compreensiva. Deste modo, determinando qual fenómeno será percebido e conceituado. Como uma estrutura hipotética contendo a representação do significado armazenado, o esquema é central em guiar a selecção, a codificação, a organização, a armazenagem e a recuperação da informação dentro do aparato cognitivo. Além disto, o esquema tem uma estrutura interna consistente que se impõe sobre as novas informações que chegam ao sistema cognitivo. Os esquemas enceram representações internas, chamadas de Crenças Nucleares que são abstraídas de dados ou experiências do processo de informação e desta forma fornece a base para a interpretação das experiências de vida. Os conteúdos dos esquemas (Crenças), podem incluir atitudes e idéias a respeito do eu, do mundo e do futuro. As crenças nucleares são as nossas ideias e conceitos mais enraizados e fundamentais acerca de nós mesmos, das pessoas e do mundo. Elas são incondicionais, isto é, independente da situação que se apresente ao indivíduo, ele irá pensar de acordo com suas crenças nucleares. Todos nós humanos, temos crenças positivas e negativas. Tais crenças vão se construíndo e formando desde as experiências de aprendizado mais primitivas e se fortalecem ao longo de nossas vidas, moldando a percepção e a interpretação dos eventos. Se crenças nucleares disfuncionais não forem corrigidas ao longo do tempo o indivíduo irá cristalizá-las como verdades absolutas e imutáveis e quando ativadas levão as interpretações distorcidas do real e aparecimento de emoções e ações disfuncionais. Tais pensamentos distorcidos aparecerem paralelos aos pensamentos conscientes e tem tendência de ser transitórios,super específicos, espontâneos, involuntários, automáticos e irrealistas, são chamados de Pensamento Automáticos Disfuncionais. O princípio fundamental da teoria baseada no esquema é que o mesmo está sujeito a diferentes níveis ou poder de ativação dependendo das demandas do meio. O conceito de ativação é fundamental para a teoria cognitiva e propõe que na depressão e nos transtornos ansiosos envolve hiperatividade de esquemas idiossincráticos devido ao seu maior poder de ativação inibindo a ativação de esquemas mais funcionais. A ativação é o processo pelo qual uma situação ou estímulo ativa um esquema elevando sua preponderância dentro do sistema de processamento de informação levando ao aparecimentos das crenças nucleares disfuncionais e os PAs. Voltemos ao caso clínico. F contou que quando criança seu pai era uma pessoa muito hostil. Ele dizia a todo tempo que ela era uma imprestável e que não daria nada na vida. F tinha que ter notas acima de 9 e nunca foi elogiada por este pai. Quando F estava em seu quarto ano do ensino fundamentou teve uma professora que era hostil e também vivia criticando a paciente, qualquer erro de F era apontado, mas seu acertos não eram. F lembra de um prova de matemática na qual foi a única a acertar uma questão. A professora a ridicularizou na frente da classe dizendo que ela tinha “colado”, pois ela não era capaz de resolver aquela questão sozinha. Com o passar do tempo F desenvolveu um esquema de incapacidade. Tal esquema ficou latente até iniciar a faculdade de física quando teve de enfrentar as críticas do pai e de um professor tirânico que também a desqualificava. Há seis meses a F passou a apresentar sinais de uma uma depressão. Com o esquema de incapacidade ativado ela passou a dar significados as situações vivências de acordo com tal esquema. Passou a acreditar que era incapaz e na situação relatada na sessão, o fato de não estar entendendo a mateira que estava lendo, funcionou como estímulo ao processamento de informação/esquema (incapacidade) - elaborar um significado para a experiência. Sua crença nuclear foi ativada (sou incapaz) e o pensamento automático disfuncional (não vou aprender) surgiu em sua consciência provocando sua tristeza e o abandono do estudo. Resumindo o processo em forma de diagrama para melhor entendimento do processo.
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