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Síndrome de alienação parental


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SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL
Prof. Jose de Anchieta[2: Docente do Curso de Direito 2 semestre na FAESB Tatuí]
Oswaldo Gomes Junior[3: Acadêmicos do Curso de graduação em direito na FAESB Tatuí]
Israel Medina
Dione Motta
Marcelo Rosa Dellamutta
Carlos Magno A. Moreira Junior
Márcia Aparecida Vieira Del Bem
Danilo Franco Lucio
RESUMO
O presente artigo traz em seus objetivos a contextualizar e informar do que vem a ser a síndrome de alienação parental juntamente, como esta é identificada, sua diferença com a simples alienação parental, na seara jurídica, e qual o papel do operador do direito frente a este tema. Em síntese, analisaremos o referido tema sob o enfoque da Ciência Jurídica.
PALAVRAS-CHAVE: Alienação parental. Síndrome.
1 Conceito
	A constante realização de divórcios hoje cada vez mais frequentes na sociedade moderna não só resulta em consequências psicológicas e comportamentais para os consortes envolvidos, mas principalmente nos filhos que se veem divididos em praticamente duas famílias, principalmente em casos de novos relacionamentos de seus pais. Surge então em decorrência deste processo, o direito de visita daquele o qual não pertence à guarda dos filhos para que assim se garanta a convivência do genitor não-guardião com os filhos, mantendo assim o vínculo familiar e minimizando por conseguinte os efeitos causados da separação familiar na criança.
	Tais princípios são assegurados e previstos na legislação, o que leva a observar-se para a busca das garantias sociais e concomitantemente a segurança jurídica.
	Diante a isso, devem se destacar no que se refere ao Estatuto da criança e do adolescente alguns dos dispositivos utilizados para se fundamentar tal proteção:
Art. 4° É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Art. 5° Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 6° Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais e a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.
Art. 16 O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:
..............................................................................................................
V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;(grifo nosso).... 
	Por esta razão mostra-se claro a importância da manutenção e regularidade destas visitas não podendo assim este direito - desde que concedido por juiz competente e de que não ajam causas necessárias para seu banimento - ser embaraçado ou até mesmo suprimido.
	Contudo, é grande o índice de casos onde com frequência inúmeros empecilhos são postos por parte do genitor guardião afim de dificultar ou até mesmo impedir o contato do filho com o genitor não-guardião evidenciando assim um sentimento de egoísmo e até mesmo de vingança entre os ex-consortes, assim como pontifica Fonseca (2006) “sem qualquer pejo, em nome de tais estúpidos sentimentos, a criança é transformada em instrumento de vingança”. A estes artifícios a que fazem uso os genitores dá-se o nome de alienação parental simplesmente, a qual sequencialmente evolui-se para uma síndrome que se apresenta pelo abandono total a um dos cônjuges, preferencialmente o genitornão-guardião, a qual se manifesta com o surtir dos efeitos causados pelos artifícios utilizados pelo genitor da criança o qual tem por objetivo aliená-la.
	Fonseca (2006) ainda acrescenta: “A criança que padece do mal se nega terminantemente e obstinadamente a manter qualquer tipo de contato com um dos genitores sem qualquer motivo plausível”. Logo percebesse a magnitude desta influência exercida sob a criança por parte do genitor onde sem fundadas razões, esta cria um sentimento de aversão ao genitornão-guardião, terminando por abandoná-lo completamente.
	Com a evolução do quadro de alienação ao ponto de se instalar a síndrome, tornam-se bastante escassas as possibilidades de se re-estabelecer o convívio da criança com o genitor alienado, segundo uma afirmação obtida numa conferência em Darnall no ano de 1999 mostrou que a possibilidade de se re-estabelecer o convívio é de apenas 5%, e também que esta patologia é mais freqüente nos meninos em idades entre os oito e onze anos.
2 Fatores determinantes à alienação
	Sabe-se, portanto, que o que caracteriza a alienação parental é por primado o objetivo do genitor alienante em banir o contato dos filhos com o alienado. Este objetivo, porém, possui inúmeras motivações por parte de quem a promove. A não aceitação como fim do relacionamento, muitas vezes com insatisfação das condições econômicas após a separação, em alguns casos em que se fala de adultério, um sentimento de retaliação por parte do ex-cônjuge abandonado principalmente em situações que o ex-consorte segue com o parceiro da relação extra-conjugal, e neste caso soma-se um sentimento de não confiança com o ex-consorte em relação a este cuidar dos filhos.
Também há casos de que o genitor alienante visa deter apenas para si o amor dos filhos conjugado com o fato de alegar que o não genitor não é digno do amor dos filhos.
Logo a depressão, que não raro, acomete o genitor abandonado se faz de fator determinante na alienação e, lamentavelmente, encontra-se também na seara dos fatores determinantes, o objetivo de se alcançar benefícios econômicos por parte do alienante o qual algumas vezes objetiva alçar ganhos financeiros com a alienação da criança, mostrando assim como já citado, que a criança é utilizada como um instrumento para os objetivos egoístas do genitor que a aliena. Sendo independente qual seja o genitor que aliena, “produz os mesmo sintomas na criança e a afeta de igual modo” Fonseca (2006). Não se deve deixar de mencionar também o fator de interesse em não se pagar pensão alimentícia, o qual muitas das vezes de reserva a casos em que o alienante é o pai.
3 Como se inicia a síndrome
	Por se tratar de um processo que necessita de tempo para ser alcançado, a alienação nem sempre é atingida em termos absolutos, pois, muitas vezes o genitor alienado ainda consegue manter contato com os filhos mesmo sendo de modo forçado em algumas ocasiões eventuais, todavia, com o trabalho incessante do genitor alienante em denegrir a imagem do alienado para com os filhos, acaba por se alcançar a síndrome.
	Em determinados casos em que a síndrome se inicia em um grau muito avançado acaba por inviabilizar qualquer tipo de contato da criança com o genitor alienado e, assim, termina por ocorrer até mesmo a suspensão do regime de visitas concedidas por juiz, e quando ocorre tal situação, instala-se a síndrome em seu caráter definitivo e com poucas possibilidades de se obter 100% de reparação do dano psicológico e emocional causado.
	Não obstante, o alienante faz uso de outro meio eficaz para incutir a síndrome na criança, o que é mudança de cidade, podendo ser de estado ou até mesmo de país. Com isso torna-se mais difícil o contado da criança com o genitor não-guardião e com seus familiares o que acaba por se tornar um fator cooperador para a evolução da síndrome. Este meio, no entanto, se traveste das mais variadas escusas como melhores condições de vida e trabalho, novo relacionamento do genitor guardião,entre outras que em sua real motivação nada mais é que subverter a relação do filho com o genitor não-guardião.
4 FORMAS em que se identifica a síndrome
	Curiosamente ao contrário do que se pensa, nem sempre a alienação parental se instala de modo ativo por parte do genitor, ou seja,esta pode se dar de modo silencioso às vezes não havendo lavagens cerebrais nem discursos diretos com o fito de denegrir a imagem do genitor alienado, podendo assim se dar apenas pelo consentimento do genitor em face da resistência da criança em não manter contato com o genitornão-guardião, ficando este inerte na situação e assim não interferindo permitindo que este comportamento, muitas vezes injustificado, prevaleça.
	Quando indagada a criança a respeito de sua resistência ao ver o genitor não-guardião, nenhuma explicação convincente é fornecida. E muitas vezes os relatos são de apenas não gostar de comparecer em determinados lugares, em alegações não suficientes para ser considerado aceitável o afastamento.
	Como já mencionado do início do artigo, a criança se torna um instrumento em poder do genitor o qual faz uso de diversos artifícios para se alcançar a alienação como desculpas sobre doenças fictícias, outras ocupações em que criança está envolvida, e até mesmo chantagem emocional na criança onde corriqueiramente a principal alegação do genitor alienante é feita diretamente à criança, alegando este de que com o contato da criança com o genitor não-guardião esta estaria traindo e abandonando o genitor que almeja o sucesso na alienação.
5 As consequências da alienação
Malgrado e assim consumada a alienação após a desistência do genitor alienado em continuar o contato com a criança as consequências comprometerão seu crescimento normal e uma possível reconstrução desse convívio abalado dependerá de longos anos. Fonseca (2006) aponta para o fato de que nestes casos os efeitos causados a longo prazo na criança podem variar de sentimento de culpa e de esta ter sido cúmplice desta injustiça feita contra o genitor alienado. Outro fator apontado é o fato de muitas vezes em decorrência da criança haver crescido sob essa forte influência do genitor alienante, esta venha a tê-lo como único exemplo e modelo de influência, e desta forma, venha a repetir o mesmo comportamento diante de uma caso semelhante a qual a ela possa sobrevir no futuro.
Dentre as consequências causadas ao longo tempo devido a síndrome, há o surgimento da depressão crônica, transtornos de identidade, e em alguns casos, até mesmo suicídio. Tais consequências mais graves, se manifestam com às perdas importantes, as quais são a morte dos pais, familiares próximos, amigos, dentre outros do meio de convívio.
Não obstante também, a tendência ao alcoolismo não é desconsiderada dentre as futuras possibilidades de problemas à qual venham a afetar o portador da síndrome na fase adulta.
6 O papel do judiciário diante da síndrome
Identificado o processo de alienação, é necessário que o Poder Judiciário adote mecanismos necessários para evitar assim que se instale a síndrome. Para tanto, a busca da exatidão dos fatos faz com que os magistrados diante deste cenário, tenham o conhecimento e se atentem para os elementos identificadores da alienação e assim adotem medidas necessárias para a proteção da criança vitima de tal processo, conforme é assegurado no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.(grifo nosso).
§ 1º. Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
 § 2º. A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
§ 3º. A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei.
Com a percepção do processo de alienação, o magistrado por sua vez, deve providenciar medidas que permitam a aproximação da criança com o genitor alienado. E, referindo-se ao sistema de justiça, o juiz se vale, cada vez mais, de todo o quadro técnico que o auxilia e que, por vezes, até mesmo aponta para a solução adequada para casos sub judice.
	Essas medidas variam de acordo com o grau em que se encontra a alienação. Desta forma as medidas se apresentam dentre outras:
Realização de terapia familiar, para situações em que a criança evidencie repulsa pelo genitor alienado.
Beneficiar o regime de visitas a favor do genitor alienado, e, em casos de resistência, não se defende o emprego de medida e busca e apreensão.
A aplicação de penas de caráter pecuniário ao genitor alienante, enquanto perdurar a resistência da criança ou qualquer prática que enseje a alienação.
É possível também reverter o processo de guarda do infante, concedendo assim, a guarda ao genitor alienado uma vez que, a conduta apresentada pelo genitor alienante se mostre como patológica. Esse caráter se mostra de duas maneiras, podendo haver até mesmo a suspensão de visitas por parte do alienante ou mantendo-se estas, deverão ser realizadas de forma supervisionada.
Em casos mais graves onde a conduta do genitor alienante se mostre de alto risco, não é descartada a hipótese de se adotar até mesmo a prisão do alienante.
Todavia, para a adoção destas e de outras medidas, como já mencionado, é de extrema importância que os juízes de família sejam capazes de identificar cada caso de alienação e assim, adotar as medidas cabíveis de acordo com cada estágio em que se encontra o referido processo.
No entanto, como afirma a bacharel em ciências jurídicas e sociais Priscila Maria em um trabalho realizado sobre o referido distúrbio, mostra que uma das causas para que se instale a síndrome é não percepção por parte dos juízes envolvidos no caso.
[...]Via de regra, até por falta de adequada formação, os juízes de família fazem vistas grossas a situações que, se examinadas com um pouco mais de cautela, não se converteriam em exemplos do distúrbio ora analisado. (FONSECA, 2006, p. 166).
Assim sendo, pode-se afirmar que devido a formação inadequada dos magistrados à frente de tais assuntos e sem a atenção necessária e observação minuciosa diante de quadros que possam sinalizar a alienação e consequentemente a síndrome, muitas casos são apercebidos em uma maior latência de tempo e assim em estágios mais avançados.
Por esta razão é que se faz necessária no mínimo a atenção dedicada por parte dos magistrados para que assim, em qualquer índice de suspeitas, possam adotar as providências a seu alcance por meio dos diversos mecanismos disponibilizados pelo judiciário para proteção do infante e do genitor alienado.
7 O advogado e seu papel diante da síndrome
O advogado por sua vez exerce um papel paralelo ao do Poder Judiciário, no entanto como afirma o advogado Nacib Rachid Silva “o advogado possui o papel como o de um primeiro juiz na causa, avaliando se vale a pena ou não levá-la à frente”.
Assim, seu papel é de extrema importância pois devem em decorrência de sua função agirem como agentes da pacificação social, jamais se esquecendo que nos casos que compreendem as causas familistas, deve o profissional ser assim como o juiz, extremamente atento a cada detalhe e que possua calma e condições para poder ouvir cabalmente todos os pontos.
Outro ponto apontado pela advogada Analícia Martins de Souza “deve o profissional em face do caso e com o contatocom o genitor alienado – o qual geralmente se vale da justiça para exercer seu direito – se ater ao seu papel de profissional e não deixando assim que possa tomar uma posição a não ser de neutralidade diante do caso”. Isso pode ocorrer em decorrência de muitas das vezes o profissional se envolver sentimentalmente com tais processos o que poderia acarretar na inflamação deste litígio ao invés de uma sábia solução.
Assim, o advogado e o Judiciário devem trabalhar em conjunto para que de todos os meios seja possível uma solução definitiva e que em meio a uma casotão delicado como o analisado, seja garantida a total assistência e proteção à criança, a qual desde a instauração da Constituição de 1988, esta passa a ser prioridade absoluta do Estado, família e sociedade.
8 Conclusão
Com base nas afirmações abordadas no presente trabalho, percebesse que este problema é um problema comum aos quais afetam inúmeras famílias, e que, os mais prejudicados com o desenrolar de tal processo não é ninguém mais que o próprio infante, o qual se vê em meio ao que podemos chamar de um “fogo cruzado” neste meio por tais espúrios como os sentimentos de vingança e de exclusiva possessão do amor dos filhos.
	Observou-se também a importância em se não confundir a simples alienação com a referida síndrome, a qual certamente virá a sobrevir caso nenhuma medida de impedimento seja adotada para banir a tentativa do genitor alienante de arredar o alienado da vida do filho.
E por fim destaca-se a grande valia do papel do Judiciário juntamente com o advogado os quais incumbem o papel de analisar cabalmente cada caso e buscar solucionar o problema, com os mecanismos disponibilizados.
REFERÊNCIAS
Estatuto da Criança e do Adolescente. 2010. Disponivel em: http://www.mpdft.mp.br/portal/pdf/unidades/promotorias/pdij/Legislacao%20e%20Jurisprudencia/ECA_comentado.pdf. Acesso em 28 Mai de 2016.
FONSECA, Priscila Maria Pereira Corrêa. Síndrome de alienação parental. Revista Pediatria, São Paulo, v. 28, n. 3, p. 162 – 168, 2006.
LEVY, Laura Afonso Costa,Alienação Parental a equipe multidisciplinar e o papel do advogado.2014. Disponível em: http://silvanammadv.blogspot.com.br/2014/11/alienacao-parental-equipe.html. Acesso em: 23 mai. 2016.
LEITE, Eduardo de Oliveira. Alienação Parental: Do mito à realidade. 1. São Paulo:Revista dos Tribunais, 2015.