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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE DIREITO AULA 06 1. Teoria Geral dos Fatos Jurídicos – O ‘mundo da vida’ é, por sua extensão e imprevisibilidade, muito maior que o mundo do Direito. Inúmeras situações existem, as quais não foram vislumbradas pelo legislador, ou constituem irrelevantes jurídicos. Usa- se a expressão fatos ajurídicos para designar aqueles fatos que não possuem importância do ponto de vista do Direito. Àqueles cujas conseqüências sejam juridicamente relevantes, que possuam aptidão para produzir efeitos jurídicos denominam-se fatos jurídicos (em sentido lato). Os fatos jurídicos, por sua vez, podem ser analisados inicialmente sob a perspectiva de sua conformidade, ou desconformidade com o Direito. Dizem-se assim lícitos, ou ilícitos. Sob outro ângulo de perspectiva, um fato jurídico pode ser objeto da ação de forças da natureza, ou da vontade humana. Aos primeiros, denominam-se fatos jurídicos naturais (fatos jurídicos stricto sensu). Os segundos recebem o nome de atos jurídicos em sentido amplo (lato sensu). Os atos jurídicos em sentido amplo, por sua vez, dividem-se em atos jurídicos em sentido estrito (a vontade humana é manifestada num sentido de aderir aos efeitos previstos na lei, à qual cabe a tarefa de balizar todos os contornos do ato) e negócios jurídicos (ocorre uma declaração de vontade que objetiva produzir efeitos jurídicos. A vontade individual molda, observando limites legais, a forma e os efeitos do ato a ser produzidos). Ao lado destas categorias, fala-se em ato-fato jurídico, sendo este aquele no qual a vontade humana é essencial para a ocorrência de sua existência, mas irrelevante para a produção de seus efeitos. ESQUEMA DIDÁTICO NÚMERO 03 FATOS DA VIDA FATOS JURÍDICOS LATO SENSU (possuem aptidão para produzir efeitos jurídicos) FATOS LÍCITOS (em conformidade com o Direito) ATOS JURÍDICOS EM SENTIDO LATO (fatos lícitos decorrentes da ação voluntária humana) ATOS JURÍDICOS EM SENTIDO ESTRITO (tem seus elementos e efeitos previstos na lei, aos quais adere a vontade humana) NEGÓCIOS JURÍDICOS (accordo de vontades destinado a produzir efeitos jurídicos. Vontade manifestada quanto aos contornos e efeitos do ato) ATOS-FATOS JURÍDICOS (manifestação inicial da vontade, cujos efeitos independem desta) FATOS JURÍDICOS EM SENTIDO ESTRITO (fatos naturais, resultantes da ação das forças da natureza) FATOS ILÍCITOS (em desconformidade com o Direito) FATOS NÃO JURÍDICOS (indiferentes para o Direito) 2.1. Negócio Jurídico 2.1.1. Planos do negócio jurídico. Existência, validade e eficácia – Negócio jurídico é uma declaração de vontade destinada a produzir efeitos jurídicos. Contudo, para que possa produzir os efeitos esperados, é preciso que o fenômeno negócio jurídico seja analisado sob três perspectivas, ou planos: 2.1.1 1. Existência – O primeiro plano, lógica e cronologicamente falando, do negócio jurídico, é o que avalia sua existência jurídica. Assim, é preciso que o negócio jurídico envolva uma ou mais pessoas (aquele(s) que irá(ao) manifestar a vontade), denominadas agentes; Além disto, é necessário que a vontade destes agentes incida sobre um objeto, patrimonial ou não; por fim, é preciso que esta vontade do(s) agente(s), manifestada sobre este objeto, seja exteriorizada de alguma forma. Sem estes elementos (agente, objeto, forma e a vontade exteriorizada), não há sequer falar em negócio jurídico. 2.1.1.2. Validade – Uma vez que um negócio jurídico exista, passa-se a análise de sua validade. Estuda-se, assim, se este negócio é apto a produzir efeitos jurídicos válidos, esperados. Um negócio jurídico que seja inválido, será nulo, ou anulável. Poderá eventualmente produzir efeitos (responsabilidade civil pelos danos causados), mas estes serão decorrentes de sua ilicitude, e não aqueles objetivados pelas partes. EX: Se JOÃO vende para JOSÉ um bem que não lhe pertencia (venda a non domino), este negócio será nulo. Caso JOSÉ estivesse de boa-fé, fará jus a uma indenização, a qual não é um desdobramento esperado do negócio, mas uma reparação pelos danos suportados. Os elementos que compõem o plano da validade são os seguintes: a) Agente capaz – É preciso que aquele que pratica o ato possua capacidade de fato (possibilidade de praticar validamente atos da vida civil). Caso não possua capacidade civil plena, sendo absoluta, ou relativamente incapaz, deverá ser representado, ou assistido, por terceiro. b) Objeto lícito, possível, e determinável – A vontade manifestada pelo agente deve ser conforme a lei. Não se admitem negócios jurídicos que afrontem o direito positivo, ou seus princípios gerais. Tampouco se admitem negócios jurídicos cuja realização seja física ou juridicamente impossível. Por fim, é preciso que o objeto do negócio jurídico possa ser determinado, ou, pelo menos, determinável, de modo que se possa precisar sobre que situação incide a vontade. c) Forma prevista, ou não defesa em lei – Muito embora o negócio jurídico seja uma manifestação da autonomia da vontade, esta não é absolutamente livre. A forma para o negócio jurídico válido deverá ser prevista, ou ao menos permitida, por lei. A regra geral dos negócios jurídicos é de que estes independem de forma específica (art. 107). Assim, caso a lei não traga prescrições formais, o negócio será não solene; toda solenidade deverá, então, estar prevista em lei. d) Vontade livremente manifestada – É preciso que a vontade exteriorizada no negócio jurídico seja a resultante do desejo livre de quem a manifesta. Assim, para que o negócio jurídico seja válido, tal vontade deve ser manifestada livre de vícios, de forma a refletir o pensamento de seu emissor. 2.1.1.3. Eficácia – Superados os planos da existência e da validade, analisa-se, por fim, a eficácia do negócio, momento em que se analisam seus elementos acidentais, os quais podem impedir que se produzam seus efeitos, ou fazer cessar os mesmos. Trabalha-se assim, com os conceitos de termo (evento futuro e certo), condição (evento futuro e incerto), ou encargo (obrigação decorrida de uma liberalidade recebida).
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