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Filosofia
Filosofia
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desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a 
Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. 
XXVII e XXVIII, "a" e "b". 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate 
International Universities)
M528f
Melo, Naurelice Maia de
Filosofia. / Naurelice Maia de Melo, Ueliton Lemos 
dos Santos. – Salvador: UNIFACS, 2013.
215 p.
ISBN 978-85-87325-69-3
1. Filosofia. I. Santos, Ueliton Lemos dos. II. Título.
 
CDD: 107
Sumário
( 1 ) Perspectivas sobre filosofia, conhecimento, ciên-
cia e relações que tecem com a vida, 21
 
( 2 ) Passeando sobre a origem e organização do 
universo: olhares cosmogônicos e cosmológicos, 47 
( 3 ) Reflexões sobre o conhecimento e olhares sobre 
o pesamento clássico, 67
 
( 4 ) Dialogando com os temas: ética e moral, 91
 
( 5 ) Correntes do pensamento filosófico e concepções 
éticas: uma interface necessária I, 115
( 6 ) Correntes do pensamento filosófico e concepções 
éticas: uma interface necessária II, 137 
( 7 ) Reflexões acerca das temáticas: relação com o sa-
ber, multiculturalismo e interculturalismo, 157
( 8 ) Ideologia, alienação e trabalho: uma reflexão tripar-
tite em prol da reconquista do humano que há em nós, 183
Prezada e prezado estudante,
A equipe da disciplina Filosofia convida você a rea-
lizar caminhos. Caminhos de descobertas e redescobertas, 
visto que, desde a leitura da primeira página desse material, 
inquietações serão suscitadas e não serão esgotadas na última 
página, ao contrário, convidarão a novas perspectivas, por 
exemplo, sobre filosofia, conhecimento, ciência e relações que 
tecem a vida, mediante fundamentos conquistados pelos pas-
seios sobre a origem e organização do universo com olhares 
cosmogônicos e cosmológicos, tecendo as reflexões sobre o 
conhecimento, com atenção ao pensamento clássico, à ética e 
moral, inclusive, interfaceadas com correntes do pensamento 
filosófico.
Vamos, em parceria e com posturas colaborativas tecer 
reflexões acerca das temáticas: relação com o saber, multicul-
turalismo e interculturalismo. Buscaremos compreensões a 
respeito da ideologia, da alienação e do trabalho na qualidade 
de reflexão tripartite em prol da reconquista do cultivo do 
humano que há em nós.
Nesse processo perene de autocompreensão, diversas 
sensações podem ser experimentadas, favorecendo os modos 
de entendimento da realidade e de construção de quem 
somos. Desejamos que a cada instante seja possível superar 
as dificuldades que por ventura surjam, sabendo que pode-
mos contar um com outro na qualidade de equipe maior que 
reúne docente, discentes e todos que, imbuídos do desejo de 
aprender, encontrem as forças e alegrias imanentes às con-
quistas que temos a realizar em prol tanto de posturas eman-
cipatórias quanto de dias melhores.
Abração para você!
Autores e Equipe de Filosofia!
( 1 )
Perspectivas sobre filosofia, 
conhecimento, ciência e relações 
que tecem com vida
“Não se ensina Filosofia, mas a 
filosofar”
Kant
Naurelice Maia de Melo e 
Ueliton Lemos dos Santos
Ao iniciarmos nossa caminhada junto aos saberes 
da Filosofia, muitas vezes surgem questionamentos a 
respeito do motivo pelo qual é preciso dedicar atenção 
aos conhecimentos, temas e pensamentos filosóficos. 
Esse posicionamento questionador é justo, uma vez que 
a formação básica nem sempre contempla os conteúdos 
filosóficos de modo adequado ou coerente com a própria 
proposta da Filosofia, falamos aqui de propostas como 
aquelas pautadas na máxima do pensador Kant, conforme 
citado por Borges e Souza (2012), “não se ensina filosofia, 
ensina-se a filosofar”.
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Nesta perspectiva, constam os riscos que fazem com 
que o “ensino de filosofia” seja tomado por posturas afasta-
das do atual contexto social, causando uma impressão equi-
vocada a respeito da Filosofia e tornando-a, de certo modo e 
infelizmente, uma fonte de informações que requerem aten-
ção a elementos históricos (e requerem de fato) sem que estes 
possam significar (significam, de fato) uma trajetória que está 
presente hoje nas relações que tecem nosso ambiente tanto 
pessoal quanto social e as demais esferas da vida. Felizmente, 
esta não consiste na única perspectiva. Contamos também 
com modos socialmente engajados, dinâmicos e altamente 
competentes de proceder junto à Filosofia. Contamos ainda, 
com pessoas que concluíram o ensino médio em uma ocasião 
na qual não tiveram acesso a esse campo do saber e, portanto, 
ao chegar a cursos de graduação mantiveram, pela primeira 
vez, a relação com a disciplina que tem por título “Filosofia”. 
Afirmamos, pela primeira vez com a disciplina, pois ousa-
mos dizer que: com a postura filosófica, o contato não é pri-
meiro. Ao contrário, por muitos momentos somos convidados 
e convidadas a pensar sobre questões que remetem a temas 
filosóficos, mesmo que não tenhamos no momento a consciência 
de que somos já pessoas filosofantes. 
Esperamos que a sua experiência com a Filosofia tenha 
ocorrido conforme a segunda situação que descrevemos 
no parágrafo anterior. Caso não tenha sido dessa forma ou 
não tenha ocorrido o acesso a esta disciplina, não há motivo 
para preocupação, pois assumimos aqui o compromisso com 
você e com a aprendizagem. Adotamos a linguagem neces-
sária, assumindo posturas criteriosas e acessíveis, trazendo 
nas primeiras unidades os saberes introdutórios importantes 
para que, cada um de vocês (independente das relações que 
antes teceram ou não com este campo do saber) possa estu-
dar, pesquisar, conhecer os pressupostos básicos da Filosofia 
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e, a partir deles e com eles conquistar seus próprios modos de 
pensar a respeito das temáticas propostas, encontrando ainda 
caminhos possíveis para aliar às posturas que você já vem 
dedicando à vida. Quais posturas são estas? Àquelas de pes-
soas que compreendem as circunstâncias concretas da vida, 
que bem identificam as relações de ideologia imbricadas nas 
relações de poder e dominação social, pessoas atentas aos 
fundamentos éticos de uma vida, de uma formação e profis-
são; pessoas que, diante dessas e outras percepções, buscam o 
exercício constante de maneiras reflexivas, críticas e criativas 
de lançar olhares sobre a vida em suas instâncias diversas, 
fazendo valer, assim, a máxima kantiana. 
O que é, então, Filosofia? Onde seria possível (embora 
inadequado, devido ao teor próprio da Filosofia) apresentar 
uma definição única para Filosofia, preferimos caminhar, 
assim como Luckesi e Passos (2004) aplicam com relação ao 
conhecimento, junto a aproximações conceituais. Começando 
pela origem etimológica, a palavra Filosofia corresponde 
a philo (amor, amizade) + sophia (sabedoria). Desse modo, 
a filosofia é também correspondente à busca pelo conheci-
mento1, à busca pelo saber, sem que estes sejam instituídos na 
qualidade de verdades absolutas a serem impostas, ao contrá-
rio, a filosofia é também correspondente ao movimento ques-
tionador, à perplexidade.
 É importante também considerar que algumas apro-
ximações conceituaisapresentam a Filosofia como ciência. 
Essas perspectivas, geralmente, têm por fundamento o pen-
samento aristotélico, conforme você pode acompanhar na lei-
tura a seguir.
1. A respeito do conhecimento, por gentileza, visite nossa Unidade 03, na qual tecemos com você 
diálogos sobre, dentre outros temas, o ato de conhecer, seus elementos, processo etc.
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Trecho selecionado de 
“O que é Filosofia e para que serve?” 
(autoria de: Maura Iglesias)
Se perguntarmos a dez físicos “o 
que é a física”, eles responderão, pro-
vavelmente, de maneira parecida. O 
mesmo se passará, provavelmente, 
se perguntássemos a dez químicos 
“o que é química”. Mas, se pergun-
tarmos a dez filósofos “o que é a fi-
losofia”, ouso dizer que três ficarão 
em silêncio, três darão respostas pela 
tangente, e as respostas dos outros 
quatro vão ser tão desencontrada 
que só mesmo outro filósofo para 
entender que o silêncio de uns e as 
respostas dos outros são todas abor-
dagens possíveis à questão proposta. 
Para quem ainda está fora da filoso-
fia, a coisa pode estar parecendo 
confusa. Mas a razão da dificuldade 
é fácil de explicar: talvez seja possí-
vel dizer e entender o que é a física, 
de fora da física; e dizer e entender o 
que é a química, de fora da química. 
Mas, para dizer e entender o que é 
a filosofia, é preciso já estar dentro 
dela. “O que é a física” não é uma 
questão física, “o que é a química” 
não é uma questão química, mas “o 
que é a filosofia” já é uma questão 
filosófica - e talvez uma das carac-
terísticas da questão filosóficas que 
seja o fato de suas respostas, ou 
tentativas de resposta, jamais es-
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gotarem a questão, que permanece 
assim com sua força de questão, 
a convidar outras respostas e ou-
tras abordagens possíveis. E já que 
os filósofos não vão mesmo entrar 
num acordo, deixemos de lado o 
problema da definição. Entremos de 
uma vez na filosofia, mais propria-
mente na metafísica de Aristóteles, 
onde este está justamente em busca 
de uma “sophia” (sabedoria) que 
seja a maior, a mais importante, a 
primeira sabedoria2.
[...] [A partir da perspectiva aristoté-
lica, Maura Iglesias elucida:] o saber 
filosófico: 1) é um saber “de todas 
as coisas”, um saber universal; em 
um certo sentido, nada está fora do 
campo da filosofia; 2) é um saber pelo 
saber; um saber livre, e não um saber 
que se constitui para resolver uma 
dificuldade de ordem prática; 3) é um 
saber pelas causas; o que Aristóteles 
entende por causa não é exatamente 
o que nós chamamos por esse nome; 
de qualquer forma, saber pelas cau-
sas envolve o exercício da razão, e 
esta envolve a crítica: o saber filosó-
fico é, pois, um saber crítico.
Fonte: REZENDE, A. (org.). Curso de Filosofia. 10. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
2. Querido e querida estudante, aqui a autora apresenta uma citação de Aristóteles que evidencia a 
sabedoria/sophia, na qualidade de ciência (de considerações correlatas a estas advém os modos de 
significar o saber filosófico com a ciência) e apresenta suas características principais, suprimimos a 
citação por motivos didáticos e mantivemos as considerações de Maura Iglesias a respeito da cita-
ção de Aristóteles que suprimimos, pois, além de favorecer a proposta dos nossos estudos, foi ela-
borada de modo elucidativo e acessível.
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Outras perspectivas que têm por referencial de ciência 
a sua concepção moderna, entretanto, não aceitam a filoso-
fia na condição de ciência, pois o saber filosófico, mesmo que 
correlato à ciência, não é um saber científico, não consta de 
um método único e absoluto, nem busca defender uma ver-
dade como sendo aquela também única e absoluta. 
Veja a seguir as elucidações sobre encontros entre ciên-
cia, conhecimento e filosofia e, ainda, entre estes e as rela-
ções que tecem a realidade, uma vez que tanto a Filosofia, 
quanto à Ciência estão muito próximas de nossas vidas, nas 
mais diversas instâncias relacionais, em ambientes acadêmi-
cos, ou mesmo no simples caminhar de uma calçada em dire-
ção a um destino, qualquer que seja.
A Filosofia e a Ciência constituem expressões do modo 
de ser e agir da pessoa. Vamos juntos nessa unidade realizar 
exercícios essenciais de desconstrução de paradigmas (mode-
los/padrões) para assim estarmos aptos à construção de per-
cepções mais flexíveis e reflexíveis da existência, um eterno 
retorno modificado e transformado do ser sendo na realidade.
Nesta unidade, você estudante, está convidado a 
“caminhar” pelas diversas compreensões que o termo ciên-
cia adquiriu ao longo do processo de “desenvolvimento” da 
história do pensamento da humanidade. Para tanto, alguns 
dos principais expoentes estão postos à luz da reflexão e, 
sobretudo, da problematização científico-filosófica. Nesse 
caminhar, a filosofia é o “farol” a guiar os pensamentos na 
incessante busca da verdade.
Mas, o que é a verdade? É possível conquistá-la? De que 
forma/maneira? Essas são questões/problemas que impulsio-
naram e continuam a impulsionar o caminhar da Ciência e 
da Filosofia.
A concepção mitológica de representação da realidade 
consiste na tentativa de acalmar e tranquilizar as pessoas 
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frente aos fenômenos sociais/naturais daquela época (perí-
odo antigo), eis que em seguida, surge o “Thauma” (espanto/
admiração) imbricado à dúvida essencial. Essas personifica-
ções divinas, extraordinárias, podem ser tão próximas dos 
seres terrenos pessoas comuns, “iguais” umas às outras, 
com desejos e sentimentos semelhantes aos residentes do 
Olimpo. A admiração, o espanto, seguido da dúvida, fez nas-
cer a Filosofia, cuja etimologia é conhecida por todos como o 
amante do saber, não seu senhor, dono ou possuidor, apenas 
o amante que busca incessantemente conquistá-lo paulatina-
mente todos os dias de sua existência.
Muitos pensadores antigos da Grécia poderiam ser 
convocados aqui para declarar seus pensamentos a respeito 
da Filosofia e também de uma ciência incipiente. Entretanto, 
acreditamos ser nesse momento Empédocles (490 - 430 a. C.) o 
que mais contribuições nos trazem. Esse declarava a existên-
cia de quatro elementos constituintes da realidade (diferente 
dos Jônios, Tales, Anaximandro, Anaxímenes e outros, cada 
um desses pensadores elegeram um elemento essencial origi-
nário do kosmo). 
Os primeiros pensadores que dão 
expressão filosófica ao problema 
da existência de uma causa supre-
ma de todas as coisas são os filó-
sofos Jônios: Tales, Anaximandro, 
Anaxímenes, todos eles de Mileto, 
na Ásia Menor, às margens do 
mar Egeu. Todos eles viveram en-
tre os séculos VII e V a. C.
(MONDIN, 2003, p. 17)
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O ar, o fogo a terra e a água para Empédocles consti-
tuem toda a existência, são movidos e misturados segundo 
dois princípios universais:
Amor (philia, em grego) - respon-
sável pela força de atração e união 
e pelo movimento de crescente 
harmonização das coisas;
Ódio (neikos, em grego) - respon-
sável pela força de repulsão e de-
sagregação e pelo movimento de 
decadência, dissolução e separa-
ção das coisas.
(COTRIM, 2010, p. 77)
Empédocles compreendia que a realidade composta de 
todas as coisas existentes, está submetida às forças cíclicas 
desses princípios. Amor e Ódio motores invisíveis, mas, per-
feitamente sentido por todos até hoje.
Para conhecera origem
Outro expoente desse período foi Demócrito (460 - 370 a. 
C.), responsável pelo atomismo. Ele acreditava que a realidade 
era constituída de partículas invisíveis e indivisíveis, denomina-
das “átomo” (não divisível: a = negação; tomo = divisível). 
Curiosidade!
“As doutrinas dos Milésios constituem um primeiro e 
rudimentar exemplo de monismo, termo atribuído a todas 
as filosofias que imaginam que a realidade multiforme 
deriva de um único princípio. Em metafísica, o monismo 
contrapõe-se ao dualismo - defendido de maneira dife-
rente por Platão e por Descartes - e ao pluralismo de 
Aristóteles”. (NICOLA, 2010, p. 15)
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Imagine que eles chegaram a essas conclusões sem 
fazer uso de nenhum instrumento tecnológico de última 
geração, como poderosos microscópios, reatores etc. Apenas 
com o uso e desenvolvimento do pensamento racional, foram 
capazes de contribuir significativamente para o aprimora-
mento das percepções do homem frente à realidade consti-
tuinte, a tal ponto que ainda hoje, com mais de dois mil anos 
passados, estudamos e atualizamos seus pensamentos. 
A concepção de ciência no período da Grécia Antiga 
referia-se a uma forma de especulação racional, e se afas-
tava da técnica e das preocupações práticas. A ciência grega 
antiga almejava o desenvolvimento do conhecimento racio-
nal de ideias imutáveis, objetivas e universais.
Por outro lado, dando um pequeno salto no tempo e 
no espaço na história do desenvolvimento do pensamento 
humano, chegamos ao período medieval. Neste momento, 
cabe dar destaque, sobretudo à supressão da razão em favore-
cimento à fé, os elementos originários do pensamento filosó-
fico são postos de lado para dar lugar a Fé (verdade) revelada 
por Deus aos homens e intermediada pela Igreja Católica.
Isso significava que toda investiga-
ção filosófica ou científica não pode-
ria, de modo algum, contra riar as 
verdades estabelecidas pela fé católi-
ca. Em outras palavras, os filósofos 
não precisavam mais se dedicar à 
busca da verdade, pois ela já teria 
Para pensar um pouco
Querido e querida estudante!
Em sua opinião, como o pensamento de Empédocles e 
Demócrito podem ser atualizados para os nossos dias?
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sido revelada por Deus aos homens. 
Restava-lhes, apenas, demonst 
racionalmente as verdades da fé. 
(COTRIM, 2006, p. 108) 
No decurso do período medieval, destacam-se quatro 
momentos:
• Primeiro momento: Padres apostólicos, (século I a 
II) fazem parte desse período padres e apóstolos.
• Segundo momento: Padres Apologistas, (século III a IV) 
destacavam-se por fervorosas apologias ao cristianismo e 
atitudes veementes contra a filosofia pagã, seus principais 
representantes foram Justino, Origenes e Tertuliano.
• Terceiro Momento: Padres da Patrística, (século IV 
a VIII) tentativa de reaproximação com o pensamento 
racional na figura de Platão, seu principal represen-
tante foi Santo Agostinho.
• Quarto Momento: Padres da Escolástica: (século IX a XI) 
reaproximação com os escritos do filósofo grego Aristóteles, 
destaca-se nesse momento, Santo Tomás de Aquino. 
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lusitano_st-agostinho-1.jpg
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anonymous_Cusco_School_-_Saint_Tho-
mas_Aquinas,_Protector_of_the_University_of_Cusco_-_Google_Art_Project.jpg
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A imagem nos evidencia: à esquerda, Santo Agostinho 
e à direita, Santo Tomás de Aquino, os dois principais expo-
entes do período medieval. Eles que buscaram na filoso-
fia de Platão e Aristóteles, respectivamente, os argumentos 
necessários para a fundamentação de sua Fé. A Filosofia a 
serviço da Fé cristã, nesse momento da história da huma-
nidade, pouco se pôde desenvolver no continente europeu. 
Tanto nos aspectos filosóficos, quanto científicos e tecnoló-
gicos, visto o caráter dominante do Teocentrismo.
Com a Renascença, surgem novas concepções de 
vida e realidade, muda-se o foco do olhar. Antes, sobre 
Deus (Idade Média) a vida terrena é uma preparação para 
vida sobrenatural. Agora, sobre o novo ser humano (Idade 
Moderna) autonomia do mundo da cultura em relação a 
todo fim transcendente.
Nos séculos XV e XVI a ciência 
faz progressos não só nos estudos 
da natureza, mas também no do 
homem e no das suas produções, 
especialmente na Filologia. Graças 
aos avanços desta disciplina na Re-
nascença, os autores antigos. Espe-
cialmente os filósofos, não são mais 
estudados, como na Idade Média, 
para serem colocados a serviço da 
teologia, mas por si mesmos, com 
a finalidade de se conhecer seu ver-
dadeiro pensamento. 
(MONDIN, 2003, p. 11)
Enfim conseguimos alcançar a Idade Moderna e nova-
mente nos deparamos com mais uma realidade paradoxal. 
Não mais, Fé versus Razão, mas sim, Filosofia e Ciência, 
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instâncias essenciais ao sujeito que é autor e ator de sua pró-
pria condição humana.
Embora existam fervorosas discussões sobre a consi-
deração de cientificidade da filosofia, torna-se evidente e ao 
mesmo tempo contraproducente aceitar tal perspectiva, haja 
vista que uma das fundamentais necessidades de ser ciên-
cia é a especificação não só metodológica, mas, sobretudo 
de objeto. A Filosofia enquanto pensamento sistemático está 
presente em todas as ciências, visto o escopo investigativo no 
desvelamento da realidade. Assim, presente em todas as ciên-
cias, mas, não sendo uma ciência, a filosofia busca a universa-
lidade, enquanto a ciência busca as particularidades próprias 
de seus objetos.
Filosofia e Ciência não são adversárias. Ambas se 
relacionam e se complementam, de tal forma se constituiu 
a Filosofia da Ciência, uma perspectiva de problematização 
dos postulados e paradigmas científicos, essa atividade tam-
bém é conhecida como epistemologia, crítica metodológica 
da ciência.
A epistemologia propõe-se a re-
sponder às seguintes questões: 
‘O que é o conhecimento cientí-
fico? Em outras palavras, em que 
consiste propriamente o trabalho 
do cientista? Que faz ele quando 
faz ciência? Interpreta, descreve, 
explica, prevê? Faz ele apenas 
conjecturas ou verdadeiras as-
serções (gerais e singulares) que 
espelham fielmente os aspectos 
(gerais e singulares) dos fatos? E 
quando o cientista explica o que 
é que ele explica dos ‘fatos’: sua 
função, origem, gênese, essência, 
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fim? Qual o status lógico das leis 
na ciência? São elas resultados de 
procedimentos indutivos (e o que 
quer dizer indução para a ciên-
cia?), ou antes, conjecturas da 
imaginação científica que deverão 
sujeitar-se a uma terrível luta 
(provas empíricas) pela existên-
cia? Ademais, em que sentido se 
fala em causalidade (e de causas) 
nas ciências empíricas? Quando, 
então, podemos dizer que uma 
teoria é melhor do que outra? 
Que queremos dizer quando afir-
mamos que as ciências empíricas 
são objetivas? Qual é o papel da 
experiência na pesquisa cientí-
fica? Essas interrogações britam 
da pergunta inicial sobre o que 
seja o conhecimento científico. 
(MONDIN, 2003, p. 29) 
Outros autores participam da mesma ideia de complemen-
taridade entre Filosofia e Ciência, a exemplo disso podemoscitar 
Fritjof Capra, PhD. em Física e especialista em teoria sistêmica.
O objetivo da ciência é, creio eu, 
adquirir conhecimento sobre a 
realidade sobre o mundo. A ciên-
cia é uma maneira particular de 
adquirir conhecimento, parecida 
com muitas outras maneiras. E 
um aspecto do novo pensamento 
na ciência é que esta não é a única 
maneira, e não é necessariamente 
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a melhor, mas apenas uma dentre 
muitas maneiras.
O termo ciência, para mim, con-
hecimento sistemático do universo 
físico, é recente, como sabem. No 
passado, era chamada de filosofia 
natural. Portanto, a ciência e filoso-
fia não estavam separadas. De fato, 
a primeira formulação matemática, 
por Newton, de ciência no mod-
erno sentido da palavras é ainda 
chamada de Princípios Matemáti-
cos da Filosofia Natural. 
(CAPRA, 1991, p. 25) 
As reflexões desenvolvidas a partir das contribuições 
de Capra e Mondin nos levam a indagar sobre os caminhos e 
descaminhos que por muitas vezes tomamos ao longo de nos-
sas existências. Por diversos momentos somos conduzidos no 
nosso modo de ser e agir, e nem sequer nos damos conta, falta-
-nos a perspectiva epistemológica do pensar sobre si, e, sobre-
tudo a nossa condição humana, nos submetemos da mesma 
maneira que o indivíduo do período medieval, na expectativa 
e promessa de uma vida de glórias no paraíso e batemos no 
peito ingenuamente, proclamando somos livres, sou livre.
É preciso considerar e desenvolver um olhar sistêmico 
e holístico sobre a realidade, não é cabível a separatividade, 
mas sim, a interconexidade das realidades, as dificuldades 
não precisam ser compartimentalizadas para serem supe-
radas, visto que todas essas situações interagem sobre si e 
sobre a realidade constituinte como uma enorme teia de ara-
nha, o que é feito a um fio, é sentido por toda a teia. Nessa 
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perspectiva, as relações estão sendo tecidas e a qualidade dos 
fios depende também de cada um que tece.
Chegamos a importantes reflexões as quais, sem 
dúvida alguma, provocam grandes inquietações, pois, con-
sistem na desconstrução de ‘verdades’ adquiridas ao longo 
de uma vida de estudos, de leituras, de aulas etc. O que fazer 
agora? Abandonar tudo isso? Ou fechar os olhos para o novo? 
Não, essas não serão as melhores soluções, o ideal é que con-
sigamos somar saberes, os mais variados e diversificados 
possíveis, para que possamos entender o devir dialógico e 
dialético na construção do ser integral.
Abaixo está disposto um quadro demonstrativo sobre 
as principais perspectivas das concepções da Física dos sécu-
los XVII até a contemporaneidade.
Para conhecer um pouco mais
Falamos de novas perspectivas sistêmicas e holísticas, 
sabemos verdadeiramente o que tudo isso significa? 
Segundo Edgar Morin (2007), sistema consiste em uma 
relação entre partes que podem ser muito diferentes uma 
das outras e que constituem um todo que é, simultane-
amente, organizado, organizando e organizador. Sobre 
isso, tem-se o ditado antigo: o todo é mais do que a soma 
de suas partes, porque a adição das qualidades ou pro-
priedades das partes não chega para conhecer as do todo, 
surgem qualidades ou propriedades novas, devido à orga-
nização dessas partes em um todo, são as emergências.
A realidade é a manifestação desse todo holístico e sistê-
mico, é preciso desenvolver as habilidades e competências 
necessárias à tomada de consciência do ser integral.
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32
Física dos séculos XVII, 
XVIII e XIX
Física Contemporânea
Grande avanço da física 
com René Descartes, autor 
de O Discurso do Método 
(“Penso, logo existo”). 
Física quântica, conjunto de 
teorias que incluem a física 
ondulatória, a qual não se 
obedece às leis previsíveis 
da física clássica. 
Visão mecanicista do 
mundo, que concebe a natu-
reza como uma máquina, 
que obedece a relações de 
causa previsíveis. 
Os objetos passam a ser 
encarados também sob o 
aspecto fluido e em eterna 
mudança.
Física Newtoniana é cha-
mada de física clássica, cujo 
aspecto mais desenvolvido é 
a mecânica.
Visão influenciada pela filo-
sofia oriental (o cosmo é visto 
como um elemento vivo, orgâ-
nico, espiritual e material).
Os experimentos eram leva-
dos a cabo para testar ideias 
especulativas e verificáveis.
As forças geradoras de 
movimento não são exterio-
res aos objetos, mas proprie-
dade intrínseca da matéria.
Fonte: ANDREETA. J. P. ; ANDREETA. M. L, Quem se atreve a ter certeza. Mer-
curyo. São Paulo. 2004. Adaptado pelos autores (Naurelice Maia e Ueliton Lemos).
O quadro evidencia as constantes mudanças que a ciên-
cia da Física sofreu e ainda sofre pelo seu processo de desen-
volvimento. Atualmente, duas são as mais relevantes teorias: 
a chamada Física Quântica e a Teoria da Relatividade Geral.
O intuito dessas duas teorias reside na tentativa de 
compreensão sobre o comportamento da realidade, haja 
vista que ela não se apresenta de forma tão estática e previ-
sível como se imaginava. Compreender a realidade pressu-
põe que a relação unilateral sujeito - objeto deixe de existir, é 
preciso conceber uma nova perspectiva investigativa na qual 
sujeito - objeto relacionam-se mutuamente, relação dialógica 
e dialética, sistêmica e holística. Nesta perspectiva, filosofia e 
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ciência tornam-se um importante caminho no desvelamento 
do saber sobre de si e o conhecimento da realidade.
Estamos chegando ao final de nossa unidade com 
novas ideias, novos olhares frente à realidade, consciente da 
inexistência da verdade absoluta seja ela a verdade científica 
ou mesmo verdade filosófica. Mas sim, verdades provisórias 
que se transformam e se adaptam no devir tempo-espacial. 
Nesse sentido, aceitar as mudanças significa não estagnar, é 
estar sempre disposto à perplexidade, o thauma grego.
A evolução do conhecimento 
científico não é unicamente de 
crescimento e de extensão do sa-
ber, mas também de transformações, 
de rupturas, de passagem de uma 
teoria para outra. As teorias cientí-
ficas são mortais e são mortais por 
serem científicas. A visão de Popper 
registra com relação à evolução da 
ciência vem a ser a de uma seleção 
natural em que as teorias resistem 
durante algum tempo não por serem 
verdadeiras, mas por serem as mais 
adaptadas ao estado contemporâneo 
dos conhecimentos.
Kuhn traz outra ideia, não me-
nos importante: é que se pro-
duzem transformações revolu-
Para pensar um pouco
Como você percebe as mudanças da realidade, estamos 
verdadeiramente conscientes dessas transformações, ou 
simplesmente ignoramos por não saber/querer participar?
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34
cionárias na evolução científica, 
em que um paradigma, princípio 
maior que controla as visões do 
mundo, desaba para dar lugar a 
um novo paradigma. Julgava-se 
que o princípio da organização 
das teorias científicas era pura e 
simplesmente lógico. Deve ver-
se, com Kuhn, que existem, no 
interior e acima das teorias, in-
conscientes e invisíveis, alguns 
princípios fundamentais que 
controlam e comandam, de forma 
oculta, a organização do conheci-
mento científico e a própria uti-
lização da lógica.
A partir daí, podemos com-
preender que a ciência seja “ver-
dadeira” nos seus dados (verifica-
dos, verificáveis), sem que por isso 
suas teorias sejam “verdadeiras”. 
Então, o que faz que uma teo-
riaseja científica, se não for sua 
“verdade”? Popper trouxe a ideia 
capital que permite distinguir a 
teoria científica da doutrina (não 
científica): uma teoria é científica 
quando aceita que sua falsidade 
possa ser eventualmente demon-
strada. Uma doutrina, um dogma 
encontram neles mesmo a au-
toverificação incessante (referên-
cia ao pensamento sacralizado dos 
fundadores, certeza de que a tese 
está definitivamente provada). O 
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dogma é inatacável pela experiên-
cia. A teoria científica é biode-
gradável. [...]
A partir daí, o conhecimento 
progride, no plano empírico, por 
acrescentamento das “verdades” 
e, no plano teórico, por elimina-
ção dos erros. O jogo da ciência 
não é o da posse e do alargamento 
da verdade, mas aquele em que 
o combate pela verdade se con-
funde com a luta contra o erro. 
(MORIN, 2001, p. 22-23)
O conhecimento científico e ou filosófico contribuem 
sistematicamente para uma revolução na forma de ser e agir do 
indivíduo, é preciso que tenhamos a sensibilidade de renun-
ciar os pseudos saberes, saberes que temos como verdadeiros 
e imutáveis, pois de outra forma continuaremos a reproduzir 
comportamentos e atitudes determinadas por forças exteriores. 
Fazendo uma alusão a Karl Jaspers, que afirma, em 
dado contexto, a filosofia na qualidade de perturbadora da 
paz, propomos aqui também a filosofia como perturbadora 
da ciência. Ela tem como escopo o fomento das inquietações 
na busca contínua de posturas mais assertivas e coerentes à 
dignidade do ser pessoa. Portanto, urge que façamos o exer-
cício de reflexão individual, utilizando das perspectivas da 
filosofia e da ciência, para a conquista da vida autêntica.
Fi
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36
Sín t eSe
 Durante a realização dessa unidade, tivemos a opor-
tunidade de tomar conhecimento sobre os caminhos da Fi-
losofia e da Ciência desde o período antigo (grego), passando 
pela Idade Média, período de grande entrave ao desenvolvi-
mento racional, visto o predomínio das forças religiosas cris-
tãs. Em seguida, com a Renascença, muda-se a perspectiva, 
volta-se novamente o olhar para o ser humano e sua produção 
cultu ral, filosófica e científica, surge o modernismo com as 
contribuições da Física até alcançarmos a contemporaneidade 
com a postura da reflexividade, a qual é exigida ao sujeito, 
ator e autor de sua existência condutas inquisidoras frente 
aos desafios que são postos pela própria condição de existir. 
qu eStão pa r a r eflex ão
1) Considere a citação abaixo e desenvolva um argumento 
evidenciando seu posicionamento a respeito da mensagem 
proposta pela citação.
“Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. A 
educação do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro e 
da ilusão, O maior erro seria subestimar o problema do erro; a maior 
ilusão seria subestimar o problema da ilusão. O reconhecimento do 
erro e da ilusão é ainda mais difícil, porque o erro e a ilusão não se 
reconhecem, em absoluto, como tais. 
Erro e ilusão parasitam a mente humana desde o aparecimento do 
Homo sapiens. Quando consideramos o passado, inclusive o recente, 
sentimos que foi dominado por inúmeros erros e ilusões. Marx e 
Engels enunciaram justamente em A ideologia alemã que os homens 
sempre elaboraram falsas concepções de si próprios, do que fazem, do 
que devem fazer, do mundo onde vivem. Mas nem Marx nem Engels 
escaparam destes erros.” 
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(MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do fu-
turo. São Paulo, SP: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000)
2) Após os estudos realizados nessa unidade, como você 
compreende as perspectivas filosóficas e científicas? E de que 
forma elas influenciam nossa conduta social?
lei t u r aS i n dica daS
ALVES, R. Filosofia da Ciência. São Paulo: Edições Loyola, 
2000.
______. O que é científico? São Paulo: Edições Loyola, 2007.
ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência. São Paulo: Edições 
Loyola, 2010.
CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.
HEISENBERG, W. A parte e o todo. Rio de Janeiro: Contra-
ponto, 2000.
PRIGOGINE, I. O Fim das Certezas. São Paulo: Editora Unesp, 
1996.
MORIN, E. ; MOIGNE, J-L. L. Inteligência da Complexidade 
Epistemológica e Pragmática. Lisboa: Instituto Piaget, 2007.
Si t eS i n dica doS
www.edgarmorin.org.br/
www.rubemalves.com.br/
http://www.brasilescola.com/
http://ghiraldelli.wordpress.com/2007/11/21/ciencia-e-filosofia/
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38
r ef er ênci aS
ANDREETA, J. P.; ANDREETA, M. L. Quem se atreve a ter 
certeza? São Paulo: Mercuryo, 2008.
BORGES, D. A.; SOUZA, M. A. “Não se ensina filosofia, mas 
a filosofar”. Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.
com/filosofia/nao-se-ensina-filosofia-mas-filosofar.htm>. 
Acesso em: 13 out. 2012.
CAPRA, F. Pertencendo ao Universo. São Paulo: Cultrix, 
1991.
COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 
2006.
LUCKESI, C. C.; PASSOS, E. S. Introdução à Filosofia: apren-
dendo a pensar. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
MONDIN, B. Curso de Filosofia. 12. ed. São Paulo: Paulus, 
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______. Curso de Filosofia. 9. ed. São Paulo: Paulus, 2003, v. 2.
MONDIN, B. Introdução à Filosofia. São Paulo: Paulus, 2003, 
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MORIN, E. Ciência com Consciência. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2001.
REZENDE, A. (org.). Curso de Filosofia. 10. ed. Rio de Janeiro: 
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( 2 )
Passeando sobre a origem e 
organização do universo: olhares 
cosmogônicos e cosmológicos
“Dizem que o que todos procura-
mos é um sentido para a vida. 
Não penso que seja assim. Penso 
que o que estamos procurando é 
uma experiência de estar vivos, 
de modo que nossas experiências 
de vida, no plano puramente físi-
co, tenham ressonância no inte-
rior de nosso ser e de nossa reali-
dade mais íntimos, de modo que 
realmente sintamos o enlevo de 
estar vivos. É disso que se trata, 
afinal, e é o que essas pistas nos 
ajudam a procurar, dentro de nós 
mesmos”.
(CAMPBELL, 1991, p.17)
Naurelice Maia de Melo e 
Ueliton Lemos dos Santos
Na unidade anterior você acompanhou 
saberes e reflexões tanto sobre a Filosofia quanto a respeito 
da Ciência. Nessa perspectiva, algumas inquietações podem 
ser apresentadas. Por exemplo: o que havia antes da iniciativa 
racional de compreensão da realidade e dos fenômenos físi-
cos, naturais? Quais circunstâncias favoreceram a conquista 
da racionalidade? Ou, os modos de relação com a realidade 
sempre estiveram fundamentados na razão? 
Conquistar os caminhos para as respostas às inquie-
tações mencionadas corresponde a disponibilidade para 
um passeio que nos leve à Antiguidade. Convidamos você 
para esse passeio. Na bagagem, vamos precisar da dedica-
ção aos modos diferenciados de entendimento da realidade, 
diferenciados das formas que hoje encontramos até mesmo 
cristalizadas, por assim dizer. Por exemplo: durante a forma-
ção básica, crianças estudam o ciclo hidrológico e, portanto, 
44
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compreendem porque chove, podem lançar o olhar sobre a 
chuva vendo-a na qualidade de fenômeno climático, meteo-
rológico, natural. Durantenosso passeio, entretanto, vamos 
visitar a época na qual essas informações não eram assim tão 
claras. Ao contrário, a chuva poderia ser percebida não na 
qualidade de fenômeno natural, mas de expressão das vonta-
des, por exemplo, vindas do Olimpo. 
As narrativas míticas apresentavam, dentre suas carac-
terísticas, a presença de seres fantasiosos, eventos guiados 
por deuses, manifestações de poderes além daqueles natu-
rais. O que move a iniciativa mítica ou o que a impulsiona é 
a vontade que os seres humanos têm de compreender a rea-
lidade da qual participam. A chuva que mencionamos. Por 
exemplo, hoje conhecemos o ciclo hidrológico, mas neste 
nosso passeio, estamos visitando condições do Século XII 
a. C. e essas explicações ainda não existiam. De todo modo, 
havia o desejo pela compreensão do entorno, do dia, da noite; 
da vida, da morte; era preciso ter acesso a informações que 
narrassem a origem de tudo o que havia. 
Um mito é uma narrativa sobre a 
origem de alguma coisa (origem 
dos astros, da Terra, dos homens, 
das plantas, dos animais, do fogo, 
da água, dos ventos, do bem e 
do mal, da saúde e da doença, da 
morte, dos instrumentos de trabal-
ho, das raças, das guerras, do poder 
etc.). [...] Para os gregos, mito é um 
discurso pronunciado ou proferido 
para ouvintes que recebem como 
verdadeira a narrativa, porque 
confiam naquele que narra; é uma 
narrativa feita em público, baseada, 
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portanto, na autoridade e confi-
abilidade da pessoa do narrador. E 
essa autoridade vem do fato de que 
ele ou testemunhou diretamente 
o que está narrando ou recebeu a 
narrativa de quem testemunhou os 
acontecimentos narrados. Quem 
narra o mito? O poeta-rapsodo. 
Quem é ele? Por que tem auto-
ridade? Acredita-se que o poeta é 
um escolhido dos deuses, que lhe 
mostram os acontecimentos passa-
dos e permitem que ele veja a ori-
gem de todos os seres e de todas as 
coisas para que possa transmiti-la 
aos ouvintes. Sua palavra - o mito 
- é sagrada, porque vem de uma 
revelação divina. O mito é, pois, 
incontestável e inquestionável. 
(CHAUÍ, 2003, p. 34-35)
Neste nosso passeio, fica claro que o ser humano sem-
pre sentiu a necessidade de conhecer, de buscar a compreen-
são da sua realidade, de entender os fenômenos. O convite 
neste momento é para pensarmos a respeito dos “riscos” 
desse sentimento de necessidade ou desejo de conhecer. Em 
estruturas sociais e políticas das mais variadas, a autonomia 
do pensar e o desejo pelo conhecimento se constituem como 
riscos, pois podem ameaçar a “ordem” estabelecida, podem 
afrontar situações de desigualdades, explorações etc. Por 
outro lado, condições que contêm ou narrem a respeito de 
como se dá a realidade, podem promover a aceitação geral 
dos “ouvintes” e, aceitando a narrativa, o desejo de conhecer 
é saciado (ilusoriamente saciado).
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Os mitos, conforme Aranha e Martins (2000), apresenta-
vam as funções de acomodar, justificar e tranquilizar as pessoas 
frente à realidade, assim como tinham a função de fixar mode-
los exemplares para os comportamentos. Reveja a citação de 
Chauí apresentada, desta vez, com atenção aos termos finais da 
citação: “O mito é, pois, incontestável e inquestionável”. Outra 
característica da narrativa mítica: ela é dogmática.
O mito, se questionado, perde seu motivo de ser, perde 
sua força. Sendo questionado, evidencia que não promoveu a 
acomodação, nem a tranquilidade, menos ainda pode justifi-
car ou estabelecer modelos de conduta (as relações de obedi-
ência estão presentes em diversas narrativas míticas, assim 
como as consequentes punições da desobediência aos deu-
ses). Como é possível notar em narrativas míticas como nos 
mitos de Pandora, Prometeu, Édipo, dentre outros.
Seguindo por nosso passeio, foi a partir do movimento, 
por assim dizer, questionador frente às narrativas míticas que 
tivemos as iniciativas pautadas na razão e que, junto a outros 
elementos, realizamos o processo de transição da cosmogo-
nia à cosmologia. Vamos continuar nosso passeio, agora com 
atenção à cosmogonia; logo mais, durante nossa caminhada 
nesta Unidade 02 iremos dialogar a respeito da cosmologia. 
Você já sabe que os mitos correspondem às narra-
tivas sobre a origem de algo. Portanto, é uma genealogia. 
Utilizando as palavras de Chauí (2003, p. 35), “a narração da 
origem é [...] uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos 
seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são 
seus pais ou antepassados”. A esse respeito, a autora exem-
plifica com a narrativa mítica da origem do amor, ou o nas-
cimento de Eros (orientamos pesquisa sobre Eros no nosso 
quadro “Ampliando o Conhecimento”). Além de correspon-
der a uma genealogia, os mitos são também teogonia e cos-
mogonia, conforme segue:
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A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo 
gennao (engendrar, gerar, fazer nascer e crescer) e do substan-
tivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, espé-
cie). Gonia, portanto, quer dizer: geração, nascimento a partir 
da concepção sexual e do parto. Cosmos, como já vimos, quer 
dizer mundo ordenado e organizado. Assim, a cosmogonia 
é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, 
a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. Teogonia é 
uma palavra composta de gonia e theós, que, em grego, signi-
fica: as coisas divinas, os seres divinos, os deuses. A teogonia 
é, portanto, a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus 
pais e antepassados. (CHAUÍ, 2003, p. 36).
Retomando nosso passeio para a contemporaneidade. 
Como a expressão mito é hoje aplicada? Além de significar os 
modos de representação da realidade com as características e 
funções que já elucidamos, constam outros usos do termo mito.
Conforme Buzzi (2007, p. 85) “a palavra mito é usada 
habitualmente para significar alguma crença dotada de vali-
dade mínima e de pouca verossimilhança. Por exemplo: ‘a 
Atlântida não passa de um mito’”. Importa considerar que 
esse é um uso habitual do termo e não corresponde aos sig-
nificados que encontram fundamentos nos estudos sobre o 
pensamento primitivo (primitivo aqui pelo olhar antropoló-
gico, portanto, não significa inferior).
De todo modo, correspondendo ou não aos sentidos 
e significados originários do mito, é fato que atualmente a 
expressão é utilizada para designar coisas que não são reais, 
diante das quais, alguém pode dizer “- É mito!”. Outro uso 
da expressão mito na atualidade está associado tanto a pes-
soas quanto a personagens que marcaram seu tempo e fica-
ram ou tendem a ficar, por assim dizer, eternizados por atos 
heroicos, no sentido do poder simbólico e não concreto, esta-
belecendo relações com o imaginário coletivo. São possíveis 
48
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também outras formas de poder, ainda no campo simbólico, 
que reforçam condições severas, destrutivas capazes de dire-
cionar para os caminhos da desumanização. 
Portanto, importa que cada um de nós experimente o 
exercício da razão e da criticidade, assim como da sensibili-
dade e percepções afetivas frente ao tecido social e ao nosso 
modo próprio de tecer quem somos.
Estávamos, neste nosso passeio, no período da 
Antiguidade quando nosso “relógio” não se conteve em ficar 
apenas “lá”e tecemos as associações com o contemporâneo. 
Agora, vamos retornar aos caminhos míticos e seu contexto 
para que possamos descobrir como ocorreu a transição deste 
modo (mítico) de representação da realidade para os modos 
racionais de compreendê-la.
Embora para alguns autores o advento da razão ganhe 
o título de “milagre grego”, não compartilhamos desse modo 
de pensar, dentre outros motivos, devido ao processo histórico 
que fez culminar no afastamento de perspectivas cosmogôni-
cas (que narram a origem/organização do mundo conforme as 
formas que engendraram-no) e aproximação de perspectivas 
cosmológicas, correspondentes à busca sobre origens e funda-
mentos conforme o empenho do logos, da razão.
Os elementos principais, e suas circunstâncias, que 
favoreceram a passagem da perspectiva mítica para a racional 
foram: a moeda, a escrita alfabética, a lei escrita, o calendário, 
o advento da polis (cidade-estado grega), o cidadão da polis e a 
própria política, as viagens marítimas e a vida urbana. 
Os modos de entendimento da realidade foram pas-
sando por modificações, assim como as formas de perceber a 
si mesmo e ao entorno; pois, novas condições e circunstâncias 
começaram a participar do ambiente grego.
Com as viagens marítimas, foi possível visitar luga-
res nos quais as narrativas míticas indicavam como morada 
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dos heróis, deuses, seres fantásticos repletos de poderes, 
titãs. Esses lugares eram habitados por outras pessoas, tão 
humanas quanto qualquer mortal. Portanto, conforme Chauí 
(2003, p. 37), “As viagens produziram o desencantamento ou 
a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma 
explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não 
podia oferecer”. 
A moeda, assim como a invenção da escrita alfabé-
tica e do calendário, correspondeu ao poder de abstração. No 
caso da moeda, era preciso compreender o valor em seu teor 
mais abstrato, era preciso calcular o valor correspondente às 
mercadorias. 
Emitida e garantida pela polis, a 
moeda faz reverter seus benefí-
cios para a própria comunidade. 
Além desse efeito político de 
democratização de um valor, a 
moeda sobrepõe aos símbolos sa-
grados e afetivos o caráter racio-
nal de sua concepção: muito mais 
do que um metal precioso que se 
troca por qualquer mercadoria, a 
moeda é o artifício racional, con-
venção humana, noção abstrata 
de valor que estabelece a medida 
comum entre valores diferentes. 
(ARANHA, MARTINS, 2003, 
p.81-82)
No caso da escrita alfabética, favoreceu tanto a gene-
ralização quanto à abstração, pois era preciso representar a 
ideia correspondente ao significado de cada coisa. A respeito 
do calendário, favoreceu a passagem da perspectiva mítica 
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para a racional devido à necessária capacidade de abstra-
ção para calcular o tempo de acordo com elementos naturais 
(estações, horas, dias), conforme elucida Chauí (2003, p. 37) 
“revelando, [...] uma capacidade de abstração nova, ou uma 
percepção do tempo como algo natural e não como um poder 
divino incompreensível”. A vida urbana também exerceu 
forte influência sobre o “advento” do pensamento racional, 
conforme segue:
[A respeito da vida urbana] Com 
predomínio do comércio e do arte-
sanato, dando desenvolvimento a 
técnicas de fabricação e de troca, 
e diminuindo o prestígio das famí-
lias da aristocracia proprietária de 
terras, por quem e para quem os 
mitos foram criados; além disso, 
o surgimento de uma classe de 
comerciantes ricos, que precisava 
encontrar pontos de poder e de 
prestígio para suplantar o velho 
poderio da aristocracia de terras 
e de sangue (as linhagens consti-
tuídas pelas famílias), fez com 
que se procurasse o prestígio pelo 
patrocínio e estímulo às artes, às 
técnicas e aos conhecimentos, fa-
vorecendo um ambiente onde a 
Filosofia poderia surgir. 
(CHAUÍ, 2003, p. 37)
A lei escrita também figura dentre os elementos do 
processo histórico de passagem do mito à perspectiva racio-
nal, pois com a lei escrita as noções em torno da justiça reque-
rem diálogos, a justiça não é mais associada aos desígnios dos 
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deuses, mas está posta aos debates, às discussões, portanto, 
é uma justiça que compreende a dimensão propriamente 
humana (não mais divina). O mesmo ocorre com o advento 
da polis, cidade-estado grega, o advento do cidadão e da pró-
pria política, pois havia o espaço destinado aos debates sobre 
temas comuns, como ocorria na ágora (praça pública). Sendo 
necessário decidir sobre os rumos da cidade, da justiça, da 
cidadania, da política e da lei, não mais caberia a justifica-
tiva pautada na cosmogonia, nem com fundamentos na teo-
gonia para as ações; era preciso investigar para compreender, 
conquistando, assim, gradativamente, o espaço para a busca 
racional sobre o princípio de todas as coisas.
Vamos juntos neste passeio, dedicando agora atenção 
à cosmologia. O termo cosmologia é decorrente da soma de 
duas outras palavras: cosmo (universo) + logia (corresponde 
a logos, razão), que significa, doutrina ou narrativa a res-
peito da origem, da natureza e dos princípios que ordenam o 
mundo ou o universo, em todos os seus aspectos. A cosmo-
logia, portando, difere da cosmogonia, embora as duas este-
jam relacionadas às narrativas frente à origem e organização 
do universo. 
O conceito de cosmologia nos direciona ao entendi-
mento de que os primeiros filósofos gregos ansiavam res-
postas sobre a origem ou causa primeira da formação do 
universo, da vida e sua finalidade. Nesse momento, a Grécia, 
representada pelas suas cidades-estados, ou Polis, vivia um 
intenso movimento sociocultural e econômico, essas revolu-
ções interferiram substancialmente na forma de ser e agir dos 
gregos, sobretudo, na concepção de realidade.
O filósofo Batista Mondin, em sua obra Curso de 
Filosofia Vol. 1 (2003), nos traz uma significativa ideia sobre 
a importância de Tales ao desenvolvimento do pensamento 
filosófico ocidental.
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A filosofia nasceu não na Grécia 
propriamente dita, mas nas colô-
nias do Oriente e do Ocidente, a 
saber, na Jônia e na Magna Gré-
cia. Cerca de 624 a. C. em Mile-
to, nasceu Tales, o pai da filosofia 
grega e de toda a filosofia ocidental.
Matemático e astrônomo, atri-
bui-se a ele muitas descobertas. 
Foi considerado um dos sete sá-
bios da Antiguidade. Diógenes 
Laércio narra que ele morreu ao 
cair em uma cisterna enquanto 
observava os astros, aproximada-
mente 526 a. C.
Pelo que se sabe, Tales foi o pri-
meiro pensador que se pôs ex-
pressa e sistematicamente a per-
gunta: “Qual é a causa última, 
o princípio supremo de todas as 
coisas?” A pergunta se justifica-
va pelo fato de que, apesar da apa-
rente diversidade, há em todas as 
coisas algo de comum: em todas 
as coisas observáveis encontra-se 
água, terra, ar e fogo.
(MONDIN, 2003, p. 17)
Tales representa o início de uma era de novos olhares sobre 
a realidade, a busca da origem do universo não mais está relacio-
nada aos seres divinos, ou olímpicos, muito ao contrário, o uso da 
razão impôs aos filósofos uma nova perspectiva material, a subs-
tância primordial que para os gregos era chamada de “arché”. 
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A seguir, quadro demonstrativo e painel ilustrativo dos 
principais pré-socráticos e suas mais relevantes contribuições.
Quadro 1: Demonstrativo dos filósofos pré-socráticos 
NOME ANO ELEMENTO
PRINCIPAL 
CONTRIBUIÇÃO
Tales de 
Mileto
623-546 a. C. Água 
Origem da vida é a 
água
Anaximandro 
de Mileto
610-547 a. C. Ápeiron
Ápeiron, o 
indeterminado, 
massa geradora de 
todos os seres
Pitágoras de 
Samos
570- 490 a. C. Números
Representam a 
ordem e a harmonia 
do universo
Heráclito de 
Éfeso 
Séc. V a. 
C. 2*
Fogo
A vida é um 
fluxo constante 
impulsionado por 
forças contrárias
Parmênides 
de Eléia
510-470 a. C. Ser
Princípio lógico 
de identidade e 
princípio de não 
contradição
Zenão de 
Eléia 
488-430 a. C. Movimento
Reflexões sobre 
o conceito de: 
movimento, espaço, 
infinito e tempo
Empédocles 
de Agrigento
490-430 a. C.
Quatro 
elementos 
naturais
Os elementos são 
movidos pelos 
princípios universais 
opostos, o amor e o 
ódio
Demócrito de 
Abdera
460-370 a. C. Atomismo
Partícula não 
divisível 
* Não se sabe exatamente o ano de seu nascimento, atribui-se, portanto o período Séc. V.
Fonte: Adaptado de Cotrim (2006)
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Painel ilustrativo dos pré-socráticos:
Tales de Mileto Parmênides de Eléia
 Pitágoras de Samos Demócrito
Heráclito de Éfeso Zenão de Eléia
Anaximandro
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal
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Na tentativa de encontrar a substância primordial ou 
princípio substancial, esses pensadores, mediante suas refle-
xões, legaram a toda humanidade relevantes contribuições ao 
desenvolvimento da forma racional de compreensão da reali-
dade, que posteriormente fora traduzido tanto pela Filosofia 
quanto pela Ciência.
Aprofundando nossas reflexões.
Quais são as implicações dos Jônios em nossa atual con-
juntura social? Por que e para quê o estudo desses pensado-
res gregos se fazem necessários a minha formação/atuação nas 
esferas pessoal, acadêmica e profissional? Como poderíamos 
lançar o olhar sobre a realidade na qual vivemos e que tece-
mos, deixando de compreender seus fundamentos originários 
e a trajetória própria da iniciativa racional de compreensão da 
realidade e, ainda, do desejo que, na qualidade de humani-
dade, sempre tivemos de aprender e buscar saberes, mesmo 
quando não tínhamos o referencial da razão, conforme você 
pode acompanhar com os estudos sobre cosmogonia?
Essas indagações são perfeitamente naturais e necessá-
rias. Portanto, acreditamos que é justamente nesse momento 
que começamos a pensar, pois, o simples ato de questionar 
nos possibilita uma infinidade de possibilidades de não mais 
aceitarmos os “pacotes” prontos e acabados. 
É preciso que se descubra a finalidade do estudo para 
se fomentar a necessidade do aprendizado, ou seria o contrá-
rio? É preciso reconhecer a necessidade para melhor atender 
as finalidades?
Para esses questionamentos, acreditamos não ter uma 
resposta pronta e definitiva, apenas dispomos de simples 
compreensões que em dado momento de nossa condição 
humana nos é dada a possibilidade de expressar. Heráclito e 
Parmênides, dois dos principais pré-socráticos, nos auxiliam 
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significativamente ao esclarecimento desses dilemas existen-
ciais. Vejamos o que eles nos falam!
Heráclito considera que a realidade é dinâmica e, por-
tanto, um estado de permanente mudança (realidade mobilista) 
vir-a-ser. Parmênides, ao contrário, defende a permanência das 
essencialidades, a mudança é uma ilusão, é contingente e não 
substancial. Com referência a esses posicionamentos, percebe-
mos que durante nossa vida, em nossas condições existenciais, 
precisamos adotar posturas que compreendam essas duas 
perspectivas, ora a mudança é uma realidade, ora a permanên-
cia é a essencialidade e única garantia de autenticidade. O fato 
é que não se trata mais de adotar uma única e exclusiva pos-
tura, pensar-repensar, construir-descontruir, significar-ressig-
nificar são mais que pares de palavras, são verdadeiramente 
modos de ser e existir frente à multiplicidade dos fenômenos 
existentes na realidade conjuntural. 
Sín t eSe
 O estudo das perspectivas cosmogônicas e cos-
mológicas nos possibilitou a compreensão de um dos prin-
cipais períodos filosóficos da humanidade. Além das consid-
erações histórico-sociais inerentes ao aprendizado, constam, 
nesta unidade, elementos que possuem o escopo no fomento 
da realização de relevantes reflexões, a fim de atualizar e con-
textualizar o legado deixado pelos pensadores originários, 
exercício de aproximação teórico conceitual a práxis cotidi-
ana que torna-se indispensável ao estudante na contempora-
neidade. 
qu eStão pa r a r eflex ão
1. Elabore um comentário explicativo sobre as características 
e funções das narrativas míticas e estabeleça relações com a 
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contemporaneidade. 
2. Considere as citações abaixo e desenvolva seu posiciona-
mento frente às adversidades sociais contemporâneas.
• De fato, ou uma coisa é ou não é. Se é, não pode vir-
-a-ser, porque já é. Se não é, não pode vir-a-ser, porque 
do nada não se tira nada. (MONDIN, 2003, p. 31).
• Tudo é vir-a-ser, tudo muda, tudo se transforma. O 
mundo, o homem, as coisas estão em incessante trans-
formação. (MONDIN, 2003, p. 26).
lei t u r aS i n dica daS
BULFINCH, T. O Livro de Ouro de Mitologia história de 
Deuses e Hérois. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
CAMPBELL, J. O Poder do Mito. 2 reimpressão. São Paulo: 
Palas Athena, 1991.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia. São Paulo: 
Paulus, 2003, v. 1.
Si t eS i n dica doS
http://www.filosofia.com.br/
http://www.mundoeducacao.com.br/
r ef er ênci aS
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: in-
trodução à Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
______. Temas de Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2000.
58
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BUZZI, A. R. Introdução ao Pensar: o Ser, o Conhecimento, 
a Linguagem. 33. ed. Petrópolis: Vozes, 2007.
CAMPBELL, J. O Poder do Mito. 2 reimpressão. São Paulo: 
Palas Athena, 1991.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.
COTRIN, G. Fundamentos da Filosofia história e grandes 
temas. São Paulo: Saraiva, 2006.
MONDIN, B. Curso de Filosofia. São Paulo: Paulus, 2003, v. 1.
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( 3 )
Reflexões sobre o conhecimento 
e olhares sobre o pensamento 
clássico
Naurelice Maia de Melo e 
Ueliton Lemos dos Santos 
“Tudo que se vê não é
Igual ao que a gente
Viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo
No mundo”
Trecho de Como uma Onda. Lulu Santos. Disponível em: <http://
letras.mus.br/lulu-santos/47132/>. Acesso em: 21 out.2012.
O trecho de música citado permite lembrar os diálogos 
tecidos na unidade anterior, especialmente quando lançamos 
o olhar sobre a cosmologia, com atenção a Heráclito. O devir,a mudança constante, a condição perene de que tudo é mutá-
vel. “Como uma onda no mar”. Na contemporaneidade, não 
precisamos viver essa contenta entre o referido pensador e 
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Parmênides que, como você já sabe, propôs que tudo é uno, 
fixo, imutável. Hoje, podemos tecer reflexões sobre as duas 
condições (do mutável e do imutável) em prol da busca pelo 
conhecimento. Hoje, falamos em complexidade. Falamos nas 
integrações necessárias entre os sentimentos, os pensamen-
tos e as ações nas diversas instâncias da vida, seja pessoal, 
acadêmica, profissional etc.
Nesta unidade, vamos dialogar, dentre outros saberes, 
a respeito da trajetória clássica grega do pensamento, ou seja, 
sobre o que houve depois da transição da perspectiva cosmo-
gônica para a cosmológica. Ou, ainda, o que dizer da inicia-
tiva que sempre tivemos, na qualidade de humanidade, de 
conhecer, de desvelar ou perceber os dados da realidade. Seja 
como uma onda no mar, seja como uma gota no oceano, esta-
mos todos em relação com as iniciativas capazes de promo-
ver e conquistar conhecimentos. É por este termo e com ele 
que vamos continuar nossos diálogos. “Há muita vida lá fora, 
aqui dentro, sempre”.
A origem etimológica latina do termo conhecimento, 
cognoscere, aponta para as possibilidades de saber. No âmbito 
da filosofia são várias as formas de compreensão a respeito 
do que é conhecimento e de como é possível conquistá-lo, de 
acordo com os pressupostos teóricos e/ou metodológicos de 
cada expressão da teoria do conhecimento, conforme você 
estudou durante nossa Unidade 01.
A respeito do conhecimento, elegemos, para sociali-
zar com você, a aproximação conceitual feita por Luckesi e 
Passos (2000), correlacionando-o à elucidação da realidade. 
Escolhemos este olhar, pois está próximo do movimento que 
reúne o ato de conhecer com as possibilidades de engajamento 
social, pois, conforme os respectivos autores (2000, p. 32, grifo 
nosso): “o conhecimento que se transforma em consciência 
social é um instrumento básico na luta pela transformação”. 
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A palavra elucidar tem sua ori-
gem no latim. Ela é composta 
pelo prefixo reforçativo “e” e pelo 
verbo “lucere”, que quer dizer 
“trazer à luz”. Então, elucidar, 
do ponto de vista de sua origem 
vocabular, significa “trazer a luz 
muito fortemente”, “iluminar 
com intensidade”. Desse modo, 
conhecer, entendido como eluci-
dar a realidade, quer dizer uma 
forma de “ilumina” de “trazer 
à luz” a realidade. [...] A luz 
do elucidar tem a ver com a in-
cidência da “luz da inteligência” 
sobre a realidade, tem a ver com 
inteligibilidade. O conhecimento, 
como elucidação da realidade, é 
a forma de tornar a realidade in-
teligível, [...] cristalina. É o meio 
pelo qual se descobre a essência 
das coisas que se manifesta por 
meio de suas aparências. Assim 
sendo, enquanto a realidade, por 
meio de suas manifestações apa-
rentes, manifestar-se ia como 
misteriosa, impenetrável, opaca, 
oferecendo resistências ao seu 
desvendamento (desvendar/des-
vendar=tirar a venda) por parte 
do ser humano, a elucidação se-
ria a sua iluminação, a sua com-
preensão, o seu desvelamento 
(desvelar/des-velar=tirar o véu). 
(LUCKESI; PASSOS, 2000, p. 15)
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Todos nós estamos diante da realidade na qualidade 
de pessoas dotadas da capacidade de elucidar. Cada um, con-
forme seus desejos, suas escolhas, criatividades, afinidades 
etc., lançamos o olhar sobre o mundo e construímos quem 
somos também no âmbito das relações. Desse modo, pode-
mos dizer que somos seres cognoscentes e participamos de 
processos nos quais tecemos relações, de modos variados, 
com a realidade cognoscível. Aqui, já mencionamos elemen-
tos do processo do conhecimento. Vejamos.
Os elementos do processo do conhecimento são: sujeito 
(cognoscente), objeto (cognoscível), ato de conhecer e seu resul-
tado. Aplicamos o termo cognoscente para significar a dispo-
sição ao conhecimento, ou aquele que conhece. A expressão 
cognoscível corresponde à realidade que pode ser conhecida.
Elementos do processo de conhecimento 
Fonte: Elaboração própria
Na qualidade de elemento do processo do conheci-
mento, sujeito cognoscente é a pessoa que estabelece relação 
com a realidade a ser conhecida (objeto), buscando criterio-
samente as percepções e os entendimentos necessários a 
respeito dela, portanto, organiza os saberes, conquista e exer-
cita a habilidade de percepção, abstração, inteligibilidade. O 
Sujeito Objeto
Resultado
Ato de 
conhecer+ =
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objeto cognoscível pode ser também o próprio ser humano, 
as relações humanas em dada comunidade, um fenômeno 
físico/natural, um fenômeno social etc. Portanto, o objeto não 
corresponde a uma coisa material no sentido que comumente 
é atribuído ao termo objeto, mas a toda e qualquer realidade 
a ser conhecida. A respeito do ato de conhecer e do resul-
tado (também conhecido por produto), são, respectivamente, 
o processo da relação entre sujeito e objeto e o conceito, con-
forme segue:
[...] O ato de conhecer é o proces-
so de interação que o sujeito efet-
ua com o objeto, de tal forma que, 
por recursos variados, vai tentan-
do captar do objeto a sua lógica, 
a possibilidade de expressá-lo 
conceitualmente. Então, o sujeito 
interage com o objeto para desco-
brir-lhe, teoricamente, a forma 
de ser. [...] o resultado do ato de 
conhecer é o conceito produzido, 
o conhecimento propriamente 
dito, a explicação ou a compreen-
são estabelecidas, que podem ser 
expostas ou comunicadas. 
(LUCKESI; PASSOS, 2002, p. 17)
Conforme os modos distintos de estabelecer relações 
com a realidade, contamos com formas também distintas de 
conhecimento. De acordo com Araújo et al. (2000), são três as 
maneiras básicas pelas quais o sujeito conhece o objeto. Essas 
maneiras se distinguem com relação as vias de acesso às pro-
priedades do objeto, podendo ser pelos sentidos, pelo raciocí-
nio ou pela crença.
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Quando o sujeito cognoscente entra em contato com o 
objeto cognoscível mediante os sentidos, dizemos que esse é 
um tipo de conhecimento sensorial ou empírico: “o universo 
dos objetos físicos é, pois, conhecido pela sensação de suas 
características. O sujeito cognoscente estabelece com eles 
uma relação física, apoderando-se de suas propriedades sen-
síveis” (ARAÚJO et al. 2000, p. 32). 
Além de entrar em contato com a realidade mediante 
às sensações, o ser humano pode ir além da percepção sen-
sorial, o ser humano é dotado do poder de abstração, bem 
como de associação/relação entre os dados percebidos, cons-
tituindo, assim, o tipo de conhecimento lógico ou intelectual. 
A combinação dos dados pos-
sibilita analisar, comparar, ar-
ticular e unir, gerando conceitos, 
definições e leis indispensáveis 
ao entendimento (e consequente 
utilização) da realidade. É pelo 
raciocínio que percebemos o con-
junto dos objetos formais, tais 
como as figuras geométricas, os 
números, a relação causa-efeito, a 
gravitação dos corpos etc. 
(ARAÚJO et al., 2000, p. 32) 
Dentre os modos de relação com a realidade, consta 
também aquela que não pode ser mediada nem pela percep-
ção sensorial, nem pelas associações racionais, pois remetem 
a instâncias da realidade fundamentadas na fé, outrotipo 
de conhecimento, a saber: o conhecimento de fé. Conforme 
Araújo et al. (2000, p. 34), “o conhecimento de fé baseia-se, pois, 
na autoridade de terceiros. Constitui um voto de confiança 
no que outros afirmam”. Corresponde não a observações, 
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percepções ou associações entre dados da realidade, mas está 
próximo às perspectivas de revelação mediada pela fé.
Constam também outros olhares, igualmente válidos, a 
respeito dos tipos de conhecimento, apontando, por exemplo, 
para o conhecimento do senso comum ou popular, o conheci-
mento religioso, o conhecimento científico e o conhecimento 
filosófico. Por motivos de elucidação didática, preferimos 
socializar com você a perspectiva de conhecimento sensorial 
ou empírico, lógico ou intelectual e de fé. Deixamos o convite 
para que pesquise outros olhares a respeito dos tipos de conhe-
cimento, ampliando seus estudos e saberes, considerando, 
ainda, que, ao longo das nossas unidades, você poderá com-
preender a respeito do conhecimento conforme o pensamento 
filosófico, por exemplo, do empirismo e do racionalismo.
E a Filosofia? O que dizer do modo filosófico de lan-
çar o olhar sobre a realidade? Ou, como seria o processo do 
conhecimento para a pessoa que se porta na qualidade de, por 
assim dizer, “sujeito” filosofante? Você recorda que, durante 
nossa Unidade 1, propomos que somos já pessoas filosofan-
tes? Convidamos você, mais uma vez, para que encontre suas 
próprias respostas. Nesse sentido, oferecemos informações 
que subsidiarão essa iniciativa. Vamos, portanto, dialogar a 
respeito da atitude e da reflexão ou sobre quais característi-
cas fazem com que a atitude seja filosófica. E a reflexão? Para 
atendermos esses subsídios necessários, utilizamos: perspec-
tivas didáticas apresentadas por Chauí e fundamentos pro-
postos por Saviani (1998).
A atitude filosófica apresenta duas características fun-
damentais: negativa e positiva. É negativa porque nega ao 
que está posto sem que antes seja compreendido, nega as afir-
mações gerais que são impostas para que sejam cegamente 
seguidas. Portanto, querido(a) estudante, muitas vezes, já 
desempenhamos essa primeira característica da atitude 
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filosófica em nosso cotidiano, pois somos pessoas dedicadas 
ao conhecimento, pessoas que buscam ver para além do que 
está posto, para além dos recursos de dominação social, pes-
soas que desejam e buscam realizar a autonomia, a liberdade 
de pensar. Entretanto, não é apenas exercitando esse tipo de 
negação que podemos dizer que nossa atitude é filosófica. É 
preciso, também, propor.
Além de negativa, no sentido já elucidado, a atitude 
filosófica é também positiva ou propositiva. Uma vez que não 
aceitamos determinados modos de significação da realidade, 
precisamos propor nossos próprios modos de entendimento, 
criando nossos conceitos e o fazemos quando assumimos 
posturas questionadoras. Mediante a citação a seguir, você 
pode saber mais sobre as características negativa e positiva 
da atitude filosófica e como, relacionadas, elas constituem a 
atitude crítica!
A primeira característica da ati-
tude filosófica é negativa, isto é, 
um dizer não aos “pré-conceitos”, 
aos “pré-juízos”, aos fatos e às 
ideias da experiência cotidiana, 
ao que “todo mundo diz e pensa”, 
ao estabelecido [...]. A segunda 
característica da atitude filosó-
fica é positiva, isto é, uma inter-
rogação sobre o que são as coisas, 
as ideias, os fatos, as situações, 
os comportamentos, os valores, 
nós mesmos. É também uma in-
terrogação sobre o porquê disso 
tudo e de nós, e uma interroga-
ção sobre como tudo isso é assim 
e não de outra maneira. “O que 
é?”, “Por que é?”, “Como é?”. Es-
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sas são as indagações fundamen-
tais da atitude filosófica. A face 
negativa e a face positiva da ati-
tude filosófica constituem o que 
chamamos de atitude crítica. [...] 
Em geral, julgamos que a palavra 
“crítica” significa ser do contra, 
dizer que tudo vai mal, que tudo 
está errado, que tudo é feio ou 
desagradável. Crítica é mau hu-
mor, coisa de gente chata ou pre-
tensiosa que acha que sabe mais 
que os outros. Mas não é isso 
que essa palavra quer dizer. A 
palavra “crítica” vem do grego e 
possui três sentidos principais: 1) 
capacidade para julgar, discernir 
e decidir corretamente; 2) exame 
racional de todas as coisas sem 
preconceito, sem prejulgamento; 
3) atividade de examinar e aval-
iar detalhadamente uma ideia, 
um valor, um costume, um com-
portamento, uma obra artística 
ou científica.
(CHAUÍ, 2003, p. 18)
Quanto à reflexão filosófica, temos também carac-
terísticas específicas. Na obra “Educação: do senso comum 
à consciência filosófica”, o pesquisador Dermeval Saviani 
aponta e contextualiza alguns aspectos da reflexão filosófica. 
Compreende que nem todo refletir é filosófico; para sê-lo, é 
preciso atender às características: radical, rigorosa e de con-
junto. Querido (a) estudante, importa compreender que esses 
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termos não se apresentam conforme comumente significa-
dos. Ser radical, neste caso, não significa ter um posiciona-
mento fixo, inflexível; ao contrário, remete à busca das raízes 
e está em relação com os demais aspectos (rigor e conjunto). 
Muitos são os autores e autoras que buscam dessa fonte ao 
discorrer sobre a reflexão filosófica. É um modo sério e subs-
tancial, com linguagem clara, acessível e conteúdo pertinente 
às variadas faces do viver. 
Para saber mais sobre a reflexão filosófica (radical, rigo-
rosa e de conjunto), por gentileza, acompanhe a leitura do 
quadro que segue.
Trecho selecionado de “A reflexão filosófica” 
 ‚ Radical: a palavra latina radiz, radicis significa “raiz”, e 
no sentido figurado, “fundamento, base”. Portanto, a filo-
sofia é radical não no sentido corriqueiro de ser inflexí-
vel (nesse caso seria a antifilosofia), mas na medida em 
que busca explicitar os conceitos fundamentais usa-
dos em todos os campos do pensar e do agir. Por exem-
plo, a filosofia das ciências examina os pressupostos do 
saber científico, do mesmo modo que, diante da decisão 
de um vereador em aprovar determinado projeto, a filo-
sofia política investiga as “raízes” (os princípios políticos) 
que orientam a ação.
 ‚ Rigorosa: enquanto a “filosofia de vida” não leva as con-
clusões até as últimas consequências, nem sempre exa-
minando os fundamentos delas, o filósofo deve dispor de 
um método claramente explicitado a fim de proceder com 
rigor. É assim que os filósofos inovam nos seus caminhos 
de reflexão, tal como o fizeram Platão, Descartes, Espinosa, 
Kant, Hegel, Husserl, Wittgenstein. [...] São inúmeros os 
métodos filosóficos em que se apoiam os filósofos para 
desenvolver um pensamento rigoroso, fundamentado a 
partir de argumentação, coerente em suas diversas partes 
e, portanto, sistemático. Além disso, o filósofo usa de lin-
guagem rigorosa para evitar as ambiguidades das expres-
sões cotidianas, o que lhe permite discutir com outros 
filósofos a partir de conceitos claramente definidos. 
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Fonte: ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: intro-
dução à Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003, p. 89-90.
Foi com atenção racional à

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