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QUADRO VI 
 
FOLIA DE REIS DO BAIRRO 
SANTO AFONSO 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
 
 
BETIM, 2011 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
2 
SUMÁRIO 
 
 
 
Decreto que regulamenta o registro do patrimônio imaterial em 
Betim ................... 004 
 
 
1. Introdução 
................................................................
............................. 005 
 
 
2. Contextualização histórica, sociológica e antropológica 
................................... 007 
 
 
3. Histórico de Betim 
................................................................
................... 016 
 
 
4. A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso – uma história 
.................................... 040 
 
5. A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso e sua relação com o 
Município de Betim .. 043 
 
6. Descrição dos lugares e suportes físicos e agenciamento do 
espaço para 
a atividade 
................................................................
................................ 044 
 
7. A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso – 
formato, conteúdos, narrativas, significados 
..................................................... 046 
 
8. Os protagonistas da Folia de Reis do Bairro Santo Afonso: 
trajetórias, papéis, funções, organização 
.......................................................... 
059 
 
9. Os recursos para a realização da Folia de Reis do Bairro 
Santo Afonso ................ 062 
 
10. Produtos da Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
........................................ 063 
 
11. A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso e suas relações com o 
público .............. 064 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
3 
12. Inventário 
................................................................
........................... 065 
 
13. Identificação de atividades correlatas 
....................................................... 093 
 
14. Delimitação e descrição da área de ocorrência 
............................................ 094 
 
15. Salvaguarda e Valorização 
................................................................
...... 097 
 
16. Documentação Fotográfica 
................................................................
..... 101 
 
17. Registro audiovisual 
................................................................
.............. 115 
 
18. Referências 
................................................................
......................... 116 
 
19. Ficha Técnica 
................................................................
...................... 119 
 
20. Trâmite do Registro 
................................................................
.............. 121 
 
21. Documentos diversos 
................................................................
............ 135 
 
 
 
 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
4 
LEI DE REGISTRO DO 
PATRIMÔNIO IMATERIAL 
 
 
 
 
 
A Lei Municipal Nº 2.944, de 24 de setembro de 1996, que 
institui a proteção do patrimônio cultural de Betim, já 
prevê o registro do patrimônio imaterial. Esta Lei já foi 
enviada ao IEPHA em 1998. 
O Município regulamentou a matéria através do Decreto Nº 
16.389, de 26 de outubro de 2000. 
O conjunto de peças legais foi avaliado pelo Sr. Carlos 
Rangel, do IEPHA, em 23 de novembro de 2009, e reconhecido 
como válido.
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
5 
 
1. INTRODUÇÃO: 
 
Balt-hazar acendeu sua lâmpada de azeite e 
iluminou, com sua luz bruxuleante, o mapa que 
abrira sobre o chão. “Aqui está ela”, disse 
marcando com o seu dedo um lugar no mapa. “Beth-
léhem. Fica precisamente na divisa entre dois 
grandes reinos. À esquerda está o Reino da 
Fantasia. À direita está o Reino da Realidade. São 
reinos perigosos. Quem mora só no Reino da Fantasia 
fica louco. Quem mora só no Reino da Realidade fica 
louco. Para se fugir da loucura há de se ficar 
transitando de um para outro, o tempo todo. Somente 
os moradores de Beth-léhem estão livres da 
necessidade de estar, o tempo todo, indo de um 
reino para outro. Porque Beth-léhem fica bem na 
divisa (...). 
(Rubem Alves. Os três reis) 
 
 
As folias são manifestações escassas na Betim do 
século XXI, cidade de quase quinhentos mil cidadãos, da 
Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas sua memória é 
muito recente e podem ser, facilmente, encontradas dezenas 
de foliões em diversas regiões da cidade. 
Durante os dois últimos empreendimentos de inventário 
do patrimônio cultural realizados na cidade, pela Fundação 
Artístico Cultural de Betim, os inventários das regionais 
Vianópolis e Citrolândia, respectivamente nos anos de 2009 
e 2010, um retrato parcial dessa realidade pode ser 
delineado: as comunidades dessas duas regionais relataram a 
existência de doze folias, em atividade ou recentemente 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
6 
inativas. Durante o aprofundamento das pesquisas, o 
Departamento de Memória e Patrimônio Cultural da Fundação 
pôde identificar apenas uma folia ativa e presenciou o 
processo de desativação de uma outra; e ainda está 
registrando, nos últimos meses, as tentativas de 
revitalização de uma folia inativa há alguns anos. 
Dentre os integrantes das folias inativas, muitos 
vivem em Betim há décadas e foram atingidos pelo acelerado 
processo de urbanização pelo qual passou a cidade. Os 
antigos territórios das folias receberam novos moradores, 
herdeiros de tradições culturais diversas, e não houve mais 
a necessária renovação desses grupos, pelo ingresso de 
novos foliões e moradores dispostos a receber as folias. O 
regime de trabalho nas cidades, com seus horários mais 
rígidos e inflexíveis às práticas rituais, assim como o 
crescimento de grupos religiosos não-católicos são 
relatados como fatores de desvitalização das folias. 
Por outro lado, a própria urbanização trouxe muitos 
foliões, transplantados de regiões rurais e pequenas 
cidades do interior de Minas Gerais. Estes relatam 
experiências de formação de grupos em Betim, experiências 
essas que duraram alguns anos ou décadas, até o 
envelhecimento dos foliões, ou sua conversão a outros 
credos. 
Uma experiência da Fundação com a música de viola, o 
Projeto “Quintais”, que reúne periodicamente até duas 
centenas de “violeiros”, não por acaso também foliões ou 
ex-foliões, revela uma “saudade” das folias e o desejo de 
políticas públicas que as fomentem e revitalizem. 
O presente registro, de uma folia que venceu os 
fenômenos sociais relatados e reencontrou os caminhos de 
sua vitalidade – a Folia de Reis do Bairro Santo Afonso, 
pode fundamentar as políticas públicas posteriormente 
adotadas para a garantia do direito à memória e à cultura. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
7 
2. CONTEXTUALIZAÇÃO 
HISTÓRICA, SOCIOLÓGICA E 
ANTROPOLÓGICA 
 
 
A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso faz parte de 
uma tradição de festas da natividade das divindades, que 
remonta à Antiguidade Clássica. Essas festas, designadas 
“pagãs” pelo cristianismo, foram por este apropriadas e 
ressignificadas, mesclando seus conteúdos com elementos 
cristãos. 
Os romanos, por exemplo, cultuavam o Deus-Sol 
Invencível em festejos depois adotadospelos egípcios. As 
festas romana e egípcia aconteciam em datas diferentes, mas 
com intervalo de poucos dias entre elas, e, no ano 138, o 
Papa São Telésforo as regulamentou, isto é, tornou-as parte 
das festividades cristãs. Mais tarde, em 378, o Papa Júlio 
I considerou que, como não havia data fixa para a 
comemoração do nascimento de Jesus, o dia 25 de dezembro 
seria dedicado a esta recordação, ficando o 06 de janeiro 
como Dia de Reis. 
A partir daí, as festas da natividade no âmbito do 
cristianismo foram, pouco-a-pouco, sendo acrescidas de 
elementos diversos, como as figuras de Gaspar, Melchior e 
Baltazar, os três reis magos que, segundo a tradição, foram 
do Oriente à Judéia para saudar Jesus Cristo. Conta ainda a 
tradição que eles levavam consigo, para presentear o 
Menino, ouro, incenso e mirra, que representariam as três 
dimensões do Messias: sua realeza (ouro), sua divindade 
(incenso) e humanidade, dado que o óleo de mirra era, 
então, utilizado para embalsamar os mortos. Uma vertente da 
tradição cultiva a idéia de que os reis magos se 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
8 
converteram e foram batizados por São Tomé, depois pregando 
o Evangelho em seus países de origem. Os reis magos foram 
canonizados no século VIII, sendo, por isso, referidos como 
Santos Reis. 
O fundamento bíblico das folias está nos evangelhos de 
Lucas (capítulo 2, dos versículos de 1 a 20) e Mateus 
(capítulo 2, versículos de 1 a 12). Há, porém, uma 
diferença importante entre as duas narrativas. Lucas se 
preocupa em descrever a viagem de José e Maria a Belém e em 
justificar por que fizeram aquela viagem – houve um decreto 
do imperador romano, ordenando um recenseamento e todos 
deviam se alistar na sua própria cidade. Chegando a Belém, 
deu-se a hora do Nascimento; a cidade estava cheia e 
tiveram que se abrigar nos arredores. Não se fala de Reis 
Magos. Toda a cena é composta pelo anjo que avisa os 
pastores, José, Maria e o Recém-Nascido. Não acontece a 
visita de reis vindos de longe, mas, em contrapartida, 
quando os pastores chegaram à manjedoura, uma multidão, um 
exército de anjos desce do céu, dando Glória a Deus. 
Mateus já vai direto ao assunto: “Tendo Jesus nascido 
em Belém...”. E é aí que se encontra a origem mais remota 
da folia de reis. Já no primeiro versículo da narrativa, o 
evangelista diz: “eis que vieram magos do Oriente”. Mas o 
texto bíblico não diz quantos eram, nem seus nomes. No 
desenvolvimento da devoção ao longo dos séculos, teólogos, 
pintores, hagiógrafos e os chamados padres da Igreja foram 
definindo o que não foi dito no texto sagrado. Houve muitas 
indagações sobre quantos eram. Poderiam ser os quatro 
sugeridos contemporaneamente pela literatura e pelo cinema. 
Várias versões orientais diziam, entretanto, que eram doze. 
Mas, devido aos presentes assinalados no versículo 11 – 
ouro, incenso e mirra –, todas as tradições ocidentais se 
fixaram em três reis, com os nomes de Gaspar, Baltazar e 
Belchior. (PESSOA, 2007, p. 75). 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
9 
A devoção aos Reis Magos desenvolveu-se por toda a 
Europa durante a Idade Média. Segundo Jadir Pessoa (2007), 
isso se deve à chegada dos restos mortais destes três entes 
míticos à catedral de Colônia (Alemanha), em 1164. Eles 
para lá teriam sido trasladados de Milão (Itália) como 
despojos de guerra, numa conquista de Frederico 
Barbarrocha. E para Milão teriam sido levados no século IV 
ou V como presente especial da Imperatriz Helena, de 
Constantinopla (PESSOA, 2007, p. 63). 
Enquanto fizeram todo esse percurso, foram surgindo em 
diversos países pinturas em catacumbas, quadros, retábulos, 
esculturas, altos-relevos em sarcófagos, apresentando a 
visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. E, a partir de 
Colônia, espalharam-se por toda a Europa como parte das 
grandes peregrinações, a exemplo do que já acontecia em 
Santiago de Compostela, Terra Santa e Roma. Como heranças 
diretas dessas peregrinações, surgiram então os cânticos 
populares, muito importantes em toda a Europa medieval, 
chamados Noëls na França, Villancicos na Espanha e Folias 
em Portugal. Provavelmente, esses cantos, acrescidos do 
teatro de Gil Vicente, depois de José de Anchieta e Manoel 
da Nóbrega, constituem as matrizes mais diretas das 
diversas devoções existentes no Brasil, como reisados, 
bois-de-janeiro, bois-de-reis, pastorinhas e, 
especialmente, no chamado “corredor das bandeiras” (SP, MG, 
GO, MS), as folias de reis. 
Pela dinâmica natural ou pelo menos inevitável de uma 
espécie de dispersão cultural, elas podem ser encontradas 
também hoje, ainda que com distribuição menos regular, nos 
estados da Bahia, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Maranhão e 
Paraná, e sabe-se de registros de folia de reis até mesmo 
no Rio Grande do Sul (PESSOA, 2007, p. 63-64). O que 
individualiza as folias de reis diante das celebrações 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
0 
afins é, segundo Eloísa Branches (2007, p. 25), a presença 
do palhaço, cuja performance inclui um texto falado. 
No essencial, a folia é um ritual itinerante do 
catolicismo popular, que atualiza a memória da narrativa 
bíblica da visita dos Reis Magos ao Menino Jesus, 
oferecendo cânticos e preces e pedindo ofertas para os 
festejos finais do ciclo de cada ano. Sua origem remota, 
portanto, é a Ibéria, mas no Brasil as folias desenvolveram 
um caráter mais sacro, enquanto que em Portugal, o elemento 
profano, próximo da pândega, seria mais acentuado. 
A tradicional localização rural da folia de reis, 
presente em algumas definições clássicas dos pesquisadores, 
deve ser agora relativizada, pelo evidente fato de que o 
intenso êxodo rural ocorrido nas décadas de 1960 a 1980, no 
Brasil, provocou um significativo deslocamento dessa 
prática, que hoje já se pode dizer majoritariamente urbana 
(PESSOA, 2007, p. 70). 
Até o final dos anos de 1960, a folia de reis 
sobreviveu praticamente como uma manifestação cultural e 
religiosa da zona rural. De acordo com Carlos Steil, ser 
católico é menos uma opção religiosa do que uma condição de 
vida no meio rural. Neste catolicismo informado pela 
experiência corporal dos devotos “cabe ao praticante beber 
de todas as fontes, de modo que o sincretismo é a própria 
condição de acesso à plenitude e multiplicidade do sagrado. 
O espaço privilegiado da experiência religiosa não são os 
sistemas religiosos em si, mas as fronteiras entre eles” 
(STEIL, 2001, p. 23). Se no catolicismo institucionalizado, 
a liderança religiosa conduzida por especialistas é 
consumida por leigos, nesta religiosidade popular predomina 
a produção de auto-consumo, conforme definida por Bourdieu 
(1994) (BRANCHES, 2007, p. 24). 
Os anos 60 foram o fim de um relativo isolamento 
vivido pelo campo. Na passagem para os anos de 1970, 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
1 
começou a haver uma redução da população rural e ao mesmo 
tempo surgiu a televisão. Logo depois, veio a melhoria das 
estradas e dos transportes de maneira geral, que, juntos, 
reduziram significativamente a distância entre o rural e o 
urbano. Aquele antigo encantamento, a partir daí, teve que 
ser dividido com outros atrativos poderosos do mundo 
urbano. 
Veio então um período de quase três décadas 
desfavoráveis à reprodução das folias, cada terno ou grupo 
sendo afetado de maneira diferenciada: envelhecimento ou 
redução do quadro, redução do número de moradores a serem 
visitados e, em muitos casos, até a extinção de grupos.Contraditoriamente, o mesmo processo de modernização 
da sociedade brasileira, que antes dificultava a reprodução 
das manifestações populares tradicionais, ao final dos anos 
de 1990 já lhes estava sendo benéfico. É corrente entre 
folcloristas a idéia de que a associação com o turismo, 
mesmo sendo um risco à conservação da originalidade, é 
inevitável para a sobrevivência das manifestações ditas 
folclóricas. Nos casos de algumas tradições já extintas, a 
criação de grupos parafolclóricos, para apresentação em 
escolas e outros espaços, é a sua única possibilidade de 
sobrevivência (PESSOA, 2007, p. 72-3). 
Os grupos de folia estão tendo maiores oportunidades 
de se reproduzir, tanto no campo como nas cidades e, 
inclusive, de se apresentarem em público, fora do ciclo, 
especialmente nos Encontros de Folias, como acontece em 
Ribeirão Preto (SP), em Brasília, em Aparecida do Norte 
(SP), em Muqui (ES) e em Goiânia. E esses encontros começam 
a conquistar a atenção de observadores vindos do teatro, da 
dança, da fotografia. 
 
2.1. Conteúdos e significados das folias 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2 
De um ponto-de-vista antropológico, as folias foram 
vistas até os anos 1960 como parte do “folclore” 
brasileiro. De lá para cá, mudanças de perspectiva teóricas 
as localizam no campo do catolicismo popular e defendem que 
essas manifestações não devem ser consideradas como 
sobrevivências culturais de um passado findo, mas formas 
como grupos muito atuais lidam com seus contextos sócio-
culturais. 
Um exemplo é o significado da peregrinação: segundo 
Carlos Brandão, citado por Eloísa Branches (2007), a 
peregrinação, como forma de relacionamento diferente da 
ordem hierárquica social cotidiana, proporciona uma 
experiência de comunitas na qual o indivíduo se distancia 
do seu papel social. 
Também o ritual da visita é fulcral na manifestação. 
Nele, dissolvem-se as fronteiras entre o público e o 
privado (a rua e a casa), tão marcados nas sociedades 
contemporâneas. As casas adquirem, momentaneamente, um 
estatuto público e sagrado. Esse ritual é baseado ainda 
numa relação de troca material e espiritual entre os 
devotos, o dono-da-casa e o Santo Reis1. Os devotos 
abençoam a casa com cantos sagrados e recebem dinheiro dos 
donos-das-casas para a realização da festa em homenagem ao 
Santo, que acontece no final do período de peregrinação. A 
ordem capitalista, como a nomeou Carlos Brandão, fica assim 
questionada, pois é uma outra economia de trocas que 
predomina nessas manifestações. 
O olhar contemporâneo, urbano e politicamente correto 
deve observar alguns requisitos ao presenciar a folia. Esta 
deve ser entendida em sua globalidade, que não inclui 
apenas a saída às ruas, a peregrinação e as visitas. Um 
 
1
 O Santo Reis empregado no singular é significativo da interpretação 
de um episódio bíblico pelo catolicismo popular: os três Reis Magos 
são condensados na figura de um Santo. No texto, a opção em manter o 
termo Santo Reis segue a maneira como as pessoas das folias falam 
desta devoção. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
3 
exemplo de como a perspectiva do todo no ritual é 
imprescindível para a compreensão de qualquer aspecto que o 
integre são as relações de gênero. Se uma pessoa chega a 
uma casa, vê uma folia de reis cantando e toma esta cena 
isoladamente, provavelmente vai dizer que se trata de um 
ritual machista, que não permite a participação das 
mulheres. Hoje já se torna muito mais comum a participação 
de mulheres na cantoria de folia – como mostra Eloísa 
Brantes (2007) a respeito do Reisado do Mulungu, cantado 
exclusivamente por mulheres solteiras, separadas e viúvas. 
Mas, tradicionalmente, toda a instrumentação e vozes são 
desenvolvidas por homens. Isso não é suficiente para se 
dizer que não há lugar para a mulher. No seu todo, há 
muitas funções desenvolvidas por mulheres, como confecção 
dos enfeites, preparação da comida, direção das rezas de 
terço e outras orações, etc. (PESSOA, 2007, p. 71). 
As folias, não raro, são grupos familiares, cuja 
atuação está profundamente marcada por uma narrativa que 
lhes dá seus contornos. A norma é um dos universais da 
cultura. Nenhum grupo humano sobrevive sem alguma forma de 
coerção social. A folia de reis não conseguiria ser 
diferente. Mas essas normas têm um sentido especial. Elas 
atestam a leitura que a folia faz da narrativa evangélica, 
base religiosa da tradição. 
Normalmente, o embaixador ou mestre ou, ainda, o 
capitão de uma folia é o portador do conteúdo axial do 
ritual. Ele o guarda, zela por sua observância e 
freqüentemente toma a iniciativa de repassá-lo a um filho 
ou parente próximo. E aquilo de que o embaixador mais deve 
saber reporta-se, fundamentalmente, às duas passagens 
bíblicas chamadas evangelhos da infância de Jesus, 
registrados apenas por Mateus e Lucas (PESSOA, 2007, p. 73) 
Mas o palhaço (também conhecido como “boneco” ou 
“bastião”) não pode prescindir desses componentes básicos 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
4 
na ponta da língua. É que, por tradição, o palhaço é o 
guardião do Menino Jesus. Ele é o único que pode passar à 
frente da Bandeira – o objeto simbólico mais importante 
desta religiosidade –, sempre que necessário, para exercer 
essa função de guardião. Por isso, ele se torna o ponto de 
contato entre os foliões e o morador. 
Para os que seguem com rigor a tradição, o dono da 
casa em geral se dirige primeiro ao palhaço. E pode 
acontecer que ele trave com o palhaço um diálogo, 
perguntando, por exemplo: “Boneco, de onde vocês estão 
vindo?” Nessa hora, o palhaço tem que responder: do 
Oriente. Uma segunda pergunta é imediatamente posta: “E 
para onde vocês estão indo?”. E a resposta aceitável é: Pra 
Belém. Na seqüência, uma terceira pergunta é acrescida: “E 
o que é que vocês vão fazer lá, Boneco?”. O palhaço deve 
concluir: Vamos visitar o Menino Jesus. Se não forem essas 
as respostas, será a completa desonra para toda a folia e, 
segundo os costumes mais antigos, é um caso em que o 
morador pode prender a bandeira, exigindo do embaixador um 
rosário de versos, redimindo todo o grupo. Normalmente, 
quando uma pessoa vai “pegar a máscara” – assumir a função 
de palhaço – pela primeira vez, há toda uma sabatina de 
algum folião mais velho, para saber se ele tem essas 
respostas bem preparadas. 
Há também um processo de aprendizagem que poderia ser 
classificado como instrumental, no sentido pragmático, 
feito para o desempenho de uma função. É o caso de um 
adolescente que começa a aprender a tocar violão na folia 
de reis ou para tocar na folia de reis. Depois, muitos que 
assim agem acabam ultrapassando essa perspectiva 
instrumental. Mesmo no interior do ritual, é comum essa 
expansão do aprendizado. 
Um folião pode aprender a cantar a quarta voz e 
permanecer anos a fio nesta mesma função. Outro pode 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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começar por ela e em pouco tempo pode saber cantar todas as 
outras ou pelo menos as que mais se adaptam ao seu timbre 
de voz. O mesmo acontece com os instrumentos. Mesmo se um 
folião não tem ampla bagagem de atuação musical fora da 
música da folia – o reis –, durante o giro de casa em casa 
ele pode ser capaz de tocar todos ou a maioria dos 
instrumentos. Os muitos casos em que isso acontece são uma 
prova de uma espécie de auto-suficiência da folia: ela 
precisa de tocadores paraos instrumentos e ela os motiva a 
aprender pelo menos aqueles básicos para a sua reprodução. 
Todos os membros da folia devem também aprender e 
respeitar assiduamente as evitações codificadas para o 
ciclo: não se pode passar os instrumentos por debaixo dos 
arames ao atravessar uma cerca e, ainda, a folia não pode 
cruzar um caminho onde ela já passou. Essa última 
interdição é uma forma segura de que a folia se mantém fiel 
ao fato bíblico que lhe dá origem. Como o Rei Herodes 
tentou enganar os magos, dizendo-lhes que também queria 
adorar o Menino Jesus, pedindo-lhes que lhe avisassem onde 
o teriam encontrado, o Evangelho de Mateus, no versículo 12 
da narrativa já citada, diz: “Avisados em sonho que não 
voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para a 
sua região”. 
No desenvolvimento do ciclo, todos são de acordo que o 
personagem mais importante é o dono da casa. Cada casa onde 
a folia está cantando transforma-se, naquele momento, em 
uma Belém provisória. É como se, ao longo do ciclo da 
folia, a visita dos Três Reis ao Menino Jesus tivesse que 
ser atualizada em cada casa. Nas casas onde há um presépio 
instalado, isso fica mais explícito, com o aumento dos 
versos a serem cantados. Em todos os casos, então, um bom 
folião aprendeu e jamais se esquecerá que deve fazer todas 
as vontades do dono da casa – chamado por todos de patrão 
(PESSOA, 2007, p. 74-7). 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
6 
Um exemplo advindo da folia estudada por Pessoa (2007) 
é que, na chegada em uma casa, canta-se saudando o morador, 
dizendo que é uma semelhança da viagem dos Três Reis, etc. 
Acontece então o verso final da chegada, que é a entrega da 
bandeira para o dono da casa. A entrega da bandeira é um 
sinal da vinda do sagrado ao espaço mais reservado da fé, 
que é a casa do morador. Nesse momento, estaria encerrada a 
primeira parte da cantoria e se faria uma pausa. Mas, 
acontece que, se o morador não ficou satisfeito e quer 
escutar mais, ele se ajoelha. Aumenta-se então o trabalho 
dos foliões, que, conduzidos pelo embaixador, emendam mais 
alguns versos (PESSOA, 2007, p. 78) 
Segundo a tradição sociológica francesa, de Durkheim e 
Maurice Halbwachs, introduzida no Brasil especialmente por 
Ecléa Bosi, a memória não pode ser estudada como fato em 
si. Recordar não é apenas lembrar ou reviver, mas refazer, 
reconstruir com as idéias de hoje as experiências do 
passado. E a memória não é individual, é sempre coletiva. 
Não é apenas o fato de o indivíduo espontaneamente trazer 
para o presente alguma coisa supostamente perdida em algum 
lugar do passado. É refazer o passado, com os ingredientes 
dados pelo grupo social em que se vive. Nesta perspectiva, 
memória é trabalho, é todo o esforço de um grupo no sentido 
de convencionalizar o seu presente, e esse trabalho 
geralmente acontece a partir da necessidade do grupo de 
garantir a coesão necessária à sua reprodução. 
Isso é muito verificável na folia de reis. É muito 
comum nos momentos de pausa da cantoria, ou, quando os 
foliões estão andando pelas estradas, algum folião mais 
velho contar uma história contendo algum fato importante, 
às vezes fantástico, da constituição do ritual. Há senhas 
muito claras para essas situações. Em geral, as histórias 
começam com: “uma vez nós saímos com uma folia”, “uma 
ocasião nós chegamos com uma folia na casa de fulano de 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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tal”, etc. O conteúdo desses casos é quase sempre 
reforçando a coesão havida, o respeito cultivado em relação 
à devoção, o zelo em relação à correta aplicação de 
instrumentistas, cantores e outras funções, etc. O recurso 
pode ser o inverso também, com a narração de fatos em que 
nada disso foi observado e a folia se viu embaraçada, 
impedida de continuar o giro. 
A função de todo esse trabalho da memória não é apenas 
enobrecer um passado feliz da crença, povoado de pessoas 
importantes para o seu surgimento; menos ainda punir as 
pessoas mal-aplicadas em relação às suas regras. Trata-se 
de um trabalho coletivo, que acontece toda vez que a coesão 
do grupo se vê ameaçada, que a tradição se vê 
descaracterizada ou que as obrigações da devoção correm 
algum risco de descrédito (PESSOA, 2007, p. 79). 
Se tiverem razão alguns analistas contemporâneos, que 
dizem que o mundo agrário está subsumido pelo grande 
capital flutuante pelo mundo afora e que, por conseqüência, 
a mudança mais importante do final de século XX foi a 
“morte do campesinato”, podemos dizer que não há nada mais 
anacrônico que a sobrevivência das manifestações populares 
de origem marcadamente rural, especialmente a folia de 
reis. Ela aposta numa lógica econômica que não existe mais, 
aposta na existência de uma população e num comunitarismo 
rurais já sensivelmente reduzidos, e aposta numa autonomia 
organizativa também difícil de ser reproduzida. 
Especialmente no caso do ressurgimento de grupos de 
folias em contextos urbanos, a lógica do trabalho urbano 
com que são forçados a se confrontarem é acintosamente 
negadora dessa possibilidade de autonomia. O antigo 
agregado ou sitiante das fazendas não encontrava o menor 
problema em se retirar da lida do curral ou da sua roça 
durante os dias de giro da folia – um filho, parente ou 
vizinho assumia o curral e a roça podia até agüentar uns 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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dias a mais no mato. Do hoje componente de uma folia urbana 
não se pode dizer o mesmo (PESSOA, 2007, p. 80). 
A que se deve essa teimosia? Muitas hipóteses poderiam 
ser pesquisadas e discutidas em vista de uma resposta a 
essa pergunta. Poder-se-ia dizer, por exemplo, que esse 
processo de transformações ainda está em curso e que, 
quando estiver devidamente concluído, haverá uma acomodação 
urbana mais segura para as pessoas, que não terão mais 
tanta necessidade de cultivar essa saudade do mundo rural 
perdido. Uma outra hipótese menos fatalista poderia ser o 
reconhecimento de um recurso relativamente contestador 
nessas ressurgências, em face de uma situação de 
desenraizamento, na qual se encontram no contexto urbano 
(PESSOA, 2001). 
Continuar a fazer folia de reis pode ser uma 
perseverante forma de denunciar os descaminhos – 
individualismo, desumanização, destruição do sujeito – da 
sociedade atual e de expressar, segundo a leitura dos seus 
praticantes, as bases ou os princípios humanos fundamentais 
do seu reordenamento. 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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3. HISTÓRICO DE BETIM 
 
3.1. A ocupação 
As mais remotas notícias sobre a ocupação da região de 
Betim, afora a ocupação provável por indígenas semi-
nômades, remonta ao início do século XVIII. Toda a região 
hoje denominada Minas Gerais estava agitada à época; a 
descoberta de riquezas minerais atraía aventureiros em 
busca de glória e outros tantos, em seu rastro, ocupados em 
sobreviver. 
O ambiente era de mobilidade espacial constante. A 
região onde hoje fica Betim fazia parte de uma importante 
rota que vinha de São Paulo a Pitangui – e era a rota dos 
bandeirantes atraídos pelas descobertas minerais na citada 
povoação – e também da rota de abastecimento que vinha da 
Bahia às Minas. 
A importância desta última rota só ganha dimensão a 
partir do olhar mais atento dos historiadores sobre a 
diversificação econômica das Minas no auge da mineração. As 
Minas vinham sendo vistas como lugar de escassez, de total 
dependência do abastecimento proveniente de outras 
capitanias e concentraçãoda atividade econômica na 
mineração. Novos estudos têm demonstrado a importância da 
produção própria e da circulação de mercadorias no interior 
da capitania. 
Betim, antes de assim se chamar, fazia parte deste 
entrecruzar de caminhos. Por aqui, chegavam os escravos 
transferidos do nordeste para as Minas, que eram 
registrados na localidade das Abóboras, depois denominada, 
por isso, Contagem das Abóboras. Em Contagem, também se 
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registrava o gado entrado nas Minas e destinado a abastecê-
las. A contagem, evidentemente, tinha objetivos fiscais. 
Também por essa razão o primitivo nome de Belo Horizonte 
era Curral D’El Rey, ou seja, o local onde o gado era 
armazenado, depois distribuído, tendo sido devidamente 
taxado. 
A descoberta de ouro em Minas Gerais, em 1690, quando 
já estava decadente a indústria do açúcar no litoral 
nordestino, proporcionou novas atividades econômicas ao 
sistema colonial português. A coroa proibiu qualquer 
plantação de alimentos ou criação de gado na zona aurífera, 
para não desviar mão-de-obra da mineração. Assim os 
garimpos tornaram-se centros de compra de alimentação e de 
animais de transporte. É claro que houve resistência a tal 
proibição, como mostra a instalação de criadores de gado em 
Betim bem no início do século XVIII, conforme se comenta 
adiante. 
Era proibido aos tropeiros ou viajantes pousarem nas 
estradas ou caminhos do município impedindo o trânsito. 
Tinham que afastar os animais do centro da estrada. Era de 
interesse da coroa portuguesa que os caminhos às vilas 
fossem de fácil acesso, pois dessa maneira, além de 
abastecê-las dos mais diversos gêneros, facilitava-se 
também a saída do metal precioso para o erário real. Com 
esses intuitos, foram emitidos bandos e outras ordens reais 
que se destinavam à construção de pousadas para viajantes e 
a manutenção dos caminhos de acesso às vilas do ouro. Em um 
dos primeiros núcleos de povoação da atual Betim, logo no 
início do século XVIII, foi construído um casarão destinado 
ao uso como pousada e venda de secos e molhados, 
especialmente para as tropas que por aqui passavam. Este 
casarão abriga atualmente a Casa da Cultura Josephina 
Bento. 
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O fato de Joseph Rodrigues Betim ter solicitado uma 
sesmaria nesta região em 1711 não foi um acaso depois 
tornado conhecido por ter originado uma povoação. 
Provavelmente, esta solicitação fez parte de uma estratégia 
dos grupos paulistas, então em franco confronto com os 
portugueses preocupados em garantir a si próprios a reserva 
da área em que se encontravam os minerais preciosos. Como 
se sabe, os paulistas foram os pioneiros das descobertas, 
mas foram imediatamente confrontados pelos “reinóis” que, 
como colonizadores, se sentiam no direito de se apossar das 
riquezas. 
Ora, em 1708 ocorrera um sangrento conflito entre 
bandeirantes paulistas e portugueses, conhecido como Guerra 
dos Emboabas. Emboabas foi o nome dado pelos paulistas aos 
“reinóis”, e significava “estrangeiros”, “invasores”. 
Apesar da maneira razoável como o conflito se resolveu em 
prol dos paulistas, estes se sentiam ameaçados: percebiam 
que cabia a eles a tarefa de localizar veios auríferos, mas 
que a posse dos mesmos não se encontrava assegurada, na 
medida em que os “reinóis” a cobiçavam. Daí intensificar-se 
a solidariedade entre estes aventureiros que, na 
historiografia oficial, figuram como heróis. 
A solicitação de sesmaria por Joseph Rodrigues Betim, 
ligado por parentesco e amizade ao famoso bandeirante Borba 
Gato, deve ter visado assegurar a posse de um importante 
caminho e parada, vital para o empreendimento bandeirante. 
Ao contrário do que diz em sua petição, Joseph Betim não 
desejava estabelecer-se nestas terras e lavrá-las, como não 
o fez, mudando-se logo para Pitangui, antes mesmo de obter 
a confirmação real da doação da sesmaria, o que se dava 
cerca de três anos após a doação propriamente dita; nesta 
ocasião, avaliava-se o desenvolvimento da sesmaria, isto é, 
se houvera estabelecimento do sesmeiro e escravaria, 
exploração do solo ou subsolo, povoação... Joseph Betim não 
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a obteve e nem mesmo a solicitou, segundo o minucioso 
trabalho do historiador Geraldo Fonseca (1975). Este 
estudioso inclusive contesta poder Joseph Betim figurar 
como fundador da povoação ou como responsável pela ereção 
de duas capelas em sua sesmaria; obter autorização para 
erigir capelas era, à época, processo complexo e lento, 
sendo improvável que o bandeirante o tenha alcançado em 
dois anos durante dos quais deve ter permanecido nestas 
paragens. Não se encontraram documentos que comprovem a 
solicitação da ereção das capelas por Joseph Betim na 
sesmaria onde hoje se localiza o município de Betim, e sim 
em Pitangui, onde o pioneiro logo depois se estabeleceu. 
Primitivos estudiosos destes documentos podem ter se 
enganado quanto às capelas. 
Assim, do primeiro proprietário das terras onde hoje 
fica Betim, ficou seu nome, primeiro aplicado ao Ribeirão 
da Cachoeira, tornado Betim, depois adotado pelo povoado 
surgido em torno da primeira capela. É muito provável que a 
memória social local tenha “exagerado” a participação de 
Joseph Rodrigues Betim na primitiva formação do povoado, 
porque o referido bandeirante era um verdadeiro potentado, 
aparentado e ligado por relações de solidariedade com 
alguns dos mais destacados bandeirantes brasileiros, o que 
conferiria uma origem “nobre” a Betim, preferível a admitir 
que a povoação fora fundada por anônimos. 
Nas primeiras décadas após a doação da sesmaria a 
Betim, a região consolidou-se como local de passagem e 
parada dos tropeiros. Outros sesmeiros atuavam na região 
porque, quando a Coroa Portuguesa doava sesmarias, fazia-o 
“por atacado”, a fim de que os sesmeiros pudessem contar 
com uma vizinhança importante para a segurança e o 
estabelecimento de vínculos sociais. Os sesmeiros aqui 
estabelecidos juntamente com Joseph Rodrigues Betim em 1711 
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foram João de Souza Sotto Mayor (criador de gado) e João 
Leite da Silva Ortiz. 
Entre 1711 e 1750, a sesmaria de Betim recebeu 
diversos núcleos de povoação, coincidentes com os pontos de 
parada dos tropeiros. O primeiro deles a ganhar importância 
foi o da Bandeirinha do Paraopeba. Seu nome deve ter se 
originado no fato de o local em que se estabeleceu ter sido 
objeto de uma “bandeirinha”, isto é, uma pequena expedição 
em busca de minerais ou um “ramo” de uma bandeira. 
De fato, os bandeirantes paulistas, reunidos na Câmara 
de São Paulo em 1730, deliberaram que, uma vez aberto o 
caminho das bandeiras até Sabarabussu, que fossem enviados 
pequenos grupos que plantassem roças em pontos 
estratégicos, para o suprimento das futuras expedições 
bandeirantes. Assim nasceram as bandeirinhas. 
O arraial da Bandeirinha é o primeiro de Betim a 
aparecer na documentação oficial, quando pede autorização 
para construir uma capela, em 1753, e a recebe em 1754. 
Para o período, a construção de uma capela era um primeiro 
sinal de estabelecimento de um povoado. Isso independia da 
religiosidade propriamente dita da comunidade, visto que a 
Igreja era responsável pelos registros de nascimento, 
casamento e morte e por todos os ritos que conferiam 
identidade aos potentados e à gente média do local. As 
pessoas andavam enormesdistâncias até a capela mais 
próxima, e era por isso que os “homens bons” de cada local 
se empenhavam na construção de capelas em suas terras, a 
fim de evitar o desconforto de suas famílias e agregados. 
Quando solicitaram a construção de sua capela, 
quiseram que isso se desse num monte, razão pela qual a 
capela ficou distante do pioneiro núcleo de povoação. 
Assim, por volta de 1770, foi levantado um cruzeiro na 
Bandeirinha, o qual foi benzido solenemente no dia de Santa 
Cruz. A partir daí, iniciou-se a Festa Anual de Santa Cruz 
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2
4 
(fim de abril ou início de maio), que continua sendo 
realizada no atual bairro Bandeirinha. No século XVIII, 
essa festa era tão concorrida quanto a da padroeira. 
A capela do arraial da Bandeirinha foi construída 
imediatamente, o que dá uma medida da prosperidade da 
região. A construção e a equipagem da capela precisavam 
obedecer a certas regras da Igreja e demandavam recursos, 
geralmente obtidos por subscrições da comunidade. A capela 
foi erigida onde hoje se encontra a Praça Milton Campos, de 
frente para o arraial da Bandeirinha – portanto com os 
fundos para o futuro centro histórico de Betim – e recebeu 
o nome de Capela de Nossa Senhora do Monte do Carmo. Como 
já havia outras capelas na região, em Mateus Leme e Santa 
Quitéria – hoje Esmeraldas – o novo templo tornou-se 
conhecido como Capela Nova do Betim, nome que depois se 
estendeu ao arraial. 
Entre 1760 e 1800, o arraial cresceu em importância, 
como indica a instalação de forças policiais reais e a 
elevação da localidade a distrito em 1797, fato confirmado 
pela Câmara de Sabará em 1801. 
 
3.2. Trajetória sócio-econômica e administrativa 
 
Ao longo desse período, despontou o primeiro 
verdadeiro potentado da extensa região de Capela Nova do 
Betim, João Nogueira Duarte, proprietário da Fazenda Serra 
Negra, cuja produção, extensão (730 alqueires) e escravaria 
(centenas) eram notórias na capitania. Já na década de 
1770, Nogueira Duarte detinha cargos de nomeação direta da 
rainha D. Maria I, o que dá uma medida de seu 
reconhecimento oficial. O pioneiro era português, tendo 
primeiro se estabelecido em Congonhas do Campo. A 
importância de sua família e daqueles aos quais se ligou 
por casamento e negócios está atestada em documentos 
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oficiais. Seus descendentes constituíram importante tronco 
genealógico em Betim, tendo muitos ocupado cargos militares 
e eclesiásticos de destaque. 
A partir de meados do Século XIX, Betim participou da 
retração econômica e decadência que atingiu toda a antiga 
zona de produção aurífera. Desenvolve-se, então, uma 
atividade econômica de subsistência, quase sempre 
fundamentada na fazenda autárquica. Às margens do Rio 
Betim, se instalaram olarias e moinhos de fubá, estes 
últimos beneficiários das quedas d’água, chegando somar 35. 
Restam na cidade vestígios das edificações desses 
estabelecimentos, além de instrumentos empregados na 
produção. 
O viajante James Wells (1995) esteve em Capela Nova e 
em suas adjacências durante o oitocentos, assim se 
manifestando sobre a localidade: 
 
Capela Nova do Betim é avistada muito antes que eu 
a alcance. Sua longa rua de casas brancas e telhas 
vermelhas fica situada proeminentemente sobre um 
morro alto, cercado de vales fundos e de morros 
mais altos e cadeias de montanhas. A estrada desce 
da região alta que eu tinha atravessado, cruza um 
vale e sobe por uma ladeira larga e íngreme, com 
casas separadas, casebres e ranchos de cada lado. 
Chegando ao topo, ela se une a outra rua em ângulo 
reto, ou melhor, a uma longa praça aberta, com 
filas de casas de porta e janela amontoadas e uma 
igreja simples, caiada, em uma extremidade. Há 
diversas vendas e armazéns de secos e molhados e 
ranchos abertos para tropas de mula. (...) Uns 
poucos matutos, em seus matungos esquálidos, 
montados com seus dedões do pé enfiados em pequenos 
estribos e usando o inevitável poncho de baeta ou 
tecido azul listrado de vermelho; umas poucas 
mulheres negras ou mulatas, vestidas com saias de 
algodão e xales espalhafatosos e batas brancas, 
apregoando frutas ou doces em tabuleiros de porta 
em porta; uns poucos vadios nas vendas e armazéns; 
algumas cabeças nas janelas assistindo apáticas à 
cena para a qual passam diariamente olhando e os 
numerosos porcos, bodes, cachorros, galinhas, perus 
e galinhas d’angola da rua constituem a restrita 
vida presente nesta vila sonolenta (p. 121-2). 
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O século XX alvoreceu em Betim sob o signo da 
implantação da infra-estrutura que posteriormente faria da 
região um pólo industrial. Em 1909, a Schnoor Engenharia 
obteve empreitada junto ao Governo Estadual para construir 
155 km da seção BH – Henrique Galvão (atual Divinópolis) da 
Estrada de Ferro Oeste de Minas. O engenheiro Antônio 
Gonçalves Gravatá, então funcionário da Schnoor, sugeriu a 
construção de uma usina hidrelétrica na principal queda 
d’água do Rio Betim, que tinha 84 metros. A hidrelétrica 
foi construída por Gravatá, em suas terras (Fazenda 
Cachoeira), com recursos próprios e de seu empregador 
Emílio Schnoor. Inaugurada em 1914, com capacidade de 
produção de 250 kw, a hidrelétrica chegou a fornecer 
energia para Henrique Galvão. Em 1945, até Contagem recebia 
energia gerada pela usina. 
Nem a ferrovia nem a hidrelétrica alteraram 
significativamente a atividade econômica em Betim, que 
permaneceu especializada na produção de gêneros 
alimentícios, principalmente arroz, milho, mandioca, 
feijão, cana-de-açúcar e algum gado. 
O território onde está Betim havia sido pertencente à 
Vila de Sabará, cuja jurisdição era imensa, desde o início 
da ocupação. Em 1901, pouco depois da instalação do regime 
republicano no Brasil, houve uma reforma político-
administrativa do Estado brasileiro, que se desdobrou na 
divisão do território em estados e municípios. Foi então 
que surgiu o estado de Minas Gerais, com 11 grandes 
municípios, sendo um deles o de Santa Quitéria ao qual 
Capela Nova ficou subordinada, até perdendo algo da 
autonomia adquirida em 1897. Não houve resistência do 
arraial à subordinação a Santa Quitéria porque os 
potentados locais, João Nogueira Duarte à frente, mantinham 
boas relações com os líderes santaquiterienses. 
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7 
Por volta de 1910, a cidade desenvolveu um novo 
desenho urbano em função da passagem da linha férrea, que 
se instalou a aproximadamente uns setecentos metros da 
parte posterior da Praça Milton Campos – até então tida 
como região central. É comum no meio popular a afirmativa 
de que “a cidade cresceu para trás, nas costas da Igreja 
[antiga Matriz onde hoje está a Praça Milton Campos]”. 
Percebe-se, dessa forma, uma formação urbana que desloca o 
eixo central da cidade para a confluência das avenidas 
Governador Valadares e Amazonas, em detrimento ao “antigo” 
centro, na Praça. Este momento histórico trouxe uma inédita 
dinâmica sócio-urbana para o município, mas a população do 
campo se manteve superior à urbana, que, inclusive, manteve 
um crescimento vegetativo. 
Betim tornou-se município por decisão estadual e 
federal em 1938. Isso não foi fruto de mobilização local, 
mas de uma nova divisão administrativa do Brasil, promovida 
neste ano. Essa nova divisão administrativa foi estudada 
por uma comissão criada por Olegário Maciel desde 1932, 
obedecendo a determinação federal2.Minas Gerais, nesta 
ocasião, passou a ter 71 municípios. Fonseca (1975, p. 
105), embora registre uma manifestação organizada pelo 
padre Osório Braga, numa ocasião em que o governador 
Benedito Valladares passava por Betim, prefere creditar a 
emancipação de Betim a uma querela do próprio Valladares 
com Santa Quitéria. O referido município teria feito 
oposição ao líder político e este, para puni-lo, lhe teria 
tirado parte significativa do território, ao criar o 
município de Betim. 
O recém-criado município de Betim – que também era 
comarca, isto é, sede do poder judiciário – compreendia os 
atuais territórios de Contagem, Campanha, Ibirité e 
 
2
 Betim: 50 anos de emancipação (1938/1988). Revista editada pela PMB 
(Adm. Tarcísio Braga), p. 11. 
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Ribeirão das Neves. Novas reformas em 1960 e 1962 reduziram 
o território de Betim para a configuração atual – 376 km². 
Nas décadas de 1940 e 1950, Betim volta a ter 
importante função de local de passagem das rotas de 
abastecimento, desta vez destinadas à capital, Belo 
Horizonte. O planejamento estadual destinou a Betim duas 
outras funções econômicas: a industrialização de base ou de 
bens de capital, representada pelas siderúrgicas aí 
instaladas, e a produção de alimentos para o abastecimento 
da capital. Juntamente com Pedro Leopoldo, Santa Luzia, 
Nova Lima, Sabará, Vespasiano e Lagoa Santa, Betim 
constituiria o chamado “Cinturão Verde” de Belo Horizonte. 
Entretanto, nenhuma destas duas intenções político-
econômicas alterou substancialmente a economia betinense, 
que permaneceu intensamente voltada para a subsistência. 
Pelo Censo Demográfico de 1940-1950, feito pelo IBGE, 51% 
da população urbana de Betim estava ocupada com “Atividades 
Domésticas e Escolares”, enquanto que 31,78% classificavam-
se sob a rubrica “Condições Inativas e outras”. 
Ainda na década de 40, instalam-se as primeiras 
indústrias de Betim, ligadas à constituição do Parque 
Siderúrgico Nacional3, nos anos 1940: Cerâmica Saffran 
(1942), Ikera (1945), Cerâmica Minas Gerais (1947). Essa 
primeira industrialização pode ser atribuída a uma elite 
industrialista local, mais integrada com a localidade, mais 
comprometida com a absorção da mão-de-obra da região e, por 
seu caráter mais tradicional, pouco agressiva sobre o 
tecido urbano. Fez parte da constituição do Parque 
Siderúrgico Nacional a criação da Cidade Industrial de 
Contagem, cuja extensão abrangeu Betim. 
 
3
 Estas indústrias pioneiras compuseram, juntamente com a Magnesita 
(Contagem), a Cerâmica Togni (Poços de Caldas), a Cerâmica João 
Pinheiro (Caeté), a Acesita (Coronel Fabriciano) e a Belgo-Mineira 
(Sabará), o setor de produção de refratários para a siderurgia mineira 
e para os parques siderúrgicos de São Paulo e Rio de Janeiro. 
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2
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Nos anos 50, muda o eixo da industrialização 
brasileira – decresce o investimento nas indústrias de bens 
de capital, como as siderúrgicas primeiramente instaladas 
em Betim e volta-se o foco para a produção de bens de 
consumo duráveis, para a substituição das importações. A 
partir daí, Betim, por sua oferta privilegiada de infra-
estrutura, destina-se a se tornar pólo de atração das 
indústrias. Entretanto, isso se dá vagarosamente. Em 1954, 
a instalação de uma central geradora de energia da CEMIG, e 
em 1959, a construção do trecho Belo Horizonte - Extrema 
(sul de minas) da Rodovia Fernão Dias, que liga Belo 
Horizonte à capital paulista, começam a delinear as 
mudanças intensificadas nas décadas seguintes. 
A Rodovia Fernão Dias, construída no governo do então 
presidente Juscelino Kubistchek, assume relevância no 
processo histórico em questão, por ter provocado um 
considerável número de loteamentos na porção central da 
cidade, durante a década de 1960. Algumas famílias, que já 
possuíam grandes áreas na região em volta da Praça Milton 
Campos (antigo Largo da Matriz) e na extensão da Av. 
Governador Valadares, promoveram a repartição dessas áreas 
com a finalidade de trazerem os familiares do campo para a 
cidade, ou para vender os lotes a terceiros. Já outras, que 
habitavam no meio rural, compravam terrenos próximos ao 
centro, ou na extensão da Rodovia, para praticarem o 
loteamento e se mudarem para o meio urbano. 
Um dos maiores exemplos desta ação foi o loteamento do 
bairro PTB – sigla que significa “Posto Telegráfico de 
Betim”, por existir na linha férrea, que passa em frente ao 
bairro, tal posto. Praticamente durante toda a década de 
1960 houve um certo arranjo territorial, embasado nas ações 
de configuração dos lotes e bairros novos, sendo a maioria 
implantados às margens da Rodovia. 
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3
0 
Ainda na década de 60, chegam a Betim algumas 
indústrias de médio porte, quase todas de capital privado, 
à exceção da REGAP, e se instalam no Bairro Cachoeira, 
local tradicional da primeira industrialização de Betim, 
vinculado à presença da Av. Amazonas, do Rio Betim e da 
Ferrovia Oeste de Minas. São elas: Cortume Morumbi (1960), 
Fabril de Minas (sabões, 1962), Riomar (artigos de pesca, 
1962), Fábrica São Geraldo (móveis, 1962), Fábrica São João 
(biscoitos, 1962), Frigorífico Silveli Torres (1964), 
Confecções Dora (1964), Siderúrgica Amaral (1965), 
Refinaria Gabriel Passos (1968), Asfalto Chevron (emulsão 
asfáltica, 1969), Sidero Manganês de Pellets (1969, a 
partir de 1974, chamou-se Siderúrgica Wilson Raid). 
A Refinaria Gabriel Passos foi instalada em Betim 
porque o local constitui uma confluência de condições 
favoráveis à redistribuição de combustíveis. Entretanto, a 
economia local não foi dinamizada pela presença da 
refinaria. Nos anos 70, apenas uma indústria, a Asfaltos 
Chevron, havia sido atraída para o município em função da 
REGAP. 
No início desta mesma década, a Prefeitura Municipal 
de Betim contraiu empréstimo junto à Caixa Econômica 
Federal para adquirir os terrenos que seriam doados tanto à 
Fiat Automóveis quanto à Krupp. Houve disputa entre os 
estados brasileiros e entre os municípios da Região 
Metropolitana de Belo Horizonte para sediar a Fiat. O que 
favoreceu Betim foi, além de suas condições infra-
estruturais e da atuação política em seu favor, o 
esgotamento do espaço de Contagem. Ainda, um dos fatores de 
atração da Fiat para o Brasil/Minas/Betim foi a intensa 
propaganda desenvolvida pelo INDI (Instituto Nacional do 
Desenvolvimento Industrial) no exterior. O folheto de 
propaganda de título “Introduction to Minas Gerais” diz: 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Muitos mineiros são altos, delgados, esbeltos e de 
pele clara, mas não existem barreiras de cor em 
Minas, nem em mito nem em fato. Homens e mulheres 
de todas as nações e de todas as raças são 
recebidos abertamente em Minas. Encontra-se também 
uma ausência de consciência de classe e esta 
atitude está combinada com o senso democrático de 
que todos os homens são iguais (MACHADO, 1979). 
O então presidente da Fiat, Giovanni Agnelli absorveu 
a propaganda, conforme transparece de sua fala: 
Um dos elementos principais para a instalação de um 
complexo industrial é a disponibilidade de mão-de-
obra. Na zona de Minas Gerais, a disponibilidade é 
enorme e nos permitirá atingir uma média de 8 a 
9.000 operários. Além do mais, o município de Betim 
comprometeu-se a criar escolas para a preparaçãodo 
pessoal especializado, sob a orientação de 
instrutores italianos4. 
As negociações para a implantação da Fiat em Betim 
foram bastante rápidas: em fins de 1972, após ser eleito, o 
governador mineiro Rondon Pacheco, iniciou os contatos com 
a empresa e declarou que um final feliz se anunciava; em 
1973, é criado o Fundo de Investimentos e Participações, 
que tem por finalidade destinar verbas do Estado a diversos 
empreendimentos industriais; no orçamento de 1973 do 
Estado, estão previstos gastos com a implantação da Fiat, 
antes mesmo de se concluírem as negociações com a empresa, 
o que se deu no decorrer de 1973; os trabalhos de 
terraplenagem e infra-estrutura começam neste mesmo ano, 
logo após a conclusão das negociações; em 1976, já havia 
carros Fiat nas ruas. 
Nos anos 70, a política econômica estadual conhecida 
como “Nova Industrialização Mineira” colocou Betim em 
posição de destaque. Essa política, concebida por 
planejadores estatais, visava tirar Minas Gerais da posição 
de centro industrial periférico, fornecedor de insumos para 
o eixo Rio/São Paulo, tornando-o um centro autônomo. Para 
 
4
 Revista Tendência. “Por que a Fiat se instalou em Minas Gerais”. 
Agosto de 1973, nº 0, p. 50. 
 
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isso, foi criada a Companhia de Distritos Industriais de 
Minas Gerais (CDI), que planejou cinco distritos 
industriais na Região Metropolitana de Belo Horizonte: 
Betim, Vespasiano, Contagem, Santa Luzia e Belo Horizonte. 
Betim, cujo distrito foi denominado Paulo Camilo, 
recebeu mais investimentos, tendo sido programada para ser 
o 2º pólo automobilístico do país. Segundo dados da CDI até 
1979, Betim havia recebido 72,60% dos investimentos nos 
distritos industriais da RMBH e gerara 64,11% dos empregos 
diretos criados nestes mesmos distritos. É importante 
ressaltar que Betim sofreu uma alta especialização 
produtiva, isto é, grande parte de sua industrialização 
nesta época deu-se em função da indústria automotiva. 
O processo de industrialização continua acelerado nos 
anos 80. Ao final desta década, a recessão da economia 
nacional faz diminuírem os investimentos, mas não os 
estanca. A especialização automobilística da indústria 
continua alta, mas as administrações municipais dos anos 90 
e 2000, conscientes de que isso constitui uma fragilidade 
para a economia local, buscam incentivar a diversificação 
industrial. A recente criação do Distrito Industrial de 
Bandeirinhas faz parte deste contexto. 
A economia rural betinense foi desagregada a partir 
dos anos 70. O número de pessoas ocupado nesta atividade é 
irrisório em relação aos setores secundário (indústria) e 
terciário (comércio e serviços), bem como sua participação 
na riqueza produzida. Destaca-se a produção de leite e de 
horti-fruti-granjeiros, distribuídos principalmente através 
do CEASA. 
Conforme dados do Censo Demográfico 2000 do IBGE, o 
crescimento populacional de Betim, a cada ano, está na 
ordem de 5,03%. O mesmo Censo, em seus dados trabalhados, 
atesta que 26% dos chefes de família betinenses têm 
escolaridade máxima de 4 anos, isto é, um total despreparo 
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para a inserção qualificada no mercado de trabalho 
industrial. 
 
3.3. Geografia urbana e aspectos ambientais 
Distante aproximadamente 30 quilômetros da capital, o 
município de Betim é hoje um importante pólo de 
concentração industrial do Estado de Minas Gerais e a 
segunda maior arrecadação de ICMS do estado, só perdendo 
para a capital, o município está entre as maiores economias 
do Brasil. 
Quanto aos aspectos físicos, o município de Betim está 
localizado na Bacia do Rio Paraopeba, que o corta nas 
regiões oeste e sudoeste. O rio Paraopeba é um marco na 
definição da paisagem e define também a divisa entre Betim 
e os municípios de Igarapé, São Joaquim de Bicas e Juatuba. 
Entre as diversas divisas municipais, podemos destacar 
a de Betim com o município de Contagem, do ponto de vista 
hidrográfico. Esta divisa é feita pela barragem da Várzea 
das Flores, a área de preservação de mananciais mais 
importante de Betim, responsável por 15% do abastecimento 
de água da região metropolitana de Belo Horizonte e onde se 
produz a água de menor custo para o sistema. De preservação 
fundamental, tem uso rural (sítios para fins-de-semana), 
lazer e urbano (Bairro Icaivera). 
O município possui diversas micro-bacias 
hidrográficas, dentre as quais podemos destacar as sub-
bacias do Rio Betim e do Riacho das Areias, que compreendem 
boa parte da região mais urbanizada da cidade, inclusive as 
regionais Centro e Alterosas. 
Do ponto de vista climático, a temperatura média 
anual, fica em torno de 20 graus centígrados e o índice 
pluviométrico médio é de 1.450mm. 
Em relação às áreas verdes e à fitogeografia, 
destacam-se no município dois tipos de biomas: o do Cerrado 
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3
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e o da Mata Atlântica. Na divisa com o município de 
Contagem, no bairro Icaivera, destaca-se na paisagem uma 
típica floresta de encosta, com topografia bastante 
íngreme. Próximo à ponte do rio Paraopeba, podemos 
constatar uma singular floresta de galeria, com a presença 
de muitas lianas e sub-bosque pouco denso. Na divisa entre 
Betim e Ibirité, encontra-se um cerrado bastante degradado 
pela formação de pastagens. Na estrada de Betim para 
Esmeraldas, podemos encontrar uma formação de cerrado bem 
desenvolvida, apresentando na sua paisagem os estratos 
arbóreo, arbustivo e herbáceo. Próximo ao centro da cidade, 
encontra o Parque Ecológico Engenheiro Felisberto Neves, 
que apresenta vegetação expressiva com porte arbóreo em 
torno de 25m. 
Apesar dos grandes problemas ambientais existentes no 
município, a cidade vem promovendo diversas ações de 
recuperação ambiental e reintegração social. A gestão dos 
recursos ambientais está a cargo Conselho Municipal de 
Desenvolvimento Ambiental (CODEMA). Várias iniciativas 
estão sendo realizadas como: saneamento básico, coleta 
seletiva de lixo e aterro sanitário, o que possibilita ao 
município receber o incentivo do ICMS Ecológico e buscar a 
melhoria da qualidade de vida para sua população. Como 
exemplo, destaca-se a construção de interceptores de esgoto 
ao longo do rio Betim, do riacho das Areias e de Estações 
de Tratamento de Esgoto (ETE) em várias partes do 
município. Outra obra no setor ambiental é a Central de 
Tratamento de Resíduos Sólidos: o lixo que chega ao aterro 
sanitário, depois de triado, é prensado para ser vendido. O 
restante é enterrado. 
Em relação à questão ambiental, podemos destacar a 
construção de várias avenidas sanitárias, dentre elas, a 
avenida Antônio Carlos, no bairro Teresópolis, avenida 
Porto Alegre, ligação entre as avenidas Edméia Lazarotti e 
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3
5 
Belo Horizonte e a avenida do Imbiruçu que liga a avenida 
Marco Túlio Isaac à via Expressa, facilitando o acesso da 
população da região do centro de Betim e aos municípios de 
Contagem e Belo Horizonte. 
A população do município, que hoje totaliza quase 450 
mil habitantes, tem crescido com taxas superiores à 
população da Região Metropolitana de Belo Horizonte e do 
Estado de Minas Gerais. Em 1970, quando o grau de 
urbanização da Região Metropolitana de Belo Horizonte era 
de 92%, Betim apresentava-se ainda como um município de 
população predominantementerural, com um grau de 
urbanização de 46%, aproximadamente. Em curto período, o 
município passa por um profundo processo de transformação 
socioeconômica: em 1980 o município, já apresenta um grau 
de urbanização de cerca de 91%, ligeiramente inferior ao da 
Região Metropolitana de Belo Horizonte, que resultava em 
torno de 96%. 
Fato notável é que Betim continua com alta taxa de 
crescimento urbano, mesmo passado o momento dos maiores 
impactos decorrentes da implantação da Fiat Automóveis em 
seu território, nos anos 1970. Com isso, observa-se que o 
município, por um lado, abriga um forte e moderno setor 
industrial e, por outro, configura-se como receptor de 
consideráveis fluxos migratórios que se dirigem para a 
Região Metropolitana de Belo Horizonte, compostos, em 
grande parte, por segmentos pobres e não qualificados da 
população. 
Apesar de Betim, nas últimas décadas, estar ocupando a 
2ª e a 3ª posição entre os municípios mineiros que mais 
arrecadam impostos, o que indica a vitalidade de seu setor 
privado, a renda per capita do cidadão betinense é de R$ 
203, 22 e o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 
(IDH-M) é de 0,775, um pouco superior às médias estadual 
(0,719) e nacional (0,699), nas quais está contida uma 
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3
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reconhecida desigualdade de grandes dimensões. Do ponto-de-
vista do desenvolvimento humano, o município ocupa, por 
exemplo o 135º lugar entre os 853 municípios mineiros 
(PNUD, 2000). Isso mostra que o modelo de desenvolvimento 
econômico adotado nem sempre está associado à elevação 
geral dos padrões de vida. 
 
3.4. Saúde pública 
Há poucos dados sistematizados sobre os primórdios da 
prestação de serviços de saúde em Betim, especialmente se 
considerada tal prestação como uma função estatal pública, 
como geralmente a entendemos hoje. Ao que parece, isso só 
acontece de forma regular a partir do final dos anos 40, 
mantendo a rede pública uma oferta bastante precária que só 
se universaliza relativamente nos anos 90. 
O primeiro registro notável da prestação de serviços 
de saúde em Betim refere-se aos idos de 1916, quando a 
Fundação Rockfeller, norte-americana, enviou uma Comissão 
Internacional de Saúde ao Brasil para o estudo de doenças 
tropicais, principalmente a ancilostomíase. As relações 
pessoais do engenheiro Antônio Gonçalves Gravatá é que 
propiciaram a Betim ser a base da missão. Também 
concorreram para isso o acesso ferroviário e a existência 
de uma pequena unidade móvel de monitoramento do 
tripanosoma cruzi em Betim. 
O relatório da missão deu conta de que 20% da 
população urbana betinense e 60% da rural (que alcançava 
mais de 70% do total na época) tinham ancilóstomos. Além 
disso, 80% dos atendidos (o total de atendidos chegou a 
1.435) tinham Doença de Chagas. Consta que as pessoas se 
deslocavam até 40 km para receber atendimento, o que dá uma 
medida da carência da população quanto aos serviços de 
saúde. 
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3
7 
Grandes nomes da medicina brasileira estiveram em 
Betim para acompanhar os trabalhos, a exemplo de Carlos 
Chagas e Adolfo Lutz. Após o fim da missão, uma de suas 
casas portáteis permaneceu em Betim, de forma que a antiga 
unidade móvel ficou melhor aparelhada e houve atendimento 
dos casos mais graves fora de Betim – em Belo Horizonte. O 
médico responsável registrou sua decepção com as 
autoridades brasileiras por não se terem decidido a tornar 
regular o atendimento aos doentes, através de um 
dispensário definitivo. 
Ao longo da primeira metade do século XX, registra-se 
a presença da epidemia de gripe espanhola em Betim, o que 
causou a morte de 38 pessoas em 1918. Sabe-se que não havia 
socorro público às vítimas e que este socorro partiu dos 
potentados locais. Os farmacêuticos José Borges e Pedro 
Xavier de Assis – este último o Mestre Pedro, muito querido 
da comunidade e que, além de boticário, era professor e 
erudito – cuidaram do atendimento aos doentes. Nisso, 
tiveram o auxílio econômico do Dr. Gravatá e dos 
fazendeiros José Nogueira Duarte e José Belém. 
Apenas em 1949, há registro da inauguração de um posto 
de saúde em Betim pelo governador Milton Campos. Este 
posto, que ficou conhecido como Unidade Central Dr. Hacketi 
(porque está localizado na rua homônima), localizado onde 
hoje está o Centro de Referência em Saúde Mental de Betim 
(CERSAM), marcou o início da prestação de serviços em saúde 
de maneira mais regular em Betim. O posto era mantido pelo 
Estado, que, até a década de 70, inaugurou outros postos, 
no Angola, no PTB e em Vianópolis. Além destes, Betim 
contava com o complexo de saúde da Colônia Santa Isabel, 
cuja principal unidade era o Hospital Orestes Diniz5, para 
 
5
 Inaugurado em 1932, o Hospital Dr. Orestes Diniz contava com uma 
estrutura admirável, devido à atenção dedicada à hanseníase pelas 
autoridades sanitárias nos anos 30, e ainda em 1988 contava com 56 
leitos. Após a desativação da Colônia, o hospital poderia ter sido 
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3
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atendimento principalmente dos internos e de seus parentes 
que foram se instalando nas redondezas. 
Nos anos 70, a Prefeitura Municipal de Betim inicia 
ações próprias no campo da saúde, inaugurando seu primeiro 
posto de saúde, localizado na Rua Rio de Janeiro, com um 
médico e um dentista, que atende prioritariamente aos 
funcionários da própria Prefeitura. A população 
propriamente dita ficava aos cuidados dos postos mantidos 
pelo Estado e pelo INAMPS. 
Em 1978, foi inaugurada a FAMUB (Fundação Municipal de 
Urgência de Betim), primeira unidade de saúde municipal a 
adotar o conceito de atendimento do urgência. Nessa mesma 
época, foi criado o primeiro Código Sanitário de Betim, que 
disciplina questões relativas à poluição, ao saneamento 
básico e ao funcionamento adequado, do ponto-de-vista 
sanitário, das empresas de Betim. Esse código vigora até 
hoje em Betim. 
Em 1983, um evento externo provocou intensa 
reordenação da prestação de serviços em Betim: a criação 
das Ações Integradas de Saúde (AIs). As AIs representaram a 
parceria entre as esferas municipal, estadual e federal 
para a atenção à saúde. Em conseqüência disso, o setor da 
saúde em Betim foi progressivamente adotando uma linguagem 
mais consistente e neste início de década criou-se um 
departamento de defesa do meio ambiente na Secretaria de 
Saúde (CODEMA), inaugurou-se o posto do PTB e a primeira 
policlínica de Betim, Alcides Braz, que trazia uma nova 
concepção em saúde pública – o atendimento em 
especialidades médicas. Também desta época datam os 
gabinetes odontológicos escolares, abertos com recursos de 
um convênio com a Fundação de Assistência ao Estudante 
(FAE). 
 
acionado pela população de Betim, mas o estigma da hanseníase fez com 
que isso nem fosse considerado pelos cidadãos. 
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3
9 
Entre 1985 a 1988, foi elaborado o primeiro plano de 
saúde do município, com um diagnóstico bastante acurado do 
setor. O plano, denominado Modelo Assistencial para o 
Município de Betim, detectava a ausência prática de um 
sistema de saúde capaz de absorver a demanda local. Betim 
contava então com cinco unidades de saúde mantidas pelo 
Estado e nove mantidas pelo município, e oplano previa 
ampliar o sistema para vinte e duas unidades, inclusive com 
a construção do hospital municipal e a municipalização das 
unidades do Estado. 
A organização sistêmica, que só se efetivaria nos anos 
90, já estava delineada neste plano, que previa a 
especialização de cada unidade em um tipo de atenção à 
saúde e o funcionamento dos encaminhamentos por referência 
e contra-referência6. Nem tudo o que se vislumbrou no plano 
foi implementado, mas houve significativo avanço da atenção 
básica à saúde no município, com a criação de programas de 
saúde para a mulher, a criança, hipertensos e diabéticos. 
Houve a implantação de mais três policlínicas e seis postos 
de saúde. 
Ao final dos anos 80, Betim enfrentou uma situação 
conflituosa no campo da prestação de serviços em saúde: o 
Hospital N. Sra. do Carmo, fundado por sociedade 
particular, enfrentava dificuldades financeiras, razão pela 
qual foi desativado. Houve grande comoção da comunidade, 
devido à cidade não ter unidade hospitalar. Em novembro de 
1989, o hospital foi reativado, com subvenções municipais. 
Foi nesse momento que a Prefeitura Municipal começou a 
negociar o convênio que viabilizaria a construção do 
primeiro hospital público de Betim. Essa construção começou 
já no início da década de 90, quando também se construiu a 
 
6
 Quando o usuário entrasse em qualquer unidade, esta teria a 
responsabilidade de encaminhá-lo ao atendimento adequado, quando a 
necessidade do usuário não fosse da competência da unidade. 
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0 
maternidade pública municipal e se negociou com as 
instâncias estadual e federal para que Betim pudesse 
assumir a gestão semi-plena de seu sistema de saúde, o que 
aconteceu em 1993. 
Os anos 90 foram o período de implantação e 
consolidação de um sistema de saúde em Betim. Em 1994, 
levantamentos diagnósticos apontavam que o princípio da 
descentralização ainda não havia sido efetivado e que nem 
os servidores da saúde nem os usuários consideravam o 
atendimento em saúde satisfatório. A Prefeitura elaborou o 
Plano Municipal de Saúde para 1995-6, que adota os 
seguintes princípios orientadores para a saúde municipal: 
acesso, acolhimento, vínculo7, autonomia e resolutividade8. 
O principal problema a ser enfrentado era o do 
relacionamento do profissional de saúde com o usuário em 
estado de sofrimento. 
Houve diagnóstico do perfil da saúde da população 
betinense. As doenças respiratórias respondiam pela maior 
parte dos atendimentos na rede pública, decorrência do 
clima e da poluição atmosférica. Das conclusões gerais 
desse diagnóstico, decorreu que o governo deveria investir 
prioritariamente sobre as doenças parasitárias, sobre a 
hanseníase, a saúde mental e as doenças cardiovasculares – 
hipertensão à frente. A saúde bucal do betinense também 
deixava a desejar: de cada usuário atendido pelo sistema, 
era encontrada uma média de cinco dentes afetados, um 
índice semelhante ao da população nordestina na mesma 
época. 
 
7
 Sentir-se ligado ao sistema durante todo o tempo do tratamento, sem 
precisar demandar acesso em cada instância. 
8
 Alta capacidade de resolução do problema de saúde que gerou a 
demanda. 
 
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O diagnóstico revela que o município já havia atingido 
uma boa cobertura vacinal; a situação do saneamento básico 
ainda era crítica: 80% desta contavam com abastecimento de 
água, mas apenas 29% tinham acesso à rede de esgoto; a 
coleta de lixo, tanto a domiciliar quanto a de resíduos 
hospitalares, acontecia três vezes por semana, sendo que 22 
bairros não tinham coleta. 
A rede física de saúde de Betim foi praticamente toda 
reformada e construída segundo o padrão das políticas de 
saúde pública. O atendimento em três níveis (básico, 
secundário e terciário), sonhado desde meados da década de 
80, realizou-se nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), nas 
UAI (Unidades de Atendimento Imediato) e no Hospital 
Regional e Maternidade Pública Municipal. O atendimento nas 
especialidades médicas passou a ser feito na Unidade Divino 
Braga, foram criados os Centros de Referência em Saúde 
Mental do Centro e do Teresópolis (o primeiro já existia 
embrionariamente) e o Centro de Referência em Saúde Mental 
Infantil, além do Centro de Convivência Cazuza, para as 
DST/Aids. 
Foram municipalizadas as unidades de saúde mantidas em 
Betim pelo Estado, por força do processo de municipalização 
nacional mesmo, e, em 1998, a Secretaria de Saúde assumiu a 
gestão plena do sistema de saúde local. Ainda no começo da 
década, ocorreu o primeiro concurso público na área da 
saúde em Betim. 
Nos anos 2000, o sistema de saúde de Betim tem sido 
reconhecido com repetidos prêmios extra-municipais. Isso 
significa que está à frente do que se pratica em muitos 
municípios do país, mas não que tenha atingido um nível 
satisfatório de atendimento. Os principais problemas estão 
em que a procura por serviços públicos de saúde supera em 
muito a capacidade de absorção do sistema e em que a 
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4
2 
política de saúde não é assumida política e 
profissionalmente pela totalidade dos servidores. 
Apesar dos problemas, os indicadores da saúde em Betim 
estão hoje em alto patamar. As condições de saneamento 
básico, que se refletem diretamente na saúde da população, 
alcançaram os seguintes índices em 2000: 96,18% da 
população eram atendidos pela rede de abastecimento 
hídrico, 69,21% contavam com rede de esgoto e 95,22 eram 
atendidos pelo serviço de coleta de lixo. 
Caiu significativamente a incidência de doenças 
reversíveis pelo investimento no setor de saúde. A 
mortalidade geral está em 4,8 pessoas por cada mil nascidas 
vivas e a mortalidade infantil baixou de 54,3 para 16,6 por 
mil nascidas vivas em 15 anos. Em 2002, Betim alcançou o 
índice de 3,01 consultas médicas por habitante/ano, acima 
do recomendado pelo Ministério da Saúde (2 a 3 consultas 
por habitante/ano). 
A expansão da rede de saúde teve continuidade, 
paralelamente ao investimento em humanização. Novas 
unidades de saúde foram implantadas: Centro de Referência 
em Habilitação “Anderson Gomes de Freitas”; Centro de 
Convivência “Estação dos Sonhos”, para pacientes da saúde 
mental; Casa Lar, no Angola, que é um lar abrigado para 
pacientes aposentados da saúde mental; finalmente, foi 
inaugurada a nova UBS Teresópolis. 
 
3.5. Educação 
Setores da localidade de Capela Nova do Betim começam 
a se organizar para reivindicar instrução escolar formal em 
1832. Em 1838, começa a funcionar a primeira escola de 
instrução primária (uma “aula”) ministrada pelo professor 
Francisco de Paula Rodrigues. Esta primeira instituição 
escolar chamou-se Escola da Capela Nova de Betim, criada 
por portaria de 18 de fevereiro de 1838. 
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4
3 
Os primeiros professores, depois do pioneiro, foram: 
José Gonçalves do Amaral, Francisco de Paula Rodrigues 
Júnior, que teve uma carreira de 15 anos no magistério de 
Betim, até se aposentar, João Gonçalves Martins, que sofreu 
boicote da população capelanovense, inconformada com a 
saída de Francisco Júnior, Joaquim Primo da Rocha, Augusto 
César Neves Murta, Joaquim Antônio da Fonseca, Symphronio 
de Souza e Silva e Pedro d'Assis Xavier e Paula Júnior, o 
Mestre Pedro, considerado o mais erudito professor 
capelanovensedesta primeira “safra”. 
As primeiras professoras foram Maria Augusta das Dores 
Maia, Amélia Zeferino de Freitas Moreira, Rita Carolina de 
Jesus, professora leiga, que assumiu a cadeira feminina em 
1882, ministrando um ensino mais intuitivo e sendo, por 
isso, questionada pela inspetoria, que já exigia formação 
técnica para professores. Ao longo do século XX, Betim 
conheceu outras educadoras tradicionais para a memória 
local, já num contexto de feminização do magistério. A mais 
conhecida delas, Josephina Bento nasceu em Ouro Preto, 
1903, onde estudou. Em Betim, lecionou primeiro em Santo 
Afonso (1926-1929), e depois no Afonso Pena (1929-57), onde 
se aposentou. 
Em 1850, é criada uma cadeira de ensino masculino de 
primeiro grau em Betim o que aumenta a escolaridade de 
alguns betinenses para o equivalente aos oito anos de 
escolaridade obrigatória atuais. A cadeira só foi ocupada 
em 1853, por Francisco de Paula Rodrigues Júnior, filho do 
primeiro professor. A demora no preenchimento do posto se 
deveu ao fato de que havia poucos professores qualificados 
e o concurso necessário para preencher as vagas era muito 
rigoroso. Em 1854, dos 130 alunos matriculados na aula de 
Francisco de Paula Rodrigues, apenas dois eram mulheres. 
A legislação brasileira determinava a existência de 
instrução formal feminina a partir de 1867 e, 
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4
4 
anteriormente, já permitia o ensino misto, que era 
rejeitado pelos pais. Por isso, Antônio D'Assis Martins, 
quando deputado, solicitou escola feminina para Betim 
(1872). 
A partir de 1886, ocorrem ações de descentralização do 
acesso ao ensino: é criada uma cadeira de ensino elementar 
em Pimentas; em 1890, cria-se a cadeira de ensino do 
Engenho Seco; em 1901, o mesmo ocorre na localidade de 
Jacaré. Em 1921, surge a primeira escola mista de Betim, em 
Bandeirinhas, seguida, em 1933, pela escola mista de 
Vianópolis. Estas escolas foram os primeiros núcleos das 
atuais E. M. Barão do Rio Branco e E. M. José Salustiano 
Lara. 
Nos anos 40, proliferam escolas rurais e nos bairros 
mais populosos, e surge a primeira escola noturna, no 
bairro PTB, núcleo da atual E. M. Raul Soares. O surgimento 
desta última escola não é fortuito: o bairro PTB nasceu 
como bairro operário, e sua população, conseqüentemente, 
demandava uma escolarização fora dos horários de trabalho. 
Em 17 de julho de 1910, foi inaugurado o primeiro 
grupo escolar de Betim, criado por Decreto de 02/01/1910, 
que recebeu a denominação de Grupo Escolar de Capela Nova, 
depois Conselheiro Afonso Pena, e instalou-se no prédio 
onde hoje está o Museu Paulo Gontijo. A construção do 
primeiro prédio deu-se pelo consórcio de recursos públicos 
e privados. 
Em 1957, instala-se em Betim a Fundação Nossa Senhora 
do Carmo, responsável pelo primeiro ginásio betinense, o 
Ginásio Nossa Senhora do Carmo de Betim, núcleo da atual E. 
E. Nossa Senhora do Carmo, então instituição de caráter 
privado, isto é, mantida pelas mensalidades dos alunos. 
O segundo Ginásio, primeiramente denominado Lia 
Salgado, foi inaugurado em 1958 pela Professora Haydée 
Matos Martins, funcionando provisoriamente e sendo mantido 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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pela Fundação Padre Rocha. Em 1964, D. Lia Salgado, esposa 
do então governador de Minas Gerais, utilizando uma verba 
da qual as primeiras-damas dispunham para fomentar a 
cultura, construiu um novo prédio para o Ginásio, que 
recebeu o nome de Clóvis Salgado, permanecendo sob a 
responsabilidade do Estado até os anos 2000, quando foi 
municipalizada. O antigo prédio dessa escola continuou 
abrigando instituições educativas e culturais, até a 
atualidade, quando ali funciona a Biblioteca Pública 
Municipal. 
O Colégio Estadual de Betim iniciou suas atividades em 
1965, com 430 alunos, tendo como principal expoente da 
equipe de fundadores o professor Raphael Martins. 
Denominado posteriormente Colégio Normal Oficial de Betim, 
devido a ter instalado o Curso Normal para formação de 
professores, em 1975, o Colégio tinha 1.300 alunos e 45 
professores. 
O primeiro ginásio municipal, denominado Ginásio 
Municipal de Betim, hoje Escola Municipal Raul Saraiva 
Ribeiro, foi criado em 1969 e mantido por recursos públicos 
e privados visto que, naquele período, era incomum que 
municípios mantivessem ginásios. Funcionou em seus dois 
primeiros anos no antigo prédio do Grupo Escolar, tendo sua 
sede própria, onde se encontra até a atualidade, inaugurada 
em 1972. Em 1975, lei municipal mudou o nome da instituição 
para Autarquia Escola Municipal Raul Saraiva Ribeiro, o que 
lhe permitia oferecer séries além do primeiro grau. 
A primeira grande iniciativa de ensino 
profissionalizante em Betim foi o Centro Educacional de 
Betim, construído pela Legião dos Oblatos de Cristo 
Sacerdote e Nossa Senhora das Vitórias, instituição sediada 
em Lagoa Santa. A instalação da escola em Betim deu-se 
graças à doação de terreno pela Prefeitura em 1957 e à 
liberação de uma grande soma pelo Ministério da Educação e 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Cultura. É interessante observar que essa iniciativa foi 
contemporânea da industrialização em Betim e certamente 
tinha em vista a qualificação profissional para a 
indústria. Porém não teve sucesso e o prédio foi assumido 
pelo município. 
Outra importante iniciativa de ensino 
profissionalizante foi o Colégio Comercial Betinense. 
Criado em 1963 e inaugurado em 1964, com 25 alunos, ocupou 
o antigo prédio do Grupo Escolar. 
A primeira escola de educação infantil de Betim foi 
instalada em 1959, em terreno doado pela Prefeitura, e 
recebeu o nome de Jardim de Infância Menino Jesus de Betim, 
instituição privada. Em 1964, foi fundada a Escola Nossa 
Senhora da Assunção, instituição privada, por Ester 
Assunção, discípula de Helena Antipoff, para atender 
pessoas com deficiências. 
As décadas de 70, 80 e 90 constituíram, 
principalmente, um período de expansão e busca da 
universalização do acesso à escola básica em Betim. O 
processo de municipalização fez com que a Rede Municipal 
ultrapassasse, em extensão, a Rede Estadual. Praticamente 
universalizados o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, 
Betim agora trabalha os seguintes desafios: universalização 
da Educação Infantil; correção do fluxo dos estudantes no 
sistema, combatendo a reprovação e a evasão; elevação da 
qualidade do ensino, buscando, nesse momento, a 
alfabetização de todos os estudantes. 
 
3.6. Cultura 
 
Os registros sobre a vida cultural em Betim são 
escassos para períodos anteriores ao século XX, exceto 
quanto à vida religiosa. Esta, predominantemente articulada 
ao catolicismo, foi intensa e bastante bem registrada. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Graças a isso, preservaram-se os primeiros registros 
relativos à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e a suas 
atividades desde 1814. 
Embora não haja registros sistemáticos ainda, sabemos 
que as folias de reis também eram importantes 
manifestações, queridas e lembradas pela população. A Folia 
de Reis de Santo Afonso, uma das primeiras a ser estudada 
na cidade, remonta a 1920. 
Nas primeiras décadas do século XX, a cidade já 
contava com uma vida cultural mais secular, a exemplo de 
salas de cinema, sendo a primeira delas mantida por Thiers 
do Bom Conselho, na atual Rua Dr. Gravatá, e a mais 
importante delas, localizada na atual Praça Tiradentes, foi 
mantida pela família Marcelinoaté as últimas décadas do 
século XX. O cinema constituía uma efervescência em seu 
entorno, enquanto se esperavam as sessões, promovendo o 
encontro entre os jovens. 
Em meados do século XX, na atual região central da 
cidade, a vida cultural estava muito articulada a dois 
tradicionais clubes desportivos e sociais: o Industrial e o 
Vera Cruz. Estes mantinham sedes no centro e promoviam 
concorridos bailes, além de movimentarem a população, 
dividindo-a em torcidas para os times de futebol, ativos e 
importantes até a atualidade. 
Também o carnaval foi uma importante manifestação 
cultural em Betim, entre as décadas de 70 e 90, 
especialmente na configuração dos blocos carnavalescos e 
das escolas de samba. O primeiro concurso de escolas de 
samba em Betim aconteceu em 1977, tendo como participantes 
os times Industrial, Democrata, Sete e São Cristóvão, e a 
Escola Raul Saraiva. O Sete sagrou-se campeão. Nos próximos 
concursos, foram campeões: Capela Nova (1978), Sete (1980), 
Cartolas (1981), Arco-Íris (1982), Capela Nova (1987) e 
Sete (1990). 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Os núcleos carnavalescos pioneiros, também os 
primeiros a se organizarem em escolas de samba, foram Os 
Cartolas, os Unidos do Samba Sete, os Unidos de Citrolândia 
e a Arco-Íris. Já no final dos anos 70, estes grupos 
movimentavam, por iniciativa própria, o carnaval da cidade. 
O bloco carnavalesco mais tradicional da cidade é o 
Virgens do Rodô, fundado por sócios do Clube Atlético 
Rodoviário, também um dos pioneiros do município. Criado em 
1984 e ativo desde então, o bloco explora o humor através 
do desfile de homens vestidos de mulheres. 
Um importante lugar de cultura em Betim, em meados do 
século XX, foi a então Colônia Santa Izabel. Fundada nos 
anos 1930 para segregar pessoas atingidas pela hanseníase, 
estas ali articularam importantes manifestações culturais, 
também estimuladas pela concepção urbanística da colônia e 
pelos equipamentos públicos disponíveis. A vivência da 
música, do teatro e do cinema no Cine Teatro Glória é muito 
lembrada. Clubes de futebol também ali se desenvolveram, 
assim como despontaram na colônia importantes artistas 
plásticos e compositores. 
O Coral Tangarás de Santa Izabel é o mais antigo grupo 
cultural da colônia ainda ativo. Fundado em 1936 e ligado à 
Paróquia de Santa Izabel, começou como uma iniciativa do 
Frei Chico (Francisco Van Der Poel), possuindo hoje fortes 
raízes comunitárias. O coral mantém uma média de 40 
cantores entre 16 e 70 anos e possui um acervo de cerca de 
200 partituras, entre elas várias compostas por 
compositores da própria colônia, além dos instrumentos que 
o acompanham. 
Um dos mais importantes e antigos grupos culturais da 
cidade tem sido a Corporação Musical Nossa Senhora do 
Carmo, tradicional banda de música, fundada em 1903. 
Passando por importantes mudanças conceituais ao longo do 
último século, a banda continua abrilhantando os principais 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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eventos públicos no município e é fartamente premiada nos 
encontros de grupos afins em diversas regiões de Minas 
Gerais e do país. 
Há cerca de 50 anos, surgem os dois principais centros 
de cultura privados radicados no município: o Salão do 
Encontro e a Missão Ramacrisna. Implantados nas comunidades 
da Regional Norte e da Regional Vianópolis, 
respectivamente, têm ali desenvolvido importantes 
atividades de articulação e formação das comunidades. Ambos 
alcançaram projeção internacional. 
A partir dos anos 80, a Prefeitura Municipal começa a 
desenvolver políticas públicas na área da cultura. É criada 
a Fundação Artístico Cultural de Betim e seu primeiro 
centro cultural, a Casa da Cultura Josephina Bento. Ao 
longo dos anos 90 e 2000, a Funarbe expande suas ações no 
território municipal, mantendo atualmente onze centros 
culturais, entre bibliotecas e centros de formação e de 
memória. É também nesse momento que a cidade cresce 
demograficamente e diferentes grupos e manifestações 
culturais ganham visibilidade. Surgem, por exemplo, o Coral 
da Casa da Cultura (1988) e depois o Coral Canto Livre, a 
Associação Betinense de Letras (1986) e a Companhia de 
Dança Para-folclórica Capela Nova (1991). A importante 
atividade de produção artesanal da cidade é organizada em 
feiras, uma política ainda descontínua, mas bastante 
visível na cidade nas últimas décadas. Emergem as grandes 
festas populares organizadas pela Prefeitura Municipal, a 
exemplo do Betim Rural e da Feira da Paz. Multiplicam-se 
casas noturnas, bares e centros culturais privados, onde a 
cidade vive a sua sociabilidade. 
 
3.7. Santo Afonso e a Região Vianópolis: epicentro 
geográfico da Folia 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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As mais remotas notícias da ocupação da região em que 
nasceu a Folia de Reis do Bairro Santo Afonso remetem ao 
século XIX. É possível que, já no século XVIII, grandes 
fazendas da região, como a antiga Fazenda Ponte Nova e a 
Fazenda Santo Antônio, participassem do abastecimento das 
Minas coloniais. No interior da primeira, inclusive, 
desenvolveram-se equipamentos públicos, como capela, 
cemitério, escola, estação de trem e centro comercial. 
É possível que o primeiro núcleo urbano da hoje Região 
Vianópolis tenha sido mesmo o atual Bairro Santo Afonso, à 
época chamado Povoado do Buraco. Formado a partir de 
antigos moradores da Fazenda Santo Antônio, este povoado 
era a principal referência urbana da região, além da 
Fazenda Ponte Nova, até por volta da década de 20, quando a 
inauguração da Estação Ferroviária Melo Viana, localizada 
no atual centro urbano do Bairro Vianópolis, e a abertura 
da rodovia MG 050 tornou este último bairro o mais 
relevante como núcleo de povoação. 
No povoado do Buraco, erigiu-se um cruzeiro em torno 
do qual se davam as atividades sócio religiosas da 
comunidade. Por volta da década de 30, erigiu-se uma Capela 
nas imediações do cruzeiro, sendo esta dedicada a Santo 
Afonso, cuja devoção não era tradicional na comunidade, mas 
era uma escolha de um dos membros de sua elite, que doou a 
imagem. Aos poucos, o povoado passou a ser chamado Buraco 
de Santo Afonso, e depois apenas Santo Afonso. 
A relevância desse povoado nas primeiras décadas do 
século XX é evidenciada pelo fato de esta ser uma 
comunidade-pólo das celebrações católicas, juntamente com a 
Capela de São José/São Sebastião da Fazenda Ponte Nova. O 
vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, Padre Osório 
Braga, ia a cavalo celebrar no povoado, com grande cortejo, 
atraindo toda a vizinhança. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Depois que se formou um núcleo urbano na localidade de 
Moreiras, hoje bairro Vianópolis, após a inauguração da 
Estação Ferroviária Melo Viana e da rodovia estadual MG 
050, Santo Afonso perdeu sua relevância regional. Ainda há 
vestígios de seu período áureo na arquitetura local, a 
exemplo de sedes de fazendas, antigos estabelecimentos 
comerciais e organizações religiosas. Hoje, porém, o lugar 
é como um retiro no interior da cidade. 
 
 
4. A FOLIA DE REIS DO 
BAIRRO SANTO AFONSO – 
UMA HISTÓRIA 
 
Ainda não há pesquisas aprofundadas sobre a história 
das folias em Betim. A memória dos mais ativos líderes das 
últimas folias da cidade, a exemplo do Sr. Odorino Avelino 
Siqueira, remetem a Joaquim Maximiliano o pioneirismo desta 
manifestação em Betim. Em meados do século XX, Joaquim 
Maximiliano faleceu, aos 96 anos, ainda como “embaixador”de sua folia. Isso remete as origens de seu grupo aos 
meados do século XIX. Desde então, entre as décadas de 1930 
e 1970 do século passado, emergiram outros grandes foliões, 
como João Belarmino, Joaquim Nicolau, Antônio Pinto de 
Carvalho, José Arésio, José Ventura e o próprio Odorino, 
que eram também profundamente ligados às tradições do 
Rosário. Um exemplo da atividade das folias nessa época é 
que a Igreja de São José Operário, no Bairro Cachoeira, foi 
construída com recursos arrecadados pela folia, assim como 
aconteceu, nos anos 80, com a Folia de São Sebastião de 
Pimentas, que contribuiu ativamente para a construção da 
capela local. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Entre os anos 70 e 90, Betim chegou a sediar encontros 
de folias, alguns deles com fomento público, já na 
perspectiva de revitalizar uma manifestação em 
desaparecimento. Porém, os líderes foliões foram 
progressivamente perdendo seus grupos, pelo envelhecimento 
e morte, pela conversão a outros credos, entre outros 
fatores. Muitos deles participam de encontros de folias nos 
municípios vizinhos, como São Joaquim de Bicas e Santa 
Terezinha de Minas, distrito de Itatiaiuçu, e também 
integram grupos de música caipira, como forma de manter os 
antigos laços de sociabilidade. 
A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso está em 
atividade pelo menos desde a década de 1920. Segundo 
informações do atual mestre-da-folia, Sr. Osmar Gonçalves 
Diniz, a memória do grupo chega até seu bisavô, o Sr. Chico 
Campestre, que foi seguido na liderança da folia pelos 
ancestrais Joaquim Nicolau (anos 1940, aproximadamente), 
Antônio Izidoro, Milton Pedro Cândido (lembrado 
carinhosamente como Tio Hamilton ou Tio Milton) e, agora, o 
Sr. Osmar. Conta o Sr. Osmar que, em sua infância, no final 
dos anos 40 e início dos 50, os foliões saíam de casa no 
dia 25 de dezembro e só retornavam no dia 06 de janeiro, 
dormindo em sedes de fazenda e até em meio a milharais, 
exaustos de tanto dançar. O sacrifício e o sofrimento 
faziam, então, parte do conceito da folia, como nos mostra 
Eloísa Brantes (2007), que estudou uma folia na qual cada 
saída ainda pode durar 27 horas ininterruptas. 
Nas décadas de 50 a 70, a Folia viveu curtos episódios 
de desativação, geralmente pela morte de um líder e a 
conseqüente transição da liderança, sendo o período mais 
longo de inatividade o compreendido entre a saída de 
Antônio Izidoro e a ascensão de “Tio Hamilton”. 
Em 1978, estando a Folia desativada, e tendo começado 
no Brasil as discussões sobre o Ano Internacional da 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
5
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Criança (1979), a família Gonçalves Diniz, com destaque 
para Eduardo Gonçalves Diniz e outros líderes da comunidade 
de Santo Afonso, resolveu fazer uma festa de Natal para as 
crianças. Foram levantados donativos na comunidade, sendo a 
principal contribuinte uma fábrica de brinquedos de 
Matozinhos. Muitos brinquedos foram angariados e sorteados 
entre as crianças, sendo a festa um sucesso. 
Nessa ocasião é que surgiu a idéia de reativar a Folia 
de Reis, para encampar a festa de Natal das crianças, nos 
anos seguintes. “Tio Hamilton”, então, assumiu a liderança 
da Folia, que até hoje reverte parte das oferendas 
arrecadadas para presentear as crianças. 
Durante a década de 80, os foliões mais ativos e 
líderes de todo o grupo, juntamente com “Tio Hamilton”, 
foram: Antônio Lúcio (cavaquinho e voz), Geraldo Lírio 
(violão e voz); José Lúcio (caixa e cantos dos palhaços); 
Ermínio (sacoleiro da Folia, o que recebia as oferendas) e 
Tarcísio (caixa e voz). 
“Tio Hamilton” é o ancestral de mais cara memória para 
os foliões atuais. Detinha uma propalada habilidade de 
versejar e conhecia profundamente os fundamentos da folia. 
Preparou seus continuadores, o sobrinho Osmar, atual 
mestre-da-folia, e também o principal cantador, Enderson 
“Liquita”. Após o seu falecimento, em novembro de 2004, 
embora tenha recomendado a continuidade da Folia, esta 
deixou de “sair” naquele ano, devido ao luto, voltando à 
atividade no final de 2005. No ano de sua morte, “Tio 
Hamilton” indicou os que deveriam continuar a sua obra. 
Os foliões também guardam histórias sobre a confecção 
artesanal de seus instrumentos. A caixa mais antiga de que 
os foliões se lembram era feita com couro de boi e sua 
afinação foi feita com cipó. O mais antigo reco-reco de que 
se lembram foi feito com bambu. Os foliões, durante o 
processo de registro da Folia, fizeram uma réplica daquele 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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antigo reco-reco de bambu para que a equipe de pesquisa o 
registrasse em fotografia. A folia, assim, rememorou. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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5. A FOLIA DE REIS DO 
BAIRRO SANTO AFONSO E 
SUA RELAÇÃO COM O 
MUNICÍPIO DE BETIM 
 
 
A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso, até por sua 
localização geográfica, numa das extremidades do território 
municipal, e também por sua característica de manifestação 
tradicional residual, tem escassas relações com o Município 
de Betim em sua globalidade. Essa relação tem acontecido 
especialmente através das mídias locais que, no ciclo da 
folia, 25 de dezembro a 06 de janeiro, principalmente, 
procura remanescentes dessas manifestações para a 
elaboração de matérias ilustrativas das datas e fenômenos 
comemorativos. E, sendo a Folia de Santo Afonso a mais 
ativa de que se tem notícia no território municipal, ela se 
torna uma das mais procuradas. 
A Folia é, ainda, independente do poder público 
municipal no que diz respeito ao financiamento. Tem 
autonomia organizativa, não sofrendo intervenções na 
montagem da manifestação, como acontece com outras 
manifestações tradicionais, a exemplo do Reinado de Nossa 
Senhora do Rosário (congado). 
Eventualmente, a Folia de Santo Afonso participa de 
eventos relacionados à cultura do Município, como encontros 
de folias, realizados esporadicamente nos anos 90 e 2000. A 
atuação desta Folia tem cunho regional – na Regional 
Administrativa Vianópolis – onde é conhecida e requisitada 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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por muitos, e sua relevância para o registro como 
patrimônio cultural do Município se dá, não necessariamente 
por ser reconhecida em todo o território municipal, mas por 
ser um remanescente forte da cultura foliã. O 
reconhecimento e fomento desta folia pode lhe garantir 
abrangência municipal, para que sirva de referência e 
incentivo a outras manifestações foliãs. 
6. DESCRIÇÃO DOS 
LUGARES E SUPORTES 
FÍSICOS E AGENCIAMENTO 
DO ESPAÇO PARA A 
ATIVIDADE 
 
A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso tem como sedes 
a casa do mestre-da-folia, Osmar Gonçalves Diniz, situada à 
Rua Governador Valadares, n. 415, no Bairro Santo Afonso, 
em Betim. Ali ficam guardados os objetos da folia, 
especialmente a indumentária dos palhaços, as bandeiras e 
os instrumentos. Ali se reúnem os foliões, por volta das 
19h de cada dia, entre 26 de dezembro e o primeiro sábado 
após o dia de reis, 06 de janeiro, para as visitas diárias. 
A casa do Sr. Osmar é uma edificação térrea, ampla, 
com sala, cozinha e varandas amplamente freqüentadas pelos 
foliões. Está implantada num conjunto de dois lotes, num 
dos quais se encontram as ruínas da antiga casa das 
professoras da comunidade, construída pelo governo do 
Estado para abrigar as mestras designadas pelo serviços 
público estadual que prestavam serviçosem Santo Afonso, 
num período em que as professoras formadas em escolas 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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normais ainda eram raras e disputadas. No mesmo terreno, 
vive sua filha Patrícia e seu genro Giovanni, ambos 
profundamente envolvidos com a Folia e seus anfitriões. 
O amplo terreno onde está implantada a casa do Sr. 
Osmar permite que várias dezenas de foliões se concentrem a 
cada dia do ciclo da folia, para ensaios e estreitamento 
das relações. A concentração começa ao anoitecer e a Folia 
costuma sair entre 20h e 20h30. 
Esta folia não mais faz giros ininterruptos e não mais 
bate à porta dos moradores para realizar visitas. As 
visitas são agendadas diretamente com o mestre-da-folia, e 
os foliões seguem em seus carros quando o destino é os 
bairros vizinhos, Marimbá, Pimentas, Açude, etc. Apenas 
quando as visitas acontecem no próprio bairro Santo Afonso, 
na Rua Governador Valadares, os foliões vão a pé. 
Os bairros da Regional Vianópolis podem ser 
caracterizados como um mix de rural e urbano. Ela constitui 
parte do cinturão verde de Betim e seus núcleos urbanos, as 
sedes dos bairros, são dispersos. Há muitas áreas de 
fazendas e sítios. O próprio Bairro Santo Afonso é muito 
extenso, por isso suas diversas regiões são denominadas 
especificamente pela população; é o caso de Barro Branco e 
Cana Velha. 
A maioria das casas visitadas pela Folia de Reis do 
Bairro Santo Afonso, conforme se observou nos anos 
2009/2010 e 2010/2011, está localizada nos núcleos urbanos, 
especialmente no Bairro Santo Afonso e no vizinho contíguo, 
Marimbá. Neste último ciclo, a Folia visitou quarenta e 
duas casas da região, restando ainda muitos convites não 
atendidos. 
Tanto na casa do mestre-da-folia, quanto na casa 
visitante, o presépio é o pólo de atenção da Folia. Esta 
folia dá preferência a casas que ainda montam presépios, 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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por esta razão. Estas casas, segundo os foliões, estão cada 
vez mais raras, e foram menos de uma dezena em 2010/2011. 
Em geral, a folia começa sua atividade diária no 
exterior da residência ou instituição a ser visitada, 
especialmente varandas ou halls, se houver. Ali se realizam 
os cantos de entrada. Se houver presépio, o momento 
seguinte da manifestação se dará junto a ele – os cantos de 
presépio. Novamente no espaço mais público, acontecerão as 
negociações entre os palhaços e os anfitriões, para a 
obtenção de oferendas, e também os cantos de despedida e 
agradecimento. 
A Capela de Santo Afonso é um outro lugar-referência 
desta Folia. Nela acontece o “arremate” da Folia, desde sua 
reativação, nos anos 70. A Capela foi construída das 
primeiras décadas do século XX, sendo provável que a Folia 
tenha contribuído para a sua construção. São muito 
recorrentes os relatos de que as folias da região revertem 
sua arrecadação para a construção de capelas comunitárias. 
No “arremate” da Folia, acontece missa festiva, na 
qual os foliões têm participação especial, e depois, no 
galpão de apoio da igreja, uma construção aberta, com 
colunas e telhado, o grupo folião faz seu encerramento, com 
muitos cantos e performances corporais. Cerca de duas 
centenas de pessoas se reúnem para a culminância. 
 
7. A FOLIA DE REIS DO 
BAIRRO SANTO AFONSO – 
FORMATO, CONTEÚDOS, 
NARRATIVAS, 
SIGNIFICADOS 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso tem sua 
abertura, todos os anos, no dia 26 de dezembro, na casa de 
seu mestre, o Sr. Osmar Gonçalves Diniz. Seu evento de 
abertura é uma oração diante do presépio. Diferentemente do 
costume geral das folias, que têm sua abertura em 24 de 
dezembro, a Folia de Santo Afonso prefere dar início às 
suas atividades depois do Natal, para não atrapalhar as 
ceias das famílias. Este é um dos muitos sinais da 
sensibilidade da Folia aos regimes de vida contemporâneos. 
O grupo é composto por um número variável de foliões, 
entre 30 e 60. Entretanto, há um grupo mais fixo, que 
exerce as diversas funções presentes na manifestação 
(músicos, cantores e palhaços), e que soma trinta pessoas; 
a função de palhaço tem grande rotatividade a cada noite, 
havendo na comunidade cerca de vinte jovens aptos a exercê-
la. 
Segue-se uma síntese dos conteúdos e significados das 
diversas funções exercidas na Folia. 
 
Os palhaços 
Três personagens desta Folia vestem, a cada noite, 
“fardas” e máscaras, para viver os “palhaços”: o Velho, o 
Bastião e o Benedito. As fardas são coloridas sendo as mais 
utilizadas, atualmente: a do Bastião vermelha, a do Velho 
“ramalhada” (chita com ramagens graúdas) e a do Benedito 
“chitada” (chita com motivos miúdos)9. O grupo guarda 
 
9
 Os termos entre aspas foram utilizados por D. Maria de Lourdes Benevides Diniz (entrevista em março 
de 2009), e ela se referia a alguns dos conjuntos de indumentárias que a Folia usa hoje. Foram 
observados alguns conjuntos que não observam esse padrão, adotando tecidos sintéticos que, segundo 
relatos ainda de D. Maria (janeiro de 2010), têm sido rejeitados pelos jovens que exercem a função de 
palhaços. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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várias fardas, todas confeccionadas com recursos da 
comunidade. É interessante registrar que D. Maria de 
Lourdes Diniz, esposa do Sr. Osmar, é referenciada com 
respeito pelos foliões, por ser a guardiã das roupas da 
Folia. 
Bastião é a personagem que abre o caminho da Folia; 
ele leva um chicote para afugentar animais que habitem as 
casas visitadas pelos foliões e que os ameacem. Seu nome e 
sua atuação na Folia fazem alusão a São Sebastião, 
considerado, na religiosidade popular, o santo protetor 
contra pragas, pestes e animais peçonhentos. O chicote é 
usado também em uma das principais danças do grupo, a 
“dança do chicote”, e também como forma de assustar 
espectadores que estejam desprevenidos durante as 
evoluções. Esse palhaço usa atualmente uma farda 
inteiramente vermelha, em alusão a um santo mártir, e faz 
voz grossa em suas intervenções. 
O Velho é quem carrega a bandeira da folia, uma peça 
com a representação pintada dos três reis magos junto à 
estrebaria em que está o Menino Jesus, e adereçada de fitas 
e flores; ele apresenta a Folia, conversa com o dono da 
casa para que a receba, ou seja, é o líder da encenação. 
Representa o mais idoso e sábio Rei Mago. Ele é quem 
primeiro dança, e logo faz uma parada abrupta, 
interrompendo também a execução musical, para pedir ao dono 
da casa a primeira esmola da noite. Atualmente, usa farda 
de chita, máscara negra com uma cruz sobre a cabeça e uma 
barba longa, que o identifica como uma autoridade anciã. 
Benedito leva um bastão adereçado com flores, usa 
máscara negra, e, como o Velho, farda de chita. Este 
palhaço é uma alusão a São Benedito e sua presença na Folia 
pode significar o desejo de prosperidade para as famílias 
visitadas, pois o santo referido é padroeiro das mesas 
fartas. O bastão é relatado em outras folias como uma 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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alusão às espadas dos soldados de Herodes, com as quais 
estes defenderam o Menino Jesus das perseguições. E também 
como uma referência ao cajado dos pastores presentes no 
relato tradicional do nascimento de Jesus. 
Na tradição das folias, essas três personagens 
representam os três Reis Magos, o que se revelaespecialmente em suas máscaras: a do Velho é marcada pela 
barba e por uma estrela na testa, representando o mais 
idoso entre os três reis magos; a do Benedito é negra, para 
representar um rei africano, e o próprio São Benedito, que 
é africano; e a do Bastião é amarelada, representando um 
rei do extremo Oriente. Na Folia de Reis de Santo Afonso, 
todos usam máscaras negras, exceto o Pastorinho, que usa a 
máscara amarelada. 
Em algumas folias, a representação dos Reis Magos está 
separada da representação dos palhaços propriamente ditos, 
chamados “Herodes”, conforme nos informou o Sr. Antônio 
Pinto de Carvalho, folião de outra tradição em Betim. Os 
“Herodes” representam os soldados enviados à Judéia pelo 
governante romano homônimo, que queria o assassínio do 
Menino Jesus. Esses soldados, porém, encantados pela 
criança, optam por não matá-la e se disfarçam de palhaços 
para escapar ao ódio de Herodes. Na Folia de Santo Afonso, 
os Reis Magos e os palhaços estão representados nas mesmas 
pessoas. 
Uma quarta figura aparece entre os palhaços na Folia 
de Santo Afonso: um palhaço-criança, chamado “Pastorinho”. 
Isso se deve, segundo o Sr. Osmar Gonçalves Diniz, ao fato 
de que as crianças têm grande participação nesta Folia e 
sempre manifestam o desejo de se vestir como palhaços. 
Assim, essa possibilidade foi aberta pelos foliões mais 
velhos, de forma que, desde cedo, as crianças aprendem as 
tradições e as performances da Folia. Quem introduziu essa 
inovação na Folia foi o próprio Sr. Osmar, nos anos 90, e 
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depois da primeira performance do Pastorinho, o ancestral 
“Tio Hamilton” deu sua permissão para que se continuasse a 
experiência. O primeiro Pastorinho foi Itamar, hoje adulto 
e ainda folião. 
Mateus Diniz, 14 anos, é um dos que exercem a função 
de Pastorinho; ele tem uma pequena sanfona que imita a 
sanfoninha de oito baixos de seu avô, o Sr. Osmar, a quem 
vê tocar na Folia desde os quatro anos de idade. O pequeno 
Luís Otávio já é figura obrigatória entre os palhaços, com 
destacada performance nas danças e brincadeiras; é o 
mascote da Folia de Santo Afonso. Keuller Fernando da Silva 
Souza também está entre os “pastorinhos” da Folia 
atualmente; hoje aos 14 anos, iniciou-se na Folia aos 10, 
não sendo filho de folião. Porém, por ser primo de Liquita, 
acompanha a Folia desde cedo e encantou-se com suas 
performances e brincadeiras. 
Por serem pequenos e leves, os pastorinhos são 
elevados e jogados pelos demais, proporcionando momento de 
alegria e encantamento nesta Folia. 
 
Cantadores e músicos 
 
Além dos palhaços, a Folia de Santo Afonso tem a 
presença dos cantadores, com destaque para Enderson 
“Liquita” e também para a participação das mulheres. 
“Liquita” é o puxador das vozes, sendo “respondido” por 
dois grupos de rapazes e, finalmente, dois grupo de moças. 
Enderson Junior Benevides (Liquita) começou na Folia 
desde o falecimento do “Tio Hamilton”. Sobrinho do Sr. 
Osmar, acompanha a Folia desde criança, passando pelas 
funções de dançante (palhaço), cantador das respostas e, 
finalmente, o principal cantador. Além dessa função, 
Liquita ordena o grupo, corrigindo os palhaços e 
representando a tradição: “Pra mim, é uma religião. Tem 
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gente que vem pela festa, pela batucada, mas aquilo tem que 
representar alguma coisa para você” (entrevista em janeiro 
de 2010). Liquita interpreta os cantos de chegada, presépio 
e despedida e, aparentemente, é o indicado do Sr. Osmar 
para ser seu continuador na liderança da Folia. 
Logo após Liquita interpretar cada quadra dos cantos, 
um grupo de jovens faz a primeira resposta, que repete toda 
a quadra; a seguir, um outro grupo de vozes masculinas, a 
segunda voz, repete apenas o último verso da quadra, o que 
também é feito imediatamente pelas vozes femininas e pelas 
vozes masculinas mais agudas, sendo estas vozes conhecidas 
como “quinta” e “requinta”. 
Os instrumentos em uso na Folia de Santo Afonso são: a 
sanfona de oito baixos tocada pelo Sr. Osmar; o violão e o 
cavaquinho, o reco-reco, dois a quatro chocalhos tipo 
xique-xique, dois a quatro pandeiros, e duas caixas, sendo 
uma delas a caixa-bumbo. Em geral, a Folia sai com quatorze 
músicos. 
Alguns instrumentos são considerados pelos foliões 
como inadequados a essa manifestação, embora apareçam 
ocasionalmente: o acordeom, o tarol e o triângulo, por 
exemplo. 
 
 
O formato 
A cada uma das noites de seu ciclo, a Folia se 
concentra por volta das 19h na casa do Sr. Osmar, após a 
jornada diária de trabalho. A saída se dá por volta de 20 
h, horário em que os foliões chegam do trabalho e reúnem 
familiares para a peregrinação do grupo. 
O Sr. Osmar tem a agenda da noite, a partir dos 
convites que recebe e das casas que tradicionalmente 
visita. Segundo ele, não é mais possível que a folia 
percorra as ruas pedindo para ser recebida porque “as 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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religiões estão muito misturadas hoje” e há pessoas que não 
reconhecem a folia ou a identificam como bagunça 
(entrevista em março de 2009). Apesar disso, sempre restam 
famílias que desejam receber a folia e não há espaço em sua 
agenda, dado que, geralmente, acontecem três visitas por 
noite. 
A Folia se dirige, na maioria das vezes, em automóveis 
próprios até os locais das visitas. Ao chegar, em silêncio, 
ela se organiza em frente à porta. Os palhaços, com a 
bandeira, o cajado e o chicote, postam-se diante da porta. 
O puxador Enderson Liquita e os músicos com sanfona, caixa 
e violões ficam junto aos palhaços, sendo que os músicos se 
postam de frente para Liquita, que conduzirá a execução 
musical. Atrás de Liquita se organizam os grupos de 
cantadores: o primeiro e o segundo vozes masculinas 
(“aduetos”, como diz S. Joaquim, primeira e segunda vozes, 
como diz S. Osmar); e o primeiro e o segundo grupo de vozes 
agudas, a “quinta” e a “requinta”. 
Então, Liquita puxa o canto: “E agora, vamos chegando/ 
pra dentro do seu terreiro/ para cantar e dançar/ Mas 
sentar perto primeiro”. O canto de entrada, composto por 
diversas quadras, é executado até a senha “Abre, abre a sua 
porta/ Abre a sua portaria”, quando o dono-da-casa acende a 
luz e abre a porta. Os palhaços então o abordam, 
perguntando se está disposto a dar “esmola” ao Santo Reis, 
mediante as brincadeiras dos palhaços. Isto combinado, se a 
casa tem presépio, é executado o canto do presépio, mais 
algumas quadras executadas no padrão da Folia. Então têm 
início as danças e brincadeiras dos palhaços. 
As danças são executadas a partir de um segundo padrão 
musical da Folia. O puxador dos cantos é o Sr. Joaquim 
Alves Diniz, que executa quadras irreverentes conforme o 
palhaço a dançar. Enquanto ele canta, o palhaço como que 
“aquece” o corpo. Depois, os músicos da Folia adotam um 
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ritmo forte, de batucada, e então o palhaço executa sua 
dança, procurando ser original e engraçado. Tendo o dono da 
casa apreciado a dança, ele dá uma esmola, geralmente em 
moedinhas, que é depositada pelo palhaço na sacolinha da 
Folia, hoje guardada a cada noite por uma menina. Assim, as 
meninas também têm precocemente a sua iniciação na Folia. 
Os palhaços se apresentam até que se esgotem as 
esmolas do dono da casa. Então, é feito o canto de 
agradecimento, por Liquita, sendo a performance da Folia a 
mesma que se dá no canto de entrada.Em muitas casas, a 
Folia recebe um lanche após a manifestação. De qualquer 
forma, a última casa a ser visitada a cada noite sempre 
está programada para oferecer o lanche. 
O “arremate” ou encerramento da Folia de Reis de Santo 
Afonso acontece no primeiro sábado após 06 de janeiro. Esse 
arremate tem acontecido na Capela local, com barraquinhas e 
leilões, nos quais se vendem algumas das oferendas 
recebidas pela Folia, como garrafões de vinho, cachaça, 
porcos e novilhas. 
No interior das casas visitadas, é desejável que 
esteja montado um presépio, onde a Folia se “ajoelha”. Ou, 
como sintetizou S. Joaquim Diniz, “o destino da folia é 
visitar o presépio” (entrevista em março de 2009). Diante 
dele, acontece o auge da folia, “as vozes se encaixam” e 
alguns espectadores até se assustam com a intensidade da 
manifestação. Assim, a folia está intrinsecamente ligada à 
montagem de presépios nas casas visitadas, uma prática 
ainda presente na região de Vianópolis, mas que vem 
rareando. 
Ainda em relação à importância dos presépios para as 
folias, manda a tradição que os palhaços não se deixem 
identificar durante as visitas. Porém, diante do presépio, 
eles são obrigados a levantar a máscara, em respeito ao 
Menino Jesus. Os palhaços experientes fazem manobras, como 
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6
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se esconder atrás de objetos, para não serem reconhecidos 
nem nesse momento. 
A atividade da folia também depende da sensibilidade e 
conhecimento sobre as tradições foliãs por parte das 
lideranças católicas que atuam na região. O Sr. Osmar 
relata que, no início de 2009, o presépio da Capela de 
Santo Afonso foi desmontado antes do dia do arremate da 
Folia10 e que, por isso, às vezes considera a possibilidade 
de realizar o arremate em sua própria casa. Um folião de 
Santa Terezinha de Minas informou ao Sr. Osmar que o 
encerramento na casa do mestre-da-folia é tradição em 
diversas regiões, o que lhe deu tranqüilidade para 
considerar a possibilidade da mudança. Este episódio 
ilustra bem como se dão as trocas de saberes e experiências 
entre os mestres de folia, contribuindo para a contínua 
renovação da manifestação. 
No início de 2010, o encerramento das atividades 
aconteceu mesmo na Capela e, neste início de 2011, o templo 
se encontra em reforma, tendo a Folia realizado seu 
arremate na residência do Sr. Osmar, e depois apresentações 
públicas e o lanche de encerramento na Escola Municipal 
Alcides Braz. 
É no arremate que as crianças são presenteadas. O dia 
de dar presentes, segundo os foliões, é o dia 06 de 
janeiro, dia em que os Reis Magos presentearam o Menino 
Jesus com ouro, incenso e mirra, e não no dia 25 de 
dezembro, como se convencionou no Natal ocidental. 
As doações à Folia de Reis do Bairro Santo Afonso são 
feitas em dinheiro, havendo um ou outro donativo 
tradicional, a exemplo dos que foram citados como 
leiloáveis. O saldo das oferendas é utilizado para comprar 
 
10
 O presépio da Capela foi desmontado no dia 06, como manda a tradição religiosa, mas o arremate da 
Folia só aconteceu no dia 08, um sábado, dia convencionado pelos foliões de Santo Afonso. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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os presentes das crianças e o restante é confiado à 
Conferência de São Francisco de Assis, também ativa na 
comunidade. 
 
Os cantos 
 
Quem detém os saberes sobre os versos cantados na 
Folia de Santo Afonso é principalmente Enderson Liquita. O 
Sr. Joaquim é normalmente responsável pelo “sapecado”, 
conjunto de versos cantados para a dança dos palhaços, o 
que é uma característica específica deste grupo, não 
necessariamente presente em outras folias; cada palhaço tem 
seu canto específico que, depois de executado, é seguido 
por uma forte batucada, ocasião em que o palhaço desenvolve 
sua performance, sendo o próprio palhaço quem determina o 
fim dos sons. Durante a apresentação dos palhaços, há 
improvisos e a apresentação de versos compostos sobre temas 
variados, que visam o divertimento dos foliões. 
Alguns dos cantos da Folia de Reis do Bairro Santo 
Afonso são: 
 
Cantos de chegada ou de entrada 
 
E agora vamos chegando 
Pra dentro do seu terreiro 
Para tocar e dançar 
E sentar perto primeiro11 
 
Oh, meu nobre cidadão 
 
11
 A estrutura da execução do canto é a seguinte: Liquita (puxador) canta os quatro versos; o primeiro 
grupo de vozes masculinas, chamado de “resposta” ou “adueto”, repete os quatro versos; o segundo 
grupo de vozes masculinas, chamado de “segunda voz” ou “segundo adueto” repete apenas o último 
verso, em timbre grave; as moças que fazem a “quinta” e a “requinta” repetem apenas o último verso, 
agudamente. Duas vozes masculinas agudas participam da quinta e da requinta. 
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Que mora aqui neste fundo 
Receba os Santos Reis 
Para ser feliz no mundo 
 
Oh, meu nobre cidadão 
Que dentro da casa está 
Receba os Santos Reis 
Eles vêm te visitar 
 
Bandeira de Santo Reis 
Ela vem te visitar 
Ela vem tirar esmola 
Para um dia festejar 
 
Santo Reis saiu no mundo 
Visitando rico e pobre 
Retirando a sua esmola 
Cada um dá o que pode 
 
Oh, Senhor dono da casa 
Generoso e singular 
Dá esmola pra bandeira 
Que temos que viajar 
 
Oh, senhor dono da casa 
Generoso e singular 
Dá esmola pra bandeira 
Para nós agradecer 
 
Abre, abre a sua porta 
Abre a sua portaria (3x) 
Receber os Santos Reis 
Filhos da Virgem Maria 
 
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Cantos de presépio 
Ora, vamos, meus pastores! 
Visitar o Menino Jesus que nasceu em Belém. 
(Texto falado por Liquita antes do canto) 
 
Caminhamos, caminhamos 
Para a gruta de Belém 
Visitar o Menino Deus 
Que nasceu para o nosso bem 
 
25 de dezembro 
Esse foi o grande dia 
Nascia o Menino Deus 
Filho de José e Maria 
 
25 de dezembro 
Quando o galo deu sinal 
Nascia o Menino Deus 
Numa noite de Natal 
 
De Jessé nasceu a vara 
Da vara nasceu a flor 
E da flor nasceu Maria 
De Maria o Salvador 
 
 
“Sapecados” – cantos para as brincadeiras dos palhaços 
 
Aprendi tocar sanfona 
Na sanfona de taquara 
Esse povo está dizendo 
Tocador de meia-cara12 
 
12
 A execução do canto, feita por Joaquim Alves Diniz, obedece à seguinte estrutura: Joaquim canta a 
quadra duas vezes, conforme o palhaço escolhido, pelo dono da casa, para dançar. Depois, a folia 
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Oh, Pastorinho 
Que veio fazer aqui? 
Veio cantar e dançar 
Fazer o povo rir 
 
Oh Pastorinho 
Que veio fazer aqui? 
Veio comer minha paçoca 
Beber meu (...) 
 
O velho mais a velha 
Fizeram uma combinação 
O velho dorme na cama 
A velha dorme no chão 
 
Menina, quem te contou 
Que essa noite serenou? 
Eu deitado no seu colo 
Sereno me molhou 
 
Joguei meu chapéu pra cima 
Chapéu parou no ar 
Peguei com Nossa Senhora 
Chapéu tornou voltar 
 
Oh, Bastião 
Que veio fazer aqui? 
Essa dança diferente 
É a dança do siriexecuta os instrumentos num forte ritmo de batucada, para a dança efetiva do palhaço em questão. A 
voz de Joaquim é de difícil audição pelo conjunto da Folia. 
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Sabiá comeu mamão 
Jogou a casca no chão 
Eu também quero jogar 
Na cara do Bastião 
 
Cantos de saída, agradecimento ou despedida13 
 
Deus lhe pague a vossa esmola 
Que nos deu tão de repente 
Deus o tenha lá na glória 
Com o Divino Onipotente 
 
Deus lhe pague a vossa esmola 
Que nos deu com alegria 
Deus o tenha lá na glória 
Aos pés da Virgem Maria 
 
Deus lhe tenha lá no céu 
Aos pés da Virgem Maria 
Deus lhe tenha lá na glória 
Com o Divino Onipotente 
 
Retiramos oh meu rei 
Com a bandeira da guia 
Deus lhe pague a bela esmola 
Pagarei neste louvor 
 
Retiramos oh meu rei 
Com a bandeira da guia 
Bandeira de Santos Reis 
Tem a nossa companhia 
 
 
13
 São executados com a mesma estrutura dos cantos de entrada. 
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Aqui nesta casa fica 
São José, Jesus, Maria 
Deus lhe pague, Deus lhe ajude 
E até o ano que vem 
 
Viva o Santo Reis! (Texto falado por Liquita e repetido por 
todos) 
 
Performances corporais 
As danças dos palhaços constituem momentos de rara 
beleza na Folia de Santo Afonso. Além da dança do chicote, 
já citada, e das danças urbanas contemporâneas, trazidas 
pelos jovens, a exemplo da “dança da garrafa”, foi citada a 
“tremedeira”, cujo maior virtuose foi o Sr. Joaquim Diniz, 
e que não é mais executada hoje porque nenhum folião a 
domina. 
A dança do chicote constitui uma espécie de ápice da 
apresentação da Folia, e consiste em o palhaço dançar sem 
tocar o chicote, que está estendido no chão, sendo tanto 
mais apreciado quanto mais originais e velozes são os 
movimentos. 
Outra dança bastante presente na Folia de Santo Afonso 
é um palhaço simular espasmos e desmaio no chão; os outros 
palhaços o tocam no pulso e no peito para curar o súbito 
mal-estar. Faz parte da encenação fazer parecer verdadeiro 
o desmaio. Observa-se também a “paradinha”, que consiste em 
surpreender o auditório com paradas abruptas, sinalizadas 
pelo palhaço que dança. Uma outra dança tradicional dos 
palhaços é a “perninha”, que consiste em dois palhaços se 
darem as mãos e dançarem, um conferindo equilíbrio ao 
outro. 
Em 2011, foi observada a dança-do-siri, anunciada 
pelos palhaços como uma novidade. Os palhaços a executam de 
lado, em postura corporal que lembra de fato o siri. 
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O papel do dono-da-casa na Folia 
 
Em 01 de janeiro de 2010, o casal Antônio e Dolores, 
moradores do Bairro Santo Afonso, receberam a Folia. Eles 
permaneceram com a porta fechada, até que o canto de 
entrada entoou: “abre a sua portaria!”. Então, o Sr. 
Antônio ajoelhou-se, beijou a bandeira e recebeu o cajado, 
levado nesta ocasião pelo palhaço “Pastorinho”. 
A seguir, começa a encenação dos palhaços com os donos 
da casa, para pedir esmolas. Na residência observada, os 
homens da família saem para a varanda, para negociar com os 
palhaços; eles parecem ter reservado uma certa quantidade 
de dinheiro para a Folia, mas esta só faria jus a estes 
recursos se sua atuação fosse original e agradasse aos 
moradores. As negociações em torno das esmolas duraram 
quarenta minutos nesta ocasião. 
Os palhaços atuam na “luta” pela esmola - o Bastião 
disse: “Vão [Vamos], patrão, pagar, uai, tá difícil demais, 
uai!”. Encena-se também uma certa competição entre os 
palhaços, para ver quem vai conquistar mais donativos. 
Agradar ao dono da casa e obter muitas ofertas é condição 
para o palhaço continuar atuando como tal. As esmolas são 
pedidas várias vezes e os donos da casa anunciam quais são 
os palhaços com melhor performance. Também podem dizer que 
um certo palhaço está muito preguiçoso, e por isso a esmola 
é regateada. 
 As brincadeiras dos palhaços denotam a apropriação de 
elementos das culturas contemporâneas na Folia. Na 
apresentação de 01 de janeiro de 2010, foram utilizadas 
expressões como: “Mata o Velho!”, “Peraí que eu vou ali 
recarregar a bateria”, ou “Vou dar corda aqui” (fazendo o 
gesto de dar corda nas costas de um parceiro que 
demonstrava cansaço). Mais uma evidência da constante 
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7
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recontextualização dos conteúdos culturais no interior da 
manifestação, indício da sua vitalidade. 
 
 
8. OS PROTAGONISTAS 
DA FOLIA DE REIS DO 
BAIRRO SANTO AFONSO: 
TRAJETÓRIAS, PAPÉIS, 
FUNÇÕES, ORGANIZAÇÃO 
 
 
As principais lideranças da Folia de Santo Afonso são: 
 
1. Osmar Gonçalves Diniz – Mestre-da-folia, vive na 
comunidade de Santo Afonso desde seu nascimento, 
onde seu grupo familiar está radicado desde pelo 
menos o final do século XIX. Sua casa é a sede da 
folia, onde ficam guardados seus apetrechos. De 
liderança afetiva e carismática, Osmar apresenta 
uma firmeza em relação aos conteúdos básicos da 
folia e orienta o comportamento do grupo. Toca uma 
sanfona de oito baixos, com grande sensibilidade 
performática. 
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2. Joaquim Alves Diniz – Irmão de Osmar, toca caixa e 
puxa os cantos dos palhaços. É também um guardião e 
transmissor dos saberes tradicionais do grupo. Vive 
no Bairro Cachoeira, contíguo à Regional 
Vianópolis, também um tradicional reduto de antigos 
foliões. 
 
3. Enderson Júnior Benevides – Sobrinho de Osmar, é o 
atual puxador dos cantos da Folia, caixeiro e o 
virtual continuador do atual mestre. Aprendeu 
grande parte dos seus saberes com o ancestral “Tio 
Hamilton”. Osmar divide com Enderson “Liquita” as 
tarefas de decisão sobre a Folia. 
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São os componentes mais freqüentes da Folia: 
 
1. Osmar Diniz – Sanfona 
2. Enderson “Liquita” – Caixa e voz 
3. José Silva (da Mercearia Silva e Lane) – Violão 
4. Barbosa – Reco-reco 
5. Nely – Violão 
6. Joaquim Diniz – Pandeiro, caixa e voz 
7. Artur – Palhaço, pandeiro e voz 
8. Nilton – Pandeiro 
9. Rosilene (Pretinha) – Xique-xique (compositora e 
possível puxadora de alguns cantos da Folia nos 
próximos anos) 
10. Raquel – Xique-xique e voz 
11. Renata – Xique-xique e voz 
12. Fernanda – Xique-xique 
13. André – Xique-xique 
14. Giovanni – Xique-xique 
15. Adilson – Palhaço e voz 
16. Guilherme – Palhaço e voz 
17. Júnior – Voz 
18. Paulo Henrique – Voz 
19. Rafael – Voz e palhaço 
20. Jayverson – Voz 
21. Warley - Voz 
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22. Sildésia – Voz 
23. Letícia – Voz 
24. Patrícia – Voz 
25. Ana Luísa – Voz 
26. Zé Coringa – Voz 
27. Paulo Bicó – Voz 
28. Mateus Diniz – Palhaço e voz 
29. Luiz Otávio – Pastorinho 
30. Keuller – Pastorinho 
31. Luciano – Palhaço 
32. Geraldo – Palhaço e voz 
33. Tafarel – Palhaço e voz 
34. Pedro – Palhaço e voz 
35. Marcos Vinícius – Palhaço 
36. Arlindo – Palhaço e voz 
 
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9. OS RECURSOS PARA A 
REALIZAÇÃO DA FOLIA DE 
REIS DO BAIRRO SANTO 
AFONSOA Folia de Reis de Santo Afonso é financiada 
comunitariamente. Seus instrumentos e indumentárias formam 
um acervo antigo, raramente renovado, e confeccionado pelos 
próprios foliões. As mulheres dos mestres-da-folia, como D. 
Ilza Ferreira Cândido e D. Maria de Lourdes Benevides 
Diniz, preparam e mantém a indumentária. D. Ilza, viúva de 
“Tio Hamilton” é reconhecidamente quem melhor confecciona 
as máscaras dos palhaços e costurava pessoalmente suas 
indumentárias. 
Os fartos lanches que finalizam cada noite de 
peregrinações da Folia de Santo Afonso são preparados pelas 
famílias anfitriãs. 
O Sr. Osmar Gonçalves Diniz declarou em entrevista, em 
março de 2009, que prefere não obter financiamento público 
para a Folia, para evitar que ela se torne dependente 
desses recursos. Ele prefere ajuda na pesquisa sobre a 
tradição folia do que propriamente no financiamento. 
Um importante montante de recursos arrecadado pela 
Folia vem das oferendas dos moradores visitados durante o 
ciclo anual. Esses recursos, que podem alcançar em torno de 
R$ 200,00 em cada noite, servem para a compra de comida, 
guloseimas e brinquedos para o público participante da 
culminância. O restante é revertido para a Conferência de 
São Francisco de Assis, atuante na comunidade. 
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10. PRODUTOS DA FOLIA 
DE REIS DO BAIRRO SANTO 
AFONSO 
 
 
São produtos da Folia de Santo Afonso: 
 
1. A indumentária dos palhaços, produzida pelas mulheres 
da comunidade, e que consiste em calças e camisas de 
manga comprida, largas, para servirem em todos os 
palhaços atuantes, e também em máscaras negras, 
conforme inventário anexo a esta documentação. 
2. As performances corporais específicas da Folia, 
constituídas pelas seguintes, identificadas: 
“perninha”, dança do chicote, tremedeira, paradinha, 
dança da garrafa, dança do siri. 
3. Os cantos da Folia, geralmente herdados da tradição 
foliã, porém adaptados e combinados entre si, com 
ênfase para os “sapecados”, improvisados pelo Sr. 
Joaquim Diniz para a dança dos palhaços. 
4. A documentação fotográfica produzida pelos foliões 
para registrar sua trajetória. 
5. A bandeira e o cajado, objetos devocionais de suma 
importância na Folia. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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11. A FOLIA DE REIS 
DO BAIRRO SANTO AFONSO 
E SUAS RELAÇÕES COM O 
PÚBLICO 
 
 
A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso cumpre uma 
evidente função social de renovar e manter fortes os 
vínculos de solidariedade na comunidade de Santo Afonso. Ao 
funcionar em torno do clã dos Gonçalves Diniz, agrega 
também aqueles que se ligam à família pelo matrimônio, bem 
como os vizinhos, amigos e conhecidos. 
Atua no auxílio mútuo às famílias carentes da região e 
canaliza a criatividade, a integração entre as gerações, 
entre os velhos e os novos costumes. Reconcilia a 
religiosidade e o profano, pela via da irreverência dos 
palhaços. 
A Folia é convidada para apresentações em outras 
regiões de Betim, além de Vianópolis, e também nos 
municípios vizinhos, e já foi documentada em vídeo pela 
Missão Ramacrisna e pela TV Betim. Os próprios familiares 
guardam numerosos registros das últimas festas. 
Além dos participantes diretos da Folia, há aqueles 
que a acompanham e, todos juntos, totalizam até cerca de 
duas centenas de pessoas a cada noite. Alguns são migrantes 
de Santo Afonso para outras regiões da Região Metropolitana 
de Belo Horizonte, para outros bairros de Betim e até para 
São Paulo, que retornam à comunidade de origem para as 
festas de fim-de-ano e recessos de verão, e aproveitam para 
participar da Folia. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Os foliões são receptivos com os visitantes, e assim 
atraem novos componentes. 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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12. INVENTÁRIO 
 
 
12.1. INVENTÁRIO DA FOLIA DE REIS DO BAIRRO SANTO AFONSO 
 
Município: Betim 
 
Distrito: Sede (Regional Vianópolis) 
 
Designação: FOLIA DE REIS DO BAIRRO SANTO AFONSO 
 
Categoria: Celebração 
 
Endereço: Rua Governador Valadares, 415, Bairro Santo 
Afonso 
 
Agentes da Manifestação: Família Gonçalves Diniz do Bairro 
Santo Afonso 
 
Líderes da Manifestação: Osmar Gonçalves Diniz, Joaquim 
Alves Diniz e Enderson Júnio Benevides 
 
Periodicidade: Anual 
 
Contextualização da Manifestação: A manifestação pertence 
ao acervo cultural do catolicismo popular brasileiro. É uma 
celebração contextualizada no ciclo de festas natalinas, 
que foram instituídas nos primeiros séculos da era cristã, 
considerando celebrações inclusive anteriores ao advento 
desta era, as festas da natividade das divindades. No caso 
específico das folias de reis, trata-se de atualizações da 
narrativa sobre o nascimento de Jesus, especialmente da 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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visita dadivosa dos chamados reis magos a este menino. 
Celebrações com este caráter específico surgem na Europa 
medieval, a partir do traslado dos restos mortais dos 
supostos reis para vários pontos do continente, como 
relíquias sagradas. A presença dessas relíquias motivou a 
criação cultural em diversas linguagens, inclusive 
folguedos populares que receberam diversas configurações em 
cada país onde se desenvolveram. Em Portugal, esses 
folguedos foram chamados folias e tinham um caráter de 
festejo profano. 
Trazidas para o Brasil a partir do século XVI, as folias 
deram origem a diversas manifestações em regiões 
diferentes, dentre elas o reisado, as pastorinhas, os bois 
e as próprias folias de reis. Com essa última configuração, 
ocorrem principalmente no sudeste brasileiro, mas há 
relatos de expansão dos grupos até para o extremo sul. 
O formato básico das folias de reis é a visitação às 
residências de devotos dos Santos Reis e a louvação à 
bandeira desses santos, que são entendidos como uma 
unidade, e também ao presépio, que representa o Jesus 
menino e seus pais. Os grupos de folias são formados em 
geral por três palhaços, que representam os reis magos e 
também os soldados romanos enviados para perseguir o recém-
nascido, porém convertidos à sua causa; músicos e cantores. 
Além dos momentos de devoção, as folias expressam também a 
irreverência e o profano, nas brincadeiras dos palhaços 
destinadas a obter esmolas dos visitados, esmolas essas 
geralmente revertidas para a manutenção do culto católico 
nas comunidade e para o auxílio mútuo. 
 
Histórico: A memória da Folia de Reis do Bairro Santo 
Afonso remonta aos anos 20 do século XX. Não há mais 
conhecimentos sobre a fundação da Folia e suas primeiras 
ações, porém os mais velhos narraram aos atuais líderes 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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quais foram os primeiros mestres desta Folia, a saber João 
Belarmino e Joaquim Nicolau, tradicionais foliões e 
congadeiros das primeiras décadas do século XX em Betim, e 
depois Chico Campestre e Milton Pedro, em meados do mesmo 
século. Este último reativou a Folia em 1978, depois que 
ela estivera alguns anos parada devido à morte do antigo 
líder. Desde então, a Folia só foi interrompida no ciclo 
natalino de 2004/2005, após a morte do próprio Milton 
Pedro, ocasião em que a Folia guardou luto. A reativação da 
Folia esteve associada ao Ano Internacional da Criança 
(1979) e, desde então, tem revertido sua arrecadaçãopara 
presentear as crianças no dia de Reis. 
 
Descrição: A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso é um 
empreendimento cultural do clã Gonçalves Diniz, desde seus 
primórdios. Os atuais patriarcas e também os jovens foliões 
pertencem a esta família, à qual se agregam aqueles 
recebidos em matrimônio e também vizinhos, amigos e 
conhecidos. 
A Folia sai com entre 30 e 60 componentes, capazes de 
revezamento nas diversas atividades. Cerca de 20 jovens e 
crianças estão aptos a atuar como palhaços e, a cada noite, 
quatro se apresentam. Há cerca de 15 músicos fixos, que 
tocam sanfona de oito baixos, violão, viola, reco-reco e 
caixas, e mais duas dezenas são capazes de se revezar com 
chocalhos e pandeiros. Há dois puxadores dos cantos, 
Enderson Júnio Benevides (Liquita) e Joaquim Alves Diniz, e 
mais oito cantores que fazem as respostas, além de dez 
mulheres que se revezam na voz chamada de “requinta”, a 
última resposta dos cantos da Folia. 
A atuação da Folia pode ser descrita nos seguintes termos: 
1. O Sr. Osmar Gonçalves Diniz, mestre-da-folia, agenda 
visitas da folia com devotos da comunidade, isto é, o 
Bairro Santo Afonso e bairros vizinhos, especialmente 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
8
5 
Marimbá, geralmente três visitas a cada noite, entre 
26 de dezembro e 06/08 de janeiro. 
2. A Folia vai a pé até a casa a ser visitada, se esta 
for próxima da casa do Sr. Osmar. Se for distante, a 
Folia segue em carros próprios para o destino. Ao 
chegar, vai até a porta da casa em silêncio e se 
organiza diante dela. Todos prontos, Enderson 
“Liquita” puxa o canto de chegada ou entrada: “E agora 
vamos chegando / para dentro do seu terreiro...”. 
Quando o canto, composto de cerca de vinte versos, 
respondidos a cada dois deles, chega à senha “abre a 
sua portaria”, o dono da casa visitada acende a luz e 
abre a porta. Os palhaços entram na casa 
irreverentemente e negociam com o dono para 
apresentarem suas danças em troca de esmolas. 
3. Aceita a proposta pelo dono da casa, o Sr. Joaquim 
Gonçalvez Diniz assume a função de puxador dos cantos. 
Ele canta quadras humorísticas, dedicadas a cada 
palhaço, para que este dance. Em geral, é o dono da 
casa que escolhe o palhaço a dançar de cada vez, e 
avalia seu desempenho dando esmolas. Na performance 
dos palhaços, as pernas e pés são os recursos 
corporais mais utilizados. As danças incluem as 
tradicionais “perninha” e dança do chicote, e também 
as contemporâneas dança da garrafa e dança do siri. 
Enquanto o dono da casa tiver esmolas para dar, os 
palhaços dançam e se expressam com tiradas de humor. 
4. Se a casa tem presépio, a Folia adentra a sala de 
visitas e faz o canto do presépio, puxado por Enderson 
Liquita. Se não, como tem acontecido geralmente na 
comunidade ultimamente, Liquita conduz os cantos de 
agradecimento e despedida, configurados 
semelhantemente aos cantos de entrada: “Deus lhe pague 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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a vossa esmola / Que nos deu com alegria / Deus o 
tenha lá na glória / Aos pés da Virgem Maria”. 
5. Frequentemente, os donos da casa oferecem um lanche à 
Folia ao final do evento. 
 
Documentação fotográfica: 
 
 
 
 
Importância da Manifestação: 
A Folia é uma importante expressão dos valores e padrões de 
devoção e sociabilidade na comunidade em que ocorre. Os 
conteúdos que ela veicula são adotados como parâmetros de 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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vida pelos seus agentes e, nesta comunidade, a manifestação 
permanece como uma forma de manter laços de sociabilidade 
horizontais entre vizinhos, de redistribuir recursos, de 
ordenar a conduta, de formar a juventude e mantê-la longe 
de certos riscos, como a violência urbana e as drogas 
lícitas ou ilícitas. 
 
Vitalidade da Manifestação: 
A Folia de Santo Afonso apresenta grande vitalidade. 
 
Análise da Vitalidade: 
É uma folia grande, na qual a maioria das funções pode ser 
desempenhada por diversos foliões, em revezamento. 
Atualmente, as únicas funções de difícil transmissão são a 
confecção das máscaras e a execução da sanfona. Há muitos 
jovens na Folia, inclusive o virtual continuador do atual 
mestre, que deverá ser Enderson Júnio Benevides. Há uma 
grande presença de crianças e mulheres na Folia. 
 
Fatores de Degradação: 
Os líderes da Folia de Santo Afonso identificam o 
alcoolismo como um dos principais fatores de degradação das 
folias de reis. Assim, apesar de a oferenda de bebidas 
alcoólicas fazer parte do ritual da folia nas residências 
visitadas, este grupo tem como estratégia não consumir 
bebidas durante as visitas, mas apenas na festa de 
“arremate”. Os participantes da assistência, porém, podem 
portar um vinho para consumo durante as atividades. 
É evidente que o enfraquecimento do catolicismo, a 
laicização da sociedade e a experiência típica da vida 
urbana e do trabalho, não mais associada aos ritmos da 
semeadura e da colheita, e sim aos ditames da produtividade 
cotidiana, promovem mudanças na forma como as práticas da 
folia se concebem e são conduzidas. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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8 
Um olhar ortodoxo sobre esta manifestação poderia 
interpretar algumas mudanças, como as danças urbanas 
veiculadas pela mídia, o fato de a folia não poder mais 
fazer percursos a pé ou não mais pedir de fato a entrada 
nas casas, como sinais de degradação. A literatura, 
entretanto, indica que, em todas as regiões de ocorrência 
dessas manifestações, as folias vêm introduzindo mudanças 
que viabilizam sua sobrevivência, sem colocar em risco seu 
conteúdo básico, que é a reatualização da história do 
nascimento do Menino Jesus. 
Ao mesmo tempo em que muda dinamicamente, para 
dialogar com os ritmos próprios da vida contemporânea em 
Santo Afonso, a Folia também tem contato com lideranças das 
folias na micro-região em que está Betim, a fim de dialogar 
com a tradição e não esquecer seus conteúdos. 
 
Medidas de Conservação: 
São recomendáveis, para o fomento da vitalidade da Folia, 
as seguintes medidas: ações de educação patrimonial na 
comunidade, para o conhecimento dos conteúdos da Folia; 
desenvolvimento de eventos de musicalização (canto e 
instrumentos), que oportunizem a transmissão desta função 
no interior da Folia; realização de oficinas de confecção 
de indumentárias, instrumentos e máscaras de folia 
 
Proteção Legal Existente: Inventário (2009) 
 
Proteção Legal Proposta: Registro como patrimônio imaterial 
do Município 
 
Informações Complementares: Entrevistas com Antônio Pinto 
de Carvalho (março/2009), Joaquim Alves Diniz (março/2009), 
Osmar Gonçalves Diniz (março/2009, janeiro/2010, 
janeiro/2011) e Enderson Júnio Benevides (janeiro/2010). 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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9 
 
Referências: 
 
FONSECA, Geraldo. Origens da Nova Força de Minas: Betim, 
sua História. 1711-1975. Betim: Prefeitura Municipal de 
Betim, 1975. 
GOLOVATY, Ricardo Vidal. A folclorização da cultura 
popular: a folia de Santos Reis no Jornal Correio de 
Uberlândia, 1984-2002. História e perspectivas, Uberlândia 
(32/33): 221-244, Jan. Jul./Ago.Dez, 2005. 
GOMES, Ana Claudia. Histórico da Vida Religiosa em Betim. 
Pesquisa encomendada pela Articulação Comunicação & 
Marketing. Betim - MG, 2005 (texto não-publicado). 
PAULINO, Rogério Lopes da S. Máscaras vivas ou em extinção? 
Tradição e renovação nasfolias de reis. In: IV REUNIAO 
CIENTIFICA DE PESQUISA E POS GRADUAÇÃO EM ARTES CENICAS, 
Belo Horizonte, 2007. 
 
Ficha Técnica: 
Levantamento: Adriana de Araújo Lisboa, Otília Sales Neta, 
Ana Claudia Gomes (março de 2009 a janeiro de 2011) 
Elaboração: Ana Claudia Gomes (janeiro de 2011). Revisão: 
Ana Claudia Gomes (janeiro de 2009). Fotografia: Adeildo 
Silva (janeiro de 2010). 
 
 
 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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0 
12.2.INVENTÁRIO DE BENS IMÓVEIS 
 
 
Município 
Betim 
 
Designação 
Capela de Santo Afonso 
 
Distrito 
Sede - Regional Vianópolis 
 
Endereço 
Rua Governador Valadares, s/n, Santo Afonso - Betim MG 
 
Propriedade 
Eclesiástica 
 
Responsável 
Paróquia Nossa Senhora do Rosário e São Sebastião 
 
Situação de ocupação 
Própria 
 
Análise de Entorno 
A Capela Santo Afonso se encontra na Rua Governador 
Valadares. Esta via é pavimentada com asfalto, tem 
aproximadamente 7 metros de largura e não tem passeio. Como 
referência, notam-se o sítio Recanto das Estrelas e a 
Granja Santo Afonso, assim como o ponto final do ônibus 
linha 830. Nota-se um tipo de adensamento de tipologia 
rural, com terrenos de área maior que o lote padrão urbano. 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Documentação Fotográfica 
 
Interior da Capela de Santo Afonso em mar/2009 
 
Capela de Santo Afonso em agosto/2009 
 
 
Capela de Santo Afonso em agosto/2009 – Observar o galpão anexo, onde 
acontecem atividades da Folia 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Capela de Santo Afonso em reforma/ janeiro 2011 
 
Capela de Santo Afonso em reforma/janeiro 2011 
 
Galpão da Capela de Santo Afonso, onde acontecem as brincadeiras dos 
palhaços 
Reforma (Janeiro de 2011) 
 
Histórico 
A Capela do Bairro Santo Afonso foi construída em 1922 pela 
senhora Maria Beatriz no seu próprio terreno. Dona Maria 
Beatriz era muito religiosa e antes de construir a referida 
Capela, edificou em seu terreno um Cruzeiro onde a 
comunidade por muitos anos tinha o costume de fazer orações 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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de terços, novenas e às vezes até missas e festividades 
religiosas. O Padre da Paróquia Nossa Senhora do Carmo de 
Capela Nova de Betim viajava quilômetros em comitiva de 
carros de boi e cavalos, com muitos fiéis da Paróquia, para 
a celebração da Missa no Cruzeiro do povoado de Santo 
Afonso que nesta época se chamava povoado do Buraco. Dona 
Maria Beatriz, extremamente Mariana, construiu próxima ao 
Cruzeiro esta Capelinha, que foi referência para a 
comunidade local e de regiões vizinhas, pois até então a 
Capela mais próxima do povoado do Buraco; era a Capela de 
São Sebastião da Fazenda Ponte Nova, a quilômetros dali e 
que foi demolida na segunda metade do século passado. A 
Capela, construída então na década de vinte, recebeu uma 
imagem de Maria e a comunidade local atribuiu a iconografia 
da mesma à da Imaculada Conceição, pois a santa tinha seus 
pés esmagando a cabeça de uma serpente. Portanto, a Capela 
passou a ter o nome de Capela da Imaculada Conceição. Algum 
tempo depois, os fiéis descobriram que a imagem não era da 
Imaculada Conceição, mas de Nossa Senhora das Graças, pois 
a Imaculada possui as mãos postas no peito e outras 
características iconográficas diferentes da imagem 
existente na Capela, que possuía as mãos abertas e 
estendidas. Mas a comunidade continuou atribuindo a Capela 
à Imaculada Conceição e todos os anos, no mês de maio, as 
crianças do sexo feminino se vestiam de virgens para coroar 
a Imaculada Conceição. O Sr. José Pinto, nascido na região 
e conhecido como Juca Pinto, era uma liderança do povoado 
do “Buraco”, e devoto de Santo Afonso Maria de Ligório, que 
foi Bispo e Doutor da Igreja, conhecido por sua devoção 
pela Imaculada Conceição e por Jesus Crucificado. Em 1943 o 
Sr. Juca Pinto foi padrinho de uma Imagem de Santo Afonso 
Maria de Ligório. Antigamente, os devotos não utilizavam a 
palavra comprar quando adquiriam imagens sacras, pois 
acreditavam que o termo era uma ofensa ao sagrado. A 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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expressão utilizada nesta circunstância era “trocar o 
Santo”, e quem patrocinava a troca eram os padrinhos dos 
santos - pessoas da comunidade devotas daquele santo. Há 
indícios de que o nome da região mudou de “Buraco” para 
Santo Afonso devido a esta devoção de algumas lideranças da 
comunidade a Santo Afonso Maria de Ligório. Não se sabe 
ainda se antes da imagem que o Sr. Juca Pinto “trocou”; 
para a Capela em 1943 existia outra mais antiga do mesmo 
santo. O que se sabe, através de depoimentos de moradores 
antigos, é que todos os anos havia a trezena de Santo 
Afonso que ocorria de primeiro a treze de julho na Capela 
de Dona Maria Beatriz ou Capela da Imaculada Conceição. 
Nesta trezena, havia barraquinhas, leilões e outras 
atividades que aglomeravam pessoas de varias regiões 
vizinhas e do centro de Betim. Devido à organização dessas 
festas e devoção ao Santo, aos poucos o imaginário popular 
deixou de atribuir a Capela a Nossa Senhora da Imaculada 
Conceição e passou a chamá-la popularmente de Igrejinha de 
Santo Afonso. Não existem registros históricos precisos 
sobre a época em que se substituiu a toponímia da Região. O 
que se sabe, como já mencionado, é que com o tempo a 
população foi deixando de lado o signo toponímico que fazia 
alusão a um acidente físico na geografia do lugarejo 
“Buraco”, e gradualmente foi se identificando e adotando 
uma toponímia que fazia referência ao santo devotado na 
Capela do povoado Santo Afonso. Nos primórdios da Capela a 
comunidade local já era bastante ativa e havia uma Folia de 
Reis formada pelos clãs da região, orações de terços e 
muitas quermesses. Nas ultimas décadas do século passado a 
Capela intensificou sua atividade, com missas semanalmente; 
além das tradições já mencionadas, havia também uma 
conferência de São Vicente de Paula no mesmo terreno da 
Capela e outras diversas atividades como grupos de teatro 
formados por pessoas da Tapera, Pimentas, Cana-Velha, 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Marimbá e Santo Afonso. Esse grupo se apresentava em datas 
comemorativas da tradição Católica e principalmente na 
Semana Santa. A Capela de Santo Afonso sofreu diversas 
intervenções ao longo dos seus 87 anos. Nos registros da 
Cúria Metropolitana consta que a mesma é a Capela mais 
antiga da Paróquia da Regional Vianópolis, por isso 
constitui um bem cultural de relevância histórica para a 
região. A Capela de São Sebastião da Fazenda Ponte Nova, 
que seria mais antiga do que a de Santo Afonso, além de ter 
sido demolida há muitos anos, nunca foi registrada 
oficialmente como patrimônio da Mitra Metropolitana e nem 
como imóvel da diocese de Divinópolis. 
 
Uso Atual 
Institucional 
 
Descrição 
Edificação em partido retangular, com empena em frontão. 
Estrutura em alvenaria autoportante, piso externo em 
concreto desempenado e piso interno em cerâmica de tom 
avermelhado 10x5cm. Vãos e aberturas retangulares, 
uniformemente distribuídos, com fechamento em esquadrias de 
chapa dobrada e vidro texturizado. Cobertura em telhado de 
estrutura de madeira e telhas cerâmicas do tipo capa-e-bica 
sendo o beiral com cachorro. Ofechamento do terreno é 
feito com pilaretes de concreto e arame farpado. 
 
Proteção Legal Existente 
Nenhuma 
 
Proteção Legal Proposta 
Inventário 
 
Estado de Conservação 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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6 
A Capela se encontra em reforma 
 
Análise do Estado de Conservação 
A Capela de Santo Afonso está passando por uma renovação 
total de seus acabamentos. O estado atual demonstra que 
serão reaproveitadas apenas as estruturas em alvenaria. 
Relatos orais dão conta de que a intervenção atual na 
Capela não se deve propriamente a danos estruturais, mas a 
um desejo de renovação das lideranças da comunidade e 
sacerdotes. 
 
Fatores de Degradação 
Dado o estado de reforma em que se encontra a Capela, não 
se aplica a inserção de informações nesse campo 
 
Medidas de Conservação 
Não se aplica. 
 
Intervenções 
De acordo com relatos e imagens antigas da capela, o que se 
nota é a modificação do telhado, que antes era de telha 
cerâmica do tipo capa-e-bica sem molde e ultimamente foi de 
telha cerâmica do tipo colonial capa-e-bica muito comum no 
mercado. A Capela passa atualmente por uma intervenção 
renovadora. 
 
Referências Bibliográficas 
Cadernos de Memória - Patrimônio Cultural de Vianópolis. 
Prefeitura de Betim/MG. 
 
Informações Complementares 
Entrevistas: Antônio Pinto da Silva (Agosto de 2009), 
Arayldo José dos Santos Filho (Março de 2009), Dolores 
Cândida da Silva (Agosto de 2009), Maria das Neves Amaral 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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(Agosto de 2009), Osmar Gonçalves Diniz (junho de 2009, 
janeiro de 2010, janeiro de 2011), Zeferina Cândida da 
Silva (Agosto de 2009). 
 
Ficha Técnica 
Levantamento e elaboração: Adriana das Graças de Araújo 
Lisboa, Otília da Conceição Sales Neta, Pedro Antonio Brito 
(novembro/2010 e janeiro/2011) Revisão: Ana Claudia Gomes 
(janeiro/2011). 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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12.3.INVENTÁRIO DE BENS IMÓVEIS 
 
 
Município 
Betim 
 
Designação 
Residência de Osmar Gonçalves Diniz 
 
Distrito 
Sede - Regional Vianópolis 
 
Endereço 
Rua Governador Valadares, 415, Santo Afonso - Betim MG 
 
Propriedade 
Privada 
 
Responsável 
Osmar Gonçalves Diniz e Maria de Lourdes Benevides Diniz 
 
Situação de ocupação 
Própria 
 
Análise de Entorno 
A Residência do casal Osmar Gonçalves Diniz e Maria de 
Lourdes Benevides Diniz se encontra na Rua Governador 
Valadares. Esta via é pavimentada com asfalto, tem 
aproximadamente 7 metros de largura e não tem passeio. Como 
referência, notam-se o sítio Recanto das Estrelas e a 
Granja Santo Afonso, assim como o ponto final do ônibus 
linha 830. Nota-se um tipo de adensamento de tipologia 
rural, com terrenos de área maior que o lote padrão urbano. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Documentação Fotográfica 
 
 
Residência do S. Osmar. Na garagem acontecem ensaios da Folia 
(Jan/2011) 
 
Residência do S. Osmar. Na garagem acontecem ensaios da Folia 
(Jan/2011) 
 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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0 
Vista posterior da residência (Jan/2011) 
Uso Atual 
Residencial 
 
Histórico 
O Sr. Osmar e D. Maria de Lourdes vivem na edificação desde 
seu casamento, em 1960, ocasião em que foi construída a 
edificação. 
 
Descrição 
A residência do Sr. Osmar, edificação própria, está 
implantada num conjunto de lotes onde também se encontra 
uma antiga edificação que serviu como residência das 
professoras da antiga escola estadual mista da comunidade 
de Santo Afonso; encontra-se também no terreno a residência 
da filha do Sr. Osmar, Patrícia. A edificação inventariada 
tem partido retangular, é construída em alvenaria e coberta 
com telhas de fibrocimento e é cercada de varandas, exceto 
no fundo. Tem três quartos amplos, sala, hall de transição 
entre a sala, um dos quartos e a cozinha, banheiro, cozinha 
e sala de jantar. Aos fundos, amplo galpão com telhado, 
porém sem vedações, é utilizado para acondicionar materiais 
referentes à continuidade da atividade econômica do 
proprietário, que mantém este e um outro terreno no 
entorno. 
 
Proteção Legal Existente 
Nenhuma 
 
Proteção Legal Proposta 
Inventário 
 
Estado de Conservação 
Bom. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
0
1 
 
Análise do Estado de Conservação 
A residência vem passando por manutenção e renovação 
constantes, não apresentando restrições ao uso. 
 
Fatores de Degradação 
Não foram detectados. 
 
Medidas de Conservação 
Manter as iniciativas de manutenção em curso pelo casal 
proprietário. 
 
Intervenções 
A residência passou por diversas intervenções, inclusive 
sua ampliação, nos anos 70, quando foram acrescentados um 
quarto, o banheiro e o atual conjunto de sala de jantar e 
cozinha. 
 
Referências Bibliográficas 
Não há 
 
Informações Complementares 
Entrevista: Osmar Gonçalves Diniz (janeiro de 2011) 
 
Ficha Técnica 
Levantamento e elaboração: Ana Claudia Gomes 
(janeiro/2011). 
Fotografia: André Dias (Projeto Antenados / Missão 
Ramacrisna (janeiro/2011). 
Revisão: Ana Claudia Gomes (janeiro/2011). 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
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2 
 
12.3. INVENTÁRIO DE BENS MÓVEIS 
 
1. Município: Betim 
2. Distrito: Sede 
3. Acervo: Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
4. Endereço: Rua Governador Valadares, 415, Bairro Santo 
Afonso 
5. Proprietário: Osmar Gonçalves Diniz e Maria de Lourdes 
Benevides Diniz 
6. Responsável: Os mesmos 
7. Designação: Bandeira de Santos Reis 
8. Localização Específica: Aposentos íntimos da casa do 
casal 
9. Espécie: Flâmula 
10. Época: 1978 
11. Autoria: O casal Milton Pedro Cândido e Ilza 
encomendaram uma pintura dos Santos Reis a autor 
desconhecido. D. Ilza confeccionou o conjunto da bandeira. 
12. Origem: Comunidade de Santo Afonso, Betim 
13. Procedência: Comunidade de Santo Afonso, Betim 
14. Material/Técnica: Veludo, cetim, pintura à mão, costura 
à máquina. 
15. Marcas/Inscrições/Legendas: Não há 
16. Histórico: A bandeira foi confeccionada em 1979, ano em 
que se decidiu recomeçar a Folia de Santo Afonso, pelas 
mãos de Milton Pedro Cândido. Este encomendou a pintura de 
Santos Reis à mão, e sua esposa Ilza a inseriu a pintura em 
uma moldura de tecido e a enfeitou pela primeira vez. 
17. Descrição: A bandeira é constituída por um quadro 
central pintado à mão, em que se vêem representados os três 
reis magos, Baltazar, Belchior e Gaspar. Dois deles têm a 
pele em tom claro, usam barba. Um deles usa túnica verde e 
capa em tom amarronzado, e o outro túnica preta, com faixa 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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azul na cintura e capa azul. O terceiro rei, negro, usa 
turbante à moda muçulmana, túnica amarronzada e capa 
vermelha. A estrela de Belém é representada luminosa acima 
deles, sobre um céu azul claro. Aos pés dos reis, está o 
Menino Jesus em simples manjedoura de palha, com cabelos 
pretos, pele clara e roupa amarronzada. Este quadro está 
costurado em um quadro maior, de veludinho branco ou palha, 
servindo-lhe de moldura umafita em cetim dourado. A 
bandeira é sustentada por um bastão torneado, coberto por 
fita de cetim dourada. As extremidades da bandeira, na 
altura do bastão, trazem laços em fitas vermelhas de cada 
lado e pequenos arranjos de flores e frutos. 
18. Documentação Fotográfica: 
 
 
Estampa pintada à mão da bandeira 
 
Detalhe da estampa da bandeira 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Detalhe da estampa da bandeira 
 
Detalhe, adereço da bandeira 
 
19. Condições de Segurança – Boas. O objeto fica 
acondicionado nos aposentos íntimos de Osmar e Maria de 
Lourdes Diniz. 
20. Proteção Legal Existente – Nenhuma 
21. Dimensões – 70x40 cm 
22. Estado de Conservação – Bom. A bandeira apresenta 
pequenos desgastes (puídos) na parte inferior da pintura à 
mão. 
23. Características Iconográficas – A bandeira traz a 
clássica representação dos Santos Reis Magos, Baltazar, 
Belchior e Gaspar, junto à manjedoura do Menino Jesus em 
Belém, onde chegaram guiados por uma estrela especial, 
também representada no objeto inventariado. Os Reis Magos 
trazem recipientes com os presentes com que agraciaram 
Jesus, ouro, incenso e mirra. 
24. Intervenções/Responsável/Data – Todos os anos, a 
bandeira de Santos Reis da Folia de Santo Afonso é revista 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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5 
antes do ciclo natalino. Seus adereços são frequentemente 
renovados. O tecido e a fita que servem de moldura à 
representação pictórica dos Santos Reis são trocados de 
tempos em tempos, quando há desgaste. Apenas a pintura à 
mão permanece a mesma desde 1979, mas já teve retoques. A 
responsável pelas intervenções atualmente é D. Maria de 
Lourdes Benevides Diniz. 
25. Referência Bibliográfica: 
AZZI, Riolando. "A Espiritualidade popular no Brasil: um 
enfoque histórico". In; Revista Grande Sinal, Petrópolis, 
Vozes, Ano XLVIII, pp. 293-304, 1994. 
DAVID, Solange Ramos de Andrade. "Manifestações populares 
do Catolicismo na Revista Eclesiástica Brasileira -m1963-
1980". In; REB, vol.63, fasc. 251, julho de 2003, pp.601-
614. 
26. Informações complementares: 
Entrevista com Osmar Gonçalves Diniz e Maria de Lourdes 
Benevides Diniz em janeiro de 2011. 
27. Ficha Técnica: 
Levantamento/elaboração: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011 
Fotografia: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011. 
Revisão: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011. 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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12.3. INVENTÁRIO DE BENS MÓVEIS 
 
 
 
1. Município: Betim 
2. Distrito: Sede 
3. Acervo: Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
4. Endereço: Rua Governador Valadares, 415, Bairro Santo 
Afonso 
5. Proprietário: Osmar Gonçalves Diniz e Maria de Lourdes 
Benevides Diniz 
6. Responsável: Os mesmos 
7. Designação: Bastão 
8. Localização Específica: Aposentos íntimos da casa do 
casal 
9. Espécie: Bastão 
10. Época: 1978 
11. Autoria: Milton Pedro Cândido e Ilza Ferreira Cândido 
12. Origem: Objeto confeccionado pelas lideranças da Folia 
de Santo Afonso, em sua reativação, nos anos 70. 
13. Procedência: Bairro Santo Afonso 
14. Material/Técnica: Madeira, fitas, flores artificiais. 
15. Marcas/Inscrições/Legendas: Não há. 
16. Histórico: Quando da reativação da Folia de Reis do 
Bairro Santo Afonso, em 1978, Milton Pedro Cândido e Ilza 
Ferreira Cândido confeccionaram o bastão, objeto 
tradicionalmente presente nesta manifestação. 
17. Descrição: Bastão em madeira, adaptado a partir de um 
cabo-de-vassoura, coberto com fita em tom dourado escuro. 
Em sua extremidade superior, foram anexadas por amarração 
flores artificiais. O conjunto tem acabamento em fitas 
douradas e vermelhas. 
 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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7 
 
 
 
18. Documentação Fotográfica: 
 
 
Bastão da Folia de Reis de Santo Afonso 
 
 
Bastão da Folia de Reis de Santo Afonso 
 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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8 
Bastão da Folia de Reis de Santo Afonso 
 
19. Condições de Segurança – Boas. O objeto fica guardado 
nos aposentos íntimos dos líderes da Folia. 
20. Proteção Legal Existente – Nenhuma 
21. Dimensões – 1,20m 
22. Estado de Conservação – Bom 
23. Características Iconográficas – O bastão da Folia é uma 
alusão ao cajado dos pastores e considerado um apoio 
utilizado pelo Rei Mago mais velho em suas andanças. Não 
foi identificado o significado das flores apostas ao bastão 
da Folia. 
24. Intervenções/Responsável/Data: O bastão é renovado 
quase que anualmente, função que cabe a D. Maria de Lourdes 
Diniz e à sua filha Rosilene. 
25. Referência Bibliográfica: 
AZZI, Riolando. "A Espiritualidade popular no Brasil: um 
enfoque histórico". In; Revista Grande Sinal, Petrópolis, 
Vozes, Ano XLVIII, pp. 293-304, 1994. 
DAVID, Solange Ramos de Andrade. "Manifestações populares 
do Catolicismo na Revista Eclesiástica Brasileira -m1963-
1980". In; REB, vol.63, fasc. 251, julho de 2003, pp.601-
614. 
26. Informações complementares: 
Entrevista com Osmar Gonçalves Diniz e Maria de Lourdes 
Benevides Diniz em janeiro de 2011. 
27. Ficha Técnica: 
Levantamento/elaboração: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011 
Fotografia: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011. 
Revisão: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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9 
12.3. INVENTÁRIO DE BENS MÓVEIS 
 
1. Município: Betim 
2. Distrito: Sede 
3. Acervo: Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
4. Endereço: Rua Governador Valadares, 415, Bairro Santo 
Afonso 
5. Proprietário: Osmar Gonçalves Diniz e Maria de Lourdes 
Benevides Diniz 
6. Responsável: Os mesmos 
7. Designação: Sanfona de oito baixos 
8. Localização Específica: Aposentos íntimos da casa do 
casal 
9. Espécie: Instrumento musical 
10. Época: Presumivelmente, década de 1920 
11. Autoria: Desconhecida 
12. Origem: Desconhecida 
13. Procedência: A sanfona foi dada a S. Osmar pelo Sr. 
Geraldo Rabelo. 
14. Material/Técnica: Couro, metal, plástico, madrepérola. 
Manufatura. 
15. Marcas/Inscrições/Legendas: Não há. 
16. Histórico: A sanfona foi adquirida pelo Sr. Geraldo 
Rabelo, para seu filho, cerca do final dos anos 90. Não 
sendo usada pelo rapaz, o Sr. Geraldo presenteou com ela o 
Sr. Osmar, sabendo que este gostava de tocar a sanfona na 
Folia. A sanfona foi reformada por um profissional de 
Juatuba, que a identificou como sendo, aproximadamente, de 
1922, 
17. Descrição: Sanfona de pequenas dimensões, com oito 
baixos, sendo seu fole confeccionado em couro e plástico e 
sua estrutura externa em madrepérola verde. 
18. Documentação Fotográfica: 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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0 
 
Sr. Osmar toca a sanfona 
 
Detalhe da sanfona de oito baixos 
 
Fole em couro da sanfona 
 
19. Condições de Segurança – Boas 
20. Proteção Legal Existente – Nenhuma 
21. Dimensões – 40x60 cm (fechada) 
22. Estado de Conservação – Bom 
23. Características Iconográficas – Não se aplica. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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1 
24. Intervenções/Responsável/Data: O Sr. Osmar levou a 
sanfona para reforma com um profissional de Juatuba, que 
identificou como antiga e preciosa a sanfona de oito 
baixos. Esta intervenção aconteceuem meados dos anos 2000. 
25. Referência Bibliográfica: 
AZZI, Riolando. "A Espiritualidade popular no Brasil: um 
enfoque histórico". In; Revista Grande Sinal, Petrópolis, 
Vozes, Ano XLVIII, pp. 293-304, 1994. 
DAVID, Solange Ramos de Andrade. "Manifestações populares 
do Catolicismo na Revista Eclesiástica Brasileira -m1963-
1980". In; REB, vol.63, fasc. 251, julho de 2003, pp.601-
614. 
26. Informações complementares: 
Entrevista com Osmar Gonçalves Diniz e Maria de Lourdes 
Benevides Diniz em janeiro de 2011. 
27. Ficha Técnica: 
Levantamento/elaboração: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011 
Fotografia: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011. 
Revisão: Ana Claudia Gomes. Janeiro/2011. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
1
2 
 
 
13. IDENTIFICAÇÃO DE 
ATIVIDADES CORRELATAS 
 
 
 
Conforme discutido em outros pontos deste trabalho, as 
Folias são manifestações afins de diversas outras 
celebrações componentes do catolicismo popular no Brasil, a 
exemplo dos reisados, das pastorinhas e dos bois. No caso 
específico das folias, estas ocorrem principalmente nos 
estados de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, 
Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, estados 
conhecidos como “corredor das bandeiras”. E apresentam 
variações: além das folias de reis, temos também as Folias 
de são Sebastião e de Santa Cruz. Estas últimas têm 
características musicais e performáticas semelhantes às de 
reis, porém guardam particularidades devocionais. 
Na micro-região mineira designada Médio Paraopeba, a 
ocorrência de folias ainda é bastante freqüente, tanto que 
se realizam em municípios como São Joaquim de Bicas e 
Itatiaiuçu tradicionais encontros de folias. Elas, 
entretanto, são residuais, no sentido de que são 
compreendidas por segmentos restritos do público urbano, 
majoritário nessa região. Em geral, os encontros atraem os 
próprios foliões que, nessas ocasiões, trocam saberes e 
experiências. 
Em Betim, a maioria das folias identificadas está 
inativa. Os patriarcas têm dificuldades na montagem dos 
grupos, especialmente quando migrantes, não havendo mais 
grupos familiares extensos nas regiões em que se radicaram, 
e por grande parte dos vizinhos não mais compreender os 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
1
3 
conteúdos das folias ou terem abandonado as práticas 
religiosas ou adotado credos não-católicos. Há freqüentes 
manifestações do desejo de reativar as folias, havendo o 
fenômeno da reativação de algumas delas neste ciclo 
natalino de 2010/2011: a Folia de Reis do Bairro Angola, 
cuja liderança é o Sr. Raimundo Moreira Barbosa; a Folia de 
Reis e de São Sebastião do Bairro Cruzeiro, na Regional 
Citrolândia, cujo líder é o Sr. Reservindo. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
1
4 
14. DELIMITAÇÃO E 
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE 
OCORRÊNCIA 
 
 
 
 
A Folia de Reis do Bairro Santo Afonso atua 
principalmente nos bairros Santo Afonso e Marimbá, da 
Regional Administrativa Vianópolis. O Bairro Santo Afonso é 
o mais antigo núcleo urbano da Regional, e tem a Rua 
Governador Valadares, onde está a sede da Folia, como eixo 
articulador, no qual estão dispostos os principais 
equipamentos públicos locais: ponto final da linha 830 de 
transporte coletivo; a tradicional casa noturna do Itamar, 
de público popular, conhecida e freqüentada por moradores 
de toda Betim; a Associação Batista de Assistência Social, 
grande complexo arquitetônico onde se desenvolvem 
atividades principalmente educacionais e retiros 
espirituais; a Capela de Santo Afonso e outros. Trata-se de 
um núcleo urbano pequeno, ainda entremeado por muitas 
propriedades de caráter semi-rural, como sítios e chácaras. 
Entretanto o bairro tem outros núcleos, conhecidos como 
Cana Velha e Barro Branco. 
O bairro Marimbá constitui a principal área de 
metropolização da Regional Administrativa Vianópolis 
atualmente. Ainda um importante reduto de sítios e 
fazendas, abriga diversos loteamentos de características 
populares, onde tanto vivem antigas famílias radicadas na 
região, como migrantes oriundos das áreas periféricas da 
região metropolitana de Belo Horizonte e também do interior 
de Minas. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
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5 
Ainda há muitos moradores, em ambos os bairros, 
interessados em receber a Folia, sendo visitados anualmente 
por ela cerca de 40 residências; porém observa que a 
vizinhança desses moradores, especialmente no bairro 
Marimbá, sequer percebe a presença da manifestação, por ser 
esta ilegível aos não-iniciados. 
Segundo informações das lideranças da Folia, as casas 
constantemente visitadas nos últimos anos são: 
 
Nome do anfitrião Bairro 
João Açude 
Nativa Barro Branco 
Clemência Barro Branco 
Marinho Antônio Barro Branco 
Baiano Barro Branco 
Maria do Sinval Barro Branco 
Sinval Barro Branco 
Salvador Antônio Cândido Barro Branco 
Vicentina Pinto Califórnia 
Nilton Diniz Cana Velha 
Rosalino Benevides Cana Velha 
Rosilene (Preta) Cana Velha 
Barbosa Cana Velha 
Warley (Arlim) Cana Velha 
Breno Cana Velha 
Antônio Cesário Cana Velha 
Neuza Cana Velha 
Gervásio Cana Velha 
Eliseu Cana Velha 
Waldemar Gentileza 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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6 
Osmar Jr. (Mazinho) Gentileza 
Helena Gentileza 
José Silva (Mercearia Silva 
e Nane) 
Marimbá 
Rita Marimbá 
Dona Preta Marimbá 
Carlinhos da Lia Marimbá 
Zé Brejeiro Marimbá 
Forró do Itamar Santo Afonso 
Antônio Pinto Santo Afonso 
Paulo Bicó Santo Afonso 
Carlos Gomes Santo Afonso 
Erci Filomeno Diniz Santo Afonso 
Carlos e Dinéia Santo Afonso 
José Maria Cândido Santo Afonso 
Missão Ramacrisna Santo Afonso 
Júlio Santo Afonso 
Adilson Santo Afonso 
Kathia Diniz Santo Afonso 
João Santo Afonso 
Efigênia Santo Afonso 
Patrícia Santo Afonso 
Osmar Gonçalves Diniz Santo Afonso 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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15. SALVAGUARDA E 
VALORIZAÇÃO: 
 
Recomenda-se, para a adequada salvaguarda e conservação da 
Folia de Reis e São Sebastião de Santo Afonso: 
1. Manter a autonomia do clã Gonçalves Diniz na 
concepção, execução e liderança da Folia. Algumas das 
lideranças do grupo, ocasionalmente, reivindicam a 
intervenção do poder público no sentido de conceder 
recursos para a Folia, como novos instrumentos. As 
pesquisas sobre a folia em outras regiões de Betim 
mostram que, quando o poder público interfere com essa 
perspectiva (dotar o movimento de recursos materiais), 
a vitalidade da manifestação cultural fica 
estritamente dependente da continuidade dessa 
intervenção. O Sr. Antônio Coló, por exemplo, atribui 
a desagregação da Folia de Reis do Bairro Cachoeira a 
essa dependência. É recomendável que a participação do 
poder público neste movimento se dê no sentido de 
empoderar a Folia de Reis de Santo Afonso, a fim de 
que suas lideranças fortaleçam a sua organização e 
aprendam novos caminhos para combater a escassez e as 
limitações. Essa perspectiva é forte, por exemplo, no 
líder Osmar Gonçalves Diniz, quando este reitera que 
não falta dinheiro para a folia, porque este é dado 
pela comunidade. 
2. Promover o intercâmbio entre as folias de reis de 
Betim e dos municípios circunvizinhos é uma 
interessante estratégia de conservação. Como a 
configuração das foliasé passada de geração a 
geração, por vias orais, é importante que os 
detentores dos saberes sobre a folia possam se 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
1
8 
encontrar e conversar, e que as folias possam ver as 
performances umas das outras. Entretanto, Osmar 
Gonçalves Diniz não aprecia muito encontros de folias, 
acha-os artificiais e acredita que muitas das folias 
que participam desses encontros não existem mais como 
manifestações devocionais do ciclo natalino; apenas 
“batem folia” nos encontros. Ele também informa ter 
dificuldades para reunir seu grupo quando é convidado 
para tais encontros, devido aos horários de trabalho e 
limitações na locomoção. 
3. Em 2009, a Folia de Reis de Santo Afonso estava sem 
violeiros fixos. Em 2010, conseguiu recrutar Nely e 
José Silva, mãe e filho, violeiros, na própria 
comunidade. Ao longo das pesquisas, o Sr. Osmar 
relatou que uma de suas principais dificuldades tem 
sido transmitir os saberes sobre a execução da sanfona 
de oito baixos. Isso porque ele aprendeu “ouvindo e 
vendo” seu pai tocar, mas não sabe como ensinar 
(entrevista em dezembro de 2010). Um de seus netos, 
Gabriel, está apresentando bons resultados com uma 
sanfona de brinquedo, vendo seu avô tocar; há 
esperanças de que ele adquira esse saber. Daí decorre 
que a formação musical para o canto e a execução de 
instrumentos pode ser uma importante ação de fomento a 
esta Folia. A Fundação Artístico Cultural de Betim 
possui um centro de formação, o Centro Popular de 
Cultura Joaquim Nicolau, na região, que pode ser o 
irradiador dessas ações de formação. 
4. Atualmente, há apenas uma pessoa na comunidade de 
Santo Afonso apta a confeccionar máscaras para os 
palhaços da Folia conforme o rigor das tradições: D. 
Ilza Cândido. Idosa, ela já nem sempre pode atender às 
encomendas com muita agilidade. Uma interessante ação 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
1
9 
de fomento seria a promoção de oficinas em que esta 
senhora pudesse transmitir seus saberes, valorizando 
saberes que ela acumulou ao longo da vida. 
5. Na comunidade que envolve a Folia, ainda há muitas 
famílias capazes de ler os conteúdos desta 
manifestação. Porém, é evidente que elas vêm 
diminuindo ao longo dos anos, o que é visível, por 
exemplo, no desaparecimento dos presépios. Ações de 
educação patrimonial na comunidade podem contribuir 
para a retomada do contexto para esta e outras Folias. 
6. A Folia de Santo Afonso pode ser um epicentro da 
retomada de manifestações foliãs em Betim. A ação 
pública de realização de encontros de folias pode ser 
uma estratégia para a agregação dos foliões e a 
ampliação da leitura sobre essa manifestação na 
cidade. A autonomia do clã Diniz para participar ou 
não dos encontros deve ser preservada. 
 
Cronograma de ações de fomento à Folia de Reis do Bairro 
Santo Afonso 
Ações/2011 1º 
Trim. 
2º Trim. 3º 
Trim. 
4º 
Trim. 
1. Apoiar a 
renovação dos 
instrumentos e 
materiais da 
folia, através do 
fornecimento de 
dois couros para 
as caixas e um 
xique-xique, 
apontados pelo 
 x 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2
0 
Sr. Osmar 
Gonçalves Diniz 
como necessidades 
atuais. 
2. Apoiar a 
renovação da 
indumentária da 
Folia, através do 
fornecimento de 
tecidos para a 
confecção de um 
conjunto de 
fardas pela 
comunidade. 
 x 
3. Desenvolver 
projeto de 
aperfeiçoamento 
musical da Folia 
de Santo Afonso, 
através da 
técnica vocal, 
que ajudará a 
proteger as 
vozes, 
especialmente de 
Liquita e Joaquim 
Diniz, e da 
execução de 
instrumentos 
musicais. 
 x x 
4. Promover oficina 
de máscaras com a 
 x 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2
1 
presença de D. 
Ilza Ferreira 
Cândido, 
detentora dos 
saberes sobre as 
mesmas. 
5. Promover 
atividades de 
educação 
patrimonial na 
comunidade nas 
proximidades do 
ciclo natalino. 
 x 
6. Realização de 
encontro de 
folias de reis em 
dezembro, com a 
montagem de 
presépio. A Folia 
de Reis de Santo 
Afonso será 
convidada para 
funcionar como 
estímulo a outras 
folias em 
processo de 
reativação ou em 
atividade. 
 x 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2
2 
16. DOCUMENTAÇÃO 
FOTOGRÁFICA 
 
 
 
Folia em 2001 – Última participação de Milton Pedro Cândido (Acervo 
da foliã Renilda) 
 
 
 
Interior da Capela de Santo Afonso em 2001, no arremate da Folia 
(Acervo da foliã Renilda) 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2
3 
 
 
Arremate da Folia em 2001 (Acervo da foliã Renilda) 
 
 
Apresentação da Folia em 2008 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2
4 
 
Palhaço com a máscara levantada diante do presépio / 
2008 
 
 
 
 
 
 
Folia entra solenemente na Capela de Santo Afonso / 2008 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2
5 
 
As cantoras da Folia / 2008. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Festa do arremate da Folia: a comunidade participa de um 
lanche / 2008. 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
2
6 
 
 
Folia de Santo Afonso aguarda a abertura da porta na Missão 
Ramacrisna. 05/10/2010. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Solange Botaro abre a porta da Missão (05/01/2010). 
 
 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Enderson Liquita puxa o canto de entrada (05/01/2010) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Negociações entre os palhaços e o dono da casa 
(05/01/2010). 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Performance do Pastorinho e do Benedito (05/01/2010). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Performance do Pastorinho e do Benedito (05/01/2010). 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Performance do Bastião (05/01/2010) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sr. Joaquim e Sr. Osmar Diniz, Barbosa no reco-reco 
(05/01/2010) 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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A “perninha” executada pelo Pastorinho e pelo Benedito 
(05/01/2010) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As anfitriãs da Missão Ramacrisna, Efigênia e Solange 
Botaro, conduzem a bandeira de Santos Reis (05/01/2010). 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Efigênia e Gilberto, anfitriões da Missão Ramacrisna em 
janeiro/2011, portam o bastão e a bandeira da Folia, 
enquanto os palhaços ajoelhados diante do presépio aguardam 
a execução do canto de presépio, pela Folia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A dançado chicote na Missão Ramacrisna em janeiro de 2011. 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Músicos e cantadores da Folia. Observar a significativa 
presença das mulheres. Janeiro 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Comunidade de Santo Afonso, presente ao Arremate da Folia 
em 08/01/2011 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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O presépio da casa do Sr. Osmar, onde se deu o Arremate em 
2011. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os músicos da Folia durante o canto de chegada – Arremate 
da Folia (08/11/2011) 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Os palhaços entram na casa do Sr. Osmar em 08/01/2011. D. 
Maria de Lourdes os recebe portando a bandeira. Atentar 
para as máscaras produzidas para este ciclo da Folia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Negociações do Velho com a dona da casa. 08/01/2011 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Os palhaços se ajoelham diante do presépio (08/01/2011) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Folia executa o canto de presépio (08/01/2011) 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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Participação do palhaço Pastorinho no Arremate da Folia 
(08/01/2011) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
D. Maria de Lourdes negocia com o Bastião (08/01/2011) 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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3
7 
17. REGISTRO 
AUDIOVISUAL: 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
3
8 
18. REFERÊNCIAS 
 
Fontes Orais 
Antônio Pinto de Carvalho, Antônio “Coló” (Av. Amazonas, 
3.998, Bairro Cachoeira) 
Enderson Júnior Benevides 
Giovanni Lopes 
Giovanni Lopes 
Joaquim Alves Diniz 
Keuller Fernando 
Letícia 
Luciano 
Maria de Lourdes Benevides Diniz 
Mateus Diniz 
Odorino 
Osmar Gonçalves Diniz 
Patrícia 
Rafael 
 
Bibliografia 
ALVES, R. Os três reis. Tempo & Presença, n. 321, p. 33-34, 
jan./fev. 2002. Disponível em: 
<http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/id151201
.htm>. Acesso em: 30/12/2010. 
 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
3
9 
BOLLEME. Geneviéve. O povo por escrito. (Tradução de 
Antonio de Pádua Danesi). São Paulo: Martins Fontes, 1988. 
 
BRANCHES, Eloísa. A espetacularidade da performance ritual 
no reisado do Mulungu – Chapada Diamantina – Bahia. 
Religião e Sociedade, Rio de Janeiro, 27(1): 24-47, 2007. 
 
FONSECA, Geraldo. Origens da Nova Força de Minas: Betim, 
sua História. 1711-1975. Betim: Prefeitura Municipal de 
Betim, 1975. 
 
FREITAS, Flávia. Salve! Salve a Nossa Cidade... Memória de 
Betim. Betim: MM Impressão, s/d, 101p. 
 
GOLOVATY, Ricardo Vidal. A folclorização da cultura 
popular: a folia de Santos Reis no Jornal Correio de 
Uberlândia, 1984-2002. História e perspectivas, Uberlândia 
(32/33): 221-244, Jan. Jul./Ago.Dez, 2005. 
 
GOMES, Ana Claudia. Histórico da Vida Religiosa em Betim. 
Pesquisa encomendada pela Articulação Comunicação & 
Marketing. Betim - MG, 2005 (texto não-publicado). 
 
MAIA, Tom. O folclore das tropas, tropeiros e cargueiros no 
vale do Parnaíba. Rio de Janeiro: Funarte: Instituto 
Nacional de Folclore, 1981. 
 
MARTINS, Saul. Folclore em Minas Gerais. Belo Horizonte: 
UFMG, 1991. 
 
MARTINS, Sebastião. Caminhos de minas. São Paulo: 
Publicações e Comunicações, 1992. 
 
MODESTO, Ana Lúcia & PITANGUI, Cleonice. Levantamento 
Cultural de Betim. Betim: FUNARBE, 1996. (mimeo). 
 
PAULINO, Rogério Lopes da S. Máscaras vivas ou em extinção? 
Tradição e renovação nas folias de reis. In: IV Reunião 
Científica de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas, 
Belo Horizonte, 2007. 
 
PESSOA, Jadir de Morais. Mestres de caixa e viola. Cad. 
Cedes, Campinas, vol. 27, n. 71, p. 63-83, jan./abr. 2007. 
 
PREFEITURA MUNICIPAL DE BETIM (Secretaria de Planejamento / 
Divisão de Planejamento). Informativo Municipal - Betim ano 
base 1999. Betim/MG: Prefeitura Municipal de Betim, 1999. 
102 p. 
 
RIBEIRO, Cláudia Júlio. Estudo e avaliação do sistema de 
reciclagem e tratamento de lixo domiciliar de Betim. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
4
0 
Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Engenharia 
da UFMG. 1997. (Dissertação de Mestrado). 
 
RODRIGUES, Maria Lúcia Estrada. A expansão industrial e o 
processo de produção do espaço em Betim. Universidade de 
São Paulo. 1980. (Dissertação de Mestrado). 
 
RUGANI, Jurema Marteleto. Betim, no caminho que vai das 
Minas à industrialização. Universidade Federal de Minas 
Gerais. Escola de Arquitetura da UFMG. 2001. (Dissertação 
de Mestrado). 
 
SILVEIRA, Marco Antônio. Os arraiais e as vilas nas minas 
gerais. 4 ed. São Paulo: Atual, 1996. 
 
SINOPSE ESTATÍSTICA do Município de Betim – Estado de MG – 
Subsídios para Estudo da Evolução Política – Alguns 
Resultados Estatísticos – 1945. Principais Resultados 
Censitários – 1 – IX – 1940 – Rio de Janeiro – Serviço 
Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
– 1948. 
 
SOUZA, Martha Veloso Cólen Mourthé de et al. Resgatando a 
História. Betim. Betim: Gráfica da Prefeitura, s/d. 
 
STEIL, Carlos Alberto. Catolicismo e cultura. In: Victor 
Vincent Valla (org.). Religião e cultura popular. Rio de 
Janeiro: DP&A, 2001. 
 
VASCONCELLOS, Diogo L. Pereira de. História antiga das 
Minas Gerais. Belo Horizonte, 1974. 
 
WELLS, James W. Explorando e viajando três milhas através 
do Brasil. Do Rio de Janeiro ao Maranhão. Tradução de 
Myriam Ávila e Introdução de Christopher Hill. Belo 
Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos 
Históricos e Culturais, 1995. 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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4
1 
19. FICHA TÉCNICA 
 
Pesquisa e sistematização dos aspectos históricos e 
geográficos do município 
Ana Claudia Gomes (Mestre em História pela UFMG (2002) 
Rodrigo Cunha Chagas (Bacharel Licenciado em História 
PUC/MG) 
Henrique Moreira de Castro (Geógrafo Especialista em 
Percepção Ambiental e Espaço Urbano pela UFMG). 
 
Pesquisa e sistematização dos dados históricos e 
antropológicos sobre a Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
Adriana das Graças Araújo Lisboa 
Ana Claudia Gomes 
Otília Sales Neta 
 
Transcrição das entrevistas 
Ana Claudia Gomes 
 
Colaboração nos levantamentos de campo de 2009 
Lázaro Mariano Alves 
 
Pesquisa bibliográfica, elaboração e revisão 
Ana Claudia Gomes 
 
Documentação fotográfica e audiovisual 
Adeildo Silva 
Ana Claudia Gomes 
Andrey dos Santos (Projeto Antenados – Missão Ramacrisna) 
Giovanni Lopes (Acervo da Folia de Reis do Bairro Santo 
Afonso) 
Renilda (Acervo da Folia de Reis do Bairro Santo Afonso) 
Leandro Dias (Projeto Antenados – Missão Ramacrisna) 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
4
2 
Cristiano Menezes Aguiar 
Rafael Kenedy 
Willian Pereira Faustino 
Thales Gomes da Silva Santos 
 
Edição da documentação audiovisual 
Carolina Miranda 
 
 
Realização 
Departamentode Memória e Patrimônio Cultural 
Fundação Artístico Cultural de Betim – FUNARBE 
Aderbal Hipólito Lara Gomes – Presidente 
Rodrigo Cunha Chagas – Superintendente 
 
Prefeitura Municipal de Betim 
Maria do Carmo Lara Perpétuo – Prefeita 
Alex Tadeu do Amaral Ribeiro – Vice-prefeito 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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3 
20. TRÂMITE DO REGISTRO 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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4
4 
PROPOSTA DE REGISTRO DE 
BEM CULTURAL COMO 
PATRIMÔNIO CULTURAL 
IMATERIAL DO MUNICÍPIO 
 
Nós, Adriana de Araújo Lisboa, Ana Claudia Gomes e Otília 
Sales Neta, componentes do Departamento de Memória e 
Patrimônio Cultural da FUNARBE, vimos respeitosamente à 
presença deste egrégio Conselho para solicitar o registro 
da Folia de Reis do Bairro Santo Afonso como patrimônio 
cultural de Betim. Como historiadoras e cidadãs, vimos 
acompanhando as atividades da Folia desde 2009, ocasião em 
que conduzimos o Inventário Participativo do Patrimônio 
Cultural da Regional Vianópolis; na ocasião, a comunidade 
indicou a atividade de diversas folias na região, com 
ênfase para a Folia de Santo Afonso, a mais antiga, 
autônoma e ativa de que se tem notícia. O bem foi 
inventariado juntamente com outras duas folias, sua 
atividade vem sendo divulgada através dos serviços de 
comunicação da Prefeitura de Betim e suas influências já 
são sentidas na reativação de outras folias. As 
possibilidades de que a valorização da Folia de Santo 
Afonso contribua na reativação e no fortalecimento das 
manifestações foliãs em Betim são bastante significativas, 
sendo uma de nossas motivações na solicitação presente. 
Atenciosamente, 
 
Betim, 04 de janeiro de 2011. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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4
5 
 
Adriana de Araújo Lisboa / Ana Claudia Gomes / Otília Sales 
Neta 
Departamento de Memória e Patrimônio Cultural - FUNARBE 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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4
6 
 ATA DE APROVAÇÃO 
PROVISÓRIA 
 
 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
4
7 
PARECER TÉCNICO SOBRE O 
REGISTRO DO BEM 
CULTURAL 
 
 
 
 
Após ter conduzido os trabalhos de pesquisa e 
sistematização das informações sobre a Folia de Reis do 
Bairro Santo Afonso, de Betim – MG, manifesto-me 
favoravelmente ao seu registro como patrimônio cultural 
deste Município, pelas seguintes razões: 
 
1. Trata-se do único grupo remanescente desta 
manifestação em atividade ininterrupta há várias 
décadas em Betim; 
2. É um grupo que resguarda diversas das características 
ancestrais associadas às celebrações da natividade da 
divindade cristã e que as atualiza frequentemente, 
permitindo a recontextualização da manifestação na 
contemporaneidade; 
3. Trata-se de um grupo dotado de intensa vitalidade e 
capacidade de auto-organização e auto-reprodução, o 
que abre perspectivas de que seu registro e fomento 
estimulem grupos similares a retomar seus trabalhos de 
memória e expressão cultural através desta 
manifestação; 
4. As atividades do grupo permitem a experiência de uma 
manifestação cultural complexa e elaborada, o que 
reitera o reconhecimento da produção cultural do povo 
brasileiro e betinense. 
 
Betim, 15 de janeiro de 2011. 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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8 
 
 
Ana Claudia Gomes 
Mestre em História pela UFMG 
Departamento de Memória e Patrimônio Cultural - FUNARBE 
 
 
PARECER DO CONSELHO 
DELIBERATIVO DO 
PATRIMÔNIO CULTURAL DE 
BETIM SOBRE O REGISTRO 
DO BEM CULTURAL 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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9 
NOTIFICAÇÕES/ 
COMUNICAÇÃO E RECIBOS 
 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
1
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0 
 
NOTIFICAÇÃO 
 
 
Notificamos ao Sr. Osmar Gonçalves Diniz, mestre da 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso, que o Conselho 
Deliberativo do Patrimônio Cultural de Betim aprovou o 
registro desta Folia de Reis como patrimônio cultural de 
Betim. 
Informamos que o registro é regido pela Lei Municipal 
2.944/1996, que foi regulamentada pelo Decreto 16.389/2000, 
legislação que determina responsabilidades ao poder público 
na promoção e fomento dos bens culturais municipais. 
O registro constitui um estímulo a que a Folia de Reis 
de Santo Afonso permaneça ativa e conserve seus saberes, 
visto que esta manifestação enriquece o acervo cultural do 
povo betinense. 
Solicitamos que, estando a Folia de Reis de Santo 
Afonso em concordância com o presente registro, seu líder 
assine o recibo anexo, manifestando estar ciente desta 
ação. 
 
Betim, 10 de janeiro de 2011. 
 
 
Rodrigo Cunha 
Presidente Interino do Conselho Deliberativo do Patrimônio 
Cultural de Betim
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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1 
 
 
 
 
RECIBO 
 
 
Recebi notificação sobre o processo de registro da Folia de 
Reis de Santo Afonso como patrimônio cultural do Município 
de Betim, ação com a qual eu e o grupo de foliões que 
oriento estamos em acordo. 
 
 
Betim, 07 de janeiro de 2011. 
 
 
 
Osmar Gonçalves Diniz 
Mestre da Folia de Reis do Bairro Santo Afonso
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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2 
PRONUNCIAMENTO DA INTENÇÃO DE REGISTRO DA FOLIA DE REIS E SÃO 
SEBASTIÃO DE SANTO AFONSO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DO MUNICÍPIO 
DE BETIM 
 
 A Fundação Artístico Cultural de Betim (FUNARBE) e o Conselho 
Deliberativo do Patrimônio Cultural de Betim fazem saber que 
estão sendo desenvolvidos os procedimentos previstos na Lei nº 
2.944 de 24 de setembro de 1996, que institui a política 
municipal de proteção ao patrimônio cultural, e regulamentados 
pelo Decreto nº 16.389, de 26 de outubro de 2000, que institui o 
registro de bens culturais de natureza imaterial que constituem 
o patrimônio cultural de Betim, para o registro da FOLIA DE REIS 
DO BAIRRO SANTO AFONSO. 
 
A proposta de registro partiu da própria Fundação, tendo em 
vista a exemplaridade e relevância do bem cultural indicado para 
registro para a memória e a identidade das comunidades culturais 
que o desenvolvem e o reconhecem, tendo sido aprovada pelo 
Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Betim, em 
caráter provisório, no dia 06 de janeiro de 2011, e em caráter 
definitivo, no dia 14 de janeiro de 2011. Ao deliberar sobre o 
registro definitivo, o Conselho Deliberativo do Patrimônio 
Cultural de Betim teve em consideração os estudos técnicos, 
históricos e antropológicos, desenvolvidos pela equipe técnica 
da Fundação Artístico Cultural de Betim. 
 
Em caso de eventuais manifestações da comunidade a respeito da 
intenção ora pronunciada, estas deverão ser protocoladas junto à 
Fundação Artístico Cultural de Betim, à Avenida Governador 
Valadares, 888, Centro, Betim, endereçadas ao Conselho 
Deliberativo do Patrimônio Cultural de Betim, num prazo de 30 
(trinta) dias contados a partir da publicação da intenção de 
registro. 
 
 
Betim, 14 de janeiro de 2011. 
 
 
 
Aderbal Hipólito Lara Gomes 
Presidente da Fundação Artístico Cultural de Betim 
Presidente do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de 
BetimDOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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3 
 
 
 
 
Publicação
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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4 
 
ATA DE APROVAÇÃO 
DEFINITIVA 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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5 
RENÚNCIA DA FOLIA DE 
REIS DO BAIRRO SANTO 
AFONSO AO PRAZO DE 
IMPUGNAÇÃO 
 
 
 
 
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Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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6 
CÓPIA DO DECRETO OU 
HOMOLOGAÇÃO DO 
REGISTRO. 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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7 
 
INSCRIÇÃO NO LIVRO DE 
REGISTRO 
DOSSIÊ DE REGISTRO DE BEM CULTURAL IMATERIAL 
 
Folia de Reis do Bairro Santo Afonso 
 
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5
8 
 
21. DOCUMENTOS DIVERSOS 
 
 
 
Matérias da imprensa betinense sobre a Folia

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