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DIREITO CIVIL AULA 19

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DIREITO CIVIL - AULA 19 (04/09/12)
DIREITOS DA PERSONALIDADE
01) Noções Conceituais
- Os direitos da personalidade dizem respeito a tudo aquilo que é necessário para assegurar a proteção fundamental da pessoa.
- A partir do art. 1º, CC chegamos à conclusão de que toda pessoa possui personalidade. Para o direito, pessoa é quem dispõe de personalidade. Ter personalidade significa ter direitos da personalidade. Ter direitos significa ter proteção fundamental, que trata de assegurar a dignidade da pessoa humana.
- Ou seja, enquanto o direito não se preocupou com a dignidade humana (que ocorreu somente na II Guerra Mundial), não existiam os direitos da personalidade.
- Portanto, os direitos da personalidade dizem respeito aos direitos subjetivos extrapatrimoniais, dizendo respeito às situações jurídicas existenciais.
- As relações jurídicas privadas são divididas em dois tipos: as relações existenciais e as relações patrimoniais. As relações patrimoniais dizem respeito aos direitos reais e obrigacionais, enquanto que os direitos existenciais dizem respeito aos direitos da personalidade e alguns direitos de família, pois não dizem respeito ao patrimônio, e sim à existência da pessoa.
- O rol dos direitos da personalidade sempre será exemplificativo, pois é impossível listar tudo aquilo que é necessário para existir vida digna.
- No Brasil, os direitos da personalidade possuem uma cláusula geral (direito geral da personalidade), que é a dignidade da pessoa humana.
- O Enunciado 274 da Jornada de Direito Civil afirma que os direitos da personalidade são exemplificativos e estão sustentados pela dignidade da pessoa humana.
- O Direito Civil evoluiu significativamente da tutela jurídica do ter para a tutela jurídica do ser. No CC/1916, a preocupação era proteger as relações patrimoniais enquanto que no CC/2002, a preocupação é proteger as relações existenciais. Ou seja, houve uma despatrimonialização das relações privadas.
- Mesmo quando se defende o patrimônio, busca-se preservar a dignidade humana.
- O dano moral não corresponde aos direitos da personalidade em si, mas sim a sua violação.
- Os entes despersonalizados, como no caso do condomínio edilício, por não ter personalidade não têm direitos da personalidade, e, por isso, não podem sofrer dano moral. Mas os entes despersonalizados podem sofrer dano material.
- Existem conceitos jurídicos indeterminados, que não comportam uma definição. Um exemplo destes conceitos é a dignidade da pessoa humana. Mas existe um conteúdo jurídico mínimo, que é o que fica quando se reduz o conceito ao mínimo.
- Conteúdo jurídico mínimo da dignidade humana:
Proteção da integridade física e psíquica. Ex: Lei 11.346/06 (direito à alimentação adequada).
Garantia de liberdade e igualdade. Ex: STF, ADIN 4.277/DF, em que se reconheceu a natureza familiar das uniões homoafetivas, como expressão da dignidade humana.
Reconhecimento do direito ao mínimo existencial ou direito a um patrimônio mínimo. Ex: L. 8.009/90 (Lei do Bem de Família). Aliás, o art. 649, II, CPC fala da impenhorabilidade do bem de família móvel. Os bens móveis que guarnecem o lar são protegidos pelo bem de família.
OBS: O conceito de padrão médio é aplicado somente aos bens móveis. Os imóveis estão protegidos na totalidade de seu valor, seja qual ele for.
02) Direito da personalidade e eficácia horizontal dos direitos fundamentais
- Nas relações públicas, a dignidade é verificada através dos direitos fundamentais.
- Portanto, dignidade humana traz consigo uma eficácia positiva, e uma eficácia negativa. Na positiva são exigidas condutas para garantir a dignidade. Na negativa, a dignidade é limite para a atuação.
- Até 1988, a dignidade foi angularizada em público e privado. A partir de 1988, houve uma mudança significativa, e o STF, no RE 201.819/RJ, trouxe a tese da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (aplicação direta de direitos fundamentais). Esta tese consagrou a ideia de que os direitos e garantias fundamentais são aplicáveis não somente no âmbito das relações públicas, mas também nas associações privadas.
- Com este entendimento, os direitos da personalidade foram mais enriquecidos ainda, pois eles estão lado a lado com os direitos fundamentais nas relações privadas.
- Honra, imagem e privacidade são direitos da personalidade e direitos fundamentais.
- Mesmo os direitos fundamentais que não correspondem aos direitos da personalidade possuem uma eficácia horizontal.
- Depois da afirmação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, os constitucionalistas evoluíram e construíram a tese da eficácia horizontal dos direitos sociais. Esta tese é a aplicação direta de direitos sociais nas relações privadas. Ex: Súmula 302, STJ (eficácia horizontal do direito social à saúde) e Súmula 364, STJ (que trata da impenhorabilidade do bem de família da pessoa sozinha ou “single” – trata do direitos social de moradia).
03) Direito da personalidade versus liberdades públicas
- O exercício de um direito da personalidade pode trazer como conseqüência a imposição de uma obrigação (positiva ou negativa) ao poder público.
- Estas obrigações são as liberdades públicas.
- Os direitos da personalidade são vistos por um ângulo privado (tudo que é necessário para ter vida digna em uma relação privada). Mas às vezes, os direitos da personalidade, mesmo que privadas, exigem uma obrigação do poder público.
- Ex: liberdade de locomoção é direito da personalidade, mas ela traz consigo o Habeas Corpus, que é uma obrigação imposta ao Estado para respeitar o direito de locomoção.
04) Momento aquisitivo
- Advertência: neste momento não se falará sobre as teorias explicativas do nascituro, nem do momento existencial da pessoal. Será tratado agora o início da proteção.
- Os direitos da personalidade possuem, como momento aquisitivo, a concepção.
- Diante disso, nascituro tem legitimidade para ajuizar ação de reparação de dano moral (STJ, REsp. 399.028/SP).
OBS: O natimorto (não nasceu com vida) tem direitos da personalidade, pois eles são reconhecidos desde a concepção. Isso está descrito no Enunciado 1 da Jornada de Direito Civil. São, por exemplo, direitos da personalidade do natimorto, a imagem, nome e sepultura. Ocorre que a Lei de Registros Públicos traz a regra de que o natimorto não tem direito ao nome. Mas na aplicação entre esta regra e o princípio da dignidade do natimorto, prevalece o princípio.
OBS: A concepção é a uterina, ou alcança também a concepção laboratorial. Diante disso, deve-se perguntar se embrião de laboratório tem direitos da personalidade. O assunto foi tratado pela L. 11.105/05 (Lei de Biossegurança), no art. 5º, que foi declarado constitucional pelo STF (ADIN 3.510/DF), e afirma que só é possível no Brasil trabalhar com embriões para fins reprodutivos, mas os embriões excedentários (remanescentes) ficarão guardados pelo prazo de 03 anos. Findo este período, se porventura o casal não tiver mais interesse reprodutivo, o médico descartará, encaminhando para pesquisas com células-tronco. Diante disso, verifica-se que o embrião de laboratório não tem direitos da personalidade, senão não poderia ser descartado. Portanto, o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a concepção uterina.
05) Momento extintivo
- O momento extintivo é a morte. A morte é o limite dos direitos da personalidade.
- Portanto, os direitos da personalidade são vitalícios, e não perpétuos. Ou seja, se extinguem com a morte do titular.
- Existem 03 situações controvertidas:
Sucessão processual (art. 43, CPC): ocorre quando o titular sofre uma lesão à sua personalidade ainda vivo, propõe a ação e falece no curso do procedimento. Neste caso não há nenhuma transmissão dos direitos da personalidade, pois os herdeiros irão se habilitar e darão continuidade ao processo. Isso confirma a regra geral, de que os direitos da personalidade se extinguem com a morte de seu titular.
Transmissão do Direito à reparação do dano (art. 943, CC): ocorre quando o titular sofre uma lesão à suapersonalidade ainda vivo e falece sem propor a ação. Esta questão é meramente de direito material. Nesse caso, transmite-se o direito de propor a ação ao espólio do falecido. Neste caso não houve transmissão do direito da personalidade, mas sim do direito patrimonial de obter a reparação. O STJ, no REsp. 324.886, entendeu que o direito da personalidade não se confunde com o direito patrimonial decorrente da violação do direito da personalidade. A possibilidade de propositura de ação pelo espólio depende da inocorrência de prescrição.
Lesados indiretos (art. 12, p. único, CC): ocorre quando o dano à personalidade de alguém se consuma após o seu óbito. Nesse caso, o dano atinge diretamente ao morto; e, indiretamente, aos seus familiares vivos. Em relação ao morto não decorrerá nenhum efeito jurídico. Em relação aos vivos, produzirá efeitos e eles serão legitimados como lesados indiretos para promover a ação. Este é um caso de legitimidade autônoma, e ordinária. Isto porque os lesados indiretos pleitearão em nome próprio um direito próprio. Se não é caso de substituição processual não é caso de transmissão do direito da personalidade.
Rol dos lesados indiretos (art. 12, p. único, CC): descendentes, ascendentes, cônjuge sobrevivente (também o companheiro e parceiro homoafetivo), colaterais até o 4º grau. A doutrina entende que o rol é exemplificativo e não taxativo, pois o fundamento dele seria o afeto, e não a biologia. Considerando o afeto como fundamento, poderia estar presente o noivo, namorado e enteado.
Atenção: O p. único do art. 20, CC exclui a legitimidade dos colaterais quando se tratar de violação do direito de imagem do falecido. O Enunciado 5 da Jornada afirma que este artigo deve se aplicar, no caso de direito de imagem, pelo princípio da especialidade.
Ex: STJ, REsp. 86.109 e STJ, REsp. 521.697/RJ.
OBS: Cada um dos lesados indiretos comprovará o dano que sofreu.
Não se aplica ao rol dos lesados indiretos a ordem de vocação sucessória (descendente, ascendente, cônjuge, colateral, etc), pois cada um deve provar o seu dano.
06) Fontes
- A doutrina vem controvertendo qual é a fonte/origem dos direitos da personalidade.
- A divergência está entre o jus naturalismo e o positivismo.
- A posição majoritária (Maria Helena Diniz, Pablo Stolze) entende que a origem é divina, pois os direitos da personalidade são inatos ao homem. Ex: Tribunal de Nuremberg, em que os oficiais alemães foram condenados mesmo afirmando que estavam cumprindo a lei. O argumento é que eles violaram um direito que preexiste à lei.
- A posição minoritária (Pontes de Miranda, Gustavo Tepedino) defende que o fundamento dos direitos da personalidade é o positivismo, ou seja, trata-se de uma opção jurídica e cultural do sistema. Estes direitos seriam uma evolução do sistema jurídico, pois quem os reconhece é o próprio sistema. Ex: no Brasil Império o negro era coisa; Se os direitos da personalidade fossem inaptos, seriam universais, mas existem países que admitem a pena de morte.
OBS: Se os direitos da personalidade são inaptos, porque a CF admite pena de morte em tempos de guerra? Isto seria um afastamento episódico dos direitos da personalidade. Isso seria uma opção do sistema.
OBS: Direito autoral é direito da personalidade e é adquirido.
07) Direitos da personalidade e pessoa jurídica
- Pessoa Jurídica não titulariza relação existencial, e, por isso, não dispõe de direitos da personalidade. Isso porque os direitos da personalidade estão baseados na dignidade da pessoa humana.
- Malgrado a Pessoa Jurídica não disponha de direitos da personalidade, pelo fundamento na dignidade humana, merece a proteção que deles decorre.
- A Pessoa Jurídica terá a proteção patrimonial decorrente dos direitos da personalidade.
- O art. 52, CC, na expressão “no que couber”, temos o significado de que a proteção é naquilo que a sua falta de estrutura biopsicológica permita exercer. Ex: honra objetiva, imagem, nome e direito autoral (mas não integridade física ou intimidade).
- O STJ reconheceu a proteção da Pessoa Jurídica no protesto indevido de duplicata (REsp. 433.954).
- Atenção: Pessoa Jurídica tem a possibilidade de sofrer dano moral (Súmula 227, STJ). Intervenção na Súmula: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral, no que couber”.
- Todo este raciocínio emana do Enunciado 286 da Jornada.
08) Conflitos entre direitos da personalidade e liberdade de comunicação social
- Advertência: A liberdade de comunicação social abrange dois valores diferentes: liberdade de imprensa e liberdade de expressão.
- A liberdade de comunicação social está garantida constitucionalmente. Alguns dos direitos da personalidade também estão garantidos. Estes dois valores podem se colidir.
- Não há solução apriorística. A solução depende do caso concreto pela técnica de ponderação de interesses.
- Ex: Uma edição do Jornal O Globo apresentou duas notícias de conteúdo similar: um Ministro teria uma amante, e que ela teria um cargo de confiança no Ministério; Uma sexagenária presidente da associação de bairro teria um amante de 20 anos de idade. Há um conflito entre privacidade e liberdade de imprensa. A solução, no caso do Ministro, prevalece a liberdade de imprensa. No outro caso, prevalece a privacidade.
- Este é um caso de Responsabilidade Civil em concreto, e nunca em abstrato.
* Súmulas 221, STJ.
- Nas hipóteses em que houver responsabilidade civil por dano decorrente de publicação da imprensa, responderão o autor do escrito e o proprietário do veiculo de divulgação.
* Súmula 281, STJ.
- Estabelece que o dano moral decorrente da violação de direitos pela imprensa não é tarifado.
Atenção!
- Todo o raciocínio serve também para dirimir o conflito entre liberdade de expressão e direitos da personalidade.
- A liberdade de expressão é relativa o Brasil não acolhe o “hate speech”, que é a liberdade de expressão absoluta, que existe nos EUA e que consiste na possibilidade de livre expressão com ódio, desprezo e intolerância.
- STF, HC 82.424/RS STF consagrou a proibição de “hate speech”. O Supremo admitiu ação penal por crime de racismo decorrente da publicação de um livro antisemita (caso Ellwanger).

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