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Efeitos da Condenação

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Direito Penal II 
Profa. M.Sc. Lidiane Lopes 
Efeitos da Condenação 
 
A condenação traz como principal efeito a imposição de pena (PPL/PRD/Multa) ou em 
sendo a sentença absolutória imprópria (inimputável) a imposição de Medida de 
Segurança (Internação ou Tratamento Ambulatorial). 
 
Nos artigos 91 e 92 do CP estudamos os efeitos extrapenais da condenação que podem 
ser: a) Genéricos (art. 91, CP) 
 Efeitos Extrapenais 
 b) Específicos (art. 92, CP) 
 
Vejamos: 
Efeitos genéricos e específicos 
Efeitos Genéricos: 
Art. 91 - São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; 
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: 
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, 
uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; (instrumenta sceleris) 
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito 
auferido pelo agente com a prática do fato criminoso. (producta sceleris) 
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§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou 
proveito do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no 
exterior. (Incluído pela Lei nº 12.694, de 2012) 
§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual 
poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para 
posterior decretação de perda. 
 
Não fazem coisa julgada no cível: 
a) sentença que concessiva de perdão judicial; 
b) sentença que reconhece a prescrição da pretensão punitiva (PPP) - a PPE não 
impede a execução no cível pois pressupõe condenação; 
c) sentença homologatória da composição civil e da transação penal (Lei 9.099/95) - 
não há condenação nos termos do art. 91, CP; 
d) sentença absolutória imprópria (inimputável - art. 26, CP, ainda que aplique MS). 
 
Efeitos Específicos: 
Art. 92 - São também efeitos da condenação: 
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: 
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, 
nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a 
Administração Pública; 
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) 
anos nos demais casos. 
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes 
dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; 
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de 
crime doloso. 
CRIME FUNCIONAL + PPP igual ou superior a 1 ano 
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Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser 
motivadamente declarados na sentença. 
 
Vejamos alguns breves comentários: 
A perda de cargo ou da função pública tem natureza administrativa, enquanto que a 
perda do mandato eletivo possui natureza política. 
Vale observar que: a perda do cargo ou da função pública quando o agente é 
condenado à pena privativa de liberdade inferior a 1 ano, à pena restritiva de direitos ou 
somente à pena de multa, é possível em face do processo administrativo que apura o ato 
de improbidade administrativa praticado pelo agente. Fundamento: independência das 
instâncias. 
 
Perda do Mandato eletivo - CF x CP 
CF/88: 
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará 
nos casos de: 
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos. 
Congressistas: 
CF/88: 
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: 
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; 
§ 2º - Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela Câmara dos 
Deputados ou pelo Senado Federal, por voto secreto e maioria absoluta, mediante 
provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso 
Nacional, assegurada ampla defesa. 
Observação: pelo Princípio da Simetria, os dispositivos acima são aplicados aos 
Deputados Estadual e Distritais. 
 
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Vereadores: quanto a estes, cabe a aplicação da regra geral do afastamento automático. 
 
Inelegibilidade: após o cumprimento da pena (decorrente da condenação criminal) pela 
prática de crime funcional, fica o funcionário público (art. 327, CP) inelegível para o 
exercício dos direitos políticos, pelo prazo de 3 anos, nos termos do art. 1º, inciso I, alínea 
"e" da LC 64/90. Ver ainda: LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa que alterou a LC 64/90 - 
vide artigo transcrito abaixo) e STF: AP 470 (caso Mensalão). 
LC 64/90 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
e) os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão 
judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o 
cumprimento da pena, pelos crimes: (Redação dada pela Lei Complementar nº 135, de 
2010) 
1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público; 
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) 
2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os previstos 
na lei que regula a falência; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) 
3. contra o meio ambiente e a saúde pública; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 
2010) 
4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei 
Complementar nº 135, de 2010) 
5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à 
inabilitação para o exercício de função pública; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, 
de 2010) 
6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; (Incluído pela Lei Complementar 
nº 135, de 2010) 
7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos; 
(Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) 
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8. de redução à condição análoga à de escravo; (Incluído pela Lei Complementar nº 135, 
de 2010) 
9. contra a vida e a dignidade sexual; e (Incluído pela Lei Complementar nº 135, de 2010) 
10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando; (Incluído pela Lei 
Complementar nº 135, de 2010) 
 
CF/88. 
Art. 14. § 9º Lei complementar (LC64/90) estabelecerá outros casos de inelegibilidade e 
os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade 
para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e 
legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício 
de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. 
 
Observação: a Legislação Penal Extravagante/Especial lista outros efeitos extrapenais 
(secundários) da condenação. 
 
Reabilitação 
O CP dispõe expressamente acerca dos objetivos da reabilitação: 
Reabilitação 
Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em sentença definitiva, 
assegurando ao condenado o sigilo dos registros sobre o seu processo e condenação. 
Parágrafo único - A reabilitação poderá, também, atingir os efeitos da condenação, 
previstos no art. 92 deste Código, vedada reintegração na situação anterior, nos casos 
dos incisos I e II do mesmo artigo. 
 
Temos então que ela visa: 
a) garantir o SIGILO DOS REGISTROS referentes ao processo e condenação do agente; 
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b) extinguir os EFEITOS SECUNDÁRIOS EXTRAPENAIS ESPECÍFICOS da sentença 
penal condenatória. 
Exceto os relacionados no art. 92, incisos I e II (quais sejam: I - a perda de cargo, função 
pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativade liberdade por tempo 
igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de 
dever para com a Administração Pública; b) quando for aplicada pena privativa de 
liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. II - a incapacidade para 
o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de 
reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado). 
 
Observação: 
1) a reabilitação não obsta a reincidência no período de 5 anos, caso o agente venha a 
praticar novo crime após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. 
2) LEP: prevê no art. 202 efeito automático (independe de reabilitação) 
Ressalva: o sigilo decorrente da reabilitação criminal só pode ser excepcionado por ordem 
judicial ≠ do sigilo previsto no art. 202 da LEP que pode ser quebrado por autoridade 
administrativa. 
LEP - Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha corrida, atestados ou 
certidões fornecidas por autoridade policial ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia 
ou referência à condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração 
penal ou outros casos expressos em lei. 
Mas vale observar que ainda que revogada a reabilitação, permanece o sigilo do art. 
202 da LEP. 
 
Requisitos e Processamento da Reabilitação: 
CP: 
Art. 94 - A reabilitação poderá ser requerida, decorridos 2 (dois) anos do dia em que 
for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar sua execução, computando-se o 
período de prova da suspensão e o do livramento condicional, se não sobrevier revogação, 
desde que o condenado: 
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I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido; 
II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração efetiva e constante de bom 
comportamento público e privado; 
III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou demonstre a absoluta 
impossibilidade de o fazer, até o dia do pedido, ou exiba documento que comprove a 
renúncia da vítima ou novação da dívida. 
Se a reabilitação for negada: 
Parágrafo único - Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, 
desde que o pedido seja instruído com novos elementos comprobatórios dos 
requisitos necessários. 
 
O pedido de reabilitação é endereçado ao juízo da condenação. 
Da decisão cabe apelação (da decisão que nega/concede a reabilitação)/recuso de ofício 
(da decisão que concede a reabilitação - CPP: Art. 746. Da decisão que conceder a 
reabilitação haverá recurso de ofício). 
 
Aspectos processuais: 
CPP: 
Art. 743. A reabilitação será requerida ao juiz da condenação, após o decurso de 
quatro ou oito anos, pelo menos, conforme se trate de condenado ou reincidente, contados 
do dia em que houver terminado a execução da pena principal ou da medida de segurança 
detentiva, devendo o requerente indicar as comarcas em que haja residido durante aquele 
tempo. 
Art. 744. O requerimento será instruído com: 
I - certidões comprobatórias de não ter o requerente respondido, nem estar respondendo 
a processo penal, em qualquer das comarcas em que houver residido durante o prazo a 
que se refere o artigo anterior; 
II - atestados de autoridades policiais ou outros documentos que comprovem ter residido 
nas comarcas indicadas e mantido, efetivamente, bom comportamento; 
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III - atestados de bom comportamento fornecidos por pessoas a cujo serviço tenha estado; 
IV - quaisquer outros documentos que sirvam como prova de sua regeneração; 
V - prova de haver ressarcido o dano causado pelo crime ou persistir a impossibilidade de 
fazê-lo. 
Art. 745. O juiz poderá ordenar as diligências necessárias para apreciação do pedido, 
cercando-as do sigilo possível e, antes da decisão final, ouvirá o Ministério Público. 
Art. 747. A reabilitação, depois de sentença irrecorrível, será comunicada ao 
Instituto de Identificação e Estatística ou repartição congênere. 
Art. 748. A condenação ou condenações anteriores não serão mencionadas na folha 
de antecedentes do reabilitado, nem em certidão extraída dos livros do juízo, salvo 
quando requisitadas por juiz criminal. 
 
Revogação da reabilitação: 
CP: 
Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou a requerimento do Ministério 
Público, se o reabilitado for condenado, como reincidente, por decisão definitiva, a pena 
que não seja de multa. 
 
Conclusão: a reabilitação só pode ser revogada no período de 5 anos (art. 64, I do CP).

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