Buscar

Apostila ECA

Prévia do material em texto

ANOTAÇÕES
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Professora Bruna Daniela Côrte Real
O Estatuto da Criança e do Adolescente.
O ECA incorporou em definitivo a Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral à Criança. Estrutura-se em dois livros, ou em duas partes: uma Parte Geral (art.1° a 85) e uma Parte Especial (art. 86 a 258).
Em sua primeira parte, é detalhado como o intérprete e o aplicador da lei haverão de entender a natureza e o alcance dos direitos elencados na norma constitucional.
Já a parte especial contém as normas gerais a que se refere o art. 204 da CF, e que correspondem às políticas públicas dirigidas à infância e juventude.
a) Disposições preliminares.
Como já visto, o Eca, na esteira da nova ordem constitucional e em consonância com os textos internacionais que tratam da matéria, rompeu definitivamente com a doutrina da situação irregular (Código de Menores – Lei 6.697, de 10.10.79), e estabeleceu como diretriz básica a doutrina da proteção integral.
Essa proteção se fundamenta no princípio do melhor interesse da criança. Trata-se da chamada regra de ouro do Direito da Criança e Adolescente, que considera superiores os seus interesses porque a família, a sociedade e o Estado, todos são compelidos a protegê-los.
O Eca foi o responsável pela introdução de novos conceitos no ordenamento jurídico brasileiro, dentre os quais os de criança e de adolescente. É verdade que a Convenção sobre os Direitos da Criança, não faz tal separação. Porém, a solução adotada pela legislação especial tutelar brasileira foi diversa, estabelecendo que criança é aquela pessoa que tem até doze anos incompletos, e adolescente, aquele que tem entre doze e dezoito anos incompletos.
É válido lembrar que se considera completada a maioridade a zero hora do dia em que o adolescente completa dezoito anos. A adolescência, assim, inicia-se a zero hora do dia em que a criança completa doze anos, não importando, em qualquer dos casos, a hora em que se deu o nascimento do indivíduo.
A diferença entre criança e adolescente tem conseqüência direta no tema ato infracional, este um novo conceito introduzido.
Como sabido, a resposta estatal frente à prática de uma conduta prevista na lei penal como infração penal varia de conformidade com a idade do agente. Se imputável, terá praticado um crime e será apenado; se inimputável em razão da idade, terá praticado um ato infracional e poderá estar sujeito a uma medida sócio-educativa e/ou medida de proteção, se adolescente, ou somente medida de proteção, se criança. Deve ser considerada a data do fato.
De se ressaltar que o ECA, em uma situação excepcional, aplica-se àqueles que têm entre 18 e 21 anos. É o caso da medida de internação, que pode ser prolongada até os vinte e um anos de idade.
No artigo 3° inicia-se o elenco dos direitos assegurados aos sujeitos indicados no art. 2°, extraindo-se três princípios: a) crianças e adolescentes gozam de todos os direitos fundamentais assegurados a toda pessoa humana; b) eles têm direito, além disso, à proteção integral que é a eles é atribuída pelo Estatuto; c) a eles são garantidos também todos os instrumentos necessários para assegurar seu desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, em condições de liberdade e dignidade.
Nesse passo, crianças e adolescentes, sujeitos de direitos que são, têm mais direitos que os outros cidadãos, pois têm direitos específicos indicados nos capítulos sucessivos da primeira parte, principalmente no art. 4º.
O artigo 6º faz referência à interpretação do ECA, e repete praticamente o contido no art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, com um alerta para o intérprete e aplicador do Direito, no sentido de se levar em consideração os “direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento”, sobretudo no atinente à convivência familiar, à proteção da criança e adolescente e das medidas socioeducativas.
3.DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A Constituição Federal adotou um sistema especial de proteção dos direitos fundamentais de crianças e adolescentes, explicitados nos artigos
226/228, sendo dever da família, da sociedade, da comunidade e do Poder Público zelar, com absoluta prioridade, pela sua efetivação.
O caráter de absoluta prioridade deriva da Doutrina da Proteção Integral, sustentada pela Convenção de New York sobre os Direitos da Criança, de 1990. Refere-se a uma primazia, precedência e preferência no atendimento das necessidades das crianças e adolescentes. A CF/88 utilizou tal expressão apenas uma vez, ao tratar dos interesses daqueles no art. 227. Desse modo, tem- se um exemplo de prioridade das prioridades.
Além disso, atribuiu um caráter de especialidade a esses direitos, tanto sob o aspecto quantitativo, quanto no aspecto qualitativo.
Sob o aspecto quantitativo, porque crianças e adolescentes gozam de uma maior gama de direitos fundamentais que os adultos. Em suma: gozam de toda a proteção estendida aos adultos, e de um plus, como, por exemplo, o direito à convivência familiar.
Sob o aspecto qualitativo, porque o ECA trata de forma mais especificada alguns dos direitos, encampando explicitamente o princípio da ABSOLUTA PRIORIDADE.
I-O direito à vida e à saúde: tais direitos são assegurados a todos, crianças, adolescentes e adultos. Porém, o ECA especifica algumas providências que entende pertinentes com a finalidade de assegurar maior eficácia a tais direitos.
Nesse sentido, tem-se uma extensão da proteção desse direito desde a concepção, quando à genitora é garantido, através do SUS, o atendimento pré e perinatal. À criança e ao adolescente também são garantidos atendimentos integrais pelo SUS.
Aos hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde das gestantes também são obrigados a: manter registro das atividades desenvolvidas, pelo prazo de 18 anos; identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital (pé e dedo da mão), e impressão digital da mãe, proceder exames, fornecer declaração de nascido-vivo e manter alojamento conjunto.
II-Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade: reconhece-se a condição de criança e adolescente como pessoas em processo de desenvolvimento, logo, sujeitos de direitos, devendo ser resguardada a sua integridade física, psíquica e moral.
III-Direito à convivência familiar e comunitária: o direito à convivência familiar e comunitária constitui direito essencial de crianças e adolescentes, um dos direitos da personalidade infanto-juvenil. Algo semelhante foi reconhecido aos idosos, inclusive com a cláusula de absoluta prioridade (art. 3º, caput, e parágrafo único, inciso V, da Lei nº 10.741/2003).
De fato, a família é o lugar normal e natural de se educar a criança e o adolescente. Essa relação íntima existente somente poderá ser rompida em hipóteses excepcionais.
Mas, sob o ponto de vista jurídico, o que é a família? Poderia o legislador tipificá-las?
É verdade que a Constituição Federal de 1988 (art. 226) representou um verdadeiro divisor de águas, pois aduziu que a família não decorre exclusivamente do casamento. Nesse passo, reconheceu o Texto Fundamental não só a família casamentária (advinda do casamento), mas também a família proveniente de união estável entre pessoas de sexos diferentes e também a família monoparental, na qual não se leva em conta a orientação sexual adotada.
Não obstante, a Constituição Federal não excluiu a existência de outros tipos familiares. Pudera, porque não compete ao Constituinte dizer o que é família, mas sim, a “complexa dinâmica social, que tem na aproximação decorrente de afetividade mútua e desejo comum de convivência o tronco principal da composição familiar”. Pelo contrário, apenas exemplificou alguns tipos de entidades familiares, não excluindo outras possíveis, pois o caput do art. 226 encerra cláusula de proteção geral, e não de exclusão. Por esse motivo,cada vez mais o Judiciário vem reconhecendo efeito jurídico às uniões homoafetivas.
E, de acordo com o Estatuto, toda criança e adolescente tem o direito de ser criado e educado, ordinariamente, no seio de sua família natural e, excepcionalmente, em família substituta, “esta considerada como estruturação psíquica, em que as funções de filho e pais não têm de ser necessariamente fruto de uma relação biológica”1.
A família natural é aquela formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes (art. 25 do ECA), cujo relacionamento contínuo é tutelado pelo Estado, e rompimento somente poderá ocorrer em hipóteses excepcionais. Importante notar que a família formada pelos avós e netos, por exemplo, não constituirão família natural, mas sim, família substituta.
O Estatuto faz menção às formas de reconhecimento de paternidade, direito esse personalíssimo, indisponível e imprescritível, e que pode ser exercido contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer distinção. Segundo o Código Civil (art. 1.609), o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
-no próprio registro de nascimento: oportunidade em que tanto o pai, quanto a mãe, declaram o nascimento e assumem espontaneamente a paternidade e maternidade respectivamente;
-por escritura pública ou escrito particular: uma vez lavrado o registro de nascimento, constando nele somente os dados maternos, para que haja a respectiva indicação da particular, na qual o pai reconhece a condição de filho do registrado, requerendo a sua competente averbação à margem do assento de nascimento (artigo 102, item 4º, da Lei dos Registros Públicos). De praxe, o expediente é autuado pelo Oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais, sobre ele manifestar-se-á o Ministério Público e, posteriormente, o juiz determinará a requerida averbação. Recorde-se que antes da Lei n.º 8.560/92, o reconhecimento de paternidade exigia a lavratura de escritura pública, não sendo possível a sua realização por escrito particular;
-por testamento: poderá o testador, em qualquer tipo de testamento admitido, reconhecer a paternidade de pessoa;
-por manifestação expressa e direta ao juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Assim, por exemplo, em ação para apuração de ato infracional praticado por adolescente, este poderá manifestar-se perante o Juiz acerca do reconhecimento da paternidade, devendo o magistrado encaminhar tal expediente para a autoridade judiciária competente, que determinará a averbação no registro de nascimento.
Se acaso não houver o reconhecimento espontâneo, poderá ele decorrer de sentença judicial, que produzirá os mesmos efeitos jurídicos.
O poder familiar será exercido em igualdade de condições entre o pai e a mãe, competindo-lhes o sustento, a guarda e a educação dos filhos. Eventual carência de recursos materiais não constituirá motivo suficiente para a perda ou suspensão do poder familiar, quando então a família deve ser incluída em programas oficiais de auxílio.
A perda ou a suspensão do poder familiar decorrerão de sentença judicial.
A família EXTENSA é aquele que vai além da unidade pais e filhos, para encampar também outros parentes, com quem a criança mantenha vínculo de afinidade ou de afetividade.
Não sendo possível a manutenção da criança ou do adolescente nessa entidade familiar, a família natural dará lugar à substituta. Portanto, família substituta é aquela que, de forma excepcional e necessária, assumiu o lugar da original.
É possibilitada através dos institutos jurídicos da guarda, tutela ou adoção, cada qual com suas características próprias e inconfundíveis, que não podem ser mescladas para formação de institutos diferenciados. É deferida, via de regra, a famílias nacionais, salvo no caso de adoção, em que é permitida a famílias estrangeiras excepcionalmente (princípio da excepcionalidade da adoção internacional – a adoção nacional é prioritária).
Para a apreciação do pedido, o juiz levará em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, como meio de minorar as conseqüências da medida.
A guarda: a guarda pode ser estudada sob exclusivamente o enfoque do Código Civil, nos casos de reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento e quando da separação dos pais. Ou seja: a criança ou adolescente permanecerá, pelo menos, com um dos genitores, ou em razão da vontade por eles manifestada, seja em razão de decisão judicial.
Sob o enfoque do ECA, porém, a criança ou adolescente será entregue a outra família para atendimento de uma situação excepcional: a impossibilidade de sua permanência junto à família natural.
De qualquer forma, guarda é o instituto pelo qual se transfere ao guardião, a título precário, os atributos do art. 1634, I, II, VI e VII, do Código Civil. Obriga à assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente. É necessário o procedimento contraditório quando houver discordância dos genitores (art. 166 ECA). Tem como característica a provisoriedade, de modo que pode ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado (art. 35). Tal regra é possível porque a decisão sobre a guarda não faz coisa julgada material ou substancial, mas tão somente formal.
Pode ser concedida incidentalmente (nos casos de ação de tutela e adoção – art. 33, § 1º), como também pode ser o pedido principal da ação (§ 2º). Neste último caso, identificam-se duas hipóteses, previstas no § 2º do art. 33: a chamada guarda satisfativa, que atende a situações peculiares (exemplo – maus tratos dos pais); e a chamada guarda especial, destinada a suprir a ausência momentânea dos pais.
- PEDIDO INCIDENTALMENTE. GUARDA SATISFATIVA - PEDIDO PRINCIPAL ESPECIAL.
É possível imaginar alguma situação de guarda compartilhada na família substituta? Sim, no caso de os adotantes, já iniciado o estágio de convivência, venham a se separar judicialmente. Nesse caso, é possível vislumbrar, já na concessão da adoção, a guarda compartilhada. Aliás, essa previsão já existe na Lei de Adoção que está sendo discutida no Congresso Nacional.
Tutela constitui o conjunto de direitos e obrigações conferidas a um terceiro (tutor), para que proteja a pessoa de uma criança ou adolescente que não se acha sob o poder familiar. Poderá o tutor administrar os bens do tutelado, bem como representá-lo ou assisti-lo nos atos da vida civil.
A tutela pressupõe a extinção do poder familiar, o que pode ocorrer em virtude da morte dos pais ou a decretação de sua perda (art. 1638 do CC) ou suspensão (art. 1637 do CC), em razão de sentença judicial proferida em procedimento próprio.
A adoção implicará no desligamento dos vínculos familiares existentes. Quer seja a adoção de crianças e de adolescentes, quer seja a de adultos, o regramento legal aplicado é o Estatuto da Criança e do Adolescente, dependendo ambas de SENTENÇA judicial, muito embora o STJ admita a adoção por escritura pública nas restritas hipóteses em que, à época da lavratura do ato, era vigente o CC de 1916. Só nesta situação.
Por adoção unilateral – geralmente requerida pelo marido ou companheiro da genitora da criança – entende-se aquela em que o adotando mantém os vínculos com o pai ou mãe biológicos. Opõe-se à adoção bilateral, em que há o total rompimento dos vínculos biológicos, quer em relação ao pai, quer em relação à mãe biológicos.
A adoção unilateral poderá ocorrer em três hipóteses, quais sejam: a) quando no registro de nascimento constar tão somente o nome do pai ou da mãe; b) quando no registro de nascimento constar também o nome do outro pai ou mãe; e, c) adoção pelo cônjuge ou companheiro, quando o pai/mãe for falecido.
No primeiro caso – registro de nascimento conste somente o nome do pai ou da mãe – faz-se necessária tão somente a concordância do pai ou mãe indicado no registro.
Já no segundo, além dessa concordância, necessária tambéma comprovação de que houve descumprimento das obrigações decorrentes do poder familiar.
No terceiro caso, por sua vez, como houve a morte do genitor e, conseqüentemente, a extinção do poder familiar, há necessidade apenas do consentimento do genitor sobrevivente.
Podem adotar os maiores de dezoito anos – segundo o novo Código – havendo a necessidade de que entre o adotante e adotado haja diferença mínima de dezesseis anos. Ninguém poderá ser adotado por duas pessoas, salvo se marido e mulher ou se viverem em união estável.
Os divorciados e os separados poderão adotar conjuntamente, desde que, concordes com relação à guarda e regime de visitas, tenham iniciado o estágio de convivência na constância da sociedade conjugal.
A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, dispensado, porém, em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar.
Com efeito, o art. 152 do ECA autoriza a aplicação subsidiária das normas processuais, sendo possível a cumulação de pedidos compatíveis, de competência do mesmo juízo e com o mesmo tipo de procedimento (ver artigo 292, § 1º, I a III, do CPC).
Os efeitos da decisão começam a partir do trânsito em julgado da decisão, salvo se o adotante vier a falecer no curso do processo, quando ocorrerá a adoção nuncupativa ou post mortem, sendo que os efeitos da sentença retroagirão à data do óbito do adotante.
Em todos os casos, a opinião do adolescente deve ser levada em conta.
Não poderão adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.
Em resumo - REQUISITOS PARA A ADOÇÃO:
a) IDADE MÍNIMA DO ADOTANTE;
b) DIFERENÇA DE IDADE ENTRE ADOTANTE E
ADOTADO;
c) ESTABILIDADE FAMILIAR;
d) ADOTANTES NÃO REVELAREM INCOMPATIBILIDADE COM A MEDIDA;
e) PEDIDO SE FUNDE EM MOTIVOS LEGÍTIMOS;
f) QUE A ADOÇÃO REPRESENTE REAL VANTAGEM PARA O ADOTADO;
g) NÃO SER O ADOTANTE IRMÃO OU ASCENDENTE DO ADOTADO;
h) CONSENTIMENTO DOS PAIS E DO ADOTADO
(MAIOR DE DOZE ANOS), SENDO AQUELE DISPENSADO NO CASO DE PAIS DESCONHECIDOS OU DESTITUÍDOS DO PODER FAMILIAR.
i) CADASTRO JUNTO À VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE .
j) ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA.
A adoção por estrangeiros – ou adoção internacional, ou ainda intercultural – é medida excepcional, devendo ser dada preferência em favor dos nacionais (excepcionalidade da excepcionalidade).
Tratando-se de estrangeiro residente no país, como detentor dos mesmos direitos e garantias que os nacionais, salvo as exceções constitucionais, a adoção não será considerada internacional, mas seguirá as regras comuns da adoção nacional.
IV-direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer: a criança e o adolescente tem direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Vide, de forma indispensável, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (vide recente alteração sobre o tema, relativo à obrigatoriedade dos pais matricularem seus filhos na escola a partir dos 04 anos – Lei 12.696/2013: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2013/Lei/L12796.htm
V-direito à profissionalização e à proteção ao trabalho: art. 7º, XXXIII, CF/88 – é proibido o trabalho noturno (entre vinte e duas horas de um dia e cinco horas do dia seguinte). Podem trabalhar os maiores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, com idade de catorze anos.
VIDE O LIVRO: DIREITOS TRABALHISTAS DE CRIANÇAS, ADOLESCENTES E JOVENS, PELA EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS.
PREVENÇÃO:
A criança e o adolescente – pessoas em desenvolvimento – fazem jus a uma tutela especial do Estado, da sociedade e da família, de modo que qualquer possibilidade de violação ou de ameaça a seus direitos fundamentais deve ser prontamente afastada por meio de políticas gerais (corrigindo os malefícios advindos de fatores sociais negativos), ou de políticas dirigidas a uma parcela com necessidades semelhantes, ou, ainda, de políticas específicas a prevenir o ilícito infracional. Daí, a doutrina classificar essa prevenção em geral, detectada ou específica.
O ECA faz referência a disposições de ordem geral e à prevenção especial. Esta, por sua vez, faz referência: a) às condições para freqüência em espetáculos públicos; b) as crianças de dez anos somente poderão permanecer nos locais de exibição quando acompanhadas de seus pais; c)proibição de venda à criança ou ao adolescente de armas, munições e explosivos, bebidas alcoólicas e produtos que possam causar dependência, fogos de estampido e artifício, salvo se ineficazes de ocasionar dano físico; revistas e publicações indevidas; e, bilhetes lotéricos e equivalentes; proibição de hospedagem em hotel etc, sem autorização.
Reconhecendo a situação da criança e do adolescente como pessoas em situação peculiar dedesenvolvimento, entendeu o legislador traçar certas diretrizes para a locomoção dessas pessoas em território nacional ou estrangeiro, quando estiverem desacompanhadas de seus pais ou responsável.
Para tanto, exigiu, em certas ocasiões, também que a viagem estará condicionada à autorização pelo Juízo da Vara da Infância e da Juventude, ao qual caberá analisar se, de fato, a locomoção atende ao superior interesse dessas pessoas.
Tratando-se de viagem em território nacional, a autorização será exigida quando, A CRIANÇA, que for viajar para local que não seja comarca contínua à sua residência, se do mesmo Estado, ou incluída na mesma região metropolitana, não estiver acompanhada de qualquer um de seus pais ou responsável, ou expressamente autorizada por estes, ou mesmo de ascendente ou colateral até o terceiro grau.
A contrario sensu, a autorização judicial NÃO será exigida, em viagens nacionais: a) para adolescentes; b) para crianças quando a locomoção se der em comarca contígua à sua residência, se do mesmo Estado, ou incluída na mesma região metropolitana, sendo desnecessária a autorização dos pais; c) para crianças acompanhadas de ascendente (p.e.: avô) ou colateral maior (por exemplo: tio), até o terceiro grau, sendo o parentesco comprovado documentalmente; e, d) para crianças acompanhadas de pessoas maiores, desde que expressamente autorizadas pelo pai, mãe ou responsável.
Portanto, que fique claro: O ADOLESCENTE NÃO NECESSITA DE AUTORIZAÇÃO DE VIAGEM PARA LOCOMOÇÃO DESACOMPANHADA DOS PAIS EM TERRITÓRIO NACIONAL! Somente as crianças, em certas hipóteses, é que necessitam de tal autorização.
Porém, tratando-se de viagem ao exterior, o ECA não fez distinção em relação à criança e ao adolescente, abordando essas pessoas de forma semelhante. Não obstante, o artigo 84 do ECA, que trata do assunto, é interpretado de duas maneiras diferentes: uma primeira interpretação sustenta que o adolescente desacompanhado dos pais ou responsável, mesmo que por eles autorizado, depende da autorização judicial para viajar. Uma segunda interpretação sustenta que, estando o adolescente autorizado pelos pais ou responsável, desnecessária será a autorização judicial.
Houve uniformização da interpretação. Vide Resolução 131, CNJ:
http://www.cnj.jus.br/atos-administrativos/atos- da-presidencia/resolucoespresidencia/14609- resolucao-n-131-de-26-de-maio-de-2011
4.A política de atendimento.
A política de atendimento voltada às crianças e aos adolescentes, que tem seu fundamento constitucional nos artigos 204 e 227 do Texto Fundamental, parte de dois princípios básicos: o da participação e o da exigibilidade, por meio dos quais o cidadão tem o poder de exigir o seu efetivo cumprimento.
A sua execução será feita através de um conjunto articulado de ações, quer seja governamentais (englobando as esferas federal, estadual e municipal), quer seja não governamentais.
O ECA traçou as linhas de ação dessa política, as quais estão englobadas em três grandes grupos: a) políticas voltadas à garantia dos direitos fundamentais de qualquer pessoa, independentemente de sua condição tutelar (p.exemplo:saúde), ditas políticas sociais básicas; b) políticas assistenciais voltadas a um grupo em razão de sua vulnerabilidade reconhecida (p.exemplo: alimentação), ditas políticas assistenciais ou compensatórias; e, c) políticas voltadas a crianças e adolescentes em risco pessoal, aos quais devem ser dirigidas ações especializadas de encaminhamento e atendimento, ditas políticas de proteção especial.
Como diretriz central dessa política, foi adotado o princípio da municipalização do atendimento, segundo o qual o Município assume poderes que, antes, eram de outras instâncias da Federação.
Também foi adotada como diretriz a criação de conselhos municipais, estaduais (e nacional (CONANDA) dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores de ações. Esses conselhos representam a forma de participação da população na política de atendimento.
Os Conselhos de Direitos encampam três princípios básicos: a) princípio da deliberação – pelo qual se delibera acerca da aplicação do art. 227 da Constituição Federal; b) princípio do controle da ação entre governo e sociedade; e, c) princípio da paridade, uma vez que serão representados nos conselhos, por meio de conselheiros, tanto a esfera governamental, quanto a sociedade de um modo em geral. Os conselheiros exercerão função de interesse público e não remunerada.
Os Conselhos devem existir em cada uma das esferas administrativas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). No âmbito federal, existe o Conselho Nacional dos Direitos da Criança – CONANDA, cujos atos são concentrados, principalmente, nas Resoluções.
São várias as resoluções importantíssimas para a defesa dos direitos da criança e do adolescente. Dentre elas, destaca-se a de nº 113, posteriormente alterada pela de nº 117, cujo objetivo foi institucionalizar e fortalecer o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (vide Resolução no anexo).
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente é baseado em três eixos, denominados eixos do Sistema de Garantia: defesa, promoção e controle da efetivação dos direitos humanos de crianças e adolescentes.
Ora, a proteção dos direitos humanos de crianças e adolescentes é baseada numa vertente, denominada Proteção Integral, que exige uma ação articulada das esferas governamental e não governamental. Essa ação integrada, no âmbito interno, carecia de uma sistematização.
O eixo de defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente caracteriza-se pela garantia do acesso à justiça, para assegurar a exigibilidade desses direitos, o que fica a cargo, dentre outros, das Defensorias Públicas (vide artigo 7º). O eixo de promoção dos direitos humanos da criança e do adolescente operacionaliza-se através da articulação das políticas públicas direcionadas, que se desenvolve de maneira transversal e intersetorial.
Essas políticas públicas operacionalizam-se através de três tipos de programas: I-serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas sociais, afetos aos fins da política de atendimento dos direitos humanos de crianças e adolescentes; II- serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos humanos, estruturados sob a forma de um Sistema Nacional de Proteção de Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes; III – serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e assemelhadas (estruturados sob a forma de um Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE).
O controle das políticas públicas será feito através das instâncias públicas colegiadas próprias – Conselhos de Direitos, Conselhos Setoriais e órgãos de controle interno e externo (exemplo: Tribunal de Contas).
Esses são apenas alguns aspectos envolvendo o
Sistema de Garantia. A leitura da Resolução n.º
113, alterada pela 116 (infra), é indispensável! Então, mãos à obra!!!!!
Cada um desses conselhos estará vinculado a um fundo específico, denominado Fundo da Infância e da Adolescente – FIA, que constituirá, dentre outras, fonte de manutenção da assistência social (artigos 195 c.c. 204, ambos da CF/88).
É diretriz de atendimento, ainda, a integração operacional dos órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e Assistência Social, preferencialmente no mesmo local, para efeito de atendimento a adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional (exemplo do que ocorre em São Paulo, capital, onde no Fórum das Varas da Infância e Juventude localizam-se todos os setores de atendimento aos adolescentes).
4.1.Entidades de atendimento
São entidades responsáveis pelo planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos, indicados no art. 90 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Tais programas devem se harmonizar com as diretrizes da política de atendimento traçadas pelos Conselhos de Direitos, bem como ser inscritos no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente, o qual, por sua vez, comunicará o Conselho Tutelar e a autoridade judiciária.
As entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.
4.2.Das medidas de proteção
Sempre que os direitos da criança e do adolescente forem violados ou ameaçados, levando-se em conta as necessidades pedagógicas existentes, estará aberta a possibilidade de aplicação das chamadas medidas de proteção – ou medidas de cunho assistencial – elencadas no artigo 101 do ECA, bem como outras previstas no Estatuto, como, por exemplo, o aconselhamento aos pais ou responsável, pela autoridade competente.
E a autoridade competente de que se fala é o Conselho Tutelar e também o Juiz (sendo as medidas previstas nos incisos I a VI de competência comum do Conselho e do Juiz).
Nesse passo, a ação ou omissão da sociedade e do Estado enseja a atuação ou dos Conselhos Tutelares, ou do Juiz, no sentido de ser aplicada qualquer uma das medidas protetivas.
No mesmo sentido, pode haver a intervenção estatal no âmbito das relações familiares, quando da falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável.
4.3.Das Medidas Pertinentes aos Pais ou responsáveis.
Como foi visto, diante da ofensa aos direitos da criança e do adolescente, poderão ser aplicadas as chamadas medidas de proteção, bem como também medidas pertinentes aos pais ou responsável. Dentre estas, pode-se identificar medidas de cunho assistencial à família, bem como obrigações pertinentes aos pais ou responsável e sanções civis que estes podem estar sujeitos.
São competentes para a aplicação das medidas previstas no artigo 129:
a) Conselho Tutelar - medidas assistenciais e obrigacionais dos incisos I a VI e a sanção do inciso VII;
b) Juiz- as sanções previstas nos incisos VIII a X, e terá também o poder de revisão das decisões emanadas do Conselho.
Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar o afastamento cautelar do agressor da moradia comum. Trata-se de medida de natureza processual e cautelar, que o Juiz poderá determinar em ação cautelar ou na pendência de ação principal, liminar ou incidentalmente.
5.Da Vara da Infância e da Juventude.
O ECA substituiu o Juizado de Menores pela Justiça da Infância e da Juventude, cuja competência em razão da matéria está delimitada no art. 148 e territorial no artigo 147.
Em razão da matéria, a competência da justiça da infância e da juventude pode ser exclusiva, quando compete tão somente a ela o julgamento de determinadas ações, como pode ser concorrente, quando, para que esse Juiz seja competente, necessário se faz que a criança ou o adolescente se encontre em situação de risco, consubstanciada em uma das hipóteses do art. 98 do ECA.
A competência exclusiva está indicada nos incisos do caput do art. 148; a competência concorrente está prevista no parágrafo único do mesmo artigo.
Nestas duassituações – tanto exclusiva quanto concorrente – a competência será contenciosa, em contraposição à competência administrativa prevista no art. 149 do ECA.
No que se refere à competência territorial, o Eca faz referência à competência do domicílio dos pais ou responsável, ou, na sua falta, do lugar onde se encontre a criança. Tratando-se de ato infracional, será competente o lugar da ação ou omissão, observadas as regras de conexão, continência e prevenção. PRINCÍPIO DO JUÍZO IMEDIATO!! Adotado no art. 147 – sobrepõe-se a regras de direito processual, como a perpetuatio jurisdicionis.
Como sabido, a conexão e a continência não são causas determinantes da fixação da competência, mas motivos que determinam a sua alteração, atraindo para a atribuição de um juiz ou juízo o ato infracional que seria da atribuição de outro. São aplicáveis os artigos 76/82 do CPP.
O artigo 149 faz referência à competência administrativa, quando o Juiz da Infância e Juventude, atento às peculiaridades locais, disciplina determinadas matérias. Por força do disposto no artigo 199, o recurso cabível dessas decisões será o de apelação, embora seja discutível o seu cabimento, conforme várias decisões.
A leitura atenta do art. 149 é indispensável. Apenas para reforço: para certame de beleza, participação em peças etc., faz-se necessária a prévia autorização judicial, mesmo que a criança ou adolescente esteja acompanhado de seu pai ou responsável.
6.Prática de ato infracional, medidas socioeducativas e ação socioeducativa.
A Constituição Federal – em razão da idade do agente – oferece tratamento diferenciado quando da prática de uma conduta prevista como crime ou contravenção penal.
Se um imputável vier a praticar uma conduta considerada típica e antijurídica, surge para o Estado o chamado jus puniendi, ou direito de punir, por meio do qual, após o devido processo legal, será aplicado ao chamado réu uma pena, previamente prevista pela lei penal (não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal).
De outro lado, sendo a mesma conduta praticada por um inimputável em razão da idade (assim considerado quando do fato), considerando a sua especial condição de pessoa em desenvolvimento, a Constituição sujeita esse indivíduo a uma legislação tutelar especial, assegurando-lhe o direito de ser submetido a um tribunal especial e presidido por um juiz especial. A resposta estatal, neste caso, não será punitiva, mas sim pedagógica, no sentido de proporcionar a ressocialização do indivíduo (não há ato infracional sem lei anterior que defina a conduta como crime ou contravenção penal, nem medida sócio-educativa que não prevista no ECA).
E, mesmo em relação a esses inimputáveis em razão da idade, assim considerados constitucionalmente, o tratamento estatal é diferenciado. Se a conduta for praticada por uma criança, esta estará sujeita tão somente às medidas protetivas (art. 105), a serem aplicadas pelo Conselho Tutelar; se for praticada por um adolescente, este estará sujeito, se o caso, além das medidas protetivas, também às medidas sócio- educativas.
Desse modo, vê-se que a conduta ilícita será apurada tão somente em relação aos adolescentes, uma vez que contra estes as providências jurisdicionais importarão no estabelecimento de deveres, os quais deverão ser compulsoriamente cumpridos, sob a fiscalização de entes específicos e do Juiz da Infância e da Juventude.
O ECA traz uma série de expressões de aplicação específica à infância e juventude. Dentre eles, preferiu adotar a nomenclatura ato infracional em vez de crime ou contravenção penal.
Assim, considera-se ato infracional aquela conduta prevista como crime ou contravenção penal (art.103), de modo que a estrutura destes deve ser respeitada: a) conduta humana, dolosa ou culposa; b) resultado, quando for o caso; c) nexo de causalidade; d) tipicidade – aqui, a tipicidade delegada, observando-se o princípio da legalidade.
Havendo indícios da prática de ato infracional por parte de adolescente, surge para o Estado o direito de ver apurada a conduta e, se o caso, de ser o adolescente inserido em uma das medidas sócio- educativas previstas na lei, o que o fará através de uma ação própria, qual seja, a ação sócio- educativa.
Portanto, a ação sócio-educativa (ou ação socioeducativa pública) é a ação pela qual tutela-se o direito de se ver apurada a ocorrência e a autoria de um ato infracional e aplica-se, se o caso, a medida sócio-educativa pertinente. A tutela pretendida é exclusivamente sócio-educativa e não punitiva.
Autor, Réu e Juiz dessa ação são, respectivamente, o Ministério Público, o adolescente e o Juiz da Infância e da Juventude.
A ação socioeducativa sempre será pública e nunca privada, de modo que inconcebível que o particular a promova. Por isso, alguns a chamam de ação sócio-educativa pública. Trata-se de legitimidade exclusiva do Ministério Público, a quem competirá providências, quer administrativas ou pré- processuais, como processuais.
Do outro lado da relação processual, tem-se o adolescente, pessoa em peculiar condição de desenvolvimento, com idade entre doze e dezoito anos incompletos, que detém garantias processuais genéricas e específicas, lembrando-se que face às crianças não se promoverá a ação sócio-educativa.
Entre as partes e acima delas encontra-se o Juiz da Infância e Juventude, competente para a apuração do ato infracional e a aplicação da medida sócio- educativa, independentemente da natureza daquele e da competência para o julgamento do crime ou contravenção competente, quer seja do Júri, quer seja da Justiça Federal, do Juizado Especial Criminal Estadual ou Federal etc. Tratando-se de um ato infracional, em razão da inimputabilidade constitucional, surge para o adolescente o direito de ser demandado perante o Juiz da Infância e da Juventude.Cabe ao julgador observar os direitos individuais consagrados no ECA e das garantias processuais, quer genéricas, quer específicas.
Por garantia dita genérica tem-se a necessidade do devido processo legal, segundo o qual a ação observará o ECA e a lei processual pertinente (processo penal ou civil).
O art. 111 enumera seis garantias processuais específicas.
A primeira delas é a garantia do pleno e formal conhecimento da atribuição do ato infracional para que possa, em juízo, exercer a sua plena defesa e o contraditório. Para tanto, a lei indica a citação ou meio equivalente, como, por exemplo e costumeiramente, a notificação. As Regras de Beijing e a Convenção sobre os Direitos da Criança já previam esse direito.
Tem também direito à igualdade na relação processual, podendo contraditar as provas apresentadas.
A defesa técnica por advogado também é garantida, e é direcionada, ora ao ato infracional em si, ora à medida sócio-educativa proposta. A presença do Advogado em todos os atos processuais é obrigatória, sob pena de nulidade absoluta, como reiteradamente vêm decidindo os Tribunais, especialmente o E.Tribunal de Justiça de São Paulo.
A assistência judiciária gratuita e integral também é uma garantia processual, somando-se à isenção de custas de quaisquer ações que tramitam na Vara da Infância e Juventude.
Tem o adolescente o direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente. Tal autoridade não é apenas o Juiz, mas também o Promotor de Justiça, o Defensor e a autoridade policial pertinente. Ao Juiz ele apresenta a sua versão sobre os fatos; ao Promotor, oferece elementos necessários e que, eventualmente, podem implicar até no arquivamento dos autos; ao defensor, por óbvio, para propiciar meios para a defesa; e, por fim, à autoridade policial quando de sua apreensão.
Aqui se faz conveniente a alusão à Súmula 265 do
STJ.
Por fim, tem o adolescente o direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do processo.
Na ação sócio-educativa, após verificada, por meio de sentença, a prática de ato infracional, o Juiz poderá aplicar ao adolescente as seguintesmedidas sócio-educativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em semiliberdade ou internação, além de qualquer medida protetiva. Tem-se, de um lado, as medidas em meio-aberto, e, de outro, as medidas restritivas de liberdade (semiliberdade e internação).
Para tanto, vê-se que é necessário o reconhecimento, na ação específica, da comprovação da autoria e da materialidade do ato infracional. Excetua-se a medida de advertência, que, segundo a lei, pode ser aplicada com apenas indícios de autoria.
O ECA não enumera taxativamente as situações em que deverão ser aplicadas cada uma das medida socioeducativas (salvo no caso de internação). Diferentemente, indica que para a eleição de cada uma delas o juiz levará em conta a capacidade do adolescente em cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Além disso, indica as principais diretrizes das medidas, considerando, principalmente, o seu alcance pedagógico.
Assim, a advertência consistirá em uma admoestação, que constará para efeitos de registro.
A obrigação de reparar o dano refere-se às infrações com reflexos patrimoniais, em que o Juiz, havendo possibilidade física e financeira, determina o ressarcimento do dano pelo adolescente à vítima.
A prestação de serviços à comunidade consiste na realização de tarefas junto à comunidade, não podendo exceder a sua duração o período de seis meses, com jornada não superior a oito horas semanais.
A liberdade assistida, por sua vez, durará no mínimo seis meses, podendo ser prorrogada, e pressupõe a continuidade do adolescente junto à sua família. Será designado um orientador, pessoa capacitada para o auxiliar e acompanhar o adolescente.
A semiliberdade importa em limitação da liberdade do adolescente, podendo ser aplicada, ora desde o início, ora como forma de transição da internação para a total liberdade. Não comporta prazo determinado. Tem por fundamento a possibilidade de realização de atividades externas, INDEPENDENTEMENTE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL (portanto, tais atividades não podem ser vedadas pelo juiz).
Quanto à internação, a lei faz expressa referência às hipóteses em que é permitida a sua aplicação, conforme se vê do art. 122 do ECA.
Identificam-se três tipos de internação: a internação provisória (art. 108); internação com prazo indeterminado (art. 122, I e II); e a chamada internação-sanção – com prazo determinado (art. 122, III).
A internação provisória pode ser decretada pelo juiz de conhecimento no transcorrer da ação sócio- educativa pública, equivalendo-se à prisão cautelar no processo criminal. Para que isso seja possível, deverá ser proferida decisão fundamentada, baseada em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa de tal medida. Tem prazo limitado a 45 dias, nos quais o adolescente deverá permanecer em entidade de atendimento adequada, vedada a permanência em estabelecimento prisional.
No entanto, se não existir na comarca entidade com essas características e impossível a transferência para cidade dotada de tal aparelhamento, o adolescente poderá permanecer em repartição policial por até cinco dias, período em que deverá ser providenciada a sua transferência. A inobservância dessas disposições caracteriza conduta criminosa.
Antes da análise da internação possível nas hipóteses contidas nos incisos do art. 122, do ECA, conveniente lembrar que as medidas restritivas de liberdade são condicionadas constitucionalmente aos princípios da excepcionalidade, brevidade e condição especial de pessoa em desenvolvimento.
Segundo o princípio da brevidade, a internação deve durar o menor tempo possível, segundo as necessidades pedagógicas do adolescente.
O princípio da excepcionalidade impõe que a medida de internação seja aplicada exclusivamente quando outra não for adequada a suprir as necessidades pedagógicas existentes, além de a situação enquadrar-se numa das hipóteses taxativamente previstas pela lei.
A primeira hipótese do art. 122 faz referência ao ato infracional praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa, que deve fazer parte integrante do tipo penal. Por exemplo: roubo, homicídio, estupro, lesão corporal dolosa.
Muitos delitos não se enquadram nesse perfil, tais como o furto, a receptação, o estelionato e mesmo o tráfico ilícito de entorpecentes, conforme reiteradamente decidido pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça. SÚMULA 492, STJ!
A segunda hipótese faz referência à reiteração no cometimento de infrações graves. Para a sua incidência, portanto, necessário analisar-se dois elementos: reiteração e infração grave, o que será feito sob aspecto da doutrina e jurisprudência, consignando-se, desde já, a divergência existente sobre o assunto.
Segundo um entendimento ortodoxo, a reiteração diz respeito à prática de um segundo ato infracional, enquanto atos graves seriam aqueles para que a lei penal prevê a pena de reclusão.
Segundo essa linha doutrinária e jurisprudencial, o ECA introduziu novas expressões no ordenamento, em substituição àquelas existentes no direito penal e processual penal. Assim, denomina ato infracional ao invés de crime; denomina representação ao invés de denúncia; e, também, denomina reiteração ao invés de reincidência. Desse modo, reiteração e reincidência seriam quase a mesma coisa, com a única diferença que aquela não estaria a exigir o trânsito em julgado da decisão anterior.
Já a corrente adotada pelo STJ, a reiteração exige a prática de, no mínimo, dois atos infracionais, sendo que a gravidade do ato deve ser analisada no caso em concreto.
De se ressaltar que as hipóteses previstas nos incisos I e II do ECA fazem referência à internação com prazo indeterminado, com prazo máximo de três anos.
O inciso III do ECA faz referência à internação com prazo determinado em razão da reiteração no descumprimento de medida anteriormente imposta.
Ao proferir a sentença que aplica a medida sócio- educativa, encerra-se a fase de conhecimento e inicia-se a fase executiva, pelo qual haverá a fiscalização do cumprimento da medida imposta.
Assim, identifica-se um processo de conhecimento para aplicação da medida, e um processo de execução, para fiscalização de seu cumprimento.
Se, durante a fiscalização, for constatado o seu descumprimento de forma injustificada e reiterada, pode o Juiz impor internação com prazo determinado a noventa dias (internação-sanção).
Portanto, em caso de descumprimento reiterado e injustificado de medida sócio-educativa, a lei prevê a possibilidade da imposição da internação com prazo limitado a noventa dias, devendo, para tanto, oferecer ampla oportunidade para que o adolescente se justifique (SÚMULA 265 DO STJ).
São características da medida de internação, ainda:
 É PERMITIDA A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXTERNAS, A CRITÉRIO DA EQUIPE TÉCNICA DA ENTIDADE, SALVO EXPRESSA DETERMINAÇÃO JUDICIAL EM CONTRÁRIO. Muito embora o adolescente permaneça contido no interior de uma entidade de atendimento, o ECA autoriza que ele participe de atividades externas, tais como apresentações musicais, campeonatos esportivos etc. Ocorre que, em tais oportunidades, a sua saída será supervisionada diretamente pelos técnicos da entidade, os quais deverão tomar todas as providências no sentido de que o adolescente não empreenda em fuga. Tal direito, no entanto, pode ser restrito pelo juiz.
NESSE PONTO, A SEMILIBERDADE E A INTERNAÇÃO TAMBÉM SE DIFERENCIAM. ENQUANTO NA PRIMEIRA AS ATIVIDADES EXTERNAS SÃO DA NATUREZA DA MEDIDA, NÃO PODENDO SER RESTRITAS PELO JUIZ, NA SEGUNDA, MUITO EMBORA SEJAM GARANTIDAS, PODEM SER OBJETO DE RESTRIÇÃO JUDICIAL.
A MEDIDA, VIA DE REGRA, NÃO COMPORTA PRAZO DETERMINADO, SALVO NA HIPÓTESE DO INCISO III, DEVENDO SER REAVALIADA, NO MÁXIMO, A CADA SEIS MESES. Nas hipóteses dos incisos I e II, a medida será aplicada com prazo indeterminado, limitado, porém, a três anos.Nesses casos, a entidade de atendimento deverá proceder a estudo social e pessoal do caso, encaminhando relatórios à autoridade judiciária. Com base nesses relatórios, deverá a autoridade decidir se mantém ou não internação. A periodicidade de tal análise será de, no máximo, seis meses.
 TERMINADO O PRAZO MÁXIMO DE TRÊS ANOS, O ADOLESCENTE DEVERÁ SER LIBERADO, INSERIDO EM SEMILIBERDADE OU EM LIBERDADE ASSISTIDA. SE, DURANTE ESSE PRAZO, O EX-ADOLESCENTE COMPLETAR VINTE E UM ANOS, HAVERÁ LIBERAÇÃO COMPULSÓRIA.
 A DESINTERNAÇÃO, EM QUALQUER CASO, SERÁ PRECEDIDA DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, OUVIDO SEMPRE O MINISTÉRIO PÚBLICO.
A ação apropriada para a apuração do ato infracional e a aplicação da medida sócio-educativa cabível é a chamada ação sócio-educativa (ou também ação sócio-educativa pública), promovida exclusivamente pelo Ministério Público. Está disciplinada nos artigos 171 a 190, com aplicação subsidiária das regras do processo penal por força do disposto no art. 152.
Identifica-se presente uma fase pré-processual, que vai desde a apreensão pela prática de ato infracional até o oferecimento de representação, se o caso.
Apreendido em flagrante pela prática de ato infracional, o adolescente será apresentado imediatamente à autoridade policial, observando- se, em tudo, o seguinte:
A) FORMALIDADES: deverá a autoridade observar as formalidades exigidas pelo artigo 173 do ECA: dar conhecimento ao adolescente dos responsáveis pela apreensão; informá-lo sobre seus direitos; lavrar o respectivo auto de apreensão, ouvidos testemunhas e adolescente, salvo no caso de ato infracional praticado sem violência ou grave ameaça a pessoa, quando poderá lavrar simples boletim de ocorrência; apreender o produto e os instrumentos da infração; e, por fim, requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração.
B) LIBERAÇÃO DO ADOLESCENTE: comparecendo os pais ou responsáveis, deverá o adolescente ser imediatamente liberado, sob o compromisso de apresentação ao representante do Ministério Público no mesmo dia, ou no primeiro dia útil imediato. Caberá à autoridade policial encaminhar ao representante do Ministério Público cópia do boletim de ocorrência ou do auto de apreensão.
C) APRESENTAÇÃO AO MINISTÉRIO PÚBLICO: no entanto, mesmo comparecendo os pais ou responsáveis, em razão da gravidade do ato infracional e de sua repercussão social, poderá a autoridade policial deixar de liberar o adolescente e encaminhá-lo, desde logo, ao Ministério Público. Se, no entanto, tal apresentação não puder ser feita de forma imediata, a autoridade policial encaminhará o adolescente a entidade de atendimento competente, que, por sua vez, fará a apresentação em 24 horas.
No entanto, inexistindo entidade de atendimento na localidade, o adolescente aguardará na repartição policial, devendo a apresentação ser feita no prazo de vinte e quatro horas.
D) apresentado o adolescente à autoridade policial, deverá esta lavrar o respectivo boletim de ocorrência, dando-lhe sendo direito do apreendido o conhecimento dos responsáveis pela apreensão, bem como de ser informado sobre seus direitos.
Apresentado o adolescente ao Promotor de Justiça, este, à vista dos documentos previamente autuados pela Serventia Judicial, e com informações sobre os antecedentes, ouvirá informalmente o adolescente (oitiva informal), e, sendo possível, de seus responsáveis, vítima e testemunhas, e tomará uma das três providências:
a) promoverá o arquivamento dos autos;
b) proporá a concessão de remissão;
c) oferecerá representação.
A promoção do arquivamento será fundamentada na inexistência do ato infracional; inexistência da prova da participação do adolescente; presença de excludente da antijuridicidade ou de culpabilidade; inexistência de prova suficiente para a condenação. Estará condicionada à aceitação do Juiz, que poderá recusá-la, quando então o magistrado promoverá os autos ao Procurador Geral de Justiça para que, se o caso, designe outro Promotor de Justiça ou encampe o requerimento de arquivamento.
Poderá a autoridade ministerial, ainda, propor a concessão de remissão.
Identificam-se duas formas de remissão: a ministerial e a judicial. A primeira é concedida como forma de exclusão do processo e importa num perdão puro e simples quando não aplicada cumulativamente nenhuma medida sócio- educativa. A segunda é concedida pelo Juiz, após ouvido o Ministério Público, e importa, ora na suspensão do processo, ora na sua extinção. Pode ser concedida cumulativamente com aplicação de alguma das medidas sócio-educativas.
A remissão não conta para efeitos de antecedentes e jamais poderá ser concedida cumulativamente com medidas privativas de liberdade. Não importacomo reconhecimento da prática do ato infracional.
Sustenta-se a inconstitucionalidade da cumulação de qualquer medida sócio-educativa com a remissão concedida como forma de exclusão do processo, uma vez que aquela importa necessariamente na obediência ao devido processo legal e à comprovação de culpa.
Poderá o Ministério Público, ainda, inaugurar a ação sócio-educativa, oferecendo a respectiva representação, a qual não depende de prova pré- constituída da autoria e da materialidade. Nessa oportunidade, o parquet poderá requerer a internação provisória do adolescente, que será decretada pelo Juiz em decisão fundamentada, uma vez demonstrada a necessidade imperiosa da medida, e não ultrapassará o prazo de quarenta e cinco dias.
Essa peça inicial será oferecida por escrito, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional. Nada impede, no entanto, que seja apresentada oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
O Juiz, então, receberá a representação e designará dia e hora para audiência de apresentação, oportunidade em que o adolescente será ouvido e poderá apresentar a sua versão sobre os fatos. Para tanto, será devidamente notificado.
Se, para a notificação, o adolescente não for encontrado, a autoridade judiciária mandará expedir mandado de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação.
No entanto, se o adolescente for encontrado e não comparecer à audiência, injustificadamente, será designada nova data, expedindo-se mandado de condução coercitiva.
Na audiência de apresentação, poderá o Juiz conceder remissão judicial ou, se o caso, aplicar ao adolescente as medidas sócio-educativas em meio- aberto. Se o adolescente negar a prática do ato infracional, ou mesmo se confessando, for o caso de aplicação das medidas de semiliberdade ou de internação, designará o juiz audiência em continuação, quando então serão inquiridas as testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa. Encerrada a instrução, na mesma audiência, as partes se manifestarão em debates orais e o juiz proferirá sentença.
A sentença analisará a autoria e a materialidade da infração e, se de procedência, aplicará a medida sócio-educativa pertinente.
Se aplicada medida sócio-educativa em meio aberto, o ECA autoriza a só intimação do Defensor. Tratando-se de medida restritiva de liberdade, deverá, além deste, ser intimado o adolescente (que se manifestará se deseja ou não recorrer) ou, na sua falta, os seus pais ou responsável.
7. DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATTIVAS.
A execução das medidas socioeducativas foi regulamentada pela Lei 12.594/2012.
8.DOS RECURSOS.
Excluído por conta do novo CPC – aguardando sanção.
9.DO CONSELHO TUTELAR
Sobre a nova sistemática dos Conselhos
Tutelares, vide lei 12.692/2012.
No dia 26 de julho de 2012 foi publicada a lei
12.696/12, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecendo novas regras para os conselhos tutelares.
As novidades são:
1. Mandato do Conselheiro Tutelar: foi ampliado para 4 (quatro) anos, não mais 3 (três) anos.
A alteração é importante, pois possibilita a articulaçãodas políticas de atendimento de longo prazo, que costuma ser prejudicada por constantes eleições e alterações na composição dos conselhos. Ademais, continua sendo possível a recondução, mediante novo processo eletivo.
2. Direitos Trabalhistas do Conselheiro Tutelar. Passa a ser exigível que a Lei Municipal, que dispõe sobre o funcionamento dos conselhos tutelares, garanta remuneração, cobertura previdenciária, gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3 (um terço) do valor da remuneração mensal, licença-maternidade, licença-paternidade e gratificação natalina. Antes da nova lei, os Municípios tinham a liberdade de garantir esses direitos aos conselheiros. Agora, existe a obrigação.
3. Funcionamento dos Conselhos Tutelares.
Deverá constar da lei orçamentária municipal e da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e formação continuada dos conselheiros tutelares.
A obrigação de se destinar verba à formação continuada dos conselheiros certamente trará benefícios para as crianças e adolescentes, pois o exercício da função de conselheiro por cidadãos mais bem preparados tende a incrementar a garantia de direitos para os infantes.
Entretanto, ao contrário do que muitos agentes da rede de atendimento defendiam, o Estatuto continua não exigindo formação profissional do conselheiro, nem mesmo a demonstração de conhecimento específico quanto à defesa dos direitos das crianças e adolescentes.
Mas, a exemplo do que já acontece em grande parte do território nacional, as leis municipais podem estabelecer exigências adicionais.
4. Prerrogativas dos Conselheiros: o exercício efetivo da função de conselheiro continua constituindo serviço público relevante e estabelecendo presunção de idoneidade moral, mas não mais garante prisão especial até julgamento definitivo.
A eliminação da prisão especial para os conselheiros tutelares está plenamente alinhada às últimas alterações legislativas do processo penal, que paulatinamente vem eliminando benefícios para o cumprimento de prisão cautelar.
5. Eleições dos Conselhos Tutelares: continua sendo de responsabilidade dos Conselhos Municipais dos Direitos das Crianças. A novidade é que o processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial. Ademais, no processo de escolha dos membros do Conselho Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor. Há ainda regra segundo a qual a posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha.
A unificação das eleições vem em boa hora, pois permite melhor articulação das políticas de atendimento à infância em todos os níveis da federação. O regramento sobre a campanha eleitoral com vedação à doação, oferecimento, promessa ou entrega ao eleitor de bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive brindes de pequeno valor, tende a moralizar os processos eleitorais, que comumente acabam sendo conduzidos mediante trocas de favores, presentes, e promessas de benefícios e atendimento individualizado.
6. Vigência das Alterações: as alterações entraram em vigor na data da publicação da lei, ou seja, no dia 26 de julho de 2012.
10.DOS PROCEDIMENTOS
O ECA previu procedimentos específicos para a perda e suspensão do poder familiar, destituição de tutela, colocação em família substituta, apuração de ato infracional, apuração de irregularidade em entidade de atendimento, apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao adolescente, recursos e proteção judicial dos interesses difusos e coletivos.
Embora tenha como fontes subsidiárias principais o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal (art. 152), o Estatuto não exclui outras normas gerais contidas em legislações especiais, entre elas a Lei da Ação Civil Pública e o Código de Defesa do Consumidor.
a) Da perda e da suspensão do poder familiar:
A perda e a suspensão do poder familiar seguem o procedimento contraditório, estando a sua decretação prevista na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o artigo 22.
A ação é de legitimidade do Ministério Público ou do interessado, figurando como tal parentes da criança ou adolescente, ou quem exerça a sua guarda.
Preocupado com a efetividade do processo, havendo motivo grave, poderá o juiz decretar a suspensão do poder familiar liminarmente.
Iniciada a ação, o requerido será citado para, no prazo de dez dias, apresentar contestação, devendo ser esgotados todos os meios de citação pessoal. Em sendo o caso de pessoa que não tenha condições de constituir advogado, poderá informar tal fato diretamente em cartório, sendo-lhe nomeado advogado dativo.
Poderá o juiz, entendendo pertinente, determinar a realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional, com apresentação do laudo preferencialmente na audiência de instrução, debates e julgamento, se designada. Importando o pedido em modificação de guarda, a criança e o adolescente deverão ser ouvidos, desde que possível e razoável. Proferida sentença, se for decretada a perda ou a suspensão do poder familiar, tal ato será averbado junto ao assento de registro de nascimento.
b) Destituição da tutela:
Será adotado o procedimento para remoção de tutor previsto na lei processual civil.
c) Colocação em família substituta:
Como sabido, a criança e o adolescente poderão ser colocados em família substituta mediante guarda, tutela ou adoção. O procedimento poderá ser de jurisdição voluntária ou de jurisdição contenciosa.
Adotar-se-á a jurisdição voluntária se ocorrer uma das seguintes hipóteses:
- concordância dos pais ou do representante legal em juízo;
- prévia destituição (e não somente suspensão)
do poder familiar;
- os pais serem desconhecidos e a criança/adolescente não ter representante legal;
- os pais serem falecidos e a criança carecer de representação legal.
Nestes casos, O Eca faculta aos interessados formularem requerimento diretamente em cartório, independentemente de patrocínio de advogado, como meio de oferecer maior agilidade ao procedimento. Trata-se de questão tormentosa, uma vez que a presença do advogado é considerada indispensável para a maioria dos autores.
A adoção e a guarda dependem, em princípio, do expresso consentimento dos pais ou responsável, salvo nos casos em que não for possível. Não tendo aderido, necessariamente deverá ser ajuizada ação de destituição do poder familiar, que constitui pressuposto lógico da adoção.
d) Apuração de irregularidades em entidade de atendimento:
O ECA também traz o procedimento para apuração de irregularidade em entidades de atendimento, aquelas cujos programas foram previstos no art. 90.
Tal procedimento terá início, ora por portaria do juiz, ora por representação do Ministério Público ou do Conselho Tutelar. O dirigente será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar documentos e indicar provas.
Se acaso a unidade de atendimento tiver mais de uma unidade, será citado, além do dirigente da unidade, também o responsável direto pela respectiva unidade ou programa em que foram constatadas as irregularidades.
Terminada a instrução, em sendo necessária, o juiz poderá fixar prazo para a remoção das irregularidades e, uma vez satisfeitas, extinguirá o processo.
Poderá o Juiz aplicar uma das seguintes penalidades:
- Entidades governamentais: afastamento provisório de seus dirigentes; afastamento definitivo; fechamento da unidade ou interdição do programa.
- Entidades não governamentais: suspensão total ou parcial do repasse de verbas públicas;interdição de unidade ou suspensão do programa; e, cassação do registro.
e) Apuração de infração administrativa às normas de proteção à criança e ao adolescente:
O ECA tipifica as chamadas “infrações administrativas”, condutas ofensivas aos direitos da criança e do adolescente dignas de sanção a ser aplicada pelo Poder Judiciário. Seguem também o princípio da legalidade (não há infração administrativa sem lei anterior que a defina, nem sanção sem prévia cominação legal).
O procedimento para imposição de penalidade administrativa terá início por representação do Ministério Público, ou do Conselho Tutelar, ou ainda auto de infração elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, neste caso, assinado por duas testemunhas.
O requerido terá prazo de dez dias para apresentar sua defesa, contado da data da intimação, que será feita: a) pelo próprio autuante, quando este for lavrado na presença do requerido; b) por oficial de justiça ou funcionário habilitado, que entregará cópia do auto ou da representação ao requerido; c) por via postal; d) por edital, se incerto ou não sabido o paradeiro.
Havendo necessidade, serão produzidas provas em audiência de instrução, após o que será proferida sentença pelo juiz.
As infrações administrativas e as respectivas sanções estão elencadas nos artigos 245 a 258. 
A AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM MATÉRIA RELACIONADA À INFÂNCIA E À JUVENTUDE
INTRODUÇÃO.
Ao estudarmos o Direito da Criança e do Adolescente, deparamo-nos com a existência de uma proteção jurídica especial oferecida constitucionalmente, consubstanciada principalmente na característica da ABSOLUTA PRIORIDADE de seus direitos, com reflexos em toda política de atendimento a essas pessoas, reconhecidamente em condições de desenvolvimento.
No mesmo sentido, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a chamada versão brasileira da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança da ONU, elencou exemplificativamente esses direitos, sob a rubrica de direitos à vida e à saúde, direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, direito à convivência familiar e comunitária; direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, além do direito à profissionalização e à proteção ao trabalho.
Não basta somente indicar quais são esses direitos fundamentais, sem também propiciar um sistema pelo qual é permitido buscar a sua efetiva satisfação, principalmente pela via judicial.
E a busca dessa efetiva satisfação, pela via judicial, pode ora ser feita individualmente, ora coletivamente; ora segundo uma legitimação ordinária, ora segundo uma legitimação extraordinária.
Segundo a legitimação ordinária, poderá o lesado bater às portas do Judiciário e buscar a efetivação de seu direito individual. Nesse sentido, por exemplo, poderá um adolescente, devidamente representado ou assistido, ingressar com a ação judicial cabível e buscar a tutela do Judiciário no sentido de que lhe seja garantido o medicamento de que necessita.
Para tanto, poderá ingressar com um mandado de segurança, comprovando de plano a sua necessidade ao medicamento.
Segundo a legitimação extraordinária, ou seja, aquela segundo a qual a parte, em seu nome, busca a satisfação de direito de outrem, o Estatuto da Criança e do Adolescente indicou um modelo diferenciado.
Ordinariamente, a legitimação extraordinária confere ao pólo ativo a possibilidade de ajuizamento de ações para a defesa de interesses coletivos em sentido amplo. Por isso, pode o Ministério Público, por exemplo, buscar a satisfação de direitos difusos da comunidade a um meio ambiente sadio.
Porém, o ECA apresenta um diferencial, principalmente em relação às atribuições do Ministério Público para a defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes.
Ao analisarmos o artigo 227 da Constituição Federal, dois pontos são dignos de nota: primeiro, o da absoluta prioridade dos direitos das crianças e adolescentes; segundo, o caráter indisponível desses direitos.
Essa indisponibilidade conduz naturalmente à atuação do Ministério Público na busca da satisfação desses direitos, consoante a regra constitucional constante do art. 127 do Texto Fundamental.
Para que isso seja possível, o ECA atribui-lhe a possibilidade de ajuizamento de ação mandamental e de ação civil pública, quer seja para a defesa de interesses individuais indisponíveis, quer seja para a defesa de interesses individuais homogêneos, coletivos e difusos.
Nesse sentido, o artigo 201, V e IX, do Estatuto, in verbis:
“Art. 201. Compete ao Ministério Público:
V- promover o inquérito civil e a ação civil
pública para proteção dos intesses individuais, difusos ou coletivos relativos à infância e adolescência (...);
IX- impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à infância juventude”.
O Estatuto, ao tratar da legitimidade para a propositura das ações civis públicas na defesa dos interesses tutelados, dispôs que são legitimados concorrentemente o Ministério Público e outros (art. 210).
Portanto, a defesa de interesses individuais indisponíveis, individuais homogêneos, coletivos e difusos, relacionados à infância e à adolescência, pode ser efetivada pelo ajuizamento de ações civis públicas e de ações mandamentais pelo Ministério Público.
Nesse particular, de se registrar que somente o Ministério Público tem legitimidade para a propositura da ação civil pública para a busca desses interesses individuais indisponíveis, não conferindo a lei essa possibilidade a outros entes.
É importante registrar que a defesa dos direitos individuais indisponíveis das crianças e dos adolescentes também pode ser feito por meio de ações mandamentais a ser ajuizadas pelo Ministério Público. Por isso, pode um Promotor de Justiça ingressar com mandado de segurança em favor de adolescente, se não lhe for assegurado o medicamento necessitado.
No mesmo sentido, podem ser ajuizadas ações civis públicas coletivas, assim entendidas aquelas para a satisfação dos direitos individuais homogêneos, coletivos e difusos.
OS DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.
Muito embora o ECA não se refira aos direitos individuais homogêneos, nada impede que a sua proteção seja alcançada por meios das ações civis públicas.
E isso porque, segundo o artigo 224, aplicam-se, subsidiariamente, as disposições da Lei da Ação Civil Pública e esta dispõe, em seu artigo 21, sobre a observância do Código de Defesa do Consumidor, o qual, por sua vez, definiu esses direitos.
COMPETÊNCIA E O POLO PASSIVO.
A competência para o ajuizamento das ações civis públicas deixa de ser o do local do dano para ser a do local em que ocorreu ou deva ocorrer a ação ou a omissão, com competência absoluta do Juiz da Infância e Juventude, ressalvadas a competência da Justiça Federal e originária dos Tribunais Superiores.
A doutrina registra a crítica ao artigo no sentido de que, mesmo em se tratando de competência da Justiça Federal, em razão da especialidade da matéria, as ações deveriam ser propostas junto à Justiça da Infância e da Juventude.
O artigo 208 indica exemplificativamente as ações de responsabilidade decorrentes do não oferecimento dos serviços públicos pertinentes, sendo que todas as atividades são atribuídas aos Municípios, com cooperação técnica e financeira da União e do Estado.
Em razão disso, aponta-se o Município como legitimado passivo para as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos. A União e o Estado poderiam ser chamados – em determinados casos, como na obrigação de manter programa de educação pré-escolar – na condição de coobrigados. O Município, nesse caso, deverá chamá-los ao processo, nos termos do art. 78 do CPC.
A MULTA.
O ECA previu a possibilidade de o Juiz, na sentença ou na decisão que antecipou os efeitos da tutela, fixar medida coercitiva representada pela multa, a qual será revertida ao Fundo gerido pelo Conselhodos Direitos da Criança e do Adolescente do respectivo município.
A APLICAÇÃO DAS NORMAS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.
Por expressa disposição legal, às ações civis públicas indicadas no ECA aplicam-se as normas do Código de Processo Civil.
Tal indicação tem inúmeros reflexos.
Pode se questionar, a título de exemplo, sobre o prazo para a interposição de eventuais recursos, como o de apelação. Prevalecerá o prazo de quinze dias, previsto no CPC, ou o de dez dias, previsto na sistemática recursal do ECA?
A questão é tormentosa. Em recente julgamento, o STJ entendeu, por maioria de votos, que o prazo a ser observado é o de quinze dias,uma vez que o prazo especial não se aplica às ações civis públicas, mas tão somente aos procedimentos para apuração de atos infracionais, apuração de irregularidades etc (REsp 610438 / SP).
POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL.
De todo texto referente à Política Nacional de Assistência Social, destaca-se como importante, em matéria de infância e juventude:
“2.4. Usuários
Constitui o público usuário da Política de Assistência Social, cidadãos e grupos que se encontram situações de vulnerabilidade e riscos, tais como: famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos afetividade, pertencimento e sociabilidade; ciclos de vida; identidades estigmatizadas em termos étnico, cultural e sexual; desvantagem pessoal resultante de deficiências; exclusão pela pobreza e, ou, no acesso demais políticas públicas; uso de substâncias psicoativas; diferentes formas de violência advinda do núcleo familiar, grupos e indivíduos; inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal; estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social”.
2.5. Assistência Social e as Proteções Afiançadas
2.5.1. Proteção Social Básica
A proteção social básica tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos afetivos relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras).
2.5.2. Proteção Social Especial
Além de privações e diferenciais de acesso a bens
e serviços, a pobreza associada à desigualdade social e a perversa concentração de renda, revela- se numa dimensão mais complexa: a exclusão social. O termo exclusão social confunde-se, comumente, com desigualdade, miséria, indigência, pobreza (relativa ou absoluta), apartação social, dentre outras. Naturalmente existem diferenças e semelhanças entre alguns desses conceitos, embora não exista consenso entre os diversos autores que se dedicam ao tema. Entretanto, diferentemente de pobreza, miséria, desigualdade e indigência, que são situações, a exclusão social é um processo que pode levar ao acirramento da desigualdade e da pobreza e, enquanto tal, apresenta-se heterogênea no tempo e no espaço.
A realidade brasileira nos mostra que existem
famílias com as mais diversas situações socioeconômicas que induzem à violação dos direitos de seus membros, em especial, de suas crianças, adolescentes, jovens, idosos e pessoas com deficiência, além da geração de outros fenômenos como, por exemplo, pessoas em situação de rua, migrantes, idosos abandonados que estão nesta condição não pela ausência de renda, mas por outras variáveis da exclusão social. Percebe-se que estas situações se agravam justamente nas parcelas da população onde há maiores índices de desemprego e de baixa renda dos adultos.
As dificuldades em cumprir com funções de proteção básica, socialização e mediação, fragilizam, também, a identidade do grupo familiar, tornando mais vulneráveis seus vínculos simbólicos e afetivos. A vida dessas famílias não é regida apenas pela pressão dos fatores socioeconômicos e necessidade de sobrevivência. Elas precisam ser compreendidas em seu contexto cultural, inclusive ao se tratar da análise das origens e dos resultados de sua situação de risco e de suas dificuldades de auto-organização e de participação social.
Assim, as linhas de atuação com as famílias em situação de risco devem abranger desde o provimento de seu acesso a serviços de apoio e sobrevivência, até sua inclusão em redes sociais de atendimento e de solidariedade.
As situações de risco demandarão intervenções em problemas específicos e, ou, abrangentes. Nesse sentido, é preciso desencadear estratégias de atenção sociofamiliar que visem a reestruturação do grupo familiar e a elaboração de novas referências morais e afetivas, no sentido de fortalecê-lo para o exercício de suas funções de proteção básica ao lado de sua auto-organização e conquista de autonomia. Longe de significar um retorno à visão tradicional, e considerando a família como uma instituição em transformação, a ética da atenção da proteção especial pressupõe o respeito à cidadania, o reconhecimento do grupo familiar como referência afetiva e moral e a reestruturação das redes de reciprocidade social.
A ênfase da proteção social especial deve priorizar a reestruturação dos serviços de abrigamento dos indivíduos que, por uma série de fatores, não contam mais com a proteção e o cuidado de suas famílias, para as novas modalidades de atendimento. A história dos abrigos e asilos é antiga no Brasil. A colocação de crianças, adolescentes, pessoas com deficiência e idosos em instituições para protegê-los ou afastá-los do convívio social e familiar foi, durante muito tempo, materializada em grandes instituições de longa permanência, ou seja, espaços que atendiam a um grande número de pessoas, que lá permaneciam por longo período – às vezes a vida toda. São os chamados, popularmente, como orfanatos, internatos, educandários, asilos, entre outros.
São destinados, por exemplo, às crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos idosos, às pessoas com deficiência e às pessoas em situação de rua que tiverem seus direitos violados e, ou, ameaçados e cuja convivência com a família de origem seja considerada prejudicial a sua proteção e ao seu desenvolvimento.
No caso da proteção social especial, à população em situação de rua serão priorizados os serviços que possibilitem a organização de um novo projeto de vida, visando criar condições para adquirirem referências na sociedade brasileira, enquanto sujeitos de direito. A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócioeducativas,situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras.
São serviços que requerem acompanhamento individual e maior flexibilidade nas soluções protetivas.
Da mesma forma, comportam encaminhamentos monitorados, apoios e processos que assegurem qualidade na atenção protetiva e efetividade na reinserção almejada.
Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema de garantia de direito exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo.
Vale destacar programas que, pactuados e assumidos pelos três entes federados, surtiram efeitos concretos na sociedade brasileira, como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI e o Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Proteção Social Especial de Média Complexidade São considerados serviços de média complexidade aqueles que oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar

Continue navegando