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Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB41 Aula 05 Relação de Emprego Objetivos da aula: • Delinear aspectos históricos da relação de emprego. • Identificar os elementos que caracterizam uma relação de emprego. • Demonstrar o tratamento e proteção legal à relação de emprego. Todos nós precisamos trabalhar, seja para nosso sustento, seja somente para nosso orgulho e vaidade, seja para provar algo para alguém, seja para somente ajudar o próximo. Enfim, todos temos uma atividade identificada como trabalho; ou pelo menos a grande maioria. Em função disto, pode parecer que todos nós naturalmente sabemos o que seja relação de emprego, e de fato de uma certa forma todos sabemos. Porém, a legislação, ou melhor, o Direito do Trabalho, delimita e diferencia trabalho de emprego. Esta diferenciação é importante no seu tratamento legal e conseqüências. Nesta aula, iremos estudar o que vem a ser “relação de emprego”, e as conseqüências daí advindas. Vale a pena uma breve viagem histórica... Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB42 Evolução histórica A figura de empregado existe desde quando alguém passou a prestar algum serviço a outrem mediante remuneração. No entanto este “ser” só passou a ter sentido técnico quando nasceu o Direito do Trabalho na Europa, com a Revolução Industrial. A evolução no tratamento dos empregados seguiu desigual, com os empregados da indústria mais protegidos e privilegiados do que os empregados particulares e do comércio. Uma característica que persiste até os nossos dias em alguns países é a dualidade de regulamentação para o operário e para o empregado. Empregado é considerado quem presta uma atividade predominantemente intelectual, e obreiro ou operário é aquele quem executa trabalho predominantemente físico. Sociologicamente, a diferença estaria em que o empregado ocupa uma camada social mais elevada que o operário, tem maior cultura e recebe um salário maior, calculado em base mensal e não horária. Alguns outros países tratam genericamente os trabalhadores de forma unitária, sem dividi-los em forma de escala. No Brasil os primeiros doutrinadores que se ocuparam do Direito do Trabalho, na década de 30 e início da década de 40, escreveram esboçando distinção entre o operário e o empregado. Porém, a lei em vigor no nosso país elimina qualquer possibilidade de discriminação, literalmente diz o artigo 3º. da CLT, em seu parágrafo único: “Não haverá distinções relativas à espécie de emprego e à condição de trabalhador, nem entre o trabalho intelectual, o técnico e o manual”. Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB43 Busca-se no nosso país uma legislação com critério equilibrado, mais humano, portanto, as normas trabalhistas no nosso território aplicam- se indistintamente aos empregados braçais, intelectuais, do comércio, da indústria, etc. Relação de emprego - Definição Relação de emprego é o vínculo jurídico de natureza contratual existente entre empregado e empregador, que tem como finalidade a prestação de trabalho subordinado, pessoal e assalariado. Esta relação de emprego pode surgir de um contrato de trabalho escrito, verbal ou tácito. • Como tácito entende-se a simples tolerância de alguém permitindo e usufruindo o trabalho alheio, tendo os mesmos efeitos e direitos se contrato expresso existisse. O ajuste tácito decorre de um comportamento, deste se tira conclusões acerca da existência de uma relação de emprego. Tácito é o que não é expresso. • O contrato verbal é aquele em que foi conversado, sem que se tenha feito um documento tratando do quanto conversado. • No contrato escrito, as partes estipulam as condições que irão regular a relação, escrevendo-as. Não há obrigatoriedade de contratação escrita, porém, é a que deixa menor possibilidade de dúvidas sobre o que foi pactuado. Empregado Se todo empregado é necessariamente trabalhador, nem todo trabalhador será sempre empregado, porque esta palavra tem um sentido técnico jurídico próprio e está reservada para identificar um tipo especial de pessoa que trabalha. Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB44 A CLT em seu artigo 3º. define empregado: “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. Vejamos os elementos que caracterizam o empregado perante a legislação trabalhista. Trabalho pessoal É o princípio da pessoalidade. Em princípio, empregado será toda pessoa física, excluindo-se, portanto, a pessoa jurídica, porque esta jamais poderá executar o próprio trabalho fazendo-o através de pessoas físicas. Assim que forçosamente o empregado deverá ser pessoa natural. Ainda que o contrato seja por equipe, por exemplo, maestro que contrata pela orquestra que dirige, visa-se a proteção de cada componente individualmente considerado. O trabalho deverá ser executado pessoalmente pelo empregado. Todavia existem situações em que o empregado poderá ser substituído por outrem sem que se descaracterize a relação; é o caso de um professor que não podendo lecionar em determinado dia pede a outro colega que o substitua. Havendo concordância do empregador, e sendo esporádico, não está descaracterizado o princípio da pessoalidade. Serviços não eventuais ou contínuos É o princípio da continuidade. Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB45 Não eventual é o serviço realizado de forma contínua, repetitiva, dentro do avençado pelas partes. O serviço poderá ser não eventual realizado todos os dias, assim como o realizado todas as semanas, em um certo horário, como é o caso de alguns professores, outro exemplo para que fique claro, médico que realiza plantão uma vez por semana de doze horas em determinado hospital. Eventual é aquele serviço prestado de forma não costumeira, esporádico, ocasional. É o caso de um encanador, de um pedreiro, de um marceneiro; os quais podem ser contratados para prestar um serviço em determinado período. Neste caso, não existe a continuidade, não é constante, não há que se falar em relação de emprego. Cabe citarmos o trabalho intermitente, que é aquele contratado para determinada temporada. Como exemplo, citamos os recreadores de hotel contratados para trabalhar na alta temporada. Este trabalho não é considerado esporádico, e é protegido pela legislação trabalhista. Dependência ou Subordinação Esta dependência não é econômica, pois em tese poderia haver empregado com mais posses que seu empregador. A dependência a ser considerada é a jurídica, pois, hierarquicamente o empregador manda, dá ordens e define como o empregado irá realizar o trabalho; já o empregado deverá acatar as ordens, não podendo opor-se às normas, salvo se tratar de algo ilegal ou não previsto no contrato de trabalho. A subordinação exterioriza-se quando o empregador toma decisões quanto ao funcionamento de sua empresa. É o empregador quem escolhe o local de trabalho, quem adquire as ferramentas, utensílios, Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB46 uniformes, e, ainda, tem o empregador a prerrogativa de dar ordens ao empregado, determinando a este o quê, como e onde realizar o seu trabalho. Salário ou remuneração Um dos elementos do contrato de trabalho é a onerosidade. Não existe contrato de trabalho se este for gratuito. É necessário um elemento subjetivo, que é a vontade de trabalhar para outrem, mediante salário, ou remuneração, excluindo-se as hipóteses de trabalho assistencial, voluntário, cívico, religioso ou por amizade. Empregado não trabalhasem remuneração. Qualquer outro trabalho, realizado sem remuneração, como nos casos citados acima, não geram relação de emprego. Diferencça entre trabalhador e empregado Trabalhador é aquele que presta um serviço. Pode ser o proprietário de uma padaria, um advogado que tenha seu próprio escritório, um dentista, um médico, que tenham seus consultórios onde atendam seus clientes, mediante pagamento de consulta. Estes trabalhadores exercem seu trabalho sem qualquer subordinação junto a seus fregueses e pacientes, aqueles que tomam seu serviço. Interessa, portanto, ao Direito do Trabalho o trabalhador empregado. Empregador Nos termos do artigo 2º. da CLT, considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que , assumindo os riscos da atividade Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB47 econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços. Vejamos algumas características: Empregador é a empresa individual ou coletiva Como se vê a definição legal diz empresa, melhor seria se dissesse que empregador é aquele – pessoa física/natural ou jurídica – que utiliza empregados, pois não é só empresa que pode ter empregados. Para o Direito do Trabalho, basta que alguém admita trabalhadores na condição de empregado, para que exista a figura do empregador. Assume os riscos da atividade econômica Assumir riscos é perceber os lucros e arcar com os prejuízos possíveis da atividade. Se o empregador obtém altos lucros com seu empreendimento, não está obrigado a dividir com seus empregados. Entretanto, ocorrendo prejuízo não poderá dividi-lo com os empregados. Ressalte-se que exploração econômica não é fundamental para caracterização de empregador, outras figuras que não realizam exploração econômica são equiparadas a empregador, como profissionais liberais, (advogados, etc), instituições de beneficência, associações recreativas, associações sem fins lucrativos, como sindicatos, etc. Basta que estas figuras admitam empregados para serem consideradas como empregadores. Empregador admite Diz respeito à contratação de empregado. Obviamente que é o empregador pessoalmente ou seu preposto que admite os Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB48 empregados, que escolhe dentre os candidatos. Empregador assalaria O empregado executa os serviços de acordo com as necessidades e sob as ordens do empregador, em contrapartida, percebe salários. Se não houver salário, não haverá a figura do empregado. Dirige a prestação pessoal de serviços O empregador terá o poder de comando sobre o empregado, ou seja, definirá inicialmente o tipo de atividade comercial, empresarial ou industrial, bem como o sistema produtivo, de vendas ou de prestação de serviços. Poderá ainda o empregador supervisionar, acompanhar o trabalho, exigir produção, verificar se está sendo realizado de acordo com seus interesses econômicos. Poderá instituir normas disciplinares, aplicar sanção, sendo a mais comum a advertência e a suspensão. O empregador tem o poder de punir o empregado, devendo antes aplicar o princípio da razoabilidade. Poderes do empregador Os principais poderes do empregador são divididos em três: Poder Diretivo É poder de direção, o empregador tem o direito de dirigir sua atividade como bem lhe aprouver. Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB49 É a faculdade atribuída ao empregador de determinar o modo como a atividade do empregado será desenvolvida, em decorrência do contrato de trabalho. Poder regulamentar É o atributo que tem o empregador de criar normas e regulamentos. Estes se materializam na forma de cartas, avisos, regulamentos, circulares, etc. Por meio dos atos regulamentares baixados, o empregador estabelece os princípios que devem ser observados pelos empregados, traduzindo a cultura da empresa ou do empregador. Naturalmente que as regulamentações não devem ser ilegais, e se forem mais benéficas que norma legal, valerá para o empregado a norma empresarial. Poder disciplinar O poder disciplinar se divide em: advertência, suspensão, e despedida. Não há no sistema trabalhista brasileiro a previsão de aplicação de sanção de forma gradativa. Pode empregado ser despedido sem nunca ter sido advertido ou suspenso. Quanto às advertências escritas, o empregado é obrigado a colocar seu “ciente” na mesma, a negativa constitui-se em insubordinação, dando direito ao empregador de demiti-lo por justa causa, a simples assinatura sem “ciente”, tem valor apenas para recibo de entrega. Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB50 Sucessão de empresas Manifesta-se claramente o aspecto protecionista da legislação trabalhista. Ocorre a sucessão quando uma empresa aliena seu patrimônio a outra. Ocorre alteração quando há modificação na estrutura jurídica. Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará os direitos adquiridos por seus empregados. A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados, artigos previstos na CLT, n. 10 e 448. É o que acontece com a venda de empresas, O comprador assume todo o ativo e passivo, comercialmente, e deve se responsabilizar por todos os direitos dos empregados do vendedor, salvo se este os demiti-los antes e pagar todos os direitos pertinentes. Logo se um empresário adquire uma empresa, os contratos de trabalho existentes entre as partes permanecem iguais. Os contratos extintos antes da aquisição, se restarem débitos para com os empregados, o novo proprietário responderá, pois para o Direito do Trabalho, o importante é a proteção ao empregado. A lei trabalhista é correta, pois se fosse de outro modo, um empregador poderia não respeitar os direitos de seus empregados, e para ver-se livre de suas obrigações, venderia a empresa e os trabalhadores nada receberiam. Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB51 Grupo de empresas solidariedade A CLT conceitua o grupo de empresas para efeitos de solidariedade, no que se refere à relação de emprego, no parágrafo 2º. do artigo 2º.; “sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal, e cada uma das subordinadas”. A proteção e a garantia no que se refere aos direitos dos empregados das empresas pertencentes ao grupo, são grandes, pois a inadimplência de uma das empresas, leva a outra do grupo em função da solidariedade estabelecida. Para que a execução atinja mais de uma empresa do grupo, devem ser citadas desde o início do processo. Vale observar que o empregado que trabalhar para mais de uma empresa de um mesmo grupo econômico, não fará jus a mais de um salário, salvo se houver ajuste contratual previsto no contrato de trabalho. Com esta aula, delimitamos o entendimento de empregado e empregador para o Direito do Trabalho. A partir deste entendimento muitas dúvidas são sanadas, pois algumas situações que poderiam ser percebidas como relação de emprego, como visto não o são. Modernamente muitas são as possibilidades de prestação de serviço, portanto, é de importância desde logo verificar se estamos diante de uma relação de emprego ou de trabalho. Para a continuidade do nosso curso também. Legislação Social e Trabalhista Faculdade On-line UVB52 Ao estudarmos quem é o empregado entendemos interessante no mesmo momentoestudarmos quem é o empregador e seus poderes e direitos. Alguns empregados se revestem de características especiais, que estudaremos na próxima aula. Referências Bibliográficas AF, Cesarino Jr e CARDONE, A. Marly. Direito Social. Vol I, 2º. Edição. Editora LTR. CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. Editora Saraiva, 2003. FILHO, E. de Moraes, e MORAES, Antonio Carlos Flores. Introdução ao Direito do Trabalho. Editora LTR. FILHO, Ives Gandra Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. Editora Saraiva, 2001. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. Editora Atlas, 2000. MELLO, César Augusto. Compêndio de Introdução ao Direito do Trabalho. São Paulo: Editora WVC, 2003. NASCIMENTO, A. M. Iniciação ao Direito do Trabalho. São Paulo: Editora LTR, 2003. RODRÍGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. Editora LTr/ Edusp, 1993. ZAINAGHI, Domingos Sávio. Curso de Legislação Social. São Paulo: Editora Atlas, 2003.
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