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atividades - o mundo de sofia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA/UFSM 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS/CCSH 
GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA 
ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO II 
PROFA. DR. ELISETE M. TOMAZETTI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ELABORAÇÃO DE ATIVIDADES DE FILOSOFIA 
 
 
 
 
 
ATIVIDADES DE INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 
 E FILOSOFIA POLÍTICA 
 
 
 
 
 
 
 
ACADÊMICOS: Ariana, Camila, Lisiane, Mateus, Rafael A. e Tânia. 
 
 
 
 
 
Santa Maria, RS, Brasil 
2009 
 2
1. INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 
 
 
1.1 O QUE É FILOSOFIA? 
 
 
 
 
Etimologia - origem da palavra: 
 Philia = amizade 
 Sophia = sabedoria, conhecimento. 
 
“Nós, [homem comum] que vivemos aqui, somos os bichinhos microscópicos que 
vivem na base dos pêlos do coelho. Mas os filósofos tentam subir da base para a ponta dos 
finos pêlos, a fim de poder olhar bem dentro dos olhos do grande mágico.” 
A partir da citação acima, escreva o que você compreendeu sobre a diferença entre o 
“homem comum” e o filósofo. 
 
 
 
 
 
No livro O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder expõe uma situação figurativa para 
explicar o que é ser filósofo e o que o diferencia do “homem comum”. Para tanto, ele nos trás 
o exemplo de um mágico que retira de sua cartola um coelho que simboliza o mundo. 
Nos pêlos desse coelho existem “bichinhos microscópicos”, alguns residem na base 
dos pêlos, são os homens comuns, ou seja, pessoas que estão costumadas com o mundo em 
que vivem, estão na escuridão da base dos pêlos, não se perguntam sobre o mundo e estão 
acomodadas no conforto da pelagem do coelho, aceitando, assim, as coisas como são. Elas 
não se questionam, portanto, por que as coisas não são diferentes do que se apresentam a elas, 
tendo como verdades, principalmente, o que vêem e o que ouvem. 
O filósofo, por sua vez, sobe da base para as pontas dos pêlos do coelho em busca da 
iluminação do conhecimento que lhe permite questionar o mundo em que vive, ou seja, a 
filosofia existe para fazer questionamento que os “homens comuns” não fazem. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3
 
 
 
 
Perguntas do “Homem comum” Perguntas do Filósofo 
Que horas são? O que é o tempo? 
Ele está sonhando. O que é sonho? 
Maria ficou maluca. O que é a loucura? 
Onde há fumaça, há fogo. O que é causa? O que é efeito? 
As flores são bonitas. O que é o belo? 
Você é um mentiroso! O que é a verdade? O que é o erro? O que 
é a mentira? 
 
Fazer perguntas como as citadas a cima diz respeito à atitude da filosofia. Com estas 
perguntas ela quer investigar conceitos, abordando-os de forma crítica e reflexiva. 
 
 
 OBSERVAÇÃO: fazer perguntas filosóficas NÃO é função exclusiva de quem tem 
graduação em filosofia, qualquer pessoa pode filosofar, porém, nem tudo é filosofia. Um dos 
passos para nos tornarmos filósofos é começar ver o mundo de outra forma, ou seja, não 
apenas fazer afirmações, mas ir além, fazendo destas afirmações verdadeiros questionamentos 
filosóficos. 
 
EXERCÍCIO: Partindo do que você compreendeu e da reportagem abaixo, encontre 
possíveis perguntas filosóficas: 
 
 
 4
1.2 DEFINIÇÕES ACERCA DO CONCEITO DE FILOSOFIA 
 
 
Muitos filósofos definiram o que é filosofia. Vejamos alguns: 
 
“A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”. 
Merleau - Ponty. 
 
“A filosofia é uma batalha contra o enfeitiçamento de nossa inteligência por meio da 
linguagem” 
Ludwig Wittgenstein. 
 
“Não devemos fingir fazer filosofia, e sim realmente faze-la; pois precisamos não da 
aparência de saúde, mas de saúde verdadeira”. 
Epicuro. 
 
“Não se aprende filosofia, mas a filosofar” 
Kant. 
 
“A tarefa da filosofia é entender o que é, pois o que é é a razão”. 
Hegel. 
 
“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que 
importa é transformá-lo”. 
Karl Marx. 
 
 
 
REFLITA: Baseado no que já foi dito em aula e nas definições citadas acima: O que é 
filosofia? O que não é filosofia? Para que serve a filosofia? 
 
 
 
 
 
 cartaz. (o que é filosofia, o que não é filosofia, conceitos que podem ser explicados 
pela filosofia). 
 5
TRABALHO EM GRUPO: 
 
 Distribuir a cada grupo um quebra-cabeça de figuras. Deixar com que os grupos se 
divirtam e tentem montar o quebra-cabeça. Posteriormente, o professor em conjunto com a 
turma, monta a figura do quebra-cabeça de forma desordenada e expõe para a turma , na 
tentativa que identifiquem a figura. Notando a desordem, os grupos deverão organizar o 
quebra-cabeça e apresentar novamente à turma, que deverá identificar a figura formada. 
 Após isso, discutir em conjunto, quais foram as dificuldades inicialmente em 
identificar a figura montada. Questionar os alunos porque os homens têm dificuldade em 
compreender as coisas, quando estas não estão dentro de certa ordem? No que a filosofia viria 
ajudar neste casos? Qual o papel da filosofia para o pensamento humano? 
 Posteriormente a discussão, solicitar que os grupos criem um texto explicando e 
argumentando qual a importância da ordem do nosso pensamento. 
 
 
 
1.3 O QUE NÃO É FILOSOFIA? 
 
 
A) Filosofia X Mito. 
 
 Para explicar a diferença entre filosofia e mito é preciso ter clareza do que seja o mito. 
Mito é uma narrativa fantástica sobre a origem de alguma coisa, ele é ausente de ciência, ou 
seja, um mito não depende de comprovações de hipóteses, mas depende da confiança entre 
quem conta-o e quem o ouve. O mito é, portanto, incontestável e inquestionável. 
 
 
O MITO GREGO SOBRE A ORIGEM DO MAL: A CAIXA DE PANDORA 
 
 
 
 
 
 Hefesto fez uma mulher belíssima chamada Pandora e a apresentou a Zeus antes de ela 
descer à superfície da Terra. Zeus, admirado com a obra de Hefesto, despachou Pandora 
para a Terra, mas antes lhe deu uma grande e belíssima caixa de marfim ornamentada 
fechada e também lhe deu a chave, dizendo-lhe: “Quando você se casar, ofereça esta caixa 
como dote ao seu marido, mas a caixa só pode ser aberta após seu casamento”. 
 Em pouco tempo, Pandora conheceu Epimeteu, irmão mais novo de Prometeu e logo 
se casaram. Epimeteu viajava constantemente e, certa vez, ficou muito tempo longe de casa. 
Pandora sentia-se só e triste. Lembrou-se da caixa e foi até o canto onde estava guardada 
 6
examiná-la curiosamente. Enquanto observava os lindos detalhes e adornos externos, 
Pandora pareceu ouvir pequenas vozes gritando lá de dentro e dizendo: “Deixe-nos sair! ... 
Deixe-nos sair...”. Pandora não podia esperar mais. Foi correndo buscar a chave e 
imediatamente abriu a tampa da caixa. Para sua grande surpresa centenas de pequeninas e 
monstruosas criaturas, parecendo terríveis insetos, saíram voando lá de dentro, com um 
zumbido assustador.Logo a nuvem desses insetos cobriu o sol, e o dia ficou escuro e cinzento. 
Apavorada, Pandora fechou a caixa e sentou-se sobre a tampa. Ela estava tendo toda a 
espécie de sentimentos e pensamentos sombrios e odiosos que nunca tivera antes. Sentiu 
raiva de si mesma por ter aberto a caixa. Sentiu uma grande onda de ciúme de Epimeteu. 
Sentiu-se raivosa e irritada. Percebeu que estava doente de corpo e de alma. 
Súbito pareceu-lhe ouvir outra voz gritando de dentro da caixa: “Liberte-me! Deixe-me sair 
daqui!”. Pandora respondeu rispidamente: “Nunca! Você não sairá ! Já fiz tolice demais em 
abrir essa caixa!” Mas a voz prosseguiu de dentro da caixa: “Deixe-me sair, Pandora! Só eu 
posso ajudá-la!” 
Pandora hesitou, mas a voz era tão doce, e ela se sentia tão só e desesperada,que 
resolveu abrir a caixa. De lá de dentro saiu uma pequena fada, com asinhas verdes e 
luminosas que clarearam um pouco aquele quarto escuro, aliviando a atmosfera que se 
tornara pesada e opressiva. “Eu sou a Esperança”, disse a fada. E prosseguiu: “Você fez 
uma coisa terrível,Pandora! Libertou todos os males do mundo: egoísmo, crueldade, inveja, 
ciúme, ódio, intriga, ambição, desespero, tristeza, violência e todas as outras coisas que 
causam miséria e infelicidade. Zeus prendeu todos esses males nessa caixa e deu a você e a 
seu marido. Ele sabia que você iria, um dia, abrir essa caixa. Essa é a vingança de Zeus 
contra Prometeu e todos os homens, por terem roubado o fogo dos deuses! 
Chorando copiosamente, Pandora disse: “Que coisa terrível eu fiz! Como poderemos 
pegar todos esses males e prendê-los novamente na caixa?” “Você nunca poderá fazer isso 
Pandora!” Respondeu tristemente a fada da Esperança. “Eles já estão todos espalhados pelo 
mundo e não podem mais ser presos!” “Mas há algo que pode ser feito: Zeus enviou-me 
também, junto com esses males, para dar esperança aos sofredores, e eu estarei sempre com 
eles, para lembrar-lhes que seu sofrimento é passageiro e que sempre haverá um novo 
amanhã !” 
 
 
Conclusão: Portanto, enquanto o mito relata a existência das coisas pela explicação 
fantástica, a filosofia se questiona sobre o que são e como tem origem às coisas que existem. 
 
 
 
REFLITA: E hoje, após tanto tempo do nascimento da filosofia, nos “livramos” das 
explicações mitológicas? Ou, você lembra-se de algum caso em que, por não saber explicar, 
relatou ou acreditou em alguma história “suspeita” de ser mitológica? 
 
 
EXERCÍCIOS: 
 
Diferenciando mito de filosofia: entregar à turma vários tipos de mitos, para que os 
alunos façam a leitura dos mesmos. Após este primeiro passo, discutir com os alunos que tipo 
de texto é este, para que serve, quando é utilizado, etc. Deixar os estudantes falarem e 
contarem outros mitos que eles conheçam. 
Os alunos podem também colocar a em prática a sua criatividade e criarem mitos, ou 
seja, inventarem explicações para a criação de coisas e acontecimentos da atualidade. 
 7
TRABALHO EM GRUPO: 
 
 Pesquisar os mitos subjacentes nas produções culturais, por exemplo, em telenovelas, 
filmes, propagandas, histórias em quadrinhos, etc. Cada grupo faz um relatório e em seguida 
abre-se para a exposição dos temas e debates em sala de aula. Após a apresentação de todos 
os mitos pesquisados, buscar identificar em cada um deles, as características constitutivas dos 
mesmos: contam uma história sagrada, relatam um acontecimento ocorrido no tempo, narram 
as façanhas dos entes sobrenaturais, narram uma realidade que passou a existir, um 
comportamento humano, uma instituição. É uma narrativa de criações, relatam de que modo 
algo foi produzido e começou a ser, se tornando modelo exemplar de todas as atividades 
humanas significativas. 
 
 
 
B) Filosofia X Religião. 
 
 As religiões, assim como o mito, tentem responder por que o Universo e as coisas 
presentes nele existem. Porém, diferente dos mitos que são transmitidos levando em conta 
apenas à confiança existente na relação narrador-ouvinte, a religião utiliza a institucionalização 
do sentimento do sagrado, o que implica em rotinas e dogmas, comemorados em rituais, 
visando rememorar e fixar o acontecimento mítico primordial. 
Em se tratando da filosofia, podemos dizer que ela diverge da religião quanto ao 
caminho para se chegar à verdade. Enquanto a filosofia utiliza-se da razão, do pensamento 
lógico (veremos o que é isto mais adiante) para chegar à verdade, a religião acredita chegar a 
ela pelas escrituras e pela revelação baseada na fé. 
A religião trata de muitas questões que a filosofia também se debruça, mas a primeira 
atribui mais valor à fé do que à aplicação das faculdades da razão aceita pela filosofia. 
 
 
 
C) Filosofia X Ciência. 
Enquanto a ciência explica as coisas através dos cinco sentidos, começando pela 
observação dos fatos e perpassando por outras fases no intuito de confirmar ou refutar 
hipóteses, a filosofia vai além das indagações científicas. Ela ultrapassa o ponto em que a 
ciência poderia nos fornecer respostas. 
Assim, por exemplo, enquanto a pergunta “por que as coisas existem?” é explicada pelos 
cientistas através do Big Bang, a filosofia, neste caso, poderia se perguntar “por que há 
alguma coisa e não nada?”, e a esta pergunta a ciência não teria resposta. 
 
 
 
 
1.4 OS PRINCIPAIS PERIODOS DA FILOSOFIA: 
 
Filosofia antiga 
(VI a.C. – VI d.C.) 
1. Período pré-socrático ou cosmológico: A filosofia se ocupa com a 
origem do mundo e as causas das transformações na Natureza. 
2. Período socrático ou antropológico: a filosofia investiga as 
questões humanas, isto é, a ética, a política, as técnicas. 
3. Período sistemático: a filosofia busca reunir e sistematizar tudo 
que foi pensado sobre cosmologia e antropologia, interessando-se 
 8
em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico. 
4. este período alcança Roma e os primeiros padres da igreja, a 
filosofia ocupa-se com as questões da ética, do conhecimento 
humano, e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com 
Deus. 
Filosofia patrística 
(I d.C. – VII d.C.) 
A patrística resultou do esforço feito por dois apóstolos: Paulo e 
João e pelos primeiros padres da igreja para conciliar a nova religião 
– o cristianismo – com o pensamento filosófico dos gregos e 
romanos. A filosofia patrística liga-se a tarefa religiosa da 
evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos 
e morais que recebia dos antigos. 
Filosofia medieval 
(VII d.C. – XIV d.C.) 
É o período em que a Igreja Romana dominava a Europa, ungia e 
coroava reis, organizava cruzadas à Terra Santa e criava, à volta das 
catedrais, as primeiras universidades ou escolas. Sendo chamada, a 
partir do século XII, com o nome de Escolástica. Teve como 
influencias principais: Platão e Aristóteles. Durante este período 
surge propriamente a filosofia cristã, a teologia. Um de seus temas 
mais constantes são as provas da existência de Deus e da alma. 
Filosofia da 
renascença 
(XIV d.C. – XVI d.C) 
É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na 
Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela 
recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e 
romanos. 
 
Filosofia moderna 
(XVII d.C. – VIIId.C.) 
Esse período, conhecido como o grande racionalismo clássico, é 
marcado por três grandes mudanças intelectuais. 
1. A filosofia em lugar de começar seu trabalho conhecendo a 
Natureza e Deus, começa pelo sujeito do conhecimento como 
consciência de si reflexiva, ou seja, o homem questiona-se sobre sua 
capacidade de conhecer. 
2. Tudo que pode ser conhecido deve poder ser transformado num 
conceito ou numa idéia clara e distinta, demonstrável e necessária, 
formulada pelo intelecto. 
3. A realidade pode ser conhecida e modificada pelo homem. Nasce 
a idéia de experimentação e de tecnologia e o ideal de que o homem 
poderá dominar tecnicamente a Natureza e a sociedade. 
Obs.: Diferente da Idade Média que concebia o homem como 
subordinado a uma força superior: Deus, a Idade Moderna, vê o 
homem como transformador da realidade em que vive. 
Filosofia do 
Iluminismo 
(XVIII d.C. – XIX 
d.C.) 
Este período também crê nos poderes da razão, chamado de As 
Luzes. Aqui há grande interesse pelas ciências que se relacionam 
com a idéia de evolução e, por isso, a biologia terá um lugar central 
no pensamento ilustrado, pertencendo ao campo da filosofia da vida. 
Filosofia 
contemporânea 
(XIX d.C - ... (hoje) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9
1.5 NASCIMENTO DA FILOSOFIA: 
 
 
A filosofia nasceu na Grécia no final do século VII e início do século VI antes de Cristo. 
 
 
OS PRÉ-SOCRÁTICOS: 
 
 Os primeiros filósofos que existiram na Grécia queriam descobrir qual era a substância 
básica que estava por trás de todas as transformações, ou seja, queriam entender os fenômenos 
naturais. Por isso, ficaram sendo denominados de “filósofosda natureza”. Vejamos alguns: 
 
 
1. TALES DE MILETO: Tales acreditava ser a água o que dava origem a todas as coisas. 
 
 
2. ANAXIMENES: Acreditava ser o ar ou o sopro de ar a substância básica das coisas. 
 
 
3. PARMÊNIDES: acreditava que tudo que existe sempre existiu e que, portanto, nada pode 
surgir do nada ou se transformar em algo diferente do que é. Assim, dizia que as 
transformações do mundo que percebemos através dos sentidos é uma ilusão destes. Ele 
acreditava apenas no que sua razão lhe dizia. 
 
 
4. HERÁCLITO: Ao contrário de Parmênides, ele acreditava nos sentidos e dizia que tudo 
está em movimento e nada dura pra sempre. Assim, ele dizia que “não podemos entrar duas 
vezes no mesmo rio”, pois tanto o rio, quanto nós mudamos constantemente. Para Heráclito o 
mundo é uma interação de opostos, ou seja, para saber o que é a paz é preciso a guerra, para 
saber o que é a verdade é preciso a mentira, etc. 
 
 
 
REFLITA: Você confia mais na sua razão ou nos seus sentidos? 
 
 
 
5. EMPÉDOCLES: Dizia que tanto Parmênides quanto Heráclito haviam errado, pois 
assumiram apenas um elemento como substância principal. Porém, concordava com 
Parmênides, pois um elemento sozinho não se transforma (lembre-se de suas aulas de 
química) e concordava com Heráclito quando este dizia que devemos confiar em nossos 
sentidos, pois a natureza está em transformação. 
 Empédocles dizia que haviam quatro elementos básicos: a terra, o ar, o fogo e a água. 
Estes elementos se combinavam e depois voltavam a se separar para então se combinarem 
novamente. 
 
 
6. DEMÓCRITO: Dizia ser o átomo a menor unidade da matéria (hoje se sabe que isto não é 
verdade), sendo ele eterno, imutável e indivisível (influência de Parmênides). Estes átomos 
 10
que são unidades firmes e sólidas ao se unirem dão origem a formas diferentes que vem e vão 
(influência de Heráclito). 
 
 
 
OBSERVAÇÃO: Saber o que cada “filósofo da natureza” defende não é o mais importante. 
Porém, é preciso ter claro que eles passaram a explicar o mundo de outra maneira, não mais 
pautados pelas explicações míticas, mas baseados na observação empírica da natureza, dando 
origem a forma científica de pensar. 
 
 
 
PERÍODO ANTROPOLÓGICO: 
 
 Ao contrário dos Pré-socráticos que questionavam sobre a origem do mundo, os 
filósofos deste período investigam as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas, 
além de conceitos como justiça, bem, virtude, conhecimento, verdade e outros. 
 
 
1. SOFISTAS: Eram professores viajantes que vendiam ensinamentos práticos de filosofia. 
Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios públicos e privados. Assim, 
tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, 
do conhecimento de doutrinas divergentes, no intuito de ensinar como convencer as pessoas. 
 Para os sofistas, as opiniões humanas são infindáveis, diversas e não podem ser 
reduzidas a uma única verdade. Não existem valores ou verdades absolutas. Assim, os sofistas 
foram acusados, principalmente, por Platão de manipuladores de raciocínio, ou seja, de 
produzir o falso, de iludir os ouvintes, sem qualquer amor pela verdade. 
 
 
 
2. SÓCRATES: 
 
 
 
 
 
Sócrates era filho de uma parteira e de um escultor e, inspirado em seus pais, tinha a 
intenção de esculpir um homem que fosse capaz de dar a luz a suas próprias idéias. Pela sua 
abordagem antropológica, ou seja, por interessar-se por questões humanas, atribui-se a ele a 
frase “conhece-te a ti mesmo”, inscrita no Oráculo de Delfos. 
Sócrates desenvolvia sua filosofia em praça pública, dialogando com todos: jovens e 
velhos, ricos e pobres, escravos e cidadãos. Ele procurava a essência de questões feitas pelo 
homem como: O que é bem? O que é justiça? O que é a virtude?, ou seja, ele queria descobrir 
 11
o que esses conceitos eram em sua validade universal. Para tanto, sua filosofia era 
desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser 
divididos em dois momentos: a ironia e a maiêutica. 
 
 
Ironia: No grego, ironia quer dizer “interrogação”. Sócrates interrogava seus 
interlocutores sobre aquilo que pensavam. Ele procurava evidenciar as contradições afirmadas 
e os problemas das afirmações proferidas. Seu objetivo era demolir o orgulho, a arrogância e a 
presunção do saber. Para Sócrates, a primeira virtude do sábio é adquirir consciência da 
própria ignorância, assim, ele dizia: “só sei que nada sei”. 
Vejamos como Sócrates utilizava a Ironia, através de um trecho da República de Platão, onde 
Sócrates interroga seus interlocutores a respeito do que seja a justiça. 
 
 
Sócrates – Falaste admiravelmente, Céfalo. Mas é que se deve entender por essa 
mesma qualidade, a justiça, a que te referes? Devemos defini-la como nem mais 
nem menos que veracidade e restituição do que um homem recebeu de outro? Ou 
é possível, por atos desta mesma natureza, ser as vezes justo, as vezes injusto? 
Exemplificando: todos admitem sem dúvida que, se um homem, na posse de suas 
faculdades, pusesse armas perigosas nas mãos de um amigo, e, mais tarde, em um 
acesso de loucura as reclamasse, aquele não deveria restituir o depósito e 
praticaria uma injustiça se o fizesse ou dissesse ao tal toda a verdade a respeito do 
seu estado mental. 
Céfalo – Dizes bem. 
Sócrates – Logo, é falsa definição de justiça a que a faz consistir em dizer a 
verdade e restituir o que se recebeu. 
 
 
 
Maiêutica: Termo grego que significa “arte de trazer luz”. Depois de libertar os 
discípulos da pretensão de que tudo sabiam Sócrates, nesta segunda fase do diálogo, tinha 
como objetivo ajudá-los a conceber suas próprias idéias. Assim, a exemplo de sua mãe, que, 
sendo parteira, ajudava a trazer crianças ao mundo, Sócrates transportava para o campo da 
filosofia a intenção de ajudar seus discípulos a parir suas próprias idéias. 
 Como vimos, Sócrates dialogava com todos (jovens e velhos ricos e pobres, escravos e 
cidadãos). Tal atitude era vista pela democracia ateniense, da qual não participava a maioria 
da população (escravos, estrangeiros e mulheres), como uma conduta subversiva que 
representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a ordem vigente já que 
Sócrates não fazia distinções de classe ou posição social dos que com ele dialogavam. Por 
esse motivo, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a 
juventude, sendo condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta de mesmo nome). 
Sócrates morreu sem ter renunciado a seus maiôs caros valores morais. 
 A morte de Sócrates é contada por seu discípulo Platão no diálogo Fédon: 
 
 
Echecrates – Estava tu mesmo, Fédon, ao lado de Sócrates, no dia em que ele 
bebeu o veneno na prisão, ou, então, ouviste de outrem aquilo que sabes? 
Fédon – Eu ali estava em pessoa, Echecrates. 
Echecrates – Pois bem; e de que falou, antes de morrer, o nosso amigo? E como 
morreu? Eis o que eu desejaria saber. Dos meus concidadãos de Filionte, com 
efeito, nenhum se encontra presentemente em Atenas; e também dali não chega há 
muito tempo nenhum forasteiro capaz de contar-nos com exatidão como se 
 12
passaram as coisas, a não ser que ele morreu depois de ter bebido o veneno. E de 
tudo o mais, nada conseguimos saber. 
 
 
 
OBSERVAÇÃO: Esse é apenas o início do diálogo. Se você, assim como Echecrates, quer 
saber como Sócrates morreu e de que falou antes de morrer, leia-o até o fim. 
 
 
 
3. PLATÃO: Nascido em Atenas (427-347 a.C) pertencia a uma das mais nobres famílias 
atenienses. Ele foi discípulo de Sócrates e após a morte de seu mestre empreendeu inúmeras 
viagens. Em 387 a. C. retornou a Atenas, onde fundou sua escola a Academia. Um dos 
aspectos mais importantes da filosofia de Platão é sua teoria das idéias, com a qual procura 
explicarcomo se desenvolve o conhecimento humano: passagem do “mundo dos sentidos” 
para o “mundo das idéias”. 
 Segundo Platão a primeira etapa de nosso conhecimento se dá pelas impressões ou 
sensações advindas do mundo dos sentidos. Essas impressões são responsáveis pelas opiniões 
(doxa) que temos da realidade. No entanto, o conhecimento que vem dos sentidos não são 
confiáveis, pois estão em constante transformação (influência de Heráclito) e deles nada 
podemos verdadeiramente conhecer ou afirmar. 
 O conhecimento, entretanto, para ser autêntico e atingir o domínio do eterno e 
imutável (influencia de Parmênides), deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o 
plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das idéias. Para atingir 
esse mundo, o homem não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia), mas precisa 
possuir um “amor ao saber” (filosofia). 
 É no mundo das idéias, que segundo Platão, moram os seres totais e perfeitos: a 
justiça, a bondade, a coragem, a sabedoria, etc. 
 
 
 
O mito da caverna: Platão criou uma alegoria, conhecida como mito ou alegoria da 
caverna, que serve para explicar a evolução do processo de conhecimento. 
 
Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na 
caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna 
permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Ficam de costas para a entrada, 
acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da 
caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa 
uma fogueira. Os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.Um dos 
prisioneiros decide abandonar essa condição e fabrica um instrumento com o qual quebra os 
grilhões. Aos poucos vai se movendo e avança na direção do muro e o escala, com 
dificuldade enfrenta os obstáculos que encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas 
que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza. 
 
Vejamos o mito da caverna de uma maneira mais divertida: 
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EXERCÍCIO: O que você compreendeu da charge? De que maneira podemos dizer que a 
“idéia” presente no mito da caverna de Platão pode ser estendida ao nosso dia-a-dia? (fazer 
em grupo e entregar no final da aula). 
 
 
 
Os filósofos no poder: Desiludido com a democracia grega que matara seu mestre 
Sócrates, Platão em seu livro A República, imaginou uma sociedade ideal, governada por reis-
filósofos. Ele comparou a sociedade com o corpo humano. No baixo-ventre, onde estão os 
desejos ou prazer deveriam ficar os trabalhadores que precisam ser controlados. No peito, 
onde reside à vontade, deveriam encontrar-se os sentinelas, para mostrar coragem e na cabeça, 
onde encontra-se a razão devem estar os filósofos para que aspirem a sabedoria. Para Platão, 
portanto, somente os filósofos, amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da caverna 
das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e sabedoria. 
 
 
 
4. ARISTÓTELES: Aristóteles nasceu em Estagira, na Macedônia (384-322 a.C.). Ele era 
filho de Nicômacos, médico do rei da Macedônia, de quem herdou o interesse pelas ciências 
naturais. Aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na academia de Platão, de quem se 
tornou discípulo. Com a morte do mestre, partiu para a Ásia menor. Pouco tempo depois, foi 
convidado por Felipe II, rei da Macedônia, para dar aula a seu filho Alexandre. A amizade de 
Aristóteles e Alexandre foi interrompido quando este assumiu a direção do Império 
Macedônico, em 340 a.C.). pouco tempo depois, Aristóteles voltou a Atenas onde fundou sua 
escola: o Liceu. 
 Após a morte de Alexandre, os sentimentos antimacedônicos ganharam intensidade 
em Atenas e devido a sua ligação com a corte macedônica, Aristóteles passou a ser 
perseguido. Foi então que ele decidiu abandonar Atenas, dizendo querer evitar que os 
atenienses “pecassem duas vezes contra a filosofia” (a primeira vez teria sido com Sócrates). 
 
 
 
O discípulo discorda do mestre: Aristóteles rejeitava a teoria das idéias de Platão, 
segundo a qual a realidade do mundo dos sentidos não passa de sombras ou ilusões da 
verdadeira realidade do mundo das idéias. Para Aristóteles, a observação da realidade leva-
nos a constatação da existência de inúmeros seres individuais, concretos, mutáveis, que são 
captados por nossos sentidos. Partindo dessa realidade empírica a ciência deve buscar as 
estruturas essenciais de cada ser, ou seja, partindo de um número x de indivíduos observados 
a ciência deve constatar o que este grupo de coisas tem em comum. Exemplo: ao observarmos 
um grupo de cavalos, constatamos através de nossos sentidos que eles são diferentes entre si, 
mas existem elementos que todos possuem, o que nos faz concluir que eles sejam cavalos e 
não galinhas. A estes elementos comuns Aristóteles chama FORMA, o que difere da 
SUBSTÂNCIA que é o material de que cada cavalo individual se compõe. Assim, Aristóteles, 
diferente de Platão, dizia que primeiro vem os sentidos e depois as idéias. 
 
 18
 
 
 
A nova interpretação para as mudanças do ser: Assim como Platão, retoma a 
discussão sobre o caráter estático (Heráclito) e permanente (Parmênides) do ser. Para resolver 
esta questão, Aristóteles propõe um nova interpretação segundo a qual em todo ser devemos 
distinguir: o ATO como manifestação atual do ser, aquilo que já existe; e a POTÊNCIA como 
as possibilidades do ser, aquilo que ainda não é mas pode vir a ser. Exemplo: a árvore que 
está sem flores pode tornar-se com o tempo uma árvore florida. Ao adquirir flores, essa árvore 
manifesta em ato aquilo que já continha, intrinsecamente, em potência. Por outro lado, pode 
acontecer que pelas condições climáticas, uma árvore que deve dar flores não venha a 
florescer. Esse caso Aristóteles classifica como um acidente, ou seja, algo que não ocorre 
sempre, é circunstancial e por isso não-essencial ao ser, não necessários para definir a 
natureza própria de cada ser. 
 A passagem da potência ao ato não se dá ao acaso, mas é causada. Para ele, existem 
quatro tipos de causas fundamentais: causa material (refere-se a matéria de que é feita uma 
coisa), causa formal (refere-se a forma, a configuração de uma coisa), causa eficiente (refere-
se ao agente que produziu a coisa) e causa final (refere-se ao objetivo de ser de uma coisa). 
 
 
 
Felicidade do Homem: Aristóteles define o homem como ser racional e considera a 
atividade racional, o ato de pensar, como a essência humana. Para ele: “(...) para o homem a 
vida conforme a razão é a melhor e a mais aprazível, já que a razão, mais que qualquer outra 
coisa, é o homem. Donde se conclui que essa vida é também a mais feliz”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19
2. INTRODUÇÃO À FILOSOFIA POLÍTICA 
 
 
2.1 TEXTOS INTRODUTÓRIOS: 
 
A filosofia política visa fazer uma reflexão sobre os fenômenos políticos1. Esta análise 
possui fundamentalmente os seguintes objetivos: 1) determinar as características próprias do 
fenômeno político e os elementos que o distinguem de outros fenômenos existentes no vasto 
campo dos fenômenos sociais; 2) avaliar criticamente o método seguido pelos estudiosos que 
se ocupam/ocuparam de tais fenômenos; 3) avaliar as razões por eles propostas para explicar 
as relações entre os fenômenos políticos e os demais fenômenos; e, por fim, 4) examinar os 
vários modelos ideais de uma sociedade perfeita que influenciaram de alguma forma na 
construção do pensamento político de inúmeros pensadores. 
 Segundo Norberto Bobbio (2000), pode-se distinguir a filosofia política pelo menos 
em quatro diferentes formas: 
 
 I – Filosofia Política como construção de um modelo ideal de Estado: esta primeira 
forma visa a teorizaçãode um Estado ideal indiferentemente da possibilidade de sua aplicação 
efetiva. 
Geralmente este Estado ideal é construído sob a base de um critério de valor absoluto, 
os pensadores que teorizam tal Estado buscam encontrar a solução definitiva do problema do 
político baseando-se em um valor supremo e absoluto de justiça, isto é, uma ordem justa é 
condição indispensável para a realização de um ordenamento social e político perfeito. 
Fundamentalmente o problema político é o da injustiça. O exemplo mais notório deste tipo de 
filosofia é A República de Platão. 
 
 
 II – Filosofia Política como busca do fundamento que legitima o poder: esta forma 
busca fazer a análise do fundamento das relações políticas, das razões do vínculo de 
dependência que elas comportam, ou seja, determinar o porquê do Estado, os motivos que 
explicam a obediência que os homens prestam ou negam ao poder. 
Vários pensadores modernos e contemporâneos se ocuparam largamente de tal 
concepção de filosofia política. Max Weber, por exemplo, expõe três formas de legitimação 
do poder: 1) Tradicional (obediência ao poder aceita por tradição, por exemplo, o pátrio poder 
ou uma monarquia absolutista hereditária); 2) Carismática (sujeição da maior parte das 
pessoas à ações de um líder que pelo seu carisma conquista o consenso); e 3) Racional 
(obediência ou sujeição aceita por meio de determinação consciente como um cálculo 
utilitário por exemplo). Outros exemplos são Hobbes, Locke e Rousseau, este último 
inclusive fazendo uma distinção entre a existência do poder e sua legitimidade que se dá 
através da aceitação do poder de um indivíduo ou grupo de indivíduos por parte da maioria. 
Em geral, teorias da legitimação limitam-se a indicar em que condições o poder deve 
se submeter para ser aceito como válido, deixando indeterminados os modos pelos quais essas 
condições podem ser de fato realizadas. Um exemplo disso é a existência de uma 
multiplicidade de sistemas políticos justificados por um único princípio, o “princípio 
democrático”. 
 
 
1 Fenômeno: designa um objeto específico do conhecimento humano que é percebido pelo aparato cognoscível 
humano sob condições particulares. Um dos objetivos da filosofia política é determinar que condições 
particulares são estas que permitem que um fenômeno possa ser denominado como sendo político. 
 20
III – Filosofia Política como determinação do conceito ou categoria do político: 
esta terceira forma busca determinar o conceito geral de política, do que a caracteriza como 
um fenômeno distinto de outros fenômenos sociais. 
Benedetto Croce, em sua análise sobre a filosofia política, expõe que esta foi iniciada 
com a descoberta da autonomia da política, na identificação de características e leis próprias 
da atividade política, distintas especialmente da moral. Neste sentido, Maquiavel seria o 
descobridor da categoria da política por ser o primeiro pensador a distinguir entre política e 
moral, identificando nas primeiras leis próprias muitas vezes antagônicas à moral. 
O principal problema desta definição de filosofia política é que ela é exclusiva. 
Seguindo fielmente tal forma, deixaríamos de tratar como filosofia política obras de 
pensadores como Rousseau, Hegel, Marx, Aristóteles, Stuart Mill entre muitos outros. É 
inegável admitir que tais pensadores “filosofaram” sobre a política, mesmo que não seja da 
mesma forma que Maquiavel. 
Alguns autores importantes que seguiram a fórmula de Maquiavel: Gaetano Mosca e 
Vilfredo Pareto – disseram que a essência do fenômeno político consiste na imposição do 
poder por parte de uma minoria sobre uma maioria (por exemplo, governantes sobre uma 
sociedade). 
Carl Schmitt – encontrou o que é próprio da política na relação amigo-inimigo, na 
solidariedade do grupo perante o desafio ou a ameaça de um adversário (como quando a 
maior parte dos norte-americanos era a favor da invasão do Afeganistão). 
Em ambos os casos, a filosofia política é atribuída a função de determinar as 
características diferenciais do fenômeno político, sendo este reduzido, em última instância, a 
uma relação de forças. 
 
 
IV – Filosofia Política como análise da linguagem política: aqui a filosofia política 
é entendida como metodologia e como uma reflexão crítica sobre o discurso político, quer dos 
modernos cientistas, quer dos teóricos políticos do passado. Ela visa analisar, esclarecer e 
classificar a linguagem, os argumentos e as finalidades dos que utilizam da linguagem 
política. Entre seus objetivos está também o de identificar os componentes do pensamento 
político tradicional para explicitá-los. 
Sob este aspecto a filosofia política é como uma metaciência por se utilizar de uma 
verificação rigorosa dos procedimentos com os quais é conduzida a pesquisa da ciência 
política empírica. É uma ciência da ciência política. 
A aceitação de tal forma de filosofia política torna as duas primeiras (filosofia política 
como modelo ideal e como busca pelo fundamento) meras ideologias, demonstráveis apenas 
de modo que seus valores, por não possuírem uma linguagem clara e livre de ambiguidades, 
não são suscetíveis de um discurso que possa ter alguma significação. 
Tomada a terceira forma na análise da linguagem e na função atribuída à filosofia 
política, cabe a ela, como metaciência, apurar em primeiro lugar o conceito de política e 
delimitar o campo em que se realiza ou se poderia realizar a pesquisa empírica. 
 
 
 
EXERCÍCIOS: 
 
1) Buscar saber o que os alunos pensam ser um discurso político. 
2) Leitura e contextualização de trechos de discursos feitos por políticos. 
3) Caracterização, junto com os alunos, dos discursos elencando os elementos principais. 
 21
4) Apresentação do que pode ser compreendido por filosofia política (baseado no texto 
acima). 
5) Análise dos discursos lidos em sala de aula baseada nas acepções de filosofia política 
propostas por Bobbio apresentadas durante a aula. 
 
 
 
2.2 POLÍTICA E DEMOCRACIA: 
 
 
 
Uma reflexão sobre política e democracia 
 
Podemos falar de política como a arte de governar, de gerir os destinos da cidade; 
aliás, etimologicamente política vem de polis (cidade). A palavra democracia vem do grego 
demos (povo) e kratia, de krátos ( governo, poder, autoridade). Historicamente, consideramos 
os atenienses o primeiro povo a elaborar o ideal democrático, dando ao cidadão a capacidade 
de decidir os destinos da polis ( cidade – estado grega). Povo habituado ao discurso encontra 
na ágora (praça pública) o espaço social para o debate e o exercício da persuasão. (*Vários 
eram excluídos do direito à cidadania e poucos detinham efetivamente o poder.) 
O ideal democrático reaparece na história, com roupas diferentes, ora no liberalismo, 
ora exaltado na utopia de Rousseau, ora nos ideais socialistas e anarquistas. 
Nunca foi possível evitar que , em nome da democracia, conceito abstrato, valores que 
na verdade pertenciam a uma classe apenas fossem considerados universais. A Revolução 
Francesa se fez sob o lema “Igualdade, Liberdade, Fraternidade”, e sabemos que foi uma 
revolução que visava interesses burgueses e não populares. 
 
 
 
A institucionalização do poder 
 
A Idade Moderna promove uma profunda mudança na maneira de pensar medieval, 
que era predominantemente religiosa. Ocorre a secularização da consciência, ou seja, o 
abandono das explicações religiosas, para se usar o recurso da razão. Essa transformação se 
verifica nas artes, nas ciências, na política. 
À tese de que todo poder emana de Deus , se contrapõe a origem social do pacto feito 
pelo consentimento dos homens. A legitimação do poder se encontra no próprio homem que o 
institui. 
Para ilustrar o caráter divino do poder no pensamento medieval, veja-se Jean Bodin 
(1530 – 1596): jurista e filósofo francês, que defendeuem sua obra A República, o conceito 
do soberano perpétuo e absoluto, cuja autoridade representava a vontade de Deus. Assim, 
todo aquele que não se submetesse à autoridade do rei deveria ser considerado um inimigo da 
ordem pública e do progresso social. Segundo Bodin, o rei deveria possuir um poder supremo 
sobre o Estado, respeitando, apenas, o direito de propriedade dos súditos. 
Com a emergência da burguesia no panorama político, dá-se a criação do Estado como 
organismo distinto da sociedade civil. Em outras palavras, na Idade Média, o poder político 
pertencia ao senhor feudal dono de terras, e era transmitido como herança juntamente com 
seus bens; com as revoluções burguesas, essas duas esferas dissociam-se: o poder não é 
herdado, mas conquistado pelo voto. Assim, separa-se o público do privado. O espírito da 
democracia está em descobrir o valor da coisa pública, separada dos interesses particulares. 
 22
Desse modo, ocorre a institucionalização do poder, que não mais se identifica com 
aquele que o detém, pois este é mero depositário da soberania popular. O poder se torna um 
poder de direito, e sua legitimidade repousa, não no privilégio, não no uso da violência, mas 
do mandato popular. 
O súdito, na verdade, torna-se cidadão, já que participa da comunidade cívica. Não 
havendo privilégios, todos são iguais e têm os mesmos direitos e deveres. 
 
 
 
 
COMO SERIA A VERDADEIRA DEMOCRACIA? 
 
Segundo Marilena Chauí, as três características da democracia são as idéias de 
conflito, abertura e rotatividade. 
 
· O conflito: se a democracia supõe o pensamento divergente, isto é, os múltiplos 
discursos, ela tem de admitir uma heterogeneidade essencial. Então, o conflito é inevitável. A 
palavra conflito sempre teve sentido pejorativo, de algo que devesse ser evitado a qualquer 
custo. Ao contrário, divergir é inerente a uma sociedade pluralista. O que a sociedade 
democrática deve fazer com o conflito é trabalhá-lo, de modo que, a partir da discussão, do 
confronto, os próprios homens encontrem a possibilidade de superá-lo. 
 
· A abertura: significa que na democracia a informação circula livremente, e a cultura 
não é privilégio de poucos. 
 
· A rotatividade: significa tornar o poder na democracia realmente o lugar vazio por 
excelência, sem o privilégio de um grupo ou classe. É permitir que todos os setores da 
sociedade possam ser legitimamente representados. 
 
 
 
 
A fragilidade da democracia: 
 
A construção da democracia é uma tarefa difícil, devido à incompletude essencial da 
democracia. Não havendo modelos a seguir, a democracia se autoproduz no seu percurso, e a 
árdua tarefa em que todos se empenham está sujeita aos riscos dos enganos e dos desvios. Por 
isso, a democracia é frágil e não há como evitar o que faz parte da sua própria natureza. 
O principal risco é a emergência do totalitarismo, representado nos grupos que 
sucumbem à sedução do absoluto e desejam restabelecer a “ordem” e a hierarquia. 
A condição do fortalecimento da democracia encontra-se na politização das pessoas, 
que devem deixar o hábito (ou vício?) da cidadania passiva, do individualismo, para se 
tornarem mais participantes e conscientes da coisa pública. 
 
 
 
 
 
 
 
 23
EXERCÍCIO: 
 
 
O analfabeto político 
 
O pior a analfabeto é o analfabeto político. 
Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos. 
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, 
do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. 
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito, dizendo que odeia política. 
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nascem a prostituta, o menor abandonado, o 
assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto. 
E lacaio das empresas nacionais e multinacionais. 
 
Bertolt Brecht 
 
 
Questão para reflexão: Qual a mensagem do poema “O analfabeto político”? 
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 
 
 
Vamos Praticar: 
 
Analise a seguinte charge: 
 
 
 24
 
 
 
 
O ato de refletir e questionar devem ser um exercício diário para todos nós. Por que então 
mencionar a respeito da desigualdade social pode se tornar um “ato perigoso”? Responda de 
acordo com o que você entendeu da charge: 
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________ 
 
 
 
Democracia e cidadania 
 
Se até hoje temos nos contentado com a democracia representativa, não há como deixar 
de sonhar com mecanismos típicos da democracia direta que possibilitem a presença mais 
constante do povo nas decisões de interesse coletivo. 
Na Constituição brasileira de 1988 foi introduzida a “iniciativa popular de projetos de 
leis”, através de manifestação do eleitorado, mediante porcentagem mínima estipulada 
conforme o caso. Essa forma de atuação ainda será regulamentada e devem ser enfrentadas 
dificuldades as mais diversas para o exercício efetivo. Mas alguns poderiam argumentar: para 
participar enquanto cidadão pleno é preciso que haja politização, caso contrário haverá apatia 
ou manipulação. Daí o desafio: quem educa o cidadão? 
 25
Cidadania se aprende no exercício mesmo da cidadania. Embora a escola seja aliada 
importante, não é nela fundamentalmente que se dá a aprendizagem, pois há o risco da 
ideologia e do discurso vazio, quando o ensino não é acompanhado de fato pela ampliação 
dos espaços de atuação política do cidadão na sociedade. 
A participação popular se intensifica com as já referidas organizações saídas da 
sociedade civil. Essas organizações, ao colocarem seus representantes em confronto com o 
poder constituído, tornam-se verdadeiras escolas de cidadania. O importante do processo é 
que, ao lado dos outros poderes, como o poder oficial do município, do estado e federal, e o 
poder das elites econômicas, desenvolve-se o poder alternativo. Ou seja, o esforço coletivo na 
defesa de interesses comuns transforma a população amorfa, inexpressiva e despolitizada em 
comunidade verdadeira. 
Na luta contra a tirania e o poder arbitrário, nem as regras da moral, nem apenas as leis 
impedirão o abuso do poder. Na verdade, como já dizia Montesquieu, só o poder controla o 
poder. 
 
 
 
 
Aprendendo de forma divertida 
 
 
 
 
 
 26
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 28
Questões para reflexão: 
 
1. O que você entendeu da charge acima? 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
2. Com base na situação visualizada na charge, pode-se dizer que o povo teve uma atitude 
cidadã? Por quê? 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
3. Para você, o que significa a frase: “Em terra de cego, quem tem um olho é mentiroso”! 
Responda de acordo com as suas palavras. 
___________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 
 
4. Qual é a etimologia das palavras política e democracia? 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
5. O que significa a personalização do poder? 
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 
 
6. O que significa s separação entre a sociedade política e a sociedade civil? 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
7. Por que a burguesia não representa ainda o ideal democrático? 
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 
 
8. Quais são as três características da democracia? 
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________ 
 
9. Em que consiste a fragilidade da democracia e que significa cidadania passiva? 
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________ 
 
 
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2.3 O PENSAMENTO DE MAQUIAVEL: 
 
 
Italiano. Filósofo, historiador, político e filósofo político. 
Nicolau Maquiavel nasceu em 3/5/1469, Florença. 
Faleceu em 22/6/1527, Florença. É o fundador do 
pensamento político moderno, cujos escritos sobre 
habilidade política, amorais, porém influentes, tornaram 
seu nome um sinônimo de astúcia. 
 
"Todos vêem o que pareces, poucos sentem o que és." 
 (Maquiavel) 
 
 
Antes de "O Príncipe" - Embora diferentes e, muitas vezes, contrárias, as obras 
políticas medievais e renascentistas operam num mundo cristão. Isso significa que, para todas 
elas, a relação entre política e religião é um dado de que não podem escapar. É verdade que as 
teorias medievais são teocráticas, enquanto as renascentistas procuram evitar a idéia de que o 
poder seria uma graça ou um favor divino; no entanto, embora recusem a teocracia, não 
podem recusar outra idéia qual seja a de que o poder político só é legítimo se for justo e só 
será justo se estiver de acordo com a vontade de Deus e a Providência divina. Assim, 
elementos de teologia continuam presentes nas formulações teóricas da política. 
Maquiavélico, maquiavelismo - Estamos acostumados a ouvir as expressões: 
maquiavélico e maquiavelismo.. São usadas quando alguém deseja referir-se tanto à política 
como aos políticos, e a certas atitudes das pessoas, mesmo quando não ligadas diretamente a 
uma ação política (fala-se, por exemplo, num comerciante maquiavélico, numa professora 
maquiavélica, no maquiavelismo de certos jornais, etc...). 
Quando ouvimos ou empregamos essas expressões? Sempre que pretendemos julgar a 
ação ou a conduta de alguém desleal, hipócrita, fingidor, poderosamente malévolo, que brinca 
com sentimentos e desejos dos outros, mente-lhes, faz a eles promessas que sabe que não 
cumprirá, usa a boa-fé alheia em seu próprio proveito. 
Falamos num "poder maquiavélico" para nos referirmos a um poder que age 
secretamente nos bastidores, mantendo suas intenções e finalidades desconhecidas para os 
cidadãos; que afirma que os fins justificam os meios e usa meios imorais, violentos e 
perversos para conseguir o que quer; que dá as regras do jogo, mas fica às escondidas, 
esperando que os jogadores causem a si mesmos sua própria ruína e destruição. 
Maquiavélico e maquiavelismo fazem pensar em alguém extremamente poderoso e 
perverso, sedutor e enganador, que sabe levar as pessoas a fazer exatamente o que ele deseja, 
mesmo que sejam aniquiladas por isso. Como se nota, maquiavélico e maquiavelismo 
correspondem àquilo que, em nossa cultura, é considerado diabólico. 
 
 
 
TEXTOS DE MAQUIAVEL 
 
 
O Amor à Liberdade 
Percebe-se facilmente de onde nasce o amor à liberdade dos povos; a experiência nos mostra 
que as cidades crescem em poder e em riqueza enquanto são livres. É maravilhoso, por 
exemplo, como cresceu a grandeza de Atenas durante os cem anos que se sucederam à 
 30
ditadura de Pisístrato. Contudo mais admirável ainda é a grandeza alcançada pela república 
romana depois que foi libertada dos seus reis. Compreende-se a razão disso: não é o interesse 
particular que faz a grandeza dos Estados; mas o interesse coletivo. E é evidente que o 
interesse comum só é respeitado nas repúblicas: tudo o que pode trazer vantagem geral é nelas 
conseguido sem obstáculos. Se uma certa medida prejudica um ou outro indivíduo, são tantos 
os que ela favorece, que se chega sempre a fazê-la prevalecer, a despeito das resistências, 
devido ao pequeno número de pessoas prejudicadas.” (Do Livro: "Comentários sobre a 
primeira década de Tito Lívio", II, 2º) 
 
 
Observância da Lei 
Não observar uma lei é dar mau exemplo, sobretudo quando quem a desrespeita é o seu autor; 
é muito perigoso para os governantes repetir a cada dia novas ofensas à ordem pública. ....É 
perigoso para uma república ou para um príncipe manter os cidadãos em regime de terror 
contínuo, atingindo-os sem cessar com ultrajes e suplícios. Nada há de mais perigoso do que 
esse tipo de procedimento, porque os homens que temem pela própria segurança começam a 
tomar todas as precauções contra os perigos que os ameaçam. Depois, sua audácia cresce, e 
em breve nada mais pode conter sua ousadia. Por isso, é necessário ou não atacar ninguém ou 
então cometer ao mesmo tempo todas as ofensas, dando garantias, em seguida, aos cidadãos, 
para restaurar sua confiança e a tranqüilidade geral. (Comentários sobre o primeira década de 
Tito Lívio, 1, 45º) 
 
 
O que o povo deseja? 
São verdadeiramente infelizes os príncipes que, tendo a multidão como inimiga, são, 
obrigados a usar meios extraordinários para afirmar seu poder. De fato, aquele que só tem um 
pequeno o número de inimigos pode viver seguro sem muita preocupação; mas quem é objeto 
do ódio geral nunca pode ter certeza de qualquer coisa. Quanto maior crueldade demonstra, 
mas se enfraquece seu poder. O caminho mais seguro é, portanto, procurar ganhar a afeição 
do povo. (Comentários, I, 16º) 
 
 
A apoio do povo 
Chegamos agora ao caso do cidadão que se toma soberano não por meio do crime, ou da 
violência intolerável, mas pelo favor dos seus concidadãos: é o que se poderia chamar de 
governo civil. Chegar a essa posição dependerá não inteiramente do valor ou da sorte, mas da 
astúcia assistida pela sorte . Chega-se a ela com o apoio da opinião popular ou da aristocracia. 
Em todas as cidades se podem encontrar esses dois partidos antagônicos, que nascem do 
desejo do povo de evitar a opressão dos poderosos, e da tendência destes últimos para 
comandar e oprimir o povo. Desses dois interesses que se opõem surge uma de três 
conseqüências: o governo absoluto, a liberdade ou a desordem. [... ] quem se tornar um 
príncipe pelo favor do povo deve manter sua amizade - o que não lhe será difícil, pois a única 
coisa que o povo pede é não ser oprimido. Mas aquele que chega ao poder apoiado pelos 
nobres, contra os desejos do povo, deve acima de tudo procurar conquistar a amizade deste - o 
que conseguirá facilmente, se o proteger. Os homens que recebem o bem quando esperavam 
o mal se sentemainda mais obrigados com relação ao benfeitor; por isso a massa logo se 
tornará ainda mais bem disposta em relação ao príncipe do que se ela própria lhe tivesse dado 
o poder. O príncipe poderá ganhar a simpatia do povo de muitas formas, de acordo com as 
circunstâncias, pois nesse ponto não há regra que possa ser estabelecida, razão pela qual não 
 31
insistirei no assunto. Direi apenas, concluindo, que é necessário que o príncipe tenha o favor 
do povo; senão, lhe faltarão recursos na adversidade. ("O príncipe", IX) 
 
 
O direito de acusação pública 
Não se pode dar aos guardiães da liberdade num Estado direito mais útil e necessário do que o 
de poder acusar, perante o povo, ou diante de uni magistrado ou tribunal, os cidadãos que 
tenham atentado contra essa liberdade. Essa medida tem, numa república, dois efeitos 
extremamente importantes: o primeiro é que os cidadãos, temendo ser acusados, não ousam 
investir contra a segurança do Estado; se tentam fazê-lo, recebem imediatamente o castigo 
merecido. O outro é o de se constituir numa válvula de escape à paixão que, de um modo ou 
de outro, sempre fermenta contra algum cidadão. Quando essa paixão não encontra um meio 
legal de vir a superfície, assume uma importância extraordinária, que abala os fundamentos da 
república. Nada a enfraquecerá tanto, todavia, quanto organizar-se o Estado de modo tal que a 
fermentação de paixões possa escapar por um canal autorizado. É o que se prova com muitos 
exemplos, e sobretudo pelo que Tito Lívio relata a propósito de Coriolano. (Do Livro: 
"Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio", I, 7º) 
 
 
Os conflitos na República 
Não quero silenciar sobre as desordens ocorridas em Roma, entre a morte dos Tarquínio e o 
estabelecimento dos tribunos. Mas não aceitarei as afirmativas dos que acham que aquela foi 
uma república tumultuada e desordenada, inferior a todos os outros governos da mesma 
espécie a não ser pela boa sorte que teve, e pelas virtudes militares que lhe compensaram os 
defeitos. Não vou negar que a sorte e a disciplina tenham contribuído para o poder de Roma; 
mas não se pode esquecer que uma excelente disciplina é a conseqüência necessária de leis 
apropriadas, e que em toda parte onde estas reinam, a sorte, por sua vez, não tarda a 
brilhar.Examinemos, porém, as outras particularidades de Roma. Os que criticam as contínuas 
dissensões, entre os aristocratas e o povo parecem desaprovar justamente as causas que 
asseguraram fosse conservada a liberdade de Roma, prestando mais atenção aos gritos e 
rumores provocados por tais dissensões do que aos seus efeitos salutares. Não querem 
perceber que há em todos os governos duas fontes de oposição: os interesses do povo e os da 
classe aristocrática. Todas as leis para proteger a liberdade nascem da sua desunião, como 
prova o que aconteceu em Roma, onde, durante os trezentos anos e mais que transcorreram 
entre os Tarquínio e os Graco, as, desordens havidas produziram poucos exilados, e mais 
raramente ainda fizeram correr o sangue. Não se pode, portanto, considerar essas dissensões 
como funestas, nem o Estado como inteiramente dividido, pois durante tantos anos tais 
diferenças só causaram o exílio de oito ou dez pessoas, e a morte de bem poucos cidadãos, 
sendo alguns outros multados. Não se pode de forma alguma acusar de desordem uma 
república que deu tantos exemplos de virtude, pois os bons exemplos nascem da boa 
educação; a boa educação das boas leis; e estas, das desordens que quase todos condenam 
irrefletidamente. De fato, se se examinar com atenção o modo como tais desordens 
terminaram, ver-se-á que nunca provocaram o exílio, ou violências prejudiciais ao bem 
público, mas que, ao contrário, fizeram nascer leis e regulamentos favoráveis à liberdade de 
todos. (Do Livro: "Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio", I, 4º) 
 
 
Agir de acordo com as necessidades do momento 
“....se acontece que o tempo e as circunstâncias são favoráveis a quem age com cuidado e 
prudência, o resultado será bom; mas se mudam as circunstâncias e o tempo, a mesma pessoa 
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se arruinará, se não alterar seu procedimento. Não há homem tão prudente que possa adaptar-
se a esse fato - ou porque não se consegue desviar do rumo a que o inclinou a natureza, ou 
porque, tendo sempre prosperado no único caminho utilizado, não se convence de que será 
oportuno abandoná-lo. “ 
Não se pode, contudo, chamar de valor o assassínio dos seus compatriotas, à traição dos 
amigos, a conduta sem fé, piedade e religião; são métodos que conduziu ao poder, mas não à 
glória. Se considerarmos o valor demonstrado por Agátocles em enfrentar e superar perigos, e 
sua grandeza de ânimo ao suportar e vencer obstáculos, não há razão para julgá-lo inferior a 
qualquer um dos capitães mais afamados. Contudo sua desumanidade, sua crueldade bárbara, 
juntamente com as atrocidades incontáveis que praticou, não permitem nomeá-lo entre os 
homens mais famosos. Não se pode de qualquer forma atribuir ao valor ou à sorte o que ele 
conseguiu prescindindo de ambos. ("O príncipe”, XXV) 
 
 
A conquista do poder pelo crime 
A alguns pode espantar o fato de que após tantas traições e tão grande crueldade, Agátocles - 
e outros como ele - pudesse viver em segurança no seu país durante muitos anos, defendendo-
se contra inimigos estrangeiros sem ser vitimado por qualquer conspiração. Isso, não obstante 
muitos outros príncipes não terem podido manter sua posição em tempos de paz, para não 
falar dos tempos incertos de guerra, devido à sua crueldade. Creio que a diferença reside no 
uso adequado ou não da crueldade. No primeiro caso, estão aqueles que a usaram bem (se é 
que se pode qualificar um mal com a palavra bem), uma só vez, com o objetivo de se garantir, 
e que depois não persistiram nela, mas, ao contrário, a substituíram por medidas tão benéficas 
a seus súditos quanto possível. As crueldades mal-empregadas são as que, sendo a princípio 
poucas, crescem com o tempo, em vez de diminuir. Os que aplicam o primeiro método podem 
remediar de alguma forma sua condição, diante de Deus e dos homens, como Agátocles. 
Quanto aos outros, não lhes é possível manter-se. De onde se deve observar que, ao tomar um 
Estado, o conquistador deve praticar todas as suas crueldades ao mesmo tempo, evitando ter 
que repeti-las a cada dia; assim tranqüilizará o povo, sem fazer inovações, seduzindo-o depois 
com benefícios. Quem agir de outra forma, por timidez . ou maus conselhos, estará obrigado a 
permanecer de arma em punho, e nunca poderá depender dos seus súditos que, devido às 
contínuas injurias, não terão confiança no governante. As injúrias devem ser cometidas todas 
ao mesmo tempo, de modo que, sendo sentidas por menos tempo, ofendam menos. As 
vantagens, por sua vez, devem ser concedidas gradualmente, de forma que sejam melhor 
apreciadas. Acima de tudo, o soberano deve ter tais relações com seus súditos que nenhum 
acidente, bom ou mau, o afaste do seu rumo; porque, como a necessidade surge em 
circunstâncias adversas, não deixará tempo para a prática do mal; e se fizer o bem, nada 
lucrará com isso, pois se pensará que foi forçado a fazê-lo. (O príncipe, VIII) 
 
 
É melhor ser amado ou temido? 
Chegamos assim à questão do saber se é melhor ser amado do que temido. A resposta é que é 
preciso ser ao mesmo tempo amado e temido mas que, como isso é difícil, é muito mais 
seguro ser temido, se for preciso escolher. De fato, pode-se dizer dos homens, de modo geral, 
que são ingratos, volúveis, dissimulados; procuram escapar dos perigos e são ávidos de 
vantagens; se o príncipe os beneficia, estão inteiramente do seu lado; como já observei, 
oferecem seu próprio sangue, o patrimônio, sua vida e os filhos quando a necessidade é 
remota; quando ela é iminente, revoltam-se. Estará perdido o príncipe que confiar somente 
nas suas palavras, sem fazer outros preparativos, porquea amizade conquistada pela compra, 
e não pela grandeza e nobreza de espírito, não é segura - não se pode contar com ela. Os 
 33
homens têm menos escrúpulos em ofender quem, se faz amar do que quem se faz temer, pois 
o amor é mantido por uma corrente de obrigações que se rompe quando deixa de ser 
necessária já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo da punição, que 
nunca falha. ("O príncipe", XVII) 
 
 
O papel da religião 
Nossa religião... só santifica os humildes, os homens inclinados à contemplação, e não à vida 
ativa. Para ela, o bem supremo é a humildade,o desprezo pelas coisas do mundo. Já os pagãos 
davam a máxima importância à grandeza d’alma, ao vigor do corpo, a tudo, enfim, que 
contribuísse para tornar os homens robustos e corajosos. Se a nossa religião nos recomenda 
hoje que sejamos fortes, é para resistir aos males, e não para incitar-nos a grandes 
empreendimentos. Parece que essa moral tornou os homens mais fracos, entregando o mundo 
à audácia dos celerados. Estes sabem que podem exercer sem medo a tirania, vendo os 
homens prontos a sofrer sem vingança todos os ultrajes, na esperança de conquistar o paraíso. 
 
 
A conduta dos príncipes e governantes 
Todos sabem que é louvável que o príncipe mantenha a palavra empenhada, e viva com 
integridade e não com astúcia. Contudo a experiência dos nossos tempos mostra que os 
príncipes que tiveram pouco respeito pela boa-fé puderam com astúcia confundir os espíritos 
e chegaram a superar os que basearam sua conduta na lealdade. Como sabemos, pode-se lutar 
de duas maneiras: pela lei e pela força. O primeiro método é o dos homens; o segundo, o dos 
animais. Porém, como o primeiro pode ser insuficiente, tem-se que recorrer ao segundo. É 
necessário, portanto, que o príncipe saiba usar bem tanto o processo dos homens como o dos 
animais. .... Sendo obrigado a agir como um animal, deve o príncipe imitar a RAPOSA e o 
LEÃO, pois o leão não se pode defender das armadilhas, e a raposa não consegue defender-se 
dos lobos. É preciso, portanto, ser raposa para reconhecer as armadilhas, e leão para assustar 
os lobos. ...Não é necessário que um príncipe tenha todas as qualidades... Mas é muito 
necessário que as aparente todas. ... Assim é bom ser misericordioso, leal, humanitário, 
sincero e religioso – como é bom parecê-lo; mas é preciso ter a capacidade de se converter aos 
atributos opostos, em caso de necessidade. (O príncipe, XVIII). 
 
 
 
TÓPICOS DO PENSAMENTO DE MAQUIAVEL 
 
1) Maquiavel escreve sobre o campo político - relação entre governo e governados - e 
portanto a aplicação do que escreveu ao campo privado é indevido. 
 
2) Separa a MORAL DA VIDA PRIVADA da política. Esta tem OUTRA MORAL 
fundamentada no coletivo, nas instituições, nas leis, na natureza má dos homens, na sociedade 
dividida em classes, na indeterminação da política, na exigência de eficiência da política. Por 
exemplo: às vezes o governo tem que ser mau, avarento, não cumpridor das promessas. Mas 
isto depende das circunstâncias. Quando for necessária uma conduta política que está em 
desacordo com a moral privada o príncipe deve empregar a ASTÚCIA e dissimulá-la sob a 
máscara da virtude. Isto porque sendo o povo incapaz de compreender o bem (político) que se 
oculta por detrás da necessidade de praticar o mal (moral) resta a alternativa da astúcia para 
APARENTAR possuir as qualidades que o povo julga boas. 
 34
3) Não existe comunidade política. A sociedade é dividida entre os GRANDES, que querem 
oprimir, e os PEQUENOS, o POVO, que não quer ser oprimido. Ou seja, apesar de 
Maquiavel não usar o termo classe podemos afirmar que bem antes de Marx percebeu que a 
sociedade é dividida em classes sociais. 
 
4) VIRTÙ = tem virtú o governo que sabe agir de acordo com as circunstâncias sem se deixar 
perturbar pela diferença entre virtude e vício. Por isso a virtú sempre é oscilante, flexível e só 
com ela pode ser enfrentada a FORTUNA. Para isso o príncipe tem que ser pudente, 
autoconfiante, firme, decidido, não ser odiado, tomar partido e não se manter neutro, SER 
SÁBIO. 
 
5) FORTUNA = força imprevisível. Governa, segundo Maquiavel, metade das ações 
humanas. O nosso LIVRE ARBÍTRIO pode ser exercer sobre a outra metade. 
 
6) CIRCUNSTÂNCIAS = tornam possível o aparecimento do homem de virtú 
 
7) O governo tem que ter apoio do povo para se manter no poder porque são em maior 
número. O povo consente em obedecer para se livrar da opressão dos grandes e se for tratado 
bem pelo governo. A fortaleza do príncipe (governo) está no povo. 
 
8) Principais fundamentos do Estado: boas leis e boas armas. 
 
9) Política: tem a ver com a verdade efetiva das coisas e não com a imaginação sobre elas. 
Não deve se trocar o que se faz pelo que se deveria fazer. A política exige EFICIÊNCIA, 
RESULTADOS. 
 
10) Governante: misto de homem (leis) e animal (força). Animal: LEÃO (amedronta os lobos 
mas cai nos laços) e RAPOSA (escapa dos laços mas não dos lobos). 
 
11) Parlamento: importante para controlar os grandes e favorecer os pequenos evitando 
exposição inconveniente do príncipe (ou governo). 
 
12) O conflito não é mal por princípio, pode levar a leis melhores e maior justiça.. 
 
13) Melhor regime para Maquiavel: REPÚBLICA. Se for o BEM COMUM que engrandece 
as cidades este é observado somente nas Repúblicas (= participação popular e liberdade). A 
Monarquia é aceita em períodos onde domina a corrupção e a desigualdade (= domínio dos 
grandes). Mas após o saneamento deve vir a República. Na República a manutenção da 
liberdade deve ser confiada à coletividade dos cidadãos e aos excelentes, que tem boa 
reputação. A reputação é legítima. O perigo está em estar acima do bem coletivo. Por isso é 
boa a reputação adquirida quando se age pelo bem comum. A reputação originada por via 
privada, através do "favor popular", é perigosa e nociva à República, pois pode introduzir o 
poder tirânico. 
 
14) IDEAL REPUBLICANO = harmonizar o benefício privado e o bem de todos. Satisfazer 
apetites individuais ou de grupos (natureza maligna do homem) sem torná-los incompatíveis 
com o bem comum. Visa o equilíbrio de forças entre os grandes e o povo, nela os diferentes 
grupos sociais se equilibram mutuamente. Deve ter mecanismos de participação popular como 
a possibilidade de acusação pública, mas as calúnias não devem ser toleradas pois são 
perniciosas para a República. 
 35
15) Maquiavel se coloca contra a TIRANIA que visa interesses particulares e egoístas. 
 
16) Por isso cidadão é aquele que tem afeição não à pessoa do governante mas às leis e 
instituições. A criação de laços pessoais promove a particularização do que é público. 
 
17) O que honra o governante são AS LEIS E INSTITUIÇÕES que são os principais 
fundamentos do Estado. 
 
18) Como outros renascentistas Maquiavel valoriza a vida ativa em detrimento da 
contemplativa. O homem pode intervir no mundo. Por isso o ócio é negativo podendo 
produzir corrupção política, a ruína política. 
 
19) Maquiavel propõe a imitação dos homens de virtù porque tem como princípio a 
imutabilidade do homem e da natureza. . "Isto porque, como todas as coisas são executadas 
por homens que têm e terão sempre as mesmas paixões, não podem deixar de apresentar os 
mesmos resultados" (Discorsi, III, 43). 
 
20) Estudo da História - só tem sentido se for útil para o presente. Procura-se extrair lições do 
passado para aplicá-las no presente e ao futuro. A história se converte em instrumento da 
educação. 
 
21) Religião - interessa na medida em que contribui para a ordem, paz, submissão ás leis e 
obediência dos súditos aos dirigentes. O mau uso da religião produz a descrença nas 
divindades e isto é perigoso para o Estado facilitando o caminho para a corrupção. O temor à 
divindade constitui uma alternativa ao emprego da violência. O Catolicismo da sua épocaé 
criticado pois prega o desprezo pelas coisas deste mundo e exalta a humildade e o apego a 
valores extraterrestres. Não forma para a luta, para o enfrentamento como a religião romana. 
 
22) O melhor regime político é a República (Maquiavel escreve mais sobre ela no seu livro, 
pouco conhecido, intitulado: “Comentários à primeira década de Tito Lívio). Mas quando o 
governante se depara com um Estado corrompido a solução é a MONARQUIA. Só a 
monarquia, com um poder forte, pode conter os grandes e acabar com a corrupção. ESTE É O 
CONTEXTO DE “O PRÍNCIPE”. Mas mesmo assim Maquiavel prefere o PRÍNCIPE 
(monarca) NOVO ao PRÍNCIPE HEREDITÁRIO. O príncipe novo para se manter precisa do 
apoio do povo: “aquele que, contra o povo e pelo favor dos grandes, se torna príncipe, deve, 
antes de qualquer coisa procurar conquistar o povo” (O Príncipe, 9:272). Isto expressa a sua 
ruptura com a estrutura política feudal. 
 
23) POVO para Maquiavel: pequena e média burguesia ligada às corporações de ofício. Esta 
participava politicamente nas cidades-estado republicanas. O mesmo não se pode dizer em 
relação ao popolo magro (desvinculado de qualquer corporação, sem especialização, 
miseráveis). 
 
24) A república perfeita caracteriza-se pelo EQUILÍBRIO DE FORÇAS que se torna real 
quando os diferentes grupos sociais detêm uma parcela de poder, de modo que possam 
controlar-se mutuamente (Discorsi I, 2:81). “O poder dos tribunos da plebe foi grande em 
Roma e, como dissemos mais de uma vez, necessário, pois de outro modo não teria sido 
possível frear a ambição da nobreza...” (Discorsi, III, 11:216). A sobrevivência do regime 
republicano depende da capacidade do governante em estabelecer medidas que garantam a 
LIBERDADE. Esta tarefa deve ser confiada à maioria, isto é, ao POVO: “nunca se deve 
 36
permitir, numa cidade, que a minoria (i pochi) possa tomar alguma deliberação entre aquelas 
que ordinariamente são necessárias à manutenção da república” (Discorsi, I, 50:132). 
 
 
 
2.4 AS TEORIAS CONTRATUALISTAS: 
 
 
 Nos séculos XVII e XVIII a principal preocupação da filosofia política é o 
fundamento racional do poder soberano. Ou seja, o que se procura não é resolver a questão da 
justiça, nem justificar o poder pela intervenção divina, mas colocar o problema da 
legitimidade do poder. É por isso que filósofos tão diferentes como Hobbes, Locke e 
Rousseau têm idêntico propósito: investigar a origem do Estado. Não propriamente a origem 
no tempo, mas o “princípio”, a “razão de ser” do Estado. Todos partem da hipótese do homem 
em estado de natureza, isto é, antes de qualquer sociabilidade, e, portanto, dono exclusivo de 
si e dos seus poderes. Procuram então compreender o que justifica abandonar o estado de 
natureza para constituir o Estado, mediante o contrato. Também discutem o tipo de soberania 
resultante do pacto feito entre os homens. 
 
Thomas Hobbes (1588-1679) é um daqueles filósofos contratualistas 
que, ao longo dos séculos XVII e XVIII, postularam que o Estado 
político é fruto de uma convenção entre os homens; antes dessa espécie 
de acordo vive-se num estado de natureza; a passagem de uma instância 
à outra é conhecida como contrato ou pacto social. No modelo 
hobbesiano o estado de natureza se configura como uma condição onde 
os indivíduos se encontram em guerra uns contra os outros. Cada qual 
está livre para fazer o que bem entender. Não há governo: vive-se numa 
anarquia completa. A vida humana nesse quadro natural é 
desconfortável. Miséria, violência, expectativa de existência breve e medo recíproco são 
algumas das perturbações que atingem o homem pré-civil. 
 Para resolver a problemática da guerra os homens pactuam entre si uma sociedade 
civil, ou seja, uma instância onde podem viver em paz uns com os outros. Para garantir o 
objeto do contrato, o Estado se apresenta como uma força soberana e absoluta sobre a vontade 
dos indivíduos (súditos), que enquanto tais estão livres apenas naquilo e tão-somente naquilo 
que a lei estatal, ou lei civil, permitir como liberdade. 
Diante disso, pode se indagar, o Estado postulado por Hobbes não é por excelência o 
lugar do autoritarismo? A quem diga que sim. Entretanto, é necessário observarmos que o 
propósito do contrato social é gerar uma condição onde se possa viver em paz. 
A concepção de Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os 
indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos ou 
“o homem lobo do homem”. Nesse estado, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o 
da morte violenta. Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e 
cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém 
mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a 
posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a única lei é a força do mais forte, que 
pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar. 
Hobbes, advertindo que o homem natural vive em guerra com seus semelhantes, 
conclui que a única maneira de garantir a paz consiste na delegação de um poder absoluto ao 
soberano.- Thomas Hobbes filósofo inglês, escreveu o livro Leviatã ( o título refere-se ao 
monstro bíblico, citado no livro de Jó, que governava o caos primitivo), no qual compara o 
 37
Estado a um monstro todo-poderoso, especialmente criado para acabar com a anarquia da 
sociedade primitiva. Segundo Hobbes, nas sociedades primitivas “o homem era o lobo do 
próprio homem”, vivendo em constantes guerras e matanças, cada qual procurando garantir 
sua própria sobrevivência. Só havia uma solução para dar fim à brutalidade: entregar o poder 
a um só homem, que seria o rei, para que ele governasse todos os demais, eliminando a 
desordem e dando segurança a todos. 
 
 
 
John Locke (1632 – 1704): filósofo inglês, considerado por muitos como o “Pai do 
Iluminismo”. Sua principal obra é o Ensaio sobre o entendimento humano, em que afirma 
que nossa mente é uma tabula rasa, sem nenhuma idéia. Tudo o que adquirimos é devido à e 
experiência. Para ele, nossas primeiras idéias vêm à mente através dos sentidos. Depois, 
combinando e associando as primeiras idéias simples, a mente forma idéias cada vez mais 
complexas. Em resumo, todo o conhecimento humano chega à 
nossa mente através dos sentidos e, depois, desenvolve-se pelo 
esforço da razão. Em termos políticos, Locke condenou o 
absolutismo monárquico, revelando sua grande preocupação em 
proteger a liberdade individual do cidadão. 
Para ele, o consentimento dos homens ao aceitarem o poder 
do corpo político instituído não retira seu direito de insurreição, 
caso haja necessidade de limitar o poder do governante. Além 
disso, o Parlamento se fortalece enquanto legítimo canal de 
representação da sociedade, e deve ter força suficiente para 
controlar os excessos do Executivo. 
 
 
 
Rousseau vai mais longe ainda, atribuindo a soberania ao “povo incorporado”, isto é ao 
povo enquanto corpo coletivo, capaz de decidir o que é melhor para o todo social. Com isso 
desenvolve a concepção radical da democracia direta, em que o cidadão é ativo, participante, 
fazendo ele próprio as leis nas assembléias públicas. 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra na Suíça, transferindo-se 
para a França em 1742, onde escreveu suas grandes obras. 
Entre elas podemos destacar O contrato social, na qual expôs 
a tese de que o soberano deveria conduzir o Estado segundo a 
vontade geral de seu povo, sempre tendo em vista o 
atendimento do bem comum. Somente esse Estado, de bases 
democráticas, teria condições de oferecer a todos os cidadãos 
um regime de igualdade jurídica. Em outra de suas importantes 
obras, o Discurso sobre a origem da desigualdade entre os 
homens, Rousseau glorificou os valores da vida natural e 
atacou

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