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Autor: 
Título: A verdade que a história não conta. História dos quilombos no Estado do Rio de Janeiro
Indicação bibliográfica: Brasília, MINC/Fundação Cultural Palmares.
Localização: 
Informação sobre a edição: esta cartilha, junto com o vídeo e o cd-rom, faz parte de um projeto educativo que buscou focalizar 11 comunidades remanescentes de quilombos – das quais 9 tituladas e reconhecidas pela Fundação Palmares – já que se identificou que tais comunidades têm os mesmos problemas. O projeto é uma iniciativa do PAC (Pró-apoio comunitário) em parceria com a Fundação Cultural Palmares, com o objetivo de mostrar a vida desses grupos, suas tradições e lutas bem como a atuação da “sociedade contemporânea, mercantilista e competitiva” tem atuado sobre eles. 
Informação sobre o autor: 
Data da 1ª edição: s/d
Informações sobre o local (Bracuí) : Segundo a cartilha, os moradores mais antigos do local fazem uma distinção entre “o Bracuí” e “a Brachuy”. “No masculino – o Bracuí – refere-se ao local onde eles viviam, cuja representação simbólica é a árvore do bracuí, nome herdado dos indígenas. No feminino – a Brachuy – refere-se à forma como a especulação imobiliária se apropriou do nome do lugar, criando um condomínio de luxo à margem direita da rodovia no sentido Santos-Rio de Janeiro.” (p. 23)
Campesinato negro (Bracuí): Ao ser perguntado sobre sua mãe, Seu José Adriano respondeu que ela se chamava: “Madalena Maria da Conceição (...). O meu avô também, eu acho que era chegado. Chamava Apolo José de Melo. Então, eles chegaram por aí e se residiram lá em cima. Essa área aqui era deles, morada deles...mas simplesmente ele morava aí e o Breve não se incomodava com eles e tal.” 
O entrevistador pergunta quem era o tal “Breve” mencionado, ao que Seu José Adriano respondeu: “O Breve era o comendador José Breve de Souza. Naquela época, os pai da gente não davam soltura para a gente sempre sair, porque sabe, né?, a gente conversando é que se entende alguma coisa...e naquela época não tinha aquele dos pais soltar os filhos assim para sair (...). Naquela época, se não fizesse, não comia. Então o sujeito tinha que esforçar mesmo que era para ter o pãozinho dele de qualquer maneira. Hoje não. Hoje com qualquer coisa o sujeito passa, porque a vida é mais fácil do que era naquela época.” 
Sobre a posse da terra em que vive Seu Adriano ratificou: “Não, não tenho documento de Incra. Essa terra era do comendador José Breve de Souza, que isso aqui era a Fazenda Santa Rita, isso faz rumo lá no rio Claro.” 
Em relação à origem da comunidade do Bracuí o entrevistado contou: “Era tudo negro. O velho veio para aí...Foram donos de seus filhos, então morreu já cinco e fiquei eu como sofredor aí da área. Porque a gente ficou batalhando, batalhando. Eu fui casado e com a primeira família eu tive três filhos, e então depois, eu arrumei a segunda, e com essa eu tive 11, então tornou-se 14 e aí, a gente vem lutando com sacrifício. Não tinha emprego, a gente trabalhava mesmo era no peso da enxada. Essa roça dava feijão, milho, rama, cana, pezinho de cana...e sempre teve um galinho! Agora simplesmente ela está bem caída porque já está com um tempo que eu não posso trabalhar. Os filhos, coitados, eu não posso manter eles na roça para me ajudar, porque se eu manter eles na roça, eles vão passar sacrifício e nem para vestir eles não vão arrumar. A roça hoje em dia não dá, não dá nem para vestir! Então eu botei essas crianças, justamente, naquele roça mês-mês, ano-ano. Então saí...aí...e eu simplesmente só estou com um empregado, que trabalha na tevê a cabo, e os outros, coitados!, vivem de quebra-galho. 
Perguntado se sentia saudades daquela época em que várias famílias viviam nessa terra, respondeu: “Tinha várias famílias, aqui...o bem dizer daquela época para hoje...eu achava que era uma família! Era tudo negro e justamente tudo um conhecendo o outro e era uma família porque justamente era tudo da mesma classe, mesma raça. Agora, hoje, não. É difícil ver uma família natural daqui, dessa terra, tem muito pouco. Tudo o que o senhor vê por aí é cara nova. Então é isso aí, para mim, que vivi nessa vida de abertura, por exemplo...era um terra aberta! Se eu fosse lá, estavam sabendo onde eu estava. E hoje em dia não, eu ando por aí e o cara aí eu não tô conhecendo, está tudo misturado.”
Jongo: Perguntado sobre qual era a dança e a música que apreciava, Seu Adriano respondeu: “Eu? Eu dancei um bocado! Não vou dizer ao senhor que eu não brinquei um bocadinho. Bati muito pandeiro, cantei muito! Tinha jongo, tinha cana-verde – cana-verde é um ritmo – e tinha canoa...mas era a canoa que era cantada em viola. Eu não vou lembrar de uma música...é difícil. E tinha mais. Depois, a gente brincava de quadrilha, e essas coisas todas aí. (...) Caxambu, eu não sei, não! No jongo cantava assim: 
Eh!, papai matou galinha.
Mamãe não quis comer:
Papai ta cismado que aqui
Em casa tem camarada.
Dona Clementina, me dá água de beber
Se você não me der água vou falar mal de você!
Calango: “(...) O mais que eu me ajustei muito foi o calango. O calango era um bocado bom também! Canoa também!(...).”
Religião: o entrevistador perguntou, qual religião havia no Bracuí, além da católica, ao que Seu Adriano respondeu: “Não, não. Aqui não tinha outra não! Só tinha a religião católica, que era a igreja de São José, lá, que era por causa do cemitério. Agora Santa Rita..foi feita uma igrejinha porque ela não era nem igreja; ela era num oratório que era dentro do terraço da fazenda e sempre tinha umas rezas lá. A igreja própria era aquela lá embaixo, que é a de São José, onde tem o cemitério. Então é isso mesmo: aqui não tinha esses crentes, esses negócios de macumba...” 
Informante: Seu José Adriano, então com 80 anos, 14 filhos e 50 netos e bisnetos é nascido e criado na comunidade do Bracuí: “Eu sou nascido e criado aqui, só o meu pai, sim, que era chegado. A minha mãe também era chegada, porque ela morava ali do lado daquela barra da escrita para cá, então ela morava para lá. Eu sou de 1923, devo estar chegando em quase 50, tem muitos netos por aí, entre netos e bisnetos porque a família minha é muito grande.” (p. 18-19)
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Campesinato negro (Bracuí): Perguntada se a terra em que vive era sua Dona Joana respondeu: “A terra é de Deus. Foi Ele quem criou tudo, não é? Mas, para Deus, eu tenho...” O entrevistador, então, pergunta se as terras estão tituladas em seu nome e se tem o documento das terras, ao que Dona Joana disse: “Tenho, sim, senhor. Está com a minha filha, porque eu estou muito velha.” 
	O entrevistador passa a abordar o tema da estrada que corta as terras de dona Joana, perguntando se quando foram construir a estrada, sinalizaram que as pessoas do local iam ter melhores condições, ao que a entrevistada respondeu: “Não, senhor. Eles nunca fizeram isso, pelo contrário, (...) vieram, justamente, para me tirar do meu barraquinho. Eles queriam que eu desse a terra para eles fazerem uma vista para a cidade (deles) lá do outro lado.” Sobre a pressão que sofreu, dona Joana relatou: “Ah, meu senhor, sofri pressão muito grande. Agora, uma última pressão que eu sofri, muito grande, foi do dr. Renato.” Quem era o dr. Renato, perguntou o entrevistador, e dona Joana respondeu: “Dr. Renato foi que comprou a Brachuy, lá embaixo, lá no outro lado. Lá não tinha nada de Brachuy! Bracuí é o lugar todo. Eles metiam medo, eles foram vendendo, foram vendendo. Eles metiam medo, eles vendiam. Chegava no outro, a mesma coisa. Então, quando ficou eu, que era a única pessoa que tinha aqui, que não tinha vendido, aí fizeram aquela pressão para mim, que é a pressão de morte. Você imagine, que meu marido trabalhava fora, um dia eu estava aqui, aí chegou um oficial de justiça com quatro policiais, e disse assim: “D. Joana, nós viemos aqui hoje trazer um livro de contra-fé para a senhora assinar. E a senhora vai fazer o favor de assinar esse livro hoje, de qualquer jeito.” Eu falei assim: “Não, senhor.Como é o nome do livro?” Ele disse assim: “Esse livro é um livro de contra-fé”. Eu fui e falei assim: “Olha, eu viu falar para o senhor: livro de contra-fé? Contra-fé é uma coisa muito séria para mim. Eu não vou assinar.” Ele foi e falou assim: “Que série a senhora tem de escola?” Eu disse assim: “Meu livro é a terra e minha caneta o cabo da enxada, a foice e machado! Eu escrevia nela todo dia, pra mim trabalhar para ganhar o pão de cada dia. Nunca tive escola, nada que eu (entrei) não tinha escola.” Ele disse assim: “A senhora escrevia na terra?” Eu disse: “Sim”. Ele: “Escrevia o quê?” E eu: “Todo momento que eu estava trabalhando na enxada na terra, era uma letra que eu estava fazendo.” Aí o policial olhou para ele assim – eu quis dar uma risadinha -,o policial ficou coma cara feia para mim. Ele disse: “Pois é, mas eu vou botar fogo na sua casa.” Eu fui e disse assim: “A minha casa está aberta: para o senhor tomar um cafezinho, para o senhor entrar na minha casa e conversar comigo...o que o senhor quiser: conversa de um tostão para outro. Agora, para o senhor botar fogo na minha casa, nunca! Não existe”. Ele foi, falou assim: “A senhora tem bastante arma de fogo, não é?” Eu disse assim: “Tenho.” Ele disse assim: “O que a senhora tem?” Eu disse assim: “A minha arma de fogo, primeiramente, arma (culta); materialmente, enxada, foice e machado, que se eu botar uma arma de fogo dentro da minha casa, um revólver, ou uma espingarda, eu já sou uma criminosa, porque eu já estou pensando aquilo. O senhor sabe que o (crime) é a pior coisa da nossa vida e (não escondemos, o crime),p porque antes de nós fazermos, nós já pensamos.” Ele disse assim: “E a senhora tem confiança mais do quê?” Eu disse assim: “(Mortiço, num Deus que criou tudo como um bem para criar).” Aí, naquela hora, ele ficou um pouco (...), ele falou assim: “Então D. Joana. Eu vou me embora, mas com 17 dias eu venho aqui para botar fogo na sua casa.” Eu disse assim: “Pode vir. A hora que o senhor quiser, pode vir.” O entrevistador, então, perguntou a dona Joana: “Quer dizer que um oficial de justiça queria botar fogo na casa da senhora?” ao que ela respondeu: “Oficial de Justiça, sim, senhor. Aí eu fui e falei assim: “O senhor, seu (Madona), botou fogo, aí, em muitas casas. Botou fogo na casa da Deodata (...) Agora, na minha casa, o senhor não venha para cima de mim, o senhor (...) homem, porque eu sou mulher.” Ele falou assim: “Você é mulher?” Eu disse assim: “Eu sou mulher. Eu garanto a minha parte de uma mulher analfabeta, mas uma analfabeta, uma mulher cristã. E eu faço tudo isso com uma força muito grande. Porque para botar fogo nessa casa, nunca o senhor botará!”(...). 
Informante: Joana Averedo dos Santos, nascida e criada na comunidade, neta de Francisco Averedo da Silva, 9 filhos, 21 netos, muitos bisnetos e uma tataraneta. (p. 21-23)
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Campesinato negro (Campinho da Independência): “A minha infância foi uma trabalhada, graças a Deus! No meio de muitos amigos, meus tios, meus primos. Era tudo unido. Essa terra aqui, cada um podia trabalhar num canto. Quando desocupava, tirava aquela planta, deixava criar no mato. A outra pessoa vinha, trabalhava. Ninguém era dono de pedaço de terra, ninguém brigava com o outro por causa de terra. Só que a vida era sofrida, a cidade era muito longínqua, na época. (...) De 1958 para 60, não estou bem certa, basicamente, (...) tinha um prefeito de Paraty, que foi eleito por todas as comunidades daqui. A nossa aqui também deu muito apoio. Chamava doutor Derli, Derli Herman. (...) E ele deliberou-se a conversar com esse pessoal: que ele queria povoar a Independência! Ele vai lá para o lado do Espírito Santo, para Minas, Alagoas, e soltou um boletim, que aqui era lugar de terra devoluta. O pessoa pegou esse boletim e veio, procurando aqui o pessoal. O pessoal ficava com medo – com aquele baita punhal do lado! Naquela época, não tinha muito revólver, a gente morria de medo! “Onde é a terra devoluta?” “Nós aqui não sabemos de terra devoluta, porque nós trabalhávamos nas terras que nossos bisavôs deixaram.” (...) Eles foram se apossando lá da cabeceira do rio, foram desmatando. Era uma tristeza, faziam um mutirão entre eles e derrubavam não sei quantas quadras de mata de uma vez só. (...) Uma roça grande mesmo, a gente nunca teve. Mas todo mundo tinha uma roça. Então se tornava uma roça grande, porque um tinha banana, outro tinha mandioca e palmito, tinha à vontade, e todo mundo tinha à vontade, e todo mundo tinha pra sobreviver. Só não tinha para fazer grande estoque. Na época do carnaval, na festa do Divino, eu precisava às vezes ir com a minha família festear... Então, eu fazia um saco ou dois sacos de farinha, ele também fazia, o outro também fazia, um tinha burrinho, o outro não tinha, pegava emprestado ou levava nas costa, e enchia o comércio de farinha, ou enchia o comércio de milho também. (...)”.
Memória da escravidão: O entrevistador perguntou: “Quem era o antigo senhor dessa área aqui, que doou as terras?” Ao que seu Valentim respondeu: “Não sei, não senhor. Tinha um tal de Avelino. Eram três irmãos, que na época eram os senhores. Esse Zulino já é outro, que herdou dessa gente. Quando houve a forrilha (alforria) que diz, então, eles doaram essa terra aqui para nossos bisavós. Um certo tempo, que esse tal de dr. Zulino, lá de Parati-mirim, dr. Zulino, dr. Humberto, eram três, que eu não me lembro do outro, eles falaram que essas terras aqui, todas pertenciam a eles (...). Bombearam os nossos tios, para ele pagar um arrendamento em dia. O arrendamento era limpar o rio, a área lá deles. Um dia, ele fez esse tipo de mutirão: botava bastante peixe, bastate carne, bastante bebida, e tal. Depois quando estava concretizando a festa, veio com um documento, e falou lá, para o pessoal assinar, que eles estavam querendo fazer uma ajuda de melhoria, que o povo já morava aqui há quanto tempo, que ia ajudar, melhorar a casa, e tal. E o povo era cego, na época! Assinaram esse documento! (...) Eu era novo, novinho, e associado no Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Vamos pensar o quê nós vamos fazer. Dr. Miguel foi o nosso assessor. Aí ele falou para gente:”Vocês não são associados do Sindicato dos Trabalhadores Rurais?É o órgão que pode defender as pessoas contra os grileiros de terra.” Aí, nós falemos a ele: “Doutor, mas aqui nós é diferente. Aqui nosso sindicato trabalha para que o grileiro tome parte da terra e os posseiros se mandem fora! Dr. Miguel era pobre e ajudou a gente, e a gente ficou com a terra! Em 21 de março de 1999, veio o promotor, veio o juiz, veio o prefeito, veio todo mundo, até aquele lá da África, o embaixador, né? Aí, depois que todo mundo acalmou (...).” 
Informante: Valentim da Conceição, 77 anos, nascido e criado no Campinho da Independência. “Nasci e me criei aqui nessa comunidade. Minha bisavó, eu acho, era africana, se chamava Camila, era nascida aqui. Minha mãe era filha daqui. Dizem que meu pai era paulista.” (p. 26-27)
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Memória da escravidão (Campinho da Independência): O entrevistador pergunta a Waguinho de ele tem idéia de como se formou o quilombo do Campinho da Independência, ao que ele respondeu: “Tenho. Formou-se com três negras, que vieram da África, através de navios negreiros, para trabalharem nos engenhos, nos casarões das antigas fazendas, na época do Brasil Colônia (...) Quando acabou todo o processo da Abolição, nós sabemos que essas terras foram doadas para as negras que vieram trabalhar nas antigas fazendas. Aí, através dessas negras, foi formando a comunidade do Campinho.” O nome dessas negras, segundo Waguinho eram: Maria Antonica, Marcelina e a Tia Tonica. 
Informante: Waguinho, 30 anos, casado, nascido e criado no Campinho, assim como seus pais e avós. (p. 28-29)
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Memória da escravidão (Comunidade de Carumbi/Campos) : Nessa localidade, segundo Almir, todos são parentes, havendo 8 famílias, todas do mesmo tronco, totalizando mais oumenos 40 pessoas. Todos pagam impostos e as terras são legalizadas. O pai de Almir tinha lavoura de café e ele lembra de ter muita fartura. O avô de Almir morreu com cerca de 130, 135 anos, tendo sido escravo. Foi ele quem começou a terra que hoje é de Almir e seus familiares, através da doação de algum grande fazendeiro da região. 
Informante: Almir da Silva Fonseca, 40 anos, casado, três filhos, nascido e criado, assim como o seu pai, na comunidade de Carumbi a 70 km de Campos. (p. 33-34)
Campesinato negro (Fazenda Campos Novos/Cabo Frio) : “(...) Meus pais vieram para aqui porque a Fazenda Campos Novos, na época, era uma fazenda que tinha grande desenvoltura agrícola (na época do Jorge), e requisitava pessoas para trabalhar na fazenda, e também por serem pessoas que trabalham na terra e pagavam o seu arrendamento. No caso, o meu pai veio para aqui através do velho Severino, dessa área onde fica esse povoado aqui...” O entrevistador pergunta: “Então a comunidade negra dessa região era muito grande...” ao que João responde: “A família negra, na realidade, negra mesmo, daqui, era três: era o Marciano, o Santos e o Silveira.” O entrevistador prossegue: “Hoje, quantos são? É só o senhor ou tem mais outros?” João respondeu:“Essas famílias – Santos e Silveira – deixaram um lastro enorme, e que hoje você já não sabe mais, em termos de...Se vamos entrar dentro da família negra mesmo, os primitivos...Hoje se vê...Totalmente...Tem uma conjunção dentro dessas famílias, que hoje você tem na família: negro, loiro, você tem pardo...Mas as famílias primitivas negras, de Botafogo, são essas (...)” 
Informante: João dos Santos, 63 anos, 6 filhos, 12 netos. “Meu nome é João dos Santos, 63 anos. Meu pai se chama Vitaluciano dos Santos e a mãe, Luiza Liberato da Conceição. Eu tenho 12 netos, 6 filhos (...) Já são maiores. As dificuldades fizeram com que eles tivessem que sair pra trabalhar porque a lavoura não dava condições de sobrevivência para que eles, depois que tivessem uma idade maior, ficassem na lavoura. O meu irmão mais velho está próximo a 80 anos de idade, tem uns 75, 77 anos de idade, por aí. Provavelmente, o meu pai quando veio para essa terra deve fazer uma média de 90, até quase cem anos.” (p. 38-39)
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Memórias da escravidão (comunidade Maria Conga/Magé): Ao ser perguntado sobre seus avôs e se eles haviam sido escravos, Honório Martins respondeu: “(...) O avô por parte de mãe, foi. Lembro quando o povo veio dizendo que abriu a liberdade e o pessoal não acreditava . Eles vinham dizendo: “Cabo, pode ir, já abriu a liberdade!” Mas o pessoal não acreditava, alguns foi preso mas depois tiraram porque abriu a liberdade.” 
Memórias da África: Perguntado se conhecia alguma pessoa de quilombo, resistente, da qual tivessem tentado tirar terra, respondeu: “Meu sogro. Queriam tomar dele mas ele não entregou. Ele era caboclo do mato, o que ele falava ninguém entendia. Ele entendia o que a gente falava mas a gente não entendia, só a mulher dele. Ele falava umas palavras que ninguém sabia o que era...Falava uma palavra que sabia o que era: a mulher, o filho e a filha entendiam, mas a gente não entendia o que era não.”
Campesinato negro: “Tive na escola dentro da fazenda: a dona botava na escola e o patrão tirava pra gente trabalhar...desde os seis anos eu dava duro, eu já trabalhava, mesmo no tempo de chuva, morro abaixo, eu capinava e não dava nem um tempo para tirar um descansinho (...).” 
O entrevistador pergunta para Honório se quando chegou no lugar há 43 anos era uma fazenda, ao que ele respondeu: “Quando eu cheguei aqui, isso aqui era tudo mato, tudo, tudo, tudo mato. Daqui da ponta até lá em cima, tinha muito caju aqui, caju demais, só tinha caju, outra coisa não tinha. Cheguei aqui e tinha a primeira fazenda, eu tinha 20 anos, e depois a fazenda foi para ali: o fazendeiro era o dr. Paulo e só plantava caju, ele vivia de cajueiro (...) Aqui onde nós morava tinha a cada de saúde, aqui tinha tudo, aqui a fazenda velha...e ali nós morava, ali tinha uma...e nós não sabia e ficava uma mulher em cima da pedra à meia-noite e quando batia o sino, ela sumia de nós. Era uma mulher preta. Na fazenda tinha tanta prata, tanta prata que tem mais valor! Eu peguei o tempo do cativeiro ainda, e era dinheiro guardado pelos escravos para comprar a euforia (alforria) mas que nunca pôde, e era muita coisa. Gado de boi tinha, tinha um grande babanal.” Perguntado se atualmente o lugar era bom, respondeu: “Aqui? Hoje ta bom demais, aqui mudou muito (...) agora nós come que nem um cabra!” O entrevistador, então, pergunta se ele conheceu Maria Conga e como ela era, ao que Honório respondeu: “Maria Conga? Maria Conga? Eu conheci Maria Conga, conheci muito. (...) Não sei porque ela não contava nada não, ela era muito velhinha, muito velhinha. Eu conhecia ela, mas ela já era muito velhinha, e não contava nada não.” O entrevistador: “Mas era uma liderança aqui”? Honório: “Ah, era...Maria Conga era dona disso aqui tudo. Essa tal de Maria Conga era dona disso aqui tudo. É isso mesmo! O entrevistador: “E o Sr. teve contato com ela?” Honório: “Não, os filhos delas não deixavam não.” 
Obs.: A cartilha traz uma nota explicando que Maria Conga ou Mãe Maria Conga era um entidade cultivada na umbanda, assim como Pai José, Vovó Rita, Pai Zé do Congo e outros que também são chamados de pretos velhos. No caso dessa comunidade, os pesquisadores não sabem a relação entre essa Maria Conga (antiga líder da comunidade) com o mito “Mãe Maria Conga”, mas aventam a hipótese de que tal denominação venha de sua própria crença na entidade. (p. 61)
Informante: Honório Martins, 85 anos, natural de Paraty e fundador da primeira igreja católica de São Benedito. Reside há 43 anos em Guapimirim. Foi entrevistado na parte referente à comunidade de Maria Conga em Magé. (p. 60-62)
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Memórias da escravidão (Comunidade da Rasa): “A história de nossa cidade é muito importante porque essa região aqui é a ponta do Pai Vitório, onde os nossos ancestrais que vieram de Angola escravizados eram descarregados. (...) Pai Vitório era um navio negreiro que trazia os negros para cá mensalmente e, mas primeiras vindas deles, os portugueses descobriram que toda essa Rasa era boa pala plantar banana. Então trouxeram a banana. Os nossos ancestrais faziam a plantação. Até alguns anos tinha os paus da ponte, onde se descarregava os negros e de onde se levava a banana. Mais tarde, veio a ser Fazenda do Henrique da Cunha Bueno, hoje chamada de Fazendinha. Veio a ser uma fábrica de mariola, porque a banana que já estava passada ou amadurecida, eles usavam para fazer o doce e levar para Portugal. (...) E bom é também destacar nessa história que, após a abolição da escravatura, o fazendeiro da Fazenda Campos Novos, que ocupava toda essa área, de Cabo Frio até a Armação de Búzios, até lá no final da península, ela pertencia praticamente a um dono, que era a família do Eugênio Arnoldes, não sabiam o que fazer com os escravos. Então separaram essa área aqui, que é a área de Rasa, para doar para os escravos daquela época – que são os nossos ancentrais – cultivarem e criarem aqui os seus filhos. E já existiam alguns moradores aqui: os escravos que conseguiam fugir na hora do desembarque e ficaram aqui aquilombados no meio do mato. Eles se uniram numa grande família que hoje originou esse bairro da Rasa, que hoje é um dos maiores bairros que tem no nosso município – 40% da população buziana está aqui no bairro da Rasa. E a maioria dos buzianos, hoje, são negros, devido a essa mistura com os portugueses e outras raças como os índios que se encontravam aqui naquela época.” (...)Vale ressaltar também, (...) que existe uma outra praia aqui, um outro bairro chamado José Gonçalves, onde também se desembarcavam negros após a Abolição. Era negros que vinham pelo tráfico ilegal, entravam de maneira ilegal e muitos desses negros também conseguiam fugir e ficavam lá mesmo por José Gonçalves. Alguns aquina Rasa. A nossa família mesmo...a minha família, ele morava na praia de Jeribá, no Cantinho de Jeribá, e lá nós fomos criados. E a gente tinha essa convivência. Mas nós já somos descendentes desses negros que fugiam de José Gonçalves. (...)” 
Informante: Paulo Pereira, vereador do município da Armação de Búzios. (p. 66-68)
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Memórias da escravidão (comunidade da Rasa): “(...) Naquela época, a Fazenda Campos Novos era a cidade, com 30 ou 40 casas pequenas. Lá tinha o tronco, onde castigavam os escravos, tinha a arena. De lá partia toda a ordenança, os que fugiam de lá se alojavam aqui numa localidade com o nome de Cangote – que é um nome africano -, e dali eles vinham se banhar e tirar ostras para comer nessa praia aqui do lado, que até hoje ainda é conhecida como Praia dos Negros. Rasa ainda é 80% de negros e aí você vê que o pessoal lá do centro de Búzios já são pessoas de epiderme branca mesmo. Por que isso? Porque a Rasa era o local onde habitavam os trabalhadores e os escravos. Os negros de dentes claros e de canela fina eram escolhidos para a reprodução porque eram considerados como bom de trabalho e de serviço. E passaram a fugir e a criar o sei próprio espaço. (...) Até hoje se mantém a tradição da pesca artesanal, pois quando eles chegaram aqui, acharam os índios das tribos Guaraci e os índios se juntaram aos negros e passaram a fazer pesca artesanal, a pesca de faixo, com facão. Tudo isso é uma tradição que a gente tenta manter até hoje: a pesca com jequiá (...)”
Memórias da África: “Os meus familiares, como por exemplo, o Avelino Violeiro, vieram da África. Ele falava a linguagem de Angola. Curava as pessoas com remédios feitos de erva e dele partiu toda a tradição. A Tertela, que era uma mulher de quase dois metros de altura, uma mulher muito valente – ia daqui da Rasa a Cabo Frio e voltava a pé por esses matos -, era uma pessoa muito respeitada porque era da África. E Simoa, e tantas outras pessoas que vieram da África para cá como escravos.”
Jongo: O entrevistador pergunta que outras tradições culturais eles mantêm na comunidade e se tem muito jongo, ao que Walmir responde: “Tem, tem muito jongo. A dança do bumba- meu- boi era uma dança em que eles pegavam a cabeça de um animal morto, botavam uma corda em torno da parte queixada e o corpo era feito de suporte, coberto com pano de chita (...) Ali era toda uma tradição, uma brincadeira, como tinha também a ladainha, que era uma reza que começava às nove da manhã e ia até as seis da tarde. Até hoje tem pessoas históricas na nossa cidade que ainda fazem da dança do jongo, como a tia Lúcia, minha tia. Então, era uma família toda. 
Informante: Vereador Walmir do município de Armação de Búzios (p. 66-68)
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Jongo (comunidade da Rasa): “(...) Dançava jongo, batia jongo. Dançava a noite toda, até de manhã. Tinha muito era baile, por aí...ladainha...A gente rezava ladainha...Já brinquei de reis, já brinquei reis, já brinquei muito jongo, já fui macumbeira, da umbanda. Já parei. Não quero mais saber disso. O salão ainda está ali. Foi obrigação.”
Informante: Maria Jesuína Antônia, 81 anos, 7 filhos, 23 netos e 13 bisnetos, todos nascidos e criados na comunidade da Rasa. “Nasci lá na mata, lá em cima, fazendo rumo com a Junqueira, lá, com o Quincas Gordo. Fui nascida e criada ali (...)”
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Memórias da escravidão (Comunidade de Sant’Anna/Quatis): “Este local, a gente descobriu já faz muito tempo. Meu bisavô foi mandado embora da fazenda, porque, naquela época, se até a filha não trabalhasse na fazenda, o camarada era mandado embora. Quando ele saiu daqui, era novinho, registrou em outro lugar. Depois de vinte e tantos anos foi que o pai dele morreu. Aí, voltou para a terra natal deles. Mas, aqui, os velhos sempre contavam para a gente que houve muitas coisas depois que acabou a escravidão (...) Era uma fazenda só. Pertencia ao Barão Cojuru. Depois ele morreu, deixou para o filho dele. Esqueci o nome do filho dele agora. Mas, aliás, não era só esse pedacinho. Era daqui até perto de Amparo, que chama Ribeirão Claro. Só que foi dividido. E esse terreno aqui, ele foi doado para os escravos. Essa doação existe. A Fundação Palmares ficou de trazer o documento para o juiz.” 
Informante: Miguel Francisco da Silva, 38 anos, nascido e criado na Comunidade de Sant’ana, em Quatis. (p. 80)
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Memórias da escravidão (Comunidade de Sant’Anna/ Quatis): “Meu nome é Maria Helena da Silva Paixão. Nasci aqui. Tanto eu como meus pais. Eu creio, quando eles vieram, vieram diretamente da África para cá. Porque, quando houve a Abolição dos escravos, aqui nesse lugar, a escravidão continuou. A minha avó era mucama, e a mãe dela era cozinheira na fazenda. Hoje, não existe mais a fazenda, porque eles derrubaram. Mas, elas trabalhavam na fazenda, as duas. A minha avó, como já disse, era mucama. Depois. Minha avó casou e, aí, veio o meu pai. Os patrões do meu pai também casaram, tiveram filho. Meu pai foi babá desse rapaz, tomou conta dele. Aí, esse rapaz cresceu, e meu pai se casou e continuou trabalhando com eles. No final das contas, quando eu digo que a escravidão aqui continuou é porque o meu pai trabalhou a vida inteira dele aqui. Não conheceu outro lugar. Eu sei que eles ganharam terra aqui. Foram tomadas de volta. Tomaram as terras de volta, porque acho que eles não tinham o que comer direito, e eles trocaram a terra a troco de comida. Às vezes, uns trocavam até mesmo por bebida, por causa da tristeza que eles passavam. Aquele empregado que não deixasse seus filhos trabalhem na fazenda, era expulso. Foi assim que eu saí daqui. Senão, talvez, eu estaria aqui até hoje. Eles nos expulsaram, de um dia para o outro. Quando expulsaram meu pai daqui, ele ainda conseguiu pegar essa daqui. Só que aí a gente já era outra geração. A gente já não aceitava mais esse tipo de coisa. Ela, e a outra, ainda chegaram a trabalhar. Mas, elas não se sujeitaram e saíram. Foi aí que começou. Meu pai deve ter saído daqui, mais ou menos, com a idade de 60 anos. O trabalho dele foi muito pesado. Naquela época, não existia transporte, era tropa de burro. Então, eram 15 burros, e quem tirava o leite na fazenda era ele. Então, dele pegar todo aquele peso, aquelas latas de leite, deu uma hérnia de disco, enorme. Quando ele saiu daqui, ninguém ia querer ele mais. Eu saí pequena. (...) Então, que aconteceu? Eles expulsaram, eles dividiram as terras aqui, expulsaram a gente daqui. Quando nós formos para Quatis, estou lá até hoje, meu pai, ninguém queria mais ele, porque ele estava muito velho, estava doente. (...) Nós passamos fome. Meu pai, não dava para ele trabalhar mais. Graças a Deus nós vencemos isso. (...) Ele foi internado na Santa Casa de Barra Mansa. E ele trabalhou a vida inteira dele aqui. Não teve direito à nada. Saiu como um cachorro, assim, de um dia para o outro.” 
Informante: Maria Helena da Silva Paixão, 52 anos, nascida e criada na comunidade de Sant’Ana. 
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Memórias da escravidão (São José da Serra): “Meu pai, coitado, foi a uma guerra que teve e faltavam as coisas em Santa Isabel. (...) Meu avô, nem conheci. Ele veio comprado da Bahia. Ele veio garoto. Ele veio comprado com o vovô e a vovó. Daí, já veio para a fazenda de Leite Souza. Lá é que comprava e depois distribuía o escravo. A fazenda que era boa, o escravo continuava. A que era ruim, ou morria, ou tinha que...Até que Deus lembrou, coitado! E Nossa Senhora deu a libertação. Mas, depois, meu pai morreu. Depois ele criou nós, lutando com minha mãe. Minha mãe ainda viveu depois dele. Meu pai morreu com 115 anos e minha mãe, depois que ele morreu, ela ainda viveu mais 20 anos. Ela também morreu com 115.” 
Informante: Manoel Seabra, 82 anos nascido e criado em São José da Serra.
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Memórias da escravidão: “Eu nasci aqui nessa comunidade e o meu avô nasceu aqui na comunidade. Meupai nasceu aqui na comunidade e meu bisavô também. Aqui era uma grande fazenda, que foi derrubada no passado. Eu mesmo, não conheci a grande fazenda. Conheci parte da fazenda, mas, a grande fazenda, mesmo, eu não conheci. Meu bisavô estava com 21 anos quando acabou a escravidão. Continuaram habitando aqui. Era em torno, mais ou menos, de umas 50, 60 famílias, que resultaria, mais ou menos, 400 negros morando nessa fazenda. Mas, em época depois, saiu uma parte do pessoal daqui. Mudou-se para Campinas, porque tinha um fazendeiro lá que era um parente do proprietário daqui. (...) Inclusive meu pai, também, iria mudar, mas, como meu avô era cego, meu pai saiu, já de cima do caminhão e deixou. Continuou aqui na fazenda. Mas, tem uma parte dessa comunidade que saiu para o Rio, Morro do Salgueiro, Queimados.”
Campesinato negro: “A gente trabalhava para o fazendeiro. Mas, plantava...assim...áreas...que a gente plantava só para a gente, não tinha meia, não. Mas aí, a gente ficava na roçada de pasto. Quando acabava a roçada de pasto da fazenda, a gente roçava os pastos também nos vizinhos. Então, a gente o que mais fazia era roçar, capinar, fazia essas coisas.”
Informante: Toninho Canecão, 55 anos, criado na comunidade até os 16.
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Jongo: O entrevistador pergunta a Terezinha Maria de Jesus se há caxambu na comunidade, ao que ela respondeu: “Tem. A responsável pelo tambor é minha cunhada. Eu puxo jongo para ela porque é desde criança que eu acompanho o tambor. Meus primos, meus padrinhos, eles eram jongueiros. Então a gente era criança e eu fui aprendendo.” O entrevistador pergunta: “Por que o tambor chama caxambu?”, ao que Terezinha responde: “Não. É tambu. O pessoal fala caxambu, caxambu...Mas não é caxambu; é tambu.” Ao ser perguntada há quantos anos cantava o jongo na comunidade, respondeu: “Já faz bem tempo. Acho que faz três anos que eu comecei a puxar o jongo para eles. Cantar jongo, toda a vida a gente cantou. Mas puxar jongo, aqui, estou fazendo uns três anos.” Sobre o assunto, o entrevistador voltou a perguntar: “A juventude daqui tem se interessado em dar continuidade ao jongo?”, ao que Terezinha respondeu: “Eles cantam junto com a gente. E, mesmo quando saio, eles puxam o jongo.” 
Informante: Terezinha Maria de Jesus, 69 anos, nascida e criada na comunidade de São José.

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