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Farmacologia A farmacologia é a ciência que estuda os fármacos e os medicamentos sob todos os aspectos, isto é, fonte, preparo, conservação, administração, absorção, distribuição no organismo, mecanismo de ação, efeitos, segurança, acesso da população, custo dos tratamentos e seus benefícios, efeitos tóxicos, entre outros. A farmacologia pode ser desmembrada em diversas áreas, tais como: farmacognosia, química farmacêutica, farmacotécnica, farmacoeconomia, farmacoepidemiologia, farmacoterapia, farmacodinâmica, farmacocinética e toxicologia, por exemplo. Algumas definições relacionadas à farmacologia: Droga: toda substância com capacidade de modificar algum sistema fisiológico, que pode ou não apresentar propriedades terapêuticas, podendo ou não ser utilizada com a intenção de trazer benefícios para o organismo. Nesse sentido, tanto as drogas usadas no tratamento de doenças, quanto as drogas recreacionais (drogas de abuso) e as utilizadas no diagnóstico e prevenção de doenças se encaixariam nessa definição. Alguns autores preferem evitar o termo droga e substituí-lo por fármaco, por causa da conotação pejorativa que a palavra adquiriu com o tempo. Fármaco: toda substância com estrutura química conhecida e propriedade de modificar alguma função fisiológica ou estado patológico, quando usada com finalidade preventiva, diagnóstica ou terapêutica. Medicamento: produto farmacêutico com ação benéfica na prevenção ou tratamento de doenças. Segundo a OMS: toda substância ou associação utilizadas para modificar um sistema fisiológico, para benefício do organismo. Remédio: todo agente de cura, seja uma substância de origem animal, vegetal, mineral ou sintética; um procedimento (ginástica, massagem, acupuntura, banhos, cirurgia); ou a fé, crença ou influência, usados com intenção benéfica. Especialidade farmacêutica: produto contendo um ou mais fármacos, produzidos pela indústria, com fórmulas aprovadas e registradas no Ministério da Saúde. Princípio ativo (PA): toda substância existente na composição de um medicamento que é responsável pelo seu efeito terapêutico. Geralmente é utilizado como sinônimo de fármaco, substância ativa e nome genérico. Excipientes: meio sólido farmacologicamente inativo no qual o PA está disperso, num comprimido, o excipiente pode ser amido, por exemplo. Veículo: Meio líquido no qual o PA está disperso. Um xarope é um veículo, assim como o diluente de uma ampola. Adjuvante: substância adicionada ao medicamento que reforça a ação do PA, facilita sua absorção ou sua ação. Por exemplo, óleo de amêndoas em alguns cosméticos facilita a absorção de alguns PA. Corretivo: substância utilizada para “melhorar” o sabor de um medicamento, tornando-o mais palatável. Os edulcorantes podem ser consideraqdos corretivos de sabor. Edulcorante: Substância utilizada para conferir sabor doce a uma preparação farmacêutica, é considerado um corretivo de sabor. Intermediário: substância que evita incompatibilidades farmacêuticas, por exemplo, uma substância que impede que dois PA se misturem. Medicamento genérico: é o medicamento que não possui marca comercial, é vendido por meio do nome de sua substância ativa e é bioequivalente ao medicamento de referência. Ou seja, o genérico para ser chamado assim, precisa passar por testes que demonstrem que sua biodisponibilidade no organismo é idêntica a do medicamento de referência. Deste modo, podemos afirmar que ambos possuem mesma eficácia clínica, portanto, são intercambiáveis. Biodisponibilidade: medida que se relaciona com a quantidade absorvida e à velocidade de absorção de um princípio ativo no organismo. É definida como: a quantidade ou porcentagem da droga ativa que se apresenta disponível em seu local de ação, referentes à determinada dose e forma farmacêutica. Bioequivalência: termo usado quando 2 ou mais formulações apresentam concentrações semelhantes de princípios ativos nos fluidos e tecidos organicos. Placebo: tratamento desprovido de ação terapêutica, mas que de alguma maneira exerce efeito sobre a doença ou sintomas, desde que o doente esteja convencido da eficácia. O termo vem do latim “placere”, que significa “agrado”, “dou prazer”. Todo fármaco administrado a um paciente, além de apresentar algum efeito farmacológico, isto é, atribuível à ação do próprio fármaco em seu sítio de ação, pode também apresentar algum efeito placebo, e este, por sua vez pode ser até mesmo quantitativamente superior ao efeito farmacológico daquele princípio ativo. Nocebo: qualquer tratamento inócuo, mas que provoca no paciente efeitos indesejáveis. O termo vem do latim “nocere”, que significa “infligir dano”. Reação adversa a medicamento (RAM): Segundo a OMS: “qualquer efeito prejudicial ou indesejável, não intencional, que aparece após a administração de um medicamento em doses normalmente utilizadas no homem para a profilaxia, o diagnóstico e o tratamento de uma enfermidade” Assim, não são reações adversas os efeitos deletérios que aparecem com o uso de doses maiores do que as habituais (acidentais ou intencionais), e nem pelo mau uso do medicamento. Reação adversa, efeito indesejável e doença iatrogênica são termos equivalentes, mas efeito colateral, apesar de semelhante, não necessariamente é um efeito indesejável. Por exemplo, o uso polêmico de anti-histamínico como indutor de sono para crianças. Deve-se também diferenciar deste conceito o de evento adverso, que é “uma injúria sofrida pelo paciente, resultante de erros no uso do medicamentos, e que resultam em falha terapêutica”. Assim, o evento adverso pode ser resultado de vários fatores, tais como: dose incorreta, dose omitida, via de administração incorreta e horário de administração incorreto. Posologia: (do grego: posos=que quantidade?) é Estudo das doses necessárias para um fármaco produzir sua ação farmacológica. Dose: (do grego: dosis=dar) quantidade de fármaco que deve ser administrada. Dosagem: número de doses que devem ser administradas por dia e o número de dias que esse esquema terapêutico deve ser repetido. Interação medicamentosa: ocorre quando 2 ou mais fármacos são administrados em conjunto e um deles interfere na absorção, ação, metabolismo ou excreção do outro. Interação alimentar ou interação fármaco-nutriente: ocorre quando um alimento ou determinado componente de um alimento interfere na ação de um fármaco, reduzindo ou aumentando sua absorção, ação farmacológica, metabolismo ou excreção. Sinergismo ou efeito sinérgico: quando a interação medicamentosa ou alimentar ocorre na mesma direção que o fármaco de estudo, em outras palavras, quando aumenta sua ação farmacológica, podendo até mesmo causar sobredosagem. O sinergismo pode se dar como adição ou como potencialização do efeito esperado. Antagonismo ou efeito antagônico: quando a interação medicamentosa ou alimentar ocorre na direção contrária a do fármaco em estudo, em outras palavras, quando diminui sua ação farmacológica, podendo até mesmo causar ausência de efeito. Agonista: Substância que ao se ligar a um receptor biológico causa a ativação do mesmo, podendo assim, aumentar ou diminuir a atividade celular. Betaestimulante, Agonista colinérgico, adrenérgicos de ação direta. Antagonista: Substância que ao se ligar a um receptor biológico causa o bloqueio (inativação) do mesmo. Ex. inibidores da ECA, anti-histamínicos, bloqueadores do canal de cálcio, Antagonistas H2. Potência: capacidade de um medicamento produzir determinado efeito com uma determinada concentração. Ou seja, quanto menor é a quantidade de medicamento necessária para que se produza determinado efeito, maior é a potência do fármaco. Entretanto, nem sempre o medicamento mais potente é aquele que apresenta melhores resultados clínicos.Fases do processo farmacêutico Após ser administrado, um fármaco precisa passar por diversos processos, até que produza seu efeito no órgão-alvo. A velocidade desses processos depende da forma farmacêutica do medicamento, da sua via de administração e de características do próprio princípio ativo, além é claro, das suscetibilidades individuais. De acordo com o local de administração e a proximidade de administração do fármaco com o órgão-alvo, podemos ter: • Ação local: quando o fármaco é administrado próximo ao sítio de ação. • Ação sistêmica: quando o fármaco é administrado em local diferente do sítio de ação. • Ação remota: quando o fármaco age num local, que por sua vez interfere no funcionamento de outro local. • Ação local/geral: quando o fármaco primeiro produz uma ação local e posteriormente é absorvido causando ação sistêmica. Após sua administração, um medicamento deve passar por 3 fases distintas até exercer sua ação: 1) Fase farmacêutica: Compreende o período em que o fármaco é liberado da sua forma farmacêutica até sua absorção pelo organismo. 2) Fase farmacocinética: Compreende o caminho percorrido pelo medicamento no organismo, ou seja, absorção, distribuição e eliminação dos fármacos. 3) Fase farmacodinâmica: Compreende a interação do fármaco livre com seus receptores farmacológicos específicos. Se relaciona com o mecanismo de ação dos fármacos, o local de ação dos mesmos, e a resposta do organismo a eles. 1) FASE FARMACÊUTICA: depende principalmente da forma farmacêutica e da via de administração. Fórmula ou forma farmacêutica: é o estado em que o medicamento se encontra após sua manipulação. Ex. cápsula, comprimido, supositório, solução para injeção intramuscular, etc. Algumas formas farmacêuticas fornecem ao medicamento proteção contra luz, umidade, pH intragástrico, ação de enzimas digestivas, oxidação, entre outros. Regra geral, apenas os comprimidos pré-sulcados podem ser cortados sem prejudicar a ação e a segurança dos fármacos utilizados pela via oral. Medicamentos injetáveis devem ser dissolvidos com os diluentes próprios quando estes forem fornecidos, pois muitas vezes estes contém substâncias importantes para a conservação e aplicação do produto, salvo casos específicos. Algumas formas farmacêuticas permitem que o fármaco já esteja dissolvido no momento da administração, o que aumenta sua velocidade de absorção e ação (Ex. solução oral, comprimidos efervescentes, etc.). Outros, entretanto, precisam ser dissolvidos para que possam iniciar seu trajeto ao órgão-alvo, onde exercerá seu efeito (ex. comprimidos). Por outro lado, algumas formas farmacêuticas podem reduzir a velocidade de liberação do fármaco no organismo, permitindo uma ação mais lenta e prolongada, como os comprimidos de liberação lenta, as injeções subcutâneas e os adesivos transdérmicos. Principais formas farmacêuticas Comprimidos: são formas sólidas de um PA na forma de pó, preparado por compressão, adicionados ou não de substâncias aglutinantes. Podem ter ranhuras (sulcos) que facilitam a divisão equilibrada da dose. Comprimidos de ação prolongada, retard, libertação lenta ou liberação controlada são preparados para serem dissolvidos e absorvidos de forma gradual, aumentando o tempo necessário para administrar uma nova dose. Comprimidos com revestimento entérico resistem à dissolução no pH baixo do estômago, mas dissolve-se no pH alto dos intestinos. São normalmente utilizados com PA sensíveis ao pH do estômago e não devem ser mastigados, divididos ou triturados. Alguns alimentos, como sucos ou leite podem acabar com a proteção ácido-resistente, fazendo com que o comprimido seja dissolvido antes do que deveria. Drágeas são comprimidos revestidos com uma película de sacarose. Normalmente são utilizadas quando o PA tem sabor ou odor desagradáveis, ou ainda para proteger um PA da ação da luz. Pastilhas são discos impregnados com o PA, numa base normalmente aromatizada e doce. Devem ser dissolvidos lentamente na boca, liberando gradualmente o PA, que normalmente exerce efeito terapêutico na própria boca ou na garganta. Cápsulas são formas nas quais uma ou mais substâncias são colocadas dentro de um invólucro de gelatina, que ao ser deglutido dissolve no trato gástrico, liberando o PA para que seja absorvido. São adequadas para administração de fármacos com sabor desagradável e normalmente devem ser deglutidas inteiras. As cápsulas de ação prolongada, lenta, retard ou contínua são desenvolvidas para liberar o PA de forma gradual. Normalmente são produzidas incorporando o PA num grânulo que diminui a velocidade da dissolução. Da mesma forma, os grânulos podem ser desenvolvidos para serem ácido resistentes, liberando assim o PA apenas quando os mesmos atingem os intestinos. Sucos, leite e outros alimentos podem interferir na velocidade de liberação do fármaco. Existem cápsulas gelatinosas, que podem incorporar PA líquidos ou dissolvidos em líquidos. Essas cápsulas são semelhantes àquelas pérolas utilizadas para armazenar “óleo de banho”. Xaropes são formas onde os PA são dissolvidos numa solução concentrada de açúcar (sacarose), a fim de mascarar sabor desagradável. São especialmente indicados para crianças, já que possuem sabor mais agradável, maior facilidade para deglutição e ajuste da dose do que as formas sólidas. Atualmente existem soluções feitas com Soluções são misturas homogêneas de líquidos ou sólidos em um solvente líquido. Algumas soluções são preparadas de forma que podem ser injetadas, para tanto, devem ser estéreis e apirogênicas. Além das soluções orais e injetáveis, existem outras formas como por exemplo, as soluções nasais, oftálmicas, otológicas e as soluções para nebulização. Suspensões são misturas heterogêneas de sólidos em meio líquido, cujas partículas precipitam quando a solução fica em repouso, tornando necessário agitar antes da administração para que haja uma distribuição uniforme das partículas. Algumas suspensões apresentam agentes de suspensão, para diminuir a velocidade de reprecipitação das partículas sólidas, após a agitação. Suspensões não podem ser injetadas diretamente na corrente sanguínea, já que suas partículas insolúveis podem facilmente obstruir arteríolas, vênulas e capilares, porém, há suspensões que podem ser injetadas nos músculos, por exemplo. Loções são suspensões de um pó insolúvel em água, como óxido de zinco, ou emulsões produzidas a partir de água, óleo e um tensoativo, normalmente usadas para aplicação tópica. Cremes são emulsões produzidas por óleo, água e um tensoativo, de modo a formar um líquido espesso ou um sólido “mole”. Pomadas são preparações semi-sólidas numa base oleosa como lanolina ou vaselina. Conservam a umidade, aumentando a absorção do PA. Géis são misturas semi-sólidas que se liquefazem quando aplicadas na pele, evaporam-se rapidamente, formando uma película permeável. Aerossóis são fármacos sólidos ou líquidos em suspensão pulverizada para inalação ou para a aplicação nas narinas ou na garganta. No caso dos aerosóis inalatórios, a velocidade da propulsão do PA pode fazer com que grande parte do fármaco seja depositado nas mucosas da garganta, perdendo grande parte da eficácia do medicamento e aumentando os efeitos adversos sistêmicos. As câmaras espaçadoras minimizam esse problema, produzindo uma névoa que pode ser aspirada pelo paciente, permitindo maior quantidade de fármaco chegando nos alvéolos. Pelo mesmo motivo, alguns fármacos inalatórios são disponibilizados na forma de pós secos, permitindo que o paciente os inale ativamente com o auxilio de um dispositivo “inhaler”. Adesivos transdérmicos são adesivos impregnados com um PA, que é liberado lentamente através da pele. Pellets intradérmicos são dispositivos impregnados com o PA, que podemser injetados abaixo da pele, liberando o fármaco por longos períodos (até 3 anos). Supositórios e óvulos são formas sólidas, destinadas a serem introduzidas no orifício anal e vaginal, respectivamente, onde dissolvem-se, permitindo que o PA seja absorvido pelas respectivas mucosas. Vias de administração É o caminho pelo qual o medicamento será levado ao organismo para exercer seus efeitos A via de administração influencia diretamente a farmacocinética, e determina a dosagem, eficácia, reações adversas, segurança, início e duração do efeito e principalmente: a facilidade de administração, a cooperação do paciente e a aderência desse ao tratamento. VIA ENTÉRICA OU ENTERAL: via relacionada ao sistema digestório, onde os fármacos administrados são absorvidos. Ex. via oral e via retal. Obs. A via sub-lingual e a via nasal são consideradas entéricas transmucosas ou parcialmente entéricas, porque têm parte da absorção feita pela via digestória. VIA PARENTERAL: São vias que não se utilizam do sistema digesório para atingir seu local de ação: via intramuscular, via sub-cutânea, via intra-articular, via intra-lesional, via cutânea, via epidural, etc. Obs. São vias parenterais transmucosas as administrações pelas vias conjuntival, rinofaríngea, traqueobrônquica, geniturinária, alveolar e orofaríngea. VIAS EXCEPCIONAIS – Alguns medicamentos são administrados de forma que não podem ser classificados nas vias ordinárias, tais como: diretamente nas cavidades das cáries, nos tímpanos, pela via intracraniana, no cordão umbilical, etc. 2) FASE FARMACOCINÉTICA: Depende de fatores que interferem na absorção, distribuição, metabolização e eliminação do fármaco. 2.1.Absorção: A absorção dos fármacos no local de administração está diretamente relacionado com a natureza química da substância. Substâncias lipossolúveis geralmente conseguem passar as membranas celulares com relativa facilidade por difusão passiva, enquanto substâncias hidrossolúveis geralmente precisam de processo de transporte ativo ou difusão facilitada para conseguirem ultrapassar as membranas que tem natureza lipídica. O pH no sítio de absorção também determina a maior ou menor facilidade de fármacos serem absorvidos. Fármacos que são bases fracas são melhor absorvidos em locais alcalinos, como o intestino, enquanto que fármacos que são ácidos fracos são melhor absorvidos em ambientes ácidos como o estômago. O uso de medicamentos com substâncias que interferem no pH, como certos alimentos ou medicamentos, podem favorecer ou dificultar a absorção dos mesmos. A vascularização do local de administração também influencia a eficiência da absorção de fármacos e recursos como massagens e compressas quentes podem acelerar o processo por aumentar a circulação sanguínea no local da aplicação. De modo contrário, o uso de compressas geladas ou o uso de substâncias vasoconstritoras retardam a absorção e prolongam o efeito de certos fármacos. Além das características do fármaco e da forma farmacêutica, a área de absorção também determina a facilidade ou dificuldade com que fármacos passam do local de administração para os fluidos de distribuição (linfa e sangue). A mucosa intestinal, a cavidade peritoneal e o epitélio pulmonar são as vias de absorção com superfícies mais extensas. As interações dos fármacos com os alimentos também influenciam sobremaneira a absorção dos mesmos, que depende: da natureza lipossolúvel ou hidrossolúvel do alimento e do fármaco, temperatura do alimento, formação de complexos preciptáveis entre alimento e fármaco, efeito do alimento no pH, na motilidade e no fluxo sanguíneo do TGI. Exemplos: • A gordura presente nos alimentos pode diminuir a velocidade de esvaziamento gástrico e a motilidade intestinal (peristaltismo), o que interferirá diretamente na velocidade de absorção dos fármacos administrados concomitantemente. • Alguns medicamentos, entretanto, são absorvidos mais intensamente quando administrados com alimentos gordurosos, como as vitaminas lipossolúveis e hormônios esteróides. • A presença de líquidos na alimentação acelera a absorção do fármaco, pois líquidos são rapidamente absorvidos e o fármaco “pega carona” no processo. • O leite dificulta a absorção de certos medicamentos, como a tetraciclina, por formar precipitado insolúvel com a mesma. Fatores individuais como diarréia ou costipação intestinal e doenças que influenciam a integridade física do TGI, como doença de Crohn, entre outras condições que interferem na absorção de substâncias, devem ser considerados quando se escolhe uma abordagem farmacoterapêutica. 2.2. Distribuição: Desde a absorção, até a distribuição pelos diversos compartimentos biológicos e a chegada do fármaco aos órgãos-alvo, o fármaco necessita passar por diversas barreiras, como as membranas citoplasmáticas, endotélio vascular, pele, meninges, barreira hematoencefálica, etc. A velocidade com que ele ultrapassa essas barreiras depende diretamente de uma série de fatores, como sua concentração dos dois lados da membrana, sua lipofilicidade/hidrofilicidade, seu tamanho molecular, seu grau de ionização e suas interações com o solvente e com as membranas. Em geral as moléculas lipossolúveis, pequenas e pouco ionizadas ultrapassam mais facilmente pelas membranas celulares, que são lipoprotéicas. De modo contrário, moléculas grandes, polares ou fortemente ionizadas são praticamente impermeáveis às membranas, necessitando acoplarem-se a proteínas “carregadoras” (difusão facilitada ou transporte ativo) ou utilizarem canais específicos (poros) ou ainda podem sofrer o processo de pinocitose para efetuarem a passagem pelos compartimentos biológicos. A vascularização dos órgãos-alvo influencia bastante a distribuição do fármaco pelo organismo. Em órgãos bastante irrigados os fármacos atingem níveis terapêuticos mais rapidamente que naqueles com menor perfusão sanguínea. Outro fator que influencia a distribuição dos fármacos é a forte ligação desse com proteínas plasmáticas. Após entrar na corrente sanguínea, grande parte dos fármacos se ligam às proteínas plasmáticas, como a albumina, as globulinas e as lipoproteínas, onde ficam presos, circulando pelo organismo. Entretanto, a parcela de fármaco que produz efeito, é justamente aquela que esta livre. Cada fármaco possui uma afinidade maior ou menor com essas proteínas, o que irá influencia diretamente a biodisponibilidade do mesmo no órgão-alvo. Por exemplo, 93% do propranolol administrado ao paciente se liga às proteínas plasmáticas, enquanto que para o fenobarbital, a porcentagem de ligação é de apenas 51%. Outro fator a se considerar é que alterações na quantidade de proteínas circulante podem interferir na eficácia e segurança do fármaco. Por isso, as doses de alguns medicamentos devem ser adequados à condições patológicas como desnutrição, hepatopatias (o fígado é o maior produtor de albumina), perda de sangue acentuada, distúrbios renais, hipertiroidismo (inibe a síntese de albumina), e idade do paciente (recém-nascidos possuem menor concentração de proteínas plasmáticas, a albumina fetal tem baixa afinidade por fármacos, o pH sanguíneo do neonato é ligeiramente mais baixo que no adulto, o idoso apresenta redução nas proteínas plasmáticas). Do mesmo modo que a quantidade de proteínas plasmáticas influencia a distribuição de medicamentos pelos compartimentos fisiológicos, desidratação ou hiperhidratação devem ser considerados durante a escolha terapêutica. A barreira hematoencefálica é formada por uma camada de células que reveste os capilares do SNC, impedindo a passagem de algumas substâncias para o interstício dos órgãos e facilitando a passagem de outras, de forma bastante seletiva. Em geral, a barreira permite a passagem de substâncias lipossolúveis(álcool, nicotina, éter, atropina, etc.) e impede a passagem de moléculas polares ou iônicas (hidrossolúveis). Como algumas moléculas polares são necessárias ao bom desempenho do SNC, tais como proteínas, aminoácidos, glicose e eletrólitos, existem mecanismos específicos para estes alcançarem o interior dos órgãos do SNC, como transporte ativo, pinocitose e difusão facilitada por carreadores específicos. A barreira placentária também constitui uma barreira seletiva para determinadas moléculas. O sangue fetal e materno não se misturam em condições normais, deste modo, todos as substâncias que o feto necessita passam pela barreira por algum dos seguintes processos: difusão simples (drogas, uréia, água, íons, O2 e CO2), difusão facilitada (glicose), transporte ativo (aminoácidos) ou pinocitose (macromoléculas), do mesmo modo, os metabólitos do feto são excretados no sangue materno pelos mesmos processos. Entretanto, para que haja uma troca extensa e bastante rápida de algumas substâncias, como o oxigênio e gás carbônico, a extensão de contato ente o sangue materno e o sincício da placenta, que separa o sangue fetal, é bastante amplo (cerca de 10 m2) e a espessura da barreira placentária é bastante delgada nos locais onde os capilares maternos se aproximam do sincício (pode chegar a apenas 2 µm). Essas características da barreira placentária fazem com que a maioria dos medicamentos consiga ultrapassar facilmente a barreira e produzir efeitos no organismo fetal, o que contraria a idéia que se tinha antigamente, de que a barreira constituiria um importante mecanismo seletivo, que protegia o feto da ação de medicamentos administrados na mãe. 2.3. Metabolização (biotransformação): É toda alteração química que os fármacos sofrem no organismo, geralmente sob ação de enzimas. • Pode ocorrer desde antes mesmo da absorção, e após o seu efeito farmacológico. • É defesa do organismo para acelerar a eliminação de substâncias tóxicas. A substância farmacológica: • Pode ser administrada na sua forma ativa ou inativa (pró-droga). • Pode ser biotransformada em uma substância ativa ou inativa. • Pode apresentar intermediários ativos, inativos ou tóxicos. • Geralmente é biotransformada em formas mais facilmente “excretáveis”. Em geral, as drogas passam por duas fases de biotransformação: 1ª fase (não sintética) – ocorre oxidação, redução ou hidrólise da droga 2ª fase (sintética) – ocorre conjugação c/ glicuronil, sulfato, acetil, metil ou glutationa. - Tornando-se moléculas mais hidrossolúveis. - Permitindo excreção renal (via urinária) ou biliar (via fecal). Metabolismo de fármacos ocorre principalmente no fígado, pulmões, TGI, pele e rins, mas pode ocorrer em qualquer outro tecido, e mesmo no plasma. Principais enzimas metabolisadoras: Citocromo P450, amidases, desidrogenases, monoaminoxidase (MAO), transferases e esterases. Fatores que influenciam a biotransformação de fármacos: • Indução enzimática (ler abaixo), • Inibição enzimática (ler abaixo), • Polimorfismo genético, estado nutricional, peso, sexo, temperatura, • Doenças (Ex. insuficiência hepática, insuficiência renal, enfisema, etc.), • Idade (RN tem 16% da capacidade de metabolização de bilirrubina). Indução enzimática: capacidade de aumentar a produção ou a velocidade de reação de enzimas. (Ex. fenobarbital, inseticidas clorados, griseofulvina e esteróides aceleram metabolismo de outros fármacos). Inibição enzimática: competição de dois fármacos pela mesma enzima, ou bloqueio da ação enzimática, resultando em queda na velocidade de biotransformação de um ou de ambos os fármacos. (Ex. inseticidas fosforados, dissulfiram/metronidazol, cloranfenicol, tetraciclina). Metabólito – Produto da reação de biotransformação de um fármaco. • Geralmente apresentam atividade farmacológica reduzida, são mais hidrofílicos e mais facilmente eliminados. • Podem apresentar atividade biológica ou propriedades tóxicas. Alguns medicamentos administrados por vias entéricas sofrem metabolização antes mesmo de atingirem a corrente sanguínea, e em alguns casos, isso é tão intenso, que a via oral não pode ser utilizada ou então a dose do medicamento oral deve ser tão grande, de tal forma que garanta que mesmo que a maior parte seja destruída nos intestinos ou no fígado, pelo menos uma fração do fármaco chegará à circulação sistêmica. A esse processo chamamos de metabolização pré-sistêmica ou efeito da primeira passagem (pelo fígado). Esse tipo de processo só ocorre nas vias que conduzem o medicamento para o sistema porta- hepático, ou seja, a via oral e parcialmente a via retal, já que fármacos absorvidos na porção proximal do reto, todo intestino e todo estômago, são conduzidos ao fígado pelo sistema descrito. Por outro lado, nenhum fármaco administrado por vias parenterais ou pela via sublingual sofrem esse tipo de efeito, já que após a absorção o medicamento cai diretamente na circulação sistêmica. 2.4. Excreção ou eliminação – Retirada do fármaco do organismo, seja inalterado ou como metabólito ativo ou inativo. Depende principalmente de características da droga e do organismo. • A maioria dos fármacos é excretada pela via renal (moléculas lipossolúveis e sem cargas são reabsorvidas pelo néfron - pH da urina influencia reabsorção). • Algumas substâncias são excretadas nas fezes pela via biliar (hepática) - pode ocorrer ciclo de retenção êntero-hepático (reabsorção de fármacos apolares que foram excretados pela via biliar ao longo do intestino). • Fármacos voláteis podem ser eliminados pela via pulmonar. • Secreções como suor, saliva, lágrima e leite materno podem apresentar o fármaco ou seus metabólitos. Algumas definições relacionadas à farmacocinética de um medicamento: Meia-vida (T1/2) - Tempo necessário para que a concentração plasmática de determinado fármaco seja reduzida pela metade. Dose de ataque– Dose inicial elevada de determinado fármaco, com o objetivo de atingir rapidamente uma concentração efetiva. Dose de manutenção – Dose necessária para que se mantenha uma concentração plasmática média constante e efetiva (steady state). Steady state ou estado de equilíbrio estável – Ponto em que a taxa de eliminação do fármaco é igual à sua taxa de absorção. Ou seja, quando o fármaco encontra-se em “concentração plasmática média constante”. - Em geral, alcançada após o período de 4 a 6 “meias-vidas”. Pico de concentração plasmática – Concentração plasmática máxima atingida pelo fármaco após a administração oral. Curva de concentração plasmática – Gráfico em que se relaciona a concentração plasmática do fármaco e o tempo decorrido após a administração. 1- EV 2 – IM 3- retal 4- oral Período de latência – tempo desde a administração do fármaco até o surgimento dos primeiros sinais de seus efeitos. Duração de ação – tempo decorrido desde o surgimento dos primeiros sinais de ação do fármaco até o seu desaparecimento. Índice terapêutico (IT) - comparação entre a dose tóxica e a dose terapêutica de uma substância. IT baixo significa que a dose terapêutica é muito próxima da dose tóxica, portanto, a droga é insegura. (Ex. Digoxina tem IT baixo, enquanto o paracetamol, possui IT extremamente elevado. Em outras palavras, para o paracetamol causar efeitos tóxicos, normalmente é necessário superar a dose terapêutica dele em diversas vezes, mas a digoxina pode ser fatal, com um pequeno incremento na sua dose usual.). Tempo 1 2 3 4 Farmacologia Principais formas farmacêuticas
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