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A obra Duplicata Mercantil em Juízo e a Contemporaneidade da Duplicata Mercantil Maria D. Santos* A Duplicata Mercantil em Juízo (Editora Forense, 179 páginas), do escritor Celso Barbi Filho, atualizada por Otávio Vieira Barbi, é um importante registro histórico da eolução da duplicata mercantil, bem como da importância de tal título de crédito até os dias atuais. Neste documento, o autor nos dá conta de que a duplicata é um documento genuinamente brasileiro, como poucos. No capítulo 1, o autor traz, cuidadosamente, conceitos que facilitam a compreensão do leitor, partindo de fatura, como documento que só pode ser emitido por empresário, até a duplicata, que não pode ser considerada como simples reprodução da fatura ou da nota fiscal, embora seja emitida com base na fatura ou na nota fiscal, possuindo, assim, seus elementos principais. Enquanto a emissão da fatura é uma obrigação mercantil nas vendas a prazo superior a 30 dias, e tributária (nota fiscal-fatura) em qualquer venda, a emissão da duplicata é uma faculdade do vendedor, segundo o artigo 2º da Lei 5.474/8, sendo a fatura, o documento que comprova a venda e a duplicata, o título de crédito que documenta a promessa de pagamento. Uma duplicata não pode, no entanto, corresponder a mais de uma fatura. Também, não se pode confundir duplicata mercantil com a duplicata de letra de câmbio, que é apenas uma segunda via da letra. A duplicata pode se referir também a prestação de serviços, mas para o STF, não se admite a duplicata mercantil com base em contratos de locação de serviços de bens móveis. Não sendo também admitida na cobrança exclusiva e separada de correção monetária e juros incidentes sobre o débito da compra e venda ou da prestação de serviços, uma vez que segundo a lei em comento (5.474/68) a duplicata não inclui outros fatos, senão as operações de compra e venda mercantil ou prestação de serviços, pois deve incorporar as características de um título de crédito, principalmente, neste caso, à sua literalidade. Isso não retira do credor o direito de receber essas diferenças, mas por ação própria. Fica explícito no texto que a duplicata é o título de crédito mais completo, pois nela encontram-se todos os institutos (emissão, saque, aval e endosso). Partindo desses comparativos e definições, o capítulo II trata especificamente do instituto do aceite, sua recusa e seus efeitos. Sendo a duplicata mercantil um título de crédito que comporta aceite, só poderia se tornar exequível contra o sacado-comprador a partir do momento que este lançasse seu aceite, tornando a finalidade executiva do título impossível, uma vez que se encontraria dependente do aceite. Por isso a Lei 5.474/68 só tonou obrigatório o aceite quando se tratar de hipóteses de descumprimento, total ou parcial do negócio que deu origem ao documento. Nos demais casos, o aceite é compulsório apenas no sentido de que, se recusado, a lei prevê maneiras de que seja cumprido, criando, assim, um título executivo. O aceite pode ser suprido pelo protesto da duplicata não aceita, juntamente com a apresentação da entrega da mercadoria ou prestação de serviço e desde que o sacado não tenha comprovadamente recusado o aceite no prazo, condições e motivos previstos na lei (art. 7 e 8). No entanto, embora possa ser suprido, nada impede que ele seja dado de forma voluntaria pelo sacado. Ainda, uma duplica pode ser considerada causal, o que não significa sua vinculação à compra e venda ou negócio, mas ao falto de haver uma restrição ao motivo de sua emissão, ou seja, se emitida para representar credito decorrente senão de compra e venda mercantil ou prestação de serviços. Enfim, é o aceite que transforma a duplicata em título de crédito próprio e abstrato, aplicando-se a este o princípio da inoponibilidade de exceções, embora nossa jurisprudência admita a discussão da causa de ser (causa debendi) da dívida. O capítulo III comporta uma análise da supressão do documento da duplicata mediante as características fundamentais do título de crédito, em especial o da cartularidade, tratando-a como elemento que pode estar ausente quando o crédito ainda não circulou, uma vez que se trata de uma característica especialmente da circulação de crédito, ou seja, de sua transferência a terceiro, terceiro este que se distingue daqueles que estão participando da relação subjacente. Isso foi possível graças a uma mecanismo criado na atual Lei de Duplicatas, que permite que as operações sejam feitas entre vendedor e comprador sem que as duplicatas sejam emitidas, inexistindo um título de crédito, mas havendo um título executivo, que surge a partir do aceite, o que se dá pela conjugação dos artigos 6º, 13, parágrafo 1º, 14, 15, inciso II , e parágrafo 2º. Isso ensejou a prática das vendas sem duplicatas, ocorrendo apelas a criação de borderôs aos bancos, com os dados do título. Os bancos, assim, emitiam boletos que caso não fossem pagos, a segunda via seria utilizada para protesto. O autor chegou a publicar um documento com sua crítica, o que gerou controvérsias entre outros autores. A obra também trata do descabimento da triplicata, inexistência de livros de registros e dos princípios cambiais e sobre instrução de processos com cópias autenticadas. O capítulo IV e V tratam do protesto da duplicata e da chamada duplicata “fria”. Em seguida, o autor trata dos procedimentos do sacado, como o protesto, especificando que podem ser cambiário, falimentar e judicial, sendo os dois primeiros realizados pelo registro público, que é o tabelionato de protestos e podem ser opostos quando se trata de títulos de crédito, como a duplicata. O judicial, no entanto, é apenas uma formalidade de uma ou outra parte, feita pelo juiz, com o fim de ressalvar direitos e/ou prevenir responsabilidades, conforme artigo 726 do novo CPC ou 867 do CPC de 1973. Nota-se que tanto no protesto judicial quanto no extrajudicial é o autor quem deve requerer e não o tabelião ou juiz. A duplicata mercantil se encaixa no tipo de protesto cambiário, ou seja, aquele registro formal, administrativo, feito pelo oficial de registro público, e não há intervenção judicial. Destina-se à comprovação de não realização de uma promessa contida no título (pagamento, aceite, devolução do título) por parte de seu devedor principal. O sacado, no entanto, pode resguardar seus direitos em caso da duplicada ser simulada, sendo que sua atitude pode ser administrativa, devidamente disciplinada no artigo 14 da lei em referência, artigo 22 da lei 9.492/97 e, ainda, pela Lei 5.474/68, podendo deixar de aceitar a duplicata por não ter recebido a mercadoria ou a prestação de serviços, simplesmente comparecendo ao cartório de protestos e prestando a devida justificativa. O mesmo procedimento pode ser tomado quando houver vícios ou diferenças na entrega ou cumprimento da obrigação, no caso dos serviços. O sacado pode se valer da via judicial, quando acrescentado o delito à duplicata. Como a cobrança pode ser feita por bancos ou empresas de factoring que as recebe por endosso, diante da recusa do sacado do pagamento, é importante saber quem figurará no polo passivo, se o sacador-endossante quanto o endossatário que levou o título a protesto ou apenas o sacador-endossante. Não há dispositivo na de duplicatas que regule o endosso, e, portanto, aplica- se pelo seu artigo 25, os dispositivos da LUG. Se o endosso for pleno e translativo, figurará no polo passo tanto endossatário e endossante. Sendo o endosso sem garantia, não se responsabilizando o endossante por seu aceite ou pagamento. Se o endossante for também seu sacador, deverá figurar no polo passivo. No endosso mandato, o endossatário não figurará no polo passivo e quanto ao endosso caução, o autor acreditanão ser relevante que este figure como polo passivo, uma vez que o endosso caução é apenas uma subespécie de endosso. Quanto à falta de devolução do título enviado para aceite, segundo o autor, não é um procedimento seguro, e por isso, se não devolvido o título, mesmo que se faça o protesto por indicação, o endossatário não terá ação de execução contra o sacador-endossante, uma vez que inexiste o documento original no qual se firmou o endosso, sendo assegurado a cobrança ordinária do título. O sacado tem direito de ser indenizado em casos de prejuízos morais decorrentes da emissão e protesto de título, em decorrência dos efeitos comerciais do protesto cambiário. Segundo o STJ, se banco tiver ciência inequívoca de que as duplicatas foram fraudadas, sem lastro, deve responder pelos danos morais decorrentes do protesto. Nos capítulos seguintes, estão contidos assuntos que se referem à falência tendo como base a duplicata mercantil, foro competente, e, por fim, no capítulo IX, da ação monitória. Embasado no artigo 585, inciso I, do antigo CPC e o artigo 784, inciso I, do novo CPC, a duplicata mercantil serve de embasamento para o pedido de falência do devedor, e se contiver aceite, em nada se diferirá o regime de requerimento da quebra do aceitante dos demais títulos executivos. Em se tratando de duplicata não aceita, após discussões, o STF definiu que mediante a Lei 6.458/77 que modificou o artigo 15 da Lei 5.474/68, disciplinando separadamente a executividade da duplicata não aceita, desde que protestada e acompanhada de comprovante de entrega da mercadoria, esta constitui título de obrigação líquida, sendo legítimo para embasar o pedido de falência do sacador/comprador. De qualquer forma, para que se legitime como apto a embasar pedido de falência, o título deve ter sido protestado, ainda que não esteja ordinariamente sujeito a protesto obrigatório. Continuando, embora a duplicata sem aceite não seja título de crédito contra o sacado, este pode constituir título executivo, pelo artigo 15, II, da Lei 6.404/68, desde que comprovada a entrega do serviço ou a prestação do serviço, servindo a duplicata, ainda, neste caso, para a propositura de pedido de falência. Seu protesto pode ser o cambial, que assegurará o direito de regresso, em até 30 dias após o vencimento, ou apenas para atribuir-lhe executividade. O foro de competência para a propositura da ação de cobrança judicial da duplicata é da praça de pagamento constante no título, ou outra de domicílio do comprador. No entanto, se for de ação de regresso contra o sacador, endossantes e avalistas, o foro é o do domicílio destes. A ação monitória, sendo uma ação que compete a quem pretende, baseado em prova escrita sem eficácia de título executivo, o pagamento de soma em dinheiro, pode-se utilizar da duplicata com aceite, mas que possua algum vício, ou a duplicata sem aceite. Em resumo, é um trabalho de suma importância no estudo dos títulos de crédito, não apenas por tratar especificamente da duplicata de forma bastante minuciosa, mas principalmente, porque é um raro trabalho destinado a tal assunto. No entanto, numa época em que grande parte do comércio é realizado de forma eletrônica, e talvez em razão da época da produção da obra, algumas controvérsias criadas pelo autor, como o questionamento da inexistência do título/duplicata, podem soar desnecessárias ou até mesmo desmedidas. O autor chega a caracterizar a rotina das empresas de não emissão de duplicata como uma prática desvirtuada, uma vez que tais empresas acreditam ser desnecessária a emissão de uma duplicata, tendo tal procedimento como desperdícios de tempo e papel. Essa uma crítica ainda se estende a uma concessão legal, já que é a própria lei 5.474/68 que permite tal prática, contrariando até mesmo as decisões jurisprudenciais. Entendo, que se uma relação hoje pode ser virtual, fazendo-se desnecessária a presença física, bem como a assinatura tradicional das partes, que dizer de um documento em si. ----------- *Maria D. Santos é Pedagoga, pós-graduada em Neurociências e Comportamento pela UFMG e aluna do 10º período do curso de Direito da Universo – Campus Belo Horizonte-MG
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