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DIREITO AMBIENTAL

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AULA 1 - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS E FUNDAMENTOS DO DIREITO AMBIENTAL
EVOLUÇÃO HISTÓRICA SOBRE A PREOCUPAÇÃO MUNDIAL COM O MEIO AMBIENTE
A Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra no século XVIII, migrando rapidamente para os Estados Unidos e depois para outras partes do mundo, elevou o processo de industrialização como motor econômico mundial.
A principal matéria-prima desse processo são os recursos naturais (isto é, a água, o solo, o subsolo, os minérios, a flora e a fauna), que são bens finitos e não se reproduzem na mesma velocidade em que o homem os retira do meio ambiente.
Com o passar dos anos, o impacto da industrialização sobre os recursos naturais – que em um primeiro momento não era visível – começou a dar fortes sinais de preocupação. Somado a isso, houve o crescimento da população mundial (que pulou de 2 bilhões de habitantes no início do século XX para 7 bilhões na virada do século XXI), e, após a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), a era nuclear fez surgir temores de um novo tipo de poluição por radiação. Todos esses fatores juntos levaram a uma inquietação mundial em relação ao meio ambiente e à sobrevivência do homem no planeta.
Diante disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou – em 05 de junho de 1972, na cidade de Estocolmo, capital da Suécia – a primeira Conferência Global das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano.
Na década de 1980, a ONU retomou o debate sobre a questão ambiental e, 11 anos após a realização da Conferência de Estocolmo – isto é, em 1983 –, o então Secretário-geral da ONU convidou a ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, a presidir a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Os objetivos dessa Comissão foram:
a) reexaminar as questões críticas relativas ao meio ambiente e reformular propostas realísticas para abordá-las;
b) propor novas formas de cooperação internacional com o fim de orientar as políticas e ações necessárias a uma maior compreensão dos problemas ambientais existentes.
Em abril de 1987, a Comissão apresentou o relatório intitulado Nosso Futuro Comum 1, em que foi recomendada a criação de uma nova declaração universal sobre a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável. O documento conceituou a expressão desenvolvimento sustentável como sendo:
"O desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades"
(¹ Também conhecido como Relatório de Brundtland.)
Passados 20 anos da Conferência Global das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, a cidade do Rio de Janeiro sediou, em junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra.
Durante o encontro, que contou com a participação de 179 países, reafirmou-se a Declaração da Conferência de Estocolmo, de 1972, tendo como principais temas:
· o desenvolvimento sustentável; e
· modos de se reverter o atual processo de degradação ambiental do planeta.
AGENDA 21
A RIO-92 serviu para firmar acordos internacionais como a Agenda 21, que consiste em um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A Agenda 21 adotou como meta a ser respeitada por todos os países signatários o desenvolvimento sustentável. Além dela, outro acordo internacional firmado foi a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que teve por fim:
Estabelecer uma nova e justa parceria global mediante a criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chaves da sociedade e os indivíduos, trabalhando com vistas à conclusão de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema global de meio ambiente e desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra, nosso lar. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 1992.)
A Declaração do Rio proclamou 27 princípios. Foram eles:
Princípio 1: Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.
Princípio 2: Os Estados, de acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do direito internacional, têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas próprias políticas de meio ambiente e de desenvolvimento, e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou seu controle não causem danos ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional.
Princípio 3: O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras.
Princípio 4: Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste.
Princípio 5: Para todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.
Princípio 6: Será dada prioridade especial à situação e às necessidades especiais dos países em desenvolvimento, especialmente dos países menos desenvolvidos e daqueles ecologicamente mais vulneráveis. As ações internacionais na área do meio ambiente e do desenvolvimento devem também atender aos interesses e às necessidades de todos os países.
Princípio 7: Os Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre. Considerando as diversas contribuições para a degradação do meio ambiente global, os Estados têm responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na busca internacional do desenvolvimento sustentável, tendo em vista as pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio ambiente global e as tecnologias e recursos financeiros que controlam.
Princípio 8: Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas adequadas.
Princípio 9: Os Estados devem cooperar no fortalecimento da capacitação endógena para o desenvolvimento sustentável, mediante o aprimoramento da compreensão científica por meio do intercâmbio de conhecimentos científicos e tecnológicos, e mediante a intensificação do desenvolvimento, da adaptação, da difusão e da transferência de tecnologias, incluindo as tecnologias novas e inovadoras.
Princípio 10: A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos.
Princípio 11: Os Estados adotarão legislação ambiental eficaz. As normas ambientais, e os objetivos e as prioridades de gerenciamento deverão refletir o contexto ambiental e de meio ambiente a que se aplicam. As normas aplicadas por alguns países poderão ser inadequadas para outros, em particular para os países em desenvolvimento, acarretando custos econômicos e sociais injustificados.
Princípio 12: Os Estados devem cooperar na promoçãode um sistema econômico internacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países, de forma a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação ambiental. As medidas de política comercial para fins ambientais não devem constituir um meio de discriminação arbitrária ou injustificável, ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional. Devem ser evitadas ações unilaterais para o tratamento dos desafios internacionais fora da jurisdição do país importador. As medidas internacionais relativas a problemas ambientais transfronteiriços ou globais deve, na medida do possível, basear-se no consenso internacional.
Princípio 13: Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.
Princípio 14: Os Estados devem cooperar de forma efetiva para desestimular ou prevenir a realocação e transferência, para outros Estados, de atividades e substâncias que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais à saúde humana.
Princípio 15: Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
Princípio 16: As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.
Princípio 17: A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será efetuada para as atividades planejadas que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o meio ambiente e estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional competente.
Princípio 18: Os Estados notificarão imediatamente outros Estados acerca de desastres naturais ou outras situações de emergência que possam vir a provocar súbitos efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente destes últimos. Todos os esforços serão envidados pela comunidade internacional para ajudar os Estados afetados.
Princípio 19: Os Estados fornecerão, oportunamente, aos Estados potencialmente afetados, notificação prévia e informações relevantes acerca de atividades que possam vir a ter considerável impacto transfronteiriço negativo sobre o meio ambiente, e se consultarão com estes tão logo seja possível e à boa-fé.
Princípio 20: As mulheres têm um papel vital no gerenciamento do meio ambiente e no desenvolvimento. Sua participação plena é, portanto, essencial para se alcançar o desenvolvimento sustentável.
Princípio 21: A criatividade, os ideais e a coragem dos jovens do mundo devem ser mobilizados para criar uma parceria global com vistas a alcançar o desenvolvimento sustentável e assegurar um futuro melhor para todos.
Princípio 22: Os povos indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm um papel vital no gerenciamento ambiental e no desenvolvimento, em virtude de seus conhecimentos e de suas práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar adequadamente sua identidade, cultura e interesses, e oferecer condições para sua efetiva participação no atingimento do desenvolvimento sustentável.
Princípio 23: O meio ambiente e os recursos naturais dos povos submetidos a opressão, dominação e ocupação serão protegidos.
Princípio 24: A guerra é, por definição, prejudicial ao desenvolvimento sustentável. Os Estados irão, por conseguinte, respeitar o direito internacional aplicável à proteção do meio ambiente em tempos de conflitos armados e irão cooperar para seu desenvolvimento progressivo, quando necessário.
Princípio 25: A paz, o desenvolvimento e a proteção ambiental são interdependentes e indivisíveis.
Princípio 26: Os Estados solucionarão todas as suas controvérsias ambientais de forma pacífica, utilizando-se dos meios apropriados, de conformidade com a Carta das Nações Unidas.
Princípio 27: Os Estados e os povos irão cooperar à boa-fé e imbuídos de um espírito de parceria para a realização dos princípios consubstanciados nesta Declaração, e para o desenvolvimento progressivo do direito internacional no campo do desenvolvimento sustentável. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 1992.)
Em junho de 2012, ocorreu, também no município do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+202.
(² Ficou assim conhecido por ter marcado os 20 anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.)
O evento reuniu 188 países com o objetivo de renovar o compromisso político com o desenvolvimento sustentável. Na ocasião, foram tratados principalmente os seguintes temas:
1. A economia verde 3 no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza;
2. A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.
(³ Economia verde consiste na soma de vários processos produtivos (industriais, comerciais, agrícolas e de serviços) que, ao serem aplicados em determinada região, criam um desenvolvimento socioeconômico sustentável, com o objetivo de buscar a igualdade social, erradicação da pobreza e melhoria do bem-estar dos seres humanos, reduzindo os impactos ambientais negativos e a escassez ecológica.)
O texto final dessa Conferência foi denominado O Futuro que Queremos. O documento:
· prevê a criação de um fórum político para o desenvolvimento sustentável dentro das Nações Unidas;
· reafirmou que os países ricos devem investir mais no desenvolvimento sustentável por terem degradado mais o meio ambiente durante séculos;
· aprovou o fortalecimento do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (Pnuma);
· criou um mecanismo jurídico dentro da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Unclos; do inglês, United Nations Convention on the Law of the Sea), o qual estabelece regras para conservação e uso sustentável dos oceanos, a erradicação da pobreza como o maior desafio global do planeta, entre outras iniciativas.
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA NACIONAL COM A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE
Desde o início do século XX, o Brasil editou normas tutelando o meio ambiente. Dentre elas, as principais foram:
1. Decreto nº 23.793, de 1934, que aprova o Código Florestal;
2. Decreto nº 24.643, de 1934, que institui o Código de Águas;
3. Decreto-lei nº 25, de 1937, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional;
4. Decreto-lei nº 794, de 1938, aprova o Código da Pesca;
5. Decreto-lei nº 1.985, de 1940, dispõe sobre o Código de Minas.
Na década de 1960, com os movimentos ecológicos, são sancionadas as seguintes normas:
1. Lei nº 4.504, de 1964, dispõe sobre o Estatuto da Terra;
2. Lei nº 4.771, de 1965, institui o novo Código Florestal;
3. Lei nº 5.197, de 1967, dispõe sobre a Proteção à Fauna;
4. Decreto-lei nº 221, de 1967, dispõe sobre Proteção e Estímulos à Pesca;
5. Decreto-lei nº 227, de 1967, dá nova redação ao Código da Mineração;
6. Decreto-lei nº 303, de 1967, cria o Conselho Nacional de Controle de Poluição Ambiental;
7. Lei nº 5.318, de 1967, institui a Política Nacional de Saneamento.
Após a Conferência de Estocolmo (1972), a legislação ambiental brasileira passou a se desenvolver com maior consistência e celeridade. Em 31 de agosto de 1981, o Brasil sancionou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), primeira grande norma de gestão ambiental nacional. Apenas com a Constituição da RepúblicaFederativa do Brasil (CRFB), sancionada em outubro de 1988, é que o meio ambiente ganhou status constitucional, com a edição de um capítulo próprio disposto no Artigo 225 e em seus sete parágrafos.
O MEIO AMBIENTE
O estudo do meio ambiente deve ser analisado de forma interdisciplinar, pois há ligação dele com outros ramos do saber, como a Biologia, Geografia, Antropologia, Sociologia, entre outros.
O conceito legal de meio ambiente foi estabelecido pela primeira vez pela Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, em seu Artigo 3°, inciso I, que conceitua meio ambiente como:
"O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas"
Contudo, esse conceito é restrito e se refere apenas ao conceito de meio ambiente natural. Rodrigues (2018) destaca que esse conceito não é simples de se compreender; por isso, “no linguajar comum”, “proteger o meio ambiente significa proteger o espaço, o lugar, o recinto, que abriga, que permite e que conserva todas as formas de vida”. Meio ambiente seria conceituado como “uma interação de tudo que, situado nesse espaço, é essencial para a vida com qualidade em todas as suas formas”.
O objetivo de proteger e preservar o meio ambiente é gerar qualidade de vida para todos nós, aqui incluídas as presentes e futuras gerações; por isso, o conceito de meio ambiente é mais amplo do que uma perspectiva mais restrita de analisar meio ambiente como simplesmente natureza ou ecologia, que:
"é a ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e com o seu meio físico."
- Milaré 2018
Como veremos nas próximas aulas, o conceito de meio ambiente também abarca o meio ambiente natural, artificial, do trabalho e cultural. Por isso, José Afonso da Silva entende que meio ambiente é:
"a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas."
Esclarece Sirvinskas (2018) que, “para completar esse conceito, acrescentaria também o meio ambiente do trabalho”.
- José Afonso da Silva
O meio ambiente se enquadra na categoria de direitos coletivos (latu sensu) como um direito e interesse difuso. Apesar de a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 129, inciso III, prever interesse difuso ao dispor que entre as funções institucionais do Ministério Público está “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”, a norma não conceituou interesse difuso, deixando esse encargo para o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90.
Conforme determina a redação do artigo 81, parágrafo único, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), direitos e interesses difusos são aqueles “transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”.
Nunes (2019) esclarece que o termo difuso significa “indeterminado, indeterminável. Então, não será necessário que se encontre quem quer que seja para proteger-se em direito tido como difuso”. Sirvinskas (2018) esclarece que interesse difuso “cuida, sim, de interesse pertencente a cada um e, ao mesmo tempo, a todos”.
São características do meio ambiente:
o meio ambiente tem natureza indivisível, pois não é possível individualizar a pessoa atingida pela lesão gerada da violação ao direito – nesse caso, o dano provocado ao meio ambiente. É também transindividual, uma vez que é um direito de todos, de cada pessoa, mas não é só dela; ultrapassa o âmbito individual, por não pertencer ao indivíduo de forma isolada.
Direito de terceira geração:
por ser caracterizado enquanto valor fundamental indisponível, possui como base os Princípios da Solidariedade e da Fraternidade na busca do interesse coletivo.
MICROBEM E MACROBEM AMBIENTAL
O macrobem ambiental é o meio ambiente como um todo, sua harmonia global e o equilíbrio ecológico. Trata-se de um bem de natureza imaterial e abstrato que consiste no conjunto de condições, relações e interações que condicionam, abrigam e regem a vida. Dessa forma, é de bem de direito e interesse difuso, uma vez que é de uso comum do povo, transindividual e essencial aà qualidade de vida de todos. Como macrobem, o meio ambiente é de interesse público indisponível e um direito humano fundamental, justamente por ser necessário à sadia qualidade de vida.
Microbem ambiental diz respeito aos elementos ambientais considerados de forma isolada –como a fauna, a flora e a água, que possuem legislação protetiva própria, como o Código Florestal, o Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza, a Lei de Crimes Ambientais, a Política Nacional dos Recursos Hídricos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos etc.
DIREITO AMBIENTAL
O Direito Ambiental é uma disciplina autônoma, por “possuir seu próprio regime jurídico, objetivos, princípios, sistema nacional do meio ambiente etc.” (SIRVINSKAS, 2018). No entanto, além disso, ele estabelece uma relação com outros ramos do Direito, como Direito Civil, Direito Tributário, Direito Internacional, Direito Constitucional, Direito Penal e Direito Administrativo. Segundo Antunes (2016),
"em razão do elevado nível de influência exercido por saberes não jurídicos e por situações extralegais, possui especificidades que o distinguem dos ’ramos tradicionais’ do Direito."
- Segundo Antunes (2016)
É considerada uma matéria relativamente nova no Direito pátrio. No passado, era um ramo dentro do Direito Administrativo. Antunes (2016) destaca ainda a respeito desses novos direitos, dentre os quais está o Direito Ambiental:
"São essencialmente direitos de participação, ou seja, direitos que se formam em decorrência de uma crise de legitimidade da ordem tradicional em que não se incorpora a manifestação direta dos cidadãos na resolução de seus problemas imediatos. O movimento de cidadãos conquista espaços políticos que se materializam em leis de conteúdo, função e perspectivas bastante diversas das conhecidas pela ordem jurídica tradicional."
- (ANTUNES, 2016)
O Direito Ambiental surgiu da necessidade de se criarem normas jurídicas de proteção e preservação do meio ambiente e seus recursos naturais para as presentes e futuras gerações do planeta. Trata-se de um Direito que tem como objetivo restaurar, conservar e preservar o bem ambiental, sendo, para tanto, preventivo (esfera administrativa), reparador (esfera civil) e repressivo (esfera penal). Segundo Sirvinskas (2018), “não há dúvida de que o Direito Ambiental deverá ser o instrumento mais importante para a proteção do meio ambiente em juízo”.
ATIVIDADES
1. Os grandes problemas ambientais, que atualmente enfrenta a humanidade, estão relacionados diretamente à (ao):
a) Nosso modo de vida, com os valores que fundamentam e caracterizam as sociedades contemporâneas e com as respostas da natureza ao comportamento industrial e consumista insustentável, gerado pelo modelo de globalização econômica.
2.  A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei nº 6.938/81, em seu artigo 3°, inciso, I, dispõe:
“Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I. meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Esse conceito define:
a) Meio ambiente natural.
AULA 2 - PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO AMBIENTAL
CONCEITO DE PRINCÍPIOS
Derivado do latim principium, o termo princípio significa começo, início, origem, ponto de partida, ou, ainda, a ideia de verdade primeira, que serve de fundamento ou de base para algo. Etimologicamente, princípio origina-se de principal, primeiro, demonstrando origem de algo, de uma ação ou de um conhecimento.
Em um primeiro momento, dentro da evolução histórica do Direito, os princípios eram vistos como meras fontes de integração, estavam no mesmo patamar dos costumes e da analogia.
Como escreve Rodrigues (2018),
"hoje nãomais se nega sua força normativa. São reconhecidos como verdadeiras normas jurídicas, capazes de criar direitos, obrigações etc., nas mais variadas situações concretas, ainda que não seja constatada qualquer lacuna. A grande diferença, contudo, para as tradicionais regras jurídicas é que os princípios são dotados de uma carga de abstração muito grande."
- RODRIGUES, 2018.
Dentro do estudo do Direito, os princípios são vetores, considerados os mandamentos, o alicerce de determinado sistema jurídico, influenciando todas as normas que o compõem, criando um sentido lógico, harmônico, racional e coerente. Deles se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade.
Na conceituação de Celso Antônio Bandeira de Melo “e o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele”. Para Sirvinskas “são normas que exigem a realização de algo, da melhor forma possível, de acordo com as possibilidades fácticas e jurídicas. Os princípios não proíbem, permitem ou exigem algo em termos de tudo ou nada; impõem a optimização de um direito ou de um bem jurídico, tendo em conta a reserva do possível, fáctica ou jurídica”.
Nos princípios estão as proposições primárias do Direito; neles estão vinculados os valores fundamentais de uma sociedade.
PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
Por ser uma ciência autônoma, o Direito Ambiental é fundamentado por princípios próprios que regulam seus objetivos e diretrizes e que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema legislativo ambiental.
Segundo Thomé (2019),
"o Direito Ambiental, ciência dotada de autonomia científica, apesar de apresentar caráter interdisciplinar, obedece a princípios específicos, pois, de outra forma, dificilmente se obteria a proteção eficaz pretendida sobre meio ambiente. Neste sentido, seus princípios caracterizadores têm como escopo fundamental orientar o desenvolvimento e a aplicação de políticas públicas que servem como instrumento fundamental de proteção ao meio ambiente e, consequentemente, à vida humana."
- THOMÉ, 2019.
Pelos princípios se extraem as diretrizes básicas que permitem compreender a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade.
Rodrigues (2018) esclarece que os princípios se encontram enraizados na Constituição Federal de 1988 (CF/88) e que deles decorrem outros que lhe são derivados, mas não expressos pelo legislador; por isso, a enumeração dos princípios do Direito Ambiental não é uniforme na doutrina.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano que ocorreu em 1972, na cidade de Estocolmo, capital da Suécia, estabeleceu 26 princípios que praticamente resumem as preocupações com o desenvolvimento e o meio ambiente. Esses princípios foram importantes fontes para os princípios norteadores do Direito Ambiental Brasileiro.
Em junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, realizada na cidade do Rio de Janeiro, também estabeleceu 27 princípios ambientais globais, fruto da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A Declaração do Rio teve por fim:
"Estabelecer uma nova e justa parceria global mediante a criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chaves da sociedade e os indivíduos, trabalhando com vistas à conclusão de acordos internacionais que respeitem os interesses de todos e protejam a integridade do sistema global de meio ambiente e desenvolvimento, reconhecendo a natureza integral e interdependente da Terra, nosso lar."
- BRASIL, 1992
PRINCIPAIS PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
· Princípio do Direito Humano
É considerado uma extensão do direito à vida; portanto, um direito humano. A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988 estabelece, em seu Art. 1º, III, que, entre os fundamentos do Estado Democrático de Direito, está o da dignidade da pessoa humana, o fundamento precípuo de todo o sistema constitucional.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana. (BRASIL, 1988.)
O Princípio Fundamental do Direito Humano está vinculado ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (como direito fundamental à sadia qualidade de vida), o qual deve ser protegido para as gerações presentes e futuras, conforme dispõe o Art. 225, caput, da CRFB. Também está previsto na Declaração de Estocolmo como princípio comum para inspirar e guiar os povos do mundo na preservação e na melhoria do meio ambiente.
Dentro da Declaração de Estocolmo, esse princípio encontra-se consagrado nos Princípios nº 1 e nº 8, que dispõem:
Princípio 1 - O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar e é portador solene de obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente, para as gerações presentes e futuras.
[...]
Princípio 8 - O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um ambiente de vida e trabalho favorável e criar, na Terra, as condições necessárias à melhoria da qualidade de vida. (BRASIL, 1972.)
Quanto à Declaração Rio-92, esse princípio encontra amparo no Princípio nº 1, o qual esclarece que “os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com a natureza”.
A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei nº 6.938/81, em seu Art. 2°, assim dispõe sobre esse princípio:
A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (BRASIL, 1981.)
Sirvinskas (2018) destaca que
“há crítica a esse princípio, pois o acesso ao meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser preservado para todas as formas de vida, e não só a humana. Cuida-se de uma visão biocêntrica e não somente antropocêntrica”.
· Princípio do Desenvolvimento Sustentável
O conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado ao mundo em 1987, por meio do relatório intitulado Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório de Brundtland. Nele, a expressão em destaque é conceituada como
“o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”.
Trata-se de um dos mais importantes princípios do Direito Ambiental. O Princípio do Desenvolvimento sustentável procura coadunar proteção ao meio ambiente com desenvolvimento socioeconômico, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de todos nós.
A CRFB/88 expressa esse princípio ao referenciar o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. No caput do Art. 225, a Constituição afirma que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Ainda a Constituição, no capítulo da Ordem Econômica, também faz menção à defesa do meio ambiente ao afirmar que a ordem econômica fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observada, dentre outros princípios, a proteção ambiental, conforme disposto no Art. 170, VI, da CRFB:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme oimpacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. (BRASIL, 1988.)
O desenvolvimento sustentável exige dos governos políticas públicas de saneamento, educação ambiental, fiscalização no efetivo cumprimento das normas ambientais, diminuição do consumismo, eliminação da pobreza e da poluição.
· Princípio da Ubiquidade
Por meio desse princípio, o bem ambiental não encontra qualquer fronteira; ele está presente em todos os lugares, fruto principalmente de sua natureza difusa. Como escreve Rodrigues (2018),
“por sua característica difusa de bem onipresente e de titularidade fluida, o bem ambiental jamais fica delimitado a uma determinada circunscrição espacial ou temporal”. Rodrigues (2018),
Esse princípio evidencia que o objeto de proteção do meio ambiente deve ser levado em consideração sempre que uma política, atuação, legislação sobre qualquer tema, atividade ou obra tiver de ser criada e desenvolvida. Isso ocorre porque o Direito Ambiental tutela a vida e a qualidade de vida; assim, tudo que se pretende fazer, criar ou desenvolver deve, antes, passar por uma consulta ambiental para saber se há ou não possibilidade de degradação ao meio ambiente.
· Princípio da Cooperação
É indispensável cooperar para controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos prejudiciais que determinadas atividades produzam no meio ambiente.
Esse princípio está previsto nos Princípios nº 22 e nº 24 da Conferência de Estocolmo. Reza a redação do Princípio 22 da citada Conferência:
Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito internacional, no que se refere à responsabilidade e à indenização das vítimas da poluição e outros danos ambientais, que as atividades realizadas dentro da jurisdição ou sob controle de tais Estados, causem às zonas situadas fora de sua jurisdição. (BRASIL, 1972.)
Já o Princípio 24 estabelece: “Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e cooperação e em pé de igualdade das questões internacionais relativas à proteção e melhoramento do meio ambiente”.
Quanto à Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, estabelecida na Rio-92, o Princípio da Cooperação está previsto em diversos princípios. São eles: Princípios nº 5, nº 7, nº 9 e nº 12.
Princípio 5: Todos os Estados e todos os povos cooperarão na tarefa fundamental de erradicar a pobreza como condição indispensável ao desenvolvimento sustentável, por forma a reduzir as disparidades nos níveis de vida e melhor satisfazer as necessidades da maioria dos povos do mundo.
[...]
Princípio 7: Os Estados cooperarão com espírito de parceria global para conservar, proteger e recuperar a saúde e integridade do ecossistema da Terra. Tendo em conta as diferentes contribuições para a degradação ambiental global, os Estados têm responsabilidades comuns, mas diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na procura do desenvolvimento sustentável a nível internacional, considerando as pressões exercidas pelas suas sociedades sobre o ambiente global e as tecnologias e os recursos financeiros de que dispõem.
[...]
Princípio 9: Os Estados deverão cooperar para reforçar as capacidades próprias endógenas necessárias a um desenvolvimento sustentável, melhorando os conhecimentos científicos através do intercâmbio de informações científicas e técnicas, e aumentando o desenvolvimento, a adaptação, a difusão e a transferência de tecnologias incluindo tecnologias novas e inovadoras.
[...]
Princípio 12: Os Estados deverão cooperar na promoção de um sistema econômico internacional aberto e apoiado que conduza ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países de forma a melhor tratar os problemas de degradação ambiental. As medidas de política comercial motivadas por razões ambientais não devem constituir um instrumento de discriminação arbitrária ou injustificada ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional. As ações unilaterais para lidar com desafios ambientais fora da área de jurisdição do país importador devem ser evitadas. As medidas ambientais para lidar com problemas ambientais transfronteiriços ou globais devem, tanto quanto possível, ser baseados num consenso internacional. (BRASIL, 1992.)
Perante as Conferências Internacionais da Organização das Nações Unidas, esse princípio busca a cooperação entre os países, seja por meio da cooperação técnica e científica para diminuir a degradação do meio ambiente, seja por uma cooperação social a fim de reduzir a pobreza mundial, o consumismo e a poluição em todas as suas formas. Em nosso país, a cooperação é entre o poder público em todas as esferas da federação e também as empresas na busca da preservação e proteção do meio ambiente.
A CRFB/1988, em seu Art. 4°, IX, estabelece o Princípio da Cooperação ao disciplinar: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos Princípios da Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade”.
· Princípio da Participação ou Democrático
Esse princípio assegura a todos os cidadãos o direito pleno de participar na elaboração de políticas públicas ambientais. São mecanismos de participação popular na elaboração de políticas públicas ambientais:
1. A participação de iniciativa popular nos procedimentos legislativos, a realização de referendos sobre leis e a atuação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados dotados de poderes normativos.
2. A atuação direta da sociedade na defesa do meio ambiente, participando na formulação e na execução de políticas ambientais, mediante ação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de diretrizes e pelo acompanhamento da execução de políticas públicas.
3. A participação popular direta na proteção do meio ambiente, a utilização de instrumentos processuais que permitem a obtenção da prestação jurisdicional na área ambiental e que estão à disposição do cidadão e da coletividade brasileira na tutela do meio ambiente, como a Ação Popular, a Ação Civil Pública e o Mandado de Segurança Coletivo.
A participação popular e o acesso à informação são elementos básicos para garantir a proteção do meio ambiente e um permanente envolvimento nas questões ambientais.
Esse princípio está previsto no Princípio nº 10 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que narra:
A melhor forma de tratar as questões ambientais é assegurar a participação de todos os cidadãos interessados ao nível conveniente. Ao nível nacional, cada pessoa terá acesso adequado às informações relativas ao ambiente detidas pelas autoridades, incluindo informações sobre produtos e atividades perigosas nas suas comunidades, e a oportunidade de participar em processos de tomada de decisão. Os Estados deverão facilitar e incentivar a sensibilização e participação do público, disponibilizando amplamente as informações. O acesso efetivo aos processos judiciais e administrativos, incluindo os de recuperação e de reparação, deve ser garantido. (BRASIL, 1992.)
· Princípio da Educação Ambiental
Educação ambiental está outorgada nas seguintes legislações: CRFB/1988, no Art. 225, §1°, VI; na Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental; e na Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, em seu Art. 2º, X, que expressam:
CRFB, Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
VI - Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. (BRASIL, 1988.)
Lei 6.938/81, Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visandoassegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
[...]
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. (BRASIL, 1981.)
Perante a Carta Constitucional para assegurar a efetividade do direito de preservar e defender o meio ambiente, deve o poder público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
A Lei nº 9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, em seu Art. 1°, conceitua a educação ambiental como sendo “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
A norma continua em seu Art. 2° esclarecendo que “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal”.
Segundo o Art. 5° da Política Nacional de Educação Ambiental, são objetivos fundamentais da educação ambiental:
I. o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.
II. a garantia de democratização das informações ambientais.
III. o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social.
IV. o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania.
V. o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade.
VI. o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia.
VII. o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. (BRASIL, 1999.)
A norma também estabelece princípios próprios instituídos no Art. 4° e seus incisos. São eles:
I. enfoque humanista, holístico, democrático e participativo.
II. concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade.
III. o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade.
IV. a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais.
V. a garantia de continuidade e permanência do processo educativo.
VI. permanente avaliação crítica do processo educativo.
VII. abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais.
VIII. o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. (BRASIL, 1999.)
O Princípio da Educação Ambiental está previsto na Declaração de Estocolmo, no Princípio nº 19, que consagra:
É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública, bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à proteção e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana. (Brasil, 1972.)
· Princípio do Poluidor-Pagador
Um dos principais princípios do Direito Ambiental, ele impõe ao poluidor o dever de arcar com as despesas de evitar a ocorrência de danos ambientais (caráter preventivo) e, ocorrido o dano, em razão da atividade desenvolvida, ser responsável por sua reparação (caráter repressivo).
Objetiva evitar o dano (caráter preventivo), mas, uma vez ocorrido, deverá ser responsabilizado (caráter repressivo). Assim, o poluidor terá de arcar com todo o prejuízo, de forma integral, pelos danos que causou ao bem ambiental.
Como escreve Thomé (2019), esse princípio é considerado como fundamental na política ambiental, pode ser entendido como um instrumento econômico que exige do poluidor, uma vez identificado, suportar as despesas de prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais.
Para sua aplicação, os custos sociais externos que acompanham o processo de produção (v.g. valor econômico decorrentes de danos ambientais) devem ser internalizados, ou seja, o custo resultante da poluição deve ser assumido pelos empreendedores de atividades potencialmente poluidoras, nos custos da produção. Assim, o causador da poluição arcará com os custos necessários à diminuição, eliminação ou neutralização do dano ambiental. (THOMÉ, 2019.)
Tem como fundamento legal o Art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81, e o Art. 225, § 3º, da CRFB:
Lei 6.938/81, Art. 14
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. (BRASIL, 1981.)
CRFB, Art. 225
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 1988.)
Sirvinskas (2018) ressalva que “o fato de o poluidor ser obrigado a reparar os danos causados não significa que ele poderá continuar a poluir”. E continua o autor: “Não sendo possível a recomposição, o poluidor deverá ressarcir os danos em espécie, cujo valor deverá ser depositado no fundo para o meio ambiente”.
O Princípio do Poluidor-Pagador tem como fundamento o Princípio nº 13 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o qual prevê que os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle. (BRASIL, 1992.)
O Princípio nº 16 da Declaração do Rio também abraçou esse princípio ao consagrar que as autoridades nacionais deverão esforçar-se por promover a internalização dos custos ambientais e a utilização de instrumentos econômicos, tendo em conta o princípio de que o poluidor deverá, em princípio, suportar o custo da poluição, com o devido respeito pelo interesse público e sem distorcer o comércio e investimento internacionais. (BRASIL, 1992.)
· Princípio do Usuário-Pagador
Consiste na cobrança de um valor econômico pela utilização de um bem ambiental. Esse princípio estabelece que quem utiliza o recurso ambiental deve suportar seus custos. Tal valor não se deve constituir, porém, em uma taxa abusiva ou em enriquecimento sem causa.
Sirvinskas (2018) destaca que tal princípio “está relacionado ao usuário de um serviço público qualquer. Ou seja, só deve pagar pelo serviço o usuário efetivo do bem, por exemplo, a água, o esgoto etc.”.
Não tem a natureza reparatória e punitiva prevista no princípio do Poluidor-Pagador, pois não está associado a infração ou ilicitude.
A Lei nº 6.938/81, em seu Art. 4º, VII, dispõe que a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) visará “à imposição, ao poluidore ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos” (grifo nosso).
· Princípio da Prevenção
A prevenção refere-se ao dano conhecido. Ocorre quando o perigo é certo e se tem elementos seguros para afirmar que uma atividade específica é efetivamente perigosa.
Nesse caso, existe o conhecimento dos efeitos de determinadas atividades e das medidas que se impõem no sentido de evitá-las ou, pelo menos, minimizá-las.
Esse princípio tem o objetivo de impedir a ocorrência de danos ao meio ambiente, adotando-se medidas acautelatórias prévias à instalação, obra ou implantação de determinado empreendimento ou atividade considerada efetiva ou potencialmente poluidora.
O Princípio da Prevenção está previsto no caput do Art. 225 da Constituição Federal de 1988, ao narrar que é dever do Poder Público e da coletividade defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
Exemplo
Exemplo de aplicação do Princípio da Prevenção é o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente.
Thomé (2019) disciplina que esse princípio é orientador no Direito Ambiental, enfatizando a prioridade que deve ser dada às medidas que previnam (e não simplesmente reparem) a degradação ambiental. A finalidade ou o objetivo principal do princípio da prevenção é evitar que o dano possa chegar a produzir-se. Para tanto, necessário se faz adotar medidas preventivas. (THOMÉ, 2019.)
· Princípio da Precaução
Por esse princípio, não existe prova definitiva de que o dano ao meio ambiente ocorrerá. Trata-se de mera possibilidade, ameaça de que o dano ambiental irá materializar-se.
Como escreve Thomé (2019),
“o Princípio da Precaução é considerado uma garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda identificados”. Thomé (2019)
Segundo Milaré (2018),
a invocação do Princípio da Precaução é uma decisão a ser tomada quando a informação científica é insuficiente, inconclusiva ou incerta e haja indicações de que os possíveis efeitos sobre o meio ambiente, a saúde das pessoas ou dos animais ou a proteção vegetal possam ser potencialmente perigosos e incompatíveis com o nível de proteção escolhido. (MILARÉ, 2018.)
O Princípio da Precaução decorre do Princípio nº 15 da Declaração do Rio, assim descrito:
Para que o ambiente seja protegido, será aplicada pelos Estados, de acordo com as suas capacidades, medidas preventivas. Onde existam ameaças de riscos sérios ou irreversíveis não será utilizada a falta de certeza científica total como razão para o adiamento de medidas eficazes em termos de custo para evitar a degradação ambiental. (BRASIL, 1992.)
ATENÇÃO:
O Princípio da Precaução não deve ser confundido com o princípio da Prevenção, muito embora possa ser entendido, para alguns autores, como um desdobramento deste. O Princípio da Prevenção pressupõe uma razoável previsibilidade dos danos que poderão ocorrer a partir de um determinado impacto; já o Princípio da Precaução pressupõe, ao contrário, uma razoável imprevisibilidade dos danos que poderão ocorrer, dada a incerteza científica dos processos ecológicos envolvidos.
· Princípio da Responsabilidade Ambiental
Engloba a responsabilidade civil, penal e administrativa da pessoa física e da pessoa jurídica que causa dano ao meio ambiente. É possível que uma única conduta lesiva ao meio ambiente impute ao causador do dano responsabilidade civil, penal e administrativa. Essas responsabilidades podem ocorrer de forma individual ou cumulativamente.
O Princípio da Responsabilidade Ambiental teve sua origem na responsabilidade objetiva consagrada no Art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81 (PNMA), e no § 3º do Art. 225 da Constituição Federal de 1988.
PNMA, Lei nº 6.938/91, Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. (BRASIL, 91.)
CRFB, Art. 225
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 1988.)
Por esse princípio, o poluidor, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responderá por suas ações ou omissões que causarem dano ao meio ambiente, ficando sujeito a sanções cíveis, penais ou administrativas.
· Princípio da Obrigatoriedade da Intervenção Estatal na Defesa do Meio Ambiente
Dispõe o Art. 225, caput, da Constituição Federal que cabe ao poder público o dever de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações. Nesse sentido, tal princípio decorre da natureza indisponível do direito ao meio ambiente saudável. Segundo Thomé (2019) Ele tem por base a atuação obrigatória do Estado na proteção ambiental em decorrência da natureza indisponível do meio ambiente, “cuja proteção é reconhecida hoje como indispensável à dignidade e à vida de toda pessoa – núcleo essencial dos direitos fundamentais” (THOMÉ, 2019).
Está disciplinado no Art. 174 da Constituição Federal de 1988:
“Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado” (BRASIL, 1988).
Também consta no Princípio 17 da Declaração de Estocolmo de 1972 que se deve
“confiar às instituições nacionais competentes a tarefa de planificar, administrar e controlar a utilização dos recursos ambientais dos Estados, com o fim de melhorar a qualidade do meio ambiente” (BRASIL, 1972).
Tais dispositivos consignam expressamente o dever do Poder Público em atuar na defesa do meio ambiente, tanto no âmbito administrativo, quanto no âmbito legislativo e até no jurisdicional, cabendo ao Estado adotar as políticas públicas e os programas de ação necessários para cumprir esse dever imposto.
· Princípio do Equilíbrio Resultado Global
Por meio dele, determina-se que sejam pesadas todas as implicações de uma intervenção no meio ambiente, buscando-se adotar a solução que melhor concilie um resultado globalmente positivo. Tendo como característica básica a ponderação de valores, esse princípio é voltado para a Administração Pública, a qual deve sopesar todas as causas que podem ser desencadeadas por determinada intervenção no meio ambiente, adotando-se a solução que busque o desenvolvimento sustentável.
· Princípio do Limite
É o princípio pelo qual a Administração Pública tem o dever de fixar parâmetros para as emissões de partículas, de ruídos e de presença de corpos estranhos no meio ambiente, levando em conta a proteção da vida e do próprio meio ambiente. Está diretamente ligado ao exercício do Poder de Polícia do Estado, pois cabe a este fiscalizar e orientar a sociedade quanto aos limites em usar e aproveitar o bem ambiental.
Segundo Milaré (2018), esse princípio “resulta de intervenções necessárias à manutenção, preservação e restauração dos recursos ambientais com vista à sua utilização racional e disponibilidade permanente”.
Tal princípio possui fundamento no Art. 225, §1°, V, da Constituição Federal, e no Art. 9°, I, da Lei nº 6.938/81 (PNMA).
CRFB, Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo eessencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. (BRASIL, 1988.)
PNMA, Lei n. 6.938/91, Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental. (BRASIL, 1991.)
· Princípio da Função Socioambiental da Propriedade Privada
Consagra a sobreposição do interesse público ao interesse privado. O poder estatal (em tese, ilimitado) será limitado todas as vezes que atingir direitos e garantias individuais. Contudo, o interesse na proteção do meio ambiente, por ser de natureza pública, deve prevalecer sempre sobre os interesses individuais privados, ainda que legítimos.
A Constituição Federal de 1988, ao mesmo tempo em que garante o Direito de Propriedade em seu Art. 5º, XXII, deixa claro que este tem uma função social a cumprir, prevista tanto no Art. 5º, XXIII, quanto no Art. 170, III, no Art. 182, §2º (função social da propriedade urbana), e no Art.186, II (função social da propriedade rural).
CRFB, Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXII - é garantido o direito de propriedade.
CRFB, Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social.
CRFB, Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
III - função social da propriedade.
CRFB, Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
CRFB, Art. 186 - função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
[...]
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente. (BRASIL, 1988.)
ATIVIDADES
1. Na perspectiva da tutela do direito difuso ao meio ambiente, o ordenamento constitucional exigiu o estudo de impacto ambiental para instalação e desenvolvimento de certas atividades. Nessa perspectiva, o estudo prévio de impacto ambiental está concretizado no Princípio:
b) da Prevenção.
2. Dispõe o Art. 170, VI, da Constituição Federal de 1988:
A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
[...]
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. (BRASIL, 1988.)
Esse artigo e inciso da Constituição Federal estão vinculados ao:
e) Princípio do Desenvolvimento Sustentável.
AULA 3 - TUTELA CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE
O DIREITO AMBIENTAL E A SUA PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL
A Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), promulgada em 05 de outubro de 1988, elevou o meio ambiente a status constitucional, criando capítulo próprio no Art. 225 – Capítulo VI (Do Meio Ambiente), dentro do Título VIII, Da Ordem Social. O Art. 225 é a principal fonte formal do Direito Ambiental nacional. Antes de promulgada a Constituição Cidadã, a principal norma de proteção autônoma do meio ambiente era a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei nº 6.938, sancionada em 31 de agosto de 1981.
Importante frisar que é na Constituição Federal que estão os princípios fundamentais do Direito Ambiental, como o Princípio do Desenvolvimento Sustentável, Princípio do Direito Humano Fundamental, Princípio da Responsabilidade Ambiental, Princípio do Poluidor-Pagador, Princípio da Prevenção, entre outros.
Engana-se quem pensa que apenas o Art. 225 da Constituição Federal trata do bem ambiental; ao longo da Carta Cidadã, há diversos outros artigos que dispõem sobre o meio ambiente.
Para possibilitar a ampla proteção ao meio ambiente, a Constituição Federal de 1988 fez previsão a diversas regras, que foram divididas nestes quatro grandes grupos:
REGRAS GERAIS: São aquelas previstas de forma direta ou indireta em vários textos da Constituição Federal.
REGRAS ESPECÍFICAS: São previstas no capítulo do Meio Ambiente, isto é, no Art. 225 e em seus 7 parágrafos da Constituição Federal.
REGRAS DE COMPETÊNCIA: São divididas em legislativas e administrativas. A primeira diz respeito ao poder de legislar dos entes federativos, e a segunda atribui ao Poder Público a prática de atos administrativos em prol da preservação e proteção ambiental.
REGRAS DE GARANTIA: São as tutelas processuais ambientais, como a ação popular e a ação civil pública, entre outras.
Agora faremos uma análise detalhada do Art. 225 (caput e parágrafos) da Constituição Federal.
CRFB, Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(BRASIL, 1988)
Esse dispositivo legal deve ser observado sob os seguintes aspectos:
· O meio ambiente ecologicamente equilibrado que gera qualidade de vida.
· O meio ambiente enquanto bem de uso comum do povo.
· O meio ambiente como bem difuso, essencial à sadia qualidade de vida.
· O dever do poder público e da coletividade em proteger e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
O MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO QUE GERA QUALIDADE DE VIDA
O meio ambiente ecologicamente equilibrado está diretamente vinculado ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana (Art. 3°, inciso I, CF/88), uma vez que o bem ambiental protegido e preservado gera qualidade de vida para todos. Trata-se de um direito fundamental da pessoa humana; direito à vida com qualidade. O meio ambiente é um bem difuso, portanto, indisponível.
O MEIO AMBIENTE ENQUANTO BEM DE USO COMUM DO POVO
O meio ambiente é um bem jurídico, que possui valor econômico e social
O MEIO AMBIENTE COMO BEM DIFUSO
O meio ambiente se enquadra na categoria de direitos coletivos (lato sensu), como um direito e interesse difuso. Apesar de a Constituição Federal de 1988, no Art. 129, inciso III, prever interesse difuso ao dispor que entre as funções institucionais do Ministério Público está “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”, a Carta Magna não conceituou interesse difuso, deixando esse encargo para o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, em seu Art. 81, parágrafo único, inciso I.
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejamtitulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.
(BRASIL, 1990)
Nunes (2019, p. 808 ) esclarece que, antes de definir direito e interesse difuso, é necessário entender que as palavras interesses e direitos são compreendidas como sinônimos:
“na medida em que [o termo] ‘interesses’ tem o sentido de prerrogativa, e esta é exercício de direito subjetivo. Logo, direito e interesse têm o mesmo valor semântico: direito subjetivo ou prerrogativa, protegidos pelo ordenamento jurídico”.
Nunes (2019, p. 808)
E ainda, o termo difuso significa:
“indeterminado, indeterminável. Então, não será necessário que se encontre quem quer que seja para proteger-se em direito tido como difuso”.
Nunes (2019, p. 808)
Conforme dispõe a redação do Art. 81, parágrafo único, inciso I, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.089/90), direitos e interesses difusos são aqueles transindividuais, indivisíveis, dos quais são titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. Os direitos e interesses difusos são aqueles que pertencem à sociedade como um todo e independem da existência de uma relação jurídica anterior entre seus titulares e aqueles contra quem serão tutelados.
O dever do poder público e da coletividade em proteger e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações
A proteção ambiental é um dever do Poder Público e de toda a coletividade, com o objetivo de protegê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. A Constituição Federal impõe esse dever de conservar o bem ambiental não somente para a geração presente, mas também para as gerações, que estão por vir, isto é, as futuras gerações.
A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), Lei nº 6.938/81, em seu Art. 2°, I, consagra o meio ambiente como um patrimônio público que deve ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista seu uso coletivo.
IMPORTANTE: O meio ambiente é um Direito de Terceira Geração, pautado nos Princípios da Solidariedade e Fraternidade. Os Direitos de Terceira Geração são os transindividuais, enquanto os Direitos de Primeira Geração são os ligados ao valor liberdade; são os direitos civis e políticos, e os Direitos de Segunda Geração são os direitos sociais, econômicos e culturais.
No Art. 225, § 1º, e em seus incisos, estão contidos os comandos, de natureza obrigatória, de que deve o Poder Público dispor para a defesa do meio ambiente. O Poder Público, para assegurar a proteção do meio ambiente, deve:
· preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
· preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
· definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
· exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
· controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
· promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
· proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL AMBIENTAL
A Constituição da República Federativa do Brasil, sancionada em 1988, reparte as competências entre todos os entes da federação brasileira, isto é, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, segundo destaca o Art. 18, caput, da Constituição Federal.
CRFB, Art. 18.
A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.
(BRASIL, 1988)
A principal característica da Federação é a autonomia das unidades federadas, que se caracteriza pela capacidade de as unidades federativas se auto-organizarem, observando os princípios do pacto federal.
COMPETÊNCIA DOS ENTES PÚBLICOS
A doutrina divide a competência dos entes públicos em:
1 - Competência Administrativa
A competência administrativa atribui ao Poder Público a prática de atos administrativos e de atividades ambientais. Essa competência é de atuação concreta do ente, por meio do exercício do poder de polícia.
A competência material ou administrativa se divide em:
a) Competência administrativa (ou material) exclusiva
Essa competência é inerente à União, Art. 21 da Constituição Federal. Trata-se de competência exclusiva da União e versa sobre interesse geral. A competência administrativa exclusiva da União em sede de meio ambiente se evidenciam o Art. 21, incisos IX; XII, letra b; XV; XIX; XX; XXIII, alíneas “a” até “d” e ainda o inciso XXV.
CRFB, Art. 21. Compete à União:
[...]
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
[...]
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais;
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas;
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa. (BRASIL, 1988.)
b) Competência administrativa (ou material) comum
Também denominada concorrente administrativa, é atribuída conjuntamente a todos os entes federativos, isto é, cabe tanto à União quanto aos Estados, Municípios e Distrito Federal. Trata-se de mera cooperação administrativa prevista no Art. 23, incisos VI; VII; VIII; IX; X; XI, e parágrafo único da Constituição Federal.
CRFB, Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
[...]
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar;
IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar,acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (BRASIL, 1988.)
IMPORTANTE:
O parágrafo único do Art. 23 da Constituição Federal narra que a cooperação executiva entre os entes federados será determinada por leis complementares, que deverão verificar o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. No que tange ao meio ambiente, foi sancionada a Lei Complementar nº 140, de 08 de dezembro de 2011, que fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput, bem como do parágrafo único do Art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, isto é, Política Nacional doe Meio Ambiente (PNMA).
Determina a Lei complementar nº 140/2011, nos seus Arts. 1º e 3º:
Art. 1° Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora.
[...]
Art. 3° Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei Complementar:
I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as peculiaridades regionais e locais. (BRASIL, 2011.)
2 - Competência Legislativa
É atribuída aos entes federativos o ato de legislar. A competência legislativa é dividida em:
a) Competência legislativa privativa
Prevista no Art. 22 da Constituição Federal, a competência legislativa privativa é inerente à União, que é quem tem o poder de legislar sobre as matérias específica do Art. 22 da Carta Magna.
A competência legislativa privativa tem a possibilidade de delegação, conforme dispõe o parágrafo único do próprio Art. 22: “Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo”. No que tange ao bem ambiental, este está discriminado nos incisos IV, X, XII, XIV, XV, XVIII e XXVI do Art. 22.
CRFB, Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
[...]
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. (BRASIL, 1988.)
b) Competência legislativa exclusiva
Diz respeito aos Estados e aos Municípios, sendo reservada unicamente a uma entidade, sem a possibilidade de delegação. Está prevista no Art. 25, §§ 2º e 3°, além, no que concerne ao estudo de nossa disciplina, do Art. 30, inciso I, da Constituição Federal.
CRFB, Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.
[...]
§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.
CRFB, Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local. (BRASIL, 1988.)
c) Competência legislativa residual
Também denominada de competência legislativa remanescente ou ainda reservada, trata-se de competência residual dos Estados, conforme prevista no Art. 25, § 1°, da CRFB.
CRFB, Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. (BRASIL, 1988 – grifo nosso.)
d) Competência legislativa concorrente
Permite que a União, os Estados e o Distrito Federal legislem sobre a mesma matéria. Possui como característica a atribuição de uma mesma matéria a mais de um ente federativo. Tem seu fundamento no Art. 24 da Constituição Federal. No que diz respeito ao meio ambiente, os incisos I a VIII do Art. 24 disciplinam a questão.
CRFB, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (BRASIL, 1988.)
A competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais (Art. 24, § 1°, da CRFB/1988), que deverá ser observada por todos.
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (BRASIL, 1988.)
e) Competência legislativa suplementar
Na legislação concorrente, a União limita-se a estabelecer normas gerais, e os Estados, as normas específicas. No entanto, em caso de inércia legislativa da União, os Estados poderão suplementá-la.
Sobre os Estados, o Art. 24, § 2°, da Constituição Federal estabelece que a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.
CRFB, Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
[...]
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. (BRASIL, 1988.)
No que tange aos municípios, a redação do Art. 30, inciso II, da Carta Magna destaca que compete aos municípios suplementar a legislação federal e a estadual no que couber.
CRFB, Art. 30. Compete aos Municípios:
[...]
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. (BRASIL, 1988.)
f) Competência legislativa supletiva
Decorre da inércia da União em editar lei federal sobre normas

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