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Apostila DIR AMBIENTAL 1 Parte Rev 08 15

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DIREITO AMBIENTAL – Apostila Esquematizada 
 
Prof. Raimundo Sérvulo Lourido Barreto1 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. Introdução ao direito ambiental 
 
2. Conceito de direito ambiental. 
 
3. Princípios relativos ao direito ambiental 
 
Princípio do meio ambiente equilibrado como um direito humano fundamental, Princípio 
da prevenção e da Precaução, Princípio democrático, Princípio do desenvolvimento 
sustentável, Princípio da responsabilidade, Princípio do equilíbrio, Princípio da 
cooperação, Princípio do limite, Princípio do poluidor-pagador. 
 
4. Tutela Constitucional do Meio Ambiente 
4.1 – O Art. 225 da Constituição Federal 
4.2 - Da significação geral dos enunciados 
 
5. Da Repartição de competências 
 
6. Política Nacional do Meio Ambiente 
6.1 – Da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA – Lei Federal nº 6.938/1981 
6.2 – Princípios e objetivos da PNMA 
6.3 – Do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA 
6.4 – Dos Instrumentos da PNMA 
 
7. Responsabilidade e dano ambiental: 
7.1 - Conceito e previsão legal 
7.2 – Responsabilidade civil ambiental 
7.3 – Possibilidade ou não de excludentes 
7.4 – Possibilidade de condenação por dano moral 
 
 
1
 Defensor Público. Mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas – UEA. 
1. Introdução ao Direito Ambiental. 
 
- É uma certeza afirmar que o meio ambiente (os recursos naturais) vem 
sofrendo a ação depredadora do homem há milênios, mas nunca esteve tão ameaçada 
como nas últimas décadas, paradoxalmente quando a agressão ao meio ambiente já 
não se vem dando em razão de desconhecimento dos seus malefícios, mas, na maioria 
das vezes, de forma preordenada e consciente2. 
- Vivemos em uma sociedade de risco? O surgimento da sociedade de 
risco designa um estágio da modernidade no qual começam a tomar corpo as ameaças 
produzidas até então pelo modelo econômico da sociedade industrial. A Teoria da 
Sociedade de Risco – característica da fase seguinte ao período industrial clássico, 
representa a tomada de consciência do esgotamento do modelo de produção, sendo 
esta marcada pelo risco permanente de desastres e catástrofes.3 
- Acrescente-se o uso do bem ambiental de forma ilimitada, pela 
apropriação, a expansão demográfica, a mercantilização, o capitalismo predatório – 
esses são alguns dos elementos que conduzem a sociedade atual a situações de 
periculosidade.4 
- Sociedade de risco e ambiente: Giddens, diz que o risco é a expressão 
característica de sociedades que se organizam sob a ênfase da inovação, da mudança 
e da ousadia. Questiona-se a própria prudência e cautela da ciência em lidar com as 
inovações tecnológicas e ambientais, que, mesmo trazendo benefícios, estão causando 
riscos sociais não mensuráveis. 
- Direito e sociedade de risco: O certo é que as situações de risco e 
perigo conduz a pensar o meio ambiente de forma diferente, superando o modelo 
jurídico tradicional. Assim, o RISCO, HOJE, é um dos maiores problemas enfrentados 
quando se objetiva uma efetiva proteção jurídica do meio ambiente. 
- Os institutos que caracterizam o Direito Ambiental no Brasil, sem dúvida 
alguma, têm uma influência forte e direta das respostas que a Sociedade Internacional 
deu aos problemas ambientais percebidos, sobretudo, pelos países desenvolvidos, 
como por ex., a poluição e degradações do meio ambiente que se expressaram pela 
constatação do buraco da camada de ozônio, chuvas ácidas, efeito estufa, dentre 
outros, os quais se agravaram, sobretudo após a década de 1960. 
- Por fim, a contribuição doutrinária que embasou o reconhecimento de 
um novo sub-ramo do Direito Internacional Público denominado Direito Internacional do 
Ambiente, para mencionar os principais aspectos. Por isso, para uma visão que 
privilegie as origens dos institutos do Direito Ambiental, é imprescindível conhecer, 
como dito, o que a Sociedade Internacional formulou direta ou indiretamente ao dar 
 
2
 Desde os primórdios da civilização, o meio ambiente, por meio de seus recursos naturais, sempre se constituiu e 
ainda se constitui como a principal fonte de matéria prima para o desenvolvimento da humanidade. Ou seja, o 
homem sempre buscou na natureza os meios de prover a sua subsistência, em todos os aspectos. 
3
 Estudos afirmam que a relação entre o crescimento populacional e o uso de recursos do planeta já ultrapassou em 
20% a capacidade de reposição da biosfera e esse déficit aumenta cerca de 2,5% ao ano. Isso quer dizer que a 
diversidade biológica está sendo destruída muito mais rápido do que está sendo reposta e esse desequilíbrio está 
crescendo. As florestas tropicais, responsáveis pela maior parte dessa biodiversidade, são destruídas ao ritmo de 
130 mil km2 por ano. Essa perda afeta gravemente os serviços naturais (ciclos e processos responsáveis pelo 
equilíbrio da natureza), como o regime hidrológico, a fertilidade natural do solo, a temperatura da terra. 
4
 A urbanização do planeta também tem gerado debates e preocupações. Nos últimos 50 anos, a velocidade e a 
escala com que a população urbana cresceu, principalmente em regiões menos desenvolvidas, geraram grandes 
desafios à sustentabilidade das cidades. Em parte, essa mudança é atribuída ao fenômeno da migração, que 
provocou grande crescimento nas zonas urbanas de países subdesenvolvidos. A rapidez do crescimento dessas 
áreas nas últimas décadas gerou problemas como a falta de saneamento apropriado e a ocupação urbana irregular. 
atenção na agenda internacional às questões ambientais globais e às formulações que 
a doutrina internacional ambiental construiu. 
- No direito interno, o arcabouço legal foi construído ao longo das duas 
últimas décadas, mais precisamente, a partir da Lei nº 6.938/81 (Lei da Política 
Nacional do Meio Ambiente), em seguida veio a Lei nº 7.347/85 (Ação Civil Pública), e 
finalmente, com o advento da CF/88, um Capítulo dedicado ao Meio Ambiente marcou 
definitivamente a inserção da tutela ambiental no ordenamento jurídico pátrio, pois que 
impôs como obrigação da sociedade e do próprio Estado, a preservação e defesa do 
Meio Ambiente. Recepcionando algumas normas ambientais já existentes e, por outro 
lado, prevendo a elaboração de outras normas infraconstitucionais, a CF de 1988, 
estabeleceu um novo ramo no direito, qual seja o Direito Ambiental - que visa tutelar o 
ambiente em todas as suas formas com vistas a proporcionar vida digna (proteção da 
vida sadia, a qual depende de um ambiente ecologicamente equilibrado) às presentes 
e futuras gerações.5 
- O presente material de apoio abordar de forma objetiva e 
esquematizada os fundamentos do direito ambiental, através de uma breve evolução 
histórica do surgimento do tema no mundo, da análise dos princípios relativos ao direito 
ambiental, a análise dos dispositivos da Constituição Federal relacionados à tutela 
ambiental e a repartição de competências em matéria ambiental, além da análise 
genérica sobre a lei da política nacional do meio ambiente, a discussão sobre 
responsabilidade e dano ambiental, além da análise de dispositivos das legislações 
ambientais mais relevantes. 
 
1.1. As tragédias internacionais como alerta - Sem dúvida, as 
tragédias serviram de substrato inicial para o desenvolvimento da preocupação com o 
meio ambiente. A soma de tais acontecimentos trágicos (hoje chamados de desastres 
ecológicos, acidentes ambientais, catástrofes ecológicas), confluiu num certo momento 
histórico para uma chamada de atenção especial para se cuidar da vida humana e do 
meio que a abrigava. 
- A publicação do livro "Primavera Silenciosa", de Rachel Carson (1962), 
foi a primeira obra a detalhar os efeitos adversos da utilização dos pesticidas e 
inseticidas químicos sintéticos, iniciando o debateacerca das implicações da atividade 
humana sobre o ambiente e o custo ambiental dessa contaminação para a sociedade 
humana. A autora advertia para o fato de que a utilização de produtos químicos para 
controlar pragas e doenças estava interferindo com as defesas naturais do próprio 
ambiente natural e acrescentava: "nos permitimos que esses produtos químicos 
fossem utilizados com pouca ou nenhuma pesquisa prévia sobre seu efeito no solo, na 
água, animais selvagens e sobre o próprio homem. Tal obra tornou-se um best seller 
em 1970, como um dos livros que sintetizavam com rara agudez, os problemas 
ambientais decorrentes do uso dos agrotóxicos. 
- Relatório do Clube de Roma: "OS LIMITES DO CRESCIMENTO" - "Nele 
se mostra que o crescimento exponencial da economia moderna acarreta como 
conseqüência necessária, num espaço de tempo historicamente curto, uma catástrofe 
dos fundamentos naturais da vida. O consumo voraz de recursos e a emissão 
 
5
 ANTUNES, Paulo de Bessa (1996), assevera que quanto ao meio ambiente, a legislação veio a se desenvolver 
depois da Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Estocolmo-1972), quando a 
participação brasileira foi intensamente criticada, desencadeando a criação da Secretaria Especial do Meio 
Ambiente e posteriormente a concretização de algumas normas. 
 Declarações Internacionais – constituem importantes métodos de aperfeiçoar novos conceitos e princípios gerais 
e, quando adotados, passam a influenciar e servir de orientação geral aos Estados e nas suas políticas ambientais, 
bem como a dar formulação ao direito. 
desenfreada de poluentes colocam em xeque a sobrevivência da humanidade. Fazia 
previsões catastróficas, se mantida a forma de lidar com os recursos naturais. Tal 
publicação, uma síntese da situação econômico-ambiental, ensejou a formação de 
duas correntes, as quais vão ser conciliadas apenas mais tarde. Uma delas, os que 
eram partidários do crescimento zero, tinha um matiz grande de defensores. Os mais 
radicais pregavam a intocabilidade dos recursos naturais.6 No pólo oposto, estão os 
que desprezaram a idéia do crescimento zero, por inaplicável, apregoando que o 
desenvolvimento é a solução (grupo dos desenvolvimentista) e o homem sempre 
achará uma alternativa no caso de falta destes recursos. 
* Problemas mais dos ricos que dos pobres? 
- Os problemas comuns da Sociedade Internacional, na verdade, até hoje, 
refletem problemas causados pelos países desenvolvidos, os quais, fincados na 
revolução industrial, sempre mantiveram a liderança da expansão do Capitalismo, sem 
grandes preocupações, até então, com as conseqüências ambientais desta corrida 
econômica. Nos países de economia planificada (socialista), a situação não era 
diferente, embora, por muitos anos, mantida a divulgação sob censura. Como 
conseqüência desse desenvolvimento a qualquer custo, podemos citar os seguintes 
fenômenos negativos: 
a) chuva ácida - Contaminação da atmosfera devido à presença no ar de 
compostos de enxofre provenientes das indústrias e dos centros urbanos, 
especialmente dos veículos. O fenômeno não é novo, foi detectado em Manchester, na 
Inglaterra, no século passado e o termo foi criado pelo químico Roberto Angus Smith. 
O que é novo foi sua constatação como um problema internacional. E um tipo de 
poluição atmosférica de longa distância. A chuva, neve ou neblina com alta 
concentração de ácidos em sua composição, conhecida como chuva ácida, é um dos 
grandes problemas ambientais do mundo contemporâneo. O óxido de nitrogênio (NO) e 
os dióxidos de enxofre (SO2), principais componentes da chuva ácida, são liberados 
com a queima de carvão e óleo, fontes de energia que movem diversas economias no 
planeta.7 
b) efeito estufa - Aquecimento da Terra causado pela concentração de 
gás carbônico na atmosfera, provocado pela queima de combustíveis fósseis. Provoca 
secas, enchentes, desertificação e subida do nível dos mares. Dentre os gases, os 
principais são o CO2, produzido pela queimada de florestas e pela combustão de 
produtos como carvão, petróleo e gás natural; o óxido nitroso, gerado pela atividade 
das bactérias do solo; e o metano, produzido pela decomposição de matérias 
orgânicas. A forma como o efeito estufa se manifestará no futuro ainda é imprevisível. 
A longo prazo, o superaquecimento do planeta pode causar problemas ambientais 
como tufões, furacões e enchentes, em conseqüência do derretimento das geleiras e 
do aumento da evaporação da água. Deve atingir também a fauna, pois algumas 
espécies de animais não se adaptam a temperaturas elevadas, além de comprometer 
ecossistemas, especialmente mangues, mais sensíveis a alterações do nível do mar. 
c) buraco na camada de ozônio - Situada na estratosfera, entre 20-35 km 
de altitude, a camada de ozônio tem certa de 15 km de espessura, sendo crucial para o 
 
6
 Parte destas idéias subsistem com as Ongs, geralmente internacionais, que apregoam, por exemplo, a 
intocabilidade da floresta amazônica e, para tanto, repetem o bordão de que este ecossistema representa o pulmão 
do mundo; é o patrimônio comum da humanidade, detém a maior biodiversidade do mundo, induzindo a idéia de 
intocabilidade deste recurso natural. Neste bloco situam-se os conservacionistas ou preservacionistas. 
7
 Os efeitos observados vão desde a destruição da vegetação, até danos causados nos edifícios e monumentos 
(dissolução do calcário), mas inclui a acidificação de rios e, sobretudo lagos, causando a morte de peixes. Em 
termos econômicos, os efeitos da chuva ácida em florestas, culturas e edifícios do Reino Unido foram estimados em 
4.500 milhões de euros/ano e na Alemanha esse valor supera 7.250 milhões de euros. Percebeu-se claramente o 
fenômeno da poluição transfronteiriça, donde a frase de que "a poluição não tem fronteiras". 
desenvolvimento da vida na terra. Composta de um gás rarefeito, formado por 
moléculas de três átomo de oxigênio - o ozônio -, impede a passagem de parte da 
radiação ultra violeta emitida pelo Sol. A agressão à camada de ozônio interfere no 
equilíbrio ambiental e na saúde humana e animal. Sem sua proteção, diminui a 
capacidade de fotossíntese nas plantas e aumenta o risco do desenvolvimento de 
doenças como o câncer de pele. Pode ter efeito mutagênico (alteração do código 
genético) e teratogênico (aparecimento de deformações), podendo levar até mesmo à 
morte. Efeitos em desordens oculares.8 
d) as mudanças climáticas globais - A principal causa ainda é a queima 
de combustíveis fósseis oriundos das atividades antropogênicas. Os estudo mais 
importantes sobre o clima envolvem a questão do aquecimento da Terra. O 
desmatamento e a emissão de gases têm provocado alterações no clima mundial, e é 
possível que a temperatura do planeta aumente 3,5º no século XXI de acordo com 
especialistas da ONU. O aquecimento deve causar mudanças no regime normal da 
seca e chuva em algumas regiões e afetar sobretudo as áreas dos pólos. Na Antártica, 
o maior reservatório de água doce da Terra, já se observam indícios de crescimento do 
degelo. O derretimento do gelo poderá elevar o nível dos oceanos. 
 
1.2. As respostas da Sociedade Internacional: 
a) Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente humano 
(CNUMAH) – Estocolmo (Suécia/1972) – Evento de grande importância para a 
humanidade, já que formalmente, esta Conferência apontou a reação da Comunidade 
internacional aos problemas ambientais. De formulações, estudos, buscas, discursos, 
passou-se à prática. Os países tinham que agir e rapidamente. Uma das alternativas da 
ONU foi exatamente convocar os países a perceberem a situação do meio ambiente no 
mundo e quais ações seriam necessárias, a partir daí, visando a recuperação do dano 
quando fosse possível,a prevenção e em que áreas necessitaria revisão das posturas 
mundiais. A Conferência de Estocolmo foi o grande divisor de águas. Contendo 26 
princípios, ela veio acompanhada de um plano de ação composto de 109 resoluções. 
As nações passaram a compreender que nenhum esforço, isoladamente, seria capaz 
de solucionar os problemas ambientais do Planeta. As principais conseqüências deste 
evento foram: 
a.1) Escolha do dia mundial do meio ambiente(05 de junho) - Desde 
então, tal dia comemora-se, no mundo, um dia dedicado para ações, projetos e 
denúncias quanto a situação do meio ambiente. No Brasil, englobando este dia, foi 
instituída a Semana Nacional do Meio Ambiente, comemorada pelos Governos Federal, 
Estadual e Municipal e a sociedade civil. 
a.2) Programa das Nações Unidas para o meio ambiente (PNUMA) – 
Trata-se de apêndice da ONU, especializado a cuidar das questões ambientais a nível 
internacional e em parceria com os países. O PNUMA emite um relatório sobre o 
estado do meio ambiente no mundo, uma publicação que conta a situação dos diversos 
países no lidar com os vários recursos naturais. Também controla o transporte naval de 
substâncias químicas perigosas, além de ter vários projetos de rascunho de 
Convenções Multilaterais, Regionais e outras, para a defesa do meio ambiente. 
Promove o Direito Ambiental, no âmbito internacional e interno. Sua sede fica em 
Nairóbi (Quênia). 
 
8
 O impacto do CFC na camada de ozônio começou a ser observado em 1974 pelos químicos Frank Rowland e 
Manoel Molina, ganhadores do Prêmio Nobel de Química de 1995. Eles confirmaram que o CFC reage com o 
ozônio, reduzindo a incidência desse gás e, conseqüentemente, a espessura da camada. Na época, o CFC usado 
em propelentes de sprays, embalagens de plástico, chips de computador, solventes para a indústria eletrônica e, 
sobretudo, nos aparelhos de refrigeração, como geladeiras e sistemas de ar condicionado. 
a.3) Movimento ambientalista ( Ong’s e partidos verdes) – a partir de 
então o Movimento Ambientalista ganhou força no mundo inteiro, através da 
mobilização da Sociedade Civil, denunciando o risco do uso da energia nuclear e do 
dano generalizado ao meio ambiente. O braço político do movimento ambientalista, na 
década de 70, desembocou nos chamados Partidos Verdes, pois levantavam a defesa 
do verde e a busca da paz, em rejeição à guerra e à destruição ambiental. De outro 
lado, as Organizações não governamentais iniciaram uma luta, cuja preocupação era a 
da sociedade civil de muitos países europeus, temerosos da guerra fria e do mau uso 
dos recursos naturais. Com isso, ONG’s de âmbito mundial apareceram, das quais dois 
bons exemplos são: o Greenpeace e o WWF, que atuam no âmbito global, regional e 
local com muito ativismo. 
a.4) Declaração de Estocolmo - Documento final da CNUMAH, continha 
declarações convergentes, contudo, sem o caráter de obrigatoriedade jurídica, pois não 
se tratava de uma Convenção Internacional. Quando muito, pode-se colocar tal 
documento como um "Protocolo de Intenções" ou de boa vontade, dos países 
signatários que participaram do evento. Entretanto, a partir desta Declaração, surgiu na 
doutrina a expressão soft- law ( direito suave, direito verde, direito leve, quase-direito ), 
para designar tanto as Resoluções como os Princípios extraídos desta Declaração. De 
fato, não tem caráter obrigatório juridicamente, mas ensejou que os países buscassem 
viabilizar o que ali continha e, sobretudo, as ONGs tiraram dali sua principal bandeira 
para, voltando aos países de origem, os militantes exigirem a construção de uma 
legislação e de mecanismos de proteção administrativos e utilização racional do meio 
ambiente. 
a.5) Princípios relativos ao meio ambiente e surgimento do direito 
internacional do meio ambiente ( 26 Princípios e 109 Resoluções) - Da Declaração de 
Estocolmo, a doutrina extrai princípios básicos que informam tanto do direito interno de 
muitos países, como também o novel ramo do Direito Internacional Público, o Direito 
Internacional do Meio Ambiente. Assim, suscintamente, pode-se mencionar o Princípio 
do Direito ao Meio Ambiente equilibrado como um Direito Humano Fundamental, junto 
com os demais direitos fundamentais. Extrai-se o Princípio da Prevenção, o Princípio 
da Responsabilidade Inter-Gerações, dentre outros. 
* Destaque dentre os princípios oriundos da Conferência de Estocolmo a 
QUALIDADE DO MEIO AMBIENTE COMO UM DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL. 
Ou seja, a percepção imediata de que o direito à vida e à saúde, suporte da vida, se 
concretizam num substrato, numa base, qual seja, o meio ambiente. Assim, a 
viabilização da vida e sua continuidade se dará num meio ambiente saudável, 
equilibrado, bem cuidado. Alguns doutrinadores colocam tal princípio, tomando como 
base Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, como um direito de terceira 
geração (Direito de Fraternidade) e outras vezes, como um direito de solidariedade. 
Outros doutrinadores separam o direito da fraternidade do direito da solidariedade, 
colocando neste último o direito ao meio ambiente equilibrado como um direito de 
quarta geração. O relevante é que a doutrina já inclui tal direito no mesmo patamar que 
os outros direitos fundamentais da pessoa humana. 
b) Relatório BRUNDTLAND: "O NOSSO FUTURO COMUM" - As relações 
injustas da humanidade entre ricos de um lado e pobres de outro, geravam a poluição. 
Para alguns, a pior poluição era a pobreza. A questão demográfica também foi 
levantada. Aqui, aparece a utilização oficial da expressão "desenvolvimento 
sustentável". A cooperação internacional na área ambiental é enfatizada, sobretudo, 
esperando-se dos países desenvolvidos um papel de financiamento e apoio para o 
conhecimento e uso de tecnologias limpas para os países em desenvolvimento. Há 
uma reafirmação da quebra de um paradigma: os recursos naturais não são 
inesgotáveis, ou seja, os recursos naturais são finitos. Alguns fazem referência ao 
slogan "Pensar globalmente e agir localmente". 
c) Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e 
Desenvolvimento (CNUMAD) – Rio de Janeiro/1992 (Eco-92) - Foi registrada a 
presença de delegações nacionais de 175 países, sem contar os eventos paralelos 
promovidos pelas Organizações Não Governamentais. Do evento resultaram: 
c.1) Consolidação da idéia de Desenvolvimento Sustentável - A utilização 
oficial em documento oficial deu-se no Relatório Brundtland, publicado com o título "O 
Nosso Futuro Comum". Na realidade, tal expressão promoveu a reconciliação de duas 
correntes: os desenvolvimentistas, defensores da continuidade da exploração 
econômica tal qual vinha sendo feita desde a Revolução Industrial, como se os 
recursos naturais fossem inesgotáveis e de outro lado, dos Preservacionistas ou 
Conservacionistas, defensores de uma espécie de moratória do uso dos recursos 
naturais (economicamente concretizado na idéia do Crescimento Zero). Na Rio/92, 
então, consagra-se o Princípio do Desenvolvimento Sustentável, a partir daí, o 
Princípio e a idéia que move a visão internacional e interna da maioria dos países 
quanto ao lidar com a questão ambiental. A partir de então, é de se observar que os 
eventos mundiais tomam como base, exatamente, o Desenvolvimento Sustentável 
aclamado na ECO/92 e todo encontro mundial sobre o tema, a partir de então, 
denomina-se Rio + 5 (avaliação cinco anos depois ); Rio + 10, de novo, no mesmo 
sentido, 10 anos após a ECO/92 fez-se a Cúpula do Desenvolvimento Sustentável em 
Joahnesburgo, para avaliar sua aplicação pelos países. 
c.2) Criação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável - Houve a 
necessidade de se acompanhar, junto à sede da ONU, os Tratados Internacionais e as 
ações que promovessem o Desenvolvimento Sustentável. Para tanto, sem esvaziar o 
papel do PNUMA, cuja sede é no Quênia, constituiu-seuma Comissão sobre o 
Desenvolvimento Sustentável que, dentre suas atividades, está a de acompanhar o 
cumprimento deste Princípio dentro dos Tratados Internacionais firmados entre os 
países. 
c.3) Elaboração da Agenda 21 Mundial - Tal documento, especificamente 
AGENDA 21, foi produzido na CNUMAD, visando o planejamento de um conjunto de 
ações mundiais que garantissem metas para o Desenvolvimento Sustentável até o 
século XXI e envolvesse tanto os governos, organizações internacionais, organizações 
não governamentais e a sociedade civil dos países. Para tanto, partindo-se da Agenda 
21 Mundial, cada país deveria elaborar a sua própria agenda, adaptando-a, a partir de 
sua construção, à realidade local. Na realidade, a Agenda é o instrumento de 
planejamento, cujo compromisso básico foi elaborá-la para possibilitar o envolvimento 
dos vários níveis governamentais com a sociedade civil. 
c.4) Declaração do Rio (27 princípios) - Assim como em Estocolmo, no 
Rio produziu-se a Declaração do Rio, a qual, mesmo não sendo de caráter obrigatório, 
proclamou Resoluções e Princípios, ora repetindo, ratificando, ora ampliando o alcance 
de muitas visões apontadas na CNUMAH/72. 
c.5) Convenções/Tratados internacionais multilaterais: Convenção sobre a 
Biodiversidade e Convenções sobre as mudanças climáticas globais - Um dos anseios 
da Comunidade internacional, era ter instrumentos com obrigatoriedade jurídica, além 
das Convenções Regionais, que envolvessem ações globais de proteção do meio 
ambiente. Na Rio/92 duas Convenções Multilaterais Mundiais foram assinadas: A 
Convenção-Quadro sobre as Mudanças Climáticas Globais (da qual decorreu, mais 
tarde,o Protocolo de Montreal (camada de Ozônio) e o Protocolo de Kyoto ( sobre 
gases de efeito estufa ) e a Convenção sobre a diversidade Biológica, mais conhecida 
como Convenção sobre a Biodiversidade. Houve uma expressiva gama de assinaturas. 
Entretanto, do ponto de vista do Direito Internacional, a obrigatoriedade de uma 
Convenção ou Tratado internacional, decorre da ratificação e sua respectiva 
incorporação no direito interno. Neste aspecto, sua entrada em vigor internacional 
exige um número mínimo de ratificações, o que ensejou uma demora grande na 
entrada em vigor de ambas as Convenções. O Brasil assinou e ratificou ambas as 
Convenções, as quais já estão em vigor e, internamente, já são instrumentos legais 
obrigatórios no Ordenamento Jurídico brasileiro. 
d) Um novo ramo do direito: O DIREITO INTERNACIONAL DO 
AMBIENTE - O reconhecimento de um conjunto de institutos que regulam as relações 
internacionais no âmbito jurídico quanto ao tema meio ambiente, fizeram perceber que 
havia um material substancial para se formular uma teoria que abarcasse o tema, sem, 
contudo, significar um "novo direito". Antes de formuladas um corpo teórico que 
explicasse o fenômeno, principalmente pela forma como surgiu (o inestimável papel 
das ONG’s e a existência do que se convencionou chamar ("soft law"), pareceu, à 
leitura apressada, que, de fato, havia um novo ramo do direito. Isto porque era, em 
grande parte, divulgado e conhecido por organizações privadas extremamente 
atuantes, sem vínculos governamentais (cuja posição como sujeito de direito 
internacional não se lhes reconhece ) e embasado em disposições de caráter mais 
moral, programático, ideal do que normativo internacional. 
* Assentada a poeira dessa situação, viu-se que as obrigações entre 
países só seriam plenamente exigíveis dentro do quadro do direito internacional 
clássico (pelos tratados multilaterais, pelo costume e pela participação do sujeito 
Estado e do sujeito Organizações Internacionais), além da participação imprescindível 
institucional das Organizações Internacionais. Dado o caráter clássico citado, é de se 
reconhecer que existe um Direito Internacional do Ambiente (ou, alternativamente, 
Direito Internacional do Meio Ambiente ou Direito Internacional Ambiental). 
* DEFINIÇÃO: "conjunto de regras e princípios que criam obrigações e 
direito de natureza ambiental para os Estados, as organizações intergovernamentais e 
os indivíduos". 
* Quanto aos SUJEITOS, a definição já os elenca, ou seja, os Estados 
(países), as Organizações Internacionais e o indivíduo. Quanto aos Estados, aplica-se 
a teoria geral do Direito Internacional Público (DIP). As Organizações Internacionais, 
dentro do DIP, são aquelas formadas por sujeitos do direito internacional: ora o Estado, 
ora as Organizações Internacionais, ora ambos. As Organizações Intergovernamentais 
são as que abrigam somente Estados em sua composição. Haverá casos, no entanto, 
que estarão num mesmo Tratado Constituinte, Estados e Organizações Internacionais. 
Mesmo quando se pensa em blocos (MERCOSUL, NAFTA, UNIÃO EUROPÉIA, etc.), 
são estes tipicamente organizações internacionais, vinculadas ao Tratado que as 
constituiu. O papel do Indivíduo como sujeito, ainda espera uma melhor densidade. No 
entanto, partindo-se da idéia de que dentro dos DIREITOS HUMANOS o indivíduo tem 
tal subjetividade e, reconhecendo-se o DIREITO AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO 
um DIREITO HUMANO FUNDAMENTAL, este sujeito tem um papel importante a 
desempenhar. Outras ainda especulam na possibilidade da própria HUMANIDADE ser 
sujeito do direito internacional, dado os interesses relevantes para sua preservação e 
sobrevivência, que estaria acima do direito individual ou do direito de um Estado ou 
poucos Estados. 
2. Conceito de direito ambiental. 
 
- Conceituar direito ambiental não é tarefa fácil, de qualquer forma, 
elencamos aqui as definições de doutrinadores importantes do direito pátrio, no sentido 
de demonstrar a interdisciplinaridade do tema. 
- “O conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos organicamente 
estruturados para assegurar um comportamento que não atente contra a sanidade 
mínima do meio ambiente.” (Sérgio Ferraz). 
- “Conjunto de técnicas, regras e instrumentos jurídicos sistematizados e 
informados por princípios apropriados que tenham por fim a disciplina do 
comportamento relacionado ao meio ambiente” (Diogo Figueiredo Moreira Neto). 
- “Conjunto de normas e princípios editados objetivando a manutenção do 
perfeito equilíbrio nas relações do homem com o meio ambiente” (Tycho Brahe 
Fernando Neto). 
- “O complexo de princípios e normas reguladores das atividades 
humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua 
dimensão global, visando a sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações” 
(Edis Milaré). 
- Para o Professor Paulo Affonso Leme Machado, direito ambiental é um 
direito de proteção à natureza e à vida, dotado de instrumento peculiares que se 
projetam em diversas áreas do direito, sobretudo, no direito administrativo. 
- Para Paulo de Bessa de Antunes, o direito ambiental pode ser definido 
como um direito que tem por finalidade regular a apropriação econômica dos bens 
ambientais, de forma que ela se faça levando em consideração a sustentabilidade dos 
recursos, o desenvolvimento econômico e social, assegurando aos interessados a 
participação nas diretrizes a serem adotadas, bem como padrões adequados de saúde 
e renda. 
- Para o referido autor, esse direito se desdobra em três vertentes: direito 
ao meio ambiente, direito sobre o meio ambiente e direito do meio ambiente. Tais 
vertentes existem, na medida em que o direito ao meio ambiente é um direito humano 
fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, 
ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais.9 
 
9
 Mais do que um ramo autônomo do direito, o direito ambiental é uma concepção de aplicação da ordem jurídica 
que penetra, transversalmente, em todos os ramos do direito. O direito ambiental tem uma dimensão humana, uma 
dimensão ecológica e uma dimensãoeconômica que devem ser compreendidas harmonicamente. Evidentemente 
que, a cada nova intervenção humana sobre o ambiente, o aplicador do direito ambiental deve ter a capacidade de 
captar os diferentes pontos de tensão entre as três dimensões e verificar, no caso concreto, qual delas é a que está 
mais precisando de tutela em um dado momento. (In Direito ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 8.). 
3. Princípios relativos ao direito ambiental. 
 
- Nosso estudo deve começar pela observação fundamental de que toda 
forma de conhecimento filosófico ou científico implica a existência de princípios, isto é, 
de certos enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das 
demais asserções que compõem dado campo do saber. (REALE, Miguel). 
- Princípios são os mandamentos básicos e fundamentais nos quais se 
alicerça uma ciência. São as diretrizes que orientam uma ciência e dão subsídios à 
aplicação das suas normas. Em uma interpretação entre a validade de duas normas, 
prevalece aquela que está de acordo com os princípios da ciência.10 
- A relação do Direito Ambiental com os demais ramos do Direito é uma 
relação transversal, isto é, as normas ambientais tendem a se incrustar em cada um 
dos demais ramos do Direito. O Direito Ambiental penetra em todos os demais ramos 
da Ciência Jurídica. 
- Para se formular uma política ambiental com justiça ambiental, é 
necessário que o Estado se guie por princípios que vão se formando a partir da 
sedimentação das complexas questões suscitadas pela crise ambiental. 
“Os princípios têm avultado como verdadeiras normas de conduta, e não 
meramente como diretrizes hermenêuticas, realçando-se, hodiernamente, a 
distinção entre regras jurídicas e princípios jurídicos, sendo ambos normas 
jurídicas (processo de juridicização). Despertou-se, por assim dizer, para o 
fato de que os princípios jurídicos – escritos ou implícitos – representam 
as bases sobre as quais o direito se constrói e das quais ele deriva (as 
regras jurídicas, inclusive, seriam concreção dos princípios), ou dito de 
outro modo, os elementos fundamentais que inspiram o sistema jurídico e 
que, portanto, devem funcionar como orientadores preferenciais de 
interpretação, da aplicação e da integração normativa, com o consequente 
afastamento de uma postura mais legalista” (TRF 5ª Região, Agravo Regimental 
em Suspensão de Liminar n. 3557/02 – PE, Pleno, j. 21.09.2005, Relator 
Desembargador Federal Francisco Cavalcante). 
 
“O sistema jurídico de proteção ao meio ambiente, disciplinado em normas 
constitucionais (CF, art. 225, §3º) e infraconstitucionais (Lei 6.938/81, arts. 
2º e 4º), está fundado, entre outros, nos princípios da prevenção, do 
poluidor-pagador e da reparação integral. Deles decorrem, para os 
destinatários (Estado e comunidade), deveres e obrigações de variada 
natureza, comportando prestações pessoais, positivas e negativas (fazer e 
não fazer), bem como de pagar quantia (indenização dos danos 
insuscetíveis de recomposição in natura), prestações essas que não se 
excluem, mas, pelo contrário, se cumulam, se for o caso” (STJ. REsp 605323, 
j. 18.08.05, Rel. Min. José Delgado). 
 
 
 
10
 Os princípios, cuja função sistematizadora do ordenamento jurídico é evidente, exercem primazia formal e material 
sobre as regras jurídicas, impondo padrões e limites à ordem jurídica vigente. In THOMÉ, Romeu. Manual de Direito 
Ambiental. Salvador: Jus Podivm, 2011, p.58. 
3.1. Princípio do meio ambiente equilibrado como um direito humano 
fundamental. 
 - O homem tem o direito ao ambiente ecologicamente equilibrado, pois 
havendo o desequilíbrio ecológico, está em risco a própria vida humana. Todos os 
demais princípios decorrem deste. Colocado por alguns como direitos de terceira 
geração ou dimensão, dentro dos chamados Direitos de Solidariedade/Fraternidade.11 
 - Do ponto de vista do direito interno, o mais relevante reconhecimento 
deste princípio está no caput do artigo 225 da CF/88. Tal direito vai além do cidadão 
brasileiro, para alcançar o estrangeiro (residente ou em trânsito). Fundamentalmente, 
seu significado coloca tal direito como qualquer outro direito humano fundamental, 
possibilitando inseri-lo numa sistemática interna e internacional de proteção, numa 
aplicação livre e ampla. Este é um dos princípios que a doutrina tem dado ênfase, 
mormente porque ele possibilita a ligação entre o Direito Ambiental e os Direitos 
Humanos. Denominado Princípio do Direito Humano, dentre outros. Seu alcance é 
global. 
 - Já se julgou, inclusive, que: “Um meio ambiente sadio e ecologicamente 
equilibrado representa um bem e interesse transindividual, garantido 
constitucionalmente a todos, estando acima de interesses privados.” (TRF 4ª Região, 
Apelação Cível n. 199804010096842/SC, j. 18.12.02, Rel. Desdor. Federal Joel Ilan Paciornik). 
- O STF também já se posicionou no sentido de que o direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado é direito da coletividade, portanto, de terceira 
geração. 
“O direito à integridade do meio ambiente – típico direito de terceira 
geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, 
dentro do processo de afirmação de direitos humanos, a expressão 
significativa de um poder atribuído, não a indivíduo identificado em sua 
singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à 
própria coletividade social.” (MS – 22.164-0/SP, Rel. Min. Celso de Mello). 
 - O direito a um meio ambiente equilibrado está intimamente ligado ao 
direito fundamental à vida e à proteção da dignidade da vida humana, garantindo, 
sobretudo, condições adequadas de qualidade de vida, protegendo a todos contra os 
abusos ambientais de qualquer natureza. Como salienta Édis Milaré, o reconhecimento 
do direito a um meio ambiente sadio configura-se como extensão do direito à vida, quer 
sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao 
aspecto da dignidade desta existência – a qualidade de vida -, que faz com que valha a 
pena viver.12 
 
3.2. Princípio da Prevenção e da Precaução. 
 - Evitar a incidência de danos ambientais é melhor que remediá-los, uma 
vez que as seqüelas de um dano ao meio ambiente muitas vezes são graves e 
irreversíveis, sendo justamente isso que os princípios da prevenção e precaução 
buscam evitar. 
 
11
 Os direitos de 1ª geração são aqueles de cunho negativo, ou seja, uma conduta não positiva do Estado, visando 
resguardar os direitos fundamentais ligados à liberdade, à vida e à propriedade. Já os direitos de 2ª geração 
possuem status positivo, ou seja, demandam comportamento ativo do Estado, visando à realização da justiça social, 
quais sejam, os direitos sociais, culturais e econômicos. Na terceira geração estariam presentes os direitos de 
fraternidade e solidariedade, de caráter altmente humano e universal. Tais direitos fundamentais não têm por 
objetivo a proteção de interesses individuais, mas sim do próprio gênero humano. A titularidade dos direitos de 
terceira geração é coletiva, por vezes indefinida e indeterminada. 
12
 In THOMÉ, Romeu. Manual de Direito Ambiental. Salvador: Jus Podivm, 2001, p.58. 
 - Prevenção – quando se constata, previamente, a dificuldade ou a 
impossibilidade da reparação ambiental, ou seja, consumado o dano ambiental, sua 
reparação é sempre incerta ou onerosa. A possibilidade do resultado é o que 
caracteriza o princípio da prevenção. Assim, procura-se evitar o risco de uma atividade 
sabidamente danosa e evitar efeitos nocivos ao meio ambiente.13 
 - Precaução – aplica-se àqueles casos em que o perigo é abstrato, de um 
estado de perigo em potencial, onde existam evidências que levem a considerar uma 
determinada atividade perigosa.14 O princípioda precaução consiste em evitar que 
medidas de proteção sejam adiadas em razão da incerteza que circundam os eventuais 
danos ambientais.15 
 - O princípio da precaução é considerado uma garantia contra os riscos 
potencias que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda 
identificados. Assim, no caso de ausência da certeza científica formal, a existência do 
risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam 
prever, minimizar e/ou evitar este dano. 
 - Portanto, a prevenção atua no sentido de inibir o risco de dano em 
potencial (atividades sabidamente perigosas), enquanto a precaução atua para inibir o 
risco de perigo potencial (ou seja, o dano em abstrato).16 
 - Assim já se manifestou a jurisprudência acerca da diferença entre os 
dois princípios: 
 “A tutela constitucional, que impõe ao Poder Público e a toda coletividade 
o dever de defender e preservar, para as presentes e futuras gerações, o 
meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade 
de vida, como direito difuso e fundamental, feito bem de uso comum do 
povo (art. 225, caput, CF), já instrumentaliza, em seus comandos 
normativos, o princípio da prevenção (pois uma vez que se possa prever 
que uma certa atividade possa ser danosa, ela deve ser evitada) e a 
consequente precaução (quando houver dúvida sobre o potencial 
deletério de uma determinada ação sobre o ambiente, toma-se a decisão 
mais conservadora, evitando-se a ação), exigindo-se, assim, na forma da 
lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de 
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto 
ambiental, a que se dará publicidade (art. 225, §1º, IV, CF).” (TRF 1ª Região, 
Agravo de Instrumento n. 200301000096950/DF, j. 06.12.04, Rel. Antônio de Souza 
Prudente). 
 
3.3. Princípio do equilíbrio ou da variável ambiental. 
 - Há que se levar em conta a variável ambiental em qualquer ação ou 
decisão - pública ou privada - que possa causar algum impacto negativo sobre o meio. 
Trata-se da necessidade de se analisar quais os prejuízos e impactos, e ao contrário, 
 
13
 Aqui se fala na certeza de ocorrência de um dano no futuro, se não forem obstaculizadas as causas, ou ainda, as 
consequências futuras de danos. 
14
 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patrick de Araújo. Direito Ambiental na sociedade de risco. Rio de Janeiro: 
Forense Universitária, 2002, p. 22. 
15
 A sua verificação fundamenta-se na dúvida, isto é, na incerteza técnica e científica. Contudo, em decorrência da 
gravidade e letalidade de alguns riscos, deve-se agir prontamente para proteger a coletividade. Este princípio foi 
proposto formalmente na Conferência da ONU, Rio-92 – Princípio 15 da Declaração do Rio 92 – “Com o fim de 
proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar amplamente o critério da precaução de acordo com suas 
capacidades. Quando haja perigo de dano grave e irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser 
utilizada como razão para postergar a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio ambiente”. 
16
 HAMMERSHMIDT, Denise. O risco na sociedade contemporânea e o princípio da precaução no direito ambiental. 
Revista de Direito Ambiental, ano 8, n. 31, 2003, São Paulo: RT, p. 147. 
quais os benefícios e ganhos que um empreendimento poderá acarretar ao meio 
ambiente. 
 - Este princípio representa a ponderação, a mensuração razoável dos 
efeitos da prática de qualquer ato que intervenha no meio ambiente, respeitando a 
manutenção das diversas ordens que compõem um ecossistema17 
“O direito a integridade do meio ambiente – típico direito de terceira 
geração – constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, 
dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão 
significativa de um poder atribuído, não ao indivíduo identificado em sua 
singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, a 
própria coletividade social.” (MS 22164/SP, Rel. Min. Celso de Mello, j. 30.10.95, 
Tribunal Pleno). 
 
3.4. Princípio democrático. 
 - Visa assegurar a participação do cidadão na proteção do meio ambiente. 
Tal princípio tem raízes nos movimentos reivindicatórios da sociedade civil e se 
concretiza através do direito à informação e do direito à participação. A participação 
democrática também tem sede constitucional (art. 225, §1º, VI). 
“Para assegurar a efetividade desse direito (ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado), incumbe ao Poder Público: VI – promover a 
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização 
pública para a preservação do meio ambiente”. 
 - Paulo de Bessa Antunes, assim divide a participação democrática18: 
Iniciativas legislativas Medidas administrativas Medidas processuais 
Plebiscito (art. 14, I, CF) Direito de informação (art. 
5º, XXXIII, CF) 
Ação popular (art. 5º, LXXIII, 
CF) 
Referendo (art. 14, II, CF) Direito de petição (art. 5º, 
XXXIV, CF) 
Ação Civil Pública (art. 129, III, 
CF) 
Iniciativa popular (art. 14, III, CF) EPIA (art. 225, IV, CF) 
 
“A participação popular no procedimento administrativo de criação das 
unidades de conservação (Lei 9.985/2000, arts. 5º e 22) e Decreto 4.340/02, 
art. 5º), além de concretizar o princípio democrático, permite levar a efeito, 
da melhor forma possível, a atuação administrativa, atendendo, tanto 
quanto possível, aos vários interesses em conflito.” (TRF 4ª Região, Agravo de 
Instrumento n. 200504010294191/PR, j. 06.03.06, Rel. José Paulo Baltazar Junior). 
 
3.5. Princípio do desenvolvimento sustentável. 
 - Contempla as dimensões humana, física, econômica, política, cultural e 
social em harmonia com a proteção ambiental. Se há o direito dos povos à busca do 
desenvolvimento, este não se deve efetivar a custa da degradação do meio ambiente. 
A busca do desenvolvimento sustentável implica no uso de ações racionais que 
 
17
 TRENNEPOHL, Terence Dornelles. Fundamentos de Direito Ambiental. Salvador: JusPodivm, 2007, p. 43. 
18
 In Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. 
preservem os processos e sistemas essenciais à vida e à manutenção do equilíbrio 
ecológico.19 
 - O desenvolvimento sustentável20 é aquele que busca atender aos 
anseios do presente, tentando não comprometer a capacidade e o meio ambiente das 
gerações futuras. As diretrizes de um desenvolvimento sustentável refletem a 
necessidade de conservação do meio ambiente, observados os princípios científicos e 
as leis naturais que regem a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, a 
necessidade de compatibilização das estratégias de desenvolvimento com a proteção 
do meio ambiente, a adoção de medidas de prevenção de danos e de situações de 
riscos ambientais e a cooperação internacional. 
“A Constituição de 1988, ao consagrar como princípio da ordem econômica 
a defesa do meio ambiente e ao estabelecer que todos têm direito ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida 
e vital para as presentes e futuras gerações, agasalha a teoria do 
desenvolvimento econômico sustentável”. (TRF 5ª Região, Apelação Cível n. 
209609/SE, j. 20.11.01, Relator Paulo Gadelha). 
 - Boa parte da doutrina entende que o desenvolvimento sustentável tem 
como pilar a harmonização das seguintes vertentes: crescimento econômico, 
preservação ambiental e equidade social, sendo que em qualquer processo de 
desenvolvimento econômico essas três vertentes teriam que estar presente de forma 
simultânea. Assim, ausente qualquer um desses elementos não se terá 
desenvolvimento sustentável. 
 
3.6. Princípio da responsabilidade. 
 - A solidariedade e perpetuidade da vida humana enquanto espécie, faz 
com queo homem pense não só na existência presente, mas nas gerações que virão 
sucessivamente. Tal compromisso define o sentido da responsabilidade intergeração. 
 - Prevê o art. 225, §3º, que as condutas e atividades consideradas lesivas 
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais 
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
Com esta previsão, toda e qualquer hipótese em que ocorrer dano ou agressão ao 
meio ambiente, e em que seja possível indicar o responsável, direto ou indireto, do 
dano, este deve ser incumbido de reparar o prejuízo por ele provocado, sendo 
responsabilizado civilmente pelo ressarcimento do prejuízo causado. 
 - Todo cidadão, bem como o poder público, pode ser responsabilizado 
pelo dano ambiental e, mesmo sendo lícita a atividade desenvolvida, não se exclui a 
responsabilidade civil pelo dano ambiental. 
“As condutas dos apelantes causaram dano ambiental que reclama 
reparação pecuniária, por todos devida solidariamente, em homenagem ao 
princípio da responsabilidade objetiva do Estado.” (TRF 5ª Região, Apelação 
Cível n. 209609/SE, j. 20.11.01, Relator Paulo Gadelha) 
 
 
19
 Neste âmbito, pode-se inserir, inclusive, a questão da função socioambiental da propriedade, um derivativo da 
função social da propriedade inserida no Direito brasileiro pela legislação e consagrada no Direito Agrário. Sua 
aplicabilidade é coerente, pois que a exploração racional e a preservação dos recursos naturais da propriedade 
rural, compõem exatamente a idéia do desenvolvimento sustentável, ou seja, busca do desenvolvimento sem violar 
a sustentabilidade do meio ambiente. 
20
 A primeira utilização oficial do termo foi feito no Relatório Brundtland, contudo, a criação do termo 
Desenvolvimento Sustentável se deve à União para Conservação da Natureza (IUCN) e ao WWF. Sua 
consolidação, enquanto Princípio, ocorreu na Conferência do Rio-92. Desde então, tal expressão sintetiza o desejo 
atual dos Estados em relação à utilização dos recursos naturais. Tem alcance mundial. 
3.7. Princípio da cooperação. 
 - Os países têm que se pautar pela busca da cooperação internacional. 
Também aqui se inclui a responsabilidade por ações e omissões cometidas num dado 
território que podem afetar seus vizinhos. Os países têm responsabilidades ambientais 
comuns, mas diferenciadas, segundo seu desenvolvimento e sua capacidade. 
 - Reconhece-se como Princípio do Direito Internacional Público, o dever 
de cooperação. Decorrente disto, o Princípio em apreço refere-se às ações 
cooperativas em favor do meio ambiente. Não só no domínio específico do Direito 
Internacional, mas nas relações entre as nações. Neste princípio está incluída a 
cooperação no sentido de repassar os conhecimentos de tecnologia limpa e 
conhecimentos de proteção do ambiente obtidos pelos países mais avançados e que 
têm possibilidade econômica de investir e obter resultados nas pesquisas ambientais. 
 - A cooperação internacional expressa-se na solidariedade entre os 
povos. Até porque, aduz-se, é máxima que as responsabilidades são comuns, mas 
diferenciadas, esclarecendo que os Países desenvolvidos o fizeram à custa de intensa 
exploração e contaminação do meio ambiente e, agora, espera-se que tais Países 
cooperem com os não desenvolvidos ou em desenvolvimento, para que possam 
minimizar os danos na sua busca legítima pelo desenvolvimento. Seu alcance é 
mundial e sua positivação no direito brasileiro consta na própria Constituição Federal, 
quando se refere à cooperação entre os povos como um princípio a ser utilizado nas 
relações internacionais pelo Brasil (art. 4º, IX). 
 
3.8. Princípio do limite. 
 - Compete ao Estado, como mantenedor da res publica, definir os padrões 
de qualidade ambiental que têm de ser obedecidos pelos cidadãos. A máquina 
administrativa estatal dispõe de mecanismos de frenagem contra os abusos 
individuais.21 
 - O princípio do limite constitui-se como balizador das emissões de 
poluentes, qualquer que seja a espécie e os limites do poder de polícia administrativa 
são demarcados pelo interesse social em conciliação com os direitos fundamentais do 
cidadão.22 
 
3.9. Princípio do poluidor-pagador. 
 - O poluidor tem que arcar com o ônus dos danos de sua atividade. O que 
se quer é a prevenção, a precaução, o cuidado prévio (aqui, cabe ao potencial poluidor 
custeá-los). Entretanto, ocorrida a degradação e a poluição, cabe ao poluidor pagar tal 
reparação. 
 - Busca-se compensar a degradação (externalidades negativas), haja 
vista o dano ser coletivo e o lucro recebido pelo particular privado. É uma forma de 
 
21
 Art. 78, CTN: Considera-se poder de polícia a atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando 
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público 
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, a disciplina da produção e do mercado, ao exercício de 
atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao 
respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos. 
22
 O poder de polícia ambiental, que reflete o princípio do limite, possui atributos específicos e peculiares ao seu 
exercício, quais sejam: 
a) discricionariedade – entendida como a livre escolha de exercer seu poder; 
b) auto-executoriedade – execução direta das decisões, sem a necessidade da intervenção do poder judiciário; 
c) coercibilidade – imposição coativa das medidas adotadas pela administração. 
compensar essa capitalização do lucro e a socialização do dano. O poluídor deve arcar 
com todos os ônus de seus atos, com o custo da produção.23 
 - Em razão da limitação dos recursos naturais, entende-se que o mercado 
deve suportar o encargo, principalmente às custas de quem aufere mais lucros com a 
exploração da natureza. Portanto, a finalidade deste princípio é a de impedir riscos e 
responsabilizar o custo ambiental coletivo, em nome da privatização dos lucros 
advindos da exploração de alguma atividade que importe degradação. 
 - Está positivado na legislação brasileira, no art. 14 da Lei 6.938/81, a 
qual introduziu no direito brasileiro a responsabilidade objetiva do poluidor e, por 
extensão, aos causadores do danos ambiental, já que pela legislação, a poluição é 
uma espécie de degradação. 
 
23
 TRENNEPOHL, Terence Dornelles. Fundamentos de Direito Ambiental. Salvador: JusPodivm, 2007, p. 46 
4. Tutela Constitucional do Meio Ambiente. 
 
4.1. O art. 225 da Constituição Federal - Do Bem Jurídico Tutelado. 
 - Ao considerar o meio ambiente como um direito de todos e ao impor à 
coletividade e ao poder público o dever de preservação, o constituinte de 1988 
estabeleceu a natureza difusa do bem ambiental, ao defini-lo como de uso comum do 
povo e essencial à sadia qualidade de vida.24 
 - A análise do art. 225 deve estar em consonância com o art. 1º, III, que 
considera como um dos fundamentos da RF do Brasil a “dignidade da pessoa 
humana” e o caput do art. 5º, o qual elenca o “direito à vida” como direito fundamental 
do cidadão. Assim, a essência do bem ambiental é a proteção da vida, no caso, esta 
proteção diz respeito a um conceito de vida sadia, como um direito indisponível e 
indivisível.25 
 - Em suma, não existe valor mais importante do que a proteção da vida. 
Contudo, considerando-se a relevância desse valor para o desenvolvimento do ser 
humano, podemos concluir, de acordo com a lição de José Afonso da Silva: “que não é 
tanto o meio ambiente considerado nos seus elementos constitutivos. O que o 
Direito visa proteger é a qualidade do meio ambiente em funçãoda qualidade de 
vida, ou seja, a qualidade do meio ambiente converte-se, assim, num bem, que o 
direito reconhece e protege como patrimônio ambiental”. 
 - Tal conclusão é alcançada pela observação do art. 225 da CF, que 
utiliza a expressão sadia qualidade de vida. De fato, enfatiza José Afonso da Silva, “o 
legislador constituinte optou por estabelecer dois objetos de tutela ambiental: 
um imediato, que é a qualidade do meio ambiente, e outro mediato, que é a 
saúde, o bem-estar e a segurança da população, que se vêm sintetizando na 
expressão da qualidade de vida”.26 
 - Isto posto, a qualidade ambiental, enquanto condições do ambiente, 
utiliza-se de parâmetros que levam em conta as atividades humanas, as quais podem 
melhorar ou não esta qualidade. Assim, a qualidade ambiental que é objeto de 
proteção constitucional, é aquela que permite a existência humana digna. 
 - Por fim, o bem ambiental objeto da tutela jurídica não é, somente, a sua 
qualidade, mas todos os seus componentes naturais e artificiais, em conjunto ou 
isoladamente considerados. Neste sentido, destaca Celso Fiorillo: “a divisão do meio 
ambiente em aspectos que o compõem busca facilitar a identificação da atividade 
degradante e do bem imediatamente agredido. Não se pode perder de vista que o 
direito ambiental tem como objeto maior tutelar a vida saudável, de modo que a 
classificação apenas identifica o aspecto do meio ambiente em que valores maiores 
foral aviltados”.27 
 
24
 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado bem de uso comum do povo e essencial 
à sadia qualidade de vida, impondo–se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para 
as presentes e futuras gerações. 
25
 Da análise do art. 225 da Carta Magna, percebe-se, a partir de seu conteúdo perfeitamente sistematizado, que as 
diretrizes para proteção do patrimônio ambiental brasileiro já nasceram em perfeita sintonia com os princípios 
fundamentais estabelecidos na própria Constituição (art. 1º, I a IV e caput do art. 5º). Neste caso, a essência do 
patrimônio ambiental é a proteção da vida, não obstante, esta proteção diz respeito a um conceito de vida sadia, a 
qual depende de um ambiente ecologicamente equilibrado para que se possa cumprir o princípio síntese que é a 
“dignidade da pessoa humana”. 
26
 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 2a. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 18-
19. 
27
 Op. cit. p. 19. 
Álvaro Luiz Valery Mirra, verifica que a tendência é considerar o ambiente como macrobem através de uma visão 
globalizada e integrada (ver art. 3º, I, Lei 6.938/81 – que aponta o meio ambiente como um bem incorpóreo e 
 - Assim, podemos ter a seguinte classificação doutrinária de Meio 
Ambiente: 
 ⊗ Meio ambiente natural: aquele constituído por si só, independentemente 
da influência do homem. Compreende o solo, água, ar atmosférico, flora, fauna, a 
biosfera de uma forma geral (art. 225, § 1º, I a VII). Caracteriza-se pelo equilíbrio 
dinâmico, o qual deve estar presente em qualquer tipo de ecossistema; 
 ⊗ Meio ambiente artificial: aquele decorrente da ação humana. É formado 
pelo espaço urbano construído, englobando o conjunto de edificações e os 
equipamentos públicos, como ruas, praças, áreas verdes, e demais logradouros 
públicos (arts. 225; 182; 21, XX; entre outros, todos da CF); 
 ⊗⊗⊗⊗ Meio ambiente cultural: formado pelo patrimônio artístico, histórico, 
turístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico, etc (arts. 225; 216, da CF). Na 
realidade, também decorre da ação humana, que atribui valores especiais a 
determinados bens do patrimônio cultural do país; 
 ⊗ Meio ambiente do trabalho: significa qualquer local onde se desenvolva 
atividade humana com vistas à produção de bens e serviços para a geração de lucro 
(arts. 225; 200, VIII, da CF). 
 
☻ Pressupostos para o Entendimento do Tema: 
 ⊗⊗⊗⊗ Devemos entender a Constituição como um Sistema, onde todos os 
subsistemas estão em harmonia (interação dinâmica) e, por conseguinte, devem 
observar o comando constitucional (sistema), a fim de cumprir as funções por ele 
estabelecidas, dentre elas o cumprimento do princípio síntese/meta, qual seja a 
Dignidade da Pessoa Humana. 
 ⊗⊗⊗⊗ Os direitos constitucionais, notadamente os fundamentais têm uma 
função orientadora de todo o ordenamento jurídico, logo, toda a interpretação deve ser 
conforme a constituição, já que esta se encontra no ápice de nosso sistema jurídico 
(princípio da supremacia da norma constitucional). 
 ⊗⊗⊗⊗ Do extraído da norma do art. 225 da CF, o legislador constituinte ao 
proteger o meio ambiente, quer que possa haver vida digna (sadia qualidade de vida 
com base no piso vital mínimo – art. 6º) à atual e futuras gerações (caráter 
antropocêntrico do direito ambiental). 
 ⊗⊗⊗⊗ Ante a tais orientações e visto que um dos fundamentos da República 
Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF), resta-nos o 
entendimento de ser o homem o destinatário de toda e qualquer norma jurídica e 
detentor da titularidade dos direitos expressos constitucionalmente (o direito ambiental 
brasileiro é eminentemente antropocêntrico)28. 
 
imaterial. Já os elementos corpóreos integrantes do meio ambiente tem conceituação e regime próprios e estão 
submetidos a uma legislação própria e específica à legislação setorial (código floresta, lei de proteção à fauna, 
código de águas, etc.). Assim, quando se fala na proteção dos elementos citados, por exemplo, não se busca 
propriamente a proteção desses elementos em si, mas deles como elementos indispensáveis à proteção do meio 
ambiente como bem imaterial, objeto último e principal visado pelo legislador (In Fundamentos do direito ambiental 
no Brasil. Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo, v. 7, p. 179, 1994. 
Na concepção de microbem ambiental, isto é, dos elementos que o compõem (floresta, rios, propriedade de valor 
paisagístico, etc.), o meio ambiente pode ter o regime de sua propriedade variado, ou seja, público e privado, no que 
concerne à titulariedade dominial. Na outra categoria, ao contrário, é um bem qualificado como de interesse público; 
seu desfrute é necessariamente comunitário e destina-se ao bem-estar individual. Observa-se que o regime de 
propriedade variada está sujeito à função social e ambiental de seu aproveitamento, respeitando a qualidade de vida 
e a sustentabilidade conforme disposição constitucional. 
28
 A despeito desse caráter, a CF/88 não contemplou o ambiente como mero instrumento para o proveito econômico 
e a geração de riquezas. Os fortes delineamentos econômicos de ordem constitucional são conformados com a 
4.2. Da significação geral dos enunciados do art. 225. 
 - Costuma-se dividir o art. 225 em três partes distintas: a regra-matriz, os 
instrumentos de garantia e as determinações particulares.29 Trata-se do 
reconhecimento do meio ambiente como direito fundamental, impondo-se a 
obrigatoriedade de sua proteção, por tratar de bem de uso comum do povo, sendo 
essencial à sadia qualidade de vida.30 
 ► Regra-matriz – o caput do artigo. 
 a) meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito de todos – 
pertence a todos, incluindo aí as gerações presentes e as futuras, sejam brasileiros ou 
estrangeiros – combinar essa assertiva com o princípio do direito humano fundamental. 
 b) meio ambiente é bem de uso comum do povo – é um bem que não 
está na disponibilidade particular de ninguém, nem de pessoa privada, nem de pessoa 
pública – combinar essa assertiva com o princípio do poluídor-pagador. 
 c) meio ambiente é essencial à sadia qualidade devida – não existe 
sadia qualidade de vida em um ambiente poluído ou degradado – combinar essa 
assertiva com o princípio do direito humano fundamental. 
 - A análise do caput do art. 225, demonstra a concepção jurídica conferida 
ao bem ambiental pelo Estado brasileiro, no sentido de não apenas conferir o meio 
ambiente saudável como direito subjetivo. Ou seja, a CF/88 contemplou o meio 
ambiente como bem que perpassa a concepção individualista dos direitos subjetivos, 
pois reputou como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. 
 - Tal concepção serve como limite ao exercício de direitos subjetivos, no 
sentido de que a garantia de preservação do meio ambiente está dissociada da idéia 
de posição jurídica individual no que se refere a um pretenso direito subjetivo ao bem 
ambiental. 
 ► Os instrumentos de garantia - §1º, incumbe ao poder público: 
 I – preservar os processos ecológicos essenciais (aqueles que asseguram 
as condições necessárias para uma adequada interação biológica). Com o provimento 
do manejo ecológico das espécies (significa lidar com as espécies de modo a 
conservá–las, recuperá–las, quando for o caso). Com o provimento do manejo dos 
ecossistemas (significa cuidar do equilíbrio das relações entre a comunidade biótica e o 
seu habitat). 
 II - preservar a diversidade31 e a integridade do patrimônio genético – 
preservar todas as espécies, através do fator caracterizante e diferenciador da imensa 
quantidade de espécies vivas do País. 
 III - definir espaços territoriais e seus componentes – significa estabelecer 
a delimitação da área ecologicamente relevante, onde o uso do patrimônio, ali inserido, 
ficará condicionado às disposições constantes de Lei.32 
 
proteção ambiental. Assim, o art. 170, VI, ao assegurar a livre a iniciativa, coloca a defesa do meio ambiente como 
princípio geral da atividade econômica. A mesma diretriz segue o art. 186, ao dispor sobre a função sócio-ambiental 
da propriedade. Tal dispositivo, ao valorizar o aproveitamento econômico do ambiente (aspecto econômico), estatui 
que deve ser realizado de acordo com o aproveitamento racional e adequado dos recursos naturais e com a 
preservação do meio ambiente (In LEITE, José Rubens Morato. Sociedade de risco e Estado – Direito Ambiental 
Constitucional Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 140). 
29
 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional, São Paulo: Malheiros, 2006; SIRVINSKAS, Luis Paulo. 
Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2002; MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: RT, 2004. 
30
 Combinar sempre a redação do caput do artigo com os princípios que regulam o direito ambiental. Por exemplo, 
não ocorreria conflito se o princípio do desenvolvimento sustentável fosse sempre aplicado às atividades 
econômicas. Ainda, o planejamento do desenvolvimento deve acompanhar os princípios do equilíbrio, do limite, do 
poluído-pagador, e de todos os outros que buscam o crescimento econômico aliado à preservação. 
31
 Art. 2º, III, Lei 9.985/2000. 
 a) Unidades de proteção integral (UPI): Estação Ecológica (EE), Reserva 
Biológica (RB), Parque Nacional (PN), Monumento Natural (MN), Refúgio de Vida 
Silvestre (RVS). 
 b) Unidades de uso sustentável (UUS): Área de Proteção Ambiental 
(APA), Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), Floresta Nacional (FLONA), 
Reserva Extrativista (RESEX), Reserva de Fauna (RF), Reserva de Desenvolvimento 
Sustentável (RDS), Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). 
 IV - Estudo Prévio de Impacto Ambiental – constitui um instrumento de 
prevenção de degradações irremediáveis. Exige-se estudo de impacto ambiental para 
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação 
do meio ambiente. Esse estudo deve ser realizado previamente à autorização de obra 
e/ou de qualquer atividade, não podendo o EIA ser concomitante ou posterior à obra ou 
atividade, sob pena de malferir o próprio resultado do estudo e tornar sem efeito sua 
finalidade preventiva.33 
 V – controle relativo a tudo que diz respeito a substâncias que importem 
risco para o meio ambiente – ver princípio do limite (cabe ao poder público a regulação 
das atividades do particular quando contrapostos aos interesses da coletividade). 
 VI - promover a Educação Ambiental – significa, no futuro, o exercício - de 
práticas conscientes.34 
 VII – proteção da fauna e flora, como formas de composição do 
ecossistema.35 
 
 ► As determinações particulares - §2º-6º: 
 §2º - Prevê a responsabilização daquele que explorar recursos minerais, 
com a conseqüente recuperação do meio ambiente – está ligado ao princípio da 
responsabilidade.36 
 §3º - Prevê a responsabilização por infrações – também ligado ao 
princípio da responsabilidade e com a lei dos crimes ambientais. 
“É poluidor a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, 
responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de 
degradação ambiental; o poluídor, por seu turno, com base na mesma 
legislação, art. 14 – ‘sem obstar a aplicação das penalidades 
administrativas’ é obrigado, ‘independentemente da existência de culpa’, a 
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, 
‘afetados por sua atividade’. Depreende-se do texto legal a sua 
responsabilidade pelo risco integral, por isso que em demanda infensa a 
administração, poderá, inter partes, discutir a culpa e o regresso pelo 
evento”. (REsp 442586/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 26.11.02, DJ 24.02.03). 
 §4º - A CF/88 define como patrimônio nacional a floresta amazônica 
brasileira, a mata atlântica, a serra do mar, o pantanal mato-grossense e a zona 
costeira.37 
 
32
 Art. 2º, I, Lei 9.985/2000. 
33
 Quanto à significativa degradação, leva-se em conta toda e qualquer agressão ambiental que venha a causar 
dano sensível, ainda que não seja excessivo. Sobre o EIA, ver as Resoluções CONAMA 001/86 e 237/98. 
34
 Ver Lei 9.795/99 – dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental. 
35
 Ver Lei 9.605/98; Lei 4.771/65. 
36
 Ver Decreto 227/67 (Código de Mineração). 
37
 A intenção do legislador foi tratar com mais atenção essas áreas, dedicando-lhes especial enquadramento 
constitucional. 
 §5º - Trata da indisponibilidade das terras devolutas38 ou arrecadadas 
pelos Estados quando necessárias á proteção dos ecossistemas naturais. 
 §6º - Trata da necessidade de lei federal para a instalação de usinas 
nucleares, cuja competência pertence a União. 
 - No caso da CF/88, verifica-se que o direito fundamental ao meio 
ambiente ecologicamente equilibrado se insere ao lado do direito à vida, à igualdade, à 
liberdade, caracterizando-se pelo cunho social amplo e não meramente individual. Da 
leitura global dos diversos preceitos constitucionais ligados à proteção ambiental, 
chega-se à conclusão de que existe verdadeira consagração de uma política ambiental, 
como também de um dever jurídico constitucional atribuído ao Estado e à coletividade. 
 - Em síntese, o Estado deve fornecer os meios instrumentais necessários 
á implementação do direito ao meio ambiente ecologicamente. Já a coletividade deve 
abster-se de práticas nocivas ao meio ambiente e, por outro lado, deve se empenhar 
para implementar o gozo daquele direito, participando ativamente das ações voltadas á 
proteção do meio ambiente. 
 - O que é realmente inovador no art. 225 é o reconhecimento da 
indissolubilidade do vínculo Estado-sociedade civil (interesses públicos e privados),o 
qual redunda em verdadeira noção de solidariedade em torno de um bem comum. 
 
38
 São aquelas pertencentes ao poder público, mas que ainda não foram tituladas (Decreto-lei 9.760/46). 
5. Da Repartição de Competências. 
 - Competência é a capacidade jurídica de uma corporação pública para 
agir, emitir decisões. É o poder de que servem os órgãos ou entidades estatais para 
realizar suas funções. Também pode ser compreendida como a congregação das 
atividades juridicamente conferidas a determinado nível de governo visando a emissão 
das suas decisões no cumprimento do dever de defender e preservar o meio 
ambiente.39 
 - Segundo Edis Milaré, essas competências desdobram–se em dois 
segmentos: 
 
 a) Competências administrativas (ou de execução de tarefas) – as 
que conferem ao Poder Público o desempenho de atividades concretas, através do 
exercício do seu poder de polícia. 
 - A proteção do meio ambiente como um todo, bem como o combate a 
poluição em qualquer de suas formas, a preservação das florestas, da flora e da fauna, 
e a exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios, estão incluídas 
entre as matérias de Competência Comum (art. 23, III, VI e VII). 
 - Esta competência comum de que trata o art. 23, na realidade se refere a 
uma cooperação administrativa, a qual para José Cretella “Competência Comum é 
cooperação administrativa, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento do bem 
estar, em âmbito nacional, entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios...”. 
 - Lei Complementar irá estabelecer a forma como as instâncias de poder 
cuidarão das matérias elencadas no art. 2340. Enquanto esta Lei não sair, a 
responsabilidade pela proteção do meio ambiente é comum e solidária, ou seja, todos 
são co-responsáveis. 
 - A problemática está em saber, em cada caso concreto de competência 
comum, a que ente público está afeto o poder de polícia ambiental. A doutrina corrente 
interpreta a regra do art. 23 da CF da seguinte forma: 
 a) matérias de interesse local - isto é, aquelas que não extrapolam os 
limites físicos do Município, devem ser administradas pelo Executivo Municipal. 
 b) quando a matéria extrapola os limites físicos de um Município ou 
envolva mais de um Município, desloca–se a competência do executivo Municipal para 
o executivo Estadual; ou ainda tratando–se de bens públicos estaduais e de questões 
ambientais supramunicipais, a competência também será do Executivo Estadual. 
 c) nas hipóteses em que as matérias envolvam problemas internacionais 
de poluição transfronteiriça ou em duas ou mais unidades federadas, a competência 
será do Executivo Federal. 
 
 
39
 A Constituição busca realizar o equilíbrio federativo através de um sistema de repartição de competências que se 
fundamenta na técnica de enumeração dos poderes da União, com poderes remanescentes para os Estados, e 
poderes definidos indicativamente para os Municípios. Combinadas a essa reserva de campos específicos, o texto 
prevê ainda atuações comuns entre os entes, prerrogativas concorrentes entre a União, os Estados e o DF e 
atribuições suplementares dos Municípios. 
Competências ambientais pode ser compreendida como a congregação das atribuições juridicamente conferidas a 
determinado nível de governo visando a emissão das suas decisões no cumprimento do dever de defender e 
preservar o meio ambiente. 
40
 Parág. único, art. 23, CF. 
 b) Competências legislativas – que tratam do poder outorgado a cada 
ente federado para elaboração das leis e atos normativos. Na repartição de 
competências legislativas aplica–se o Princípio da Predominância do Interesse, 
cabendo à União legislar sobre as matérias de interesse nacional, aos Estados as de 
interesse regional, enquanto aos Municípios as de interesse meramente local. 
 - O art. 24 e incisos I, VI e VII da CF/88, determina competir à União, aos 
Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: florestas, caça, pesca, 
fauna, conservação, defesa do meio ambiente e dos recursos naturais, proteção ao 
meio ambiente e controle da poluição, proteção ao patrimônio histórico, cultural, 
artístico, turístico e paisagístico. 
 - Pode-se observar que este artigo não explicita a competência legislativa 
do Município, o que pode levar à conclusão precipitada de que o Município não tem 
competência legislativa em matéria ambiental. Porém, ao observarmos os artigos 23, 
30 e 225 da CF/88, observa-se que o Município pode legislar em matéria ambiental. 
 
 ► No âmbito da competência concorrente: 
 - A competência concorrente implica que a União deve estabelecer 
parâmetros gerais a serem observados pelos Estados e Municípios. 
 - A União legislará e atuará em face de questões de interesse nacional, e 
as suas normas devem servir de referencial para os Estados e Municípios. 
 - Os Estados legislarão diante de problemas regionais, devendo observar 
os princípios e fundamentos genéricos previstos pela legislação federal. 
 - Os Municípios legislarão apenas quando o interesse for estritamente 
local, devendo observar os princípios e fundamentos genéricos previstos pela 
legislação federal. 
 - Caso a União não legisle sobre normas gerais, os Estados podem 
ocupar os espaços em branco, exercendo a Competência Legislativa Plena para 
atender às suas peculiaridades. Contudo, a superveniência de Lei Federal sobre 
normas gerais suspende a Lei Estadual no que lhe for contrário. 
 
 - Sinteticamente temos: 
 ☻ Repartição de Competência Material (Administrativa - CF/88): 
 
 Poderes enumerados União (art. 21, XIX, XX e XXIII) 
Municípios (art. 30, VIII e IX) 
Competência 
Administrativa 
Exclusiva Poderes reservados Estados (art.25, §1º a §3º) 
 Comum Cumulativa/paralela União (Estados), DF e Municípios 
(art. 23, III, IV, VI, VII e XI) 
 
 
 ☻ Repartição de Competência Legislativa (CF/88): 
1. Privativa – União (art. 22, IV, XII e XXVI - Possibilidade de delegação para os Estados (art. 
22, § único) 
2. Concorrente – União, Estados e Distrito Federal (art. 24, VI, VII e VIII). 
 Obs.: Municípios não. 
 ► União estabelece normas gerais (art. 24, § 1º). 
 ► Estados e Distrito Federal têm, competência suplementar complementar, quando se 
limitam a detalhar a norma federal (art. 24, §2º). 
 ► Estados e Distrito Federal têm, competência suplementar supletiva, quando suprem 
lacunas existentes na lei federal (art. 24, §3º). 
3. Remanescente – Estado (art. 25, §1º e 3º). Toda matéria que não for atribuída à União e aos 
Municípios caberá, de forma remanescente, aos Estados. 
4. Municípios 
 ► Exclusiva – art. 30, I. 
 ► Suplementar – art. 30, II – Não para editar legislação concorrente, mas sim para editar 
legislação decorrente (a norma federal ou estadual deverá preexistir à norma municipal). 
5. Distrito Federal – reservada (art. 32, §1º). 
 
 - Com base no que se demonstrou nos quadros acima, transcrevemos 
abaixo os dispositivos constitucionais de maior interesse: 
Art. 21 - Compete à União: 
XIX - instituir Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e definir critérios de outorga de 
direitos de seu uso. 
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e 
transportes urbanos. 
XXXIII – explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer o monopólio 
estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio 
de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições 
Art. 22 - Compete privativamente à União legislar sobre: 
IV águas, energia... 
XII jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia. 
XXVI – atividades nucleares de qualquer natureza.

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