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Teologia Sistemática - Uma perspectiva Pentecostal - J Rodman Williams

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TEOLOGIA
S I S T E M Á T I C A
TEOLOGIA
S I S T E M Á T I C A
TEOLOGIA
S I S T E M Á T I C A
Uma perspectiva pentecostal
J . R O D M A N
W I L L I A M S
Vida
(s/
Vida
Ed it o r a V id a
Rua Isidro Tinoco, 70 Tatuapé
CEP 03316-010 São Paulo, SP 
Tel.: 0 xx 11 2618 7000 
Fax: 0 xx 11 2618 7030 
www.editoravida.com.br
Editores responsáveis: Sônia Freire Lula Almeida 
e Marcelo Smargiasse 
Editor-assistente: Gisele Romão da Cruz Santiago 
Tradução por Sueli Saraiva e Lucy Hiromi Kono Yamakami 
Revisão de tradução: Daniel Oliveira e Judson R. Canto 
Revisão de provas: Josemar de Souza Pinto 
Diagramação: Claudia Fatel Lino e Karine dos Santos Barbosa
Capa: Arte Peniel
©1988, 1990, 1992, 1996, de J. Roman Williams
Título original
Renewal Theology
edição publicada por
ZoNDERVAN PuBL ISH IN G H o U S E
(Grand Rapids, Michigan, EUA)
■
Todos os direitos em língua portuguesa 
reservados po r Editora Vida.
P r o i b i d a a r e p r o d u ç ã o p o r q u a i s q u e r m e i o s ,
SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDTCAÇÃO DA FONTE.
As citações bíblicas foram extraídas de cinco versões 
brasileiras Nova Versão Internacional [iW7], Bíblia Viva 
[B V ], Nova Tradução na Linguagem de Hoje [N TH L ], Bíblia 
de Jerusalém [B J], Cartas para Hoje [C H ], A lm eida Edição 
Contem porânea [A E C ], Alm eida Revista e Atualizada [ARA], 
A lm eida Revista e Corrigida [ARC] e Bíblia na Linguagem de 
Hoje [BLH ], todas indicadas pelas siglas acima, e de outras 
dez versões em inglês sem correspondência no Brasil. Essas 
dez versões foram livremente traduzidas para esta obra e estão 
relacionadas em “Abreviaturas”.
■
Todas as citações bíblicas e de terceiros foram adaptadas 
segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado 
em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.
L edição: jul. 2011
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Williams, J. Rodman
Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal / J. Rodman Williams; 
[tradução por Sueli Saraiva e Lucy Hiromi Kono Yamakami]. — São Paulo: 
Editora Vida, 2011.
Título original: Renewal 'Theology 
ISBN 978-85-383-0203-2
1. Pentecostalismo 2. Teologia sistemática I. Título.
11-03311 CDD-230.0462
índices para catálogo sistemático:
1. Teologia sistemática : Perspectiva pentecostal: Cristianismo 230.0462
Sumário
Abreviaturas............................................................................................................................................................................................... 7
Volume 1
Prefácio.................................................................................................................................................. 11
1. I n t r o d u ç ã o .................................................................................................................................................................................. 13
2. O c o n h e c im e n to d e D e u s ...................................................................................................................................................25
3. D e u s ...............................................................................................................................................................................................40
4. A s a n ta T r i n d a d e ....................................................................................................................................................................71
5. C r i a ç ã o .........................................................................................................................................................................................81
6. P r o v id ê n c ia ............................................................................................................................................................................. 101
7. M ila g re s ............................................................................................................................. 121
8. A n j o s .......................................................................................................................................................................................... 146
9. H o m e m ...................................................................................................................................................................................... 170
10. P e c a d o ........................................................................................................................................................................................191
11. O s e fe ito s d o p e c a d o .......................................................................................................................................................... 211
12. A l i a n ç a ......................................................................................................................................................................................237
13. A e n c a r n a ç ã o .........................................................................................................................................................................263
14. E x p ia ç ã o ......................................................................................................................................................................... 305
15. A e x a lta ç ã o d e C r i s to ......................................................................................................................................................... 329
Volume 2
Prefácio.................................................................................................................................................................................................... 361
1. C h a m a d o ..................................................................................................................................................................................363
2. R e g e n e ra ç ã o ...........................................................................................................................................................................381
3. J u s t i f ic a ç ã o ..............................................................................................................................................................................4 0 4
4. S a n t if ic a ç ã o .............................................................................................................................................................................42 3
5. P e r s e v e r a n ç a ..........................................................................................................................................................................45 5
6. O E s p ír i to S a n to .................................................................................................. ;.............................................................. 47 2
7. O E s p ír i to c a p a c i ta d o r ...................................................................................................................................................... 48 8
8. A v in d a d o E s p ír i to S a n t o ...............................................................................................................................................511
9. O fe n ô m e n o d a s l ín g u a s . ..................................................................... 536
10. A m is s ã o d o E s p ír i to S a n to ............................................................................................................................................. 561
T e o lo g ía s is te m á tic a : u rn a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
11. O re c e b im e n to d o E s p ir i to S a n to ........ .........................................................................................................................592
12. O s e fe ito s d a v in d a d o E s p i r i to .................................................................................................................................... 625
13. O s d o n s d o E s p ir i to S a n to ...............................................................................................................................................638
14. A m a n ife s ta ç ã o n ó n u p l a ................................................................................................................................................. 6 60
15. V id a c r i s t ã ................................................................................................................. 719
Volume 3
Prefácio.................................................................................................................................................................................................... 753
Pa r t e 1 — A ig r e j a .........................................................................................................................................................................754
1. D e f in iç ã o ....................................... ................................................... ..................................................................................... 755
2. E s c o p o ....................................................................................................................................................................................... 763
3. S ím b o lo s ................................................................................................................................................................................... 784
4. F u n ç õ e s .................................................................................................................................................................................... 815
5. M in is té r io .................................................... 879
6. O r d e n a n ç a s ............................................................................................................................................................................ 935
7. A ig re ja e 0 g o v e rn o c iv il ................................................................................................................................................. 973
Pa r t e 2 — Ú l t im a s c o i s a s ........................................................................................................................................................992
8. O R e in o d e D e u s .................................................................................................................................................................. 993
9. O r e to r n o d e Jesu s C r i s t o ............................................ 999
10. S in a i s ....................................................................................................................................................................................... 1016
11. A fo rm a d o r e to r n o d e C r i s t o .................................................................................................................................... 1075
12. O p ro p ó s i to d o r e to r n o d e C r i s t o .............................................................................................................................. 1085
13. O M i l ê n io .............................................................................................................................................................................. 1106
14. O ju íz o f in a l .......................................................................................................................................................................... 1127
15. A c o n s u m a ç ã o ..................................................................................................................................................................... 1155
Bibliografia..........................................................................................................................................................................................1181
índice de assuntos........................................................................................................................................................................... 1199
6
Abreviaturas
AB Anchor Bible
AEC Edição Contemporânea da tradução de João Ferreira de Almeida ("Editora Vida,) 
ARA Edição Revista e Atualizada da tradução de João Ferreira de Almeida 
ARC Edição Revista e Corrigida da tradução de João Ferreira de Almeida 
ASV American Standard Version 
AT Antigo Testamento
BAGD Bauer, Arndt, Gingrich & Danker, Greek-English Lexicon ofthe New Testament 
BDB Brown, Driver & Briggs, Hebrew-English Lexicon o f the Old Testament 
BDF Blass, Debrunner & Funk, A Greek Grammar ofthe New Testament 
BJ Bíblia de Jerusalém 
BLH Bíblia na Linguagem de Hoje
EBC Expositors Bible Commentary 
EDT Evangelical Dictionary o f Theology 
e.g. exempli gratia (por exemplo)
EGT Expositors Greek Testament 
HNTC Harpers New Testament Commentary 
IB Interpreters Bible 
ICC International Criticai Commentary 
IDB Interpreters Dictionary ofthe Bible 
i.e. id est (isto é)
ISBE International Standard Bible Encyclopedia, Revised Edition
KJV King James Version 
LCC Library ofChristian Classics
LXX Septuaginta (Antigo Testamento em grego)
NASB New American Standard Bible 
NCBC New Century Bible Commentary 
NEB New English Bible
7
NICNT
NICOT
NIDNTT
NIGTC
NIV
NT
NTC
NTLH
NVI
RSV
TB
TDNT
TNTC
TOTC
TWOT
UBS
WBC
WBE
ZPEB
T e o lo g ia s is te m á tic a :
New International Commentary ofthe New Testament
New International Commentary ofthe Old Testament
New International Dictionary ofNew Testament Theology
New International Greek Testament Commentary
New International Version
Novo Testamento
New Testament Commentary
Nova Tradução na Linguagem de Hoje
Nova Versão Internacional (Editora Vida)
Revised Standard Version 
Tradução Brasileira
Theological Dictionary ofthe New Testament 
Tyndale New Testament Commentary 
Tynàale Old Testament Commentary 
Theological Wordbook o f the Old Testament 
United Bible Societies Greek New Testament 
Word Bible Commentary 
Wydijfe Bible Encyclopedia 
Zondervan Pictorial Encyclopedia o f the Bible
u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
8
Volume 1
Teologia sistemática: 
uma perspectiva pentecostal
Deus, o mundo e a redenção
Prefácio
Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal é um estudo sobre a fé cristã. Ela trata de assuntos 
básicos como Deus e seu relacionamento com o mundo, a natureza do homem e a tragédia do pecado e 
do mal, a pessoa e a obra de Jesus Cristo, o caminho da salvação, a vinda do Espírito Santo, os dons do 
Espírito e a vida cristã. Essas e muitas outras áreas afins serão consideradas com cuidado.
O presente volume culminará com o estudo da pessoa e obra de Cristo conforme apresentadas na 
encarnação, expiação e exaltação.
O texto da Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal tem como base, em primeiro lugar, 
a teologia ensinada a partir de 1959 em três instituições; Austin Presbyterian Theological Seminary, 
em Austin, Texas; Metodyland School of Theology, em Anaheim, Califórnia e, atualmente, na Regent 
University, em Virginia Beach, Virgínia. Em cada um desses lugares tem
sido minha responsabilidade 
cobrir todo o campo da teologia: as doutrinas básicas da fé cristã. Por conseguinte, o que se escreve em 
Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal brota, em grande parte, da experiência em salas de 
aula: a preparação regular para o ensino, o intercâmbio com os alunos e o diálogo com os professores 
da faculdade. Em anos recentes, boa parte do material que agora se encontra nesta obra tem sido usada 
para instrução em sala de aula e carrega as marcas, creio, da comunicação viva.
Minha preocupação em toda a obra é apresentar a fé cristã de maneira que seja interativa — um 
tipo de fala escrita. Em um livro anterior intitulado Ten Teachings [Dez ensinos] (1974), que surgiu tan­
to da pregação como do ensino, fiz uma tentativa preliminar muito mais breve. Agora, minha esperança 
é que todos os que lerem estas páginas — estudantes de teologia, pastores ou leigos — reconheçam este 
discurso pessoal a eles.
O outro aspecto dos bastidores para a escrita de Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal 
é minha participação, desde 1965, no movimento de renovação espiritual na igreja antes descrita como 
“neopentecostal” e, mais recentemente, como “carismática”. Muitos envolvidos nesse movimento tratam- 
-na hoje apenas como “a renovação”. Anos atrás, tentei tratar de certas características da renovação por 
meio de três livros: The Era o f the Spirit [A era do Espírito] (1971), The Pentecostal Reality [A realidade 
pentecostal] (1972) e The Gift o f the Holy Spirit Today [O dom do Espírito Santo hoje] (1980). Em Teologia 
sistemática: uma perspectiva pentecostal, meu interesse é muito mais amplo, ou seja, tratar de todo o leque 
da verdade cristã. Ainda assim, será uma “teologia da renovação”, i.e., uma teologia sistemática na perspec­
tiva pentecostal, porque escrevo como alguém posicionado dentro do contexto da renovação.
Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal é, em certo sentido, uma expressão de revitalização. 
Quando cheguei à renovação, em 1965, a linguagem do “Deus está morto” era corriqueira. O que aconte­
ceu no meu caso e no caso de muitos outros foi a própria resposta de Deus: uma autorrevelação poderosa. 
Em The Era ofthe Spirit escrevi: “Talvez ele tenha parecido ausente, distante, até inexistente para muitos de
li
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
nós antes, mas agora sua presença manifesta-se de maneira viva” (p. 10). João Calvino declarou muito tem­
po atrás que o conhecimento de Deus consiste “mais em viva experiência do que em vazia e leviana especula­
ção” (As institutas ou tratado da religião cristã, 1:10.2). Agora que houve uma intensificação de “experiência 
viva” em minha vida, brotou um novo zelo no ensino da teologia em suas muitas facetas. Como disse mais 
tarde em The Era ofthe Spirit: “Liberou-se uma nova dinâmica que revitalizou várias categorias teológicas” 
(p. 41). Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal é uma expressão dessa revitalização teológica.
Na maioria das páginas que se seguem, haverá pouca diferença em relação àquilo que se pode 
encontrar em muitos livros de teologia. Isso ocorre especialmente neste primeiro volume em que os 
tópicos em geral seguem os padrões tradicionais. Entretanto, o que espero que o leitor capte nas entre­
linhas é o fascínio e o entusiasmo com a realidade das matérias discutidas. A velha existência renovada 
é algo com que se entusiasmar!
Contudo, Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal também representa uma tentativa 
de reforçar certas afirmações bíblicas que têm sido muito negligenciadas ou recebido atenção insufi­
ciente. Em harmonia com o cenário desta teologia dentro da renovação contemporânea, também há 
uma profunda preocupação em relacionar ênfases renovadas relevantes com as categorias mais tra­
dicionais. Já que minha convicção é de que a tradição e a teologia da igreja têm em geral deixado de 
dar tratamento adequado ao aspecto da obra do Espírito Santo que pode ser chamado de “pentecos- 
tal” e “carismático”, haverá uma tentativa diligente de trazer essas questões à luz. O volume 2 tratará 
especialmente dessa área; mas, em muitos outros pontos de Teologia sistemática: uma perspectiva 
pentecostal haverá uma coloração pentecostal/carismática.
Por fim, a preocupação de Teologia sistemática: uma perspectiva pentecostal em cada área de estu­
do é a verdade. Isso não é uma tentativa de promover uma causa particular, mas compreender em sua 
totalidade o que proclama a fé cristã. Não é apenas uma questão de doutrinas específicas, mas também 
de toda a extensão da verdade cristã. Com isso em mente, é meu desejo e oração que o “Espírito da 
verdade” guie “a toda a verdade” (Jo 16.13) em cada ponto.
Estendo minha gratidão a vários colegas do corpo discente da Regent University que leram o ma­
terial no todo ou em parte e ofereceram muitas sugestões valiosas. Sou especialmente grato ao dr. John 
Rea e ao dr. Charles Holman do departamento de estudos bíblicos, pelo auxílio nesse sentido. Também 
apresento minha gratidão a Mark Wilson, assistente da Regent University, pela edição inicial de todo 
o material. Estendo igualmente meu apreço aos assistentes de graduação Helena 0 ’Flanagan e Cynthia 
Robinson, pelo trabalho de referências, e às digitadoras Ruth Dorman e Juanita Helms. Ao trazer este 
material para ser publicado, também agradeço o agradável relacionamento cooperativo com Stanley 
Gundry, Ed van der Maas e Gerard Terpstra, da Zondervan Publishing House.
Acima de tudo, sou profundamente grato a minha esposa, Jo, pelo incentivo e auxílio em todo o 
longo processo de chegar à conclusão desta obra.
Encerro este prefácio com as palavras desafiadoras de Paulo a Tito: “Você, porém, fale o que está de 
acordo com a sã doutrina” (Tt 2.1). Pela graça de Deus, creio que o que se encontra nas páginas a seguir 
seja “sã doutrina”. Não tenho nenhum desejo de ensinar outra coisa.
12
1
Introdução
Este capítulo de abertura trata do assunto básico da 
teologia. Qual sua natureza, função e método? Have­
rá referências à relevância da renovação, mas a ênfase 
principal estará na questão da teologia em si.
1. A NATUREZA DA TEOLOGIA
Uma proposta de definição: o conteúdo da fé cris­
tã conforme apresentado em exposição ordenada pela 
comunidade cristã. Vários aspectos dessa definição de 
teologia serão considerados nas páginas a seguir.
A. O conteúdo da fé cristã
A teologia apresenta o que a fé cristã ensina, afir­
ma, considera verdadeiro: suas doutrinas.
A fé cristã possui princípios definidos, e o cam ­
po é vasto; e.g., o Deus trino, Criação, providência, 
pecado, salvação, santificação, a igreja, sacramentos, 
“últimas coisas”. A teologia trata do que é verdade em 
sua totalidade.
Desde seus primórdios a comunidade cristã tem 
um compromisso profundo com a doutrina ou o en­
sino. A primeira coisa que se disse acerca dos cris­
tãos primitivos era que “se dedicavam ao ensino dos 
apóstolos”1 (At 2.42). Em todo o NT há muitas re­
ferências à importância da doutrina2 — i.e., da “sã 
doutrina”.3 Tal preocupação diz respeito tanto a dou­
trinas específicas como a “toda a vontade de Deus” (At 
20.27). Essa preocupação continua até os dias de hoje. 
A comunidade cristã é uma comunidade de ensino.
Ou “doutrina” (ARA). A palavra grega é didachê, em geral 
traduzida por “ensino”.
: V., e.g., Efésios 4.14; lTimóteo 1.3; Tito 2.10. A palavra
grega é didaskalia.
“Sã doutrina” é citada em lTimóteo 1.10; Tito 1.9; 2.1 
(v. tb. 2Tm 4.3).
A teologia trata da verdade. Isso significa, em pri­
meiro lugar, uma explicação fiel e precisa do conteúdo 
da fé cristã — assim, ser fiel à substância da fé. Signi­
fica, em segundo lugar, por causa da convicção de que 
a fé cristã é a verdade acerca de Deus, do homem, da 
salvação etc., que a teologia se preocupa em ser mais 
que exata: preocupa-se
com a verdade enquanto con­
formidade com a realidade última.
O centro da teologia é Deus. Embora a teologia 
trate de todo o campo da verdade cristã, o ponto fo­
cal é Deus: sua relação com o Universo e o homem. 
A palavra “teologia” deriva de theos e logos> aquela 
significando “Deus” e esta, “palavra”, “fala”, “discur­
so”; portanto, “palavra acerca de Deus”, “fala acerca de 
Deus”, “discurso acerca de Deus”. No sentido mais es­
treito, como indica a etimologia, a teologia não trata ou­
tro assunto senão do próprio Deus: seu ser e atributos. 
Entretanto, como costuma acontecer agora, a palavra 
é usada em referência não só a Deus, mas também a 
todas as suas relações com o mundo e o homem. Na teo­
logia, nunca deixamos a área do falar acerca de Deus: a 
teologia é teocêntrica do começo ao fim.
Deve-se acrescentar que a teologia não é nem lou­
vor nem proclamação, que seriam ou falar para Deus 
ou falar de Deus. Antes, limita-se ao discurso: falar 
acerca de Deus. A teologia, por conseguinte, cumpre 
sua tarefa não na primeira ou na segunda pessoa, mas 
na terceira pessoa. Ao discursar acerca de Deus, a teo­
logia pressupõe louvor e proclamação, e existe com o 
propósito de definir o conteúdo deles. A teologia é, 
pois, serva da fé cristã.
A palavra “teologia” é também com frequência 
empregada como um termo totalmente abrangente 
que diz respeito ao estudo de qualquer assunto que se 
refira à Bíblia, à igreja e à vida cristã. Uma “escola de
13
teologia” é onde se estudam muitas disciplinas: Bíblia, 
história da igreja, ministérios práticos. Nenhum des­
ses estudos, como tais, procuram explicar o conteúdo 
da fé cristã; mas todos são estreitamente ligados uns 
aos outros e ao conteúdo da fé. Neste sentido amplo, 
uma pessoa teologicamente bem instruída e treinada 
está habilitada nessas disciplinas afins.
B. Em exposição ordenada
A teologia não é apenas doutrina, mas a articulação 
de relações e ligações entre várias doutrinas. A preo­
cupação é que “toda a vontade de Deus” seja apresenta­
da de maneira compreensível e ordenada.
A verdade da fé cristã é um todo arquitetônico. 
Ela forma uma estrutura, um padrão de harmonia 
entrelaçada em que todas as partes se encaixam e se 
misturam entre si: Criação e providência, aliança e 
salvação, dons espirituais e escatologia, e assim por 
diante. E mais, já que o cenário de toda reflexão teo­
lógica é o Deus vivo em relacionamento com a cria­
tura viva, a teologia procura expor a doutrina cristã 
como uma realidade viva. Não é, portanto, a arquite­
tura de cimento e pedras inanimadas nem a estrutura 
de uma catedral linda, mas sem vida; trata-se, antes, 
da articulação da verdade viva em toda a sua maravi­
lhosa variedade e unidade.
Isso significa também que cada doutrina — como 
parte do todo — deve ser apresentada da maneira 
mais clara e coerente possível. Isso deve ser feito com 
base em muitos aspectos; e.g., seu conteúdo, contex­
to, intenção básica, relevância. A doutrina deve tor- 
nar-se compreensível ao máximo. Uma vez que todas 
as doutrinas cristãs dizem respeito a Deus, que está 
totalmente acima de nossa compreensão, é inevitável 
que haja algum elemento de mistério, ou transcen­
dência, que não pode ser reduzido ao entendimento 
humano. Ainda assim, dentro desses limites, é preci­
so prosseguir com o esforço teológico.
A teologia é uma disciplina intelectual. É uma 
“-logia” e, portanto, a reflexão sobre certa área do
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
conhecimento e a ordenação dela.4 É um modo de 
amar a Deus com todo o entendimento (Mt 22.37) 
e, assim, um trabalho mental de amor que procura 
apresentar da maneira mais convincente possível os 
caminhos de Deus com o homem. O teólogo nunca 
ostentará ou empregará demais a razão, pois embora 
não consiga, por meio de sua razão, compreender nem 
elucidar plenamente a verdade cristã, ele é chamado a 
expressar com a maior clareza possível o que é decla­
rado nos mistérios da fé. A teologia, por conseguinte, é 
“fé em busca do entendimento”.5
Se a exposição ordenada é o método da teologia, 
podemos agora acrescentar que ela é teologia sistemá­
tica. A palavra “sistema” indica o caráter entrelaçado e 
interdependente de todas as doutrinas que formam a 
teologia. Sob certos aspectos a expressão “teologia sis­
temática” é uma tautologia, pois a teologia em si é uma 
explicação ordenada e, assim, implica procedimentos 
sistemáticos. Entretanto, a expressão passou a ser lar­
gamente utilizada para diferenciá-la da “teologia bíbli­
ca”, da “teologia histórica” e da “teologia prática”. Elas 
podem ser brevemente explicadas quanto à sua relação 
com a teologia sistemática.
A teologia bíblica é a organização e explicação or­
denada dos ensinos da Bíblia. Ela pode ser subdividi­
da em teologia do AT e teologia do NT e, ainda mais, 
por exemplo, em teologia paulina e joanina. A teologia 
histórica apresenta de maneira ordenada como a igre­
ja, ao longo dos séculos, tem recebido e articulado a 
fé cristã em credos, confissões e outras formulações. 
A teologia prática é um estudo ordenado da maneira 
pela qual a fé cristã é praticada: por meio da pregação, 
ensino, aconselhamento, e assim por diante. A teologia 
sistemática é em geral colocada depois das teologias
4 E.g., a “bío-logia” trata do conhecimento acerca da vida
orgânica (bios); a “psico-logia”, acerca da mente ou alma 
(psyche) etc.
3 A n s e l m o (teólogo medieval) fez dessa expressão a base de 
sua obra teológica. Seu famoso Proslógio era originalmen­
te intitulado Fé em busca do entendimento.
14
Introdução
bíblica e histórica, já que a fé cristã, que tem suas raízes 
na Bíblia, vem atravessando séculos. E ela é colocada 
antes da teologia prática porque fornece o conteúdo 
daquilo que deve ser posto em prática.
A expressão “teologia doutrinai” é muitas vezes 
usada em referência essencialmente à mesma área que 
a “teologia sistemática”. Uma vez que a teologia trata 
da articulação dos conteúdos da fé cristã (as doutrinas, 
portanto), ela é tanto sistemática como doutrinai. Uma 
vez que a palavra “sistemática” expressa a articulação e 
a palavra “doutrinai”, o conteúdo, os termos podem ser 
usados de maneira intercambiável.
Outra expressão, particularmente comum no 
cenário europeu, que precisa ser relacionada à teo­
logia sistemática, é “teologia dogmática” A teologia 
dogmática (ou simplesmente “dogmática”) refere-se 
em especial à teologia conforme apresentada nos 
dogmas, credos e pronunciamentos da igreja. Os 
dogmas dizem respeito a doutrinas aceitas pela igre­
ja ou por uma igreja em particular — o que é aceito 
e crido. Assim, a teologia dogmática procura expor 
aquelas doutrinas com a maior clareza possível. A 
teologia dogmática, por conseguinte, mantém um 
relacionamento estreito com a teologia histórica por 
se concentrar em formulações históricas da fé. Ela é 
semelhante à teologia sistemática por procurar eluci­
dar e estabelecer as formulações aceitas de maneira 
ordenada para a igreja contemporânea.6 * A teologia 
sistemática, ainda que relacionada com as formu­
lações históricas, opera de maneira mais livre em 
relação a elas. Para concluir: embora toda teologia
6 A teologia dogmática tem ligação mais estreita com as formu­
lações da igreja na Igreja católica romana do que nas igrejas 
protestantes. Por exemplo, Karl Barth, um teólogo protes­
tante europeu, ainda que intitule Dogmática eclesiástica sua
principal obra, fala do caráter não restritivo dos credos e con­
fissões (v. Barth, Dogmatics in Outline, p. 13). Ainda que 
se considere teólogo da igreja na tradição reformada e alguém 
que escreve no contexto dos credos clássicos e das afirmações 
confessionais da Reforma, Barth afirma estar atado acima de 
tudo à Palavra de Deus na Escritura.
dogmática seja sistemática,
nem toda teologia sis­
temática é dogmática; ela pode ser mais bíblica ou 
mesmo mais filosófica."
A área da apologética deve ser mencionada a seguir. 
É a disciplina teológica que apresenta argumentos e 
evidências em favor da validade da fé cristã. Em 1 Pe­
dro 3.15, estão as palavras: “Estejam sempre preparados 
para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão 
da esperança que há em vocês”. Observe também 2Co- 
ríntios 10.5: “Destruímos argumentos e toda pretensão 
que se levanta contra o conhecimento de Deus, e leva­
mos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente 
a Cristo”.8 O apologista procura prover, na medida do 
possível, uma defesa racional da fé cristã. A apologéti­
ca está voltada para o mundo da incredulidade e tenta 
estabelecer certos aspectos da fé cristã — por exemplo, 
a veracidade das Escrituras, a existência de Deus, a dei- 
dade e ressurreição de Cristo e a imortalidade da alma 
— como verdades, baseada exclusivamente em evidên­
cias racionais e empíricas. Não se faz nenhum apelo à 
fé ou à Escritura, mas simplesmente ao que uma mente 
racional e aberta consegue compreender. A apologética, 
portanto, não é teologia no sentido direto de estabelecer 
o conteúdo da fé sem argumentos ou defesa. Entretanto, 
a apologética pressupõe essa fé e é bem sistemática em 
suas tentativas de estabelecer as razões da fé.
A ética é outra área que precisa ser considerada. 
A ética, a disciplina que trata da conduta moral, pode 
ser uma busca totalmente secular — por exemplo, no 
estudo da ética aristotélica. Mas, desde que a ética 
seja ética cristã, há uma ligação vital com a teologia. 
Para o cristão, a fé volta-se não só para o amor a Deus, 
mas também para o amor ao próximo. Sempre que o
7 Teologia sistemática, de Paul Tillich, é um exemplo de 
teologia sistemática abertamente filosófica em sua orienta­
ção. Sua base não é a Palavra de Deus, mas a filosofia exis­
tencialista.
8 Paulo fala de modo semelhante em relação ao “bispo” ou 
“supervisor” (gr. episkopos) como alguém apto não só para 
“encorajar outros pela sã doutrina”, como também para “re­
futar os que se opõem a ela” (Tt 1.7,9).
15
assunto é a relação com o próximo, estamos no cam­
po da ética. O cristianismo está ligado tanto à fé como 
à moral; uma sem a outra é teologia truncada. Nesse 
sentido, a ética é idêntica à teologia em sua dimen­
são moral. Mas também à medida que a ética cristã 
se torna mais concreta em sua aplicação a problemas 
contemporâneos como guerra, relações raciais, ordem 
econômica, comportamento sexual e ecologia, passa a 
auxiliar a teologia. Assim como a apologética, a ética 
pressupõe a substância da teologia e serve como uma 
aplicação concreta dela.
C. Pela comunidade cristã
A teologia é uma função da comunidade cristã, 
tendo exercido várias funções desde os primeiros dias. 
Além de se dedicarem ao “ensino dos apóstolos” que 
já observamos, os primeiros cristãos também se de­
dicavam “à comunhão, ao partir do pão e às orações” 
(At 2.42). Em termos gerais, as principais funções po­
dem ser descritas como adoração, proclamação, ensi­
no, comunhão e serviço. Quando a comunidade cristã 
procura estabelecer seu entendimento básico — seus 
ensinos — de maneira ordenada, isso é teologia.
Já que a teologia é uma função da comunidade 
cristã, é evidente que a teologia não pode ser um exer­
cício de observação neutra; antes, ela só pode ser feita 
pelos que são participantes genuínos.9 Obviamente, 
muito se pode escrever sobre Deus e seus rumos (e isso 
até poderia parecer adequado e verdadeiro), mas sem 
participação há uma percepção inadequada do que se 
está falando. A teologia legítima brota da vida da co­
munidade cristã, explorando assim as profundidades e 
alturas que, de outro modo, estariam fechadas para o 
entendimento ordinário.
9 “A teologia pode ser definida como um estudo que, por meio 
da participação na fé religiosa e reflexão sobre ela, pro­
cura expressar o conteúdo dessa fé na linguagem mais clara 
e coerente possível” (M a c q u a r r i e , John. Principies of 
Christian Theology, p. 1). O papel da participação é de 
importância crucial.
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
Por fim, deve-se acrescentar que, embora a teolo­
gia seja uma função da comunidade cristã, ela muitas 
vezes desempenha sua tarefa teológica por meio de 
assembléias, concílios e comissões especiais particular­
mente dedicadas à elaboração dos fundamentos da 
fé cristã. Aqui o papel do teólogo como especialista 
em questões doutrinárias é altamente significativo. 
Ele pode ser influente por sua contribuição a uma 
assembléia que esteja tentando definir uma doutri­
na ou simplesmente por meio de seus escritos que 
recebam crédito na comunidade cristã. De qualquer 
forma, quer o trabalho de teologia seja realizado por 
uma grande assembléia, um grupo pequeno ou um 
indivíduo, a questão da participação continua tendo 
importância crucial
II. A FUNÇÃO DA TEOLOGIA
A teologia possui algumas funções. Entre elas estão 
a clarificação, a integração, a correção, a declaração e 
o desafio.
A. Clarificação
É importante estabelecer com a maior clareza 
possível o que afirma a comunidade cristã. Isso ser­
ve basicamente para as pessoas da comunidade que 
precisam ser instruídas na fé. Muitas vezes há falta 
de entendimento em várias áreas doutrinárias. A par­
ticipação na experiência cristã é, claro, algo impres­
cindível, mas isso não traz pleno entendimento de 
maneira automática. É preciso uma instrução com­
plementar para que possa ocorrer um esclarecimento 
cada vez maior da verdade.10
É triste que muitos cristãos sejam tão inseguros 
quanto ao que creem. Eles precisam de instruções so­
bre aquilo em que creem — e muitas vezes as desejam. 
Eles clamam por um ensino mais adequado. Essa é a 
tarefa que a teologia é chamada a cumprir.
10 A intenção dessa instrução é que o indivíduo cristão se tor­
ne “como obreiro que não tem do que se envergonhar e que 
maneja corretamente a palavra da verdade” (2Tm 2.15).
1 6
Introdução
A teologia deve ajudar a juntar tudo, integrando 
uma verdade com outra. A teologia não trata só de clari­
ficar as doutrinas isoladas, mas também de demonstrar 
como elas se encaixam formando um desenho comple­
to. Já mencionei que a verdade da fé cristã é um todo 
arquitetônico. No ensino da teologia, há o esforço contí­
nuo de mostrar como uma parte se relaciona com outra.
O propósito de outra disciplina, a filosofia, é às ve­
zes descrito como “ver a realidade e vê-la por inteiro". 
Isso é ainda mais aplicável à teologia, em que a reali­
dade não é apenas vista, como também experimenta­
da e, portanto, pode ser declarada em sua totalidade. 
A integração é importante em tudo o que diz respeito à 
vida e, decerto, isso é verdade na área da fé cristã.
Para muitos cristãos não há necessidade de inte­
grar a leitura da Bíblia e seu estudo, para formar um 
quadro unificado da verdade. Em muitas áreas não é 
fácil relacionar uma doutrina com outra. Isso também 
ocorre na relação do ensino de um livro com o de ou­
tro. Entre muitos cristãos também há necessidade de 
integrar a verdade que receberam com vários aspectos 
da própria experiência deles. Isso acontece tanto em re­
lação à experiência cristã deles como também em rela­
ção à sua experiência cotidiana com o mundo ao redor. 
Em geral, eles ignoram como tudo se encaixa.
C. Correção
A teologia serve como corretivo para desvios da 
verdade. Ao articular da maneira mais clara possível 
as várias verdades da fé cristã, indiretamente, ela pro­
cura remediar desequilíbrios ou erros que possam ter 
ocorrido. É essencial para a saúde da fé cristã que seja 
afastada desses desvios.
Infelizmente, a participação na fé e na experiência 
cristã não é uma garantia contra a entrada furtiva de he­
resias.
Aliás, a maior parte das heresias que têm afligido 
a igreja tem surgido não de oponentes de fora, mas de 
equívocos em seu interior. Às vezes isso se deve à ênfa­
se exagerada em certa doutrina que assim fica inflada 
de modo desproporcional à sua devida importância.
6. Integração Além disso, uma heresia pode começar como uma falha 
honesta na compreensão de certa verdade que, porém, 
mantida por algum período, torna-se cada vez mais dis­
torcida.11 Ou — e isto é muito mais sério — por causa 
do esforço constante das forças malignas para seduzir 
a comunidade cristã, afastando-a da verdade, os falsos 
ensinos abraçados podem tragicamente ser “doutrinas 
de demônios" (H m 4.1).12
Em tudo isso a função da teologia é de impor­
tância crucial. Há uma “unidade da fé” (Ef 4.13) que 
afasta erros periféricos. Ao articular isso com maior 
clareza, as pessoas não serão jogadas “para cá e para 
lá por todo vento de doutrina” (Ef 4.14); antes, cres­
cerão até a plena maturidade. Dificilmente seria exa­
gerada a ênfase na urgência do ensino teológico para 
proteger a fé dos cristãos.
D. Declaração
Outra função da teologia é fazer conhecido publi­
camente o que defende a comunidade cristã. Dizemos 
ao mundo: “Esta é a bandeira sob a qual nos levanta­
mos; esta é a verdade que proclamamos para que todos 
ouçam”.13 Paulo escreve: “A intenção dessa graça era
11 A crítica de Jesus contra os fariseus e escribas é oportuna: 
“Vocês negligenciam os mandamentos de Deus e se apegam 
às tradições dos homens” (Mc 7.8). V. a preocupação de 
Paulo com os cristãos que se submetiam cada vez mais aos 
“mandamentos e ensinos humanos” (Cl 2.20-23).
52 Pedro também alerta: “surgirão entre vocês falsos mestres. 
Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras” (2Pe 
2.1). V. alerta semelhante de Paulo em Romanos 16.17 e 1 Ti­
móteo 1.3-7. V. tb. Hebreus 13.9.
53 Um exemplo pertinente disso é a Declaração de Barmen, 
de 1934, quando representantes das igrejas reformada, lu­
terana e de outras igrejas protestantes da Alemanha decla­
raram sua fé no senhorio de Jesus Cristo contra a ascensão 
do Terceiro Reich e de Adolf Hitler. O teólogo Karl Barth 
estava nos bastidores de sua redação. Nessa importante de­
claração, por meio de algumas afirmações teológicas, essas 
igrejas protestantes alemãs expressaram publicamente sua 
posição em contraponto ao nazismo. Não se tratava de uma 
declaração teológica completa, mas de uma declaração que 
tratava de uma situação particularmente urgente.
1
que agora, mediante a igreja, a multiforme sabedoria 
de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autori­
dades nas regiões celestiais” (Ef 3.10). Evidentemente, 
a igreja declara a sabedoria de Deus na pregação do 
evangelho; mas, em particular, é em sua expressão teo­
lógica que a multiformidade da verdade divina é apre­
sentada para os que queiram ouvir.
Pela ordem das prioridades, o primeiro alvo da teo­
logia é a própria comunidade cristã. A clarificação, a 
integração e a correção já descritas estão obviamente 
relacionadas com o benefício e fortalecimento daque­
les que participam da fé e da experiência cristãs. En­
tretanto, há a declaração, essa função orientada para o 
mundo, cuja importância não deve ser menosprezada. 
No mínimo, ela representa um tipo de responsabilida­
de pública, uma razão de ser para a comunidade cris­
tã. E isso — quaisquer que sejam os resultados — não 
deixa de trazer por sua vez algum benefício para a co­
munidade cristã. Há valor indubitável, tanto comunal 
como pessoal, em tornar pública uma posição.
Por fim, ainda que a teologia não seja proclama­
ção ao mundo, pode servir de maneira indireta como 
um convite a investigações posteriores. Quando os 
cristãos declaram sua posição com firmeza e o fazem 
de modo responsável e articulado, o fator de credi­
bilidade é aumentado. Além disso, se essa teologia é 
escrita sob a unção do Espírito Santo, é muito mais 
capaz de preparar o caminho para o testemunho di­
reto que leva à vida e à salvação.
E. Desafio
A teologia move-se para dentro de áreas do pen­
samento cristão que muitas vezes se mostram confu­
sas, até divisivas, procurando descobrir a verdade. Há 
diferenças de doutrina dentro de várias comunidades 
cristãs, chegando com frequência a separá-las umas 
das outras. No passado, desenvolveram-se extremos 
em questões como a soberania de Deus e a liberdade 
humana, a divindade e a humanidade de Jesus e a na­
tureza dos sacramentos. No presente, os extremos são 
particularmente evidentes na área da escatologia. É a 
tarefa desafiadora da teologia procurar descobrir onde
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
está a verdade e estabelecê-la de modo claro e coerente. 
Algumas diferenças podem ser reconhecidas como 
questões principalmente de semântica; outras são mui­
to mais substantivas em caráter. De qualquer modo, a 
teologia enfrenta esse desafio sempre presente.
O desafio também pode ser visto de outra maneira, 
a saber, explorar as áreas da verdade cristã que ainda 
não foram suficientemente esquadrinhadas.14 Em nos­
sos dias, isso é especialmente verdadeiro na área do 
Espírito Santo. A vinda do Espírito Santo, os dons es­
pirituais, o lugar da renovação carismática na vida da 
comunidade cristã — tudo isso representa uma área 
que recebeu apenas um mínimo de atenção teológica 
no passado. É certamente dominante entre os desafios 
teológicos de nosso tempo.
III. O MÉTODO DA TEOLOGIA
Como desempenhar a tarefa de articular a teologia? 
A. Buscar a direção do Espírito Santo
É só por meio da orientação contínua do Espírito 
Santo que se pode realizar o trabalho teológico. “Quan­
do o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a ver­
dade” (Jo 16.13). Essas palavras de Jesus expressam o 
fato fundamental de que o Espírito Santo é o guia para 
toda a verdade. A comunidade cristã, para quem veio 
“o Espírito da verdade”, o Espírito Santo, possui o Guia 
em seu interior. Esse mesmo Espírito “lhes ensinará 
todas as coisas” (Jo 14.26).
O Espírito Santo, além disso, foi prometido não só 
para estar com os cristãos, mas também nos cristãos: 
“ele vive com vocês e estará em vocês” (Jo 14.17). As­
sim, a comunidade cristã possui o Guia em seu interior, 
o Mestre, como uma presença residente. A questão es­
sencial, portanto, é permitir que a realidade interna, o 
Espírito Santo, conduza a toda a verdade.
Aprofundando: o fato básico de o Espírito Santo 
ser o Espírito da verdade e ser residente significa que a
14 Num sentido, isso é uma questão de “avançar para a maturi­
dade” (v. Hb 6.1). O desafio, por conseguinte, é “prosseguir” 
(.AEC) para além dos “ensinos elementares”, para o âmbito 
maior das questões teológicas.
1 8
In trodução
Essa oração an tig a ao E spírito Santo b em p o d e ser 
a o ração co n tín u a p o r trá s de to d o esforço teológico.
B. Confiança nas Escrituras
As E scrituras do AT e do N T são insp iradas p o r 
D eus e devem receber p lena confiança ao se desenvolver 
a tarefa da teologia. Elas apresen tam em fo rm a escrita a 
declaração da verdade divina e assim são a fonte e m edi- 
da objetiva para todo 0 traba lho teológico. As E scrituras 
em to d a a sua extensão proveem os dados m ateriais para 
a d o u trin a cristã e a subsequente form ulação teológica.
As palavras de 2T im óteo 3.16,17 são b em adequa- 
das: “Toda a E scritu ra é insp irada p o r Deus e ú til para 
0 ensino [doutrina], p a ra a repreensão, para a correção 
e p ara a instrução n a justiça, p a ra que 0 h o m em de 
D eus seja apto e p lenam ente p reparado p ara to d a boa 
obra”. De acordo com essa declaração, a to talidade das 
E scrituras é “soprada p o r D eus” (o sen tido literal de 
“inspirada”)17 e, assim , d ada d ire tam en
te p o r D eus.ÍS 
Assim , existe n a E scritu ra u m a au to ridade que não per- 
tence a pensam entos ou palavras hum anos, não im p o rta 
quan to são guiados pelo Espírito Santo. Os pensam entos 
e as palavras do h o m em não são “insp irados p o r Deus” 
e, portan to , sem pre necessitam de “repreensão” e “corre- 
ção”. Por conseguinte, a teologia deve voltar-se p rim eiro 
p ara as E scrituras ao cu m p rir sua tarefa.
Essa inspiração das E scrituras refere-se a am bos: o 
AT e o NT. As palavras de Paulo em 2T im óteo podem 
ser consideradas com o referências só ao AT, já que 0 NT, 
obviam ente, a inda não estava com pleto. E ntretan to , que 
os escritos de Paulo, b em com o alguns ou tros, foram
17 A palavra grega é theopneustos, de theos> “Deus”, e pneõ,
cc ייsopro.
18 Esse caráter imediato da inspiração não reduz nem elimi- 
na, de modo algum, o fator humano. De acordo com 2Pedro 
1.21, “homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Es- 
p írito Santo” Isso se refere aos profetas do AT que, ao falar 
e escrever, foram de tal maneira movidos pelo Espírito de 
Deus que suas palavras eram de Deus. Assim, não há nada 
mecânico na inspiração. A Escritura é o resultado do toque 
íntimo de Deus — seu “mover” (ARA), seu “soprar” — sobre 
aqueles que apresentam sua verdade.
verdade ;d h ab ita d e n tro da co m u n id ad e cristã . “Vocês 
têm u m a unção que p rocede do Santo, e todos vocês têm 
conhecim ento” (1J0 2.20).15 A unção do Espírito Santo, 
0 E sp írito d a verdade, pois, significa que, q u an d o o Es- 
p írito gu ia a to d a a verdade, tra ta -se n a rea lid ad e de 
traze r à to n a ou evocar 0 que já se conhece. A verdade 
esp iritua l está im plíc ita e é exp lic itada p o r m eio da di- 
reção in te rio r do E spírito Santo.
Tudo isso significa que 0 trab a lh o d a teologia, a in- 
da que seja feito no nível d a reflexão, explicação e a rti- 
culação da verd ad e cristã , não está lid an d o com a ver- 
dade com o se ela fosse e s tran h a ou ex terna. O p ró p rio 
teólogo, com o p a rte d a co m u n id ad e cristã , conhece 
im p lic itam en te a verdade. Por m eio do E spírito im a- 
n en te que leva a to d a a verdade, aquela verd ad e passa 
a ser investigada de m o d o a in d a m ais p leno. Esse é 0 
m esm o E sp írito que “so n d a to das as coisas, a té m esm o 
as coisas m ais p ro fu n d as d e D eus” (1C0 2.10), e que, 
p o rtan to , so n d a as verdades p ro fu n d as da fé cristã. 
O teólogo trab a lh a dessa base esp iritua l e p ro cu ra apli- 
car seus m elho res p en sam en to s e reflexões p a ra orde- 
n a r e ap resen ta r o que é dado.
Esse esforço co n tín u o de seg u ir a d ireção do Espi- 
rito Santo não im plica, de m o d o algum , que a verda- 
de seja inev itavelm ente declarada. N em a igreja n em 
0 teólogo são infalíveis; e rra r é h u m an o . M as q u an to 
m ais a d ireção do E spírito Santo, 0 E sp írito da verdade, 
é buscad a e seguida, tan to m ais ad eq u ad o é o desen- 
vo lv im ento do trab a lh o da teologia
Vem, Santo Espírito, nossa alma inspirar,
E ilum inar com fogo celeste;
És o Esp írito que unge,
Quem teus séptuplos dons partilha.16
15 Ou “sabeis tudo”, conforme traduz a ARC. Manuscritos anti- 
gos tornam possíveis ambas as leituras do texto. Em harmo- 
nia com João 14.25,26 e 16.13, a leitura “sabeis tudo” parece 
preferível. Qualquer que seja a maneira correta de ler 0 texto, 
a mensagem básica é a mesma: a verdade habita dentro da 
comunidade de fé.
16 Estrofe in icial do hino latino do século XIX: “ Vem, Creator 
Spiritus”.
19
desde cedo reconhecidos como Escrituras evidencia-se 
nas palavras de 2Pedro 3.15,16, que, depois de falar das 
cartas de Paulo, faz referência às “demais Escrituras!19
Assim, a questão básica para a teologia é: “Que diz 
a Escritura?”.20 Pois só ela é a regra objetiva da verdade 
cristã. Decerto, o Espírito Santo conduz a toda a ver­
dade, e a comunidade cristã conhece profundamente 
as coisas de Deus por meio da habitação do Espírito: 
há, porém, a necessidade contínua da autoridade das 
Escrituras Sagradas. Sem ela, por causa da falibilidade 
humana, a verdade logo se compõe com o erro. “Que 
diz a Escritura?” é a pergunta crucial que deve subli­
nhar todo o trabalho teológico.
Deve-se acrescentar de imediato que não pode 
haver uma diferença básica entre a verdade que a co­
munidade cristã conhece por meio da habitação do 
Espírito Santo e a apresentada na Escritura. Uma vez 
que toda Escritura é “inspirada por Deus” (que signi­
fica “com o Espírito de Deus”)21 ou dada pelo Espírito, 
é o mesmo Espírito Santo em ação tanto na Escritura 
como na comunidade. Mas, em termos de qual possui 
autoridade e, portanto, qual é normativa, o que está es­
crito na Escritura sempre recebe primazia. Ela testa e 
julga cada afirmação de fé e doutrina.
Devem-se observar mais algumas questões im­
portantes:
1. Há uma grande necessidade de um conhecimen­
to crescente das Escrituras — de todas elas. O ideal é 
que haja um conhecimento instrumental das línguas 
originais. Uma tradução interlinear é valiosa, especial­
mente quando usada em conjunto com léxicos. Com­
parar várias versões é também útil na obtenção de uma 
perspectiva mais completa.
19 Ou “outras Escrituras” (ARC); a expressão grega é tas loipas 
graphas. A questão do cânon (a lista dos livros aceitos como 
Escrituras Sagradas) não será questão discutida em Teologia 
sistemática: uma perspectiva pentecostal. Vamos operar 
com base nos 66 livros (39 no AT, 27 no NT) reconhecidos 
como autorizados por todas as igrejas (eles não incluem vá­
rios livros apócrifos aceitos nas tradições católica romana e 
ortodoxa oriental).
20 Essas são as palavras de Paulo em Romanos 4.3 e Gaiatas 4.30.
21 “Respiração” e “espírito” são iguais em grego: pneuma.
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
É importante, além disso, aprender tudo o que for 
possível acerca do pano de fundo, composição e formas 
literárias da Bíblia e, com isso, saber como estudá-la e 
compreendê-la melhor. Questões como o contexto his­
tórico e cultural, o propósito de determinado livro e o 
estilo da escrita (e.g., história, poesia, parábola, alego­
ria) são essenciais para a compreensão a fim de se che­
gar à devida interpretação. Além disso, é importante 
não ler a passagem isolada, mas vê-la em seu contexto 
mais amplo e, se o significado não é claro, compará-la 
com outras passagens que possam lançar mais luz. Todo 
o campo da hermenêutica — a saber, os princípios da 
interpretação bíblica — exige compreensão plena para 
que se realize um trabalho teológico sério.
O mais importante é que haja imersão contínua na 
Escritura. Timóteo foi elogiado por Paulo: “desde crian­
ça você conhece as Sagradas Letras” (2Tm 3.15). Quem 
deseja ser “homem de Deus [...] apto e plenamente pre­
parado para toda boa obra” (v. 17), o que inclui o tra­
balho da teologia, precisa aumentar o conhecimento 
de todas as “Sagradas Letras” ao longo de toda a vida. 
As palavras do próprio Jesus são de importância cru­
cial: “Se vocês permanecerem firmes na minha palavra 
verdadeiramente serão meus discípulos E conhecerão a 
verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8.31,32). As pala­
vras de Jesus são o coração das Escrituras, e conhece­
mos a verdade quando permanecemos e vivemos nelas. 
Decerto, o Espírito Santo é o guia para o entendimento, 
mas só quando estamos imersos na Palavra do Senhor.
2. Nunca podemos ir além da Escritura na busca da 
verdade. Paulo ordena aos coríntios: “Aprendais a não ir 
além do que está escrito [i.e„ a Escritura]” (ICo 4.6).22 Isso 
fala contra qualquer fonte extrabíblica
como tradição, vi­
são pessoal ou suposta nova verdade apresentada como 
algo complementar ou superior ao que está registrado nas 
Escrituras Sagradas. A doutrina sadia estabelecida por 
um trabalho teológico genuíno não pode depender de ou­
tras fontes primárias que não sejam as Escrituras.
22 Essa é a tradução da ARC. Literalmente o grego traz “não 
[ir] além do que está escrito”. “O que foi escrito” significa 
Escritura, como, e.g., em lCoríntios 1.19,31 e 3.19. A RSV 
traduz “o que está escrito” em lCoríntios 4.6 por “escritura”.
2 0
in t ro d u ç ã o
Além disso, precisamos considerar as palavras que 
alertam contra interpretações individuais e distorções 
das Escrituras. Em 2Pedro, lemos, primeiro, que “ne­
nhuma profecia da Escritura provém de interpretação 
pessoal” (1.20). Trata-se de um alerta urgente contra 
a falha de não ficar sob a autoridade da Escritura — 
ainda que se possa alegar submissão externa — mas 
submetê-la à própria interpretação. A verdade, porém, 
fica severamente ameaçada quando, embora a Escri­
tura seja respeitada da boca para fora, prevalece a in­
terpretação particular e a Escritura é esvaziada de seu 
verdadeiro significado. Um alerta semelhante é dado 
por Pedro acerca das cartas de Paulo e “as demais Es­
crituras” que “os ignorantes e instáveis torcem, como 
também o fazem [...] para a própria destruição deles” 
(2Pe 3.16). A distorção da Escritura, que tem ocorrido 
com frequência na história da igreja, é uma questão 
ainda mais séria que a interpretação particular, pois 
toma toda a verdade divina e a muda.
A teologia possui uma função crucial a desempe­
nhar em ambas as situações. Mencionei previamente 
que uma das funções da teologia é a correção. É triste, 
mas comum, o vasto número de interpretações par­
ticulares e distorções que se perfilam sob o nome de 
“verdade bíblica”. O pensamento cristão deve ajudar 
a expô-las, ao mesmo tempo que procura com afinco 
não cair no mesmo erro.
3. Por fim, não pode haver um entendimento ver­
dadeiro da Escritura sem a iluminação interna do Es­
pírito Santo. Já que toda a Escritura é “inspirada por 
Deus”, é só quando essa inspiração de Deus, o Espírito 
de Deus, move-se sobre as palavras que seu significado 
pode ser verdadeiramente compreendido. A resposta a 
“Que diz a Escritura?” é mais que uma questão de co­
nhecimento da informação nela contida, mesmo que 
obtida pela exegese mais cuidadosa, consciência da 
situação histórica, apreciação das formas linguísticas 
etc. A Escritura só pode ser compreendida em profun­
didade mediante iluminação do Espírito Santo.
isso significa, por conseguinte, que a comunida­
de cristã é a única qualificada de maneira definitiva 
para compreender as Escrituras. Paulo escreveu aos 
coríntios a respeito de sua mensagem: “Delas também
falamos, não com palavras ensinadas pela sabedoria 
humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito, 
interpretando verdades espirituais para os que são es­
pirituais” (ICo 2.13).23 Sem o Espírito há cegueira na 
leitura das Escrituras; com o Espírito há iluminação no 
entendimento das coisas de Deus
C. Familiaridade com a história da igreja
Para que a teologia consiga realizar adequadamente 
seu trabalho, é também necessária uma familiaridade 
com a história da igreja. Isso significa que as afirma­
ções dos concílios da igreja, seus credos e confissões 
contêm a maneira pela qual ela tem, em várias épocas, 
expressado sua doutrina. Os escritos dos pais da igreja 
primitiva, de teólogos reconhecidos (os “doutores” da 
igreja), de comentaristas bíblicos de renome e, assim, 
o pensamento cristão ao longo dos séculos — tudo isso 
é proveitoso para a teologia.
O período da igreja primitiva com seus escritos 
pós-apostólicos e patrísticos e também os concílios 
ecumênicos representando a igreja inteira são espe­
cialmente importantes. O Credo apostólicoy o Credo ni- 
ceno, o Credo de Calcedônia — para mencionar alguns 
dos grandes credos universais primitivos — contribuí­
ram muito para estabelecer o padrão da fé cristã orto­
doxa através dos séculos. As confissões que brotaram da 
Reforma, como a de Augsburgo (luterana) e Westminster 
(reformada), ainda que não ecumênicas, são também 
muito importantes. As formulações católicas romanas, 
como os decretos do Concilio de Trento e dos concílios
;; O texto grego de “interpretando verdades espirituais para os 
que são espirituais” é pneumatikois pneumatika synkrinontes, 
traduzido de várias maneiras por “comparando as coisas es­
pirituais com as espirituais” (ARC), “conferindo coisas espi­
rituais com espirituais” {ARA). A BLH traz “explicamos as 
verdades espirituais aos que são espirituais”, bem semelhante 
à NVI, citada acima. Do próprio texto grego e à luz dessas 
várias traduções, o conteúdo básico da mensagem de Paulo 
parece claro: verdades espirituais (pneumatika), tais como 
as que Paulo estava escrevendo, só podem ser compreendidas 
por pessoas espirituais (pneumatikois).
2 1
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta i
Vaticano I e II representam outras formulações doutri­
nárias significativas. A maioria das igrejas protestantes 
tem algum tipo de declaração doutrinária e pode ser 
útil tomar conhecimento de algumas. Seria um erro 
lamentável desconsiderar quase dois mil anos de his­
tória da igreja ao se empreender o trabalho da teologia. 
Somos riquíssimos por conta do trabalho de formula­
ção de doutrinas, credos e confissões realizado antes 
de nós. Isso não significa que algumas dessas formu­
lações estejam no mesmo nível de autoridade que as 
Escrituras;24 entretanto, é preciso ouvi-las de maneira 
respeitosa e lhes conceder lugar secundário na reflexão 
teológica. Se o Espírito Santo de alguma maneira veio 
agindo na igreja através dos séculos25 (e decerto po­
demos crer que isso é verdade), então devemos espe­
rar sua marca em muito do que foi formulado. Assim, 
somos chamados a ter discernimento espiritual, re­
conhecendo que todas essas formulações são falíveis, 
mas fazendo todo o uso possível do que o Espírito vem 
dizendo na igreja ao longo dos séculos.
D. Consciência do cenário contemporâneo
Quanto mais a teologia é informada daquilo que 
está ocorrendo na igreja e no mundo, tanto mais re­
levante e oportuno será o escrito teológico. Há neces­
sidade, em primeiro lugar, de conhecer a situação em
24 Falo aqui como protestante. Os ortodoxos orientais e católi­
cos romanos investem de muito mais autoridade as fórmulas 
confessionais. Para os católicos romanos, pronunciamentos 
papais anunciados como dogmas (tais como os dogmas da 
Imaculada Conceição e da Assunção da Virgem Maria) ale­
gam infalibilidade; assim, eles têm autoridade igual ou supe­
rior à Escritura. A atitude adequada, devo insistir, é que cada 
formulação doutrinária, num credo, confissão ou teologia, 
seja colocada à prova de todo o conselho de Deus na Escritu­
ra Sagrada.
25 Infelizmente, há os que consideram a história da igreja nada 
mais que uma história do erro. As “eras das trevas” persisti­
ram de ponta a ponta. Por conseguinte, nada temos de po­
sitivo a aprender do passado. Essa atitude é uma afronta ao 
Espírito Santo e a Cristo, o Senhor da igreja.
que se encontra a comunicação. Vivemos numa era de 
comunicação multimídia — televisão, rádio, impren­
sa — , e isso exige especialização cada vez maior para 
que a mensagem fique clara. O homem moderno, tanto 
dentro como fora da igreja, é tão bombardeado por in­
formações esparsas, propagandas, conversas de vende­
dor etc. que não é fácil refletir sobre a verdade cristã ou 
tomar tempo para uma reflexão teológica séria. Além 
disso, é muito comum os teólogos serem maus comu­
nicadores: a linguagem deles é de difícil compreensão 
e raramente têm a brevidade por ponto forte. Há ne­
cessidade de escritos teológicos muito melhores e mais
contemporâneos.
Em certo sentido, toda obra teológica implica tra­
dução. Isso quer dizer que a escrita deve ser feita de 
modo que a verdade antiga se torne compreensível 
para o leitor do século XXL O uso excessivo de ex­
pressões latinas e gregas ou de termos arcaicos, de 
palavras sesquipedais (!) dificilmente comunica bem 
a mensagem. O teólogo, sempre que possível, deve 
expressar conceitos difíceis em linguagem clara e até 
permitir que o leitor tenha prazer em compreender o 
que se diz! Tudo isso significa tradução com a conse­
quente compreensão.26
Em segundo lugar, a teologia precisa ter consciên­
cia do estado de espírito da época. Para muitos hoje, 
tanto dentro como fora da igreja, Deus não é real. 
Isso não significa necessariamente que não creem em 
Deus, mas muitos não sentem sua realidade. O estado 
de espírito que prevalece é de que ele é distante, abstra­
to ou tenha até desaparecido.27 Deus não se encontra 
em lugar algum. Ou, se há algum contato com Deus,
26 Deve-se acrescentar que a tradução implica dois perigos: 
primeiro, de diluir a mensagem; segundo, de transformá-la 
em outra coisa. O conteúdo, porém, deve permanecer igual, 
nem diluído nem transformado.
2/ A expressão “Deus está morto” do passado recente é um 
símbolo trágico obviamente não da morte de Deus, mas da 
morte da fé para muitos. Mesmo quando essa linguagem a 
respeito de Deus é deliberadamente evitada ou até consi­
derada blasfema, há com frequência uma sensação de tal
2 2
In tro d u ç ã o
parece tão ocasional e incerto que a vida segue prati­
camente igual sem ele. Agora, não significa, de modo 
nenhum, que isso seja verdade para todos; mas, desde 
que o clima de incerteza e irrealidade existe, a teologia 
tem uma função criticamente importante a preencher.
Também, diz-se com frequência que vivemos 
numa “era de ansiedade” Há ansiedade sobre relações 
humanas, segurança econômica, saúde e proximidade 
da morte, a situação do mundo — e agora tudo é enco­
berto pela possibilidade iminente de aniquilação nu­
clear. Assim, há muita insegurança e temor profundo 
que afetam os cristãos e também os que não afirmam 
ter fé. Além da ansiedade, pode-se pensar em outros 
males como solidão, estresse e tensão, confusão, até 
um senso de vida sem sentido para muitos. Se esse é o 
sentimento que prevalece, pelo menos em parte, a teo­
logia digna desse nome deve considerar essa situação.
Ainda, para muitos, tanto dentro como fora da 
igreja, há um forte senso de desamparo e impotência. 
Muitos se sentem incapazes de lidar com as forças que 
os atingem; enfrentá-las tornou-se questão crítica. 
A falta de recursos suficientes para atender às deman­
das da vida ou para ser um cristão efetivo perturba 
profundamente a muitos. De novo, a teologia deve en­
contrar meios de lidar com esse sentimento de desam­
paro e impotência. Há respostas,2* e é urgentemente 
importante declarar quais são algumas delas.
Em terceiro lugar, há a necessidade de consciência 
daquilo que Deus está fazendo no nosso tempo. Nes­
te ponto transpomos um pouco do estado de espírito 
que acabamos de descrever para afirmar que muitos 
dos “sinais dos tempos”29 apontam para a presença e
distância de um Deus ausente, que resulta numa sensação de 
que ele está morto.
28 Paul Tillich fala da teologia sistemática como “teologia 
responsiva”: “Ela deve responder às perguntas implícitas 
na situação humana geral e na situação histórica especial” 
(Systematic Theology, v. 1, p. 31). Não concordo que a 
teologia seja só isso; mas ela não deve deixar de dar respostas 
para os problemas humanos.
29 Mateus 16.3
atividade de Deus. Sem dúvida, há muita coisa nega­
tiva: por exemplo, humanismo e ateísmo, feitiçaria e 
ocultismo, imoralidade e bestialidade — tudo está au­
mentando. Alguns afirmam que vivemos numa civili­
zação “pós-cristã”. Entretanto, junto com o lado escuro, 
há também um quadro muito promissor de ressurgi­
mento evangelical, atividade missionária cada vez 
maior e reavivamento espiritual. Nesse último ponto, a 
renovação carismática dentro do grande leque de igre­
jas históricas — católica romana, ortodoxa oriental e 
protestante — é altamente significativa.
Deixe-me falar de modo mais específico. Tenho 
convicção de que a renovação contemporânea, que 
possui raízes profundas na realidade do Espírito San­
to, representa um movimento sem precedentes do Es­
pírito de Deus desde os tempos do NT. Deus em sua 
soberania está dando seu Espírito em poder, e muitos 
de seu povo estão recebendo esse dom. Assim, estão 
surgindo em nosso tempo comunidades cristãs do Es­
pírito que representam uma força espiritual tremenda 
no mundo. É nesse ponto que a teologia hoje tem um 
trabalho importante a desenvolver: expressar à igreja e 
ao mundo o que tudo isso significa.
E. Crescimento na experiência cristã
Por fim, é essencial que haja crescimento contínuo 
na experiência cristã para que a teologia desempenhe 
bem o seu papel. Podemos observar aqui alguns pontos.
Primeiro: a tarefa da teologia exige que tudo seja 
feito numa atitude de oração. Só numa atmosfera de 
comunhão persistente com Deus é realmente possí­
vel falar de Deus e de seus caminhos. A teologia, com 
certeza, é escrita na terceira pessoa; é um “falar acer­
ca de Deus”. Entretanto, sem um constante “eu-tu”,30 
um relacionamento de oração em segunda pessoa, o 
trabalho teológico torna-se frio e impessoal. A oração 
“no Espírito” é particularmente importante, pois, por
30 Linguagem usada no pequeno livro Ich und Du, de
Martin Buber.
ela, como diz Paulo, a pessoa “pronuncia mistérios no 
Espírito” (ICo 14.2),31 e esses mistérios, interpretados 
pelo Espírito, podem levar a uma compreensão mais 
profunda das verdades apresentadas na Escritura. 
A vida de oração, constantemente renovada e sempre 
em busca da face do Senhor, é fundamental num tra­
balho teológico significativo.
Segundo: deve haver um senso cada vez mais pro­
fundo de reverência. É de Deus que a teologia fala. 
Ele é o assunto do começo ao fim, seja o que for que 
se possa falar acerca do Universo e do homem. Esse 
Deus é aquele que deve ser adorado em santa disposi­
ção, aquele de quem o nome deve ser honrado, aquele 
cuja própria presença é um fogo consumidor. A teolo­
gia, percebendo que fala daquele diante de quem toda 
boca deve primeiro calar-se, só pode exercer sua fun­
ção num espírito de reverência contínua. Há o perigo 
sempre presente de, ao discursar sobre coisas santas, a 
pessoa tornar-se irreverente e displicente. Nesse caso, 
a realidade divina é profanada, e a teologia torna-se 
um empreendimento que só merece o julgamento de 
Deus e a desaprovação dos homens.32
Terceiro: exige-se uma pureza de coração cada vez 
maior. Isso é consequência da palavra anterior sobre 
reverência, pois o Deus da teologia é Deus santo e jus­
to. Falar dele e de seus caminhos (e falar a verdade) 
exige um coração que passa por purificação constante. 
“Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a 
Deus” (Mt 5.8) aplica-se com peso extraordinário ao 
teólogo. Ora, ele deve ver para escrever, e não se pode 
ver com olhos turvos e coração impuro.
Quarto: a teologia deve ser feita num espírito de 
amor crescente. O Grande Mandamento, “Ame o Senhor,
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e 
de todo o seu entendimento” (Mt 22.37), aplica-se com 
particular força ao trabalho da teologia. A teologia, con­
forme já observado, é um jeito de amar Deus com a 
mente, mas deve ser feita no contexto de um amor total 
a Deus. A teologia é algo apaixonante: é reflexão nas­
cida da devoção. Para a comunidade cristã, os que co­
nhecem o amor de Deus e Cristo Jesus — “Deus tanto 
amou o mundo que deu...” (Jo 3.16) — , esse amor cada 
vez mais intenso faz da teologia
uma resposta, uma 
oferta de louvor e ação de graças. Esse amor para com 
Deus é também inseparável do amor pelo próximo, 
pois as palavras do Grande Mandamento continuam: 
“Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22.39). 
Quanto maior o amor pelo próximo, tanto maior o 
desejo de suprir suas necessidades. No trabalho teo­
lógico, isso significa expressão com tal clareza, objeti­
vidade e preocupação que o “próximo” seja edificado. 
A teologia, se for verdadeiro discurso sobre Deus, é um 
discurso de amor.
Quinto, e da maior importância: todo o traba­
lho de teologia deve ser feito para a glória de Deus. 
A comunidade cristã precisa pôr diante de si, cons­
tantemente, o alvo de glorificar Deus em todos os 
empreendimentos teológicos. Nas palavras de Jesus: 
“Aquele que busca a glória de quem o enviou [o Pai], 
este é verdadeiro; não há nada de falso a seu respei­
to” (Jo 7.18). Mesmo assim, o alvo da comunidade 
em cada expressão teológica, tanto de modo coletivo 
como por meio de seus especialistas, não deve ser a 
glória própria, mas dar glória constante a Deus. Nes­
se espírito, a teologia pode ser uma testemunha fiel 
do Deus vivo.
31 Paulo, nesse versículo, na realidade diz que é falando “numa 
língua” que a pessoa anuncia esses mistérios. Entretanto, 
conforme mostra o contexto maior, isso é “orar com o espíri­
to” ou “orar no Espírito”. Para uma discussão mais detalhada 
do assunto, cf. o v. 2 desta obra.
32 A verdadeira teologia é “o ensino que é segundo a piedade” 
(lTm 6.3). É ensino piedoso, pois brota de uma profunda 
reverência e piedade.
2 4
O conhecimento de Deus
2
A questão básica da teologia é a do conhecimento de 
Deus. Na teologia, falamos continuamente de Deus. A fé 
cristã afirma ter conhecimento de Deus — não fantasia, 
imaginação ou conjectura, mas conhecimento. Qual a 
base de tal afirmação? Como se conhece Deus?
Lidamos aqui com a área da epistemologia — o 
estudo das premissas, método e limites do conhe­
cimento. A epistemologia é “o discurso acerca do 
conhecimento”,1 e no campo teológico é o discurso so­
bre o conhecimento de Deus. Vamos nos concentrar 
basicamente em como se conhece Deus.
I. A IMPORTÂNCIA DESSE CONHECIMENTO
Precisamos reconhecer de início que nunca é de­
mais destacar a importância desse conhecimento. Esta­
mos tratando de uma questão de importância suprema.
A. Reflexão humana
Ao longo de toda a história da raça humana as pes­
soas vêm levantando várias e várias vezes a questão 
acerca do conhecimento de Deus. A importância desse 
assunto é evidenciada pela busca humana universal 
em que o conhecimento de Deus tem sido a preocupa­
ção maior. A reflexão humana volta-se invariavelmen­
te para além da questão do conhecimento do mundo 
e do homem para a questão: “Como conhecemos a 
Deus?” Múltiplas religiões, todas representando a má­
xima lealdade e compromisso da raça humana, são, em 
essência, tentativas de encontrar a resposta; e muitas 
filosofias têm-se voltado para o conhecimento do que 
é definitivo como o objetivo supremo e final.
Assim, repetimos, a reflexão humana volta-se inva­
riavelmente para a questão do conhecimento de Deus
1 De epistemêy “conhecimento”, e logos, “discurso”.
como o interesse maior. Esse interesse pode ficar es­
condido por um tempo em meio aos muitos afazeres 
do mundo e às preocupações egocêntricas do homem, 
mas a questão não passa. Algo no homem, ao que pa­
rece, clama por esse conhecimento supremo; e, a me­
nos que deseje reconhecê-lo e buscá-lo,2 a vida jamais 
alcança sua satisfação mais plena.
B. As Escrituras
A questão do conhecimento de Deus é um tema 
contínuo em toda a Bíblia. Do lado humano, por exem­
plo, há o lamento de Jó que diz: “Se tão somente eu 
soubesse onde encontrá-lo e como ir à sua habitação!” 
(Jó 23.3). Ou ouvimos as palavras de Filipe: “Senhor, 
mostra-nos o Pai, e isso nos basta” (Jo 14.8). O clamor 
do coração é por encontrar Deus, contemplá-lo e che­
gar em paz à sua presença.
Do lado divino, as Escrituras retratam Deus supre­
mamente desejoso de que seu povo o conheça. Uma 
das grandes passagens é Jeremias 9.23,24: “Assim diz 
o Senhor: £Não se glorie o sábio em sua sabedoria nem 
o forte em sua força nem o rico em sua riqueza, mas 
quem se gloriar, glorie-se nisto: em compreender-me e 
conhecer-me, pois eu sou o Senhor e ajo com lealdade, 
com justiça e com retidão sobre a terra, pois é dessas 
coisas que me agrado’, declara o Senhor”.
Compreender e conhecer Deus — e gloriar-se nis­
so — é o alvo supremo e final. Isaías declara profetica­
mente que virá o dia em que “a terra se encherá do co­
nhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar”
2 João Calvino escreve que “todos os que não dirigem todos 
os pensamentos e atos de sua vida para esse fim [o conheci­
mento de Deus] não conseguem cumprir a lei da existência 
deles” (Institutas, 1:6.3, trad. Beveridge).
(Is 11.9). Essa é a consumação do desejo e da intenção 
divina: que todo o mundo chegue um dia a conhecê-lo.
Por outro lado, a falta de conhecimento genuíno 
de Deus é mostrada nas Escrituras como algo trágico. 
Nas palavras de abertura da profecia de Isaías, existe 
este lamento: “Ouçam, ó céus! Escute, ó terra! Pois o 
Senhor falou: *[...] O boi reconhece o seu dono, e 
o jumento conhece a manjedoura do seu proprietário, 
mas Israel nada sabe, o meu povo nada compreende ” 
(1.2,3). Em consequência dessa falta de conhecimento, 
o povo de Israel “carregado de iniquidade Aban­
donaram o Senhor’’ (1.4); “a terra [...] está devasta­
da, suas cidades foram destruídas a fogo” (1.7). Outro 
grande profeta, Oseias, exclama: “A fidelidade e o amor 
desapareceram desta terra, como também o conheci­
mento de Deus. [...] Por isso a terra pranteia [...] Meu 
povo foi destruído por falta de conhecimento” (Os 
4.1,2,6). As consequências trágicas de não conhecer a 
Deus são males de todos os tipos — e destruição.
O que o Senhor deseja de seu povo? Novamen­
te de Oseias: “Desejo misericórdia, e não sacrifícios; 
conhecimento de Deus em vez de holocaustos” (6.6). 
E certamente virá um dia, declara o Senhor por meio 
de Jeremias, em que “ninguém mais ensinará ao seu 
próximo nem ao seu irmão, dizendo: 'Conheça ao 
Senhor’, porque todos eles me conhecerão, desde o 
menor até o maior” (Jr 31.34).
Não deve haver dúvidas de que o conhecimento de 
Deus é de suprema importância de acordo com as Escri­
turas. Devemos nos alegrar com isso acima de todas as 
coisas, muito acima de todas as outras glórias da terra. 
Sua falta leva à multiplicação do pecado e da iniquidade, 
do distanciamento de Deus e desolação. Mas Deus dese­
ja ser conhecido. Um dia todos o conhecerão, e a terra 
ficará repleta desse conhecimento glorioso.
II. O CAMINHO DO CONHECIMENTO
Já que é evidente, tanto pela reflexão humana como 
pelas Escrituras, que o conhecimento de Deus é uma 
questão do máximo interesse do homem, bem como 
intenção de Deus, a pergunta crítica agora diante de
T e o lo g ia s is te m á tic a : u m a p e rs p e c tiv a p e n te c o s ta l
nós é sobre o caminho desse conhecimento: “Como 
Deus pode ser conhecido?”.
A. O mistério de Deus
Todo conhecimento deve ser prefaciado pela cons­
ciência de que o próprio Deus não pode ser conhecido 
como são conhecidas outras coisas ou pessoas. Ele está 
totalmente velado em relação à percepção humana. 
Ele é o Deus que habita em “nuvem escura” (IR s 
8.12). Deus é o mysterium tremendum,3 um vasto 
mistério não passível de compreensão por qualquer 
meio ordinário. O fato de Deus ser Deus, e não homem, 
significa mistério e singularidade de todo conheci­
mento relacionado a ele.
Assim, tudo o que Deus faz carrega em si um ca­
ráter de mistério. Paulo fala acerca do “mistério da 
sua vontade” (Ef 1.9), do “mistério de Cristo” (3.4), do 
“mistério do evangelho” (6.19). Há mistério no próprio 
Deus e em todos os

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