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GERALDO TAVARES DE SOUZA MONOGRAFIA PRONTA (2)

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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
FACULDADE DE DIREITO
GERALDO TAVARES DE SOUZA
O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
 E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2015
GERALDO TAVARES DE SOUZA
O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
 E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Monografia apresentada ao Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Paulista, campus de São José do Rio Preto, como requisito parcial à obtenção do Título de Graduação em Direito.
 Orientador: Prof. Dr. Dionísio
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2015
GERALDO TAVARES DE SOUZA
O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
 E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Monografia apresentada ao Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Paulista, campus de São José do Rio Preto, como requisito parcial à obtenção do Título de Graduação em Direito.
Aprovado em: ____/ ____/ _____
Banca Examinadora:
_____________________________________
 Prof. Dr.
 Universidade Paulista – UNIP
_____________________________________
 Prof. Dr.
 			 Universidade Paulista – UNIP
____________________________________
 Prof. Dr.
 Universidade Paulista – UNIP
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que me deu vida e saúde para que eu pudesse chegar até aqui. À minha esposa Nice, que sempre me motivou e abriu mão de muitos momentos de lazer, e do tempo que merecia, para que eu conquistasse o meu propósito. Aos meus irmãos e irmãs, que sempre vibraram com minhas conquistas; a todos os meus amigos, incansáveis companheiros de aventura; aos professores, dignos mestres, que se dedicaram em trazer-me o conhecimento; ao professor Dr. Dionísio, por ter dedicado seu tão disputado tempo à orientação deste trabalho; e à minha amada mãe, “no jardim, dentre todas, a mais bela de todas as Rosas”.
Olhe o mundo com a coragem do cego, entenda as palavras com a atenção do surdo, fale com as mãos e com os olhos, como fazem os mudos! Cazuza. 
RESUMO
O presente trabalho pretende estimular o debate e analisar o conceito e alcance da dignidade da pessoa humana, com o objetivo de demonstrar que todas as pessoas possuem o mesmo grau de dignidade. Para tanto, verificará o respeito e a observância dos direitos humanos, nos principais instrumentos normativos, na legislação nacional vigente, bem como em tratados e legislações internacionais. Analisará, sobretudo, a situação atual encontrada no sistema prisional brasileiro, observando o tratamento que é dispensado ao preso, no que se refere a sua dignidade e aos direitos humanos, traçando um paralelo desta situação com a legislação vigente, buscando evidenciar possível solução.
Palavras-Chave: dignidade humana; direitos humanos; tratados internacionais; legislação vigente; sistema prisional brasileiro; presos.
ABSTRACT
The aim of this work was to stimulate public discussion and analyze the concept and scope of human dignity, in order to demonstrate that all people have the same degree of dignity. To do so, shall verify the respect for and observance of human rights, the main legal instruments in existing national legislation and in international treaties and laws.Particularly considering the current situation has been found and seen in the Brazilian prison system, looking at the treatment given to the prisoners in the respect of their dignity and human rights, drawing a parallel of this situation with current legislation, seeking possible solution.
Key-Words: human dignity ; human rights; international treaties;current legislation; Brazilian prison system; prisoners. 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................09
POPULAÇÃO CARCERÁRIA NO BRASIL E NO MUNDO...................................09
A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988 E NOS TRATADOS INTERNACIONAIS.........................................................10
DOS DIREITOS E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DAS PESSOAS ENCARCERADAS E DOS CIDADÃOS....................................................................16
4.1 Princípio da dignidade humana...............................................................................16
REVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA E DA PRISÃO............................................17
VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO COTIDIANO DOS APENADOS...25
A LEI DE EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL........................................................... 26
PROBLEMAS ENCONTRADOS NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO.........29
A Superlotação nos presídios............................................................................29
Falta de assistência médica, de higiene e trabalho............................................30
Reincidência Penal............................................................................................31
DIFICULDADES DE RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO..................................32
DO DIREITO PENAL..................................................................................................35
O SISTEMA PENITENCIÁRIO IDEAL.....................................................................37
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA.....................................................................................39
CONCLUSÃO..............................................................................................................43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................46
1. INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho é estimular o debate a respeito da grave problemática atual de assistência ao preso; trazer à análise, a precária situação atual do sistema prisional brasileiro, sem, entretanto, ter a pretensão de esgotar o vastíssimo tema.
O objetivo é alertar para o tipo de tratamento que é proporcionado aos encarcerados, sejam os condenados, cumprindo penas de reclusão, ou aguardando julgamento, ou os detidos nos Centros de Detenção Provisória ( CDP’s) etc, sob condições precárias e degradantes. 
Dentro desse contexto, discorrer e discutir a respeito de valores essenciais e necessários às mudanças no cenário atual, enfocando os direitos fundamentais e as garantias que devem ser asseguradas, para proporcionar qualidade de vida digna a esses presos. 
Não se pretende neste, portanto, questionar uma lista de privilégios ou regalias para essas pessoas que cometeram quaisquer tipos de crimes, mas, no mínimo, respeito, levando em consideração que toda essa gama de problemas contidos nos ambientes carcerários, leva à marginalização ainda maior àqueles que precisam ressocialização. 
2. POPULAÇÃO CARCERÁRIA NO BRASIL E NO MUNDO. 
O ritmo de crescimento da população prisional brasileira é vertiginoso, apesar dos investimentos bilionários do governo. Os dados são do relatório do Sistema Integrado de Informações Penitenciária, INFOPEN1, divulgados pelo Ministério da Justiça, de junho de 2014. [1: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Sistema Penitenciário No Brasil: Dados Consolidados. Brasília. Levantamento Nacional De Informações Penitenciárias - Junho De 2014. Disponível em:<http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/politica-penal/Acesso em 26 de outubro de 2015>]
Segundo esse relatório, o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, Em números absolutos, o Brasil alcançou a marca de 607.700 presos, atrás apenas da Rússia (673.800), China (1,6 milhão) e Estados Unidos (2,2 milhões). Quando se compara o número de presos com o total da população, o Brasil também está em quarto lugar,atrás da Tailândia (3º), Rússia (2º) e Estados Unidos (1º). 
Segundo o Ministério, se a taxa de prisões continuar no mesmo ritmo, um em cada 10 brasileiros estará atrás das grades até 2075.Os dados referentes à população carcerária dos outros países foram compilados pelo ICPS (Centro Internacional para Estudos Prisionais, na sigla em inglês).
 	Os dados do INFOPEN são divulgados uma vez ao ano, e têm como base o número de presos no Brasil, referentes ao primeiro semestre do ano anterior. De acordo com o relatório divulgado agora, entre 2004 e 2014, a população carcerária brasileira aumentou 80% em números absolutos, saindo de 336.400 presos para 607.700. 
Quando o número de presos é dividido pela população, índice conhecido como "taxa de encarceramento", o crescimento do número de presos por grupo de 100 mil habitantes, entre 2004 e 2014, aumentou 61,8%. Em 2004, o Brasil tinha 185,2 presos para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2014, segundo o mesmo relatório, o país tinha 299,7 presos para cada grupo de 100 mil habitantes.
Em números absolutos, os Estados com a maior população carcerária são: São Paulo (219.053), Minas Gerais (61.286) e Rio de Janeiro (31.510). Os Estados com a menor população carcerária são Piauí (3.224), Amapá (2.654) e Roraima (1.610)
O ritmo de detenções aumenta a demanda dos presos, em unidades que não crescem na mesma proporção e ficam superlotadas.
Em 2014 havia 376.669 vagas disponíveis em 1.424 unidades, para abrigar toda a população carcerária do país, ou seja, 1,6 preso por vaga. Isto significa que, em um espaço planejado para receber dez pessoas, há, em média, dezesseis presos. 
Apesar disso, ao menos 25% do total das unidades prisionais têm hoje mais de dois presos para cada vaga. Uma proporção acima da média nacional. 
O estudo também traça o perfil dos presos no país. Em 2014, quatro em cada dez presos eram provisórios, ou seja, estavam detidos sem terem ainda sido julgados.
O relatório, ainda, estima que cerca de 32 mil presos que cumprem regime fechado, poderiam passar para o semiaberto, mas que isto não ocorre por falta de vagas.
3. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 E NOS TRATADOS INTERNACIONAIS.
Ao serem presas, as pessoas perdem não apenas o direito à liberdade, mas também à dignidade. A personalidade é transformada e nesta pode se revelar um verdadeiro sentimento de vingança. Deste modo, seria necessário que o sistema penitenciário ofertasse um mínimo de suporte para que, os condenados voltassem à sociedade preparados para enfrentar novamente suas vidas e com chances de ressocialização. Porém, atualmente é quase impossível isto acontecer, devido ao tratamento que eles recebem nos presídios. A reincidência ao crime e o retorno à prisão é quase sempre, infelizmente, um fato. 
A dignidade da pessoa humana aparece no Texto Constitucional de 1988, art. 1º, inciso III, como fundamento da República Federativa do Brasil, configurando-se como um princípio norteador das políticas públicas. Tais políticas, portanto, devem ser elaboradas com observância no referido princípio, uma vez que é o homem na configuração constitucional atual o centro e o fim da atividade estatal.[2: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>]
A dignidade da pessoa humana, por ser qualidade intrínseca às pessoas, pertence a todos, independente, de raça, credo ou condição social, apresentando uma estreita ligação com o princípio da igualdade. Assim, todos são iguais e possuem a mesma dignidade, não se admitindo preconceitos e discriminações. 
 
Com fundamento na atividade estatal, a Constituição coloca a dignidade da pessoa humana, o que significa, mais uma vez, que o homem é o centro, sujeito, objeto, fundamento e fim de toda a atividade pública. O princípio democrático do poder exige que a pessoa humana, na inteireza da sua dignidade e cidadania, se volte toda a atividade estatal. Neste aspecto, na interpretação axiológica, que leva em conta os valores protegidos pela norma jurídica, pode-se dizer que o valor supremo da Constituição é o referente à dignidade da pessoa humana. (SLAIBI, 2006, p.128.) [3: SLAIBI FILHO, Nagib. Direito Constitucional. 2. ed. Rio de janeiro: Forense, 2006.]
Resta clara a preocupação em conferir proteção e respeito à dignidade da pessoa humana, o que, contudo, não garante na prática que esta seja observada, sendo necessário que se estabeleçam meios para sua proteção.
O fato da dignidade da pessoa humana estar reconhecida constitucionalmente como fundamento da República, certamente representa um progresso. No entanto, é preciso transformá-lo em valor essencial e fundamental também na mentalidade da sociedade, para que se alcance resultados concretos na vida das pessoas.
O princípio da dignidade humana deve ser compreendido de forma ampla, justamente para se garantir e assegurar a integridade desta, protegendo-a do próprio homem. Visa, especificamente, garantir o homem como o fim, o fundamento de todo o sistema jurídico, seja na esfera interna ou na internacional.
A entronização do princípio da dignidade da pessoa humana nos sistemas constitucionais positivos com o sentido que é incialmente concebido e com a amplitude que ganhou nos últimos anos (e que ultrapassa a individualidade, estendendo-se a espécie humana) é, pois, recente e tem como fundamentos a integridade, a intangibilidade e a inviolabilidade da pessoa humana pensada em sua dimensão superior, quer dizer, muito além da mera contingência física. A fonte imediata desta opção é a reação contra os inaceitáveis excessos da ideologia nazista, que cunhou o raciocínio de categorias diferenciadas de homens, com direitos e condições absolutamente distintas, e muitas delas destinando-se tão somente às trevas dos guetos, às sombras dos muros em madrugadas furtivas e o medo do fim indigno a fazer-se possível a qualquer momento. (ROCHA, 2004, p.35.) [4: ROCHA, Cármen Lúcia Antunes (Coord.). O Direito à Vida Digna. Belo Horizonte: Fórum, 2004]
Primeiramente, surgiu a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, dando início a um processo de criação de instrumentos normativos, aptos a conter e impedir que medidas atentatórias contra a humanidade fossem tomadas. Não seria mais concebível que, por motivos religiosos, pela discriminação ou simples intolerância com o diferente, se cometessem barbáries e atos de violência injustificados, fato referido no preâmbulo da Declaração:
Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
 Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum. [...] 
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram na Carta, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos de homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla. [...]. (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948, Preâmbulo) [5: Declaração Universal dos Direitos do Homem. Disponível em: http://www.dudh.org.br/wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf6 SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. A Dignidade da Pessoa Humana no Contexto da Pós-Modernidade: o direito no século XXI é tolerância, bom senso e cidadania. In: MIRANDA, JORGE; SILVA, MARCO ANTONIO MARQUES DA. Tratado Luso-Brasileiro da Dignidade da Pessoa Humana. São Paulo: Quartier Latin, 2009. 7 Convenção Americana De Direitos Humanos (1969)* (Pacto De San José Da Costa Rica).Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm>]Percebe-se, claramente, a intenção de reconhecimento e de proteção à dignidade da pessoa humana e, consequentemente, aos direitos humanos decorrentes desta. Verifica-se o grande valor conferido ao homem que possui dignidade e, portanto, “direitos humanos fundamentais”, que lhe devem ser assegurados e cumpridos pela sociedade como um todo.
Certamente deve-se observar que os direitos são mutáveis no decorrer do tempo, e isso não é diferente no que se refere aos direitos humanos, que estão continuamente em um processo de evolução. Contudo, os direitos humanos conservam alguns valores considerados como imutáveis e essenciais à proteção da dignidade da pessoa humana, como é o caso da preservação de uma vida digna e a própria liberdade do indivíduo. Com efeito,
O núcleo básico dos direitos humanos é algo absoluto. São direitos universais imutáveis e que surgem da própria natureza humana. 
As realidades, teorias e denominações dos direitos humanos surge da conjugação do jus naturalismo e culturalismo, tendo como fundamento nuclear a dignidade da pessoa humana. [...]
 A dignidade da pessoa humana é um valor supremo que agrega em si todos os direitos humanos e constitui seu principal fundamento. [...]. A pessoa possui um valor em si, que é absoluto, que constitui sua dignidade e se exterioriza pelos direitos humanos. (SIQUEIRA, 2009, p.258.) [6: ]
Destaque-se, ainda, a Convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, o conhecido Pacto de San Jose da Costa Rica, promulgado pelo Decreto n°. 678 de 1992, que reafirmou no seu preâmbulo o intento do continente americano, de promover a liberdade pessoal e a justiça social, respeitando os direitos humanos considerados essenciais. Garantiu, ainda, em seu art. 5°, o direito à integridade pessoal, assegurando a todas as pessoas o respeito a sua integridade física, moral e psíquica, bem como proibiu qualquer espécie de tratamento desumano e degradante, abolindo a tortura e as penas cruéis. Por fim, estabeleceu que todo aquele indivíduo privado da sua liberdade, deve ter um tratamento fundado no respeito, devido à dignidade que possui, e que é inerente a toda pessoa.[7: ]
O Pacto de San Jose da Costa Rica eleva a pessoa e a sua dignidade a uma posição central e de evidência. As normativas que o compõe, demonstra relevante preocupação com os seres humanos. 
Importante frisar, ainda, a importante alusão feita em relação às pessoas que se encontram privadas de sua liberdade, reafirmando o respeito que se deve ter por elas, pois o fato de estarem presas não interfere em nada na dignidade destas, pois esta é inerente ao humano. Isto afasta completamente a possibilidade da aplicação de penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Pois não é o fato destas terem perdido provisoriamente a sua liberdade ao cumprir pena, que as fazem objeto ou um ser sem dignidade. 
Ressalte-se, por fim, a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas e Degradantes, adotada em dezembro de 1984 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, e promulgado no Brasil pelo Decreto n°. 40, de 1991. Como as Convenções anteriores, essa traz também em seu preâmbulo, a concepção de que os direitos iguais e essenciais que pertencem a todos os seres humanos, derivam da dignidade da pessoa humana.[8: Decreto n°. 40, de 199, de 15 de fevereiro de 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0040.htm ]
Evidente que esse não tem a pretensão de esgotar todos os tratados existentes e ratificados pelo Brasil sobre a matéria, apenas almejou demonstrar a amplitude e a importância do tema pela comunidade internacional, que sempre está atenta e não medirá esforços para resguardar e proteger os direitos humanos.
No Brasil, essa preocupação refletiu-se também na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Execução Penal, o que se analisará adiante. [9: Lei de Execução Penal n°. 7210, de 07 de julho de 1984. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm]
Percebe-se nos tratados internacionais mencionados, grande preocupação com as pessoas que se encontram sobre a tutela estatal, com a sua liberdade cerceada. A finalidade é garantir-lhes o respeito à dignidade, pois como esta é qualidade intrínseca à pessoa humana, não deixa de incidir em relação ao autor de crime, precisando ser observada integralmente. Com certeza esta é uma grande meta a ser alcançada pelo Brasil, que tem um grande histórico de abusos frente à população carcerária.
Isso tudo é tão importante, em se tratando de discutir a dignidade humana em nosso sistema prisional, que tem sido observado pelo mundo todo, tanto que, a própria Itália negou a deportação de um preso para o Brasil recentemente, alegando a falta de condições mínimas nos presídios brasileiros. A Corte regional na qual o processo se iniciou, aceitou os argumentos da defesa do réu, sem oposição oportuna do governo brasileiro pelo Ministério da Justiça, segundo os quais o sistema prisional no Brasil viola as regras europeias protetoras dos direitos humanos.[10: Henrique Pizzolato fugiu do Brasil por causa de condenação, pelo STF, no chamado “mensalão”, à pena de 12 anos e 7 meses de prisão inicial em regime fechado, por autoria de crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro. Os delitos consumaram-se quando Pizzolato, ex-sindicalista filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), era diretor de marketing do Banco do Brasil. 11 MUAKAD, Irene Batista. Prisão Albergue. São Paulo: Atlas, 1998, p.24. ]
Este descaso também se repete em vários outros campos, como no da educação dos presos e nas práticas de incentivo à reintegração da vida em liberdade, como nas oficinas que ensinam novos ofícios, e nos trabalhos alternativos suficientes para todos. Na questão do apoio jurídico, a maioria não tem recurso financeiro e encontra, na esfera pública, a única esperança de ajuda, deparando-se com a falta de defensores públicos e despreocupação destes com seus casos. 
O ambiente maléfico das prisões também se evidencia pela incidência de perturbações psicológicas e pelas agressões sofridas, tanto físicas como morais, e que partem, principalmente, da própria classe pública que, uma vez corrompidos em um sistema de interesses, tratam os condenados como indivíduos inferiorizados, que devem respeitar a lei dos “mais fortes” nas penitenciárias e, então, estes são obrigados a se adaptarem, se quiserem sobreviver.
Assim, o conceito da dignidade do preso deveria ser, de fato, um elemento inalienável e irrenunciável, que reconhecesse, respeitasse e protegesse, pois, é inerente a todo e qualquer ser humano. Logo, o Estado tem a função de guiar os indivíduos para preservá-la e deve criar condições para seu pleno exercício.
“A prisão deve ter o mesmo objetivo que tem a educação da infância na escola e na família: preparar o indivíduo para o mundo, a fim de subsistir ou conviver tranquilamente com seus semelhantes”.(MUAKAD (1998, p. 24):[11: ]
“Temos uma legislação pertinente sobre o assunto, os ordenamentos jurídicos trazem uma realidade utópica sobre os estabelecimentos penais e as garantias aos apenados. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Lei de Execução Penal e a Constituição Federal do Brasil, trazem normas em que estabelecem os traços ideais das Penitenciárias, mas de um modo geral contradiz o que foi exposto por estes ordenamentos"
4. DIREITOS E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DAS PESSOAS ENCARCERADAS E DOS CIDADÃOS. 
	
4.1 Princípio da dignidade humana. 
Artl. 1° da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: 
“º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel (......). e tem como fundamentos:”
III. a dignidade da pessoa humana
Art. 5° da CRFB/88 “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”:
XLVIII. a pena será cumprida em estabelecimentosdistintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
 XLIX. é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
Quais são os direitos básicos dos presos?
a) Direito à alimentação e vestimenta fornecidos pelo Estado.
b) Direito a uma ala arejada e higiênica.
c) Direito à visita da família e amigos.
d) Direito de escrever e receber cartas.
e) Direito a ser chamado pelo nome, sem nenhuma discriminação.
f) Direito ao trabalho remunerado em, no mínimo, 3/4 do salário mínimo.
g) Direito à assistência médica.
h) Direito à assistência educacional: estudos de 1º grau e cursos técnicos.
i) Direito à assistência social: para propor atividades recreativas e de integração no presídio, fazendo ligação com a família e amigos do preso.
j) Direito à assistência religiosa: todo preso, se quiser, pode seguir a religião que preferir, e o presídio tem que ter local para cultos
l) Direito à assistência judiciária e contato com advogado: todo preso pode conversar em particular com seu advogado e se não puder contratar um o Estado tem o dever de lhe fornecer gratuitamente.
5. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA E DA PRISÃO
As penas de privação de liberdade, como as que temos atualmente, foram imensamente ignoradas durante a Antiguidade. As punições fundavam-se no suplício e a pena de prisão era cogitada apenas como modo de custódia, ou seja, a guarda dos prisioneiros até o momento do julgamento ou da execução.
Não obstante, ainda que a restrição de liberdade se dedicasse apenas à custódia dos cativos, são antiguíssimos os tempos em que se tem a prisão nos regimes processuais penais. Nesta linha de pensamento, ressalta Bitencourt (2011, p. 28 )[12: ,13 e 14 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e consequências. 4ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011. ps. 28, 29 e 31]
A Antiguidade desconheceu totalmente a privação de liberdade estritamente considerada como sanção penal. Embora seja inegável que o encarceramento de delinquentes existiu desde tempos imemoráveis, não tinha caráter de pena e repousava em outras razoes.
Os martírios corporais, a pena de morte e a escravidão eram as sanções estabelecidas pelo Estado e a pena de prisão era apenas um procedimento.
Bitencourt (2011, p.29) afirma, ainda, que nem a civilização helênica nem a romana tinham conhecimento da privação de liberdade como pena, uma vez que somente conheciam o aprisionamento como modo de custodiar os encarcerados.[13: ]
Ainda que a prisão tivesse caráter geral de custódia, o direito romano permutava entre a pena de morte e a prisão perpétua, assim como na Grécia, que havia a prisão por dívida, como forma de quitação dos devedores.
É o que certifica Bitencourt (2011, p.31), [14: ]
Grécia e Roma, pois expoentes do mundo antigo conheceram a prisão com a finalidade eminentemente de custódia, para impedir que o culpado pudesse subtrair-se ao castigo. Pode-se de dizer, com Garrido Guzman, que de modo algum podemos admitir nesse período da história sequer um germe da prisão como lugar de cumprimento de pena, já que o catálogo de sanções praticamente esgotava com a morte, penas corporais e infamantes. A finalidade da prisão restringia-se à custodia dos réus até a execução das condenações referidas.
Nesse contexto, a prisão do indivíduo não é concebida como caráter de sanção, mas sim, de tutela. 
No Império Romano, a custódia dos processados se fazia pelo acorrentamento ou pela segregação, podendo ocorrer em estabelecimentos do Estado ou em Casas Particulares. Tendo em vista assegurar o comparecimento do réu ao processo, hoje aplicado na Prisão em Flagrante.
 Na Grécia Antiga utilizava-se a prisão para encarcerar pessoas que não pagavam suas dívidas, como forma simplesmente de coação, aplicando um sistema de aprisionamento para que fossem quitadas suas dívidas, caso aplicado atualmente na ação de alimentos. Era, principalmente, para assegurar sua sanção final diante de um tribunal.
Na Idade Média, o uso da prisão era sistematizado, justamente com a finalidade de castigos religiosos, praticados pelos monges que se desviavam dos ensinamentos, que eram mandados a claustros para se penitenciarem, arrependerem-se de seus pecados. Originando-se o termo “Penitenciária”, derivado do latim penitentiadite, que significa, em português, penitenciai-vos. A palavra claustro, também chamada de celas, deu origem à expressão “prisão celular”.
Na Idade Média inicia-se uma mudança quanto à função da prisão, mas ainda como caráter de custódia, em virtude das leis penais medievais, com o objetivo principal de amedrontar a sociedade e não ressocializar indivíduo, conforme retrata Foucault (2010, p.09), ao descrever a condenação de um homem pelo crime de parricídio, [15: 15 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 38ªed. Petrópolis,RiodeJaneiro:Vozes, 2010]
(...) a pedir perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris [onde devia ser] levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acessa de duas líbras; [em seguida], na dita carroça, na Praça de Greve, e sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e ás partes em que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, pinche em fogo, cera e enxofre derretido, óleo fervente, pinche em fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.
Percebe-se, ainda, que o suplício tem virtude de característica geral da pena na Idade Média, haja vista ser considerada a pena de prisão como mero trâmite processual, pois o preso permanecia sob guarda do Estado, aguardando seu martírio.
Nessa mesma época surgem as prisões eclesiásticas e as de Estado. Nestas últimas ficavam os presos políticos, inimigos do poder real, os que praticavam crimes de traição, em que consistia a prisão de custódia para aguardarem suas execuções, a detenção perpétua ou temporal, ou quiçá o perdão da realeza. Sob outro prisma, a prisão eclesiástica era destinada aos membros do clero, que eram apenados com a penitência e a meditação.
A prisão canônica influenciou a prisão moderna, uma vez que era mais humanizada, apesar de Bitencourt (2011, p. 33) afirmar que é impossível equipará-la fielmente à prisão moderna, mas trouxe consigo a concepção tímida da ideologia que fundamenta a pena privativa de liberdade, com a ausência do cunho custodial, estimulando a prisão moderna, buscando a habilitação e o ajustamento do preso e o ideal de beneficência, de salvação e de fraternidade.[16: BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e consequências. 4ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011. p. 3317 idem.p.37]
Não obstante a contribuição do direito eclesiástico, Bitencourt (2011, p. 37) assevera que:[17: ]
Não se deve exagerar na comparação entre o sentido e o regime da prisão canônica e a prisão moderna, já que não são equiparáveis. Trata-se de um antecedente importante da prisão moderna, mas não se deve ignorar suas fundamentais diferenças.
Por sua vez, na Idade Moderna verificam-se as influências da prisão eclesiástica para a concepção atual. Em meados do século XVI, iniciou o movimento que mudaria o contexto da pena de privação de liberdade, juntamente às criações de novas cadeias, na forma dos moldes modernos.
As penas desumanas e os suplícios foram muito utilizados até a metade do século XVI. Todavia, diante do contexto social e econômico, a criação de novas instituições para restrição de liberdade, preocupava em maior escala o Estado, que já se interessava pela reforma do delinquente através de trabalho e ensino.
A pena de prisão aos poucos é inserida como forma de sanção, no entanto, somente para crimes leves, tais como vadiageme ociosidade.
Nessa perspectiva, Bitencourt (2011, p. 39) ressalta:[18: BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da pena de prisão: causas e consequências. 4ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2011. p. 39]
A suposta finalidade da instituição, dirigida a mão de ferro, consistia na reforma dos delinquentes por meio de trabalho e disciplina. O sistema orientava-se pela convicção, como todas as ideias que inspiravam o penitenciarismo clássico, de que o trabalho e a férrea disciplina são meio indiscutível para a reforma do recluso. Ademais, a instituição tinha objetivos relacionados com a prevenção geral, já que pretendia desestimular outros para vadiagem e a ociosidade. Outra de suas finalidades era conseguir que o preso, com as suas atividades, ‘pudesse autofinanciar-se e alcançar alguma vantagem econômica’.
Não se desconsidera, assim, o extermínio completo das penas corporais, tendo em vista que os crimes mais graves ainda eram punidos com penalidades físicas e penas capitais.
Os códigos penais ainda acreditavam na pena corporal como forma de reabilitação, entretanto, ao contrário da Idade Antiga e da Idade Média, aliava-se a esta penalidade o trabalho e a educação.
Foucault (2010) explana que “O poder sobre o corpo, por outro lado, tampouco deixou de existir totalmente suplício como técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito”.[19: FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 38ªed. Petrópolis,RiodeJaneiro:Vozes, 2010]
Nesse sentido, a sanção deixa ter como objeto o corpo e o sofrimento, se transferindo para a perda de um direito de liberdade. Sendo assim, inicia-se a transformação do objetivo da pena, absorvendo novas concepções, mais humanizadas em conformidade com a conjuntura social, que é abordado por Dario Melossi e Massino Pavarini (1985)[20: MELOSSI, Dario, PAVARINI, Massimo. Cárcere e Fábrica– As origens do sistema penitenciário (séculosXVI-XIX).Rio de Janeiro: Editora Renavan.]
É na Holanda, na primeira metade do século XVII, onde a nova instituição da casa de trabalho chega, no período das origens do capitalismo, à sua forma de segregação punitiva, respondendo mais a uma exigência relacionada ao desenvolvimento geral da sociedade capitalista, do que à genialidade individual de algum reformador.
Com a nova conjuntura socioeconômica, nasce a nova concepção de prisão como a prisão pena, abandonando o antigo aspecto cautelar e, neste contexto, destacam-se os reformistas Cesare Beccaria, John Howarde Jeremy Bentham, levando em conta as novas concepções idealistas e o início do capitalismo.[21: John Howard, em seu livro The State of Prision in England, relatou a situação das prisões européias, propondo um tratamento mais digno aos presos (direito ao trabalho, a uma alimentação sadia, assistência religiosa...). John Howard considerado por muitos como o pai da Ciência Penitenciária.][22: Jeremias Bentham, postulou que o castigo era um mal necessário para se prevenir maiores danos à sociedade, embora admitisse o seu fim correcional.Sua obra mais significativa foi a Teoria das Penas e das Recompensas.A sua maior contribuição foi o panóptico, em que descrevia a arquitetura e os problemas de uma penitenciária.]
De início, Beccaria se sobressai abordando aspectos penológicos, sob um parâmetro coeso e consistente, que garantiu o triunfo para a teoria dele, abolindo o sistema criminal desumano e ineficiente, abordando o contrato social legitimando na imposição da pena pelo homem, o qual, sacrificando uma parte de sua liberdade, seria agraciado do resto com mais segurança.
Por conseguinte, só a necessidade constrange os homens a ceder uma parte de sua liberdade; daí resulta que cada um só consente em pôr no depósito comum a menor porção possível dela, isto é, precisamente o que era preciso para empenhar os outros em mantê-lo na posse do resto. O conjunto de todas essas pequenas porções de liberdade é o fundamento do direito de punir. Todo exercício do poder que se afastar dessa base é abuso e não justiça; é um poder de fato e não de direito; é uma usurpação e não mais um poder legítimo. (BECCARIA (1986, p.10)[23: BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Tradução de Torrieri Guimarães. São Paulo: Editora Martin Claret, 2006.]
Em função da visão utilitarista da pena, Beccaria explana a concepção de que o fim da pena é prevenir que o réu ocasione dano a outro, e afastar eventual cometimento de delitos, sendo que a intenção seria uma pena que permanecesse mais sobre o sentimento, que fosse ativa, ao invés de ser dolorosa.
Embora Beccaria não tenha se aprofundado na pena de prisão, sugeriu que a finalidade fosse reformadora, não obstante o caráter punitivo e sancionador permanecesse intrínseco, contribuindo de forma humanística e racional.
“O que pretendeu Beccaria não foi certamente fazer obra de ciência, mas de humanidade e justiça, e, assim, ela resultou num gesto eloquente de revolta contra a iniquidade, que teve, na época, o poder de sedução suficiente para conquistar a consciência universal. (...) falou claro diante dos poderosos, em um tempo de absolutismo, de soberania de origem divina, de confusão das normas penais com religião, moral, superstições, ousando construir um Direito Penal sobre bases humanas, traçar fronteiras à autoridade do príncipe e limitar a pena à necessidade da segurança social. Defendeu, assim, o homem contra a tirania, e com isso encerrou um período de nefanda (perversa) memória na história do Direito Penal”. Aníbal Bruno[24: BRUNO, Anibal. Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense. 1967.]
John Howard, em sua teoria, progrediu com a humanização da pena e perseverou na necessidade de criar instituições prisionais, que fossem ajustadas ao cumprimento efetivo da pena privativa de liberdade, salientando a higiene nestes estabelecimentos, assim como a regular alimentação e a assistência médica. 
Afirmou, ainda, a necessidade do isolamento dos prisioneiros, proporcionando a reflexão e o arrependimento no cárcere, considerando os fundamentos religiosos das prisões eclesiásticas, buscando, com isto, a reabilitação do preso.
Foucault (2010, p. 222), em concordância com o autor acima, declara que: [25: FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 38ªed. Petrópolis,RiodeJaneiro:Vozes, 2010 ]
O isolamento do condenado em relação ao mundo exterior, a tudo o que motivou a infração, às cumplicidades que a facilitaram. Isolamento dos detentos uns em relação aos outros. Não somente a pena deve ser individual, mas também individualizante.
Howard inseriu a importância da gestão do sistema carcerário, através da fiscalização por meio dos poderes dos magistrados, ou mesmo dos carcereiros; além da ética e do controle social nas unidades prisionais, diferente do conceito tradicional trazido sobre o sistema carcerário, que acreditava na pena ligada imediatamente à dor, ao sofrimento.
Destacou o castigo corporal como um vício do sistema e concordava com seu uso, como forma de cautela a delitos extravagantes. Aderira à concepção de que a pena não poderia ser uma vingança do Estado, mas, sim, uma prevenção ao crime.
Por fim, Bentham preocupou-se com as condições da prisão, destacando que eram propícias à reincidência, considerando que estruturas impróprias e o estado ocioso do preso, conforme considera Foucault (2010, p. 67), [26: FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 38ªed. Petrópolis,RiodeJaneiro:Vozes, 2010]
“Deve ser feito com tanta frequência quanto possível um trabalho sobre a alma do detento. A prisão, aparelho administrativo, será ao mesmo tempo uma máquina para modificar os espíritos”.
NA Teoria das Penas e das Recompensas, publicado em 1818, de Jeremy Bentham, o filósofo e criminalista inglês idealizou um modelo “panótipo” de prisão, na qual fez a separação e classificação dos criminosos de acordo com o tipo de delito. O modelo panótipo consiste em blocos ou pavilhõescarcerários distribuídos em forma circular, com uma torre de controle no centro, de modo a possibilitar a visão de tudo ao redor. Muitas prisões americanas e brasileiras possuem sua arquitetura construída nesse modelo, como por exemplo o Presídio Estadual Metropolitano, o Centro de Recuperação Americano II (no Pará) e a Casa de Custódia de Curitiba; [27: Panótico : pan-óptico significa “que permite uma visão total”.Foi idealizado por Jeremy Benthan (1748-1832), filósofo e jurista inglês, e veio como uma resposta ao problema do encarceramento, apresentando-se como um modelo racional para a prisão.O encarcerado ficava à luz, trancafiado, todavia, sob a vigilância segura de um guarda que poderá observá-lo todo o tempo. Este sistema pretendia ser usado não apenas no cárcere , também nas disciplinas da escola , em fábricas, manicômios e hospitais, possibilitando ao aprisionado o contato com a luz, vinda da torre de vigia, que em um só golpe de vista poderia alcançar vários presos, em celas isoladas. ]
Assim estavam lançadas as ideias para a instalação de um estabelecimento próprio, no qual os presos pudessem cumprir suas penas, sem perder sua condição humana. Mas, as prisões não deveriam se afastar de sua finalidade preventiva, que era fazer com que o preso se arrependesse dos seus atos criminosos.
No Brasil, a prisão como cárcere era aplicada apenas aos acusados que estavam à espera de julgamento. Esta situação perdurou durante as Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, que tinham por base um direito penal baseado na brutalidade das sanções corporais e na violação dos direitos do acusado. 
Essa situação perdurou até a introdução do Código Criminal do Império, em 1830. Este estatuto já trazia consigo ideias de justiça e equidade, influenciado pelas ideias liberais que inspiraram as leis penais europeias e dos Estados Unidos, objeto das novas correntes de pensamento e das novas escolas penais. 
As leis penais sofreram sensíveis mudanças no final do século XIX, em razão da Abolição da Escravatura e da Proclamação da República. O Código Penal da República, de 1890, já previa diversas modalidades de prisões, tais como : a celular, a de reclusão, a com trabalho forçado e a disciplinar, sendo que cada modalidade era cumprida em estabelecimento penal específico. 
No início do século XX, as prisões brasileiras já apresentavam precariedade de condições, superlotação e o problema da não separação entre presos condenados e aqueles que eram mantidos sob custódia durante a instrução criminal. 
Em 1940 é publicado, através de Decreto-lei, o atual Código Penal, que trazia várias inovações e tinha por princípio a moderação por parte do poder punitivo do Estado. No entanto, a situação prisional já era tratada com descaso pelo Poder Público e evidenciava-se, naquela época, o problema das superlotações das prisões, da promiscuidade entre os detentos, do desrespeito aos princípios de relacionamento humano e da falta de aconselhamento e orientação do preso, visando sua regeneração. [28: Decreto-lei 2848, de 07 de dezembro de 1940.Disponível Em : http://www.Planalto.Gov.Br/Ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.\htm]
6. VIOLAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO COTIDIANO DOS APENADOS
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso XLIX, assegura ao preso o respeito à integridade física e moral. A Carta consigna, ainda, que ‘ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III).[29: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm]
A Lei de Execução Penal 7210/1984 assegura, em seu capítulo II, assistência ao preso, determinando que o recluso tenha direito à alimentação, vestuário, instalações higiênicas, além de atendimentos de saúde, médico, odontológico e farmacêutico, assistência jurídica, educacional, social e religiosa, além de acompanhamento ao egresso e assistência à família.[30: Lei de Execução Penal n°. 7210, de 07 de julho de 1984. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm ]
No entanto, o que se tem visto são constantes ofensas a tais preceitos, sendo tais agravos, segundo Carvalho Filho, a principal causa das rebeliões nos estabelecimentos prisionais.[31: CARVALHO FILHO, Luiz Francisco.A prisão. São Paulo:Publifolha,2002. ]
Nas prisões brasileiras a realidade é realmente bem diferente do normatizado. Os cativos sofrem constantes agressões, tanto físicas quanto morais, por parte dos companheiros de cela e dos agentes do Estado, estes últimos impondo uma espécie de regulamento carcerário, que não está consignado na legislação, e funciona como uma sanção retributiva ao mau comportamento do preso. 
O cenário de rebeliões, fugas e o crescente aumento da criminalidade e da violência dos presos, são em parte resultados da situação degradante em que se encontra o sistema penitenciário brasileiro, que viola os direitos fundamentais da pessoa humana e à submete a condições precárias de vida em cárcere.
Várias são as convenções, ONGs (Organizações não Governamentais) e estatutos que reivindicam os direitos dos detentos, enxergando-os como sujeitos capazes de pagar suas dívidas com a sociedade. Portanto, o que se espera do Estado, ao tutelar a liberdade destes detentos, é fornecer todos os subsídios e as devidas condições para que eles sejam reeducados e ressocializados.
Entretanto, a realidade é outra, como expõe Hungria (apud MUAKAD, 1998, p. 21):[32: MUAKAD, Irene Batista. Prisão Albergue. São Paulo: Atlas, 1998, p. 21.]
“Os estabelecimentos da atualidade não passam de monumentos de estupidez. Para reajustar homens à vida social, invertem os processos lógicos de socialização; impõem silêncio ao único animal que fala; obrigam a regras que eliminam qualquer esforço de reconstrução moral para a vida livre do amanhã, induzem a um pacifismo hipócrita pelo medo do castigo disciplinar, ao invés de remodelar caracteres ao influxo de nobres e elevados motivos; aviltam e desfibram, ao invés de incutirem o espírito de hombridade, o sentimento de amor-próprio; pretendem, paradoxalmente, preparar para a liberdade mediante um sistema de cativeiro.” 
Vê-se atualmente nesse sistema, uma verdadeira escola superior do crime, que submete os presidiários a situações que ferem a dignidade humana, e que os revoltam ainda mais com suas realidades. A superpopulação carcerária acarreta a mistura de indivíduos de tipos e temperamentos diversos, recolhidos em um mesmo ambiente no qual a promiscuidade, bem como outras ocorrências, levará não à recuperação moral, ética e social, mas sim à reincidência no crime.
A Declaração de Direitos Humanos prevê as garantias fundamentais da pessoa humana. Em seu Preâmbulo, traz os princípios de igualdade entre todos os homens, além de liberdade, paz e justiça. O Art. 3º da presente Carta, afirma que todos têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal, mas, no entanto, em contradição com este normativo, temos outra realidade, em que a segurança pessoal não é garantida. Nos estabelecimentos penais há superlotação, que, na maioria das vezes, faz com que essa segurança não seja assegurada. As frequentes brigas e mortes dentro destes locais são provas marcantes desta desordem. [33: ONU - Organização das Nações Unidas.Declaração Universal dos Direitos do Homem. Disponível em: http://www.dudh.org.br/wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf. Acesso em: 20 de outubro de 2015.]
O Brasil é um dos países que mais ratifica Tratados de Direitos Humanos, sendo, por isto, visto como um país com características humanitárias e preocupado com a proteção aos direitos fundamentais.
Porém, as graves violações aos direitos humanos ocorridas nos presídios brasileiros, contradiz a teórica preocupação ratificada pelos governantes nestes tratados, e têm chamado a atenção da comunidade internacional. As regras internacionais vêm sendo flagrantemente desrespeitadas, revelando total descaso das autoridades públicas, dos magistrados e, em partestambém da sociedade, em querer discutir estratégias de mudanças deste cenário.
Ressalte-se que tais violações afrontam gravemente a Constituição Federal, na medida em que a Carta Maior assegura, em seu artigo 4º, II, que o Brasil reger-se-á, em suas relações internacionais, pela prevalência dos direitos humanos, sendo a proteção a tais direitos, verdadeiro imperativo constitucional.[34: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm]
7. A LEI DE EXECUÇÃO PENAL NO BRASIL
A Lei de Execuções Penais nº 7.210 (LEP) foi criada em 1984, e promoveu um avanço na legislação, pois assegurava direitos do preso, sendo um deles a ressocialização. A referida lei versa em seu artigo 1º: “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado” Segundo, MIRABETE:[35: MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2000. ]
“A justiça penal não termina com o trânsito em julgado da sentença condenatória, mas realiza-se principalmente na execução. Portanto, fica evidente, que a Lei de Execuções Penais veio justamente para prover uma lacuna e para assegurar aos condenados os seus direitos não alcançados pela sentença”
É evidente que há uma preocupação do legislador com a necessidade de ressocialização do preso. Um dos meios para alcançar esse objetivo é a progressão de regime.
Conforme Art. 1° da Lei de Execução Penal: "A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado." É clara a intenção de reintegrar socialmente o apenado.
Conforme Art. 11 da LEP, 
São garantidos aos presos os seguintes tipos de assistência: “material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa”. Sendo assim, pode-se averiguar que a reabilitação social é de fato uma finalidade do sistema de execução penal e que o Estado deve obrigatoriamente oferecer tais serviços dentro das penitenciárias.
Além da Constituição Federal prever a educação como um direito de todos no Art. 205, o Art. 17 da LEP dispõe: “assegura que a assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso e do internado”.
Júlio Fabbrini MIRABETE diz: [36: MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2000. ]
“A habilitação profissional é uma das exigências das funções da pena, pois facilita a reinserção do condenado no convívio familiar e social a fim de que ela não volte a delinquir”.
A habilitação profissional do detento promove sua reintegração no mercado de trabalho, pois deste modo ele pode aprender um ofício, que poderá dar continuidade quando sua pena chegar ao fim.
Tal lei, além de ter a finalidade de restaurar o preso através trabalho, também tem a importante função de preencher suas horas de ociosidade com estudo e atividades variadas.
Nota-se, então, que a Lei de Execução Penal trouxe muitas garantias ao apenado, segundo os princípios da Constituição Federal. Mas, a realidade nos presídios brasileiros é outra. É possível observar que a aplicação da lei 7.210/84 é bastante precária. As condições do sistema penitenciário brasileiro e de sua infraestrutura são visivelmente problemáticas, com uma notória falta de humanidade e desrespeito aos princípios da CF/88 e da Lei 7.210/84.
São direitos do preso conforme Art.41º da Lei de Execução Penal:
I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - previdência social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação;
Vl - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
Vll - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
Vlll - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
Xl - chamamento nominal;
Xll - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena;
Xlll - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
Parágrafo único – “Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento”.
A Lei de Execução Penal também dispõe em seus capítulos II e III, do Título II, do trabalho como forma de ocupação e os tipos de assistências ao condenado.
A pena de prisão no Brasil acabou tendendo mais para o lado da desumanização do apenado, não tirando proveito dos possíveis benefícios que lhe poderiam proporcionar o avanço dos estudos penais.
O sistema penitenciário brasileiro prepara o preso para permanecer no presídio, não para seguir a vida fora dele. Para promover o futuro retorno do preso à sociedade com sucesso, é preciso que o auxiliem. 
8. PROBLEMAS ENCONTRADOS NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
8.1. A Superlotação dos Presídios 
O sistema carcerário no Brasil é conhecido, especialmente, por suas deficiências, como por exemplo, a insalubridade e a superlotação das celas, fatores que auxiliam na proliferação de epidemias e no contágio de doenças. Este sistema necessita, urgentemente, mudanças radicais, pois as penitenciárias se transformaram em verdadeiras “fábricas de terror”, que o judiciário brasileiro criou no passado, a partir de uma legislação que não pode mais ser vista como modelo. 
Faz-se necessárias políticas públicas, que tracem medidas que modernizem a arquitetura penitenciária, como a construção de novas cadeias em todo país; melhorias de assistência médica, psicológica e social; projetos visando a recuperação e a ressocialização do preso, visando reintegrá-lo à sociedade, para que ocupem corpo e mente durante o período de encarceramento; separação entre presos primários e reincidentes, entre outras medidas, que certamente podem reduzir ou equilibrar os atuais e crescentes números dos presos a cada ano. 
A superlotação nos presídios é o maior problema do sistema penal brasileiro. O número médio de presos por cela apenas tem aumentado, não alcançando nenhum resultado positivo, mesmo após variados esforços para resolver a questão.
Essa situação torna evidente o decaimento do sistema penitenciário pois, na teoria, o condenado deveria ser alojado em cela individual, conforme art. 88 da Lei de Execução Penal:[37: Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>]
Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório.
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
Não é possível que uma ressocialização efetiva aconteça utilizando-se celas superlotadas, pois a realidade vivida pelos presos lá dentro acaba por incentiva-los a se rebelar.
Segundo NUNEs:[38: NUNES, Adeildo, Da Execução Penal, 1ª Ed. – Rio De Janeiro: Forense 2009, p. 230]
“O Brasil sempre dispôs de metade de vagas em relação em ao contingente prisional”. Uma possível solução para este problema é a criação de novas unidades prisionais para atender a grande demanda da população carcerária. Vale ressaltar que só a edificação de novos presídios por si só não vai resolver toda a crise do problema carcerário, mas isso já minimizaria a questão da superlotação.
8.2 Falta de Assistênciamédica, higiene e trabalho
O “cenário desumano pode e foi constatado em uma visita in loco. Nas celas que deveriam receber até oito, são colocados trinta, quarenta, cinquenta, ou até mais presos. As condições degradantes por falta de espaço, levam a problemas maiores, como a falta de higiene que, consequentemente, ocasionará proliferação de todos os tipos de doenças e fácil contágio dentro das instalações. 
Conforme Art. 12. da Lei de Execução Penal: [39: Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>]
"A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas”.
Conforme Art. 14 da mesma Lei: 		[40: Idem.]
"A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo, compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico."
Porém, a grande maioria dos presos sofrem com terríveis condições de higiene, e completa ausência de serviços médicos, como o tratamento e suporte a deficientes.
O artigo 41, inciso II da LEP dispõe: [41: Idem.]
“Constituem direitos do preso[...]II - atribuição de trabalho e sua remuneração”.
O trabalho é um dever do condenado, conforme artigo 39 da mesma Lei: [42: Idem.]
“Constituem deveres do condenado[...]; V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas”
O trabalho prisional proporciona ao preso o direito da remissão da pena. 
Conforme Art. 126 § 1° da LEP, [43: Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>]
a cada três dias trabalhado é relevado um dia da pena. Sendo, assim, um incentivo para reduzir o cumprimento da pena e alcançar a liberdade de forma mais rápida.
Conforme o Art.126 da Lei de Execução Penal:[44: Idem.]
O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
§ 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho.
A falta de trabalho no ambiente prisional acaba gerando ociosidade entre os presidiários, que por sua vez pode levar a outros problemas, como consumo de drogas, rebeliões e violência, inclusive entre eles ou contra funcionários.
8.3 Reincidência penal
No Brasil, há um elevado índice de reincidência dos criminosos originários do sistema penitenciário. Embora não exista um número oficial, prevê-se que a maioria dos presos voltam a praticar crimes quando regressam à sociedade, e logo acabam voltando à prisão, dando continuidade a um ciclo vicioso sem fim.
O alto índice de reincidência é uma consequência direta da má administração dos presídios, das péssimas condições às quais o condenado foi submetido durante o cumprimento de sua pena, aliado aos abusos de quem assiste a população prisional e à falta de critérios justos da assistência jurídica. Tanto que, após a saída, a situação apenas piora, pois o ex detento tem de lidar, também, com a grande dificuldade em arranjar um emprego, acabando marginalizado no meio social e, eventualmente, efetivar seu retorno ao mundo do crime. 
Para Bitencourt, o índice de reincidência é um indicador insuficiente, visto que a recaída do delinquente produz, se não só pelo fator de a prisão ter fracassado, mas por contar com a contribuição de outros fatores pessoais e sociais. Assim dispôs o autor:[45: BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva,op. cit. p. 170.]
“Seria um erro considerar que as altas taxas de reincidências demonstram o fracasso total do sistema penal e proclamar a abolição da prisão, como propõem alguns setores, que pretendem assumir uma posição progressista. Indiscutivelmente, a natureza do tratamento penal tem papel importante na persistência dos níveis de reincidência, mas não é o único e nem sempre é o fator mais importante. A responsabilidade deve ser atribuída ao sistema penal como um todo, assim como às situações e condições sociais injustas que se agravam sob o império de regimes antidemocratas”.
9. DIFICULDADES DE RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO
Percebe-se claramente que o sistema penitenciário é falho. O condenado deveria ser restaurado, mas o que ocorre, na realidade, é exatamente o oposto, a ressocialização é, na maioria das vezes, impossibilitada pela precariedade das condições nas penitenciárias.
O presidiário, após cumprir sua pena e retornar a sociedade, enfrenta sérios problemas, pois precisa retomar a vida, porém sem nenhuma ajuda do Estado, que poderia ter preparado este indivíduo para a reintegração, com cursos técnicos e uma nova profissão. Mas, sem esse preparo e com o agravante do preconceito da sociedade, pelo seu estigma de ex-presidiário, dificilmente consegue se reinserir num ambiente de trabalho.
As empresas têm receio que o apenado volte a cometer crimes, sendo uma pessoa instável. Há, também, o preconceito por parte dos colegas de trabalho e da sociedade como um todo.
Para os juristas NERY e JÚNIOR:[46: JUNIOR, Nelson Nery; NERY, Rosa Maria de Andrade. Constituição Federal Comentada e Legislação Constitucional. São Paulo, 2006.]
“Tanto quanto possível, incumbe ao Estado adotar medidas preparatórias ao retorno do condenado ao convívio social. Os valores humanos fulminam os enfoques segregacionistas. A ordem jurídica em vigor consagra o direito do preso ser transferido para local em que possua raízes, visando a indispensável assistência pelos familiares”.
O nosso sistema almeja, com a pena privativa de liberdade, proteger a sociedade e cuidar para que o condenado seja preparado para a reinserção, mas o que observamos é uma situação bem diferente, como ressalta MIRABETE:[47: MIRABETE, Julio F. Execução Penal: Comentário à Lei n. 7210. 11. Ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 24.]
A ressocialização não pode ser conseguida numa instituição como a prisão. Os centros de execução penal, as penitenciárias, tendem a converter-se num microcosmo no qual se reproduzem e se agravam as grandes contradições que existem no sistema social exterior (...). A pena privativa de liberdade não ressocializa, ao contrário, estigmatiza o recluso, impedindo sua plena reincorporação ao meio social. A prisão não cumpre a sua função ressocializadora. Serve como instrumento para a manutenção da estrutura social de dominação.
Importante citar as palavras de Rogério GRECO:[48: GRECO, Rogério. Direitos humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo: Saraiva, 2011, p.320. ]
Nunca devemos esquecer que os presos ainda são seres humanos e, nos países em que não é possível a aplicação das penas de morte e perpétua, em pouco ou em muito tempo, estarão de volta à sociedade. Assim, podemos contribuir para que voltem melhores ou piores. É nosso dever, portanto, minimizar o estigma carcerário, valorizando o ser humano que, embora tenha errado, continua a pertencer ao corpo social.
BITENCOURT dispõe que a pena privativa de liberdade não é uma forma ideal de conter o crime:[49: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 125. ]
A prisão exerce, não se pode negar, forte influência no fracasso do “tratamento” do recluso. É impossível pretender recuperar alguém para a vida em liberdade em condições de não liberdade. Com efeito, os resultados obtidos com a aplicação da pena privativa de liberdade são, sob todos os aspectos, desalentadores.
É possível afirmar que não é só o Estado que não cumpre suas responsabilidades, no que diz respeito à assistência na reinserção do condenado na esfera social, a população não acredita no restabelecimento do preso. Seria diferente se as condições oferecidas e os direitos constitucionais, de fato, fossem seguidos, então,provavelmente, esta descrença não fosse tão generalizada. Não é coincidência que o número de reincidência criminal seja exorbitante em nosso país. a sociedade também não está preparada para receber o egresso.
Neste ponto Rogério GRECO aduz que:[50: GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio: Uma visão minimalista do Direito Penal. 6ª ed. Niterói: Impetus, 2011. p. 72.]
Indivíduos que foram condenados ao cumprimento de uma pena privativa de liberdade são afetados, diariamente, em sua dignidade, enfrentando problemas como os da superlotação carcerária, espancamentos, ausência de programas de reabilitação, etc. A ressocialização do egresso é uma tarefa quase que impossível, pois que não existem programas governamentais para sua reinserção social, além do fato de a sociedade não perdoar aquele que já foi condenado por ter praticado uma infração penal
No mesmo sentido, continua GRECO:[51: Idem. ]
Parece-nos que a sociedade não concorda, pelo menos à primeira vista, com a ressocialização do condenado. O estigma da condenação, carregado pelo egresso, o impede de retornar ao normal convívio em sociedade.
(...)
Como o Estado quer levar a efeito o programa de ressocialização do condenado se não cumpre as funções sociais que lhe são atribuídas pela Constituição Federal, de que adianta ensinar um ofício ao condenado durante o cumprimento de sua pena se, ao ser colocado em liberdade, não conseguirá emprego e, que é pior, muitas vezes voltará ao mesmo ambiente lhe proporcionou o ingresso na “vida do crime”? O Estado não educa, não fornece habitação para a população, não se preocupa com a saúde de sua população; enfim, é negligente em todos os apectos fundamentais para que se preserve a dignidade da pessoa humana.
Observa-se que durante muito tempo acreditava-se que a pena privativa de liberdade poderia recuperar o preso. Entretanto, atualmente verifica-se a dificuldade em ressocializar o delinquente através dela. 
Segundo Cezar Roberto BITENCOURT:[52: BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 139.]
Um dos grandes obstáculos à ideia ressocializadora é a dificuldade de colocá-la efetivamente em prática. Parte-se da suposição de que, por meio do tratamento penitenciário – entendido como conjunto de atividades dirigidas à reeducação e reinserção social dos apenados -, o terno se converterá em uma pessoa respeitadora da lei penal. E, mais, por causa do tratamento, surgirão nele atitudes de respeito a si próprio e de responsabilidade individual e social em relação à sua família, ao próximo e à sociedade. Na verdade, a afirmação referida não passa de uma carta de intenções, 
Pois, não se pode pretender, em hipótese alguma, reeducar ou ressocializar uma pessoa para a liberdade em condições de não liberdade, constituindo isso verdadeiro paradoxo.
É evidente que não se pode tomar uma decisão exagerada para contornar o problema, como a de acabar com a pena privativa de liberdade. Contudo, deveriam ser elaborados métodos alternativos de cumprimento de pena que, de alguma forma, efetivassem a ressocialização do condenado, que nosso país tão desesperadamente necessita.
O autor Rogério GRECO; defende um Direito Penal Mínimo, que tem a finalidade de proteção tão somente dos bens necessários e vitais ao convívio em sociedade. Neste sentido ele afirma:[53: GRECO, Rogério. Direitos humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 179]
A hora é de mudanças, de coragem para adoção de um sistema diferente, garantista, que procure preocupar-se com o princípio da dignidade da pessoa humana, que consiga enxergar em outros ramos do ordenamento jurídico força suficiente para a resolução dos conflitos sociais de somenos importância.
10. DO DIREITO PENAL
 O Direito Criminal, que busca punir àqueles que agem ou agiram contra os valores que este mesmo direito visa proteger, tais como a vida, a propriedade ou a liberdade, acaba por se tornar um meio que legitima, pela prática, a tortura e o castigo, tornando os que a eles são submetidos, pessoas mais revoltadas.
Não se pode esquecer que um transgressor é, antes de tudo, um ser humano detentor de direitos que precisam ser preservados.
Ninguém nasce propenso ao crime. Portanto, é preciso observar que os indivíduos que atualmente se encontram na situação de presidiários tiveram, em algum momento, seus direitos fundamentais violados, e na maioria das vezes tal situação trouxe algum tipo de revolta.
 As penitenciárias devem servir como meios de reabilitação e de ressocialização, para que os detentos percebam que podem alcançar sua função social, e não se tornarem pessoas mais frustradas e conformadas com o estereótipo de mazela da civilização. 
Partilhamos do ideal de que é preciso que o governo seja consciente que é, em parte responsável pelo alto índice de criminalização no Brasil, principalmente pela não valorização da educação fundamental e ensino médio porque, agindo nas raízes desse mal, estaria garantindo os fatores essenciais para a formação de um cidadão.
 Apenas tirar a liberdade daqueles considerados uma ameaça à ordem pública não é suficiente. É preciso estar atento aos princípios humanos; de forma legal executar a pena, respeitando os direitos básicos de qualquer indivíduo, seja ele penitenciário ou não.
 As mazelas das prisões brasileiras amplamente divulgadas na mídia, com dados estatísticos estarrecedores, são verdadeiras gaiolas abarrotadas de seres humanos, tratados de maneira pior do que animais. Aliás, os animais estão tendo maior atenção por parte do Estado, dada a edição reiterada de leis de proteção da fauna. 
 Até mesmo o atual Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em entrevista recente, classificou como "medieval" o sistema penal brasileiro, e que preferia morrer a cumprir pena nele por um longo tempo. O Ministro disse, também, que o atual sistema mistura presos de alta periculosidade com pessoas que não deveriam estar sequer presas, o que impossibilita a recuperação dos detentos. Para ele, a “cultura do aprisionamento” gera superlotação e formação de organizações criminosas.[54: Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,sistema-prisional-brasileiro-e-medieval-afirma-cardozo,1536362>]
 Assim, surge a temática proposta, da dignidade da pessoa humana, princípio constitucional e fundamento da República que, portanto, norteia toda a Constituição, a legislação infraconstitucional, o comportamento da sociedade e a conduta do Estado.
	Passados vinte e sete anos da promulgação da Constituição Federal de 1988, o princípio da dignidade da pessoa humana continua a ser desrespeitado, havendo contradição entre o texto constitucional e a realidade. 
Basta olhar para as condições em que se encontra o atual sistema prisional brasileiro, para perceber que a barbárie continua e que a pessoa humana é esquecida e violada quando está no cárcere, sob a tutela estatal.
O certo é que, aos olhos de quem quiser ver, os presos são submetidos às piores condições de vida e subsistência, além das humilhações e agressões. Estas pessoas são, literalmente, amontoadas em presídios e delegacias, em número muito maior do que a capacidade do local, sendo a superlotação um problema comum Ainda sofrem constantes maus tratos, contraem doenças que se alastram e são diagnosticadas e tratadas tardiamente, vítimas de abusos sexuais por parceiros não desejados, tudo isto dentro de um grande sistema de violência institucionalizado, admitido pela sociedade que adota, no mínimo, um papel omisso.
11. DO SISTEMA PENITENCIÁRIO IDEAL
 De certo, há quem diga que o “ideal” seria algo utópico, ou que não se concretizaria de fato, porém, ao se buscar esse idealismo na esfera prisional, quer se chegar a um sistema penitenciário que consiga colocar em prática seus objetivos, e que estes se expressem de forma eficaz, garantindo, assim, àqueles que em algum momento se viram sem esperança de ter um papelsocial, que voltem, pelo menos a resgatá-lo, e que saiam do meio carcerário reabilitados.
 Para isso, é preciso que os órgãos competentes efetivem suas obrigações, tendo como base o princípio da dignidade humana, inerente a qualquer indivíduo, bem como a nossa Constituição Federal, a Lei de Execução Penal, as Regras de Trato Mínimo, entre tantas outras normas que visam o aperfeiçoamento do sistema penitenciário, assim como a plena reabilitação dos presos, respeitando, para isso, seus direitos básicos. 
	Além disso, há que se pensar em maneiras reais e eficazes, de fazer com que estes homens recebam aquilo que lhes faltaram em algum momento da vida, e que, provavelmente, tornou-se o gatilho para a criminalidade, se esta foi provada. 
Como já exposto, o art. 10 da LEP (Lei de Execução Penal), acrescenta:[55: Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm> ]
“A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade”.
 A mesma Lei garante, ainda, que se deve haver um sistema de tratamento reeducativo, frisando os instrumentos do tratamento penal como: “A assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa”. 
Sabe-se que a situação da maioria dos presos é a de que foram indivíduos marginalizados pela sociedade, oriundos da exclusão econômica, cultural e social, fatores que na maioria das vezes explicam a alta incidência da criminalidade no país.
Tendo em vista que a base para o desenvolvimento do indivíduo encontra-se enraizado no conhecimento, ALBERGARIA (1993, p.50) mostra que:[56: ALBERGARIA, Jason. Manual de Direito Penitenciário. Rio de Janeiro: Aide, 1993.]
“Um dos objetivos da política criminal integrada na política social será tentar a transformação da instituição penitenciária em escola de alfabetização e profissionalização do preso, para inseri-lo no processo de desenvolvimento da Nação, a serviço do bem comum. A administração penitenciária tem o dever de ofertar ao preso todas as possibilidades de instrução escolar e formação profissional”.
Educar ou reeducar o presidiário seria, portanto, uma forma de inclusão do mesmo ao âmbito social, fomentando nele a vontade de promover algum desenvolvimento para sua comunidade, através de mérito próprio, contribuindo de alguma forma para a criação de uma nova personalidade.
Para isso os “estabelecimentos penais” deverão ser bem equipados com aparelhos televisivos, audiovisuais, bibliotecas e tudo mais que lhes garantam acesso às atividades educacionais, garantidas pelos artigos 18 a 21 da Lei de Execução Penal.[57: Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>]
Além da educação, os apenados também possuem o direito ao trabalho, que é visto como um dos elementos mais eficazes do tratamento criminológico. Já dizia Weber que “o trabalho dignifica o homem“ , e é através deste que muitos apenados têm a oportunidade de se reintegrar com o meio social, além de evitar a ociosidade. As atividades podem ser exercidas dentro ou fora do estabelecimento prisional, de acordo com sua situação e com remuneração, possuindo caráter educativo, como podemos observar no art. 28 da LEP: “O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana, terá finalidade educativa e produtiva”.[58: WEBER, Karl Emil Maximilian (1864-1920),jurista, economista e um dos fundadores do estudo moderno da sociologia. Principais obras: Economia e Sociedade; A ética protestante e o espírito do capitalismo. ][59: Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm> ]
Garantindo a profissionalização dos apenados, o ambiente prisional já começa a dar os primeiros passos à efetivação de seus objetivos, oferecendo-lhes uma ocupação que, aos poucos, acaba se tornando um dos fatores principais para que os presidiários, ao conseguirem a liberdade, tenham estabilidade econômica, contribuindo para que voltem a ter uma vida normal e digna, garantindo, na maioria das vezes, a não reincidência.
Não menos importante aparece, também, a necessidade de garantir o desenvolvimento espiritual dos presos, oferecendo-lhes locais para práticas religiosas, como capelas, bem como livros de sua religião, algo que também é previsto na lei.	
Além de tudo isso, outro grande problema que faz parte da maioria dos cárceres brasileiros, como já exposto anteriormente, é a falta parcial e até mesmo total de assistência médica. Os cuidados com a saúde são direitos de todos, mas devido à falta de higiene, à alimentação inadequada, ao ambiente precário e à superlotação das celas, que proporcionam um rápido e fácil contágio de doença, acabam por não serem garantidos. 
A assistência à saúde está prevista não somente em lei, como também nas Regras Mínimas da Organização das Nações Unidas, bem como salientou MIRABETE (2000, p. 67) :[60: MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2000.]
 “Como qualquer dos direitos humanos, os direitos do preso são invioláveis, imprescritíveis e irrenunciáveis” e devem ser garantidos pelo Estado, como é estabelecido pelo art. 41 da LEP, que detalha os seus direitos, pois só garantindo-lhes é que o Direito Penal estará realizando seu papel, e consagrando aqueles que esperam ter de volta a liberdade que lhes foi tirada, um retorno ao meio social de forma digna e legal, visando assim diminuir o regresso destes e consequentemente o índice de violência e de criminalização no nosso país. 
12. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA[61: CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Audiência de Custódia.Disponível e: http://www.cnj.jus.br/sistema-carcerario-e-execucao-penal/audiencia-de-custodia]
Em fevereiro de 2015, o Conselho Nacional de Justiça, em parceria com o Ministério da Justiça e o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, lançou o projeto Audiência de Custódia, que consiste na garantia da rápida apresentação do preso a um juiz, nos casos de prisões em flagrante. 
A ideia é que o acusado seja apresentado e entrevistado pelo juiz, em uma audiência em que serão ouvidas também as manifestações do Ministério Público, da Defensoria Pública ou do advogado do preso. Durante a audiência, o juiz analisa a prisão sob o aspecto da legalidade, da necessidade e da adequação da continuidade da prisão ou da eventual concessão de liberdade, com ou sem a imposição de outras medidas cautelares. O juiz poderá avaliar, também, eventuais ocorrências de tortura ou de maus-tratos, entre outras irregularidades.
O projeto prevê também a estruturação de centrais de alternativas penais, centrais de monitoramento eletrônico, centrais de serviços e assistência social e câmaras de mediação penal, que serão responsáveis por apresentar ao juiz opções ao encarceramento provisório.
A implementação das audiências de custódia está prevista em pactos e tratados internacionais assinados pelo Brasil, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San José, mas somente agora estão colocando em prática. [62: Presidência da República. Decreto No 592, de 06 de julho de 1992 Atos Internacionais. Pacto Internacional Sobre Direitos Civis E Políticos. Promulgação.Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm>][63: Convenção Americana de Direitos Humanos.(Assinada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, San José, Costa Rica, em 22 de novembro de 1969).Disponível em: https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm e em < http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/instrumentos/sanjose.htm>]
Em 24/02/15, teve início em caráter experimental em São Paulo, as chamadas audiências de custódia, sendo que o sistema judicial do mundo inteiro, mais civilizado que o brasileiro, já fez isso. 
O prazo para apresentar o preso ao juiz difere de um país para outro : 6h na Argentina;

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