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UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 237 AULA 09 (A). EQUILÍBRIO ENVOLVENDO FORMAÇÃO DE COMPOSTOS POUCO SOLÚVEIS SOLUBILIDADE DE UM SAL IÔNICO SIMPLES EM ÁGUA Em 1899 Walter Nernst, um dos fundadores da Físico-Química moderna, mostrou através das medidas de solubilidade de acetato de prata em acetato de sódio, que a solubilidade de sais iônicos em água ou em soluções diluídas de outros sais era governada pela expressão do produto de solubilidade. Embora esta não tenha sido a primeira expressão de equilíbrio a ser descoberta, foi e é a mais simples e fornece um conveniente começo dessa discussão. A expressão do produto de solubilidade pode ser estabelecida de forma geral como: Para uma solução aquosa saturada com o sal MzXy, a concentração do cátion M+y e o ânion X-z obedece a equação [M+y]Zx[X-z]Y=Kps independentemente se os íons vêm do sal na qual a solução está saturada ou se de outros sais que são adicionados à solução. Kps (Ks0 – de acordo com a International Union of Pure a Applied Chemistry - IUPAC) é denominada constante do produto de solubilidade. MzXy(s)ZM+y+YX-z Kps=Ks0=[M+y]Zx[X-z]Y - Exemplo: Bi2S3(s)2Bi3++3S2- Kps=Ks0=[Bi3+]2x[S2-]3 Verificação experimental da relação “Produto de Solubilidade” Como não é razoável aceitar o fato de que essa relação é o produto de solubilidade sem fornecer nenhuma evidência, deve-se considerar os resultados de um experimento realizado para medir a constante do produto de solubilidade do bromato de prata, AgBrO3. Neste experimento, tem-se soluções contendo KBrO3 e KNO3 saturadas com AgBrO3. A concentração total de KBrO3 e KNO3 foi a mesma em todas as amostras, mas a quantidade relativa de KBrO3 foi diferente de modo a mudar a [BrO3-] sem mudar a concentração total de íons (força iônica constante). As várias amostras foram mantidas a 25oC e misturadas periodicamente, até que o equilíbrio entre o sólido e a solução fosse alcançado. Então, cada solução foi separada do sólido por filtração, e a solução foi analisada pela quantidade de prata através da titulação com KSCN. O resultado de cada experimento foi listado na Tabela 1. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 238 Tabela 1 – Dados para a determinação do Produto de Solubilidade do bromato de prata. [BrO3-] (mol/L) [Ag+] (mol/L) [BrO3-]x[Ag+]=Kps 5,00x10-2 1,28x10-3 6,40x10-5 3,33x10-2 2,02x10-3 6,72x10-5 2,27x10-2 2,84x10-3 6,45x10-5 1,67x10-2 3,85x10-3 6,44x10-5 Média ± Desvio da média 6,50x10-5 ± 0,1x10-5 Butler, 1964. O produto entre as concentrações de íons prata e íons bromato foram feitas e foi obtida a constante do produto de solubilidade. A média dos quatro resultados é tomada como sendo a constante do produto de solubilidade, e este método também estima a incerteza do cálculo da constante. Pode-se também utilizar os dados da Tabela 1 para fazer um gráfico de [Ag+] versus 1/[BrO3-] (Figura1), de acordo com a expressão: Kps=[Ag+]x[BrO3-], e desde que se espera que a [Ag+] na solução saturada varie inversamente com a [BrO3-] de acordo com a relação. Tem-se a equação (1): (1) [Ag+]= Kps x 1/[BrO3-]. Figura 1 – Verificação da Lei do Produto de solubilidade para o bromato de prata. O coeficiente angular desta equação linear corresponde ao Produto de solubilidade, Kps= 6,5x10-5 (Butler, 1964). O que se observa é que os pontos obtidos no gráfico caem dentro de uma linha reta e pode- se graficamente calcular o Kps. O Kps é a inclinação da equação (1) e pode ser obtido do gráfico. Para encontrar esta inclinação basta tomar qualquer ponto sobre a linha, ler o valor de [Ag+] e 1/[BrO3-], dividir o primeiro pelo segundo, e obter o valor do Kps. A equação de linha reta é [Ag+]x[BrO3-]=6,4x10-5, que é o produto de solubilidade. A vantagem do método numérico é que fornece uma estimativa da incerteza da medida da constante. A vantagem do método gráfico é que coloca todos os dados em uma simples figura e pode-se observar que a relação teórica é de fato obedecida. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 239 Solubilidade de sais em água pura Muitos sais se dissolvem em água pura para produzir somente dois íons em concentração apreciável. Se a solução saturada não está concentrada e as forças interiônicas não são apreciáveis, é possível calcular a solubilidade desses sais a partir de seu produto de solubilidade somente. Essa relação é fornecida pelo balanço de massa de cada íon. Na Tabela 2 são listados alguns sais, juntamente com seus produtos de solubilidade que produzem somente dois íons em concentrações apreciáveis quando dissolvidos em água. Para esses sais o cálculo da solubilidade pode ser feito através do produto de solubilidade com exatidão razoável. Tabela 2 – Produto de solubilidade, a 25oC, para sais formando somente duas espécies iônicas principais em solução aquosa diluída. Íons de cargas iguais Íons de cargas diferentes Sais *pKso Sais *pKso TlCl 3,72 Ag2SO4 4,80 AgBrO3 4,28 Ag2C2O4 11,30 Hg2SO4 6,17 BaF2 5,76 SrSO4 6,55 Cu(IO3)2 7,13 AgIO3 7,52 MgF2 8,18 PbSO4 7,80 SrF2 8,54 AgCl 9,75 CaF2 10,40 BaSO4 9,96 Mg(OH) 2 10,74 AgSCN 12,0 Pb(IO3)2 12,59 AgBr 12,28 Hg2Cl2 17,88 AgI 16,08 Ce(IO3)3 9,50 La(IO3)3 11,21 * Valores extrapolados a força iônica zero; Hg22+ é um íon simples Butler, 1966. Os exemplos abaixo ilustram esta relação com cálculos numéricos. Na prática, porém, somente uma pequena fração de todos os sais iônicos pouco solúveis pode ser tratada por este formalismo simples (solubilidade em água), porque muitos desses sais produzem um número de íons complexos em solução aquosa, e/ou são tão solúveis que a solução saturada é tão concentrada que é necessário fazer correções através do coeficiente de atividade (como já estudado em correção de constante de equilíbrio em função da força iônica da solução). UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 240 Exemplo 1: Aplicando o método matemático, calcular a solubilidade do bromato de prata em uma solução saturada com esse sólido. Dado: Kps (AgBrO3)=6,5x10-5 Observação: (a) O balanço de massa estabelece que todo íon prata na solução é proveniente do precipitado (AgBrO3) e está presente exclusivamente com Ag+ (não há quantidades apreciáveis de AgOH ou Ag2O sólido pela reação do íon prata com a água). Similarmente, não há nenhuma outra fonte de BrO3- na solução além da que dissolve do precipitado. (b) Não há necessidade de fazer a correção porque a força iônica nesse caso é dada pela solubilidade que é desprezível (I~0 - f~1). - Reação de equilíbrio: AgBrO3(s)Ag++BrO3- - A expressão matemática do equilíbrio: (1) Kps=[Ag+]x[BrO3-] - Balanço de massa: (2) [Ag+]=s (3) [BrO3-]=s (4) [Ag+]=[BrO3-] Então aplicando (2) e (3) em (1) pode-se calcular a solubilidade do bromato de prata: (5) s=Kps=8,06x10-3mol/L Exemplo 2: Utilizar o método matemático para relacionar solubilidade e produto de solubilidade, considerando o sal sulfeto de bismuto III, que se dissolve ligeiramente em água para dar íons Bi3+ e íons S2-. O raciocínio é análogo, porém a estequiometria entre os íons em equilíbrio com o sólido pouco solúvel é diferente do exemplo anterior. Assim, a relação entre a solubilidade e o Ks0 será diferente também. Assim: - Reação de equilíbrio: Bi2S3(s)2Bi3++3S2- - A expressão matemática do equilíbrio é dada por: (1) Ks0=[Bi3+]2x[S2-]3 - As equações do Balanço de massa em função do cátion e do ânion são dadas por: (2) [Bi3+]=2s (3) [S2-]=3s - A equação do balanço de carga é dada por:(4) 3[Bi3+]=2[S2-] [Bi3+]=2/3[S2-] UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 241 - Substituindo (2) e (3) na equação do produto de solubilidade (1) tem-se: (1) Ks0=[Bi3+]2x[S2-]3 Ks0=(2s)2x(3s)3=4s2x27s3=108s5 (5) s=(Ks0/108)1/5 Exemplo 3: Desenvolver o método matemático para calcular a relação entre a solubilidade e Kso do iodato de prata. Dado: Kso=3,0x10-8 AgIO3(s)Ag++IO3- (1) Kso=[Ag+]x[IO3-] - Balanço de massa: (2) [Ag+]=s (3) [IO3-]=s - Balanço de carga: (4) [IO3-]=[Ag+] - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se (5): (5) s=(Kso)1/2=(3,0x10-8)1/2 s=1,73x10-4mol/L Exemplo 4: Desenvolver o método matemático para calcular a relação entre a solubilidade e Kso do iodato de bário. Dado: Kso=1,5x10-9 Ba(IO3)2(s)Ba2++2IO3- (1) Kso=[Ba2+]x[IO3-]2 - Balanço de massa: (2) [Ba2+]=s (3) [IO3-]=2s - Balanço de carga: (4) [IO3-]=2[Ba2+] - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se (5): (1) Kso=[s]x[2s]2 (5) s=(Kso/4)1/3=(1,5x10-9/4)1/3 s=7,21x10-4mol/L Observação: A solubilidade do iodato de bário é da mesma ordem de grandeza do iodato de prata (comparando, (SBa(IO3)2/SAgIO3=7,21x10-4/1,73x10-4~4) – iodato de bário é cerca de 4 vezes mais solúvel que iodato de prata) embora a constante do produto de solubilidade do iodato de prata seja 20 vezes maior que a constante do produto de solubilidade do iodato de bário (Ks(AgIO3)/Ks(Ba(IO3)2)=3,0x10-8/1,5x10-9=20). Então, atenção, pois o valor da UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 242 constante do produto de solubilidade ajude a prever a solubilidade do sal pouco solúvel (menor Ks, menor solubilidade), neste caso a previsão foi totalmente errônea. Estes sais pouco solúveis têm estequiometrias diferentes, e a solubilidade de cada um vai ser tratada diferente. Então, ao se comparar as constantes do produto de solubilidade entre dois ou mais compostos pouco solúveis, fazê-lo somente quando a estequiometria entre os sais for a mesma. Exemplo 5: Calcular o produto de solubilidade do sulfato de bário, conhecendo que sua solubilidade desse sólido em água pura, determinada por medidas de condutividade a 25oC, é 1,05x10-5 mol/L. BaSO4(s)Ba2++SO42- (1) Kso=[Ba2+]x[SO42-] (2) [Ba2+]=s (3) [SO42-]=s (4) [Ba2+]=[SO42-] - Aplicando (2) e (3) em (1), tem-se: Kso=[Ba2+]x[SO42-]=(1,0x10-5)2=1,1x10-10 (Log Kso=-9,95) Exemplo 6: O produto de solubilidade do CaF2 é 4,0x10-11. Calcular a solubilidade (g/L) do fluoreto de cálcio em água pura. CaF2(s)Ca2++2F- (1) Kso=[Ca2+]x[F-]2=4,0x10-11 Balanço de massa: (2) [Ca2+]=s Balanço de massa: (3) [F-]=2s Balanço da carga: (4) [F-]=2[Ca2+] - Aplicando (2) e (3) em (1): s(2s)2=4,0x10-11 4s3=4,0x10-11 s3=1,0x10-11 s=2,15x10-4mol/L De (2): [Ca2+]=s=2,15x10-4mol/L De (3): [F-]=2s=4,30x10-4mol/L - Sabendo a massa molar do fluoreto de cálcio tem-se sua solubilidade em g/L: M.M. (CaF2)=78g/mol T (g/L)=2,15x10-4(mol/L)x78(g/mol)=1,68x10-2g/L Observação: A solubilidade acima, em mol/L, corresponde a 1,68x10-2g/L, que concorda favoravelmente com uma medida de solubilidade típica que dá em torno de 1,6x10-2g/L, (até sem correção de força iônica ou hidrólise dos íons). UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 243 Exemplo 7: Calcular a solubilidade dos hidróxidos abaixo em água pura, utilizando o método matemático de cálculo. Incluir o balanço de água nesse equilíbrio. (a) Mg(OH)2. (b) Fe(OH)3. (a) Solubilidade do hidróxido de magnésio em água pura (Kps(Mg(OH)2)=7,26x10-12). Mg(OH)2Mg2++2-OH 2H2OH3O++-OH (1) Kps=[Mg2+]x[-OH]2 (2) 1,0x10-14=[H3O+]x[-OH] b.m.: (3) [Mg2+]=s b.m.: (4) [-OH]=2s+[H3O+]água b.c.: (5) [-OH]=2[Mg2+]+[H3O+] - Desprezando a contribuição da água tem-se (4a) ou (5a): (4a) [-OH]=2s (5a) [-OH]=2[Mg2+] - Substituindo (3) e (4a) ou (5a) em (1) tem-se a solubilidade em (6): (6) 7,26x10-12=sx(2s)2=4s3 s=1,21x10-4mol/L (3) [Mg2+]=s=1,21x10-4mol/L (5a) [-OH]=2[Mg2+]=2x1,21x10-4=2,42x10-4mol/L (2) [H3O+]=1,0x10-14/2,42x10-4=4,1x10-11mol/L - Aplicando os valores da [H3O+] e s em (4) tem-se: (4) [-OH]=2s+[H3O+]água=2x1,21x10-4+4,1x10-11=2,42x10-4mol/L Observação: A aproximação de desprezar a ionização da água foi válida. Assim, a [-OH] proveniente da água é muito pequena e realmente pode ser desprezada. (b) Solubilidade do hidróxido férrico em água pura (Kps(Fe(OH)3)= 2,0x10-39). Fe(OH)3Fe3++3-OH 2H2OH3O++-OH (1) Kps=[Fe3+]x[-OH]3 (2) Kw=[H3O+]x[-OH] b.m.: (3) [Fe3+]=s b.m.: (4) [-OH]=3s+[H3O+]água b.c.: (5) [-OH]=3[Fe3+]+[H3O+] - Desprezando a contribuição da água tem-se (4a) ou (5a): b.m.: (4a) [-OH]=3s b.c.: (5a) [-OH]=3[Fe3+] - Substituindo (3) e (4a) em (1) tem-se a solubilidade em (6): UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 244 2,0x10-39=sx(27s)3=27s4 s=9,23x10-11mol/L [-OH]ppt=3s=2,78x10-10mol/L [-OH]água=[H3O+]=1,0x10-14/2,78x10-10=3,60x10-5mol/L - A aproximação feita em (4) e (5) não foi adequada, pois a [-OH]água=[H3O+] não é desprezível. [-OH]=3s+[H3O+]=2,78x10-10+3,60x10-5~3,60x10-5mol/L - Assim, levando em conta que [-OH]água é que é importante, pode se desprezar o que ioniza do precipitado em função do que ioniza da água. Assim, em (4) desprezar a ionização do precipitado, 3s~0 e tem-se (4b): b.m.: (4b) [-OH]=[H3O+]=1,0x10-14=1,0x10-7mol/L - Substituindo em (1) tem-se: (1) Kps=[Fe3+]x[-OH]3 2,0x10-39=[Fe3+]x(1,x10-7)3 s=[Fe3+]=2,0x10-18mol/L - Validando em (4) tem-se: b.m.: (4) [-OH]=3s+[H3O+]água (4) [-OH]=3(2,0x10-18)+1,0x10-7=1,0x10-7mol/L Observação: Como o hidróxido férrico é muito pouco solúvel, a contribuição de -OH na solução vem predominantemente da água. Casa: Desenvolver a equação matemática que relaciona solubilidade e constante do produto de solubilidade para os seguintes compostos abaixo, considerando que os íons estão em equilíbrio com o sólido pouco solúvel e que não reagem com a água. (a) Iodato de lantânio; (b) Cromato de prata; (c) Cloreto mercuroso. (d) Fosfato de amônio e magnésio. MISTURANDO DUAS SOLUÇÕES - Aplicação do método matemático a um problema envolvendo a formação de um precipitado. Exemplo 8: Utilizar o método matemático para calcular a fração bário precipitado como BaSO4, a partir de: 50,0 mL de uma solução de BaCl2 3,0x10-5 mol/Litro são misturados com 100,0 mL de uma solução de Na2SO4 4,5x10-5 mol/Litro. Considerar como P o número de mol de BaSO4 por Litro de solução. Dado: Kso(BaSO4)=1,1x10-10 UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 245 Observação: Considerando que duas soluções são misturadas e um sal precipita. A menos que as duas soluções estejam exatamente na sua razão estequiométrica, o efeito do íon comum diminuirá a solubilidade do sal e a precipitação será mais completa. Utilizando o método matemático tem-se: - Natureza química: BaCl2Ba2++2Cl- Na2SO42Na++SO42- BaSO4(s)Ba2++SO42- (1) 1,1x10-10=[Ba2+]x[SO42-] b.m.: (2) [Ba2+]+P=(50,0 mLx3,0x10-5mmol/mL/150mL)=1,0x10-5mol/L b.m.: (3) [SO42-]+P=(100,0 mLx4,5x10-5mmol/mL/150mL)=3,0x10-5mol/L Observação: Notar que a relação de precipitação do BaSO4 é de 1:1, e a [SO42-] é três vezes maior que a de [Ba2+]. O sulfato está em excesso e tem-se três vezes mais sulfato que a requerida para precipitar o sulfato de bário. Como a concentração de íon comum é da mesma ordem de grandeza da solubilidade do sal em água pura (s=1,05x10-5 mol/L), o balanço de massa exato deve ser utilizado. Assim: b.m.: (4) [Cl-]=2(50,0 mLx3,0x10-5mmol/mL/150mL)=2,0x10-5mol/Lb.m.: (5) [Na+]=2(100,0 mLx4,5x10-5mmol/mL/150mL)=6,0x10-5mol/L b.c.: (6) [Na+]+2[Ba2+]=[Cl-]+2[SO42-] - A partir do balanço de cargas tem-se (7): 6,0x10-5+2[Ba2+]=2,0x10-5+2[SO42-] 2([SO42-]-[Ba2+])=6,0x10-5-2,0x10-5 (6a) [SO42-]-[Ba2+]=2,0x10-5 (7) [SO42-]=[Ba2+]+2,0x10-5 - Substituindo (1) em (7) tem-se: 1,1x10-10/[Ba2+]=[Ba2+]+2,0x10-5 1,1x10-10=[Ba2+]2+2,0x10-5[Ba2+] [Ba2+]2+2,0x10-5[Ba2+]-1,1x10-10=0 [Ba2+]=4,5x10-6mol/L - A partir de (2) tem-se o que foi precipitado: (2) [Ba2+]+P=1,0x10-5mol/L P=1,0x10-5-[Ba2+]=1,0x10-5-4,5x10-6mol/L=5,5x10-6mol/L (3) [SO42-]=3,0x10-5-P=3,0x10-5-5,5x10-6=2,45x10-5mol/L Observação: Desde que a quantidade total de bário era 1,0x10-5mol/L: Fração de bário precipitada: [Ba2+]ppt/[Ba2+]inicial=5,5x10-6/1,0x10-5=0,55 % ppt: fraçãox100=55% Ou UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 246 ([Ba2+]inicial-[Ba2+]final)/[Ba2+]inicial=[(1,0x10-5-4,5x10-6)/1,0x10-5]=0,55 % ppt: fraçãox100=55% Conclusão: Observar que a concentração molar de bário na solução (1,0x10-5mol/L) é da mesma ordem da solubilidade do BaSO4 em água (1,1x10-5mol/L). Então, se não fosse adicionado excesso de sulfato, não teria precipitado o que precipitou de sulfato de bário (55%). CASA: Calcular a fração de cloreto em uma solução de cloreto de sódio 1,0x10-4mol/L que poderia precipitar pela adição de: (a) Quantidade estequiométrica de nitrato de prata 0,1mol/L de igual concentração. (b) 10% de nitrato de prata 0,1 mol/L de igual concentração. Dado: pKs0(AgCl)=9,78 Observação: Considerar um volume de cloreto de sódio para o cálculo de volume de nitrato de prata e concentração final. COMPLICAÇÕES NOS CÁLCULOS DE SOLUBILIDADE O número de casos na qual a solubilidade de um sal iônico pode ser calculada somente a partir de seu produto de solubilidade é uma fração relativamente pequena dos casos encontrados na prática. Diversos fatores influenciam na solubilidade de um determinado composto pouco solúvel e, esses fatores têm que ser levados em conta em cálculos reais. A solubilidade não é governada somente pela constante do produto de solubilidade, pois outros equilíbrios ocorrem em solução, até mesmo em soluções diluídas. Assim, outros dados de equilíbrio são necessários para os cálculos. Esses fatores são: (1) Força iônica - O efeito da força iônica aumenta a solubilidade da solução. A adição de um eletrólito inerte tal como nitrato de potássio a uma solução saturada de um sal ligeiramente solúvel tal como iodato de prata aumenta ligeiramente a solubilidade daquele sal. Em soluções, até em torno de 0,1 mol/L, o efeito provocado pela força iônica da solução é facilmente corrigido pela utilização do coeficiente de atividade. Para soluções mais concentradas que 1,0 mol/L, o cálculo teórico dos coeficientes de atividade não é correto, especialmente quando uma mistura de eletrólitos está envolvida. Por isso, em geral, nesses casos, é necessário estudar esse sistema iônico concentrado em eletrólitos antes que qualquer conclusão quantitativa sobre a solubilidade possa ser feita. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 247 (2) Íon comum - O efeito que diminui a solubilidade de um composto pouco solúvel é o efeito do íon comum, muito utilizado em precipitação quantitativa, garantindo a menor solubilidade do composto a ser precipitado. Até em soluções diluídas, entretanto, podem ocorrer outros equilíbrios entre os íons da solução, juntamente com o equilíbrio de solubilidade. Isto significa que a solubilidade não é governada somente pelo produto de solubilidade, e que dados de outros equilíbrios são necessários para os cálculos de solubilidade. Muito comum é a reação do cátion ou ânion com a água para produzir hidroxi-complexos ou espécies aniônicas protonadas. (3) Reação do cátion ou do ânion com a água - A reação do ânion com a água é facilmente levada em conta, já que as constantes de ionização de ácidos fracos são conhecidas. A reação do cátion com a água é mais difícil, porque os metais de transição formam sistemas complicados de hidroxi-complexos e as constantes de equilíbrio desses sistemas são geralmente muito aproximadas ou desconhecidas. A reação do ânion com a água será mais extensa em soluções ácidas e a reação do cátion com a água será mais extensa em soluções básicas. Ambos o casos tenderão a remover os íons do sal para a solução e aumentar a solubilidade do sal em relação ao valor calculado somente pela constante do produto de solubilidade. (4) Formação de íons complexos - A formação de complexo entre o cátion de um composto pouco solúvel com um agente complexante aumenta a solubilidade de compostos poucos solúveis, ou formação de complexo em excesso de ligante. A formação de complexos entre o cátion e o ânion do sal, que é particularmente extenso nos haletos de prata e cuproso, mas formação de par iônico ocorre até em sais como CaF2 e CaSO4. De novo, as reações tendem a aumentar a solubilidade sobre o valor calculado somente pela constante do produto de solubilidade, especialmente em soluções contendo um excesso de um dos íons. Finalmente, a adição de outros sais, ou o ajuste de pH da solução, pode afetar o equilíbrio de solubilidade por formar complexos com os íons de interesse, de novo aumentando a solubilidade do sal a ser precipitado. Correções para essas reações requerem cálculos de equilíbrio extensos, e às vezes, muito complicados. Para introduzir este problema, cada fator que afeta a solubilidade é estudado separadamente, como uma introdução aos equilíbrios múltiplos. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 248 O EFEITO DA FORÇA IÔNICA Exemplo 9: Encontrar o erro relativo quando se negligenciam as atividades no cálculo da solubilidade do Ba(IO3)2 em uma solução de MgCl2 0,033 mol/L. Destacar as observações quanto à constante de equilíbrio cinética e a solubilidade final. O produto de solubilidade termodinâmico (Kos0) para o Ba(IO3)2 é 1,57 x 10-9 (ver apêndice SKOOG, 2004). A força iônica da solução é dada por: MgCl2 Mg2++2Cl- I=½ {[Mg2+]x(2)2+[Cl-]x(1)2}=½{[0,033]x(+2)2+[0,066]x(-1)2} I=0,1 Ba(IO3)2(s)Ba2++2IO3- -s s 2s Kos0={Ba2+}x{IO3-}2=1,57 x 10-9 Kos0=[Ba2+]x[IO3-]2xfBa2+xf 2IO3-=1,57x10-9 Ks0=Kos0/fBa2+xf 2IO3- Na Tabela de Kielland, I=0,1, tem-se: fBa2+=0,38 fIO3-=0,77 - Não negligenciando a força iônica da solução: Ks0=1,57x10-9/(0,38)x(0,77)2 Ks0=6,97x10-9 (constante corrigida para I=0,1) Ks0=[Ba2+]x[IO3-]2 s=[Ba2+] 2s=[IO3-] Ks0=6,97x10-9=(s)x(2s)2 s=1,20x10-3mol/L - Negligenciando a força iônica da solução: Ks0=[Ba2+]x[IO3-]2 Ks0=1,57x10-9=(s)x(2s)2 s=7,32x10-4mol/L ER=(1,20x10-3-7,32x10-4/1,20 x 10-3)x100=40% O EFEITO DO ÍON COMUM Anteriormente, foi discutida somente a solubilidade de um determinado composto pouco solúvel em água pura. Por exemplo, o iodato de prata é menos solúvel em solução diluída de iodato de potássio ou nitrato de prata, sais que são bastante solúveis em solução aquosa. Cada solução contém um íon comum com o sólido pouco solúvel, e a diminuição da solubilidade, nesse caso, é chamado de efeito do íon comum, e é nada mais que uma ilustração do Princípio de Le Chatelier. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 249 Cálculos envolvendo o efeito do íon comum podem ser extremamente simples ou extremamente complicados. Depende do tipo da estequiometria do composto pouco solúvel e da concentração molar do íon comum ao composto pouco solúvel na solução. Tomando como exemplo o sal pouco solúvelAgIO3 em uma solução de KIO3 C mol/L. Aplicando o método matemático para calcular a solubilidade tem-se: KIO3K++IO3- AgIO3(s)Ag++IO3- (1) Kso=[Ag+]x[IO3-] b.m.: (2) [Ag+]=s b. m.: (3) [IO3-]=s+C b. m.: (4) [K+]=Cmol/L b. c.: (5) [K+]+[Ag+]=[IO3-] (5) [IO3-]=s+C - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se: (1) Kso=(s)x(s+C) (6) Kso=s2+sC - Que rearranjada está na forma de uma equação quadrática: (6) s2+sC-Kso=0 A aproximação que pode ser feita no exemplo acima é considerar que s em (3) é desprezível perto da concentração molar do íon comum. Assim, tem-se (3a): (3a) [IO3-]=C - E, aplicando (2) e (3a) em (1) tem-se: (1) Kso=(s)x(C) (7) s= Kso/C Observação: Para validar se a aproximação foi correta, utilizar a equação (6), dentro de um erro relativo de 10%. Exemplo 10: Calcular a solubilidade do iodato de prata em uma solução de iodato de potássio 0,01mol/L. Dado: Kso=3,0x10-8 - Aplicando o método matemático tem-se: KIO3K++IO3- AgIO3(s)Ag++IO3- (1) Kso=[Ag+]x[IO3-] (2) [Ag+]=s (3) [IO3-]=s+0,01 (4) [K+]=0,01mol/L (5) [K+]+[Ag+]=[IO3-] UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 250 - Considerando a aproximação na equação (3), pois nessa [IO3-]=0,01mol/L, s é desprezível, e tem-se: (3a) [IO3-]=0,01mol/L - Assim, aplicando (2) e (3a) em (1) tem-se (7): (7) Kso=sx0,01 3,0x10-8=sx0,01 s=3,0x10-6mol/L - Validando a aproximação: (6) Kso=(s2)+sC Kso=(3,0x10-6)2+3,0x10-6x0,01=9,0x10-12+3,0x10-8=3,0x10-8 (ER=0%) Observação: Nesse caso em que a equação geral é quadrática, pode ser resolvida sem maiores problemas sem fazer aproximações (ver abaixo). - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se: (1) Kso=(s)x(s+0,01) Que se não for feita nenhuma aproximação pode ser escrita com em (6): (6) s2+0,01s-Kso=0 s2+0,01s-3,0x10-8=0 s=3,0x10-6mol/L (que é o mesmo valor encontrado usando a aproximação). Exemplo 11: Calcular a solubilidade do iodato de prata em uma solução de iodato de potássio 0,0001mol/L. Dado: Kso=3,0x10-8 - Aplicando o método matemático tem-se: KIO3K++IO3- AgIO3(s)Ag++IO3- (1) Kso=[Ag+]x[IO3-] (2) [Ag+]=s (3) [IO3-]=s+0,0001 (4) [K+]=0,0001mol/L (5) [K+]+[Ag+]=[IO3-] - Desprezando o que dissocia do sólido (s) em relação à concentração de íon comum tem- se (3a): (3a) [IO3-]=0,0001 (2) e (3a) em (1): 3,0x10-8=sx0,0001 s=3,0x10-4mol/L Validando: (6) Kso=(s2)+sC Kso=(3,0x10-4)2+3,0x10-4x0,0001=9,0x10-8+3,0x10-8=1,2x10-7 UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 251 ER=(1,2x10-7-3,0x10-8/3,0x10-8)x100=300% - Então, não se pode fazer aproximação nesse caso. Então: - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se: Kso=(s)x(s+0,0001) - Que se não for feita nenhuma aproximação pode ser escrita com em (6): (6) s2+0,0001s-Kso=0 s2+0,0001s-3,0x10-8=0 s=1,3x10-4mol/L Observação: Neste exemplo se fosse feita a aproximação de desconsiderar s em (3), o erro seria enorme, pois a solubilidade encontrada seria maior que a solubilidade em água pura (s=1,73x10-4 mol/L). ER=(3,0x10-4-1,73x10-4)/1,73x10-4x100=73,4%. Na prática é conveniente representar os resultados de cálculos de equilíbrio na forma gráfica como mostrado na Figura 1, onde se observa: Figura 1 – Efeito do íon comum (KIO3) sobre a solubilidade do iodato de prata (AgIO3). Na região A (até 10-6 mol/L de íon comum), tem-se a solubilidade do iodato de bário em água pura, e s=Kso, e pode-se desprezar a contribuição do íon para a solubilidade. Na região B, a solubilidade e a concentração de íon comum são tão próximas que não permite A B C Log s UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 252 desprezar a contribuição do íon comum, e utiliza-se a equação quadrática: s2+sC-Kso=0. Na região a solubilidade é completamente controlada pelo íon comum na região e s=Kso/[IO3. Exemplo 12: Calcular a solubilidade do iodato de bário em uma solução de cloreto de bário 0,005mol/L. Dado: Kso=1,50x10-9 BaCl2Ba2++2Cl- Ba(IO3)2(s)Ba2++2IO3- (1) Kso=[Ba2+]x[IO3-]2 - Balanço de massa: (2) [Ba2+]=s+0,005 (3) [IO3-]=2s (4) [Cl-]=0,05mol/L - Balanço de carga: (5) [IO3-]+[Cl-]=2[Ba2+] - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se: (6) Kso=(s+0,005)x(2s)2 - Que rearranjada em função s dá: (6) 4s3+0,02s2-Kso=0 - Fazendo a consideração de desprezar em (2) o que dissocia do sólido, ou seja, [Ba2+]Ba(IO3)2=s~0 é desprezível em função da [Ba2+]BaCl2=0,005mol/L, tem-se (2a): (2a) [Ba2+]=0,005mol/L - Aplicando (2a) e (3) em (1) tem-se: Kso=0,005x(2s)2=1,50x10-9 s=2,74x10-4mol/L - Validando a aproximação tem-se: Kso=(s+0,005)x(2s)2=4s3+0,005s2=4(2,74x10-4)3+0,02(2,74x10-4)2=8,23x10-11+1,50x10-9 Kso=1,58x10-9 ER=(1,58x10-9-1,5x10-9)/1,5x10-9x100=5% Observação: Nesse caso, a equação do 3º grau não precisou ser resolvida. Exemplo 13: Calcular a solubilidade do iodato de bário em uma solução de cloreto de bário 0,0001mol/L. Dado: Kso=1,5x10-9 BaCl2Ba2++2Cl- Ba(IO3)2(s)Ba2++2IO3- (1) Kso=[Ba2+]x[IO3-]2 - Balanço de massa: UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 253 (2) [Ba2+]=s+0,0001 (3) [IO3-]=2s (4) [Cl-]=0,0002 mol/L - Balanço de carga: (5) [IO3-]+[Cl-]=2[Ba2+] - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se: (6) Kso=(s+0,0001)x(2s)2 - Que rearranjada em função de s: (6) 4s3+0,0004 s2-1,5x10-9=0 - Fazendo a consideração de desprezar em (2) o que dissocia do sólido, ou seja, [Ba2+]Ba(IO3)2=s~0 é desprezível em função da [Ba2+]BaCl2=0,0001mol/L, tem-se (2a): (2a) [Ba2+]=0,0001 mol/L - Aplicando (2a) e (3) em (1) tem-se: Kso=0,0001x(2s)2=1,50x10-9 s=3,87x10-3mol/L - Validando a aproximação tem-se: Kso=(s+0,005)x(2s)2=4s3+0,005s2=4(3,87x10-3)3+0,02(3,87x10-3)2=2,32x10-7+3,00x10-7 Kso=5,32x10-7 ER=(1,5x10-9-3,87x10-3)/1,5x10-9x100=absurdo!!!!!! Observação: Nesse caso, a equação do 3º grau tem que ser resolvida (6). Para a resolução vai ser utilizada a aproximação de Newton (Butler, páginas 77 - 83). (6) 4s3+0,0004s2-Kso=0 (dividir por 4) f(x)=s3+0,0001s2-3,75x10-10 f’(x)= 3s2+0,0001s xo=s3=3,75x10-10 xo=7,21x10-4 xo=0,0001s2=3,75x10-10 xo=1,94x10-3 f(xo)=(7,21x10-4)3+0,0001(7,21x10-4)2-3,75x10-10=3,75x10-10+5,20x10-11-3,75x10-10=5,20x10-11 f’(xo)=3(7,21x10-4)2+0,0002(7,21x10-4)=1,56x10-6+1,45x10-7=1,71x10-6 x1=7,21x10-4-5,2x10-11/1,71x10-6=6,9x10-4 f(x1)=(6,9x10-4)3+0,0001(6,9x10-4)2-3,75x10-10=3,29x10-10+4,76x10-11-3,75x10-10=1,61x10-12 f’(x1)=3(6,9x10-4)2+0,0002(6,9x10-4)=1,3x10-6+1,38x10-7=1,44x10-6 x2=6,9x10-4-1,61x10-11/1,44x10-10=6,9x10-4 Assim, a solubilidade s=6,9x10-4mol/L. Casa: Um problema similar em que é necessário resolver a equação cúbica. (a) MgF2 em Mg(NO3)2 0,0001 mol/L. Mg(NO3)2Mg2++2NO3- UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 254 MgF2(s)Mg2++2F- (1) Kso=[Mg2+]x[F-]2 - Balanço de massa: (2) [Mg2+]=s+0,0001 (3) [F-]=2s (4) [NO3-]=0,0002 mol/L - Balanço de carga: (5) [F-]+[NO3-]=2[Mg2+] - Aplicando (2) e (3) em (1) tem-se: (6) Kso=(s+0,0001)x(2s)2 - Que rearranjada em função de s: (6) 4s3+0,0004s2-6,6x10-10=0 Resposta: A equação cúbica a ser desenvolvida: s3+1,0x10-4s -1,65x10-10=0. s= 5,17x10-4mol/L. O EFEITO DO ÍON COMUM QUANDO DOIS COMPOSTOS POUCO SOLÚVEIS COM UM ÍON COMUM ESTÃO MISTURADOS EM UMA MESMA SOLUÇÃO Exemplo 14: Utilizar o método matemático para calcular a solubilidade dos sais AgIO3 e TlIO3 em uma solução saturada com ambos os sais pouco solúveis. Que conclusão se chega com os resultados obtidos? Dados: Kso (AgIO3)=3,0x10-8e Kso (TlIO3)=3,1x10-6 Observação: Os íons iodato do iodato de tálio irão reprimir a solubilidade do iodato de prata e vice versa (Princípio de Le Chatelier), e o efeito será maior no menos solúvel. Ou seja, cada composto será menos solúvel do que se estivesse sozinho em água pura. Se a solubilidade do iodato de prata é S1 mol/L, a dissolução do iodato de prata contribuirá com S1 mol/L de Ag+ e S1 mol/L de IO3- na solução. O mesmo acontece com TlIO3 e a dissolução desse sal contribuirá com S2 mol/L de Tl+ e S2 mol/L de IO3-. A concentração total de iodato será (S1+S2) no equilíbrio, enquanto a concentração de Ag+ e Tl+ será simplesmente S1 e S2, respectivamente. AgIO3Ag++IO3- TlIO3Tl++IO3- (1) Kso=[Ag+][IO3-] (2) Kso=[Tl+][IO3-] b.m.: (3) [Ag+]=s1 UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 255 b.m.: (4) [Tl+]=s2 b.m.: (5) [IO3-]=s1+s2 b.c.: (5’) [IO3-]=[Ag+]+[Tl+]=s1+s2 - Como a solução está saturada com os dois sais pouco solúvel, tira-se a [Ag+] e [Tl+] em (1) e (2), respectivamente, adiciona em (5) e tem-se (6): (1) [Ag+]=3,0x10-8/[IO3-] (2) [Tl+]=3,1x10-6/[IO3-] (5) [IO3-]=(3,0x10-8+3,1x10-6)/[IO3-] (6) [IO3-]2=3,0x10-8+3,1x10-6 [IO3-]2=3,0x10-8+3,1x10-6=3,13x10-6 [IO3-]=1,77x10-3mol/L - A solubilidade do iodato de prata em (1) será dada por: S1=[Ag+]=3x10-8/1,77x10-3=1,69x10-5mol/L - A solubilidade do iodato de tálio em (2) será dada por: S2=[Tl+]=3,1x10-6/1,77x10-3=1,75x10-3mol/L Comparando os resultados com uma solução aquosa saturada com cada sal pouco solúvel tem-se que: - solubilidade do iodato de prata em uma solução saturada é: S=3,0x10-8=1,73x10-4mol/L (menos solúvel) - solubilidade do iodato de tálio é: S=3,1x10-6=1,76x10-3mol/L (mais solúvel) Observação: Como o TlIO3 é mais solúvel que AgIO3, na mistura ele contribui com mais íons iodato que o AgIO3. Por causa da concentração de iodato na mistura ser bem maior do que em solução pura de AgIO3, a concentração de íons prata e a solubilidade do iodato de prata serão muito menores na mistura. Concluindo, como o iodato de prata é menos solúvel que iodato de tálio, a adição de iodato de potássio promove a precipitação da mais AgIO3, e, consequentemente, a concentração de íons tálio e a solubilidade de iodato de tálio são quase que a mesma em água pura ou na mistura. INTERAÇÕES ÁCIDO-BASE NOS EQUILÍBRIOS ÁCIDO-BASE Em muitos equilíbrios de solubilidade a situação se complica com a participação de um ou outros dos íons do eletrólito pouco solúvel em reações com a água. É o que acontece, por UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 256 exemplo, quando o cátion é um ácido de Brönsted ou o ânion é uma base de Brönsted. Então, é preciso considerar também a interação ácido-base na descrição do equilíbrio de solubilidade. INTERAÇÃO QUE ENVOLVE O ÂNION No caso de sal levemente solúvel, cujo ânion é uma base de Brönsted, a concentração do ânion na solução saturada depende do pH; portanto, a solubilidade do sal também depende do pH. Em uma solução de um sal levemente solúvel derivado de um ácido fraco, que contenha uma quantidade apreciável de um ácido monoácido forte, o ânion reage com H3O+ e forma o ácido fraco não ionizado, e aumenta dessa forma a solubilidade do sal. Um aumento na concentração do ácido forte determina um aumento da solubilidade. Uma situação semelhante ocorre com os sais levemente solúveis de poliácidos, pois a fraca extensão das ionizações secundária e subsequentes faz com que as crescentes concentrações de H3O+ na solução resultem em maior solubilidade do sal em questão. Curiosidade: CN-, básico reage com a água. Como escrever essa reação? Tanto faz!!! Querem ver? CN-+H2OHCN+-OH (Kb) - Colocando nesse equilíbrio a ionização da água tem-se: H3O++-OH2H2O (Kw=KaKb) - que somando as reações fornece: CN-+H3O+HCN+H2O (1/Ka) Exemplo 15: Calcular a solubilidade molar de acetato de prata em uma solução de pH 3,00 na condição de equilíbrio, ignorando qualquer reação entre Ag+ e H2O. Dados: Ks0(AgAc)=2,3x10-3 Ka(HAc)=1,75x10-5 Resposta: s=0,3607mol/L AgAc(s)Ag++Ac- HAc+H2OAc-+H3O+ (1) Ks0=[Ag+]x[Ac-] (2) Ka[HAc]=[H3O+]x[Ac-] (3) [Ag+]=s (4) [HAc]+[Ac-]=s [H3O+]x[Ac-]/Ka+ [Ac-]=s (1+[H3O+]/Ka) [Ac-]=s (1/o)[Ac-]=s - Aplicando a fração molar: o=[Ac-]/s (5) [Ac-]=os UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 257 o= 0172,00,0010175 1,75x10 x108,11,0x10 1,8x10 K][ K -5 5-3- -5 a3 a OH - Aplicando (3) e (5) em (1) tem-se a solubilidade: (1) Ks0=sxos=os2 s=√(Ks0/o)=√(2,3x10-3/0,0172)=0,365mol/L Exemplo 16: Calcular a solubilidade do AgCN em pH 3,0. Dados: Ks0(AgCN)=2,2x10-16 e Ka(HCN)=4,9x10-10 AgCN(s)Ag++CN- HCN+H2OCN-+H3O+ (1) Ks0=[Ag+]x[CN-] (2) Ka[HCN]=[H3O+]x[CN-] (3) [Ag+]=s (4) [HCN]+[CN-]=s [H3O+]x[CN-]/Ka+ [CN-]=s (1+[H3O+]/Ka) [CN-]=s (1/o)[CN-]=s - Aplicando a fração molar: o=[CN-]/s (5) [CN-]=os - Aplicando (3) e (5) em (1) tem-se a solubilidade: (1) Ks0=sxos=os2 s=√(Ks0/o)=√(2,2x10-16/4,9x10-7)=2,12x10-5mol/L Casa: Calcular a solubilidade do CaC2O4 em pH 4,0. Dados: Ks0(CaC2O4)=1,7x10-9 Ka1(H2C2O4)=5,60x10-2 Ka2(H2C2O4)=5,42x10-5 Resposta: s=6,95x10-5mol/L Exemplo 17: Calcular a solubilidade do CdS em solução aquosa. Dado: Ks0(CdS)=1,6x10-28 em água, a 25oC, desprezando e não desprezando a contribuição da água na solução. CdS(s)Cd2++S2- H2S+H2OH3O++HS- HS-+H2OH3O++S2- 2H2OH3O++-OH (1) Ks0=[Cd2+]x[S2-] (2) Ka1[H2S]=[H3O+]x[HS-] UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 258 (3) Ka2[HS-]=[H3O+]x[S2-] (4) Kw=[H3O+]x[-OH] (5) [Cd2+]=s (6) [S2-]+[HS-]+[H2S]=s (7) 2[Cd2+]+[H3O+]=[-OH]+2[S2-]+[HS-]+[H2S] - Ignorando que o sulfeto é básico, ou seja, ignorando a ionização do sulfeto tem-se: (5a) [S2-]=s (1) s=[Cd2+]=[S2-]=√Kps=1,3x10-14mol/L. Observação: O ânion sulfeto é básico, porém o Ks0 do CdS é muito baixo. Nesse caso é razoável considerar que a contribuição de [H3O+]=[-OH]=1,0x10-7mol/L da solução vem da água. Daí, pode-se, conhecendo-se as constantes de ionização do H2S (Ka1=6,0x10-8 e Ka2=1,0x10-14), calcular a fração molar de sulfeto e a solubilidade desse sal muito pouco solúvel em água: 213123 21 ][][2 aaa aa S KKOHKOH KK = 22 22 100,6 100,6 15100,614100,1 x x xx =3,75x10 -8 - Aplicando a fração molar: (5) s=[Cd2+] (7) [S2-]=os - Em (1): (1) Ks0=[Cd2+]x[S2-] Ks0=sxos=os2 s=√(Ks0/o)=√(1,6x10-28/3,75x10-8)=6,55x10-11mol/L Conclusão: A solubilidade do CdS em água é 5x103 (6,53x10-11/1,3x10-14) vezes maior que a calculada somente pelo Ks0. Exemplo 22: Calcular a solubilidade do MnS em solução aquosa, em que não se pode considerar que a contribuição de [H3O+]=[-OH]=1,0x10-7mol/L da solução vem da água., pois este sulfeto é bem mais solúvel, e ionização do sulfeto com a água ocorre em extensão suficiente para elevar o pH significativamente acima de 7,0, em função da reação: S2- +H2OHS-+-OH. Dado: Ks0(MnS)=1,0x10-11 Ka1(H2S)=6,0x10-8 Ka2(H2S)=1,3x10-13 Resposta: Vai se usar uma aproximação para evitar um cálculo mais extenso. Considerar a reação de saturação MnS - Reações de equilíbrio de saturaçãi: MnS(s)Mn2++S2- (+) UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 259 S2-+H2O-OH+HS (=) MnS(s)+H2OMn2++HS-+-OH MnS(s)Mn2++S2- (+) S2-+H2O-OH+HS- (+) HS-+H2O-OH +H2S (=) MnS(s)+2H2OMn2++H2S+2-OH - Equações matemáticasde equilíbrio (constante de saturação): (1) KpsxKb1=[Mn2+]x[S2-]x[-OH] (2) KpsxKb2=[Mn2+]x[-OH]2x[H2S] (3) [Mn2+]=s (4) [-OH]=s (5) [S2-]+[HS-]+[H2S]=s - Considerando em (5) que a reação de ionização do sulfeto ocorre e [HS-] se forma em extensão suficiente. Assim [S2-]=[H2S]~0 e tem-se (5a): (5a) [HS-]=s - Assim colocando (3), (4) e (5a) em (1) tem-se a solubilidade: (1) KpsxKb1=[Mn2+]x[S2-]x[-OH] (1) (KpsxKw)/Ka2=s3 (1) 1,0x10-11x1,0x10-14/1,3x10-13=s3 s=9,16x10-5mol/L Conclusão: As propriedades básicas do ânion sulfeto, tal como a de muitos outros ânions tal como fosfato, carbonato, ou muitos outros ânions têm efeitos profundos na solubilidade de seus compostos. Então, considerando que as reações ácido-base ocorrem em alguma extensão tem-se que levar esses efeitos em conta. INTERAÇÔES QUE ENVOLVEM O CÁTION Muitos cátions metálicos hidratados comportam-se como poliácidos de Brönsted, e as reações deste tipo determinam a dependência do cátion hidratado ao pH do meio. Como exemplo tem-se: Al(H2O)63++H2OAl(H2O)5OH2++H3O+ Al(H2O)53++2H2OAl(H2O)4(OH)2++2H3O+ Al(H2O)63++3H2OAl(H2O)3OH3+3H3O+ Al(H2O)63++4H2OAl(H2O)2OH4-+4H3O+ - Que para simplificar pode ser escrita assim: Al3++2H2OAlOH2++H3O+ Al3++4H2OAl(OH)2++2H3O+, UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 260 Al3++6H2OAl(OH)3+3H3O+, Al3++8H2OAl(OH)-4+4H3O+, - Equações atemáticas de equilíbrio podem ser escritas: (1) K1 [Al3+]=[Al(OH)2+][H3O+] (2) K1K2[Al3+]=[Al(OH)2+][H3O+]2 Etc...... À semelhança do termo o aplicado à fração da base conjugada usado anteriormente, pode recorrer-se ao termo o para reportar a fração do cátion completamente hidratado. Para uma solução que contenha as espécies Al3+, Al(OH)2+, Al(OH)2+, etc. (a água foi omitida). Assim: o=[Al3+]/C= ....2)(]2)([]3[ ]3[]3[ OHAlOHAlAl AlCAlo ....2]3[211]3[1]3[ ]3[]3[ nOHKKnOHKnOH nOH C Al o Assim, sendo Mn+ um poliácido, o, será dado pela equação acima, em que K1, K2, etc.., são as constantes sucessivas de ionização do cátion metálico hidratado. Exemplo 23: Calcular a solubilidade do CuS em pH 9,0. Levar em conta a interação do cátion e do ânion do precipitado com o meio reacional. Dados: Kps(CuS)=6,3x10-36 H2S - Ka1=8,9x10-8 Ka2=1,2x10-13 K1(Cu2+)=5,0x10-9 - Reações de equilíbrio: CuS(s)Cu2++S2- Cu2++H2OCu(OH)++H3O+ S2-+H2OHS-+-OH HS-+H2OH2S+-OH (1) Kso=[Cu2+]x[S2-] (2) Ka1[H2S]=[H3O+]x[HS-] (3) Ka1Ka2[H2S]=[H3O+]2x[HS-] (4) K1[Cu2+]=[Cu(OH)+]x[H3O+] (5) [Cu2+]+[Cu(OH)+]=s [Cu2+]+K1[Cu2+]/[H3O+]=s [Cu2+](1+K1[Cu2+]/[H3O+])=s [Cu2+][[H3O+]+K1[Cu2+]0/[H3O+]]=s [Cu2+]/o =s UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 261 (5a) [Cu2+]=oS (6) [S2-]+[HS-]+[H2S]=s ou (6a) [S2-]=oS 213123 21 ][][ aaa aa o KKOHKOH KK = 221007,117109,818100,1 221007,1 xxx x =1,19x10-6 167,09100,59100,1 9100,1 1]3[ ]3[ xx x KOH OH o Aplicando (5a) e (6a) em (1): (1) Kps=(oS)x(oS)=oxoS2 s=5,63x10-15mol/L O EFEITO DA COMPLEXAÇÃO DO CÁTION DO COMPOSTO POUCO SOLÚVEL A solubilidade dos sais levemente solúveis é afetada pela presença de bases de Lewis capazes deformar complexos com o cátion metálico, e a solubilidade do composto pode aumentar muito. Assim, a amônia aumenta a solubilidade dos haletos de prata e dos sulfetos e hidróxidos de cátions metálicos. Outros complexantes importantes são cianeto, tartarato, citrato de EDTA. A formação de complexos metálicos carregados tende a aumentar a solubilidade dos cátions metálicos em solução devido ao fato desses complexos não originarem compostos tão insolúveis quanto do cátion metálico hidratado. Exemplo 24: Calcular a solubilidade do brometo de prata em amônia 0,1 mol/L. Dados: K1=2,4x103; K2=6,9x103; Kps=5,25x10-13 AgBr(s)Ag++Br- Ag++NH3Ag(NH3)+ Ag(NH3)++NH3Ag(NH3)2+ - Somando a reação do produto de solubilidade com a reação de formação de complexo têm-se as reações de saturação (que envolvem produto de solubilidade, constante de formação de complexo sucessiva e global), denominadas constantes de saturação – Ks. AgBr(s) Ag++Br- Kps=Kso=5,25x10-13 AgBr(s)+NH3Ag(NH3)++Br- Kpsx1=Ks1=5,25x10-13x2,4x103=1,26x10-9 AgBr(s)+2NH3Ag(NH3)2++Br- Kpsx2=Ks2=5,25x10-13x2,4x103x6,9x103=8,69x10-6 (1) Kso=[Ag+]x[Br-] (2) Ks1[NH3]=[Ag(NH3)+]x[Br-] (3) Ks2[NH3]2=[Ag(NH3)2+]x[Br-] (4) [Ag+]+[Ag(NH3)+]+[Ag(NH3)2+]=s (5) [Br-]=s (6) [NH3]+[Ag(NH3)+]+ 2[Ag(NH3)2+]=0,1mol/L UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 262 - Considerando que a concentração de amônia em relação aos complexos formados é alta, despreza-se os complexos em (6) e tem-se (6a): (6a) [NH3] =0,1mol/L - A solubilidade é dada pela equação (4) ou (5). Igualando as duas equações têm-se (7): (7) s=[Ag+]+[Ag(NH3)+]+[Ag(NH3)2+]=[Br-] - Na solução saturada com AgBr, a expressão do produto de solubilidade precisa ser obedecida. Então, adicionando (1), (2) e (3) em (7) tem-se (8): s= Kso/[Br-]+ Ks1[NH3]/[Br-]+Ks2[NH3]2/[Br-]=[Br-] - Se s=[Br-] s=Kso/s+Ks1[NH3]/s+Ks2[NH3]2/s (8) s2=Kso+Ks1[NH3]+Ks2[NH3]2 s2=5,25x10-13+1,26x10-9x0,1+8,69x10-6x0,01=8,82x10-8 s=2,97x10-4mol/L=[Br-] - As concentrações de equilíbrio são: (1) 5,25x10-13=[Ag+]x2,97x10-4 [Ag+]=1,77x10-9mol/L (2) Ks1[NH3]=[Ag(NH3)+]x[Br-] 1,26x10-9x0,1=[Ag(NH3)2+]x2,97x10-4 [Ag(NH3)+]=4,24x10-8mol/L (3) 8,69x10-6x0,01=[Ag(NH3)2+]x2,97x10-4 [Ag(NH3)2+]=2,93x10-4mol/L Observação: Notar que essa relação é geral para o cálculo da solubilidade de qualquer composto pouco solúvel de prata em solução de amônia. Observação: Portanto a única espécie que contribui significativamente para a solubilidade do AgBr é o complexo diamin-prata. Uma das possíveis complicações em resolver este problema foi considerar que a formação de complexos de prata não altera a concentração de amônia. Como a solubilidade do brometo é pequena o suficiente que negligenciar este efeito foi justificado. Se a solubilidade do AgBr fosse da mesma ordem de grandeza da amônia, seria necessário considerar a mudança na concentração de amônia. Um caso especial que afeta a solubilidade de sais poucos solúveis é a formação de íons complexos em excesso de íon comum ao composto pouco solúvel. Isto acontece em especial com os halogenetos de prata, cobre (I), chumbo (II), etc, e vai ser tratado no capítulo 10 deste texto. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 263 Um dos mais velhos métodos de separação química é a separação por precipitação, denominada de precipitação seletiva, fracionada ou controlada. Esta envolve a adição de um reagente em determinada condição reacional, que precipita alguns íons e deixa outros íons solúveis em solução. Cálculos simples baseados nas constantes de equilíbrio podem dar uma ideia do grau máximo de separação que pode ser alcançado sob as condições estabelecidas. Observação: Na prática, a separação será mais pobre que a calculada, devido, principalmente, ao fenômeno de co-precipitação. Este fenômeno ocorre durante a etapa de precipitação, onde íons diferentes dos íons de interesse são precipitados também. Isto ocorre por diferentes mecanismos, entre eles estão incluídos captura mecânica da solução pelo precipitado, formação de solução sólida, etc. Várias referências que discutem este problema em detalhes podem ser encontradas nos livros de Química Analítica. PRECIPITAÇÃO QUANTITATIVA: 1) A precipitação é dita quantitativa, quando: - A concentração do íon precipitadoé reduzida, no mínimo, 1000 vezes em relação à concentração inicial. ou - Na solução restar somente 0,01% da concentração inicial do íon, ou seja, 99,99% deste íon estiverem na forma de precipitado. 2) Uma espécie é dita quantitativamente ausente de uma solução quando sua concentração molar é inferior a 10-6 mol L-1. Exemplo 24: Tem-se 1,0 L de solução contendo 0,01 mol de BaCl2 e 0,01 mol de SrCl2. Se a esta solução for adicionada, gota a gota, uma solução concentrada de Na2SO4, prever que cátion precipitará primeiro e a sua concentração na solução quando o segundo cátion começa a precipitar. Dados: Kso(BaSO4)=1,1x10-10 Kso(SrSO4)=2,8x10-7 BaCl2Ba2++2Cl- SrCl2Sr2++2Cl- BaSO4(S)Ba2++SO42- SrSO4(S)Sr2++SO42- - A partir do método matemático que desenvolve equações matemáticas independentes para este equilíbrio: UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 264 (1) 1,1x10-10=[Ba2+]x[SO42-] (2) 2,8x10-7=[Sr2+]x[SO42-] (3) [Cl-]=0,04mol/L (4) [Ba2+]=0,01mol/L (5) [Sr2+]=0,01mol/L Observação: O balanço de cargas não está incluído porque não se tem informações sobre a concentração molar do reagente precipitante. A partir das equações matemáticas (1) e (2) pode se prever através do produto de solubilidade e das concentrações de equilíbrio em solução aquosa, qual cátion precipitará primeiro, se a separação entre esses íons é quantitativa, etc. Assim: - Cálculo da [SO42-] para precipitar cada cátion, a partir do Ks0. (1) 1,1x10-10=[Ba2+]x[SO42-] (2) 2,8x10-7=[Sr2+]x[SO42-] - Se ambos os cátions têm concentração 0,01 mol/L, basta calcular nas equações (1) e (2), a concentração máxima de sulfato que tem que ter em solução. Como a constante do produto de solubilidade fornece a concentração máxima de íons em solução sem que haja precipitação, tem-se: (1) 1,1x10-10=0,01x[SO42-] [SO42-]=1,1x10-8 mol/L (concentração máxima de sulfato sem precipitação de BaSO4). - Para precipitar BaSO4: [SO42-]>1,1x10-8 mol/L. (2) 2,8x10-7=0,01x[SO42-] [SO42-]=2,8x10-5 mol/L (concentração máxima de sulfato sem precipitação de SrSO4). - Para precipitar SrSO4: [SO42-]>2,8x10-5 mol/L. Conclusão: Quando se tem a mesma concentração dos dois cátions, bário e estrôncio, em solução e goteja-se lentamente (uma gota de cada vez) uma solução de sulfato, se observa uma turvação branca, de sulfato de bário, uma vez que a concentração molar de sulfato em equilíbrio na solução necessária para que ocorra precipitação de sulfato de bário é menor que a necessária para precipitar sulfato de estrôncio. Porém, em uma separação quantitativa, não interessa o começo da precipitação do íon de interesse e sim, se ele pode ser precipitado o mais puro possível, sem que comece a ocorrer a precipitação do outro íon. Considera-se uma precipitação quantitativa quando a concentração final do íon de interesse na solução é ou no mínimo 1000 vezes menor que a inicial, ou quando restar em solução menos que 0,01% da concentração inicial do íon. Optando por restar em solução somente 0,01% de bário inicial tem-se que: UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 265 0,01mol/L (inicial) _____ 100% [Ba2+]final ___________0,01% [Ba2+]final=0,01x0,01/100=10-6mol/L (a) Para que a precipitação de sulfato de bário seja quantitativa, a [Ba2+] na solução tem que ser menor que 10-6mol/L ([Ba2+]final<10-6mol/L). Então, tem-se que calcular a [SO42-] para precipitar quantitativamente o bário da solução. - Pelo produto de solubilidade do sulfato de bário calcula-se a [SO42-] máxima em solução sem que ocorra precipitação quantitativa de BaSO4: (1) 1,1x10-10=1,0x10-6x[SO42-] [SO42-] =1,1x10-4 mol/L Para precipitar quantitativamente BaSO4: [SO42-]>1,1x10-4 mol/L Observação: Nesse momento pode-se agir de dois modos para saber se a precipitação é quantitativa. (1º) Calcular a [SO42-] para começa a precipitar como SrSO4. E em (2) tem-se que: (2) 2,8x10-7=0,01x[SO42-] [SO42-]=2,8x10-5 mol/L - Para começar precipitar SrSO4 tem que ter [SO42-]>2,8x10-5 mol/L, que é menor que a concentração de sulfato que para precipitar quantitativamente bário. (2º) Calcular a [Sr2+] em solução quando sulfato de bário está quantitativamente precipitado e utilizando a [SO42-]=1,1x10-4 mol/L em (2) tem-se: (2) 2,8x10-7=[Sr2+]x1,1x10-4 [Sr2+]=2,55x10-3mol/L - Essa concentração de estrôncio corresponde a 74,5% de estrôncio em solução, ou seja, 25,5% de estrôncio precipitado. Assim, pode-se concluir que a precipitação de BaSO4 não é quantitativa nas condições pré- estabelecidas ([Ba2+]final=10-6mol/L). (b) Porém, pode-se calcular quanto de BaSO4 foi precipitado quando SrSO4 começa a precipitar: Sabendo a concentração molar de sulfato para o estrôncio começar a precipitar é: [SO42-]pptar SrSO4>2,8x10-5 mol/L), pode-se calcular [Ba2+] remanescente na solução nesse momento. Para isso basta relacionar esta concentração de sulfato na equação (1) e tem-se a [Ba2+] que resta na solução. Assim: (1) 1,1x10-10=[Ba2+]x2,8x10-5 UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 266 [Ba2+]solução final=3,9x10-6 mol/L Comparando [Ba2+]solução final=3,9x10-6 mol/L com a [Ba2+]solução inicial=0,01 mol/L, pode-se calcular a %Ba2+ que precipitou na forma de BaSO4 ou calcular a %Ba2+ que permaneceu em solução através de um regra de três simples. Assim: %[Ba2+]solução final=3,9x10-6x100/0,01=0,04% ou %[Ba2+]precipitado como BaSO4=(0,01-3,9x10-6)x100/0,01=99,96% Casa: Modificando o enunciado do problema acima por esse, responder com justificativa: (1) “Pode-se separar quantitativamente o cátion bário sem precipitar o cátion estrôncio, ambos de mesma concentração molar inicial igual a 0,01 mol/L, por adição de uma solução de sulfato solúvel, gota a gota?” Considerar que separar quantitativamente é restar na solução somente 0,01% da concentração inicial. Resposta 1: Não porque quando estrôncio começa a precipitar ainda resta na solução 0,04% da concentração molar de bário inicial e para ser quantitativo tem que restar 0,01%. Resposta 2: Não porque para precipitar quantitativamente bário como sulfato de bário (restar em solução somente 0,01% do bário inicial), já terá precipitado 25,5% do estrôncio da solução. (2) “Tem-se uma solução contendo os cátions bário e estrôncio, ambos de mesma concentração molar e igual 0,01 mol/L”. Por adição de uma solução de sulfato solúvel, gota a gota, pode-se precipitar o cátion menos solúvel até que solução final fique isenta desse cátion, sem que o cátion mais solúvel precipite? Resposta: Para que a solução seja considerada isenta de bário sem que haja precipitação de estrôncio, a concentração final de Ba2+ na solução tem que ser <10-6mol/L, mas Sr2+ já começa a precipitar quando a concentração de bário 4,0x10-6mol/L, ou seja, não dá. Têm-se outros exemplos clássicos de precipitação controlada, entre eles, a precipitação seletiva de hidróxidos e a precipitação seletiva de cátions metálicos na forma de sulfetos pouco solúveis, ambos somente pelo ajuste de pH da solução. Exemplo 25: Será possível a separação de íons Fe3+ e Mg2+, ambos 0,1 mol L-1, apenas pelo o controle do pH? Se a resposta for sim, em que faixa de pH esta separação é possível? Calcular a [Fe3+] quando Mg(OH)2 começa a precipitar. Qual será o pH em que a espécie menos solúvel está quantitativamente ausente da solução? UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 267 Dados: Kso(Fe(OH)3)=1,0x10-39 Kso(Mg(OH)2)=1,0x10-11 Fe(OH)3(s)[Fe3+]x[-OH]3 Mg(OH)2(s)[Mg2+]x[-OH]2 (1)[Fe3+]x[-OH]3=1,0x10-39 (2) [Mg2+]x[-OH]2=1,0x10-11 (3) [Mg2+]=0,1mol/L (4) [Fe3+]=0,1mol/L Observação: O balanço de cargas não foi feito porque não é de interesse para o raciocínio e porque não foi dado o tipo de ânion associado aos cátions. Os dois compostos têm razão diferente entre os íons, mas a grande diferença entre as constantes do produto de solubilidade dos dois compostos (o hidróxido férrico é bem menos solúvel que hidróxido de magnésio) indica que a separação é possível. Como curiosidade, na análise sistemática de cátions, o Fe(III) precipita como hidróxido férrico no grupo III, sem precipitar hidróxido de magnésio que é um cátion do grupo V. (a) Cálculo da faixa de pH para a separação quantitativa: - Cálculo da [-OH] ou do pH para que ocorra a precipitação quantitativa de Fe(III): Observação: Lembrar que quando se utiliza a constante do produto de solubilidade, se calcula a concentração máxima de íons na solução, sem que haja precipitação. Logo, para que se forme precipitado tem que ultrapassar essa concentração máxima. a) Considerando que para precipitação quantitativa a [Fe3+]final tenha que ser 1000 vezes menor que a [Fe3+]inicial tem-se que: [Fe3+]final =1/1000 [Fe3+]inicial [Fe3+]final=0,1/1000=1,0x10-4mol/L - Assim, cálculo da [OH-] máxima (ou pH máximo) em solução, sem que haja precipitação de Fe(OH)3: [OH-]=(1,0x10-39/1,0x10-4)1/3 [OH-]=2,15x10-12mol/L pH=2,3 - Cálculo da [OH-] máxima requerida para saturar a solução de Mg2+, sem que ocorra precipitação. [OH-]=(1,0x10-11/0,1)1/2 [OH-]=1,0x10-5mol/L pH=9,0 UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 268 - A faixa de pH para precipitar Fe(III) sem precipitar Mg(II) será: 2,3<pH<9,0. pH< ou = 9,0 não precipita Mg(OH)2 pH>2,3 precipita quantitativamente Fe(OH)3 b) Considerando que para precipitação quantitativa a [Fe3+]final 0,01% da [Fe3+]inicial tem-se que: [Fe3+]final=(0,1x0,01)/100=1,0x10-5mol/L - Assim, cálculo da [OH-] máxima (ou pH máximo) em solução, sem que haja precipitação de Fe(OH)3: [OH-]=(1,0x10-39/1,0x10-5)1/3 [OH-]=4,64x10-12 mol/L pH=2,7 - Cálculo da [OH-] máxima requerida para saturar a solução de Mg2+, sem que ocorra precipitação. [OH-]=(1,0x10-11/0,1)1/2 [OH-]=1,0x10-5 mol/L pH=9,0 - A faixa de pH para precipitar Fe(III) sem precipitar Mg(II) será: 2,7<pH<9,0. pH< ou = 9,0 não precipita Mg(OH)2 pH>2,7 precipita quantitativamente Fe(OH)3 (b) Calcular a [Fe3+] na solução quando pH=9,0, ou seja, quando está prestes a se iniciar a precipitação de Mg(OH)2. Esta [Fe3+] deve ser calculada a partir do Kso do hidróxido férrico. Sabendo que acima da [OH-]máxima=1,0x10-5mol/L, o hidróxido de magnésio precipita, nessa [OH-] calcula-se a [Fe3+] na solução. Assim: [Fe3+]=1,0x10-39/(1,0x10-5)3 [Fe3+]=1,0x10-24mol L-1 (c) A partir de que pH o cátion férrico já é considerado quantitativamente ausente da solução? - Como para estar ausente a [Fe3+]solução final<10-6mol/L. Assim, calculando a [OH-] máxima em solução sem que haja precipitação quantitativa, a partir da [Fe3+]final=10-6 mol/L, pode-se avaliar a partir de que pH o Fe(III) está totalmente precipitado. [OH-]=(1x10-39/10-6)1/3 [OH-]=1,0x10-11 mol/L (pHmínimo=3,0) Conclusão: Em soluções contendo íons Fe(III) e Mg(II), o cátion férrico é removido quantitativamente da solução, pois sua concentração na solução é bem menor 10-6 mol L-1. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 269 No momento da precipitação do hidróxido de magnésio, a concentração de Fe(III) é tão pequena, que pode-se considerar que o Fe(III) está quantitativamente ausente na solução. Daí a separação destes dois cátions pode ser feita tranquilamente em 3,0 < pH < 9,0. PRECIPITAÇÃO SELETIVA DE SULFETOS COM SOLUÇÃO SATURADA DE GÁS SULFÍDRICO E AJUSTE DE pH. Dados: Kso(MeS) H2S, C=0,1mol L-1 Ka1=9,6x10-8 Ka2=1,3x10-14 As separações de cátions, pela saturação da solução com H2S, têm os cálculos favorecidos por um parâmetro constante que é a concentração analítica de uma solução aquosa saturada com gás sulfídrico, a 25ºC. O H2S é um diácido que em solução aquosa se encontra muito pouco ionizado, e somente a primeira ionização é significativa. Antes de utilizar o método matemático para este equilíbrio que envolve o composto pouco solúvel e a ionização do diácido pode-se calcular o pH dessa solução contendo H2S, que sendo saturada tem C=0,1mol/L. Assim: H2S+H2OH3O++HS- HS-+H2OH3O++S2- 2H2OH3O++-OH (1) Ka1[H2S]=[H3O+]x[HS-] (2) Ka2[HS-]=[H3O+]x[S2-] (3) Kw=[H3O+]x[-OH] b.m.: (4) [H2S]+[HS-]+[S=]=0,1 b.c.: (5) [H3O+]=[-OH]+[HS-]+2[S2-] - Para o cálculo do pH da solução de H2S,esprezando [-OH]água0 e [S2-]2a. ionização0 no balanço de cargas, (5), tem-se (5a): (5a) [H3O+]=[HS-] - Considerando que o ácido se ioniza muito pouco no balanço de massa, (5) tem-se (5a): (4a) [H2S]=0,1mol/L - Aplicando (5a) e (6a) em (1): (1) 9,6x10-8x0,1=[H3O+]2 [H3O+]=9,8x10-5mol/L pH=4,01 Assim, soluções aquosas de H2S, C=0,1mol/L, têm pH 4,0. Observação: Sabendo que soluções saturadas de H2S têm pH 4,0, e que nessas soluções a [S2-] é baixíssima, deve-se ajustar o pH para controlar a [S2-] na solução para fazer uma precipitação seletiva. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 270 Utilizando o método matemático para este equilíbrio tem-se: MeS(s) Me2++S2- H2S+H2OH3O++HS- HS-+H2OH3O++S2- 2H2OH3O++-OH (1) Kso=[Me2+]x[S2-] (2) Ka1[H2S]=[H3O+]x[HS-] (3) Ka2[HS-]=[H3O+]x[S2-] (4) Kw=[H3O+]x[-OH] b.m.: (5) [H2S]+[HS-]+[S=]=0,1 b.m.: (6) [Me2+]=C mol/L b.c.: (7) [H3O+]+2[Me2+]=[-OH]+[HS-]+2[S2-] Observação: O balanço de cargas não será utilizado porque não se tem informações sobre a concentração molar do reagente que ajusta o pH do meio reacional. Como em solução aquosa esse ácido praticamente não se ioniza, para precipitar sulfetos metálicos tem-se que controlar a concentração do ânion sulfeto em solução, e este controle de [S2-] na solução é feito pelo ajuste de pH. - Somando as reações referentes a esse diácido tem-se: H2S+H2OH3O++HS- HS-+H2OH3O++S2- H2S+2H2O2H3O++S2- - Ou seja, multiplicando as equações (2) e (3) tem-se (8): (2) Ka1[H2S]=[H3O+]x[HS-] (3) Ka2[HS-]=[H3O+]x[S2-] (8) Ka1Ka2[H2S]=[H3O+]2x[S2-] Assim, Juntando as equações de equilíbrio de uma solução aquosa saturada com gás sulfídrico (C=0,1mol/L) com as equações de equilíbrio de um ou mais compostos pouco solúveis, através do controle do pH, pode-se proceder uma separação seletiva. - Tirando o valor da [S2-] em (1) e adicionando em (8) tem-se: (9) so aa K SHMexKKOH ]][[][ 222123 Que é a equação para calcular a [H3O+]máxima (pHmáximo) em solução sem precipitar o sulfeto metálico a partir de uma solução saturada de H2S. Assim, utilizando (9) tem-se: Exemplo 26: Tem-se 1,0 Litro de solução ácida contendo os cátions Zn2+ e Cd2+, ambos 0,00001 mol L-1. A separação desses cátions pode ser feita por precipitação seletiva com UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 271 solução saturada de H2S 0,1mol/L e ajuste de pH. Utilizando o método matemático informar: (a) Em que faixa de pH esta separação quantitativa é possível. (b) A solução está isenta do cátion que precipita primeiro quando o segundo começa a precipitar? (c) Em que pH a espécie menos solúvel está quantitativamente ausente da solução? Dados: H2S, C=0,1mol L-1, Ka1=9,6x10-8 Ka2=1,3x10-14 Kso(CdS)=1,0x10-27 Kso(ZnS)=1,0x10-20 - Para Cádmio: [H3O+]2=0,00001x1,25x10-21x0,1/1,0x10-27[H3O+]=1,12mol/L pH=-0,05 Observação: O Cd(II) começa a precipitar em [H3O+]=1,12mol/L, meio ácido, e como a escala de pH de Sorensen varia de 0 ([H3O+]=1,0mol/L) a 14 ([H3O+]=10-14mol/L), é por isso que a [H3O+]=1,12mol/L vai corresponder a um pH negativo (pH=-0,05). - Para o zinco: [H3O+]2=0,00001x1,25x10-21x0,1/1,0x10-20 [H3O+]=3,54x10-4mol/L pH=3,45 Resposta: 3,45 (mantém Zn(II) em solução) > pH> -0,05 (ppta CdS) (b) Para a precipitação de CdS ser quantitativa, a [Cd2+] na solução tem que ser 1000 vezes menor que a inicial, ou seja, [Cd2+]=1,0x10-8mol/L. Assim: [H3O+]2=1,0x10-8x1,25x10-21x0,1/1,0x10-27 [H3O+]=0,0354mol/L pH=1,45 Conclusão: O Cd(II) é eliminado da solução sem que ocorra a precipitação do ZnS, bastando somente manter o pH acima de 1,45 e abaixo ou igual a 3,45. UFRRJ – ICE – DEQUIM – IC610 – Q. Analítica II – Texto de Apoio Bibliográfico – 2016-I Prof. Cristina Maria Barra 272 Tabela 2 - Tabela de constantes do produto de solubilidade (Kps) para sais pouco solúveis. Fase sólida Log kps Fase sólida Log kps CaC2O4 -8,77 Ag2C2O4 -11,30 SrSO4 -6,55 BaSO4 -9,96 PbSO4 -7,80 Ag2SO4 -4,80 AgSCN -12,0 Hg2Cl2 -17,88 Pb(IO3)2 -12,59 Ba(IO3) -8,80 MgNH4PO4 -12,6 MgCO3(H2O)3 -4,25 Ca3(PO4)2 -26,0 CaCO3(calcita) -8,18 CaHPO4 -7,0 SrCO3 -9,96 Ca5(PO4)3OH -57,8 BaCO3 -9,26 Ca2+ + HPO4= CaHPO4(aq) Logk=+2,70 Mg2++HCO3- MgHCO3+ Log k=+1,0 Ca2+ + H2PO4- CaH2PO4+(aq) Logk=+1,08 Ca2++HCO3- CaHCO3+ Log k=+1,0 HgS -51,8 ZnS() -23,8 CuS -35,1 ZnS() -21,6 PbS -26,6 CoS -22,1 CdS -26,1 NiS -20,7 SnS -25,0 FeS -17,3 Ag2S -49,6 MnS(rosa) -9,6 Cu2S -48,0 MnS(verde) -12,6 Ag+ + S= AgS- Log k=+23,9 AgS- + H+ AgSH Log k=+5,28 HgS + S= HgS2= Log k=+0,58 HgS2= + 2H+ Hg(SH)2 Log k=+7,0 SnS2 + S= SnS3= Log k=+5,04 ½ As2S3 + ½ S= AsS2- Log k=+1,0 AsS2- + H+ HAsS2 Log k=+3,7 ½ Sb2S3 + ½ S= SbS2- Log k=+0,45 SbS2- + S= SbS33- Log k=+0,44 Observação: As equações químicas em realce referem-se às reações de complexação.
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