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Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino da Geografia

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Fundamentos 
Teóricos e 
Metodológicos 
do Ensino da 
Geografia 
 
Circulação Interna 
 
 
Série Educação 
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 geografia brasileira seria outra se todos os brasileiros fossem verdadeiros 
cidadãos. O volume e a velocidade das migrações seriam menores. As pessoas 
valem pouco onde estão e saem correndo em busca do valor que não têm.” 
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SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 Concepção da Área de Geografia..........................................................................................2 
UNIDADE 2 Pressuposto da Educação Geográfica....................................................................................5 
Atividades de síntese..................................................................................................................................16 
UNIDADE 3 O Valor Educativo da Geografia..........................................................................................17 
Atividades de Síntese..................................................................................................................................19 
UNIDADE 4 Propostas dos Parâmetros 
Curriculares para o Ensino de Geografia....................................................................................................20 
UNIDADE 5 A Prática Pedagógica...........................................................................................................40 
Atividade de Síntese...................................................................................................................................47 
UNIDADE 6 Atividades Didáticas 
para o Ensino de Geografia........................................................................................................................48 
Referências...................................................................................................................................................69 
Atividades Avaliativas.................................................................................................................................72 
 
 
 
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O ensino da Geografia na escola exige, para que seja eficaz, 
clareza nos seus pressupostos atenção à ciência, ao conteúdo, e à sua dimensão pedagógica para contribuir 
na construção de uma identidade da educação geográfica. 
Nas décadas de 1970 e 1980 houve um período de profundas modificações na ciência geográfica 
de cunho teórico-metodológico, portanto, de caráter renovador, marcado pela introdução do materialismo 
histórico e da dialética. 
O materialismo histórico é uma corrente teórica que afirma que o modo pelo qual a produção 
material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das 
representações intelectuais de uma época, de forma que a base material ou econômica constitui a 
“infraestrutura” desta, que exerce influência direta na “superestrutura ", ou seja, nas instituições jurídicas, 
políticas, formada pelas leis e pelo Estado e ideológicas, compostas pelas artes, religião e moral da época. 
Para exemplificar, a sociedade é comparada a um edifício no qual as fundações, a infra-estrutura, seriam 
representadas pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, represe, as idéias, 
costumes, instituições políticas, religiosas, jurídicas, entre outras. 
Neste raciocínio, segundo Marx, as ferramentas, as máquinas, as técnicas, tudo aquilo que permite 
a produção, ou seja, as forças produtivas bem como as relações entre os que são proprietários dos meios de 
produção as terras, as matérias primas, as máquinas e aqueles que possuem apenas a força de trabalho, isto 
é, as relações de produção constituem a base material da sociedade. 
Para melhor compreensão deste conceito, o marxismo pode ser entendido como um pressuposto à 
existência humana, pois para viver é preciso comer, beber, vestir-se. E para se atingir tal fundamental é 
preciso um determinado trabalho humano, de cunho coletivo, para transformar a natureza. Todas as outras 
relações que os homens estabelecem entre si dependem dessas relações para a produção da vida, não sob 
uma forma de dependência mecânica, direta e determinante, mas sob forma de um condicionamento 
social determinado pelas relações de produção da época. 
Assim, o trabalho é categoria central de análise da materialidade histórica dos homens porque é a 
forma mais simples, mais objetiva, que eles desenvolveram para se organizarem em sociedade. A base 
das relações sociais são as relações sociais de produção, as formas organizativas do trabalho. 
Dando continuidade, originalmente, a dialética significa a arte do diálogo, da contraposição de 
idéias que leva a outras idéias. O conceito de dialética, porém, é apropriado por diferentes doutrinas 
filosóficas e, de acordo com cada uma delas, assume um significado distinto. Aqui, destacaremos a 
dialética marxista. 
No início do século XIX, Friedrich Hegel (1770-1831) apresenta a dialética como um movimento 
histórico do espírito em direção à autoconsciência. É um processo movido pela contradição marcado por 
uma tese inicial que se contradiz e é ultrapassada por sua antítese. Por sua vez, essa antítese, que conserva 
elementos da tese, é superada pela síntese, que combina elementos das duas primeiras, num progressivo 
enriquecimento. 
Karl Marx (1818-1883) e Friederich Engels (1820-1895) reformam o conceito hegeliano de 
dialética. Utilizam-no da mesma forma, mas introduzem um novo conteúdo, denominando - a essa nova 
dialética de materialista, porque o movimento histórico, para eles, não é produzido pelo espírito. 
Consideram que o espiritual é apenas um produto derivado das condições materiais da vida. Assim, a 
dialética materialista analisa a História do ponto de vista dos processos econômicos e sociais e a divide 
em quatro momentos, sendo a antiguidade, o feudalismo, o capitalismo e o socialismo. Cada um dos três 
primeiros é superado por uma contradição interna, que eles chamam de “germe da destruição”.A 
contradição da antiguidade é a escravidão; a do feudalismo, os servos. Do capitalismo, o proletariado. E a 
do socialismo seria a síntese final, em que a História cumpre seu desenvolvimento dialético. 
UNIDADE 1 
 CONCEPÇÃO DA ÁREA DE GEOGRAFIA 
 
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No decorrer dessa efervescência metodológica, novas correntes do pensamento geográfico, que 
até então estavam à margem das discussões em torno desta ciência, foram aceitas início do século XXI, 
sendo de cunho fenomenológico, hermenêutico, existencialista, e também numa perspectiva da Geografia 
Cultural e da Geografia Sócio-ambiental. Estas duas últimas teorias emergem com o intuito de amenizar 
uma postura mais “radical” e possibilitam diferentes formas interpretativas para a Geografia. 
A Geografia Cultural permite a compreensão do espaço geográfico sob a ótica da produção social 
e cultural dos indivíduos, da perspectiva das relações estabelecidas pela mobilidade e composição dos 
grupos sociais, ou seja, pela etnografia - método utilizado pela Antropologia na coleta de dados, 
baseando-se na interligação entre o antropólogo e seu objeto, seja ele uma tribo indígena ou qualquer 
outro grupo social sob qual o recorte analítico seja feito - e pela demografia, ou seja, ciência que estuda a 
dinâmica populacional humana, englobando as dimensões, estatísticas, estrutura e distribuição das 
diversas populações
humanas. 
Portanto, a cultura possui informações que remetem a reflexões sobre a ação humana frente ao 
espaço geográfico e na sua produção de instrumentos para explorar as riquezas do meio. E como estamos 
no período histórico da globalização, a pesquisa sobre as características sociais e culturais do espaço 
geográfico possibilitam uma maior clarificação desse momento marcado pelo intenso fluxo de 
informações, capitais, mercadorias, serviços, pessoas e modos de vida. Em meio a esse intenso processo 
de circulação encontra-se ainda a construção cultural individual e coletiva, que pode ser definida tanto 
pela massificação da cultura quanto pelas manifestações culturais de resistência. 
Dessa forma, as manifestações culturais no espaço geográfico podem ser trabalhadas em sala de 
aula por meio dos conteúdos da composição demográfica dos lugares, em que serão abordados os 
diferentes grupos sócios culturais e suas marcas na paisagem e no espaço; de migração, responsável pela a 
mobilidade dos grupos sócios culturais, ajustamentos e novas configurações espaciais; das diversas 
produções culturais e suas materializações no espaço geográfico e dos aspectos históricos das 
manifestações culturais mediante o enfoque da cultura e da produção espacial. 
Já a Geografia Socioambiental abrange não apenas à flora e à fauna, mas a interdependência das 
relações entre sociedade, componentes físicos, químicos, bióticos, aspectos econômicos, sociais e 
culturais, fazendo com que os homens sejam componentes e sujeitos da natureza. Tal postura teórico-
metodológica levou a Geografia a rever suas concepções, utilizando a corrente da hermenêutica como 
forma de se amenizar a problemática ambiental atual. Esta a corrente é a que traz novos horizontes para a 
ciência, pois quando percebemos a separação fictícia entre ser e ambiente notamos também que a divisão 
ente ciências sociais e ciências humanas refletem a relação sociedade e natureza ou a redução dessa 
dicotomia ao indivíduo, separando - se o sujeito do objeto, verificamos que não está correta. 
Por isso, é necessária a aplicação em sala de aula de conteúdos que contemplem uma concepção 
metodológica que leve o aluno a construir uma análise crítica da relação sociedade e natureza mediante a 
abordagem, não isolada, mas dinâmica deste processo, relacionando a discussão de meio ambiente não 
apenas com as questões de ordem da natureza, mas também com a presença e ação social tecnológicas 
que, ao entender natureza como recurso, a explora e a transforma, além das questões da pobreza, da fome, 
do preconceito, das diferenças culturais, materializadas no espaço geográfico, que dizem respeito aos 
problemas sócio-ambientais. 
Portanto, os desdobramentos possíveis para as manifestações espaciais da questão ambiental 
podem ser discutidos nos conteúdos de crescimento urbano desordenado enfocando os favelamentos, 
bolsões de pobreza, biotecnologia, organização espacial, poluição - água, solo, ar, visual, sonora, social, 
extrativismo e problemas sócio-ambientais. 
Não somente no campo teórico são notáveis as alterações epistemológicas da Geografia, mas 
também no âmbito escolar, que podem ser assinaladas pelo próprio processo de formação dos professores, 
do acesso aos livros didáticos então produzidos, dos documentos oficiais em nível federal, estadual e 
municipal e dos contextos escolares. 
Assim, no processo de aprendizagem geográfica subsistem formas diferenciadas de ensino, 
partindo deste a descrição, enumeração mnemônica com exigência da memorização até utilização de 
opções teórico-metodológicas variadas, sendo que tais variáveis implicam em dificuldades de superação 
das formas tradicionais ou precisam ser seguidas em sala de aula por exigências externas ao professor. 
 
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Para exemplificar, tem-se a difícil incorporação da Geografia Cultural no âmbito escolar em virtude da 
valorização extrema da sua metodologia em detrimento da compreensão do seu conteúdo como 
ferramenta de ensino. 
De qualquer maneira, a construção de currículos sempre se coloca por meio de contradições. Se 
de um lado é um ato democrático de outro é, muitas vezes, percebido como impositivo. Como destaca 
Moraes, o principal problema dos currículos gerados a partir do processo de redemocratização do país, 
dentre os quais o do Estado de Minas Gerais “reside num desejo militante de fazer do próprio currículo 
instrumento de conscientização política, o que redunda num elevado grau de dirigismo ideológico”. 
(MORAES, 1998, p. 163) 
Neste sentido, a distância entre a realidade acadêmica e a escolar, se constitui no ponto crítico 
desta questão de elaboração dos currículos que foi recebida de forma desentusiasmada pelos professores, 
mediante a ausência de uma política de formação continuada para os mesmos com vistas à sua 
implementação. 
Como resultado desse processo, nota-se uma expressão tímida das diversas abordagens presentes 
hoje na ciência geográfica na ação dos professores, em decorrência da real complexidade de se transpor 
os conteúdos da Geografia acadêmica para a Geografia escolar. 
Essa interdependência foi levada em consideração no momento da construção das Diretrizes 
Curriculares de Geografia ao se utilizar textos acadêmicos relacionados à prática do professor, que 
serviram de base para a construção de tal documento, e cujo objetivo é subsidiar o seu trabalho 
pedagógico. 
Assim, a forma de se buscar uma maior compreensão da realidade por meio da educação 
geográfica não é um mérito apenas da Geografia brasileira como de todo o cenário geográfico 
internacional. Tal fato foi explicitado pela Declaração Internacional sobre Educação Geográfica, firmada 
pela Comissão de Educação Geográfica da União Geográfica Internacional (UG1), em 1992, em 
Washington, e ratificada em 2000, na reunião realizada em Seul, na Coréia do Sul, afirma que: 
 
[...] a Geografia como campo de estudos é essencial para a compreensão de nosso lugar no mundo 
e de como as pessoas interagem com as demais em seus entornos; a investigação e educação 
geográficas promovem e ampliam a compreensão cultural, a interação, a igualdade e a justiça em 
escala local, regional e global; todos os estudantes têm direito à oportunidade de desenvolver seus 
valores sociais, culturais e ambientais através da educação geográfica que promoverá seu 
desenvolvimento como pessoas geograficamente informadas; ... os geógrafos profissionais e 
educadores geográficos ... [devem] promover a educação geográfica global para fazer frente aos 
futuros desafios do desenvolvimento e o entorno natural. 
A título de esclarecimento, esta instituição, criada em Bruxelas, no ano de 1922, atualmente tem 
entre outros objetivos promover o estudo dos problemas geográficos; iniciar e coordenar investigações 
geográficas que requerem a cooperação internacional promovendo sua discussão científica e sua 
publicação e, promover internacionalmente a padronização ou a compatibilidade de métodos, 
nomenclaturas e simbologias empregadas na Geografia, buscando-se evidenciar a formação de um 
indivíduo crítico para o exercício da vida cidadã como o principal significado da educação geográfica. 
Diante do que foi discutido até aqui, tenta-se enfatizar que, por meio dos seus caminhos 
epistemológicos, a Geografia enquanto ciência procura compreender o espaço construído pelos homens, 
situado num tempo e espaço localizados concretamente. Ademais, oferecem apoio para a observação, 
descrição e análise da dimensão espacial da vida humana, visível pela paisagem, e encaminha a “ver por 
detrás” da mesma, considerando a dimensão histórica da materialização dos processos sociais que a 
formaram. 
Portanto, a concepção que se pretende hoje da Geografia é possibilitar ao aluno enxergar a 
realidade que vive por meio de sua dimensão espacial, tanto natural quanto
humana, bem como no 
cenário de suas transformações, velocidade e complexidade, sendo esta a contribuição fundamental desta 
ciência em qualquer situação, seja relacionada à pesquisa, ao ensino e à própria vida. 
 
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Compreendem-se como pressupostos da educação geográfica os eixos teóricos que orienta tal 
ciência buscando fornecer ao professor uma maior clareza do seu objeto de estudo. De forma a reunir 
duas vertentes que são primordiais para o exercício da profissão de professor, independente do seu nível 
de atuação, tais como a dimensão técnica e a dimensão pedagógica. 
2.1. Dimensão Técnica da Geografia 
A dimensão técnica da Geografia diz respeito aos fundamentos teóricos e metodológicos que 
compõem esta ciência, permeados pela clareza dos conceitos que se apresentam específicos do geógrafo 
bem como domínio de habilidades próprias pertinentes ao desenvolvimento dessa disciplina tais como 
lugar, território, região e paisagem, uma vez que são teorias para compreensão do objeto de estudo da 
Geografia ou, como preferem alguns autores, para o entendimento do seu conceito-chave, o Espaço 
Geográfico, abordado posteriormente. Neste sentido, serão enfocados tais conceitos que compõem o 
entendimento geográfico. 
No decorrer da evolução do pensamento geográfico, seu objeto de estudo e seu quadro teórico de 
referência foram sendo criados e modificados em função das mudanças históricas, com o intuito de 
adequar o discurso desta ciência aos contextos sociais, econômicos e políticos dos interesses hegemônicos 
ou contra hegemônicos. Vejamos alguns exemplos. 
No final do século XIX até meados do século XX, a Geografia Clássica, na sua vertente francesa, 
considerou não apenas como conceitos, mas também como próprio objeto de sua ciência os conceitos de 
Região e de Paisagem, cujas definições permeavam a idéia de Natureza. Vamos explicar melhor tal 
afirmação. 
Para o geógrafo francês, Paul Vidal de La Blache, que foi, partir de 1930, a maior referência da 
geografia científica no Brasil, a compreensão da superfície terrestre se dava por diversos meios, sendo 
que a formação de cada um deles ocorria através de fenômenos que eram desencadeados por diversos 
agentes tais como clima, vegetação, relevo, solo, fauna, flora, entre outros, dentre os quais também o 
Homem. E o conceito de Paisagem aparecia justamente como a relação harmônica entre os diversos 
elementos formadores do meio. 
Dessa forma, o ser humano adequava-se aos aspectos naturais da paisagem e utilizava seus 
elementos em benefício próprio. Portanto, a paisagem refletia-se como um modo de vida marcado por 
características histórico-culturais. 
A natureza, diversificada em toda a extensão da superfície terrestre, obrigou o Homem a adaptar-
se a ela e ele o fez, criando formas, desenvolvendo técnicas, hábitos, usos e costumes, que lhe 
permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis. (MORAES, 1987, p, 69). 
Desta perspectiva, Região e Paisagem tornavam-se conceitos similares pois de acordo com 
Corrêa, “a região geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial, onde se entrelaçam de 
modo harmonioso componentes humanos e natureza. [...] Região e paisagem são conceitos equivalentes 
ou associados, podendo igualar-se [...]” (CORRÊA, 1986, p.28). Para melhor entendimento, os conceitos 
de região e paisagem baseavam-se, então, no desenvolvimento técnico de cada povo em sua relação com 
o meio em que viviam e serviam para a classificação dos povos em diferentes estágios de civilização, de 
acordo com o gênero de vida que produziam. Isso hierarquizava as relações entre os povos (mais 
civilizados/menos civilizados) num período histórico em que se fazia necessário justificar a exploração 
UNIDADE 2 
 
PRESSUPOSTOS DA 
EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA 
 
 
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colonial. 
A metodologia geográfica, baseada na descrição dos lugares, levava em consideração todo e 
qualquer tipo de detalhe, o que contribuía para a obtenção da singularidade das regiões, sob todos os seus 
aspectos, produzindo uma riqueza de informações sobre todas as suas características, inclusive os bens 
naturais. 
Assim, a unidade conceitual Região-Paisagem foi um dos parâmetros teóricos que marcaram a 
Geografia Humana além de ser de grande valia no setor político, tanto para explicar a gestão do espaço 
nacional quanto para a exploração colonial. 
Outro exemplo é o conceito de Território, cuja raiz estava ligada exclusivamente à idéia de 
território nacional, também acompanhou o seu entrelaçamento com a categoria de análise da Natureza na 
Geografia Clássica, ao se constituir no elemento fundamental do conceito de espaço vital desenvolvido 
por Ratzel. 
Este autor procurava demonstrar que o espaço era a fonte de vida, concebendo o território como 
caráter de poder aos espaços, ou seja, o homem deveria conquistar “espaços” à medida que o seu “espaço 
vital” se tornasse limitado e insuficiente para sua “sobrevivência”, não apenas física mas de política e 
dominação. Daí parte-se a idéia de que quanto mais civilizado um povo, mais intenso era o uso do meio, 
pois mais sofisticadas eram suas técnicas de produção. 
Essa prosperidade incentivaria o crescimento populacional o que geraria uma conseqüente pressão 
demográfica por mais território. Os povos considerados civilizados eram aqueles que conseguiam 
organizar um Estado - expressão do grau máximo de coesão social e de acúmulo de patrimônio cultural. 
Ao Estado cabia defender o território e lutar por mais espaço (vital) quando aumentava a pressão 
demográfica. 
Portanto, as conquistas territoriais eram consideradas, então, próprias dos povos civilizados em 
busca do espaço vital, condição de continuidade do progresso e ao mesmo tempo expansão dos frutos da 
civilização. Esses argumentos, amparados no saber geográfico considerado verdadeiro (científico), 
justificavam a expansão colonialista alemã no final do século XIX. 
Diante desses exemplos, pode-se notar a relação entre a ciência e o poder, de modo que não 
somente a Geografia Clássica, mas todas as outras correntes teóricas da Geografia - foram desenvolvidas 
como forma de justificativa histórica de intenção/ação de poder. 
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) iniciou um novo período histórico, caracterizado, 
principalmente por ordem mundial bipolar, em que o mundo encontrava-se dividido entre países 
socialistas e países capitalistas e também por avanços técnicos, favorecidos pelo desenvolvimento dos 
meios de comunicação e transporte, que alteraram o relacionamento dos seres humanos com as variáveis 
de tempo e de espaço, marcando assim o processo de globalização, como indica a FIGURA 02. 
 
 
 
FIGURA 02 - Processo de Globalização – Fonte: http://www.historiaemperspectiva.com/2012/04/globalizacao-e-
formacao-do-territorio.html 
Tal processo econômico e social estabelece uma integração entre os países e as pessoas do mundo 
todo, ou seja, ele permite as pessoas, os governos e as empresas trocam idéias, realizam transações 
financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro cantos do planeta. Ademais, muitos 
países juntaram-se e formaram blocos econômicos, cujo objetivo principal é aumentar as relações 
comerciais entre os membros por meio da redução ou isenção de impostos ou de tarifas alfandegárias e 
 
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busca de soluções em comum para problemas comerciais. 
Neste contexto, surgiram a União Européia, o Mercado Comum do Sul ( Mercosul), o Acordo de 
Livre Comércio do Norte (Nafta), o Pacto Andino e a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico 
(Apec), entre outros, conforme indica a FIGURA 03. Estes blocos se fortalecem cada vez mais e já se 
relacionam
entre si. Desta forma, cada país, ao fazer parte de um bloco econômico, consegue mais força 
nas relações comerciais internacionais. E o lugar deixou de explicar-se por si mesmo. 
 
Para acompanhar o desenrolar dos fatos históricos surgiu-se à chamada Geografia Moderna, se 
desmembrou em várias linhas do pensamento geográfico tais como Geografia dos Modelos, Geografia 
Quantitativa, Geografia Humanística, Geografia Crítica e Geografia Cultural. Esta nova corrente teórico-
metodológica da ciência geográfica fez com que o Espaço se consolidasse como o conceito-chave da 
Geografia, exceto para a Geografia Humanista, e que os conceitos de Paisagem, Região, Território - 
oriundos da Geografia Clássica - recebessem novas interpretações pelas matrizes teóricas recém surgidas. 
Ademais, os conceitos de Lugar e Rede ganharam forças para explicação do Espaço Geográfico no pós 
Segunda Guerra. O conceito de Lugar foi utilizado como palavra-chave da Geografia Humanística e não o 
de Espaço Geográfico. Esta corrente do pensamento geográfico surge em virtude do rompimento com o 
idealismo e com as ciências naturais bem como pela crítica/revisão ao pensamento marxista e ao 
capitalismo, afastando-se da Geografia Clássica. Tais conceituações são trabalhadas através do método 
fenomenológico, que se caracteriza pela explicação científica da realidade pela essência e pelo significado 
dos fenômenos para os indivíduos, ou seja, a ênfase era na subjetividade. De acordo com Santos, essa 
Geografia: 
[...] se fundamenta no princípio da existência de uma escala espacial própria a cada indivíduo e 
também de um significado particular para cada homem, de porções do espaço que lhe é dado 
freqüentar, não apenas em sua vida cotidiana, mas ainda durante lapsos de tempo mais 
importantes. Isto tem implicações no que se refere à interpretação do funcionamento do espaço e, 
conseqüentemente, da própria organização do espaço. Se o espaço não significa a mesma coisa 
para todos, tratá-lo como se ele fosse dotado de uma representação comum, significaria uma 
espécie de violência contra o indivíduo |...]. (SANTOS. 1986, p. 67). 
Apesar dessa divergência quanto aos conceitos- chaves tanto da Geografia Clássica - o Espaço -
quanto da Geografia Humanística - o Lugar a construção epistemológica da Geografia como um todo 
continua visando atender aos interesses sócio-econômicos das classes dominantes, promovendo o 
deslocamento dos indivíduos do centro dos sujeitos sociais. 
Ao tomar como base para seu trabalho/pesquisa os princípios que consideram os comportamentos 
individuais [como] resultados de volições e decisões pessoais, individuais [e, ainda] são os 
comportamentos pessoais que contribuem para modelar o espaço, a Geografia Humanística 
entende a liberdade humana como absoluta e não como condicionada (SANTOS, 1986, p.70Y 
Quanto à aplicação dos preceitos da Geografia Humanística no âmbito escolar, os mesmos já vem 
sendo utilizados nas séries iniciais do Ensino Fundamental, no aspecto psicológico, ao trabalhar com as 
relações afetivas dos alunos com o espaço vivido. Já nas demais séries deste período escolar, a utilização 
desse pensamento geográfico se deu no final dos anos 90 não deixando nenhuma marca significativa na 
área pedagógica do Ensino Médio até os dias atuais, já que num primeiro momento, a Geografia Crítica 
 
 
FIGURA 03 - Blocos Econômicos Fonte: CINTRA, 2006; Org: SILVA, F.B, 2006 
 
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reafirmou o Espaço Geográfico como objeto de estudo e acrescentou a Sociedade ao seu quadro 
conceitual. Por outro lado, desprezou os conceitos elaborados pelos pensamentos geográficos que a 
precederam, desejando romper com as visões de mundo que considerava acríticas. Segundo Santos, 
Durante algum tempo, a produção teórica da Geografia Crítica não apenas criticou a forma como 
se trabalhavam as categorias como paisagem e região, mas também jogou fora à necessidade de 
continuar elaborando estas categorias. Em vez de refazer os conceitos preferiu-se dizer: Não é 
importante trabalhar a paisagem, não é tão importante trabalhar a região.(SANTOS, 1996a, 
p.173). 
Diante disso, o conceito de Lugar no Ensino Médio é enfocando de forma a relacioná-lo com as diferentes 
escalas geográficas e suas complexas relações políticas, econômicas, sociais e culturais. Diante de tudo o que foi 
exposto até aqui, deve ficar claro que o arcabouço teórico utilizado para a construção da Geografia, auxiliando os 
estudos e o maior entendimento do espaço geográfico, busca - se adequá-lo ao atual período histórico. Para tanto, 
foi-se organizado quadros conceituais de referência que elucida os aspectos históricos e políticos do pensamento 
geográfico e do ensino da Geografia. Essas informações são compostas pelo conceito - lugar, paisagem, região, 
território, natureza e sociedade - e as formas com que os autores das teorias geográficas os discutem. O conceito de 
lugar é tratado por meio das perspectivas humanística, crítico/dialética, pós-moderna e de Milton Santos sendo que 
nas três primeiras têm-se a visão de autores como Cavalcanti, Tuan, Carlos e Silveira. Veja o QUADRO 01. 
 
PENSAMENTO COMENTÁRIOS 
Humanístico Espaço que se toma familiar ao indivíduo, espaço vivido, experienciado. (CAVALCANTI, 
1999, p.89) Orientação teórica: A Geografia humanística procura um entendimento do 
mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza, do seu 
comportamento geográfico bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do 
lugar (TUAN, in CHRISTOFOLETTI (Org.), 1982, p.143). Para Tuan, a tarefa do geógrafo 
humanista é exatamente a de saber como um espaço pode se tomar lugar. “Espaço é mais 
abstrato do que lugar. O que começa como espaço indiferenciado transforma-se em lugar à 
medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor [...]” (TUAN, 1983, p.6). 
Crítico/ 
Dialético 
Considerado no contexto do processo de globalização. Requer a análise das particularidades 
dos lugares, que permanecem, mas que não podem ser entendidas nelas mesmas. No lugar, a 
globalização se manifesta conforme suas particularidades e em função de suas possibilidades. 
A eficácia das ações, em nível global, depende das possibilidades de sua materialização nos 
lugares (CAVALCANTI, 1999, p.90). O lugar [...] ponto de articulação entre e mundialidade 
em constituição e o local enquanto especificidade concreta, enquanto momento. Só é possível 
o entendimento do mundo moderno a partir do lugar, na medida em que este for analisado 
num processo mais amplo (CARLOS, 1996, p.303). 
Pós-Moderno Coloca em questão a noção de totalidade para a explicação do lugar. O lugar, na perspectiva 
pós-moderna, não seria explicado pela sua relação com a totalidade, visto que o todo 
desapareceria e cederia espaço ao fragmento, ao micro, ao empírico individual (CAVAL-
CANTI, 1999, p.90) [...] a totalidade é uma categoria tautológica, que revela um novo 
Determinismo geográfico. A única coisa que tem existência empírica e, portanto, é possível se 
analisar, é o lugar, o fragmento, o indivíduo. A totalidade só pode ser uma idéia, a soma dos 
fragmentos, mas muito dificilmente uma realidade empírica. (SILVEIRA, 1993, p.204). 
Milton Santos “Todos os lugares são virtualmente mundiais” (Souza), mas também exponencialmente 
diferentes dos demais. A uma maior globalidade corresponde uma maior Individualidade. Para 
apreender essa nova realidade do lugar, não basta adotar um tratamento localista, já que o 
mundo se encontra em toda parte, mas também não se pode levar em conta apenas os 
fenômenos mais gerais dominados pelas forças sociais globais. E preciso redescobrir a 
dimensão local. Esta categoria da existência presta-se a um tratamento geográfico do mundo 
vivido que leve em conta variáveis como os objetos, as ações, a técnica e o tempo. (SANTOS, 
1996b,
p.252) 
 
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Tradicional 
Renovado 
 
 Na geografia tradicional a paisagem foi bastante evidenciada, tornando-se, para determinados 
teóricos, o próprio objeto dessa ciência. (CAVALCANTI, 1999, p.97), 
Termo usado para descrever o aspecto global de uma área. A paisagem física refere-se aos 
efeitos combinados das formas do terreno, vegetação natural, solos, rios e lagos, enquanto a 
paisagem cultural inclui todas as modificações feitas pelo homem.(Dicionário de Geografia - 
Small e Witherick, 1992, p. 191) 
Este conceito servia como foco de análise tanto para quem defendia ser a geografia uma 
ciência, em busca da individualidade dos lugares (regional), quanto para quem buscava leis e 
regularidades em diferentes lugares (geral). Método: observar e descrever a natureza visível e 
os traços objetivos dos lugares. Explicação objetiva e partindo do concreto (CAVALCANTI, 
1999, p.97). 
 
Desconsidera a observação e a descrição como métodos. Propõe a revolução teorético 
quantitativa. (Cavalcanti, p. 98) Então, paisagem, conceito insatisfatório para preencher os 
requisitos do paradigma da Geografia [...] foi substituído pela noção de sistema espacial ou 
organização espacial [...] (CHRISTOPHOLETTI, 1982, p. 81) 
[...] o objetivo de substituição do paradigma foi o superar a abordagem da descrição da 
paisagem para a busca de estrutura e processos responsáveis por um sistema espacial. 
(CAVALCANTI, 1999, p.98). 
 
PENSAMENTO COMENTÁRIOS 
Os conceitos de paisagem e de região são trabalhados diante das correntes teóricas tradicional, 
renovada, humanística, crítico/dialética e de Milton Santos, nas quais conta-se com autores como 
Cavalcanti, Christopholetti e Mendoza, para ilustrar o primeiro conceito e Cavalcanti, Corrêa, Gemes para 
o segundo. Observem tais informações nos QUADROS 2 e 3. 
QUADRO 01 - Conceituação de Lugar Fonte: Secretaria de Educação do Estado do Paraná, 2006; Org: SILVA, F. 
B, 2006 
Humanístico Retoma o conceito de paisagem, enfatizando seu caráter subjetivo. “Uma composição mental 
resultante de uma seleção e estruturação subjetiva a partir da informação emitida pelo entorno, 
mediante o qual este se torna compreensível ao homem e orienta suas decisões e comporta-
mentos” (MENDOZA, in CAVALCANTI, 1999, p.98). 
Crítico/Dialético É o domínio do visível, está na dimensão da percepção (que é um processo seletivo de 
apreensão), mas sua análise precisa ultrapassar a paisagem como aspecto percebido para 
compreender seus determinantes mais objetivos. (CAVALCANTI, 1999, p. 99). 
Milton Santos Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida 
como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volume, mas 
também de cores, movimentos, odores, sons, etc. (SANTOS, 1988, p.61). 
A paisagem é a materialização de um instante da sociedade. Cada paisagem é a reprodução de 
níveis diferentes de forças produtivas. Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como 
aspecto, para chegar ao seu significado, (id.ibid. p.62) 
É um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais; é formada por frações de ambas, 
seja quanto ao tamanho, volume, cor, utilidade ou por qualquer outro critério (id.ibid. p.65). 
A relação entre paisagem e produção está em que cada forma produtiva necessita de um tipo de 
instrumento de trabalho. Se os instrumentos de trabalho estão ligados ao processo de produção, 
também o estão à circulação, distribuição e consumo. A paisagem se organiza segundo os 
níveis destes, na medida em que as exigências do espaço variam em função dos processos 
próprios a cada produção e ao nível de capital, tecnologia e organização correspondentes, 
(id.ibid., p.66) 
A paisagem, porém, não é total, mas parcial. Ela é sempre setorial, um fragmento e por isso 
mesmo sua percepção nos engana, e não nos pode diretamente conduzir à compreensão do real, 
porque nunca se dá como um todo. (id.ibid., p.76) 
QUADRO 02 - Conceituação de Paisagem Fonte: Secretaria de Educação do Estado do Paraná, 2006; Org: SILVA, E B, 
2006 
 
9 
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Tradicional Entidade autônoma, área auto-suficiente. Dualidade no conceito: Região natural ? com 
origem no determinismo ambiental; Região geográfica ? com origem no possibilismo de La 
Blache. (CAVALCANTI, 1999, p. 102) 
A Região natural é entendida como uma parte da superfície da Terra, dimensionada segundo 
escalas territoriais diversificadas, e caracterizada pela uniformidade, resultando da 
combinação ou integração em área dos elementos da natureza. (CORREA, 1986, p.23). 
A região geográfica abrange uma paisagem e sua extensão territorial, onde se entrelaçam, de 
modo harmonioso, componentes humanos e natureza. A idéia de harmonia [...] constitui o 
resultado de um longo processo de evolução, de maturação da região [...] assim concebida é 
considerada uma entidade concreta, palpável, um dado com vida, supondo, portanto, uma 
evolução e um estágio de equilíbrio [...] 0 que importa é que na região haja uma combinação 
específica da diversidade, uma paisagem que acabe conferindo singularidade àquela região. 
(CORRÊA, 1986, p.28,29). 
Esta concepção foi mais forte, equivalente ao conceito de paisagem. 
 
 
 
Já o território é enfocado por meio dos pensamentos tradicional destacando -se as idéias de 
Raffestin renovado - com definição clara e objetiva Crítico/Dialético - discutido por Cavalcanti, Raffestin 
e Souza e o de Milton Santos. Verifique tais informações no QUADRO 04. 
Renovado Um conjunto de lugares onde as diferenças internas entre esses lugares são menores que as 
existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares [...] As similaridades e 
diferenças entre lugares são definidas através de uma mensuração na qual se utilizam técnicas 
estatísticas descritivas [...] isso significa que não se atribui a elas nenhuma base empírica prévia. 
(CORRÊA, 1986, p.32, 33). 
Nesta concepção, a região é um instrumento de divisão do espaço segundo determinados 
critérios definidos a priori; a cada critério ou conjunto de critérios corresponderia uma 
regionalização ou divisão do espaço. Não se postula, assim, a existência concreta e objetiva de 
regiões na superfície terrestre. (CAVALCANTI, 1999, p. 103). 
Humanístico Região existe como uma referência na consciência das sociedades e “define um código social 
comum que tem uma base territorial. [...] Consciência regional, sentimento de pertencimento, 
mentalidades regionais são alguns dos elementos que estes autores chamam a atenção para re-
valorizar esta dimensão regional como um espaço vivido Resultado da relação de pertencimento 
e identidade entre os homens e seu território”. (GOMES, 1997, p. 67). Conceito de equilíbrio 
entre fenômenos de pequenas e grandes dimensões, espaço médio, menos que a nação e mais 
vasto que o espaço social do grupo (lugar). Integra lugares vividos e espaços sociais com 
coerência e especificidade. (FREMONT, In CAVALCANTI, 1999, p. 105). Aproxima-se do 
conceito de lugar 
Crítico/Dialético Num primeiro momento entendeu-se que o capitalismo homogeneizante faria desaparecer a 
região. Combatendo esta visão ? região no capitalismo é a dimensão espacial do 
desenvolvimento desigual e combinado: região é considerada uma entidade concreta, resultado 
de múltiplas determinações, ou seja, da efetivação dos mecanismos de regionalização sobre um 
quadro territorial já previamente ocupado [...] Ela não tem nada da preconizada harmonia, não é 
única [...] mas particular, ou seja, é a especificação de uma totalidade da qual faz parte. 
(CORRÊA, 1986, p.45, 46). 
Milton Santos Também numa perspectiva de totalidade, mas agora na globalização: As regiões são subdivisões 
do espaço: do espaço total, do espaço nacional
e mesmo do espaço local: são espaços de 
conveniência, lugares funcionais do todo, um produto social (SANTOS, 1988, p. 1). Diante da 
redefinição de fronteiras e do novo papel do Estado: “faz com que as regiões se transformem 
continuamente, legando, portanto, uma menor duração ao edifício regional. Mas isso não 
suprime a região; ela apenas muda de conteúdo (SANTOS, 1988, p.3). 
QUADRO 03 - Conceituação de Região Fonte: Secretaria de Educação do Estado do Paraná, 2006; Org: SILVA, 
F. B, 2006 
 
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Milton Santos 
 
 
QUADRO 04 - Conceituação de Território 
Fonte: Secretaria de Educação do Estado do Paraná, 2006; Org: SILVA, F. B, 2006 
Nesta linha de raciocínio, o pensamento geográfico, por meio da ciência, instituiu saberes capazes 
de construir uma determinada interpretação da realidade, transmitidos pelo conhecimento acadêmico e 
escolar por meio da dimensão pedagógica dessa disciplina, que será tratada a seguir. 
2.2. Dimensão Pedagógica da Geografia 
No que se trata da dimensão pedagógica de uma disciplina, esta se pode caracterizar como a base 
argumentativa, focada no diálogo de que o melhor saber é aquele saber que sabe superar-se, de forma que 
tal contexto é permeado pela grande velocidade dos fluxos informacionais atuais que tomam o 
PENSAMENTO COMENTÁRIOS 
Tradicional Presente nas formulações teóricas de Ratzel (Estado, Território e Espaço Vital), vincula a 
ideia de território e poder como se o Estado fosse o único núcleo de poder. Baseia-se numa 
geografia unidimensional, o que não é aceitável, na medida em que existem múltiplos 
poderes que se manifestam nas estratégicas regionais ou locais (RAFFESTIN, 1993, p. 17). 
Renovado Novamente o território é compreendido apenas do ponto de vista do poder estatal. O estado é 
associado ao progresso e a geografia dedicava-se a fazer estudos sobre a melhor localização 
para as indústrias, sobre a qualidade da mão de obra disponível em determinada região, 
estudos sobre necessidades viárias para implantação de indústrias, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
Crítico/ Dialético 
Produzido pelos homens, por atores sociais nas relações de poder tecidas em sua existência; 
poder como uma força dirigida e orientada, canalizada por um saber, enraizado no trabalho e 
definido por duas dimensões: a informação e a energia. (CAVALCANTI, 1999, p. 107) 
Definido a partir de um sistema composto de tessitura, nós e redes. Está ligado, ou contém os 
conceitos de limite (zonal e linear), fronteiras, vizinhança, acessos, convergências, 
territorialidade. “O espaço é anterior ao território. Ao se apropriar do espaço, concreta ou 
abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator ‘territorializa’ o espaço.” 
(RAFFESTIN, 1993, p. 143). 
Do Estado ao indivíduo, passando por todas as organizações pequenas ou grandes, 
encontram-se atores que ‘produzem’ território. De fato, o Estado está sempre organizando o 
território nacional por intermédio de novos recortes, de novas implantações, de novas liga-
ções. O mesmo se passa com as empresas ou outras organizações [...] O mesmo acontece 
com um indivíduo que constrói uma casa[...] Em graus diversos, em momentos diferentes e 
em lugares variados, somos todos atores que produzem território. (RAFFESTIN, 1993, 
p.152-153) 
O território será um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua 
complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre 
nós’ (o grupo, os membros da coletividade ou comunidade) e os 'outros’ (os de fora, os 
estranhos) (SOUZA, 1995 p.86). 
Para este autor, o território não é o substrato, o espaço social em si, mas sim um campo de 
forças, “as relações de poder espacialmente delimitadas e operando, destarte, sobre um 
substrato referencial” (SOUZA, 1995 p.97) 
 
 
 
 
Milton Santos 
Definido por relações tensas entre as racionalidades globais e as realidades locais. Quando as 
primeira se sobrepõem às segundas, há uma fragmentação do território, que se torna objeto 
de ação de empresas preocupadas com suas próprias metas. Este poder das empresas 
desagrega, exclui, fragmenta, subtrai a autonomia do resto dos atores. (SANTOS, 2000, 
p.86). Territórios, hoje, são regulados através de ações normadas e de objetos técnicos, 
impostos pelo processo produtivo tecnicamente fragmentado. Esta divisão do trabalho impõe 
formas novas de cooperação e controle. As novas necessidades de complementaridade 
exigem necessidades de regulação e controle estrito, mesmo à distância. Daí a tensão global 
local resultando em territórios mais ou menos verticalizados. (SANTOS, 1996b, p. 185). 
 
 
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conhecimento democrático, ou seja, acessível a todos. Portanto, o desafio da educação é organizar tais 
informações, contextualizando-as e, assim, atribuindo novos significados a aprendizagem geográfica. 
Nesta perspectiva, discutiremos aqui os conteúdos estruturantes da Geografia. 
Tais conteúdos correspondem a aqueles conhecimentos que são essenciais para a definição do 
campo de estudos da Geografia, de forma a garantir uma maior apreensão do objeto de estudo desta 
disciplina. Esses saberes foram sendo construídos ao longo da construção do pensamento geográfico, 
sendo que alguns foram excluídos do campo de estudo da Geografia e outros foram reelaborados em 
decorrência dos fatores históricos que transformaram as relações sócio-espaciais em todas as escalas 
geográficas. Assim, todos os conteúdos geográficos são trabalhados a partir das categorias de análise do 
espaço geográfico, a saber, a relação sociedade-natureza e a relação espaço-temporal. 
No que se refere à relação sociedade-natureza o professor, ao trabalhar os conteúdos de 
Geografia, deve abordar os fenômenos naturais não de forma isolada mas sempre os relacionando com a 
maneira com que afetam as sociedades e como as ações da sociedade os alteram. Portanto, fenômenos 
como furacões, terremotos, vulcanismo, tectonismo, clima ou objetos como modelados de relevo, 
cobertura vegetal primitiva, bacias hidrográficas, entre outros, só fazem sentido, no ensino de Geografia, 
numa abordagem pedagógica em que sejam localizados e que se discuta a maneira como afetam e são 
afetados/modificados pelas organizações sociais, políticas e econômicas das sociedades próximas e/ou 
distantes para fins produtivos, de lucro, consumo e desperdício. 
Para exemplificar, quando vai se ensinar sobre relevo, além dos seus aspectos geomorfológicos, 
não se pode deixar de mencionar quem são os habitantes de um determinado tipo de modelado bem como 
o seu modo de vida em sociedade. Ademais, ao se tratar das características sócio-econômicas de um 
determinado grupo social, é necessário fazer as suas relações com os aspectos físicos e locacionais que 
condicionam o desenvolvimento de tais aspectos. Dessa forma, esses dois exemplos refletem a prática 
pedagógica, por meio de conteúdos contextualizados, que o professor deve construir na mente do aluno. 
Não existe sociedade que não esteja localizada num Espaço Geográfico que tem, em sua 
fisicidade, objetos naturais e objetos construídos por essa sociedade. Por isso, a relação sociedade 
-natureza é uma das categorias analíticas da Geografia. (MENDONÇA, 2001, p.113) 
A título de esclarecimento, a Natureza, dentro da Geografia, é discutida por várias correntes 
teóricas, entretanto destacaremos apenas aqui, em função da sua maior aplicabilidade na escola, a corrente 
tradicional ou clássica, renovada, crítico-dialética e pós-moderna, entre as quais destacam-se autores 
como Pereira, Cavalcanti e Reigota, conforme indica o QUADRO 05. 
Renovado Visão utilitária da natureza ? recurso para a indústria ou objeto de planejamento para o bem estar 
do homem. Vai originar pesquisas encomendadas
pelo capital e pelo estado. Ex: mapear as 
jazidas minerais (não esquecer que essa linha é contemporânea ao início do sensoriamento 
remoto, das fotos aéreas, e outras técnicas de observação e controle do espaço). 
 
PENSAMENTO COMENTÁRIOS 
Tradicional Concepção positivista - visão de natureza ancorada na posição organicista de base biológica. 
Surgem as idéias de processo evolução.e mudança progressiva. A natureza é algo inacabado, em 
desenvolvimento. Vista como recurso - na concepção ratzelina de espaço vital - vinculada ao 
projeto imperialista alemão. Vista como recurso - na concepção vidalina de gênero de vida - idéia 
de equilíbrio entre a população e os recursos - vai originar os estudos regionais, idéia de região geo-
gráfica, marcadamente natural, mas do ponto de vista da potencialidade de uso pela população 
 
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QUADRO 05 - Conceituação de Natureza Fonte: Secretaria de Educação do Estado do Paraná, 2006; * ORG: SILVA, F. B, 
2006 
Já o termo Sociedade advém será tratado do ponto de vista dos pensamentos tradicional, crítico/ dialético e 
pós-moderno, de acordo com os autores Pereira e Cavalcanti, como se pode visualizar no QUADRO 06. 
 
PENSAMENTO COMENTÁRIOS 
Tradicional 
 
Nas teorias geográficas chamadas tradicionais, sociedade e natureza são conceitos tratados 
separadamente, marcados pelo dualismo e antagonismo. 
Crítico/ 
Dialético 
 
Constrói este conceito, do ponto de vista geográfico, a partir de alguns aspectos como: a 
relação da sociedade com a natureza; as relações sociais materializadas no espaço geográfico; 
o fenômeno da globalização da sociedade e do espaço.(CAVALCANTI, 1999, p. 118) 
Superação da dicotomia sociedade natureza pode ser alcançada através do materialismo 
histórico enquanto teoria que considera simultaneamente a relação do homem com a natureza 
e a relação do homem com o homem”(PEREIRA, 1989, p.74). Assim, a história da sociedade 
inscreve-se na história de sua relação com a natureza, transformando-a e transformando-se a si 
própria, num mesmo processo. A sociedade produz seus meios de vida a partir de um 
intercâmbio com a natureza, porém esse intercâmbio dependerá de como essa sociedade 
concebe (historicamente) seus meios de vida. Como a sociedade, através do trabalho, 
transforma a natureza, em função de suas necessidades de sobrevivência e como, com isso, se 
transforma. (CAVALCANTI, 1999, p. 118) 
Pós-Moderno 
 
A análise da estrutura de classes sociais antagônicas, do ponto de vista econômico, é 
insuficiente para apanhar o movimento essencial da sociedade. É preciso considerar a 
globalização e a mundialização da cultura, da economia, do espaço e do tempo. 
As diferentes sociedades do planeta passam a ser regidas por um mesmo padrão de produção 
material, social e cultural, mas não significa dizer que as diversidades e tensões, locais, 
nacionais e mundiais desapareceram. A globalização sugere, de um lado, a homogeneização 
(da produção, das trocas, do capital, das técnicas, dos usos e costumes, dos valores, etc.), e de 
outro, mantém e intensifica as desigualdades e contradições sociais. 
 
Crítico/ 
Dialético 
Visão de natureza baseada na concepção dialético materialista, mantém uma idéia evolucionista e 
historicista de natureza e sociedade, tentando integrá-las sem identificar uma com a outra. As 
categorias de totalidade e contradição são tomadas para conduzir o entendimento de natureza tanto 
como anterior e exterior ao homem, como também parte do próprio homem (PEREIRA, 1989, 
p.74) Smith (1988) sugere a organização deste conceito em dois pólos. De um lado a natureza 
entendida como externa, como reino dos objetos e dos processos que existem fora da sociedade; é 
primitiva, criada por Deus e autônoma. De outro lado, a natureza é concebida como universal. O 
conceito de natureza obrigaria, assim, um dualismo entre exterioridade e universalidade 
(CAVALCANTI, 1999, p. 113). 
 Tentativa marxista de superar este dualismo propõe a interação metabólica através do trabalho. Na 
relação sociedade natureza, a distinção entre primeira e segunda natureza seria o caminho da 
renovação do conceito de natureza a partir de seus valores de uso e de troca. Compreender a 
produção da natureza nas condições concretas do capitalismo. Há uma forma de subordinação da 
primeira natureza pela segunda. (CAVALCANTI, 1999, p.l 13). 
Pós-Moderno Derivada da concepção dialética da natureza, tende a pensá-la no contexto da questão ambiental. 
Ex. definição de meio ambiente, formulado por Reigota “O lugar determinado ou percebido, onde 
os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações 
implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de 
transformação do meio natural e construído” (REIGOTA apud CAVALCANTI, 1999, p. 114). 
Parte da idéia de natureza produzida socialmente e em interação com a sociedade em todas as suas 
dimensões. Essa concepção pode fundamentar uma ética de ‘nova aliança’ da sociedade com a 
natureza através de práticas dialógicas. 
Ainda citando Reigota “...se busca estabelecer com a natureza um outro tipo de comunicação que 
não seja o monólogo do cientista que decifra as suas leis do universo, mas o diálogo entre o 
cientista e a natureza, considerando que ela não é passiva nem simples como as leis que os 
observadores procuram lhe determinar, mas sim complexa e múltipla” (REIGOTA apud 
CAVALCANTI, 1999, p 115). 
 
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QUADRO 06 - Conceituação de Sociedade Fonte: Secretaria de Educação do Estado do Paraná, 2006; 
Org: SILVA, F. B, 2006 
Já a outra categoria da análise geográfica, a relação espaço-temporal, imprimiu o caráter de 
tempo histórico materializado ao processo de ensino e aprendizagem do espaço geográfico, conceito-
chave da Geografia, isto é, para entender a configuração contemporânea do espaço, é necessário um olhar 
sobre o processo histórico de sua construção como os motivos que propiciaram a ocupação de uma 
determinada área, as atividades econômicas nela desenvolvidas, a estrutura social e política ali 
estabelecida e a materialidade construída inicialmente, bem como a sobreposta a ela no decorrer do tempo 
forma um conjunto de fatores fundamentais para a explicação e compreensão daquela área na atualidade. 
Assim, tanto a relação sociedade-natureza quanto à relação espaço-temporal podem ser definidas 
como 
O encontro dos homens e si e com o meio natural em que se inserem define intermédio de seu 
trabalho conjunto para a sobrevivência, o espaço sociocultural de sua existência, decorrente das 
transformações e criações que promove nesse meio. (PENTEADO, 1991, p. 36- Grifo do Autor) 
 
Expressando-os numa disposição gráfica 01 teríamos: 
 
No que tange a educação geográfica das séries inicias do Ensino Fundamental, os conteúdos 
estruturantes desta ciência pregam a compreensão do conceito de espaço geográfico como um “conjunto 
indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não 
considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá” (SANTOS, 1996, p. 51). 
Assim, o ensino de Geografia de Ia a 4a séries é organizado em cinco pressupostos teóricos que 
contemplam essa linha de raciocínio, de modo que se possa formar sujeitos críticos da realidade que nos 
cerca, trabalhando a noção de espaço geográfico por meio das relações sociedade - natureza e espaço-
temporal. 
O primeiro pressuposto parte da idéia de que o espaço geográfico deve ser compreendido 
enquanto produto social, num tempo, numa sociedade e num lugar específicos, de modo que se possa 
ter uma clareza do momento histórico que se está analisando e suas especificidades bem como a 
relevância das características
e da diversidade social, cultural, étnica da sociedade em questão e o local 
em que se efetivam os resultados, proporcionando as motivações para a produção e reprodução da vida. 
O espaço geográfico também deve ser entendido como o resultado da integração entre a 
dinâmica físico/natural e a dinâmica humana/social, caracterizando o segundo pressuposto, sendo que 
a primeira engloba o relevo, clima, hidrografia, solos, vegetação, geologia, ecossistema, biodiversidade, 
entre outros e a segunda é composta pela urbanização e cidades, globalização, geopolítica, sócioeconomia 
- na qual está inserida a indústria, agricultura, serviços e comércio - território, territorialidade, tempo, 
 
GRÁFICO 01 - Corpo Conceitual Fonte: PENTEADO, 1991. 
 
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temporalidade, cultura e população, marcada por densidades, demografia, movimentos sociais, dentre 
outros 
É importante destacar a integração entre as dinâmicas físico/natural e a humana/social, de forma 
ser inadmissível que tais conteúdos sejam trabalhados isoladamente, ou seja, não há uma separação entre 
Geografia Física e Geografia Humana, pois as mesmas constituem o espaço produzido pela sociedade 
O terceiro pressuposto, de que o espaço geográfico não é exterior à sociedade, ele é produzido 
no ato da vida cotidiana e com influência das instituições hegemônicas como multinacionais e grandes 
grupos econômicos, permite ao aluno se enxergar como um agente produtor/transformador do 
espaço, que numa relação dialógica tem postas limitações e/ou condições para a sua vida. 
A noção de que o espaço geográfico só pode ser entendido em sua totalidade, sendo que os 
procedimentos didáticos devem decompor o espaço e recompô-lo posteriormente, para melhor apreensão 
do aluno, constituí-se no quarto pressuposto. 
E representando o quinto pressuposto, o espaço geográfico pode ser contemplado em 
diferentes níveis de escalas de análise tais como a escala do cotidiano ou local, a regional, a nacional ou 
do país e a mundial ou global, que serão explicitadas a seguir. A escala do cotidiano ou local comporta 
as discussões sobre locais que são a base espacial dos alunos dos anos iniciais como cidade, campo, 
escola e bairro, sendo que tais noções são fundamentais para a construção do conhecimento geográfico 
dos mesmos ao longo de todo o ensino fundamental. 
Já a escala regional é formada por inúmeros subespaços compostos por diversas características 
como naturais, econômicas, culturais, políticas, entre outras. Assim, esta escala é trabalhada a partir das 
grandes regiões institucionalizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Norte, 
Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste -, seja através das possibilidades de regionalizações alternativas, 
como a proposta por Santos (2001) que fala na existência de quatro Brasis, respectivamente: Amazônia. 
Nordeste, Centro-Oeste e Região Concentrada, que corresponde ao Sudeste e ao Sul. Ademais, estão 
incluídos aqui os acordos internacionais que perpassam os estados, as fronteiras e que refletem 
identidades e interesses das populações envolvidas, por exemplo, o MERCOSUL; 
No que tange a escala nacional ou do país, o símbolo é o Estado- Nação cuja função é decisiva no 
contexto social, porém, há discussões sobre o seu desaparecimento em virtude do fortalecimento do 
processo da globalização em função da tensão entre as regras desse momento e os interesses nacionais, que 
se alternam no poder, sempre subordinados ao mercado e, consequentemente, em uma relação sempre 
desigual. 
As relações comerciais impostas a qualquer tipo de país, interferindo na organização econômica 
dos mesmos e tendo em vista também a homogeneização dos padrões de consumo são características que 
demarcam a noção de escala mundial ou global. 
Concluindo, essa conceituação de espaço geográfico pode contribuir para uma leitura crítica das 
contradições e conflitos, nele implícitos e explícitos. O ensino de Geografia, desta perspectiva teórica, 
implica numa alfabetização geográfica, ou seja, ensinar o aluno a ler e a interpretar o espaço geográfico, 
noções que vai muito além do que saber do que ele é constituído. 
Portanto, a importância de se ter conhecimento do objeto de estudo, do quadro conceituai de 
referência, bem como dos conteúdos escolhidos para comporem o currículo de uma disciplina escolar são 
parte de uma seleção que 
[...] molda e modela a forma como os eventos sociais e pessoais são organizados para a reflexão e 
a prática [...] guia os indivíduos ao produzir o seu conhecimento sobre o mundo. [...] Aprender 
informações no processo de escolarização é também aprender uma determinada maneira, assim 
como maneiras de conhecer, compreender e interpretar. (POPKEWITZ, 1994, p. 192). 
 
 
 
Atividades de Síntese 
1) Explique a diferença entre as categorias de análise da Geografia e os conceitos geográficos trabalhados 
neste texto com exemplos. 
 
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2) Enumere os cinco pressupostos teóricos que explicam a razão do espaço geográfico ser o conceito-
chave da Geografia para ser ensinado nas séries inicias do ensino fundamental. 
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3) Aponte o motivo da existência de várias correntes teóricas presentes no desenvolvimento do 
pensamento geográfico. 
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4) Diferencie Geografia Humanística de Geografia Crítica. 
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O ensino de Geografia tem como premissa básica relacionar os diversos ramos de conhecimento 
das ciências naturais como a geologia, cartografia, astronomia, dentre outras e das ciências sociais, que 
envolve a sociologia, antropologia, demografia, sobretudo aqueles saberes que não foram transformados 
em disciplina escolar. 
Existe uma série de discussões teóricas a respeito do significado da Geografia no ensino, em 
todos os níveis. A Geografia pode ser entendida como o “mundo”, o espaço e sua dinâmica contínua, 
marcado por mudanças cada vez mais velozes. “É preciso dar condições aos alunos de pensar e agir, 
buscando elementos que permitam compreender e explicar o mundo em permanente reinvenção” 
(CALLAI, 2001, p. 131); Também como a idéia de produção do espaço, em que cabe à Geografia “a 
função de preparar o aluno para uma leitura da produção social do espaço, repleto de contradições, ou o 
desvendamento da realidade, negando a “naturalidade” dos fenômenos que imprimem uma certa 
passividade aos indivíduos” (CASSETI, 2002, p. 145-162) e, por último, como uma forma de se 
construir o conceito de cidadania nos jovens alunos, conforme indica Pontuschka (1998, p.63) 
“Resgatar a importância ímpar da Geografia na formação intelectual e ética dos jovens, na construção da 
sua cidadania e na consciência de sua dignidade humana”. 
Vale destacar que tais concepções simbolizam também que a preocupação dos professores de 
Geografia tem sido formar cidadãos conscientes e críticos de seu papel na construção do espaço 
geográfico. 
Diante desses pontos de vistas, pode-se afirmar que o primordial para o aluno do ensino 
fundamental é desenvolver um raciocínio espacial que o auxilie na compreensão do mundo por meio da 
análise geográfica. 
Formar o indivíduo crítico implica estimular o aluno questionador, dando-lhe não uma explicação 
pronta do mundo, mas elementos para o próprio questionamento das várias explicações. Formar o 
cidadão democrático implica investir na sedimentação do aluno no que diz respeito à diferença, 
considerando a pluralidade de visões como um valor em si. (MORAES, 1998, p. 166) 
Nesta perspectiva, o objetivo da Geografia neste período escolar é analisar e interpretar o 
espaço geográfico, onde o homem através das suas relações com o meio em que vive, produz e 
reproduz esse espaço. Dessa forma, cabe a escola, como local de produção do conhecimento, 
desempenhar os artifícios necessários para que os alunos sejam capazes de interpretar o mundo que os 
cerca. 
Nota-se, de forma inequívoca, a compreensão de que “a razão de ser” da Geografia ou seu "valor 
educativo”, relaciona-se ao disposto no artigo 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(LDB)- 9394/96, segundo o qual, são objetivos do ensino fundamental: 
I - O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da 
leitura, da escrita e do cálculo; 
II - Compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos 
valores em que se fundamenta a sociedade; 
III - O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de 
conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; 
IV - O fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância 
recíproca em que se assenta a vida social. 
Em concordância com o que foi discutido até aqui, pode-se acrescentar ainda que o valor 
UNIDADE 3 
O VALOR EDUCATIVO 
DA GEOGRAFIA 
 
 
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educativo dessa disciplina origina-se no fato de que todos os acontecimentos do mundo têm uma 
dimensão espacial, visto que o espaço é a materialização dos tempos da vida social, portanto, há que se 
construir uma educação geográfica calcada nos fundamentos de noções espaciais, leitura e 
interpretação crítica do espaço, considerando a realidade vivida pelo aluno e percepção dos 
diversos temas geográficos, que serão explicitados a seguir. 
O critério de noções espaciais refere-se à alfabetização espacial, onde serão trabalhados os 
conceitos básicos de localização, organização, representação e compreensão da estrutura do espaço 
construído dinamicamente pela natureza e pela sociedade; 
Já a diversidade das temáticas geográficas corresponde aos variados assuntos discutidos pela 
Geografia, que marcam o mundo globalizado, tais como migrações legais e ilegais, desmatamento, 
corrupção, política, (des) territorialização, turismo, crime organizado, entre outros. 
Neste sentido, a aplicação desses domínios em sala de aula pelo professor contribui para que a 
educação atenda aos anseios de um mundo heterogêneo, diverso e complexo, resultado direto da 
mobilidade e da velocidade dos deslocamentos de indivíduos, instituições e informações. De modo que a 
transdisciplinaridade entre os conteúdos seja abordada por meio da solidariedade, da ética e do respeito à 
diversidade de todos os tipos, com o intuito de se construir conhecimentos e atitudes que possibilitem a 
todos os alunos ter autonomia e visão crítica para a vida individual e coletiva. 
Assim, a mobilidade é um conceito-chave no mundo atual, pois permite a todos entrarem em 
contato com cotidianos variados e contraditórios, que no campo geográfico pode ser enfocado por meio 
das pesquisas sobre redes geográficas, de cunho econômico, tecnológico, social, educacional, político, 
cultural e biológico. 
Mediante toda essa discussão, concluiu-se que as noções de escala - que prioriza os lugares com 
seus distintos limites e fronteiras - e de tema, que se refere a assuntos do mundo atual, são os guias 
norteadores dos conteúdos específicos da Geografia no ensino fundamental, uma vez que são pertinentes 
ao espaço e cada lugar sempre tem um conteúdo, que merece ser interligado e contextualizado, conforme 
indica o artigo 32 da LDB acima citado. 
Exemplificando, o viés escalar da Geografia é constatado quando são abordados temas como os 
continentes, que não são vistos apenas por sua localização no espaço, mas também a formação do seu 
relevo, hidrografia, vegetação, população, economia, etc. E o mesmo acontece quando são estudados a 
degradação ambiental na Amazônia, ou seja, quando se trabalha a Geografia numa perspectiva temática 
vários aspectos são levados em consideração, como a influência do homem, a questão climática e até 
mesmo a questão política. E nesse sentido que os conteúdos de Geografia fazem esta transição entre as 
possibilidades ‘escalar
e temática’. Este é o desafio que ora se coloca aos professores no ensino da 
Geografia ao longo do ensino fundamental. 
Nas séries iniciais, o ensino de Geografia parte da simples idéia de que o ser humano ocupa um 
determinado lugar no espaço, que apresenta limites e características específicas, cabendo assim ao 
professor, instigar o aluno a entender a representação de tudo isso, ou seja, levá-los a conhecer, identificar 
os objetos e as relações entre os mesmos. Neste raciocínio, a leitura do espaço passa a ser condição para 
que o aluno consiga fazer a leitura do mundo, desenvolvendo habilidades de observação, descrição, 
análise, interpretação e da representação dos lugares e das paisagens. 
Portanto, o objetivo principal da Geografia para a formação dos alunos de Ia a 4a, cujo intuito é 
alfabetizá-los, consiste em oferecê-los a possibilidade de ler e escrever o mundo da vida por meio de 
conteúdos específicos. Para Castrogiovanni (2003, p. 15) “A construção da noção de espaço requer longa 
preparação e está associada à liberação progressiva e gradual do egocentrismo”. 
Assim, a noção de espaço é trabalhada com as crianças a partir do espaço da ação/espaço vivido, 
passando pela construção do espaço representativo e chegando às relações espaciais topológicas, isto é, as 
relações de ordem, vizinhança, separação, sucessão, envolvimento e continuidade; projetivas que são 
direita e esquerda, frente e atrás, em cima e embaixo e ao lado; e euclidianas, que tem como base a noção 
de distância. 
Para fazer a leitura do espaço, cabe ao professor desenvolver atividades do cotidiano dos alunos, 
brincando na caixa de areia, de casinha, fazendo jogos, escrevendo no caderno, passeando e/ou andando 
pelos espaços da escola e nas suas vizinhanças. Fazer, observar o que está sendo feito e o resultado - 
 
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espaço construído -, descrever os lugares, definindo os limites ou fronteiras, as distâncias, a orientação. 
Saber analisar isso tudo, interpretando a realidade e fazendo a representação destes espaços. 
Também, neste momento, torna-se possível trabalhar a noção de escala de análise com os alunos 
dos anos iniciais, que mediante a este conceito, são capazes de enxergar a complexidade do mundo e a 
importância espacial e das relações entre os lugares que o compõem. De que forma? 
Parte-se de um acontecimento a nível regional, nacional ou local e se analisa o significado nesse 
lugar particularizado, assim como nos demais. Na prática, pode-se partir de um problema local do 
cotidiano do aluno e verificar como ele ocorre nos demais níveis de análise. Ou pode-se partir de um 
fenômeno, situado num lugar distante e trazer para próximo, a fim de entender como ele ocorre no lugar, 
como exemplo pode-se citar o narcotráfico, a indústria, os grandes aglomerados urbanos, os processos 
migratórios, a produção de alimentos e a fome, a produção de energia, entre outros. 
Após o entendimento de todas essas relações, conceitos geográficos mais complexos serão 
trabalhados com os alunos nos anos finais do ensino fundamental como os de lugar, território, paisagem, 
região, redes, sociedade, natureza e espaço/tempo. Nessa perspectiva, construção do raciocínio geográfico 
e do desenvolvimento da consciência crítica podem ser permeados pela: 
1 - A construção de conceitos como pré-requisitos para a compreensão dos elementos que 
caracterizam a organização espacial e que sejam fundamentais para a formação de um raciocínio 
geográfico articulado, cumulativo e crítico; 
2- A valorização do espaço vivido pelo aluno, seja para a identificação de elementos necessários à 
construção de conceitos, seja como base de compreensão critica da organização espacial. (RUA et 
ai, 1993, p.04-05) 
Tendo como referência os pressupostos elencados neste documento, centrando nos conceitos 
básicos da Geografia e considerando todos os demais, deles decorrentes, propõe-se a análise dos 
conteúdos geográficos propostos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). 
 
Atividades de Síntese 
1) Enumere os vários significados que a ciência geográfica pode adquirir em todos os níveis de ensino 
bem como a preocupação dos professores de Geografia em forma que tipo de aluno. 
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2) Identifique o principal objetivo da Geografia ensinada nas séries iniciais do ensino fundamental. 
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3) Indique e explique os fundamentos que estruturam a educação geográfica. 
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Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), referenciais para os rumos da educação no Brasil, 
foram criados com o intuito de organizar as referencias educacionais do país, respeitando as 
características e diversidades sócio-econômicas e culturais de cada uma de suas regiões, de forma a 
construir, por meio da educação, princípios de cidadania capazes de promover uma igualdade de direitos 
entre seus cidadãos por meio da democracia. Assim, a função dos PCNs é 
orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando discussões, 
pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores brasileiros, 
principalmente daqueles que se encontram mais isolados, com menor contato com a produção 
pedagógica atual. (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL, 1997, p 22) 
Estes documentos apresentam propostas curriculares flexíveis, que podem ser enriquecidas com as 
decisões regionais e locais das autoridades governamentais de forma a construir uma melhor realidade 
educacional, funcionando sempre como uma das ferramentas de melhoria da qualidade da educação 
brasileira, que contam com outros tipos de instrumentos tais como investimentos em formação inicial e 
continuada de professores, uma política de salários dignos, um plano de carreira, a qualidade do livro 
didático, de recursos televisivos e de multimídia e a disponibilidade de materiais didáticos. Sendo que 
essa qualificação é permeada pelas atividades escolares de ensino e aprendizagem e pela questão 
curricular, fundamentais para política educacional da nação brasileira. 
Ao fornecer subsídios para a reflexão e discussão de aspectos do cotidiano da prática pedagógica, 
os PCNs deixam claro para os professores suas responsabilidades e importância no processo de formação 
do povo brasileiro, funcionando como mecanismo para que estes profissionais possam: 
• Rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das atividades, expectativas de 
aprendizagem e maneiras de avaliar; 
• Refletir sobre a prática pedagógica, tendo em vista uma coerência

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