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Um Breve Exame do Comportamento Operante* B.F. Skinner (Tradução: Estêvão G. Bittar**) á tempo é sabido que o comportamento é afetado por suas conseqüências. Nós recompensamos e punimos pessoas, por exemplo, e então elas se comportarão de maneiras diferentes. Um efeito mais específico de uma conseqüência foi inicialmente estudado por Edward L. Thorndike em um experimento bastante conhecido. Um gato trancado em uma caixa esforçava-se para escapar e, eventualmente, movia a trava que abria a porta. Quando trancado repetidamente nessa caixa, o gato gradualmente parava de fazer aquelas coisas que tinham provado ser ineficazes ("erros") e eventualmente emitia a resposta bem-sucedida rapidamente. No condicionamento operante, o comportamento também é afetado por suas conseqüências, mas o processo não é de aprendizagem por tentativa-e-erro. Isso pode ser mais bem explicado com um exemplo. Um rato faminto é colocado em uma caixa semi-isolada acusticamente. Por diversos dias, pedaços de alimento são ocasionalmente apresentados em uma bandeja por um alimentador automático. O rato em breve vai à bandeja imediatamente após ouvir o som do alimentador. Uma seção horizontal pequena de uma barra que se projeta da parede tem repousado em sua posição mais baixa, mas agora é ligeiramente levantada de modo que quando o rato a toca, ela move-se para baixo. Ao mover-se ela fecha um circuito elétrico e opera o alimentador automático. Imediatamente após comer o alimento apresentado, o rato começa a pressionar a barra bastante rapidamente. O comportamento foi fortalecido ou reforçado por uma única conseqüência. O rato não estava "tentando" fazer nada quando inicialmente tocou a barra e não aprendeu de seus "erros". Para um rato faminto, a comida é um reforçador natural, mas o reforçador nesse exemplo foi o som do alimentador, que foi condicionado como reforçador quando foi repetidamente seguido pela apresentação da comida antes de a barra ser pressionada. De fato, o som desta operação do alimentador poderia ter um efeito observável mesmo que nenhum alimento fosse apresentado nesta ocasião, mas quando o alimento não se segue mais à pressão à barra, o rato eventualmente para de pressionar. Diz-se que o comportamento foi extinto. H *Artigo disponibilizado pela B.F. Skinner Foundation. O texto completo pode ser encontrado no site www.bfskinner.org/Operant.asp. ** Tradução realizada em 29/01/2006 Um Breve Exame do Comportamento Operante 2 Um operante pode ficar sob o controle de um estímulo. Se pressionar a barra é reforçado quando uma luz está ligada, mas não quando está desligada, a resposta continua a ser emitida na presença da luz, mas raramente - se ocorrer - no escuro. O rato formou uma discriminação entre a luz e o escuro. Quando se liga a luz, uma resposta ocorre, mas não é uma resposta reflexa. A barra pode ser pressionada com diferentes intensidades de força, e se somente respostas fortes são reforçadas, o rato pressiona mais e mais fortemente. Se somente respostas fracas são reforçadas, ele eventualmente responde somente de forma muito fraca. O processo é chamado diferenciação. Uma resposta deve inicialmente ocorrer por outras razões antes de ser reforçada e se tornar um operante. Pode parecer que uma resposta muito complexa poderia nunca ocorrer para ser reforçada, mas respostas complexas podem ser modeladas reforçando-se suas partes componentes separadamente e colocando-as juntas na forma final do operante. O reforçamento operante não apenas modela a topografia do comportamento, mas mantém a sua força muito após um operante ter sido formado. Esquemas de reforçamento são importantes na manutenção do comportamento. Se uma resposta tem sido reforçada por algum tempo somente a cada cinco minutos, por exemplo, o rato logo para de responder imediatamente após o reforçamento, mas responde mais e mais rapidamente enquanto o tempo para o próximo reforçamento se aproxima. (Isto é chamado esquema de reforçamento em intervalo- fixo.) Se uma resposta tem sido reforçada na média a cada cinco minutos, mas de modo imprevisível, o rato responde em uma taxa constante. (Iso é um esquema de reforçamento em intervalo-variável.) Se o intervalo médio for curto, a taxa é alta; se for longo, a taxa é baixa. Se uma resposta é reforçada quando um dado número de respostas foi emitido, o rato responde mais e mais rapidamente à medida que o número requerido se aproxima. (Isto é um esquema de reforçamento em razão-fixa.) O número pode ser aumentado em estágios fáceis até um valor muito alto; o rato continuará a responder mesmo quando uma resposta for muito raramente reforçada. O "pagamento por taxa produção" na indústria é um exemplo de um esquema de razão-fixa, e os empregadores são às vezes tentados a "esticá-los" através do aumento da quantidade de trabalho requerida por cada unidade de pagamento. Quando o reforçamento ocorre após um número médio de respostas, mas de maneira imprevisível, o esquema é denominado razão-variável. Isto é familiar nas máquinas de apostas e nos sistemas que arranjam pagamentos ocasionais, mas imprevisíveis. O número requerido de apostas pode ser facilmente esticado, e, em um empreendimento de apostas como um casino, a razão média deve ser tal que o apostador perca a longo prazo, para que o casino obtenha seu lucro. Um Breve Exame do Comportamento Operante 3 Os reforçadores podem ser positivos ou negativos. Um reforçador positivo reforça quando é apresentado; um reforçador negativo reforça quando é removido. Reforçamento negativo não é punição. O reforçamento sempre fortalece o comportamento; isso é o que "reforçamento" significa. A punição é utilizada para suprimir o comportamento. Ela consiste na remoção de um reforçador positivo ou na apresentação de um negativo. Ela freqüentemente parece operar por condicionamento de reforçadores negativos. A pessoa punida, daí em diante, atua de maneiras que reduzam a ameaça de punição e que sejam incompatíveis com (e por conseguinte tomem o lugar do) comportamento punido. A espécie humana é distinta pelo fato de que suas respostas vocais podem ser facilmente condicionadas como operantes. Existem muitos tipos de operantes verbais porque o comportamento deve ser reforçado apenas através da mediação de outras pessoas, e essas pessoas fazem muitas coisas diferentes. As práticas de reforçamento de uma dada cultura compõem o que é chamado de linguagem. Essas práticas são responsáveis pela maioria das conquistas extraordinárias da espécie humana. Outras espécies adquirem comportamento dos outros através de imitação e modelação (elas mostram aos outros o que fazer), mas elas não podem dizer aos outros o que fazer. Nós adquirimos a maior parte do nosso comportamento com este tipo de auxílio. Nós seguimos conselhos, prestamos atenção a avisos, observamos regras e obedecemos a leis, e o nosso comportamento fica então sob o controle de conseqüências que poderiam, de outra forma, não ser efetivas. A maior parte do nosso comportamento é muito complexa para ter ocorrido pela primeira vez sem tal auxílio verbal. Seguindo conselhos e respeitando regras nós adquirimos um repertório muito mais extenso do que seria possível através de um contato solitário com o ambiente. Responder porque o comportamento tem tido conseqüências reforçadoras é muito diferente de responder seguindo conselhos, respeitando regras e obedecendo a leis. Nós não seguimos conselhos devido às conseqüências particulares que se seguirão; nos os seguimos somente quando seguir outros conselhos de fontes similares já tenha tido conseqüênciasreforçadoras. No geral, nós estamos muito mais fortemente inclinados a fazer coisas se elas já tiveram conseqüências reforçadoras imediatas do que se nós tivermos sido meramente aconselhados a fazê-las. O comportamento inato estudado pelos etólogos é modelado e mantido por sua contribuição à sobrevivência do indivíduo e das espécies. O comportamento operante é modelado e mantido por suas conseqüências para o indivíduo. Ambos os processos possuem características controversas. Em nenhum dos dois parece haver lugar para um plano prévio ou para propósitos. Em ambos, a seleção substitui a criação. Um Breve Exame do Comportamento Operante 4 A liberdade pessoal também parece ameaçada. É somente o sentimento de liberdade, contudo, que é afetado. Aqueles que respondem porque seus comportamentos foram positivamente reforçados usualmente sentem-se livres. Eles parecem fazer o que eles querem fazer. Aqueles que respondem porque o reforçamento tem sido negativo e que estão conseqüentemente evitando ou escapando da punição estão fazendo o que eles devem fazer e não se sentem livres. Essas distinções não envolvem o fato da liberdade. A análise experimental do comportamento operante tem levado a uma tecnologia geralmente denominada modificação do comportamento. Ela geralmente consiste em alterar as conseqüências do comportamento, remover as conseqüências que têm causado problemas ou arranjar novas conseqüências para comportamentos aos quais tem faltado força. Historicamente, as pessoas têm sido controladas primariamente através de reforçamento negativo, ou seja, elas têm sido punidas quando não fazem o que é reforçador para aqueles que podem puni- las. O reforçamento positivo tem sido menos freqüentemente utilizado, em parte porque seu efeito é levemente atrasado, mas ele pode ser tão efetivo quanto o reforçamento negativo e possui muito menos subprodutos indesejáveis. Por exemplo, estudantes que são punidos quando não estudam podem estudar, mas eles podem também se manter longe da escola (cabular aulas), depredar as propriedades da escola, atacar os professores ou teimosamente não fazer nada. Redefinir os sistemas escolares para que o que os estudantes façam seja mais freqüentemente positivamente reforçado pode fazer uma grande diferença. (Para maiores detalhes, veja o meu “O Comportamento dos Organismos”, “Ciência e Comportamento Humano”, e “Esquemas de Reforçamento”, meu e de C.F. Ferster.)
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