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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR - UCSAL FACULDADE DE DIREITO TEORIA GERAL DO PROCESSO Tema 09 - Do processo como relação jurídica. Processo e procedimento. Aspectos. Características. Teorias de KOHLER, HELLWIG, BÜLOW e WACH. DO PROCESSO COMO RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSO E PROCEDIMENTO Podemos estudar o processo focalizando-o em dois aspectos distintos : Formal e Substancial. Sob o Aspecto Formal, vemos o processo em sua expressão exterior, com uma seqüência de atos processuais visando, afinal, o julgamento da lide, isto é, da questão ajuizada. É assim o processo mero procedimento - curso de atos praticados em juízo -, ou bem seja o encadeamento dos atos praticados pelas partes querelantes, pelo juiz e pessoas outras que assistem ou auxiliam a justiça, objetivando o esclarecimento da verdade e a tutela estatal dos direitos questionados, pela final sentença de julgamento da causa, condenando ou absolvendo o réu. Por outro lado, o significado e importância da relação jurídica processual, situa-se na visão unitária do processo : O processo como um curso inteiro, que se mantém desde a inicial até a sentença, albergando a ação ajuizada e sua controvérsia, ou bem seja a causa propriamente dita valendo dizer a lide no sentido estrito. Enquanto o procedimento empresta relevância aos atos em si, quanto a sucessividade, oportunidade, validade e demais conseqüências resultantes de sua realização ou omissão. É o procedimento que revela o processo, mas é o processo que visa alcançar o objetivo final, que é a entrega da prestação pelo Estado-Juiz. Assim como uma corrente se compõe de vários elos, formando um objeto único, o processo formado por muitos atos, constitui um único instrumento que se inicia com a provocação da parte autora (petição inicial) e fecha com a sentença passada em julgado. A esse trânsito, a partir da reclamação (provocação) do autor até a sentença passada em julgado, denomina-se de lide em sentido estrito. Sob o Aspecto Substancial, o processo implica em uma relação jurídica processual, ou seja o vínculo que une autor, juiz e réu, inversa da relação de direito material que qualifica a ação. São estes os sujeitos processuais em face dos interesses que, embora diversos, se ligam intimamente a um fim comum, ou seja a sentença, declarando a vontade concreta da lei naquele caso particular e pertinente à pretensão ajuizada e controvertida. Na formação da relação processual, interpenetram-se interesses contrapostos dos sujeitos processuais e afirmam-se direitos e deveres processuais recíprocos, diversos do direito material invocado pelo autor (direito material que qualifica a ação), isto é, diverso em essência do conflito de interesses agitados na lide, como também presentes estão os interesses do Estado/Juiz. Consoante preleciona Moacyr Amaral Santos, “no processo, naquela série ordenada de atos, formando uma unidade, tendentes a um fim, que é a provisão jurisdicional, se contém uma relação jurídica, de natureza complexa, compreendendo direitos, deveres e ônus das partes, mais direitos, poderes e deveres do juiz, prescritos pela lei processual. Trata-se, pois, de uma relação jurídica processual, da qual participam o autor, o réu e o juiz. ” E, logo adiante, o mesmo Autor arremata : “em suma o processo é uma série de atos que resultam de uma relação jurídica entre sujeitos processuais, juiz, autor e réu. Assim, o processo tem natureza de uma relação jurídica, ou, por outras palavras, processo é uma relação entre os sujeitos processuais juridicamente regulada.” (obr. cit., pág. 271) De fato, assim como tem a pessoa que promove a ação (autor) o direito de exigir do Estado a prestação juriscidional, isto é, que lhe faça justiça, tutelando pretensão que acredita fundada na lei, paralelamente assiste também ao acionado (réu) o direito de defesa, o direito de não ser compelido a fazer ou deixar de fazer alguma coisa sem ser previamente ouvido e segundo a vontade da lei. Esses direitos, do autor e réu, de pedir a prestação jurisdicional e do devido processo legal, respectivamente, têm como sujeito passivo (pessoa obrigada) o Estado. São direitos subjetivos públicos, de natureza constitucional-processual, endereçados ao Estado como pessoa obrigada. Ai, pois, se encontra o aspecto substancial do processo. A relação jurídica processual se forma, como já explicitado, entre o autor, que pede a prestação da justiça, o juiz, que exerce a função jurisdicional do Estado e o réu, contra quem o autor pede satisfação de uma pretensão. E o seu objeto é o provimento jurisdicional. A relação jurídica processual, repetindo, se estabelece com a petição inicial, do autor, e se extingue com a sentença passada em julgado. Segundo Ada Pellegrini e seus Pares, a relação jurídica processual tem as seguintes características: “Características da relação processual A relação jurídica processual apresenta ainda certas características que, embora não sejam privativas, em seu conjunto, também servem para destinguí-la. Delas, ainda que mediante leves acenos, já se falou nos parágrafos precedentes; agora são expostas, cada uma de per si. Trata-se de complexidade, da progressividade, da unidade, do seu caráter tríplice, de sua natureza pública. Complexidade – Existem relações jurídicas simples e outras complexas, segundo impliquem a existência de uma só posição jurídica ativa e uma passiva, ou uma pluralidade destas ou daquelas. Pois a relação jurídica processual, como já se viu, apresenta-se como a soma de uma série de posições jurídicas ativas e passivas, derivando daí o seu caráter complexo. Progressividade (continuidade, dinamismo) – Nas relações jurídicas simples a ocorrência de determinado fato jurídico (extintivo) dissolve a relação, como, por exemplo, o pagamento dissolve a relação de mútuo. Nas complexas, ou acumulam-se desde logo diversas posições jurídicas (status, relações entre cônjuges ou entre sócios, contratos pluri-obrigacionais) ou então passa-se de posição em posição, pela ocorrência dos fatos juridicamente relevantes (daí o caráter de dinamismo). No processo, como já se disse, ocorrem atos e fatos jurídicos que conduzem de uma posição jurídica a outra, ao longo de todo o arco do procedimento. Unidade – Todos os atos do processo e todas essas posições jurídicas são coordenados a um objetivo comum, que é a emissão de um ato estatal imperativo ( o provimento jurisdicional): o processo se instaura e todo ele é feito com vistas a esse resultado final. Isso nos permite ver, na pluralidade das posições jurídicas que se sucedem, a unidade de uma relação processual, de um processo só: une-as a idéia do fim comum (unidade teleológica). Caráter tríplice – trata-se daquela característica, já explicada, consistente na existência de três sujeitos (Estado, autor, réu ). Natureza pública – Desde que o juiz, no processo, não é sujeito em nome próprio, porém órgão através do qual age o próprio Estado; e desde que o Estado-juiz não vem ao processo em disputa com as partes sobre algum bem, nem tem com estas qualquer conflito de interesses, mas exerce sobre elas a sua autoridade soberana – então a relação entre ele e estas é tipicamente uma relação de direito público (as relações de direito público, como se sabe, são aquelas que se caracterizam pelo desequilíbrio entre as posições dos seus sujeitos, um dos quais é o Estado na sua condição de ente soberano). A relação processual é de direito público, ainda que seja privada a relação substancial controvertida: assim, tanto é pública a relação processual penal como a trabalhista ou a civil, ainda que, com referencia particular a esta, a pretensão deduzida seja de caráter privado (obrigações, coisas etc.) ” - Obra citada, pag. 288/289 - TEORIASDE KOHLER, HELLWIG, BÜLOW E WACH Três teorias procuram explicar a formação dessa relação processual: a de KOHLER, a de HELLWIG e a de BÜLOW e WACH : Kohler, concebe a relação como direta entre o autor e o réu, relegando o juiz como simples sujeito imparcial e fora da relação processual; Para Hellwig, porém, a relação se estabelece entre o autor, o juiz e o réu, sendo todos os atos das partes endereçados ao juiz diretamente; Bülow e Wach, acrescentam a esta relação angular, o conteúdo de direitos e deveres não só entre as partes, mas também entre estas e o juiz. Relação tri-lateral. Graficamente teríamos as três concepções assim representadas : KOHLER - relação direta A R JUIZ HELLWIG - relação angular A R JUIZ BÜLOW e WACH - relação triangular A R Obs. : Essas Teorias serão abordadas, com maior amplitude, no momento da exposição. A concepção geralmente aceita é a angular. Todavia, não se pode desconhecer o valor da teoria de Wach que, complementando as duas concepções anteriores, admite tanto as relações endereçadas ao juiz, pelas partes, e vice-versa, como as que estas realizam entre si, diretamente. É certo que as mais importantes relações processuais se realizam perante o juiz, isto é, os atos no processo são praticados perante o juiz e são a este endereçados, como ainda os praticados pelo juiz que visam as partes. E ainda é ao juiz que cabe a prestação jurisdicional completa com o julgamento da ação. Entretanto, atos podem ser praticados diretamente entre as partes, cabendo ao juiz, apenas, deles tomar conhecimento e homologá-los, ou não, em face da vontade das partes, como exemplifica a desistência da ação, o acordo ou transação. Discorrendo sobre a matéria, afirma Ada Pellegrini e seus co-autores : “ O grande mérito de Bülow foi a sistematização, não a intuição da existência da relação jurídica processual, ordenadora da conduta dos sujeitos do processo em suas ligações recíprocas. Deu bastante realce à existência de dois planos de relações : a do direito material, que se discute no processo, e a do direito processual que é o continente em que se coloca a discussão sobre aquela. Observou também que a relação jurídica processual se distingue da de direito material por três aspectos : a) pelos seus sujeitos (autor, réu e Estado-juiz); b) pelo seu objeto (a prestação jurisdicional); e c) pelos seus pressupostos (os pressupostos processuais).” - idem, pag. 278 - Como já afirmado, a relação jurídica processual é de direito público e até certo ponto independente e completamente desvinculada da relação de direito material, de natureza privada ou pública, que se discute no processo e serve de fundo à demanda. Daí ensina CHIOVENDA, que : “Independente do direito de ação, cabível a uma só das partes, o que só na conclusão do processo se evidenciará a qual delas pertence, durante o processo ambas as partes têm direito ao pronunciamento, e o juiz é obrigado para com ambas a essa prestação. Se é incerto durante o processo, a qual das partes assiste o pronunciamento favorável; se, durante o processo, a tendência de cada uma delas só se pode considerar uma aspiração; representa, em vez disso, verdadeira e própria expectativa jurídica, ou seja, um direito, embora de natureza formal e instrumental, aquela que, durante o processo, dada uma das partes tem, relativada uma das partes, relativamente ao pronunciamento do juiz. .” _________________________________________________________ APOSTILA DE RESPONSABILIDADE DO PROFº. LUIZ SOUZA CUNHA. José Frederico Marques Manual de Direito Processual Civil 1º Vol. - 13ª Edição Moacyr Amaral Santos Direito Processual Civil Brasileiro 1º Vol. - 15ª Edição Antonio Carlos Araújo Cintra Teoria Geral do Processo Ada Pelligrini Grinover Volume Único - 14ª Edição - 1998 Cândido R. Dinamarco Atenção: A apostila é, tão somente, um resumo da matéria que pode ser aprendida pelo aluno. Ela deve servir de guia do ensino-aprendizado, sob orientação pedagógica. Esta apostila se destina, pois, exclusivamente ao estudo e discussão do texto em sala de aula, como diretriz do assunto, podendo substituir os apontamentos de sala de aula, a critério do aluno. Consulte a bibliografia anteriormente indicada além de outros autores. Atualizada em novembro/2009 �PAGE �4� TGPp9_Do processo como relação jurídica
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