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Aula 01 - Constitucional

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DIREITO CONSTITUCIONAL PARA DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL 
PROFESSOR FREDERICO DIAS 
 
Prof. Frederico Dias www.pontodosconcursos.com.br 1
Aula 1 – Teoria da Constituição e do Direito Constitucional 
(natureza, conceito, objeto e classificações). Interpretação e 
Aplicabilidade das normas constitucionais. 
Olá! 
Hoje, sim, começamos para valer o nosso curso. 
Portanto, seja bem-vindo(a) a esse nosso curso, por meio do qual iremos nos 
“enfronhar” no mundo maravilhoso do Direito Constitucional para concursos! 
Aliás, especificamente para o concurso de Delegado da Polícia Federal. 
Em primeiro lugar, quero agradecer a confiança e deixá-lo tranquilo(a), pois, a 
cada aula, a cada assunto, abordarei os aspectos mais relevantes para fins de 
concurso, fazendo o possível para tentar deixá-lo o mais claro possível. Mas, 
sem me estender demais naquilo que tem pouca incidência em concursos. 
Então, após passar a teoria, apresentarei como as questões têm abordado o 
tema, o que facilitará a sua memorização. Em alguns casos, utilizarei a própria 
questão para aprofundar num tema tratado durante a apresentação da teoria 
(ou para mencionar algo ainda não comentado). 
Hoje, começaremos estudando a Teoria do Direito Constitucional, 
aplicabilidade e interpretação das normas constitucionais. 
Vejamos, em forma de sumário, esse nosso conteúdo então. 
1 – Direito Constitucional e Constituição 
1.1 Conceitos: político, sociológico e jurídico 
1.2 – Classificação das constituições 
1.3 – Supremacia da Constituição 
1.4 – Elementos das constituições 
2 – Aplicabilidade e eficácia: Classificação das normas constitucionais 
2.1 – Normas de eficácia plena 
2.2 – Normas de eficácia contida 
2.3 – Normas de eficácia limitada 
3 – Interpretação da Constituição 
3.1 – Princípios de Interpretação 
3.2 – Métodos de Interpretação 
4 – Preâmbulo e ADCT 
5 – Exercícios de fixação 
Desejo-lhe uma boa aula (ou melhor, uma boa conversa sobre direito 
constitucional – que é o que o teremos agora). 
 
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1 – Direito Constitucional e Constituição 
Segundo José Afonso da Silva, o estudo do direito divide-se em três grandes 
ramos. 
1) Público (abrangendo constitucional, administrativo, urbanístico, 
econômico, financeiro, tributário, processual, penal e internacional). 
2) Social (abrangendo previdenciário e do trabalho). 
3) Privado (abrangendo civil e comercial). 
Como você deve ter observado, o Direito Constitucional integra o Direito 
Público, mas se distingue dos seus demais ramos pela natureza específica de 
seu objeto e por seus princípios peculiares. Afinal, o Direito Constitucional 
refere-se diretamente à organização e funcionamento do Estado, à 
articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das 
bases da estrutura política. 
O que seria, então, o Direito Constitucional? 
Bem, podemos defini-lo como o ramo do Direito Público que expõe, interpreta 
e sistematiza os princípios e normas fundamentais do Estado. E tem como 
objeto a Constituição desse Estado. 
Quanto ao conceito de Constituição, podemos relacioná-lo à noção de forma 
de organização do Estado. 
Quando eu digo Estado, temos de relacionar essa concepção à junção de três 
elementos fundamentais (território, população e governo) que podem ser 
completados com mais um elemento: a finalidade. Assim, o Estado seria 
constituído de um governo (poder institucionalizado) que tem por finalidade 
essencial a regulamentação das relações sociais travadas pelos membros de 
uma população distribuída em determinado território. 
Nesse sentido, qualquer Estado tem sua Constituição, independentemente de 
estar essa organização compilada em um livro, um documento específico. 
Todavia, o estudo sistemático da Constituição somente se desenvolve a partir 
do momento em que os Estados passam a compilar em um único documento 
as regras de organização de suas estruturas. E isso ocorre especialmente a 
partir das revoluções burguesas do fim do séc. XVIII, cujos ideais iluministas e 
liberais coincidiam com a necessidade de se estabelecer normas para o 
funcionamento do Estado (até como forma de limitar seu poder). 
É nesse ambiente que surge o constitucionalismo, movimento que concebeu a 
ideia de limitação do poder estatal por meio da criação de um documento 
escrito, que estabelecesse as regras fundamentais e supremas de organização 
do Estado. 
Como não podia deixar de ser, aquelas primeiras constituições eram sucintas. 
Tratavam de poucos assuntos: (i) regras de organização do Estado; (ii) 
exercício e transmissão do poder; e (iii) direitos e garantias fundamentais, 
como forma de limitação do poder estatal. 
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Nesse contexto, cabe mencionar o conceito de Constituição ideal, decorrente 
do triunfo do movimento constitucional no início do séc. XIX e apresentado por 
J. J. Gomes Canotilho. Essa concepção identifica-se com os postulados político-
liberais e propugna que a Constituição deve: (i) ser escrita; (ii) consagrar um 
sistema de garantias de liberdades (reconhecimento de direitos individuais e 
sistema democrático formal); e (iii) limitar o poder do Estado por meio do 
princípio da divisão dos poderes. 
Mas, se as primeiras Constituições escritas e rígidas eram de orientação 
puramente liberal; com o tempo elas começam a apresentar caráter social. 
Com isso, as Constituições passam a expandir seu objeto, ganhando uma 
vertente social. Passam a traçar os fins estatais e estabelecer programas e 
linhas de direção para o futuro. 
Bem, esse início é importante para contextualizar o assunto. Mas, em 
concurso, o mais comum é serem cobrados os conceitos político, jurídico e 
sociológico de Constituição (que passaremos a estudar). 
 
1.1 Conceitos: político, sociológico e jurídico 
Excepcionalmente neste assunto, é importante que você memorize os nomes 
relacionados a cada uma das concepções de Constituição: política, sociológica 
e jurídica. 
Constituição em sentido POLÍTICO 
Carl Schmitt é quem desenvolve a concepção política de Constituição. 
Segundo esse conceito, a Constituição é uma decisão política fundamental. 
Assim, a Constituição surge a partir de uma vontade política fundamental de 
definir a forma e modo de organização do Estado. 
Carl Schmitt estabeleceu uma distinção entre Constituição e leis 
constitucionais. A Constituição disporia somente sobre as matérias 
substancialmente constitucionais, materialmente constitucionais devido à sua 
grande relevância jurídica (organização do Estado, direitos e garantias 
fundamentais etc.). Essas sim seriam, por excelência, as decisões políticas 
fundamentais. 
As demais matérias integrantes do texto da Constituição, de menor relevância, 
seriam tão somente leis constitucionais. 
Ou seja, uma coisa é tratar de temas realmente “importantes”, 
substancialmente constitucionais, assunto para a Constituição. Outra coisa 
seriam aqueles temas menos relevantes, que constituiriam o conteúdo de 
meras leis constitucionais. 
Com base nessa teoria, podemos mencionar um aspecto importante para 
concursos: a distinção entre Constituição em sentido material e Constituição 
em sentido formal. 
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Importante: 
No sentido material de Constituição, as normas constitucionais são 
identificadas a partir do seu conteúdo (somente são constitucionais as normas 
que tratam de temas substancialmente constitucionais, como: 
organização e finalidades doEstado e direitos fundamentais, por exemplo). 
Já as demais normas constitucionais são apenas formalmente constitucionais 
(têm “forma” de Constituição, na medida em que integram um documento 
constitucional solenemente elaborado; mas, não têm conteúdo constitucional). 
Assim, é importante você saber que há: (i) temas propriamente constitucionais 
(substancialmente constitucionais); e (ii) temas que, apesar de menos 
relevantes, integram a Constituição. 
Não é pacífica a definição exata do que seja substancialmente constitucional. 
De qualquer forma, há um núcleo de temas sobre os quais não há muita 
controvérsia. Assim, seriam materialmente constitucionais temas como a 
organização do Estado, distribuição de competências, regulação do exercício do 
poder e limites ao poder do Estado (direitos fundamentais). 
É importante conseguir entender bem essa distinção entre os sentidos material 
e formal de Constituição. Alguns exercícios mais à frente auxiliarão seu 
aprendizado. 
Constituição em sentido SOCIOLÓGICO 
Na concepção sociológica, a Constituição é concebida como fato social, como 
resultado da realidade social do país, e não propriamente como norma. A 
Constituição seria a soma dos fatores reais de poder que imperam na 
sociedade (tais como a aristocracia, a burguesia, os banqueiros etc.). 
Aquele documento escrito teria a função de simplesmente sistematizar essa 
correlação de forças, e só teria eficácia se, de fato, representasse os valores 
sociais da sociedade. 
Essa noção é defendida por Ferdinand Lassalle, segundo o qual há duas 
Constituições: a real e a escrita. A real é a “soma dos fatores reais de poder” e 
a escrita, mera “folha de papel”. Em caso de conflito, aquela sempre 
prevalecerá sobre esta. 
Dessa forma, Lassalle nega a força normativa da Constituição escrita. Afinal, 
para ele, se a Constituição escrita não representar a real soma dos fatores de 
poder, ela não passará de uma folha de papel. 
Constituição em sentido JURÍDICO 
Para Hans Kelsen, defensor da concepção jurídica de Constituição, a 
Constituição é norma jurídica pura, sem qualquer consideração de ordem 
social, política, moral ou filosófica. 
Nesse caso, a Constituição teria um caráter estritamente formal. 
É interessante como a visão de Kelsen contrapõe-se à concepção sociológica 
de Ferdinand Lassalle. Por um lado, Lassalle nega a força normativa da 
Constituição, ao considerar que ela só teria valor se representasse os fatores 
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reais de poder. Ao contrário, na visão de Kelsen, a validade de uma norma 
independe da sua aceitação pelo sistema de valores sociais da sociedade. 
Kelsen estabeleceu uma distinção entre Constituição em sentido lógico-
jurídico e Constituição em sentido jurídico-positivo. 
De acordo com o sentido lógico-jurídico, a Constituição significa norma 
fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico 
transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva. Ou seja, trata-se 
de fato instaurador não positivado (já que apenas pressuposto, pensado, 
imaginado), origem de todo o processo de criação das normas. 
Já em seu sentido jurídico-positivo, a Constituição equivale à norma positiva 
suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei 
nacional no seu mais alto grau. 
Assim, enquanto o jurídico-positivo está corporificado pelas normas postas, 
positivadas, o lógico-jurídico situa-se em nível do suposto, do hipotético (haja 
vista não configurar norma editada por nenhuma autoridade). 
A partir desse conceito de Kelsen, você já pode observar algo interessante: há 
um escalonamento das normas, em que uma constitui fundamento de validade 
para a outra (hierarquicamente inferior), constituindo uma verticalidade 
hierárquica. 
Assim, podemos dizer que as normas inferiores buscam seu fundamento de 
validade numa norma superior, e esta na Constituição (lei nacional no seu mais 
alto grau), que se caracteriza como fundamento de validade de todo 
ordenamento jurídico. Segundo Kelsen, essa Constituição positivada busca seu 
fundamento de validade na norma hipotética fundamental (sentido lógico-
jurídico). 
O que você acha de esquematizarmos esses importantes sentidos da 
Constituição? Já fiz isso por você... 
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Sintetizando: 
 
Vamos ver como o Cespe cobra esse assunto. 
1) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/TJ/ES/2011) A concepção sociológica, 
elaborada por Ferdinand Lassale, considera a Constituição como sendo a 
somatória dos fatores reais de poder, isto é, o conjunto de forças de índole 
política, econômica e religiosa que condicionam o ordenamento jurídico de 
determinada sociedade. 
De fato, para Lassalle, a Constituição reflete a soma dos fatores reais de 
poder (resultante das forças sociais que imperam na sociedade). 
Item certo. 
2) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) No sentido sociológico 
defendido por Ferdinand Lassalle, a Constituição é fruto de uma decisão 
política. 
O Cespe vai tentar te confundir misturando os conceitos, portanto, fique 
atento. Por isso, aquele esquema que apresentei acima facilita sua vida, pois 
te ajuda a memorizar as “palavras-chave” envolvidas com cada conceito. 
Para a visão política de Constituição (Carl Schmitt) é que a Constituição é uma 
decisão política fundamental (do poder constituinte). 
Para Lassale (concepção sociológica), a Constituição é concebida como fato 
social, como resultado da realidade social do país, e não propriamente como 
norma; a Constituição seria, assim, a soma dos fatores reais de poder que 
imperam na sociedade. 
Item errado. 
3) (CESPE/ANALISTA/DIREITO/INCA/2010) Para Carl Schmitt, a constituição 
de um Estado deveria ser a soma dos fatores reais de poder que regem a 
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sociedade. Caso isso não ocorra, ele a considera como ilegítima, uma 
simples folha de papel. 
Carl Schmitt defende o sentido político de Constituição, segundo o qual a 
Constituição é uma decisão política fundamental (do poder constituinte). 
A definição apresentada na questão refere-se ao sentido sociológico de 
Constituição, defendido por Ferdinand Lassalle. 
Item errado. 
4) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) No sentido jurídico, a 
Constituição não tem qualquer fundamentação sociológica, política ou 
filosófica. 
Na visão jurídica (Hans Kelsen), a Constituição é percebida de uma perspectiva 
estritamente formal: norma jurídica pura, desprovida de influências de ordem 
sociológica, política, moral ou filosófica. 
Item certo. 
5) (CESPE/PROCURADOR DO ESTADO/PB/2008) A constituição é, na visão de 
Ferdinand Lassalle, uma decisão política fundamental e, não, uma mera 
folha de papel. 
Para Ferdinand Lassalle, a Constituição escrita só terá eficácia caso retrate, em 
seu texto, a soma dos fatores reais de poder (visão sociológica). De outro 
modo, não passará de uma folha de papel. 
A ideia da Constituição como uma decisão política fundamental decorre da 
visão política (Carl Schmitt). 
Item errado. 
6) (CESPE/PROCURADOR DO ESTADO/PB/2008) Para Carl Schimidt, o objeto 
da constituição são as normas que se encontram no texto constitucional, 
não fazendo qualquer distinção entre normas de cunho formal ou material. 
De acordo com o que vimos, a questão está errada, pois Carl Schmitt faz uma 
distinção entre “Constituição” e “leis constitucionais”: a Constituição dispõe 
somente sobre as matérias de grande relevância jurídica, isto é, sobre as 
decisões políticasfundamentais (normas substancialmente constitucionais); as 
demais normas integrantes do texto da Constituição seriam, apenas, leis 
constitucionais (normas apenas formalmente constitucionais). 
Item errado. 
7) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/STF/2008) Considere a 
seguinte definição, elaborada por Kelsen e reproduzida, com adaptações, 
de José Afonso da Silva (Curso de Direito Constitucional Positivo. São 
Paulo: Atlas, p. 41...). A constituição é considerada norma pura. A palavra 
constituição tem dois sentidos: lógico-jurídico e jurídico-positivo. De 
acordo com o primeiro, constituição significa norma fundamental 
hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da 
validade da constituição jurídico-positiva, que equivale à norma positiva 
suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei 
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nacional no seu mais alto grau. É correto afirmar que essa definição 
denota um conceito de constituição no seu sentido jurídico. 
Como vimos, na concepção jurídica de Constituição (Hans Kelsen), a 
Constituição é vista a partir de uma perspectiva estritamente formal, como 
norma pura, desprovida de qualquer consideração de cunho sociológico, moral, 
político ou filosófico. 
Nesse sentido, para o mesmo autor, o termo Constituição apresenta dois 
sentidos: sentido lógico-jurídico (norma fundamental hipotética) e sentido 
jurídico-positivo (norma positiva suprema, que regula a criação das demais 
normas). 
Item certo. 
8) (CESPE/AGENTE DE POLÍCIA/SECAD/TO/2008) A concepção política de 
Constituição, elaborada por Carl Schmitt, compreende-a como o conjunto 
de normas que dizem respeito a uma decisão política fundamental, ou 
seja, a vontade manifestada pelo titular do poder constituinte. 
Essa é a teoria de Carl Schmitt (concepção política), segundo a qual a 
Constituição abrange as decisões políticas fundamentais. 
Item certo. 
 
1.2 – Classificação das constituições 
Em todo direito constitucional, há diversas formas de se classificar 
determinada Constituição. Vamos estudar aqui as classificações mais 
relevantes para fins de concurso público. 
As Constituições podem ser classificadas: 
- quanto ao conteúdo; 
- quanto à forma; 
- quanto ao modo de elaboração; 
- quanto à origem; 
- quanto à estabilidade; 
- quanto à extensão; 
- quanto à finalidade; e 
- quanto à correspondência com a realidade. 
Vejamos uma a uma. 
Quanto ao conteúdo: materiais e formais 
Já falamos um pouco sobre o sentido material e formal de Constituição. 
Constituição material (ou substancial) é aquele conjunto de normas 
substancialmente constitucionais. Não importa se as normas estão ou não 
codificadas em um único documento (um livro denominado “Constituição”). Se 
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a norma fala sobre temas substancialmente constitucionais, ela integra a 
Constituição material. 
A Constituição formal é aquela que está restrita a um documento solene, de 
forma escrita. Assim, independentemente do tema sobre o qual versem, 
aquelas normas ali inseridas terão status de normas constitucionais. 
Observem a Constituição de 1988. Ela é do tipo formal, tendo em vista que 
qualquer dos temas inseridos naquele documento revestem-se da mesma 
dignidade jurídica. Não importa se trata da organização do Estado (tema 
essencialmente constitucional, substancialmente constitucional) ou de qualquer 
outro aspecto pouco relevante, o que importa é o processo de formação, é o 
fato de aquela norma estar dentro daquele documento. 
Quer um exemplo para esclarecer? 
O art. 242, § 2° da CF/88 assim dispõe: “O Colégio Pedro II, localizado na 
cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal.” 
Acho que fica claro para qualquer um que isso não tem dignidade 
constitucional. Não é um assunto essencialmente constitucional. Entretanto, 
segundo o sentido formal de Constituição, o que importa é o fato de ele 
integrar a Constituição. É dizer, o art. 242, § 2° é tão formalmente 
constitucional quanto os artigos que estabelecem os princípios constitucionais 
ou os direitos fundamentais. 
Quanto à forma: escritas e não escritas 
Constituição escrita é aquela solenemente elaborada por um órgão 
constituinte num determinado momento. Disso resulta um documento escrito, 
integrado por todas as normas constitucionais. E aquele documento é que rege 
todo ordenamento jurídico, regulando jurídica e efetivamente as relações da 
vida e dirigindo as condutas. 
Há autores que subdividem essa classificação: se suas normas forem 
sistematizadas em documento único, serão consideradas codificadas. Ao 
contrário, se forem formadas por diferentes textos esparsos, receberão a 
denominação de escritas legais. 
Já a Constituição não escrita (costumeira ou consuetudinária) é aquela que 
surge com o lento passar do tempo, como resultado de lenta síntese da 
evolução histórica do Estado. É integrada por leis escritas esparsas, 
jurisprudências, normas costumeiras e convenções. 
A Constituição de 1988 é do tipo escrita, pois está compilada em um único 
documento elaborado por um órgão constituinte. 
Atenção! É errado dizer que a Constituição não escrita é integrada apenas por 
normas costumeiras, sem textos propriamente ditos. Observe que esse tipo de 
Constituição pode ser formado, também, por algumas normas escritas, 
adicionalmente aos costumes e convenções. 
Quanto ao modo de elaboração: dogmáticas e históricas 
Constituição dogmática é formada em determinado momento histórico, 
baseada nas ideias, ideologias e princípios da teoria política e do direito 
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daquele tempo. É o caso da Constituição de 1988, que foi elaborada por uma 
assembléia constituinte, em determinado momento fixo, segundo os dogmas 
reinantes àquela época. 
Ao contrário, a Constituição histórica é fruto da lenta e contínua síntese da 
história daquele povo, constituindo um longo processo de formação. Ou seja, 
não é formulada em um momento pontual e temporalmente determinado. 
Quanto à origem: promulgadas e outorgadas 
Constituição promulgada (democrática ou popular) é produzida pela 
participação popular, normalmente por força do regime de democracia 
representativa. Assim, a Constituição surge do trabalho de uma assembleia 
constituinte, formada por representantes do povo (eleitos democraticamente). 
Por outro lado, a Constituição outorgada é imposta de forma unilateral pelo 
poder da época, sem a participação popular. Trata-se de obra de um agente 
revolucionário que atua sem legitimidade para representar o povo. 
Há a Constituição cesarista, que também não é democrática. Trata-se de 
uma Constituição elaborada pelo detentor do poder e submetida ao povo, com 
vistas a referendar aquele documento, dando a ele ares de aparente 
legitimidade. 
No Brasil, já tivemos tanto Constituições promulgadas, quanto outorgadas. 
Sabendo um pouquinho de história você pode ter uma noção inicial do perfil 
daquela Constituição. É só verificar o “ambiente” em que surge aquela 
Constituição. 
I) A primeira Constituição foi a 1824, que era imperial e outorgada. 
II) Em 1937, tivemos uma Constituição outorgada, durante o regime totalitário 
de Getúlio Vargas (Estado Novo). 
II) A Constituição de 1967 e a emenda constitucional de 1969 foram 
outorgadas logo após o golpe militar de 1964 e regeram o país até 1988. 
Em suma, na história do constitucionalismo brasileiro tivemos Constituições 
outorgadas (1824, 1937, 1967e 1969) e Constituições promulgadas (1891, 
1934, 1946 e 1988). 
 
Quanto à estabilidade (ou alterabilidade): imutáveis, rígidas, 
flexíveis e semi-rígidas 
A Constituição imutável é aquela que não admite alteração do seu texto em 
nenhuma hipótese. Atualmente, podemos dizer que esta forma está em desuso 
(constituem relíquias históricas), tendo em vista que a imutabilidade pode 
resultar na total desconexão entre a Constituição e a realidade à sua volta. 
A Constituição rígida é aquela que admite alteração do seu texto, mas 
somente mediante um processo legislativo solene, mais dificultoso do que 
aquele de elaboração das leis. 
A Constituição flexível admite alteração do seu texto mediante processo 
legislativo simples, igual ao de elaboração das leis. Em regra, são também não 
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escritas (classificação quanto à forma), mas podem ser excepcionalmente 
escritas. 
A Constituição semiflexível ou semirrígida mescla os dois tipos anteriores. 
Exige um procedimento especial para alteração de parte do seu texto (parte 
rígida) e permite a alteração da outra parte mediante procedimento simples, 
igual ao de elaboração das leis (parte flexível). 
Destaque-se que, no Brasil, todas as Constituições foram do tipo rígida 
(inclusive a de 1988), exceto a Imperial de 1824, que foi do tipo semirrígida. 
A propósito, quer ver como funciona uma Constituição semi-rígida? A 
Constituição de 1824 apresentava a seguinte regra no seu artigo 178: 
“Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições 
respectivas dos Poderes Políticos, e aos Direitos Políticos e individuais dos 
Cidadãos. Tudo o que não é Constitucional pode ser alterado, sem as 
formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinárias.” 
Ou seja, a própria Constituição traz um dispositivo que indica qual é a sua 
parte rígida (que vai exigir procedimento mais dificultoso para sua 
modificação) e qual é a sua parte flexível. 
Atenção! Apesar de a Constituição de 1988 ser do tipo rígida, há na doutrina 
(Alexandre de Moraes) quem a classifique como super rígida, uma vez que 
possui um núcleo não passível de supressão (cláusulas pétreas). 
Quanto à extensão: sintéticas e analíticas 
A Constituição sintética (breve ou concisa) é aquela de texto abreviado, que 
trata apenas de matérias substancialmente constitucionais. 
De outra forma, a Constituição analítica (extensa ou prolixa) é aquela de 
texto extenso, tratando de matérias variadas, e não só de temas 
substancialmente constitucionais. 
A Constituição de 1988 é classificada como analítica, pois apresenta texto 
extenso, abrangendo normas materialmente constitucionais, normas apenas 
formalmente constitucionais e normas programáticas. Nesse sentido, nossa 
Constituição segue a tendência moderna de as Constituições analíticas como 
forma de: (i) conferir maior estabilidade a certas matérias, levando-as para o 
texto da Constituição; e (ii) assegurar uma maior proteção social aos 
indivíduos, por meio da fixação de programas e diretrizes de política social 
para a concretização futura pelos órgãos estatais. 
Quanto à finalidade: garantia, balanço e dirigente 
A Constituição garantia (negativa) é aquela de texto abreviado (sintética) 
que se limita a estabelecer as garantias fundamentais e limites frente ao 
Estado. Podemos dizer que elas “olham para o passado”, no sentido de 
garantir aquelas conquistas. 
A Constituição balanço é aquela elaborada para retratar a vida do Estado 
por um período certo de tempo. Podemos dizer que elas “olham o presente”. 
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A Constituição dirigente (ou programática) tem texto extenso (analítica) e, 
além de estabelecer as garantias fundamentais frente ao Estado, fixam 
programas e diretrizes para a atuação futura dos órgãos estatais, normalmente 
de cunho social. Em suma, elas “olham para frente, para o futuro”. 
Nasceram com o surgimento do chamado Estado Social, e passaram a 
introduzir, no texto constitucional, verdadeiros programas sociais a serem 
concretizados no futuro pelos órgãos estatais. Esses programas, em sua 
maioria de cunho social-democrático, correspondem às chamadas “normas 
programáticas”. 
Quanto à correspondência com a realidade: normativas, 
nominativas e semânticas 
Karl Loewenstein formulou uma classificação que leva em conta a 
correspondência entre o texto constitucional e a realidade política do Estado. 
A Constituição normativa é aquela que consegue efetivamente normatizar a 
vida política do Estado, limitando sua ingerência por meio da garantia de 
direitos aos indivíduos. Existe em países em que há perfeita correspondência 
entre as normas estabelecidas (pela Constituição) e a realidade (o que, de 
fato, ocorre na vida política do Estado). 
A Constituição nominativa é aquela que tem o objetivo de regular a vida 
política do Estado, mas não consegue cumprir essa função. Ou seja, até que se 
busca essa normatização das relações em sociedade, mas sem sucesso. 
Por fim, há ainda a Constituição semântica, em que não há sequer o 
objetivo de limitar a ingerência estatal em favor do indivíduo. Busca-se apenas 
conferir legitimidade meramente formal aos governantes, servindo como 
instrumento em favor dos detentores do poder. 
Façamos umas questões para fixar o conteúdo; mas, antes, vamos organizar 
tudo isso que eu falei. 
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Sintetizando: 
 
Agora, veja como o Cespe tentou pegar os candidatos desprevinidos nesta 
questão do concurso do TCU. 
9) (CESPE/AUFC/TCU/2011) Constituição rígida é a que não pode ser 
alterada. 
Não, não. A Constituição rígida pode, sim, ser alterada, desde que por um 
procedimento mais árduo, mais dificultoso, do que aquele previsto para as 
demais leis. 
Item errado. 
10) (CESPE/PROCURADOR/AGU/2010) Segundo a doutrina, quanto ao critério 
ontológico, que busca identificar a correspondência entre a realidade 
política do Estado e o texto constitucional, é possível classificar as 
constituições em normativas, nominalistas e semânticas. 
Quanto à correspondência com a realidade (critério ontológico), Karl 
Loewenstein divide as constituições em normativas, nominativas (ou 
nominalistas) e semânticas. Portanto, correto o item. 
I) Normativa → consegue efetivamente normatizar a vida política do Estado. 
II) Nominativa → tem o objetivo de regular a vida política do Estado, mas 
não consegue cumprir essa função. 
III) Semântica → não há sequer o objetivo de limitar a ingerência estatal em 
favor do indivíduo. Busca-se apenas conferir legitimidade meramente formal 
aos governantes. 
Item certo. 
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11) (CESPE/TÉCNICO JUDICIÁRIO/TRE/ES/2011) Denomina-se constituição 
outorgada a elaborada e estabelecida com a participação do povo, 
normalmente por meio de Assembleia Nacional Constituinte. 
O conceito apresentado na questão relaciona-se à Constituição promulgada 
(e não à outorgada). 
Item errado. 
12) (CESPE/AGENTE DE POLÍCIA/SECAD/TO/2008) Constituição em sentido 
formal é a que trata de temas e matérias de índole constitucional, 
legitimando o poder transferido pela sociedade ao Estado. 
A Constituição que trata de matérias e temas de índole constitucional é a 
Constituição em sentido material. A constituição em sentido formal é aquela 
existente em documento único, escrito, e que traz em seu bojo nãosó 
assuntos substancialmente constitucionais. De qualquer forma, todas as suas 
normas têm a mesma hierarquia, mantêm status de constituição. 
Item errado. 
13) (CESPE/AGENTE DE POLÍCIA/SECAD/TO/2008) Constituição em sentido 
material é a que trata de matéria tipicamente constitucional, 
compreendendo as normas que dizem respeito à estrutura mínima e 
essencial do Estado. 
A questão apresenta corretamente o conceito de Constituição em sentido 
material. 
Item certo. 
14) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) A CF vigente, quanto à 
sua alterabilidade, é do tipo semiflexível, dada a possibilidade de serem 
apresentadas emendas ao seu texto; contudo, com quorum diferenciado 
em relação à alteração das leis em geral. 
A assertiva está errada, pois a CF/88 é do tipo rígida. Até admite alteração do 
seu texto, mas somente mediante um processo legislativo solene, mais 
dificultoso do que aquele de elaboração das leis. 
Por sua vez, as Constituições semirrígidas são aquelas que exigem um 
procedimento especial para alteração de parte do seu texto (parte rígida) e 
permitem a alteração da outra parte mediante procedimento simples, igual ao 
de elaboração das leis (parte flexível). 
Item errado. 
15) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) Uma Constituição do tipo 
cesarista se caracteriza, quanto à origem, pela ausência da participação 
popular na sua formação. 
Na formação de uma Constituição do tipo cesarista há, sim, participação do 
povo, haja vista que caberá a este referendar (ou não) o texto constitucional 
previamente elaborado. 
Item errado. 
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16) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) Uma Constituição 
classificada como semiflexível ou semirrígida significa que ela é tanto 
rígida como flexível, com certas matérias que exigem um processo de 
alteração mais dificultoso do que o exigido para alteração de leis 
infraconstitucionais. 
O enunciado está de acordo com o conceito apresentado anteriormente. 
Item certo. 
17) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/MMA/2009) A CF, quanto à origem, é 
promulgada, quanto à extensão, é analítica e quanto ao modo de 
elaboração, é dogmática. 
De fato, a nossa Constituição Federal de 1988 é do tipo promulgada 
(elaborada com participação popular, por meio de representação). É analítica 
(de texto extenso, tratando das mais variadas matérias). E é dogmática 
(escrita por um órgão constituinte, apresentando as idéias reinantes no 
momento de sua elaboração). 
Item certo. 
18) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 1ª REGIÃO/2008) A 
CF é dogmática porque é escrita, foi elaborada por um órgão constituinte 
e sistematiza dogmas ou idéias da teoria política de seu momento 
histórico. 
De fato a CF/88 é dogmática, já que é uma Constituição escrita, elaborada por 
um órgão constituinte e que retrata os dogmas ou idéias reinantes à época de 
sua elaboração. 
Item certo. 
19) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 1ª REGIÃO/2008) A 
atual CF foi outorgada porque não foi votada diretamente pelo povo, mas 
sim por seus representantes. 
A CF/88 foi promulgada (democrática), exatamente por ter sido votada pelos 
representantes do povo. Seria outorgada caso editada unilateralmente pelo 
detentor do poder, em participação do povo (ou de seus representantes 
legítimos). 
Item errado. 
20) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Quanto ao modo de elaboração, a vigente CF pode 
ser classificada como uma constituição histórica, em oposição à dita 
dogmática. 
A vigente CF/88 pode ser considerada como dogmática, em oposição à 
histórica. 
Item errado. 
21) (CESPE/JUIZ/PB/2011) O objeto da CF é a estrutura fundamental do 
Estado e da sociedade, razão por que somente as normas relativas aos 
limites e às atribuições dos poderes estatais, aos direitos políticos e 
individuais dos cidadãos compõem a Constituição em sentido formal. 
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O Cespe é impressionante! Traz questões que emocionam...rs 
O objeto de uma Constituição realmente é a estrutura do Estado e da 
sociedade - esses são os temas materialmente (substancialmente) 
constitucionais – têm substância (matéria) de Constituição. 
As normas relativas aos limites e às atribuições dos poderes estatais, aos 
direitos políticos e individuais dos cidadãos compõem esse núcleo 
substancialmente constitucional. 
Agora, a questão afirma que essas matérias substancialmente constitucionais 
são o que compõe a Constituição em sentido formal, o que você acha? 
Não! Isso compõe a Constituição em sentido material. 
“- Uai, Fred, então o que compõe a Constituição em sentido formal?” 
Qualquer coisa que estiver dentro de um documento chamado “Constituição”. 
Qualquer norma que, formalmente, integre o texto da Constituicão, 
independentemente do assunto de que trate essa norma. 
Item errado. 
22) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Distintamente da constituição analítica, a 
constituição dirigente tem caráter sintético e negativo, pois impõe a 
omissão ou negativa de ação ao Estado e preserva, assim, as liberdades 
públicas. 
Não, a Constituição dirigente tem caráter analítico, e não sintético. A 
Constituição garantia, sim, é que teria um caráter sintético e negativo, 
impondo omissões (melhor seria falar em “abstenções”) do Estado e 
preservando, com isso, as garantias fundamentais do cidadão. 
Item errado. 
23) (CESPE/AGENTE ADMINISTRATIVO/AGU/2010) A CF sofreu, ao longo de 
sua existência, enorme quantidade de emendas; apesar disso, ela é 
classificada pela doutrina como rígida, escrita, democrática, dogmática, 
eclética, formal, analítica, dirigente, normativa, codificada, social e 
expansiva. 
Deixei esta questão por último, uma vez que ela abordou classificações 
raramente cobradas em concursos. 
Em primeiro lugar, cabe mencionar que, de fato, a CF/88 é do tipo: (i) rígida 
(exige procedimento mais árduo para alteração dos seus dispositivos do que 
para a mudança das demais leis); (ii) escrita (redigida em documento único, 
por um órgão constituinte); (iii) democrática (elaborada por representantes do 
povo democraticamente eleitos); (iv) dogmática (reflete a ideologia reinante 
em determinado momento histórico delimitado no tempo); (v) formal (trata 
não só de normas substancialmente constitucionais); (vi) analítica (de texto 
extenso, tratando de matérias variadas, e não só de temas substancialmente 
constitucionais); (vii) dirigente (além de estabelecer as garantias fundamentais 
frente ao Estado, fixa programas e diretrizes para a atuação futura dos órgãos 
estatais); e (viii) normativa (efetivamente regula a vida política do Estado). 
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Ademais, há outras classificações esparsas desenvolvidas pela doutrina e 
raramente cobradas em concursos. Assim, está correto dizer que a CF/88 
também poderia ser classificada como: codificada, social, expansiva e eclética. 
Segundo Paulo Bonavides, as constituições podem ser codificadas ou legais. As 
codificadas seriam aquelas que se acham inteiramente num só texto, 
formando um único corpo de lei (é o caso da CF/88). De outra forma, há as 
constituições legais, que seriam compostas de textos escritos, mas que se 
encontram de forma espalhada, fragmentada em vários textos esparsos. 
Segundo o critério ideológico, as constituições podem ser sociais ou liberais. A 
Constituição Federal de 1988 é do tipo social, pois se relaciona a uma atuação 
positiva do Estado, em busca da consagração da igualdade material entre os 
cidadãos e dos direitos sociais (direitosfundamentais de segunda geração). Já 
as constituições liberais identificam-se com a ideologia liberal, relacionada ao 
absenteísmo estatal, em que se exige um não fazer por parte do Estado 
(direitos fundamentais de primeira geração). 
Raul Machado Horta classifica a CF/88 como expansiva, na medida em que 
traz temas novos e amplia temas permanentes (como é o caso dos direitos 
fundamentais). 
Por fim, podemos classificar as constituições quanto à dogmática em ortodoxas 
e ecléticas. As primeiras seriam aquelas formadas por uma única ideologia 
(como a Constituição Soviética de 1977). Por sua vez, as constituições 
ecléticas seriam aquelas formadas por ideologias conciliatórias, como é o caso 
da CF/88. 
Item certo. 
 
1.3 – Supremacia da Constituição 
Antes de passar para o próximo tópico, quero que você consiga identificar de 
onde surge a chamada supremacia da Constituição. 
Relembrando o que acabamos de falar ao tratar da classificação da 
Constituição quanto à estabilidade... Se a nossa Constituição é rígida, ela 
exige um procedimento especial para sua alteração, mais dificultoso do que o 
das demais normas. 
Ou seja, alterar a Constituição é mais difícil que alterar uma simples lei. Como 
resultado, não pode uma simples lei revogar uma norma constitucional 
qualquer, afinal a Constituição é mais forte do que as leis. 
Veja que se o procedimento de alteração da Constituição fosse o mesmo das 
demais leis, uma simples lei poderia alterar a Constituição. Afinal, imagine um 
sistema de Constituição flexível, em que tanto as normas constitucionais 
quanto as demais normas exigem apenas maioria simples para sua produção. 
Nessa hipótese, qualquer lei aprovada por maioria simples após a Constituição 
poderia revogar seus dispositivos. Isso porque nos sistemas de Constituição 
flexível, não há superioridade formal entre as normas constitucionais e as 
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demais leis. Assim sendo, estas (as leis) não precisam respeitar aquelas (as 
normas constitucionais). 
Daí ser importante você memorizar: a rigidez traz como conseqüência 
lógica, o posicionamento da nossa Constituição Federal no vértice, no 
topo do ordenamento jurídico. É nos ordenamentos de Constituição rígida 
que vigora o princípio da supremacia formal da Constituição. 
Por conseqüência, todos os atos e manifestações jurídicas, para permanecerem 
no ordenamento jurídico, devem estar de acordo com a Lei Maior, a 
Constituição. 
Entretanto, você tem de saber que supremacia material e supremacia formal 
não se confundem. 
Essa superioridade que posiciona a Constituição em um plano superior e exige 
conformidade das demais normas com seus princípios e suas regras consiste 
na supremacia formal (supremacia decorrente das formalidades especiais 
exigidas para a alteração das normas constitucionais). 
Observe que essa força das normas constitucionais não existe devido ao seu 
conteúdo. Não é a dignidade do tema tratado que faz nascer essa 
superioridade. Ela decorre do simples fato de a norma estar dentro da 
Constituição rígida. 
Por seu turno, existe a supremacia material; aí sim, decorrente da matéria, 
do conteúdo da norma. Essa supremacia decorre do fato de uma norma tratar 
de matéria relevante, substancialmente constitucional. Não há qualquer 
relação com o processo de elaboração da norma ou com o fato de ela estar 
dentro ou fora de um documento único. 
Supremacia formal → relaciona-se ao processo de elaboração; 
Supremacia material → relaciona-se à dignidade do conteúdo; 
É possível então que você já tenha formulado uma constatação interessante: 
I) só há que se falar em supremacia formal das normas constitucionais em 
um sistema de Constituição rígida; 
II) já a supremacia material também existe nas Constituições flexíveis, não-
escritas, históricas e costumeiras. 
Por fim, observe que, se a noção de supremacia formal posiciona a 
Constituição acima de todas as demais normas, a Constituição funciona como 
parâmetro de validade dessas normas, que devem sempre estar de acordo 
com ela. Em outras palavras, o controle de constitucionalidade das leis e atos 
normativos decorre da noção de supremacia formal da Constituição. Mas, 
voltaremos a tratar disso nas últimas aulas; aliás, as mais interessantes do 
curso... Por enquanto, guarde bem essas relações. 
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Rigidez 
Constitucional
Supremacia 
Constitucional
Controle de 
Constitucionalidade
 
24) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/TRT 1ª REGIÃO/2008) 
Tanto as constituições rígidas como as flexíveis apresentam superioridade 
material e formal em relação às demais normas do ordenamento jurídico. 
No caso de uma Constituição flexível, uma simples lei poderia alterar a 
Constituição, pois esta não tem uma força maior. Significa dizer que, nos 
sistemas de Constituição flexível, não há superioridade formal entre as 
normas constitucionais e as demais leis. Portanto, errada a questão. 
Entretanto, a supremacia material não decorre do procedimento, mas da 
matéria, do conteúdo da norma. Essa supremacia decorre do fato de uma 
norma tratar de matéria relevante, substancialmente constitucional. E nesse 
caso, mesmo as constituições flexíveis dispõem de superioridade material. 
Item errado. 
25) (CESPE/TITULARIDADE DE SERVIÇOS NOTARIAIS E DE 
REGISTRO/TJDFT/2008) A idéia de supremacia material da CF, segundo o 
STF, é o que possibilita o controle de constitucionalidade. 
A supremacia formal é que posiciona a Constituição no vértice, no topo do 
ordenamento jurídico. Como conseqüência, todos os atos e manifestações 
jurídicas, para permanecerem no ordenamento jurídico, devem estar de acordo 
com a Lei Maior, a Constituição. 
Daí a necessidade da existência de controle de constitucionalidade, para 
verificar a compatibilidade desses atos e manifestações com as regras e 
princípios da Constituição Federal. 
Assim, errada a questão, pois só faz sentido falar-se em controle de 
constitucionalidade se a Constituição estiver acima das leis (onde haja 
supremacia formal constitucional). 
Item errado. 
 
1.4 – Elementos das constituições 
Esse assunto é desenvolvido pelo professor José Afonso da Silva e vem sendo 
cobrado pelas bancas examinadoras de concursos. 
Como já foi comentado, tem sido observado o fenômeno da ampliação do 
conteúdo das constituições, que vem ocorrendo ao longo da história e 
resultando na distinção, já comentada, entre sentido formal e material de 
Constituição. 
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Isso tem ocorrido especialmente após as constituições passarem a trazer em 
seu conteúdo os fins e os objetivos do Estado, ao mesmo tempo em que este 
Estado assume uma postura mais interventiva. 
Assim, as constituições contemporâneas têm se apresentado repletas de 
normas que tratam das matérias mais variadas. Tendo em vista essa 
diversidade, José Afonso da Silva agrupa as normas em cinco categorias de 
elementos constitucionais, a saber: 
I) elementos orgânicos – reúnem os dispositivos constitucionais relacionados 
à organização, ao funcionamento e à estrutura do poder e do Estado. São 
exemplos os títulos III (organização do Estado); IV (organização dos poderes e 
do sistema de governo); VI (tributação e orçamento); e capítulos II e III do 
título V (forças armadas e segurança pública); 
II) elementos limitativos – abrangem os dispositivos referentes aos direitos e 
garantias fundamentais (com exceção dos direitos sociais), que, como se sabe,visam a limitar o poder do Estado; 
III) elementos sócio-ideológicos – incluem as normas relacionadas à noção 
de Estado de bem-estar social, que indicam o caráter intervencionista e 
social das constituições modernas. São exemplos os direitos sociais e os 
títulos VII (ordem econômica e financeira) e VIII (ordem social); 
IV) elementos de estabilização constitucional – consubstanciam normas 
destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da 
Constituição, do Estado e das instituições democráticas. Inclui os arts. 102 e 
103 (jurisdição constitucional); o art. 60 (processo de emenda constitucional); 
os arts. 34 a 36 (intervenção); e o capítulo I do título V (estado de defesa e 
estado de sítio); 
V) elementos formais de aplicabilidade – normas que estatuem regras de 
aplicação das constituições. São exemplos o preâmbulo, as disposições 
constitucionais transitórias (ADCT); bem como o § 1° do art. 5°, segundo o 
qual “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm 
aplicação imediata”. 
26) (CESPE/ANALISTA PROCESSUAL/MPE/PI/2012) O Preâmbulo e o Ato das 
Disposições Constitucionais Transitórias são exemplos dos denominados 
elementos de estabilização constitucional. 
Na verdade, o preâmbulo e o ADCT são considerados elementos formais de 
aplicabilidade. 
Item errado. 
27) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Por limitarem a atuação dos poderes estatais, as 
normas que regulam a ação direta de inconstitucionalidade e o processo 
de intervenção nos estados e municípios integram os elementos ditos 
limitativos. 
Veja como o examinador foi traiçoeiro... 
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Os instrumentos de controle de constitucionalidade e intervenção são 
caracterizados como elementos de estabilização constitucional. Os elementos 
limitativos são os direitos e garantias fundamentais. 
Item errado. 
28) (CESPE/JUIZ/PB/2011) Os elementos formais de aplicabilidade são 
exteriorizados nas normas constitucionais que prescrevem as técnicas de 
aplicação delas próprias, como, por exemplo, as normas inseridas no Ato 
das Disposições Constitucionais Transitórias. 
De fato, a questão caracteriza corretamente os elementos formais de 
aplicabilidade. 
Item certo. 
29) (CESPE/DELEGADO/POLÍCIA CIVIL/PB/2008) O dispositivo constitucional 
que determina a competência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para 
julgar crimes cometidos por governador de estado insere-se no chamado 
elemento formal de aplicabilidade. 
O dispositivo constitucional que determina a competência do STJ para julgar 
crimes cometidos por governador de estado insere-se nos chamados 
elementos orgânicos da Constituição. Afinal, trata-se de regra que diz respeito 
à relação entre os poderes. 
Item errado. 
30) (CESPE/ANALISTA JUDICIÁRIO/ÁREA JUDICIÁRIA/STJ/2008) Os direitos e 
garantias fundamentais são considerados elementos limitativos das 
constituições. 
De fato, os direitos e garantias fundamentais integram os denominados 
elementos limitativos das constituição. 
Item certo. 
 
2 – Aplicabilidade e eficácia: Classificação das normas constitucionais 
Neste tópico passarei a abordar sucintamente o assunto eficácia e 
aplicabilidade das normas constitucionais. 
Em primeiro lugar: todas as normas constitucionais possuem eficácia 
jurídica. Podemos até considerar a existência de uma variação no grau de 
eficácia e aplicabilidade dessas normas. Mas, não existem normas desprovidas 
de eficácia jurídica no texto da Constituição. 
Bem, ocorre que algumas normas já produzem seus efeitos essenciais com a 
simples promulgação da Constituição. Outras têm um grau de eficácia 
reduzido, já que só produzem os seus plenos efeitos quando forem 
regulamentados por lei. 
Quem melhor desenvolve esse assunto é o prof. José Afonso da Silva, que 
classifica as normas constitucionais em: eficácia plena, limitada e contida. 
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Fique atento, pois esse assunto não cai, despenca em concursos! E o melhor é 
que é bem simples de você aprender... 
As normas constitucionais dividem-se em três diferentes graus de eficácia: 
→ eficácia plena 
→ eficácia contida 
→ eficácia limitada 
 
2.1 – Normas de eficácia plena 
As normas de eficácia plena são aquelas que já estão aptas para produzirem 
os seus plenos efeitos com a simples entrada em vigor da Constituição, 
independentemente de regulamentação por lei. 
Assim, são dotadas de aplicabilidade imediata (porque estão aptas para 
produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da Constituição); 
direta (porque não dependem de nenhuma norma regulamentadora 
intermediária para a produção de efeitos); e integral (porque já produzem 
seus essenciais efeitos). 
 
2.2 – Normas de eficácia contida 
As normas de eficácia contida, restringida ou restringível também estão 
aptas para a produção de seus plenos efeitos com a simples promulgação da 
Constituição, mas podem ser restringidas. Promulgada a Constituição, aquele 
direito (nelas previsto) é imediatamente exercitável, mas esse exercício poderá 
ser restringido no futuro. 
Assim, são dotadas de aplicabilidade imediata (porque estão aptas para 
produzir efeitos imediatamente, com a simples promulgação da Constituição); 
direta (porque não dependem de nenhuma norma regulamentadora 
intermediária para a produção de efeitos); mas não-integral (porque sujeitas 
à imposição de restrições). 
Ademais, vale a pena comentar que as restrições às normas de eficácia contida 
podem ser impostas: 
a) por lei (exemplo: art. 5º, XIII, da CF/88, que prevê as restrições ao 
exercício de trabalho, ofício ou profissão, que poderão ser impostas pela lei 
que estabelecer as qualificações profissionais); 
b) por outras normas constitucionais (exemplo: art. 139 da CF/88, que impõe 
restrições ao exercício de certos direitos fundamentais, durante o período de 
estado de sítio); 
c) por conceitos ético-jurídicos geralmente aceitos (exemplo: art. 5º, XXV, da 
CF/88, em que o conceito de “iminente perigo público” autoriza a autoridade 
competente a impor uma restrição ao direito de propriedade, requisitando 
administrativamente a propriedade particular). 
 
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2.3 – Normas de eficácia limitada 
As normas de eficácia limitada são aquelas que só produzem seus plenos 
efeitos depois da exigida regulamentação. Elas asseguram determinado 
direito, mas esse direito não poderá ser exercido enquanto não for 
regulamentado pelo legislador ordinário. Enquanto não expedida a 
regulamentação, o exercício do direito permanece impedido. 
São, por isso, dotadas de aplicabilidade mediata (só produzirão seus efeitos 
essenciais posteriormente, depois da regulamentação por lei); indireta (não 
asseguram, diretamente, o exercício do direito, dependendo de norma 
regulamentadora intermediária para tal); e reduzida. 
Podemos dizer que, com a simples promulgação da Constituição, sua eficácia é 
meramente “negativa”. É importante explicar melhor essa eficácia negativa. 
É que elas não produzem seus plenos efeitos ainda (já que dependem da 
regulamentação), mas já servem de parâmetro para a realização do 
controle de constitucionalidade das leis: (i) revogando a legislação 
pretérita em sentido contrário; e (ii) permitindo a declaração da 
inconstitucionalidade da legislação posterior em sentido contrário. 
Ademais, essas normas também servem de parâmetro para o exercício da 
interpretação constitucional. 
Atenção! Diante do que eu disse aqui,é errada a questão que afirme que até 
a regulamentação, as normas de eficácia limitada são desprovidas de eficácia. 
Continuando nossa análise sobre as normas de eficácia limitada, elas podem 
ser divididas em dois grupos: 
a) de princípio institutivo ou organizativo; 
b) de princípio programático. 
As normas definidoras de princípio institutivo ou organizativo são aquelas 
em que a Constituição estabelece regras para a futura criação, estruturação e 
organização de órgãos, entidades ou institutos, mediante lei (por exemplo, “a 
lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios” (CF, 
art. 33)). 
Vale comentar que essas normas constitucionais definidoras de princípio 
institutivo podem ser impositivas (quando determinam peremptoriamente a 
edição de norma) ou facultativas (quando apenas facultam ao legislador, não 
impõem). 
Ou seja: 
I) Impositivas → aquelas vinculadas, em que se determina ao legislador a 
obrigação de emissão da legislação integrativa (por exemplo, art. 20, §2°; art. 
32, §4°; art. 33; art. 88; art. 91, § 2°); e 
II) Facultativas → aquelas que dão ao legislador ordinário a possibilidade 
(e não a obrigação) de instituir ou regular a situação nelas delineada (por 
exemplo, art. 22, § único; art. 125, § 3°; art. 195, § 4°; art. 25, § 3°; art. 
154, I). 
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Já as normas constitucionais definidoras de princípios programáticos são 
aquelas em que a Constituição estabelece os princípios e diretrizes a serem 
cumpridos futuramente pelos órgãos estatais (legislativos, executivos, 
jurisdicionais e administrativos), visando à realização dos fins sociais do 
Estado. 
Constituem programas a serem realizados pelo Poder Público, disciplinando 
interesses econômico-sociais, tais como: realização da justiça social; 
valorização do trabalho; amparo à família; combate ao analfabetismo etc. (por 
exemplo, “a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, 
política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de 
uma comunidade latino-americana de nações” (CF, art. 4°, parágrafo único)). 
Esse grupo é composto pelas chamadas normas programáticas. 
Bem, esquematizei essas informações para que você possa memorizá-las de 
forma mais simples. 
Sintetizando: 
 
 
Agora, vou reforçar (e aprofundar) o que vimos sobre normas programáticas 
com uma questão muito boa do Cespe. 
31) (CESPE/JUIZ/PB/2011) As normas constitucionais programáticas cingem-
se a estipular princípios ou programas que devem ser perseguidos pelos 
poderes públicos, não possuindo eficácia vinculante nem sendo capazes de 
Eficácia 
Plena 
Eficácia 
Contida 
- Só produzem seus plenos efeitos depois da exigida regulamentação 
- Aplicabilidade 
 
- Princípio Institutivo → regras para a futura criação, estruturação e organização de órgãos, 
entidades ou institutos, mediante lei. 
- Princípio Programático → princípios e diretrizes a serem cumpridos futuramente pelos 
órgãos estatais visando à realização dos fins sociais do Estado. 
Eficácia das normas constitucionais 
Mediata (efeitos essenciais apenas após regulamentação) 
Indireta (dependem de norma regulamentadora) 
Reduzida (com a promulgação da Constituição, sua eficácia é 
meramente “negativa”, isto é, revogam a legislação pretérita 
e proíbem a legislação futura em sentido contrário) 
- Produzem seus efeitos essenciais com a simples entrada em vigor 
Imediata (aptas para produzir efeitos imediatamente) 
Direta (não dependem de nenhuma norma regulamentadora) 
Integral (já produzem seus integrais efeitos) 
- Aplicabilidade 
 
- Produzem seus efeitos essenciais, mas eles podem ser restringidos 
Imediata (aptas para produzir efeitos imediatamente) 
Direta (não dependem de nenhuma norma regulamentadora) 
Não integral (sujeitas à imposição de restrições) 
- Aplicabilidade 
 
Eficácia 
Limitada 
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gerar direitos subjetivos na sua versão positiva ou negativa, embora 
impeçam a produção de normas que contrariem o direito nelas inserido. 
De fato, conceituam-se as normas constitucionais programáticas como aquelas 
que estipulam princípios ou programas que devem ser perseguidos pelos 
poderes públicos. É certo ainda que essas normas impedem a produção de leis 
que contrariem o direito nelas inserido (eficácia reduzida). 
De qualquer forma, a questão está incorreta. Ora, são cada vez mais 
recorrentes as decisões do Supremo Tribunal Federal considerando que o 
cumprimento de um mandamento constitucional previsto em norma 
programática não constitui discricionariedade do gestor público. 
Tomemos como a norma programática prevista no art. 196 da CF/88: 
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas 
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua 
promoção, proteção e recuperação.” 
O caráter programático do dispositivo não significa que o Poder Público terá a 
liberdade para fornecer ou não saúde para a população. Não, não. Essa norma, 
por si só, já vincula o poder público à implementação de políticas públicas e 
impõe ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o 
efetivo acesso das pessoas a tal serviço. 
Diante disso, apesar de previsto em norma programática, “o direito público 
subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível assegurada à 
generalidade das pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). 
Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve 
velar, de maneira responsável, o Poder Público (...). A interpretação da norma 
programática não pode transformá-la em promessa constitucional 
inconsequente” (RE 271.286-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, 12.9.2000). 
Ou seja, não se pode dizer que uma norma programática não se revista de 
caráter vinculante, nem que não possa nunca gerar direitos subjetivos. 
Item errado. 
32) (CESPE/ANALISTA DE INFRAESTRUTURA/MPOG/2010) O dispositivo 
constitucional que estabelece ser livre o exercício de qualquer trabalho 
ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais instituídas em 
lei, constitui exemplo de norma de eficácia limitada. 
O dispositivo constitucional que assegura a liberdade profissional (CF, art. 5°, 
XIII) é norma de eficácia contida. Enquanto a lei não regulamentar 
determinado trabalho, ofício ou profissão, o seu exercício é livre a qualquer 
pessoa. Esse direito poderá ser restringido após a regulamentação, situação 
em que a liberdade do exercício profissional estará subordinada ao 
cumprimento das condições estabelecidas em lei. 
Atenção para esse “exemplo clássico” de norma de eficácia contida! Sempre cai 
o tal direito à liberdade de exercício profissional. Lembro que chamei a atenção 
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para isso no curso para o concurso do MPOG e deu no que deu: ele caiu de 
novo e quem ficou atento acertou. 
Item errado. 
33) (CESPE/ANALISTA/DPU/2010) Normas constitucionais de eficácia limitada 
são aquelas por meio das quais o legislador constituinte regulou 
suficientemente os interesses relativos a determinada matéria, mas 
deixou margem à atuação restritiva por parte da competência 
discricionária do poder público, nos termos em que a lei estabelecer ou 
nos termos dos conceitos gerais por ele enunciados. 
Acredito que você não teve dificuldades em acertaressa questão. A assertiva 
apresentou o conceito de norma de eficácia contida (e não eficácia limitada). 
Portanto, está incorreta. 
Memorize esses conceitos: 
Se o direito pode ser restringido → eficácia restringível ou contida 
Item errado. 
34) (CESPE/ANALISTA/DPU/2010) As normas constitucionais de eficácia plena 
são completas, não necessitando de qualquer outra disciplina legislativa 
para terem total aplicabilidade. Entre elas, encontram-se, por exemplo, as 
declaratórias de princípios organizativos (ou orgânicos), que contêm 
esquemas gerais e iniciais de estruturação de instituições, órgãos ou 
entidades. 
A primeira parte está correta. De fato, as normas constitucionais de eficácia 
plena não necessitam de regulamentação. Todavia, as normas declaratórias de 
princípios organizativos são um tipo de normas de eficácia limitada. Ou seja, 
trata-se de espécies do gênero normas de eficácia limitada. 
Item errado. 
35) (CESPE/ANALISTA/DPU/2010) Muitas vezes, uma regra prevista na 
Constituição utiliza expressões como nos termos da lei e na forma da lei, 
evidenciando não ter aplicabilidade imediata. São as chamadas normas 
constitucionais de eficácia contida. 
A assertiva está incorreta, uma vez que são as normas de eficácia limitada que 
não têm aplicabilidade imediata (e não as de eficácia contida). 
36) (CESPE/ANALISTA PROCESSUAL/MPU/2010) As normas constitucionais de 
eficácia limitada são desprovidas de normatividade, razão pela qual não 
surtem efeitos nem podem servir de parâmetro para a declaração de 
inconstitucionalidade. 
Podemos dizer que, com a simples promulgação da Constituição, a eficácia das 
normas de eficácia limitada é meramente “negativa”. Nesse sentido, elas ainda 
não produzem seus plenos efeitos de forma integral. Mas já surtem algum 
efeito e podem servir de parâmetro para a realização do controle de 
constitucionalidade das leis: (i) revogando a legislação pretérita em sentido 
contrário; e (ii) permitindo a declaração da inconstitucionalidade da legislação 
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posterior em sentido contrário. Ademais, essas normas também servem de 
parâmetro para o exercício da interpretação constitucional. 
Item errado. 
37) (CESPE/PROFESSOR/IFB/2011) Enquanto, nas normas de eficácia contida, 
as leis podem restringir-lhes o alcance, nas normas de eficácia limitada, o 
seu alcance poderá ser ampliado. 
Mais uma questão que relaciona normas de eficácia contida (restringida ou 
restringível) e normas de eficácia limitada. As normas de eficácia contida, 
também chamadas normas de eficácia restringida ou restringível, estão aptas 
para a produção de seus plenos efeitos com a simples promulgação da 
Constituição. Uma lei posterior viria para restringir-lhes o alcance. 
Ao contrário, as normas de eficácia limitada não produzem seus plenos efeitos 
com a simples promulgação da Constituição. Elas ainda dependem da edição 
de uma lei. Nessa situação, tal lei virá para ampliar o seu alcance, ampliar 
seus plenos efeitos. 
Item certo. 
38) (CESPE/ADVOGADO/CORREIOS/2011) Constitui exemplo de norma 
programática o dispositivo segundo o qual o Estado deve garantir a todos 
pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura 
nacional, além de apoio e incentivo a iniciativas de valorização e difusão 
das manifestações culturais. 
Por meio de normas programáticas a Constituição estabelece os princípios que 
deverão reger a atuação do Poder Público. Ou seja, são as normas que 
definem diretrizes a serem cumpridas futuramente pelos órgãos estatais 
(legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), visando à realização 
dos fins sociais do Estado. 
Você identifica uma norma programática quando constada que se trata de um 
programa a ser realizados pelo Estado, geralmente relacionado a interesses 
econômico-sociais. São exemplos aquelas normas que mencionam o 
desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza, o combate ao 
analfabetismo etc. 
Observe que, nesse grupo, nós podemos enquadrar uma norma que estabeleça 
para o Estado a diretriz de garantir a todos o pleno exercício dos direitos 
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, além de apoio e incentivo a 
iniciativas de valorização e difusão das manifestações culturais (CF, art. 215). 
Item certo. 
39) (CESPE/JUIZ/PB/2011) As normas institutivas, que traçam esquemas 
gerais de organização e estruturação de órgãos, entidades ou instituições 
do Estado, são dotadas de eficácia plena e aplicabilidade imediata, visto 
que possuem todos os elementos necessários à sua executoriedade direta 
e integral. 
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As normas de eficácia limitada de princípio institutivo ou organizativo são 
aquelas que definem regras para a futura criação, estruturação e organização 
de órgãos, entidades ou institutos, mediante lei. 
Como se trata de norma de eficácia limitada tem aplicabilidade mediata, 
indireta e reduzida, sendo dependentes de regulamentação exatamente por 
não possuírem todos os elementos necessários à sua executoriedade integral. 
Item errado. 
 
3 – Interpretação da Constituição 
A partir de agora, tratarei da interpretação constitucional. Você precisa 
conhecer os métodos de interpretação e principalmente os princípios de 
interpretação, sendo mais comuns de serem cobrados estes últimos. 
Nesse assunto, você vai ter que aprender os conceitos de forma de geral e 
guardar determinadas expressões para identificar de qual princípio/método a 
questão está falando. 
Inicialmente, preciso estabelecer aqui três conceitos importantes que o Cespe 
vem, aos poucos, trabalhando em suas provas: correntes interpretativistas e 
não interpretativistas; sociedade aberta dos intérpretes e a noção de 
“Constituição aberta”. 
Correntes interpretativistas x não interpretativistas 
Didaticamente, podemos considerar que o que diferencia essas correntes, 
essencialmente, é o grau de liberdade do juiz-intérprete, no exercício da 
interpretação. 
As correntes interpretativistas vão, de certa forma, limitar um pouco o poder 
de interpretação do juiz. Considera-se que os juízes, ao interpretarem a 
Constituição, devem limitar-se a captar o sentido dos preceitos expressos na 
Constituição, ou, pelo menos, nela claramente implícitos. Embora não se 
confunda com o literalismo – a competência interpretativa dos juízes vai 
apenas até onde o texto claro da interpretação lhes permite -, as correntes 
interpretativistas apontam como limites de competência interpretativa a 
textura semântica e a vontade do legislador. 
Já as correntes não interpretativistas vão defender a possibilidade de os 
juízes invocarem e aplicarem valores e princípios substantivos – princípios da 
liberdade, igualdade e da justiça – contra atos da responsabilidade do 
Legislativo em desconformidade com o projeto da Constituição. 
Em suma, num caso, o juiz está limitado ao texto da norma e à vontade do 
legislador (interpretativistas); no outro, o juiz pode extrapolar esse limite, 
invocando outros valores e princípios (não interpretativistas). 
Sociedade aberta dos intérpretes 
Aqui, devemos considerar a existência de uma democratização da 
hermenêutica (interpretação) constitucional – defendida por Peter Häberle. 
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Segundo o autor, se a Constituição determina o comportamento de toda 
sociedade, não é justo (nem democrático) que apenas alguns tenham “o 
direito” de interpretá-la. 
Nesse sentido, a função de interpretar aConstituição não poderia estar restrita 
aos seus intérpretes formais (os juízes) e nem a determinados procedimentos 
formalizados. 
Daí a noção de “sociedade aberta” dos intérpretes. É como se a atividade de 
interpretação devesse apresentar contornos mais democráticos e estar 
“aberta” a toda comunidade, sendo função não só dos órgãos estatais, mas 
dos cidadãos em geral, associações, organizações políticas etc. 
Constituição “aberta” 
Além do conceito de “Sociedade aberta dos intérpretes” (estudado no item 
precedente), você pode encontrar na sua prova o conceito de “Constituição 
aberta”. É importante não confundi-los. 
Vimos que os adeptos da teoria de “Sociedade aberta dos intérpretes” 
defendem que a interpretação da Constituição não poderia estar restrita aos 
seus intérpretes formais, sendo função de toda a comunidade política. 
Outra coisa é o conceito de “Constituição aberta”. Canotilho ensina que dizer 
que a Constituição é um “sistema aberto”. Significa afirmar que suas normas 
estão aptas a captar as mudanças da realidade e estão abertas às concepções 
cambiantes da verdade e da justiça. 
O que se observa é que se a Constituição não estiver “aberta” para captar a 
evolução da sociedade, ela pode ficar completamente desconectada da 
realidade, fora de seu tempo. Nessa hipótese, a Constituição acabaria 
perdendo parte de sua força normativa, ou seja, passaria a influir cada vez 
menos na realidade. 
Veja como esses conceitos (abstratos, eu sei) foram cobrados pelo Cespe. 
40) (CESPE/PROCURADOR/NATAL/2008) No âmbito da doutrina que estuda a 
interpretação constitucional, é possível identificar duas correntes de 
pensamento: os interpretativistas e os não-interpretativistas. A diferença 
entre elas, em linhas gerais, é que os interpretativistas defendem um 
ativismo judicial na interpretação da Constituição, admitindo a 
possibilidade de os juízes irem além do texto da lei, invocando valores 
como justiça, igualdade e liberdade na criação judicial do direito, o que é 
repelido pelos não-interpretativistas. 
O Cespe simplesmente interveteu os conceitos. A corrente não-interpretativista 
é que admite a possibilidade de o juiz ir além do texto da lei, invocando 
princípios como os da justiça, da igualdade e da liberdade. 
Item errado. 
41) (CESPE/PROCURADOR/NATAL/2008) A sociedade aberta dos intérpretes 
da Constituição, defendida por Peter Häberle, propõe que a interpretação 
constitucional seja tarefa desenvolvida por todos aqueles que vivem a 
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norma, devendo ser inseridos no processo de interpretação constitucional 
todos os órgãos estatais, os cidadãos e os grupos sociais. 
A questão está correta. Trata-se de uma democratização da tarefa de 
interpretação da Constituição, o que implica a participação de todos que 
sofrem os efeitos da norma constitucional: a sociedade como um todo. 
Item certo. 
42) (CESPE/ADVOGADO/CORREIOS/2011) Segundo os doutrinadores, a ideia 
de uma constituição aberta está ligada à possibilidade de sua permanência 
dentro de seu tempo, evitando-se o risco de perda ou desmoronamento 
de sua força normativa. 
A assertiva está correta. A idéia de uma Constituição aberta está relacionada 
com a necessidade de que ela possa se adaptar às mudanças da realidade, de 
forma a preservar sua força normativa. 
Item certo. 
 
3.1 – Princípios de Interpretação 
Vejamos um a um os principais aspectos relacionados a cada princípio. 
Princípio da Unidade da Constituição 
O texto da Constituição deve ser interpretado de forma a evitar contradições 
(antinomias) entre suas normas. Isso porque a Constituição deve ser 
considerada na sua globalidade, exigindo-se do intérprete a busca da 
interpretação que harmonize suas aparentes contradições. 
Como decorrência desse princípio, temos que não existem antinomias 
normativas verdadeiras entre os dispositivos constitucionais. Cabe ao 
intérprete o exercício de eliminar as eventuais contradições (antinomias) 
aparentes. 
Princípio do Efeito Integrador 
De acordo com o princípio do efeito integrador, na resolução dos problemas 
jurídico-constitucionais, deve-se dar primazia aos critérios ou pontos de vista 
que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade 
política. 
Princípio da Máxima Efetividade 
Segundo o princípio da máxima efetividade (ou princípio da eficiência, ou 
princípio da interpretação efetiva), o intérprete deve extrair da norma 
constitucional o sentido que lhe dê maior eficácia, a mais ampla 
efetividade social. 
Princípio da Justeza 
Também chamado de princípio da conformidade funcional, o princípio da 
justeza preconiza que os intérpretes não poderão chegar a um resultado que 
subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional estabelecido pelo 
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legislador constituinte, notadamente no que tange à alteração da repartição de 
funções constitucionalmente estabelecida. 
Princípio da Harmonização 
Conhecido também como princípio da concordância prática, exige a 
coordenação e combinação dos bens jurídicos quando houver conflito ou 
concorrência entre eles, a fim de se evitar o sacrifício (total) de uns em 
relação aos outros. Ou seja, decorre da inexistência de hierarquia entre os 
princípios, ocasionando uma coexistência harmônica entre eles. 
Princípio da Força Normativa da Constituição 
Desenvolvido por Konrad Hesse, esse princípio preconiza que o intérprete dê 
sempre prevalência aos pontos de vista que contribuem para uma eficácia 
ótima da Constituição (haja vista seu caráter normativo). Assim, devem ser 
valorizadas as soluções que possibilitem a atualização normativa, a eficácia 
e a permanência da Lei Maior. 
Interpretação conforme a Constituição 
Esse princípio é o mais relevante de todos, portanto, não deixe de conhecê-lo. 
O princípio da interpretação conforme é especialmente aplicável no âmbito do 
controle de constitucionalidade, em casos de normas infraconstitucionais de 
múltiplos significados (plurisignificativas). Assim, havendo vários significados 
para aquela norma, cabe ao intérprete dar prevalência àquele sentido que 
esteja conforme a Constituição. 
Assim, ao invés de declarar a norma inconstitucional, o intérprete deve dar 
aplicação ao seu sentido compatível com a Constituição e afastar a aplicação 
daquele sentido que seja desconforme. 
Podemos dizer que dessa forma prevalece a supremacia da Constituição (na 
medida em que repele a aplicação inconstitucional) e o princípio de 
presunção de constitucionalidade das leis (que inclui o esforço de 
conservação da norma, já que deixa de declará-la inconstitucional como um 
todo). 
Evidentemente, nesse esforço não pode o aplicador da lei chegar a uma 
interpretação que subverta o próprio sentido e teor da lei (ou seja, a fim de 
adequá-la à Constituição, não pode o intérprete seguir interpretação 
dissonante com a vontade do legislador). Isso porque essa forma de 
interpretação, na prática, transformaria o intérprete em legislador positivo. 
Em suma: 
I) no caso de uma norma plurissignificativa, deve-se favorecer a interpretação 
que lhe compatibilize a Constituição (valorizando a supremacia da 
Constituição); 
II) o esforço é no sentido da conservação da validade da lei (e não da 
declaração de sua inconstitucionalidade); assim, a norma não deve ser 
declarada inconstitucional quando for possível conferir a ela uma interpretação 
conforme (valorizando a presunção de constitucionalidade das leis). 
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