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Aproximação dos Conceitos de Empreendedorismo

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AULA 01 - APROXIMAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPREENDEDORISMO, EMPREENDEDOR E EMPRESÁRIO
Autor(a): Carolina de Andrade Spinola
“Alguns homens veem as coisas como são, e perguntam: Por quê?
Eu sonho com as coisas que nunca existiram e pergunto por que não?”
Bernard Shaw
Olá!Seja bem-vindo ao módulo sobre empreendedorismo!
Com essa aula, iniciaremos uma breve jornada pelo mundo das ideias inovadoras e pelos caminhos onde elas podem nos levar. Uma jornada de autoconhecimento e de reflexão sobre as oportunidades que se apresentam, a cada dia, em nossa trajetória profissional e o que fazer com elas.
Sempre que falamos em empreendedorismo associamos esse termo às figuras de vários empresários bem sucedidos, que construíram impérios organizacionais, invariavelmente, partindo do nada, ou melhor, partindo do principal: uma boa e inovadora ideia. Esse é o caso de pessoas como Bill Gates, Henry Ford, Steve Jobs e, ainda, Samuel Klein, Abílio Diniz, Francesco Matarazzo, dentre muitos outros, que seria exaustivo citar. Mas, o que esses vultos do capitalismo recente têm em comum? O que os faz serem considerados empreendedores? Para ser empreendedor é necessário montar um negócio de sucesso? Esse empreendimento precisa ser de grande porte? É preciso que ele seja baseado em uma ideia revolucionária e inédita? Bem, essas são algumas das questões que serão discutidas nesse nosso primeiro encontro.
Antes de começarmos, que tal combinarmos o primeiro desafio da disciplina? Você deve ter percebido que entre os exemplos citados, algumas linhas acima, não há sequer um único empreendedor baiano e isso foi proposital. Grande parte da literatura sobre empreendedorismo, inclusive algumas das referências que serão usadas por nós, se baseia no espírito empreendedor americano. Nossas referências, nessa área, estão sempre recheadas de exemplos distantes da nossa realidade, geográfica e profissional. Por isso, lançamos o desafio: que tal reunirmos o maior banco de dados possível sobre empreendedores baianos de sucesso? E, que tal, se esses exemplos forem provenientes de áreas profissionais diversas, mais especificamente, da sua área de atuação? Então, comece a pensar em algumas sugestões e até o final da aula você saberá avaliar o grau de empreendedorismo de cada um dos indivíduos em que pensou.
ACERCANDO-SE DOS CONCEITOS PRINCIPAIS
Empreendedorismo, em linhas gerais, é uma palavra que designa o processo de empreender. A despeito de não constar dos dicionários mais usados da língua portuguesa, é um termo de uso corriqueiro e conhecido. Para Shane e Venkataraman (2000 apud BARON; SHANE, 2007, p. 6) o empreendedorismo é
[...] uma área de negócios que busca entender como surgem as oportunidades para criar algo novo (novos produtos e serviços, novos mercados, novos processos de produção ou matérias-primas, novas formas de organizar as tecnologias existentes); como são descobertas ou criadas por indivíduos específicos que, a seguir, usam meios diversos para explorar ou desenvolver essas coisas novas, produzindo assim uma ampla gama de efeitos. (SHANE e VENKATARAMAN, (2000) apud BARON; SHANE, 2007, p. 6)
Mendes (2009, p.13) segue a mesma linha de raciocínio e entende o empreendedorismo como o “processo de criação de valor e mudança de comportamento no mundo dos negócios por meio da inovação de serviços ou produtos oferecidos”. Para Dolabela (1999, p. 7), o termo tem um entendimento mais abrangente:
[...] é uma tradução da palavra entrepreneurship, que tem significado amplo. Além do tema criação de empresas, abrange também a geração do autoemprego, empreendedorismo comunitário, intraempreendedorismo e políticas públicas para um determinado setor (DOLABELA, 1999, p. 7)
Portanto, se analisamos as definições que constam na bibliografia acadêmica, percebemos que o termo empreendedorismo pode ser abordado e estudado de, pelo menos, três óticas distintas e complementares:
empreendedorismo como o estudo da capacidade individual das pessoas de transformar ideias criativas em oportunidades de negócios;
empreendedorismo como o processo de constituição de novas iniciativas empresariais;
empreendedorismo como um processo social capaz de desconcentrar a riqueza e de contribuir para o bem estar da coletividade.
Como se pode ver, o estudo do empreendedorismo se constitui em um campo bastante amplo e complexo. Nesse contexto, essa disciplina tentará fazer uma aproximação a cada uma dessas óticas, procurando enfatizar a importância do processo empreendedor para a sociedade e desmistificar a figura do seu principal responsável, o empreendedor, e apresentá-lo como alguém que pode estar ao seu lado ou, até mesmo, escondido dentro de você.
O empreendedorismo é a interseção entre oportunidades valiosas e indivíduos realizadores. Não há como falar de empreendedorismo sem entender a figura do empreendedor. E, para fazê-lo, queríamos começar de uma maneira diferente, inspirada em um pequeno desafio que Baron (2007) sugere a seus leitores quando começa a tratar do tema. Mas, para isso, precisamos de sua participação. Observe as situações descritas abaixo. Em cada uma delas há a figura de um protagonista realizador. Tente identificar, partindo do seu entendimento presente sobre o assunto, quais dessas personagens podem ser consideradas empreendedores. Anote em um pedaço de papel as suas respostas e depois compare com a análise feita no final dessa seção.
Situação 1 - Regina trabalhou durante 20 anos em um escritório de contabilidade. Ao ser demitida, resolveu explorar uma habilidade que sempre havia lhe rendido muitos elogios na família: seu talento para a cozinha. Começou a comercializar doces e salgados caseiros, sob encomenda e hoje possui dois dos mais renomados buffets da cidade.
Situação 2 - Frederico é um estudante de Nutrição e trabalha em uma loja de suplementos alimentares. Sempre ficou intrigado com a incapacidade da empresa em atrair um público mais diversificado, além daqueles praticantes de atividades físicas que já costumavam frequentar a loja. Resolveu sugerir uma modificação no posicionamento do negócio. A proposta foi aceita e a loja em que trabalha passou a se direcionar para o público sedentário, de maior faixa etária, que pode obter nos produtos vendidos uma importante complementação da alimentação diária. Para atrair esses consumidores, Frederico sugeriu uma parceria com um nutricionista que dá todo o suporte necessário à elaboração da nova dieta e indica os produtos mais apropriados em cada caso.
Situação 3 - Bárbara é pesquisadora de um Instituto de Pesquisas e atualmente desenvolve experimentos que buscam desenvolver um novo material sintético que possa vir a ser aplicado na recuperação de pacientes com queimaduras graves. Essa pesquisa foi encomendada por um grande laboratório farmacêutico que pretende dar um uso comercial à invenção.
Situação 4 - Fábio é um biólogo especializado em aves. Em suas viagens pelo mundo, percebeu o interesse crescente das pessoas por esse tipo de fauna. De volta ao Brasil, resolveu abrir uma empresa de ecoturismo especializada em observação de pássaros ou ornitologia.
Situação 5 - Paulo herdou o mercadinho de seu pai e, após concluir seu curso de Administração de Empresas, passou a administrá-lo junto à sua esposa. É um excelente patrão e tem conseguido manter os negócios da família a despeito das incertezas do mercado.
E então? Você acha que todos esses indivíduos possuem perfil empreendedor? Para começar a responder essa pergunta é preciso, antes, diferenciar as figuras do empreendedor, do empresário, do gestor e do inventor.
Veja algumas definições de empreendedor listadas a seguir:
O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente através da introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização, ou pela exploração de novos recursos e materiais. (SCHUMPETER, 1949 apud DORNELAS, 2001, p.37) 
O empreendedor é aquele que faz acontecer, antecipa-se aos fatos e tem uma visão futura da organização. (DORNELAS, 2001, p. 35)
 O empreendedor é alguémcapaz de identificar, agarrar e aproveitar oportunidade, buscando e gerenciando recursos para transformar a oportunidade em negócio de sucesso. (TIMMONS, 1994 apud DOLABELA, 2003, p.37)
O empreendedor imagina, desenvolve e realiza visões. (FILLION, 1999, p.7)
O empreendedor é alguém que sonha e tenta transformar o seu sonho em realidade (DOLABELA, 2003, p.34)
De uma maneira geral, na bibliografia referenciada, entende-se o empreendedor como uma pessoa sonhadora, visionária, que enxerga oportunidades onde ninguém mais vê. Essas oportunidades, por sua vez, podem conduzir à constituição de um novo negócio, ou não.
Costuma-se considerar os termos empreendedor e empresário sinônimos. De fato, muitos empresários conhecidos, como os citados no início da aula, são empreendedores, mas essa não é a regra. Há muitos casos de empresários que apenas possuem a propriedade dos meios de produção e nem mesmo participam ativamente da administração de seus negócios.
A concepção do termo empreendedor é mais ampla que a do empresário[1]. O empreendedor é o realizador, quer seja em sua própria iniciativa empresarial - e nesse caso ele também poderia ser considerado um empresário - ou no âmbito de outras organizações, o também chamado empreendedor interno, que será abordado de maneira mais aprofundada na aula 4. A sua contribuição se estende à criação de novos produtos, ao desenvolvimento de novos mercados, ao aproveitamento de novos materiais e à criação de novas estruturas e processos organizacionais, dentre outras.
A ideia do empresário tem relação com a posse do capital. O empresário é o viabilizador da empresa e, em sendo assim, também requer uma dose de empreendedorismo.
A interseção entre as figuras do empreendedor e do empresário acontece em pelo menos duas circunstâncias: na primeira, quando o descobridor da oportunidade é a mesma pessoa responsável pela sua implementação e gerenciamento, tem-se a figura do empreendedor-empresário; e, na segunda, quando um empresário, enquanto dirigente de uma organização, desenvolve seus negócios de maneira arrojada e inovadora, tem-se a figura do empresário-empreendedor.
O empreendedor sem o empresário não verá a sua oportunidade de negócios se concretizar. O empresário sem espírito empreendedor pode experimentar a obsolescência e ver os seus negócios serem suplantados pela concorrência. Em suma, embora distintas, as figuras do empreendedor e do empresário são interdependentes e precisam caminhar juntas.
Todavia, o empreendedor pode não ter nenhuma aptidão para a administração e delega essa função a uma outra pessoa, contratada para tal fim. Nesse momento surge a figura do gestor. Este, por sua vez, é o profissional contratado para conduzir as atividades da organização utilizando-se de seus conhecimentos técnicos em administração.
E o que dizer do inventor? Como diferenciá-lo do empreendedor já que este também se caracteriza pela busca da inovação? O foco do inventor está mais no objeto da sua criação do que na sua aplicação comercial. Em algumas ocasiões, o inventor pode ser o próprio empreendedor, mas na maioria das vezes, o inventor necessita do empreendedor para dar continuidade à sua ideia, inseri-la na indústria e transformá-la em uma oportunidade viável de negócios.
Em síntese, o inventor diferencia-se do gestor pela sua alta capacidade criativa, e do empreendedor pela dificuldade que tem para concretizar as suas ideias inovadoras, como pode ser visualizado na figura seguinte:
Figura 1 - Interseção entre os conceitos de inventor, empreendedor e gerente administrador
Fonte: (DORNELAS, 2001, p.27)
As definições apresentadas demonstram que se trata de um campo conceitual complexo e que a terminologia associada ao tema empreendedorismo comporta muitas nuances e sobreposições de situações que aproximam as figuras descritas em muitas situações concretas, tornando-as de difícil compreensão. Senão, vejamos os exemplos descritos anteriormente:
	Maria - pode ser considerada uma empreendedora empresária. Mais precisamente ela é o que se chama de empreendedor por necessidade, ou seja, o que a impulsionou a montar o seu negócio foi a perda do emprego. No entanto, ela foi capaz de identificar uma oportunidade de negócio que, a despeito de não ser inovador, encontrou um segmento de consumidores dispostos a adquirir seus produtos caseiros, transformou essa oportunidade em uma empresa própria e assumiu a liderança de todo o processo.
	Frederico - é o empreendedor interno. Ele não é o gestor e nem tampouco o empresário, mas, como colaborador da organização, percebeu um nicho de mercado importante e foi decisivo na determinação de um novo posicionamento para a empresa e de novas estratégias empresariais.
 
 
	Bárbara - é a inventora. Sua ênfase é na pesquisa e no progresso da ciência. O aproveitamento comercial de suas invenções foi percebido pela empresa cliente.
	Fábio - também pode ser considerado um empreendedor empresário. Ele vislumbrou uma oportunidade de negócios relacionada com o crescimento do ecoturismo e abriu uma empresa para aproveitá-la, utilizando-se de seu conhecimento técnico profissional.
	Paulo - pelo descrito no texto, se enquadraria como empresário. Ele é proprietário da empresa, mas nada indica que ele desenvolva alguma ação empreendedora que possa diferenciar o seu negócio.
Então, voltando às perguntas formuladas no início da aula:
Para ser um empreendedor não é preciso, necessariamente, constituir um negócio de sucesso. Não é preciso, tampouco, constituir um negócio. Para ser empreendedor é necessário, apenas, enxergar o mundo com olhos curiosos e procurar por oportunidades. A pessoa pode ser empreendedora em seu emprego, como foi o caso de Frederico.
Também não é necessário que o negócio constituído seja de grande porte. Veja os exemplos de Maria e Fábio. Pequenas iniciativas podem ser muito bem sucedidas. Nos dias de hoje, muitos negócios podem ser constituídos com investimentos bastante modestos, é o caso de alguns tipos de serviços empresariais que requerem do seu proprietário, apenas, um número de telefone celular e um cartão de visitas.
As novas oportunidades não precisam ser baseadas em ideias revolucionárias. A descoberta de um novo nicho de mercado ou de uma nova aplicação para um produto existente se constituem em oportunidades válidas e importantes. Esse tópico será melhor discutido na próxima seção dessa aula.
Para concluirmos essa primeira seção, onde procuramos desmistificar a figura do empreendedor, há mais alguns mitos que, para Dornelas (2001) devem ser desfeitos:
O empreendedorismo não é nato. Embora muitas das qualidades requeridas pelo empreendedor[2] nasçam com as pessoas, a capacidade de identificar oportunidades é adquirida com as experiências de vida e aprimora-se com o tempo.
Os empreendedores não são “jogadores” que assumem riscos muito altos. Assumir riscos é um pressuposto da atividade empreendedora, mas o verdadeiro empreendedor sabe calculá-los e avaliá-los.
Os empreendedores não são “lobos solitários”. Eles precisam trabalhar em equipes, formar times e devem ser, para obter sucesso, excelentes líderes[3].
O EMPREENDEDORISMO E A INOVAÇÃO
Costuma-se acreditar que as iniciativas empreendedoras residem unicamente em invenções, ou seja, na criação de ideias radicalmente inéditas. Esse é um engano muito comum. O empreendedorismo guarda uma relação muito próxima com a inovação, cuja definição semântica, presente no dicionário significa “o ato ou efeito de inovar” (FERREIRA, 1999, p.1115) que, por sua vez, de acordo com a mesma fonte, significa “tornar novo, renovar, introduzir novidade”.
As inovações podem ser incrementais ou radicais. No primeiro caso, ela é entendida como um melhoramento ou releitura de algum produto ou processo já existente. No segundo caso, refere-se ao desenvolvimento de produtos e processos cujas características difiram significativamente, se comparados aos produtos e processos existentes. Podem ser fruto de uma tecnologia nova ou de uma nova maneira de combinartecnologias pré-existentes.
Não há dúvidas de que a invenção do telefone foi revolucionária, concorda? No entanto, ela deveu-se à combinação de elementos já existentes, a exemplo do conhecimento sobre baterias elétricas e o comportamento do som. O que Alexandre Graham Bell[4] fez foi combinar esses conhecimentos de uma maneira nova e gerar uma inovação radical.
As inovações radicais trazem consigo uma revolução tecnológica que, muitas vezes, significa, ao mesmo tempo, o fim e o início de ciclos de desenvolvimento dentro de uma indústria. Isso é o que Schumpeter (1949) denominou de “processo de destruição criativa”[5], em que novos produtos e processos substituem produtos e processos antigos. Foi o que aconteceu com o CD e o LP, com o DVD e as fitas de vídeo VHS, com a lâmpada elétrica e os lampiões, dentre outros exemplos conhecidos.
A maior parte das inovações, entretanto, se localiza no primeiro grupo. Esse foi o caso de Maria e Fábio, em nossos exemplos da seção anterior. A primeira identificou um mercado ávido por produtos caseiros fornecidos em quantidade e o segundo identificou um nicho de mercado e adaptou técnicas da biologia para o desenvolvimento de uma nova forma de experimentar a natureza.
O Manual de Oslo[6], em sua terceira edição, define quatro tipos de inovação,a depender da sua área de aplicação (OECD, 2005, p.16-17, 48-49):
Inovações em produto - introdução de um benefício ou serviço novo ou significativamente melhorado nas suas especificações técnicas, componentes e materiais, software, interface com usuários e outras características funcionais.
Exemplo: introdução de sistemas de navegação GPS em veículos automotivos; introdução de câmeras fotográficas em aparelhos celulares, etc.
Inovações em processo - implementação de novos processos ou melhorias significativas nos processos de produção, venda e logística dos produtos e serviços.
Exemplo: introdução de softwares que permitam identificar as melhores rotas de entrega; introdução de códigos de barras para identificação do preço das mercadorias, etc.
Inovações organizacionais - mudanças em práticas de negócios, na organização do ambiente de trabalho, ou nas relações externas da empresa.
Exemplo: utilização, pela primeira vez, de sistemas de outsourcing (terceirização de funções) de atividades antes desempenhadas pelas empresas; adoção, pela primeira vez, da virtualização do trabalho mediante a descentralização dos funcionários em home-offices; etc.
Inovações em marketing - mudanças na aparência do produto e sua embalagem, na divulgação e distribuição dos mesmos.
Exemplo: mudanças de embalagem que confiram uma nova utilidade aos produtos; utilização, pela primeira vez, de novas mídias de divulgação como as mídias sociais.
Ainda que a inovação radical seja oriunda de uma ideia totalmente nova, muito dificilmente ela surgirá de uma inspiração súbita e divina. É muito difícil ser original, mas isso não deve nos esmorecer. Thomas Edison, o inventor da lâmpada costumava dizer: “O gênio é um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração.” Leia o quadro abaixo e entenda o que ele quis dizer com essa frase.
Fonte: Adaptação sobre imagem SXC - http:www.sxc.hu
O mundo moderno é um mundo eletrificado. A lâmpada elétrica, em particular, mudou profundamente a existência humana pela iluminação da noite, facilitando a realização de uma vasta gama de atividades noturnas e melhorando a segurança das cidades.
A lâmpada que hoje usamos foi inventada por Thomas Alva Edison em 1879. Desde 1910, ela é formada por um bulbo de vidro contendo um gás inerte e um filamento de tungstênio por onde passa a corrente elétrica. A energia elétrica faz com que o filamento atinja uma alta temperatura e se torne incandescente.
Embora Edison mereça o crédito, ele não foi a primeira nem a única pessoa a trabalhar na invenção da lâmpada incandescente. Desde 1809 vários pesquisadores tentavam desenvolver uma lâmpada eficiente, durável e econômica. O grande problema a resolver era conseguir um filamento que não se consumisse com o calor. Os primeiros filamentos testados eram de madeira ou papel carbonizado, duravam poucas horas, virando cinzas. Os de metal se derretiam rapidamente.
Entre 1878 e 1880, Edison e sua equipe testaram mais de 3.000 teorias para solucionar este problema. Tentaram milhares de materiais dos mais diversos tipos e origens. Ele reconheceu que o trabalho foi tedioso e muito exigente, especialmente para sua equipe. “Antes de chegar a uma solução,” ele lembrou, “eu testei nada menos de 6.000 espécies de vegetais, e revirei o mundo em busca do material mais apropriado”.
Em 1880, ele desenvolveu um filamento derivado de bambu carbonizado que durou 1.200 horas e deu início à sua comercialização. Em 1910, Willian David Coolidge inventou um método econômico para a produção de filamento de tungstênio, que substituiu os outros tipos de filamentos usados até aquela data (SIQUEIRA, 2007, p.1).
Para Thomas Edison, “para termos uma grande ideia, temos que ter muitas” (CITAÇÕES..., 2009). Alfred Nobel, aquele que teve seu nome associado ao mais famoso prêmio da genialidade humana, concordava com Thomas Edison. Ele dizia: “Se eu tiver mil ideias e uma delas for uma boa ideia, já fico satisfeito.” (CITAÇÕES..., 2009)
Portanto, devemos ter em mente que a inovação é algo que está ao alcance de todos, desde que se tenha um espírito inquieto e muita determinação. Ela é a premiação ao esforço contínuo. Ou, como dizia Albert Einstein: “o importante é não paramos de nos interrogarmos”.
O CARÁTER MULTIDISCIPLINAR DO EMPREENDEDORISMO
Há outro mito muito difundido, não comentado anteriormente, que aborda o empreendedorismo como uma área de estudo exclusiva da Administração. Em que pese os cursos de Administração se destacarem na formação de empreendedores e no estudo do processo empreendedor - fato facilmente compreensível tendo em visto a sua natureza direcionada para o mundo dos negócios - eles não têm condições de, isoladamente, dar conta desse objeto de estudo.
Retomemos a definição de empreendedorismo de Shane e Venkataraman, 2000 (apud BARON; SHANE, 2007, p. 6) constante do início de nossa aula. Por ser bastante abrangente, ela pode nos fornecer uma ideia de como o processo empreendedor é dependente de inúmeras disciplinas de formação, senão veja:
1. “uma área de negócios que busca entender como surgem oportunidades para criar algo novo [...]”
As oportunidades são oriundas do ambiente e como tal requerem um profundo entendimento do comportamento de variáveis econômicas e políticas legais, ambientais, demográficas, tecnológicas, relacionadas com o comportamento do consumidor, dentre outras, que, para ser obtido, além da administração, necessita de conhecimentos oriundos de áreas de estudo tão diversas como a economia, o direito, o marketing, a computação, a engenharia, a psicologia e a demografia[7].
A descoberta de oportunidades relacionadas a um ramo de negócios determinado requer conhecimentos ainda mais específicos. Esse é o caso, por exemplo, da biologia e da química, tão necessárias à área de saúde no que tange ao desenvolvimento de novas técnicas de tratamento e de novas substâncias ativas que possam originar medicamentos eficientes no combate a doenças.
A necessidade do domínio de conhecimentos específicos para identificar oportunidades de negócios e fazê-los funcionar está ilustrada nos exemplos descritos nos quadros abaixo:
Miguel Krigsner, um dos fundadores da maior indústria de perfumes e cosméticos genuinamente brasileira, O Boticário, reconhecida internacionalmente pela inovação e qualidade de seus produtos, nunca abriu mão do desejo de ser farmacêutico, embora o pai desejasse vê-lo formado em medicina. [...] Um ano depois de formado, Miguel iniciou seu pequeno grande negócio na rua Saldanha Marinho - Centro Histórico de Curitiba - uma farmácia da manipulação de fórmulas, cuja ideia surgira ao fazer uma viagem a Porto Alegre, percebendo as tendências de expansão das farmácias de manipulação, segundo declarouposteriormente: “Achei esse ramo de atividade muito interessante, porque não era monótono. Permitia um alto nível de criatividade, não era nem farmácia, nem indústria, ficava no meio. E nasceu “O Boticário”, em março de 1977, resultado da sociedade entre dois farmacêuticos e dois médicos dermatologistas”
Fonte: Época Negócios, edição nº4, jun.2007, p.109. apud (MENDES, 2009, p. 17)
Penido Stahlberg Filho e seu sócio, Fredy Valente, aproveitaram a experiência acumulada em durante anos de ensino e a somaram a uma oportunidade de mercado para montar uma empresa de tecnologia. Eles se conheceram durante o curso de graduação em engenharia. Juntos deram aulas na Universidade de Ribeirão Preto, onde coordenaram a criação do departamento de pesquisa em TI. O negócio começou a surgir quando Fredy voltou do exterior. Ele percebeu que havia várias iniciativas bem sucedidas em tecnologia de uma forma geral e que poderiam tentar a sorte no mercado brasileiro. Só não sabiam que tipo de produto ou serviço oferecer. Até que a oportunidade bateu à porta deles. “Estávamos tomando vinho em uma noite fria de inverno com um amigo que trabalhava na Phillips quando descobrimos os smart cards (cartões inteligentes que carregam chips)” diz, “decidimos abrir um negócio focado nisso”. Para começar e fugir da concorrência dos grandes do setor, apostaram em mercados de nicho, focando em duas oportunidades: universidades e controle de acesso físico. Assim nasceu a S&V Consultoria que hoje, dez anos depois, já possui em seu portfólio, cleintes de nível internacional, como Siemens, Grupo Gerdau, CSN, Usiminas/Cosipa, Transpetro, Petrobras, AmBev, dentre outras companhias relevantes.Fonte: (INSTITUTO EMPREENDEDOR ENDEAVOR, 2005, p. 17)
Nos dois exemplos acima, fica clara a importância do conhecimento, da farmacologia e da tecnologia da informação, respectivamente, para a precisa identificação das oportunidades e para a implementação técnica dos negócios criados. Poderia, alguma dessas duas empresas, ter sido constituída sem a contribuição dessas duas áreas do conhecimento?
2. “[...] como são descobertas ou criadas por indivíduos específicos [...]”
Entender o perfil do empreendedor e como se desenvolvem os processos mentais associados ao pensamento criativo são preocupações que abrem caminho para estudos no âmbito da psicologia, da sociologia, da antropologia e das ciências do comportamento. Explicar o motivo pelo qual algumas pessoas conseguem ter uma visão mais inovadora do que as outras ou, ainda, algumas sociedades são mais pródigas em exemplos de empreendedorismo bem sucedidos são desafios que se situam dentro da área de interesse das ciências citadas e, de extrema importância para o desenvolvimento do processo empreendedor.
3. “[...] que, a seguir, usam meios diversos para explorar ou desenvolver essas coisas novas [...]”
Essa etapa da definição se refere aos conhecimentos gerenciais que se constituem no suporte necessário para a implementação das oportunidades assim como o entendimento de toda a estrutura jurídica existente e dentro da qual o novo empreendimento vai funcionar.
4. “[...] produzindo assim uma ampla gama de efeitos.”
Por fim, a definição de empreendedorismo faz alusão ao caráter dinamizador do processo nas realidades sócioeconômicas em que é inserido. Para entender a dimensão e extensão de suas consequências, novamente são acionadas as ciências sociais que além de procurar entender como o processo tem se efetivado deve, também, propor medidas que potencializem as suas externalidades positivas no caminho da geração de riquezas e de bem-estar coletivo.
Uma vez que já discutimos a natureza do empreendedorismo, é importante ressaltar, também, a sua estrutura processual. Ao longo do texto dessa aula, temos nos referido, constantemente, ao empreendedorismo como processo empreendedor. De fato, a transformação de ideias em oportunidades viáveis e, sua posterior concretização sob a forma de um produto, uma estratégia diferenciada, uma empresa ou tecnologia, dentre as inúmeras formas que a inovação pode assumir, se constitui em um conjunto de etapas encadeadas e interdependentes, com inicio, meio e fim. O processo empreendedor será detalhado e aprofundado nas aulas 6,7 e 8 desse curso.
Toda a argumentação dessa seção tem como objetivo evidenciar o caráter multidisciplinar de estudo desse objeto, o empreendedorismo, ou como diz Baron (2007, p.11) que “o campo do empreendedorismo não existe em um vácuo intelectual; pelo contrário, suas raízes estão firmemente assentadas em várias disciplinas mais antigas que, juntas, lhe dão sustentação”.
Espero que tenha gostado desse nosso primeiro encontro e que tenha sido possível perceber o quão instigante é o tema de nossa disciplina. Esse, aliás, foi o principal objetivo dessa aula introdutória: despertar o interesse para o tema e enumerar as diversas temáticas relacionadas com o empreendedorismo que serão abordadas durante o curso.
No nosso próximo encontro, veremos como o conhecimento a respeito do empreendedorismo foi construído, as diferentes interpretações que o tema teve ao longo da história da humanidade e as principais contribuições dos teóricos que ajudaram a solidificar as suas raízes conceituais. Espero você lá!
SÍNTESE
Nessa aula, apresentou-se o empreendedorismo como um processo multidisciplinar de geração de inovação, com grande importância social e econômica. Procurou-se desmistificar a figura do empreendedor, diferenciando a sua figura da do empresário, do administrador e do inventor. Por fim, delinearam-se os meios pelos quais o empreendedorismo e a inovação se encontram, mostrando que empreender e/ou inovar é uma ação que está ao alcance da maioria de nós.

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