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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS DO CAPIM/PA Castanhal 2016 ARLIENE DO SOCORRO BATISTA DOS SANTOS RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS DO CAPIM/PA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Administração da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração. Orientadora: Prof.ª MSc Benedita Maria Diniz da Silva Castanhal 2016 ARLIENE DO SOCORRO BATISTA DOS SANTOS RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA: O GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS DO CAPIM/PA Trabalho de Conclusão de Curso submetido à banca examinadora designada pela Coordenação do Curso de Administração da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração. Defendido e aprovado em: 10 de junho de 2016. BANCA EXAMINADORA _______________________________________ Prof.ª MSc. Benedita Maria Diniz da Silva – Orientadora ___________________________________ Prof.ª MSc. Ângela Maria da Silva Kobayashi – Membro ___________________________________ Prof.ª MSc. Fíbia Brito Guimarães – Membro Castanhal 2016 Dedico este trabalho à minha avó Izabel Gomes Batista (in memoriam), que foi trabalhadora rural e analfabeta e, mesmo com todas as dificuldades, sempre fez questão de que os filhos aprendessem a ler e escrever, pois acreditava que a educação era o caminho para uma vida melhor. AGRADECIMENTOS Agradeço a minha mãe, ex-professora Irene Batista, que foi quem me ensinou a escrever, que não me deixou desistir as vésperas de ir fazer a prova do vestibular, que por vários meses acordou de madrugada para fazer a comida que seria meu almoço na faculdade, e por ter cuidado da Luna (cadela que adotei no primeiro semestre do curso) nos períodos que passei longe de casa. Agradeço a minha tia, Maria das Graças, que me acolheu por mais de um ano em sua casa em Belém, no período de estágio obrigatório. Agradeço especialmente a Jaciara Cristina e a Naiana Amaral que nunca desistiram de mim e sempre me incentivaram a voltar a estudar. Agradeço a Bióloga e Especialista em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável Prof.ª Sabrina Miranda, que não mediu esforços em me ajudar, e que sempre tirou as dúvidas que surgiram durante a elaboração do mesmo. Agradeço a todos os meus colegas de turma e em especial a Equipe Mutley: Ane Cristina, Camila Santos, Luan Sávio, Mariana Biasi, Raquel Barbosa e Valdeir Damasceno. Vocês são os melhores! Agradeço a minha orientadora Prof.ª MSc Benedita Maria Diniz da Silva, que me deu todo suporte e as orientações necessárias para que eu concluísse este trabalho com êxito. Agradeço aos meus supervisores de estágio Paulo Galvão (Correios) e Nelson Moreira (Síntese Moradia e Construções), e a todos com que convivi durante esse período de experiência, os ensinamentos de vocês vou levar pra vida toda. RESUMO O presente trabalho objetivou a elaboração de um modelo de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos para o munícipio de São Domingos do Capim, e buscou responder de que forma a utilização de um modelo de gerenciamento, geraria eficiência no tratamento desses resíduos para a administração pública municipal. A pesquisa foi realizada por meio de um estudo de campo, sob a categoria de estudo de caso. Utilizou-se técnicas de coleta de dados bibliográfica e documental, observação não estruturada e não participante e a aplicação de um questionário. Concluído o diagnóstico, constatou-se, entre outros, a ausência de coleta seletiva e a inadequada disposição final dos resíduos sólidos urbanos, além da ausência de um plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, o que impede o município de receber recursos da União destinados a serviços relacionados à gestão de resíduos sólidos, como previsto em lei. Recomendou-se que a administração pública busque adequar-se às diretrizes instituídas em lei e que execute ações baseadas nos padrões da gestão sustentável, a partir do modelo elaborado, aliando desenvolvimento econômico a consumo consciente, gerando melhorias na qualidade de vida da população. Palavras-chave: Administração Pública. Gestão Ambiental. Responsabilidade Socioambiental, Gestão de Resíduos Sólidos. RESUMEN El presente trabajo tiene como objetivo la elaboración de un modelo de gerenciamiento de residuos sólidos urbanos para el municipio de São Domingos do Capim, y buscó así, responder de qué forma la utilización de un modelo de gerenciamiento, pondría eficiencia en el tratamiento de esos residuos para la administración pública municipal. La investigación fue realizada por medio de un estudio de campo, bajo la categoría de estudio de caso. Fueron utilizadas técnicas de recaudo de datos bibliográfico y documental, observación no estructurada y no participante y la aplicación de un cuestionario. Hecho el diagnostico, fue constatada, entre otros, la ausencia de recauda selectiva y la inadecuada disposición final de los residuos sólidos urbanos, además de la ausencia de un plano municipal de gestión integrada de residuos sólidos, lo que impide el municipio de recibir recursos de la União destinados a los servicios relacionados a la gestión de residuos sólidos, como previsto en la ley. Fue recomendado que la administración pública busque adecuarse a las directrices instituidas en ley y que ejecute acciones basadas en los padrones de la gestión sustentable, desde el modelo elaborado, aliando desarrollo económico al consumo consciente, provocando así, mejorías en la cualidad de vida de la población. Palabras-claves: Administración Pública. Gestión Ambiental. Responsabilidad Socio Ambiental. Residuos Sólidos. LISTA DE TABELAS E GRÁFICO Tabela 1: Projeção do Crescimento Demográfico. .................................................... 53 Tabela 2: Projeção da geração total dos resíduos (kg/hab. dia). .............................. 53 Gráfico 1: Composição dos resíduos sólidos coletados em 2015. ............................ 54 LISTA DE MAPA E IMAGENS Mapa 1: Localização geográfica do município de São Domingos do Capim ............. 46 Imagem 1: Veículo coletando os resíduos domiciliares. ............................................ 55 Imagem 2: Local onde são destinados os resíduos sólidos. ..................................... 56 Imagem 3: Local onde são destinados os resíduos sólidos. ..................................... 56 Imagem 4: Local onde são destinados os resíduos sólidos. ..................................... 57 Imagem 5: Possível queima irregular de lixo a céu aberto. ....................................... 57 Imagem 6: Terceirizado descartando lixo de veículo. ............................................... 58 Imagem 7: Veículo fazendo o descarte do lixo .......................................................... 58 Imagem 8: Posto de estrega voluntária. ....................................................................65 Imagem 9: Lixeiras de coleta seletiva. ...................................................................... 66 Imagem 10: Catadores realizando a triagem de resíduos. ........................................ 67 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Evolução do Conceito de Administração Pública. .................................... 23 Quadro 2: As Funções da Administração. ................................................................. 25 Quadro 3: Diferenças entre o planejamento normativo e o PES. .............................. 27 Quadro 4: Itens para elaboração do diagnóstico de um problema social. ................. 29 Quadro 5: Estrutura dos Poderes da União e seus níveis. ........................................ 32 Quadro 6: Eixos temáticos da Agenda Ambiental na Administração Pública. ........... 43 Quadro 7: Código de cores para identificação de resíduos. ...................................... 44 Quadro 8: Competências e atribuições. .................................................................... 62 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Divisão da Administração Pública segundo as atividades exercidas. ........ 24 Figura 2: Fluxograma de Problema e Programa. ...................................................... 30 Figura 3: Fluxograma do atual processo de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no município. ............................................................................................... 59 Figura 4: Organograma com órgãos e unidades ....................................................... 63 Figura 5: Modelo de aterro sanitário. ......................................................................... 69 Figura 6: Fluxograma com modelo de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos . 70 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 14 1.1 PROBLEMA .................................................................................................... 15 1.2 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 16 1.3 OBJETIVOS .................................................................................................... 17 1.3.1 Geral............................................................................................................... 17 1.3.2 Específicos .................................................................................................... 17 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..................................................................... 18 2.1 REFORMAS DO ESTADO ............................................................................. 19 2.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .......................................................................... 21 2.2.1 Aspectos Estruturais .................................................................................... 22 2.3 FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS ..................................................................... 25 2.4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL (PES) ............................. 26 2.4.1 Problema social ............................................................................................ 27 2.4.2 Diagnóstico e causas de um problema social ........................................... 28 3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL .................................................... 31 3.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL ..................................................... 33 3.2 GESTÃO PÚBLICA SUSTENTÁVEL (GPS) ................................................... 34 3.3 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS) ............................ 37 3.3.1 A regulamentação da PNRS ......................................................................... 37 3.3.2 Diretrizes básicas da PNRS ......................................................................... 38 3.3.3 Quanto à classificação dos resíduos .......................................................... 38 3.3.4 Destinação e disposição final adequada .................................................... 39 3.4 NORMAS PARA ARMAZENAGEM E TRANSPORTE DE RESÍDUOS .......... 40 3.4.1 Local de Armazenamento ............................................................................ 40 3.4.2 Transporte ..................................................................................................... 40 4 AGENDA AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA (A3P) ................. 42 4.1 EIXOS TEMÁTICOS DA A3P ......................................................................... 42 4.2 COLETA SELETIVA ....................................................................................... 43 5 O MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS DO CAPIM ........................................... 45 5.1 FORMAÇÃO ADMINISTRATIVA .................................................................... 46 5.2 A POLÍTICA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE ............................................ 47 6 METODOLOGIA ............................................................................................. 49 6.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA ............................................................. 49 6.2 QUANTO ÀS TÉCNICAS DE COLETA DOS DADOS .................................... 49 6.2.1 Instrumentos utilizados para coleta e análise dos dados ......................... 50 6.2.2 Universo e amostra....................................................................................... 51 6.2.3 Análise dos dados ........................................................................................ 51 7 ESTUDOS PRELIMINARES .......................................................................... 52 7.1 SITUAÇÃO ATUAL DO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ..... 52 7.1.1 Estimativa da geração de resíduos sólidos ............................................... 52 7.1.2 Composição dos resíduos sólidos urbanos .............................................. 53 7.1.3 Equipamentos e unidades operacionais .................................................... 54 7.1.4 Serviços ......................................................................................................... 54 7.1.5 Coleta dos resíduos...................................................................................... 55 7.1.6 Destino dos resíduos coletados .................................................................. 55 7.1.7 Fluxograma do gerenciamento atual dos resíduos sólidos urbanos....... 59 7.2 RESULTADO DO DIAGNÓSTICO ................................................................. 59 8 PROGNÓSTICO DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS............ 61 8.1 PLANO MUNICIPAL DE GESTÃO DE RESIDUOS SÓLIDOS ....................... 61 8.2 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................... 61 8.2.1 Órgãos e unidade administrativas que executarão as atividades ............ 62 8.2.2 Capacitação dos colaboradores .................................................................. 64 8.2.3 Coleta seletiva e sensibilização da sociedade ........................................... 65 8.2.4 Participação de associações e cooperativas de catadores de matérias recicláveis. ............................................................................................................... 67 8.2.5 Envolvimento dos agentes econômicos ..................................................... 68 8.2.6 Implantação do aterro sanitário .................................................................. 68 8.2.7 Modelo de gerenciamento de resíduos sólidos ......................................... 70 8.3 RESULTADO DO PROGNÓSTICO ................................................................ 71 9 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ......................................................... 73 REFERÊNCIAS .........................................................................................................75 ANEXO ..................................................................................................................... 79 14 1 INTRODUÇÃO Atualmente, observa-se que está acontecendo um aumento do envolvimento da sociedade no sentido de promover a preservação do meio ambiente, debates sobre impactos que determinadas ações podem causar, não se aplicam mais apenas a grandes organizações. A sociedade local do município de São Domingos do Capim, no Pará, também demonstra preocupação com os impactos e danos provenientes de ações incorretas, que podem afetar o ambiente urbano. As questões relacionadas à sustentabilidade, reciclagem, e a forma como os resíduos produzidos serão descartados na natureza, de modo que não gerem danos ao meio ambiente, não é mais exclusiva de ativistas ambientais, passou a ser assunto de interesse social. Segundo Castro e Araújo (2004, p. 562) “o movimento ambientalista surgiu da percepção da sociedade sobre a degradação ambiental em consequência da negligência das autoridades responsáveis”, e que o marco da integração do movimento com a consciência popular foi o livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson, lançado em 1962. Ainda de acordo com os referidos autores, “nas últimas décadas, os problemas ambientas vêm assumindo um papel central nas discussões e agendas de todos os países do mundo” (CASTRO; ARAÚJO, 2004, p. 561). Castro e Araújo (2004, p. 563) afirmam que de um simples problema local, os problemas relacionados à questão do meio ambiente, passaram a ser considerados como parte do desenvolvimento como um todo, e que por isso poderia levar à degradação ambiental e por consequência à estagnação econômica. Essa questão esteve presente na discussão da Agenda 21, durante a ECO- 92, que em seu capitulo 21, de acordo com Castro e Araújo (2004, p. 564) trata da problemática dos resíduos sólidos, e afirma que políticas públicas nacionais para esse problema devem ser baseadas na diminuição dos resíduos produzidos, na maximização da reutilização e reciclagem, na promoção da disposição e do tratamento, e na ampliação da cobertura do serviço de coleta a toda população. Assim, visando a implantação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável, foi instituída no Brasil, em 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.305/10), que objetiva regulamentar a forma como deve ser feita a gestão desses resíduos. 15 A PNRS tem como principal objetivo a implantação da gestão integrada de resíduos sólidos, que tem por finalidade promover ações voltadas para a busca de soluções referentes a esses resíduos, considerando fatores políticos, econômicos, ambientais, culturais e sociais, aliados ao desenvolvimento sustentável. Dentro desse contexto, faz-se necessário que a administração pública local, promova ações pautadas na Responsabilidade Socioambiental, e que se adeque aos novos modelos de gestão sustentável, que vem sendo padronizados e regulamentados por meio de legislações específicas. As organizações públicas devem estar em constante aperfeiçoamento, se mantendo atualizadas, a fim de aliar o uso dos recursos naturais de forma sustentável ao desenvolvimento econômico. O presente trabalho é composto por nove partes: Na Introdução, parte 1, faz- se um breve relato sobre questões relacionadas à preocupação da sociedade com o meio ambiente e elementos referentes ao tema; Na parte 2, apresenta-se a fundamentação teórica da pesquisa; A parte 3 versa sobre a administração pública no Brasil, gestão pública sustentável e sobre a PNRS; A parte 4 discorre-se sobre a Agenda Ambiental na Administração Pública; A parte 5 é dedicada à apresentação do município onde se realizou a pesquisa; Na parte 6, aborda-se questões relacionadas à metodologia utilizada para obtenção dos resultados, A parte 7 descreve os estudos preliminares e demonstra os resultados obtidos. Na parte 8, relata-se o prognóstico da pesquisa; e a parte 9 centra-se na conclusão do trabalho. 1.1 PROBLEMA É notório que ainda há um déficit muito grande em relação à atenção que deveria ser dada por parte do poder público no que se refere à gestão de resíduos sólidos em muitas cidades e munícipios brasileiros. O gerenciamento desses resíduos, que quando executado de forma incorreta gera problemas socioambientais, é atribuído à esfera da administração pública local. Com base nesse contexto, por meio desta pesquisa, será investigado de que forma a utilização de um novo modelo de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, geraria eficiência no processo de tratamento desses resíduos, para administração pública do município de São Domingos do Capim. 16 1.2 JUSTIFICATIVA Dentro da ótica de Menezes (1996, p. 145 apud PEREIRA, 2011), que considera que no início desse século a maioria da população mundial estará vivendo em cidades, o grande desafio será de buscar o equilíbrio socioambiental nesse novo cenário. Pereira (2011) afirma que nos últimos 30 anos, grande parte dos municípios brasileiros vem sofrendo intenso processo de urbanização e isso vem gerando impactos ambientais. O aumento da geração de resíduos sólidos, em específico, torna necessário que haja um planejamento, manejo e alocação corretos desses resíduos, de modo que não comprometa o meio ambiente urbano e, consequentemente, a qualidade de vida da população local. Planos e Políticas de Gestão Sustentáveis estão sendo estabelecidos por meio de legislações federais, estaduais e municipais, que visam regulamentar a forma como resíduos sólidos são coletados, armazenados e qual deve ser seu destino final, contudo, é necessário que haja um maior conhecimento da população sobre as práticas públicas que são voltadas para o meio ambiente e gestão de resíduos sólidos. A obtenção desse conhecimento servirá para que a população local em questão possa cobrar de seus governantes, se for o caso, a adequação aos padrões de gerenciamento previstos em lei vigente. A contribuição para o meio acadêmico se dará pela importante relevância relacionada à problemática do tratamento e alocação dos resíduos sólidos urbanos, que ocasionam impactos tanto no âmbito social como no ambiental. Ao abordar políticas sociais embasadas em conhecimentos científicos, o presente trabalho poderá ser utilizado como fonte de informação para elaboração de outras pesquisas relacionadas ao tema, aumentando o nível de conhecimento direcionado à área de responsabilidade social e ambiental no estudo da administração pública. Além de ser uma fonte de conhecimento para pesquisadora, pois a mesma teve a oportunidade de conhecer de perto a importância da responsabilidade socioambiental na gestão pública municipal, o presente trabalho também servirá para que se possa apresentar aos governantes municipais, de forma voluntária, projetos referentes à gestão de resíduos sólidos, objetivando adequar essa gestão às necessidades atuais e, com isso, promover ações de conscientização junto à 17 população local sobre a melhor forma de separação e disposição do lixo residencial, para que seja efetuada a coleta seletiva no município de São Domingos do Capim. 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Geral Avaliar o atual modelo de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos do município de São Domingos do Capim. 1.3.2 Específicos a) Identificar a situação atual referente ao gerenciamento de resíduos sólidos urbanos no munícipio; b) Levantar os órgãos envolvidos na gestão dos resíduos sólidos urbanos; c) Relacionar a infraestrutura adotada na coleta e descarte de resíduos sólidos urbanos; d) Avaliar o processo adotado no gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos no município; e e) Elaborar um modelo de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos para o município de São Domingos do Capim. 182 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Inicialmente, antes de abordar o conceito de administração pública, deve-se compreender os agentes que estão envolvidos em sua construção e quais são suas contribuições, ampliando, assim, o entendimento a respeito do tema. Meirelles (2004 apud JUNQUILHO, 2010, p. 16), afirma “que quando estudamos Administração Pública, devemos sempre começar o tema com o conceito de Estado”. Conforme Meirelles (1998), o conceito de Estado varia segundo o ângulo em que é considerado: Do ponto de vista sociológico, é corporação territorial dotada de um poder de mando originário (Jellinek); sob o aspecto político, é comunidade de homens, fixada sobre um território, com potestade superior de ação, de mando e de coerção (Malberg); sob o prisma constitucional, é pessoa jurídica territorial soberana (Biscaretti di Ruffia); na conceituação do nosso Código Civil, é pessoa jurídica de Direito Público Interno (Art. 14, I) (MEIRELLES, 1998, p. 60). Segundo Queiroz (2012), pode-se entender o Estado, de forma simplificada, como um contrato social (representado por uma Constituição) que os homens fazem entre si, no qual cada um cede uma parte de sua liberdade para que este possa regular as relações entre eles e, assim, prover a prosperidade de todos. De acordo com o economista e cientista social Carlos Bresser Pereira (1995b apud QUEIROZ, 2012, p. 27): O Estado é uma organização burocrática ou aparelho que se diferencia essencialmente das demais organizações porque é a única que dispõe de poder extroverso – de um poder político que ultrapassa os seus próprios limites organizacionais. Bächtold (2008, p. 17) explica que “o conceito de Estado moderno está estreitamente vinculado com a noção de poder institucionalizado, isto é, o Estado se forma quando o poder se assenta em uma instituição e não em um indivíduo”, ou seja, não há poder absoluto, os governantes estão sujeitos ao que estabelece as leis. 19 O Estado e suas autarquias, órgãos, serviços e agentes desempenhando suas funções administravas são regidos segundo princípios constitucionais do Direito Administrativo. De acordo com Di Pietro (2014) o Direito Administrativo, em suas origens, de elaboração pretoriana e não codificado, permite à Administração e ao Judiciário estabelecer o necessário equilíbrio entre os direitos dos administrados e as prerrogativas da Administração. Segundo o autor, os dois princípios fundamentais que decorrem da assinalada bipolaridade do Direito Administrativo – liberdade do indivíduo e autoridade da Administração – são os princípios da legalidade e da supremacia do interesse público sobre o particular. Não sendo exclusivos do Direito Administrativo, pois, envolvem todos os ramos do direito público, no entanto, são essências, porque a partir deles, constroem-se todos os demais. Como é dado ao Estado todo poder necessário para que cumpra corretamente as funções que justificam sua existência, se algo não está funcionando adequadamente nas sociedades, em última análise, será devido ao seu mau funcionamento. De acordo com Queiroz (2012), em alguns momentos da história, o Estado teve que se adequar às novas exigências causadas por mudanças no ambiente tecnológico, político, econômico e social, alterando assim seu modelo e/ou suas funções. É isso que vem ocorrendo nos países desde a década de 1970. 2.1 REFORMAS DO ESTADO Até o início da crise econômica mundial nos anos 1930, prevaleceu nos principais países do mundo um modelo de Estado que era caracterizado por possuir um aparelhamento institucional pequeno e por pouco intervir nas atividades econômicas. Segundo Queiroz (2012), esse Estado, que era denominado como liberal e que teve como principal ideólogo e filosofo escocês Adam Smith (1723- 1790), entrou em crise no momento que não conseguia dar mais soluções à crise econômica que se instalou nos principais países do mundo no final dos anos 1930. Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), visando enfrentar a crise econômica, fez-se necessário superar a visão defendida por Smith, da superioridade do livre mercado como regulador automático das economias. Passou-se então a 20 aceitar a necessidade de uma intervenção maior dos Estados nacionais na economia, conforme o que propunha o economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946), considerado o principal mentor das reformas do Estado ocorridas após os anos 1930 (QUEIROZ, 2012). Para Pereira (1997 apud QUEIROZ, 2012), a grande crise dos anos 30 originou-se no mau funcionamento do mercado. Conforme Keynes verificou, o mercado livre levou as economias capitalistas à insuficiência crônica da demanda agregada. Em consequência, o Estado liberal deu lugar ao Estado social- burocrático: social porque assume o papel de garantir os direitos sociais e o pleno emprego; e burocrático, porque o faz através da contratação direta de burocratas. Com isso, reconhece-se o papel complementar do Estado no plano social e econômico. O modelo de Estado keynesiano caracterizava-se pela forte presença do governo e pela sua intervenção nos ambientes econômicos e social, independentemente do modelo político que os principais países apresentavam (Queiroz, 2012). Entretanto, após a década de 1970, as políticas do modelo de Estado keynesiano não se mostravam mais eficazes para suportar a continuidade do ciclo de prosperidade da economia mundial, então veio outra crise, e o modelo keynesiano passou a ser questionado e revisado. De acordo com Queiroz (2012), nas décadas de 70 e 80 as reformas passaram a perseguir as características do antigo modelo liberal de Estado, o qual possuía um aparelho estatal pequeno que pouco interferia nas atividades econômicas, e adotava soluções que se concentravam em reduzir o tamanho do aparelho do Estado extinguindo órgãos públicos, enfatizando mecanismos de livre mercado. Esse ciclo de reformas do Estado ficou denominado como reformas de primeira geração. Posteriormente, aconteceu o ciclo de reformas que ficou conhecido como reformas de segunda geração, que se deu pelo aprofundamento da reflexão sobre a questão. Com o aprofundamento da reflexão e do entendimento que se intensificou em todo mundo acerca da questão, ficou cada vez mais evidente que o caminho não está simplesmente na redução do tamanho do Estado, [...] e sim na reconstrução do estado para exercer novas e estratégicas funções (QUEIROZ, 2012, p. 31). 21 Exercer novas e estratégicas funções, nesse sentido, representa construir um novo modelo de Estado que tenha sua capacidade de governança redefinida, pois, acredita-se que os objetivos para o desenvolvimento das sociedades serão mais bem atendidos dentro dessa concepção (QUEIROZ, 2012). O cumprimento das ações de responsabilidade social encontra-se incluído como as funções estratégicas anteriormente referidas. A execução das estratégias governamentais, dado o nível de exigência da sociedade, impõe ao Estado a construção de um aparato de órgãos e funções capazes dessas realizações, o qual é denominado de Administração Pública, abordado no item a seguir. 2.2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA De acordo com Bächtold (2012, p. 33) “com o tempo os pequenos clãs e vilas passaram a se organizar, estabelecendo-se as cidades, reinos e impérios. Assim a administração pública começou a ganhar complexidade”. Para Queiroz (2012), a expressão administração pública pode ser usada em dois sentidos: com inicias maiúsculas, expressando a estrutura organizacional do governo; e com letras minúsculas, identificando a atividade administrativa no desempenho dos servidores públicos. Meirelles (1985 apud BÄCHTOLD 2008, p. 26) em uma abordagem mais conceitual, define a administração pública como “todo o aparelhamento do Estado, preordenado à realização deseus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas”. Bächtold (2012, p. 16) explica que “a satisfação das necessidades da população é o motivo principal da existência de um governo e este deve esforçar-se para atender o povo que legitimou este poder”. Nesse contexto, o referido autor afirma que “o administrador público vai conduzir o seu trabalho procurando atender a necessidade da população que o elegeu”, fazendo referência à origem da palavra administração “que vem do latim ad (direção) e minister (obediência), ou seja, o administrador dirige obedecendo à vontade de quem contratou” (BÄCHTOLD, 2012, p. 31) Segundo Bächtold (2012, p. 32), “é a administração pública que permite aos governantes cumprir as funções básicas do governo, de forma a tratar o bem público 22 da melhor maneira possível”. Nesse sentido, faz-se necessário que haja uma administração pública estruturada, com objetivo de atender melhor as expectativas da população. 2.2.1 Aspectos Estruturais O processo administrativo e a tomada de decisão no âmbito das políticas públicas estão baseados em aspectos da estrutura organizacional, que segundo Scott (1981 apud PETERS; PIERRE, 2010, p. 148), “é uma estrutura normativa composta de regras e papéis que especificam, com mais ou menos clareza, o que se espera que alguém faça e como fazê-lo”. Historicamente, o economista político e sociólogo alemão Max Weber (1864- 1920) foi um grande colaborador no desenvolvimento das estruturas administrativas do nosso país. De acordo com o texto “A Teoria das Organizações de Max Weber” (2014) publicado no Portal Administração, Weber contribuiu com a Teoria das Organizações, identificando e hierarquizando as estruturas de autoridade, identificando as razões do desenvolvimento das organizações burocráticas e seu avanço sobre as demais. Isso ajudou a combater praticas patrimonialistas que atrasavam o avanço da administração pública brasileira, e contribuiu de forma concreta para a compreensão da natureza das organizações sociais e humanas. Apesar das críticas e disfunções constatadas na sua teoria, as organizações atuais não conseguem fugir do conjunto de características que Weber atribui à burocracia, que acabam se revelando indispensáveis para seu funcionamento. Contudo, as pessoas passaram dar o nome de burocracia aos defeitos do sistema, o que contrapõe a visão do autor. De acordo com Bächtold (2008), quando se menciona a burocracia, já se imagina morosidade, lentidão, filas, guichês, protocolos e etc. Mas, a concepção de Weber para a burocracia é a eficiência no atendimento, resolução de problemas com agilidade, por haver clara definição de atribuições e responsabilidades, bem como padronização no fluxo de tarefas e soluções. Em uma visão mais contemporânea, de acordo com a Gestão Local para a Sustentabilidade (2013) do Programa Cidades Sustentáveis, um relatório mundial sobre o Setor Público da ONU, elaborado em 2005, mostra que houve uma evolução 23 do conceito tradicional de “Administração Pública” centralizada, para uma gestão de viés empresarial, culminando na gestão pública participativa. Como observa-se no Quadro 1, a seguir: Quadro 1: Evolução do Conceito de Administração Pública. Administração Pública Nova Gestão Pública Gestão Participativa Relação Cidadão – Estado Obediência Credenciamento Empoderamento Responsabilidade da administração superior Políticos Clientes Cidadãos, atores Princípios orientadores Cumprimento de leis e regras Eficiência e resultados Responsabilidade, transparência e participação. Critérios para o sucesso Objetivos quantitativos Objetivos qualitativos Processo Atributo Chave Imparcialidade Profissionalismo Participação Fonte: UN. World Public Sector Report (2005 apud GESTÃO LOCAL PARA A SUSTENTABILIDADE, 2013, p.41). Se pode observar no Quadro 1 que o cidadão na Gestão Participativa pode exercer melhor a sua cidadania, nesse sentido, a socialização de poderes entre os cidadãos mostra que a eficiência de uma gestão não é mais medida apenas na obtenção de seus objetivos, mas em seu processo. Esta situação reflete a mesma encontrada em Mattos (1995, p. 193), que apresenta uma visão crítica do tradicionalismo governamental, e aponta que “a principal falha dos governos teria a ver com os meios utilizados e não com os objetivos”, e aponta como formas de tornar um governo mais eficiente a “descentralização da autoridade, redução das hierarquias, ênfase na qualidade e aproximação com os ‘clientes’ na administração pública” (MATTOS, 1995, p. 193). Bächtold (2008, p. 75) refere que Silva (2004) em seu livro, Contabilidade Governamental, propõe que “para atingir a plena satisfação das necessidades da população, a administração pública é dividida, segundo as atividades que exerce, em”: a) Atividades-meio: Envolvem o próprio papel do Estado e sua estrutura para atender as necessidades da população; 24 b) Atividades-fim: Estão voltadas para o efetivo atendimento das demandas da população. Na Figura 1, observa-se essa divisão: Figura 1: Divisão da Administração Pública segundo as atividades exercidas. Fonte: Silva (2004 apud BÄCHTOLD, 2008, p. 75). De forma geral, acerca dos enunciados de Bächtold (2008) e os de Peters e Pierre (2010), pode-se entender a Administração Pública como uma atividade pela qual o Estado, representado por seus órgãos e autoridades, e com o auxílio de instrumentos administrativos, executa e concretiza suas ações para satisfazer as necessidades e interesses coletivos. Megginson et al. (1998 apud TRIGREIRO; MARQUES, 2009, p. 14) “conceituaram a administração como sendo o trabalho através dos recursos humanos, financeiros e materiais a fim de atingir objetivos organizacionais por meio do desempenho das funções de planejar, organizar, liderar e controlar”. Para Trigueiro e Marques (2009, p. 15) “o conceito acima caracteriza a administração de um modo geral, e se aplica a toda e qualquer organização, seja elas de fins lucrativos ou não”. Por tanto, ainda sob a ótica dos autores, “é por meio da administração, que as organizações funcionam, já que necessitam de diretrizes, ações, estratégicas e instrumentos que controlem os resultados e desempenho pretendido” (TRIGREIRO; MARQUES, 2009 p. 15). Em outras palavras, para que possa alcançar os seus objetivos e metas e atender as necessidades da sociedade, a Administração Pública, afim de obter eficiência em suas ações e aprimoramento em seus processos, deve desempenhar o seu papel por meio das funções administrativas. 25 2.3 FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS O processo de planejamento, organização, liderança e controle das atividades dos colaborados em uma organização, com a finalidade de usar todos os recursos disponíveis para alcançar objetivos estabelecidos, é parte fundamental da administração e compõe etapas do processo administrativo. Quando essas etapas são estudadas separadamente, passam então a ser denominadas de funções administrativas, como apresentadas no Quadro 2. Quadro 2: As Funções da Administração. PROCESSO OU FUNÇÃO DESCRIÇÃO Planejamento Planejamento é o processo de definir objetivos, atividades e recursos. Organização Organização é o processo de definir o trabalho a ser realizado e as responsabilidades pela realização; é também o processo de distribuir os recursos disponíveis segundo algum critério. Direção Execução é o processo de realizar atividades e utilizar recursos para atingir os objetivos. O processo de execução envolve outros processos, especialmente o processo de direção, para acionar os recursos que realizam as atividades e os objetivos. Controle Controle é o processo de assegurar a realização dos objetivos e identificar a necessidadede modificá-los. Fonte: Maximiano (2000, p. 2 apud BÄCHTOLD, 2008 p. 35) Entende-se, portanto, que administrar constitui um processo integrado, ou seja, quando um administrador toma uma decisão e executa uma ação, isso afetará outras pessoas, tanto individualmente como organizacionalmente, sejam estas organizações públicas ou privadas. Com relação às organizações públicas, segundo Lopes, Amaral e Caldas (2008, p. 30 e 31) “a sociedade civil contribui com a qualidade das ações, uma vez que o elaborador poderá perceber quais são os problemas que, no momento, mais afligem a população de forma mais detalhada”, isso permite traçar ações mais efetivas. Esses autores ainda destacam que “o processo de planejamento de longo prazo deve ser feito pelos atores políticos, mas com auxílio dos servidores públicos e setores da sociedade civil organizada” (LOPES; AMARAL; CALDAS, 2008, p. 30), tais premissas estão intrinsecamente ligadas ao Planejamento Estratégico Situacional. 26 2.4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL (PES) Quando se trata de ações estratégicas de programas da política pública, faz- se necessária elaborar e avaliar as formas de execução para que elas possam ser adaptadas a uma realidade que está em constante transformação. Devem-se levar em consideração as relações e as variáveis sociais e políticas dos atores envolvidos no processo, e um dos principais instrumentos a ser utilizado é o planejamento estratégico situacional. Matus define o PES como “o cálculo situacional sistemático que relaciona o presente com o futuro e o conhecimento com a ação” (MATUS, 1993 apud QUEIROZ, 2012, p. 126). Segundo Belchior (1999, p. 29), “para Matus, o planejamento é um processo técnico-político resultante do um jogo de atores em interação, conflito, cooperação e alianças, os quais têm suas próprias estratégias e sua particular visão da realidade”. Em situações em que há conflitos de interesses, aplica-se a chamada Teoria dos Jogos, de autoria do matemático francês Émile Borel (1871-1956), que aborda as relações humanas com base em jogos de estratégia, possibilitando uma análise lógica dos conflitos, no intuito de fazer as melhores escolhas para obter os resultados desejados. Segundo essa teoria, os participantes do jogo social são atores sociais (pessoas, organizações, grupos de pessoas, um país, um estado, um município, entre outros) que, no jogo social, possuem interesses específicos (QUEIROZ, 2012, p. 127). Desta forma, o resultado de uma política pública dentro do contexto do PES, não depende apenas da elaboração de um programa, mas também das circunstâncias sociais que em que ele irá operar, tendo em vista que estas circunstâncias sociais não podem ser totalmente previstas ou controladas (QUEIROZ, 2012, p. 129). Em contraponto com o PES está o planejamento normativo ou tradicional, que segundo Queiroz (2012, p. 131) “trabalha com o pressuposto de que o diagnóstico de um problema social é único e válido para toda e qualquer pessoa”. Em concordância, Belchior (1999, p. 32) afirma que “segundo Matus, o planejamento normativo é determinista, pois assume que é possível predizer ou tratar como constante o comportamento de todas as variáveis que não controla, que são muitas no campo político-social.” 27 No Quadro 3, apresentam-se as principais diferenças entre o planejamento normativo e o PES. Quadro 3: Diferenças entre o planejamento normativo e o PES. PLANEJAMENTO NORMATIVO PES Objeto do programa governamental A realidade é passiva. O ator que planeja tem controle sobre o objeto planejado A realidade é ativa. O objeto do programa governamental é ativo e reage a cada ação Diagnóstico que explica a realidade O diagnóstico é realizado uma única vez e o cenário futuro é projetado com base nesse diagnóstico. O diagnóstico é substituído pelo conceito de situação. A situação está sempre em mudança e deve ser frequentemente (re)analisada. Modo de conceber o programa O planejamento tradicional é normativo ou prescritivo. Uma vez iniciado o programa, sua estratégia não pode mais ser alterada até o final. A cada série de movimentos realizados na execução do programa, a situação é (re) analisada para corrigir sua trajetória. Variável política Para o planejamento tradicional existe um permanente conflito entre aspectos técnicos e aspectos políticos. Para o PES, não existe conflito entre os aspectos técnicos do planejamento e a variável política. Atores envolvidos no programa No planejamento tradicional não ocorre uma definição clara dos papeis. Não se dá a devida importância à análise dos interesses que movem diversos atores envolvidos no programa. Os diversos atores envolvidos têm seus papeis claramente definidos. Os seus interesses específicos são devidamente analisados e incorporados na estratégia do programa. Fonte: Queiroz (2012, p. 133-134). Com base no que foi apresentado no Quadro 3, o planejamento normativo é constituído por diagnósticos simples da realidade, dessa forma, não se adequa aos complexos ambientes atualmente democráticos da sociedade. Por outro lado, o PES se mostra um modelo adequado para lidar com problemas sociais complexos, se mostra dinâmico e flexível. Suas ações são ponderadas com base na situação atual, e analisadas levando em conta fatores econômicos, sociais e políticos de todos os atores envolvidos no processo, portanto, considera-se o mais apropriado para a realidade atual e seu viés democrático. 2.4.1 Problema social O conceito de problema, indutivamente, é conhecido por todos, porém, nem todos veem determinado fenômeno com o mesmo olhar, alguns podem interpretá-lo 28 como um problema, assim como podem interpreta-lo como não sendo, principalmente quando isso diz respeito a problemas de cunho social. Problema social, segundo Queiroz (2012, p. 138) “é definido de acordo com o ponto de vista das pessoas que o estão formulando e uma mesma realidade pode ter diferentes leituras dependendo de como se situa o observador ou formulador”. Ou seja, o espectador ou agente determinará o que é problema de acordo com sua situação e seus interesses. Cabe esclarecer que, os governos existem para dar solução aos problemas da sociedade e os instrumentos de que dispõe para isso são as políticas públicas (QUEIROZ, 2012). Existem dois tipos de problemas dentro do contexto social, os problemas estruturados e os problemas parcialmente estruturados, e para Matus (1993 apud QUEIROZ, 2012, p. 142) “o entendimento sobre eles é fundamental na identificação e análise dos problemas de uma sociedade”. Problema estruturado define-se como aquele que tem uma única solução correta, reconhecida e aceita como tal. Ele é visto de forma objetiva, suas soluções não afetam ou geram outros problemas, mantem-se de fora do problema e estabelecem-se relações apenas para resolvê-lo. Os problemas matemáticos são exemplos de problemas estruturados, pois quando a questão é apresentada, podemos identificar as variáveis e suas relações para solucionar a questão. Por sua vez, o problema parcialmente estruturado é o tipo de problema que não podemos definir e nem explicar com precisão, por isso, não se sabe bem como enfrentá-lo e muito menos são conhecidos os critérios para escolher as opções para tal (MATUS, 1993 apud QUEIROZ, 2012, p. 143). Não é possível mensurar suas variáveis ou estabelecer ligações com suas causas e consequências. Ele pode estar ligado a outros problemas, e sua possível solução pode gerar precedentes que vão interferir de forma positiva ou negativa nos mesmos. 2.4.2 Diagnóstico e causas de um problema social De forma geral, Queiroz (2012, p. 144) define o diagnóstico como um “conjuntode procedimentos que visa procurar as principais causas de um problema.” Referente à causa, o autor a conceitua como “uma entre várias condições que, em conjunto, concorrem para a existência de um determinado problema”. 29 Segundo Queiroz (2012), um problema social precisa ter uma identificação, uma delimitação clara e a correta enunciação, para se ter sucesso no seu enfrentamento por meio de uma política pública. Portanto, um problema social que se enquadre nesses requisitos e que seja objeto de políticas públicas na forma de programas governamentais é chamado de problema focal. Para que seja feito um diagnóstico de um problema social, elaborado com base no PES, se deve percorrer alguns itens. Para Queiroz (2012, p. 149) esses itens, conforme o Quadro 4, são: Quadro 4: Itens para elaboração do diagnóstico de um problema social. ETAPA DESCRIÇÃO Descrever o problema Fazer um relato de acordo com as perspectivas de todos os atores envolvidos no processo, listar como cada um entende o problema, sejam os interessados ou os afetados por ele. Analisar o problema Fazer uma análise segundo a visão de todos os atores participantes. Analisar a complementaridade Saber se as diversas perspectivas se complementam ou se contradizem. Reunir as distintas interpretações Unir as interpretações em um único problema focal que melhor represente a percepção que todos ao atores tem do problema. Delimitar o problema Por meio de indicadores, fazer o seu monitoramento e o acompanhamento de sua evolução após início da implementação da política pública de destinada ao seu enfrentamento. Identificar Fazer a identificação dos principais fatos, por meios irrefutáveis, que evidenciem e delimitem a existência do problema. Relacionar as causas Fazer uma relação das causas que refletem a existência do problema. Identificar as consequências Identificar os efeitos que o problema em questão produz na sociedade. Selecionar Fazer uma seleção das causas identificadas, e definir quais as causas críticas que, se combatidas, iram produzir o maior impacto possível sobre o problema na sua solução ou amenização. Causas críticas Serão os objetos do foco das ações governamentais que irão compor o programa ou política pública. Fonte: Elaborado pela autora com base em Queiroz (2012, p. 149) Assim, feito o diagnóstico e conhecidas quais as causas críticas do problema, se pode elaborar um projeto com objetivo de solucioná-las e eliminar o problema, como demonstrado na Figura 2, a seguir. 30 Figura 2: Fluxograma de Problema e Programa. Fonte: Queiroz (2012, p. 151). Assim sendo, usando a problematização da realidade do PES, poder-se-á construir de um modelo de planejamento bastante simples e muito efetivo para o enfrentamento dos problemas sociais (QUEIROZ, 2012). Causa 1: Ações: Causa 2: Causa 3: Causa n: PROGRAMA Ações: Ações: PROBLEMA Ações: 31 3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL Bächtold (2008, p. 67), diz que “para que o Estado possa atender à sua finalidade, necessita organizar-se, ou seja, é necessário que haja uma estrutura que atenda suas finalidades”, e uma das formas encontradas para isso foi a divisão político-administrativa, que é apresentada na Constituição Federal do Brasil de 1988 em seu Art. 18, e compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Ainda de acordo com Bächtold (2008, p. 68), “a Administração Pública é exercida em cada um dos três níveis, [...] Federal, Estadual ou Municipal, e para cada nível existem atribuições gerais e específicas”: a) Em nível Federal – É a administração pública realizada pela União, pessoa jurídica de direito público que representa o governo federal. b) Em nível Estadual – Administração pública realizada pelos Estados e o Distrito Federal, pessoas jurídicas de direito público. c) Em nível Municipal – A administração pública realizada pelos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, constituídos no Município. A Constituição Federal de 1988 estabelece em seu Art. 2º que são poderes da União, independentes e harmônicos entrei si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Tal afirmativa está em paridade com o que diz Queiroz (2012) sobre a Administração Pública. A Administração Pública compreende todos os órgãos que constituem os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. No exercício de suas funções, ao que compete à execução de políticas públicas, pratica atos de natureza executiva (atos típicos de gestão), legislativa (expedição de normas e decretos reguladores) e judiciais (produzindo decisões administrativas) (QUEIROZ, 2012, p. 36). No Quadro 5, a seguir, se pode observar a estruturas dos poderes da União e seus níveis. 32 Quadro 5: Estrutura dos Poderes da União e seus níveis. PODERES/NÍVEL FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL Legislativo Congresso Nacional (Câmara dos Deputados – Deputados Federais e Senado Federal – Senadores) Assembleia Legislativa (deputados estaduais) Câmara Municipal (vereadores) Executivo Presidente da República, Vice-Presidente e Ministros Governador, Vice-Governador e Secretários Prefeito, Vice- Prefeito e Secretariado Judiciário Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunais e juízes federais Tribunais e juízes Juiz Fonte: Bächtold (2008, p. 72). A Constituição Federal de 1988, em seu caput do Art. 37, menciona expressamente que a administração pública, direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Princípio da Legalidade: a Administração Pública só poderá fazer o que permite a lei, logo, “a Administração Pública não pode, por simples ato administrativo, conceder direitos de qualquer espécie, criar obrigações ou impor vedações aos administrados; para tanto, ela depende de lei” (DI PIETRO, 2014, p. 65). Princípio da Impessoalidade: o agente da administração pública não deve obter para si benefícios em função da posição que ocupa e nem beneficiar ou prejudicar outrem. Todos os atos praticados devem ser sempre em nome da administração pública. Por esse princípio, pessoas em condições iguais devem ser tratadas de forma igual. Princípio da Moralidade: o administrador deve agir de maneira idônea, atuando de maneira correta e honesta. De acordo com Di Pietro (2014, p. 77), “nem todos os autores aceitam a existência desse princípio; alguns entendem que o conceito de moral administrativa é vago e impreciso ou que acaba por ser absorvido pelo próprio conceito de legalidade”. Entre tanto, a autora explica que existe distinção entre Moral e Direito e afirma que “Licitude e honestidade seriam os traços 33 distintivos entre o direito e a moral, numa aceitação ampla do brocardo segundo o qual non omne quod licet honestum est (nem tudo o que é legal é honesto).” Princípio da Publicidade: todos os atos da administração devem ter ampla divulgação, exceto nas hipóteses previstas por lei, como está previsto no inciso XXXIII do Art. 5 da Constituição Federal de 1988: Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988). Princípio da Eficiência: o agente da administração pública deve desempenhar suas atribuições com perfeição, buscando o melhor uso dos recursos disponíveis para alcançar os objetivos pretendidos. Hely Lopes Meirelles (2003 apud DIPIETRO, 2014, p. 84) atribui a eficiência como um dos deveres da Administração Pública, definindo-a como “o que se impõe a todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional”. 3.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL Segundo Pinto (2003, p. 2), “no período imperial, o país era unitário, a Administração era centralizada e o repasse de competências se dava por outorga”. Isso quer dizer que o Governo Central decidia, analisando caso a caso, o que seria de competência das províncias e municípios. Ainda segundo a referida autora, “a constituição promulgada em 1934 inovou em relação ao tratamento dado ao município, que passou a ter a sua autonomia, naquilo que respeitasse ao seu peculiar interesse, reconhecida” (idem). Com a redemocratização, a Constituição Federal (BRASIL, 1988) passou a determinar em seu Art. 1º que a República Federativa do Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, com isso passa-se a entender o Munícipio como membro da Federação. Mais a diante, em seu Art. 18, incorpora os Municípios, juntamente com a União, os Estados, e o Distrito Federal como parte integrante da organização 34 político-administrativa da República Federativa do Brasil e determina que eles possuam autonomia mediante os termos contidos na Constituição. Reafirmando tal premissa, o Art. 29 atribui ao próprio Município o direito de elaborar sua Lei Orgânica, desde que respeite os princípios estabelecidos pela constituição e os preceitos ali enumerados, dentre estes o que refere à eleição de seus agentes políticos. Para Netto (1994, p. 1), “no contexto político-institucional pós-Constituição de 1988, o Município tem se destacado como o Ente da Federação que mais avançou no campo do desenvolvimento urbano”, e “são notáveis os esforços das administrações locais no sentindo do reaparelhamento institucional” (NETTO, 1994, p. 2). De acordo com Pinto (2003, p. 4) “ao município foi atribuída a competência para legislar sobre assuntos de interesse local, para suplementar a legislação federal e estadual no que couber e a competência comum”. Entretanto, mesmo com todos os avanços e conquista de autonomia da Administração Municipal, segundo Lopes, Amaral e Caldas (2008), para que município seja capaz de criar e gerenciar políticas públicas de qualidade não basta apenas recursos financeiros, é necessário que haja planejamento a longo prazo, ou seja, é importante que os atores políticos definam o melhor caminho para alcançar os objetivos pretendidos. Dentre estes caminhos está a gestão pública sustentável, onde o município deve buscar a preservação do meio ambiente por meio de instrumentos e ações que adequem a gestão pública as mudanças econômicas, sociais e ambientais. 3.2 GESTÃO PÚBLICA SUSTENTÁVEL (GPS) Segundo Schenini e Nascimento (2002, p. 5), diante do dilema, o de sobreviver sem se autodestruir, “surgiram pontos de vista e proposições com intuito de encontrar melhores formas de trabalhar com qualidade de vida e desenvolvimento econômico ao mesmo tempo”. Ainda segundo os autores, na Conferência de Estocolmo, na Suécia, realizada em 1972, onde já prevalecia uma visão da atual conjuntura, foi redigida a Declaração sobre o Meio Ambiente Humano. O referido documento contém “um alerta para que o desenvolvimento econômico se materialize através da manutenção da própria vida e da vida com qualidade” (SCHENINI; NASCIMENTO, 2002, p. 6). 35 Nesse sentido, Maimon (1992 apud SCHENINI; NASCIMENTO, 2002, p. 6) “afirma que para se atingir o desenvolvimento econômico a prioridade ambiental é fundamental e que desta depende, não somente a qualidade de vida, mas a própria vida humana”. A Gestão Pública Sustentável na ótica de Abreu e Silva (2010) se mostra como uma alternativa a necessidade de reparação do dano visando a conscientização para otimizar o uso dos recursos, e com isso combater o desperdício na busca de uma melhor e mais racional utilização dos recursos naturais. Deve-se manter a sintonia com a concepção de eco eficiência, onde se torne eminente uma nova cultura institucional que inclua critérios socioambientais nos investimentos, tendo em vista que, atualmente, a sociedade demanda por meios ecologicamente equilibrados e socialmente justos. O aumento da produção dos resíduos sólidos, em uma era que pode ser considerada a era dos descartáveis, em que bens de consumo e equipamentos eletrônicos rapidamente se tornam obsoletos, vem sendo um tema bastante discutido. É inegável a necessidade de reflexão sobre os danos que um manejo inadequado desses resíduos pode causar ao meio ambiente e a sociedade, assim como também “é perceptível à necessidade de os órgãos da administração pública assumirem o compromisso e o comprometimento de zelar pela conservação dos recursos naturais e a qualidade do meio ambiente” (ABREU; SILVA, 2010, p. 4). Conforme Castro e Araújo (2004), a preocupação com a gestão de resíduos sólidos se reflete na Resolução nº44/228, de 22 de dezembro de 1989, da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU. Essa resolução defende a elaboração de estratégias para interromper e reverter os efeitos da degradação ambiental nos âmbitos nacional e internacional. Os autores afirmam ainda, que posteriormente essa questão reaparece por ocasião da Agenda 21 – documento que reflete um consenso global e um compromisso político dos países signatários sobre a necessidade de conciliar desenvolvimento e preservação ambiental – durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, a ECO-92. “As diretrizes da Agenda 21 (ECO-92) englobam as três fases evolutivas da problemática dos resíduos sólidos, isto é, a disposição dos resíduos, a reutilização e reciclagem dos resíduos e a sua redução” (CASTRO; ARAÚJO, 2004, p. 566). 36 No Brasil, diante da necessidade do governo de criar ações voltadas para o desenvolvimento sustentável, elaborou-se a Agenda 21 brasileira, que procura estabelecer equilíbrio negociando entre os objetivos e as estratégias de políticas ambientais e de desenvolvimento econômico e social, para consolidá-lo num processo de desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2004a). O documento à cima citado é composto pela: “Agenda 21 brasileira – ações prioritárias”, que estabelece os caminhos preferencias da construção da sustentabilidade; e a “Agenda 21 brasileira – Resultado da Consulta Nacional”, que apresenta as propostas resultantes dos debates estaduais. O referenciado, em uma de suas estratégias, trata da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, e propõe uma gestão de resíduos sólidos urbanos a partir do planejamento integrado de intervenções; do desenvolvimento de critérios para seleção de áreas de disposição de resíduos; e do estímulo à formação de parcerias entre municípios vizinhos que vise, desde a coleta seletiva até a construção de aterro sanitário. (BRASIL, 2004b). Conforme a Constituição Federal do Brasil de 1988, Art. 30, inciso I e VIII, é de competência dos munícipios legislar sobre assuntos de interesse local, promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. Os autores Jacobi e Besen (2011, p. 136) são condizentes com a constituição ao afirmar que pertence à administração pública municipal a responsabilidade de gerenciar os resíduos sólidos, desde a sua coleta até ao seu destino final, e apontam as consequências de um manejo inadequado: O lixo produzido e não coletado é disposto de maneira irregular nas ruas, em rios, córregos e terrenos vazios, e tem efeitos tais como assoreamento de rios e córregos, entupimento de bueiros com consequente aumento de enchentes nas épocasde chuva, além da destruição de áreas verdes, mau cheiro, proliferação de moscas, baratas e ratos, todos com graves consequências diretas ou indiretas para a saúde pública (JACOBI; BESEN, 2011, p. 136). Com base nos enunciados é possível afirmar que os governantes municipais devem assumir posturas de preservação do meio ambiente, e evidenciar a 37 importância da gestão e políticas públicas sustentáveis para uma melhor qualidade de vida. 3.3 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS) Para entender melhor como se iniciou a questão da responsabilização e implantação de políticas que estabelecem regras para coleta e acondicionamento correto de resíduos sólidos no Brasil, é importante fazer um breve apanhado histórico, baseado no que foi descrito por Costa (entre 2010 e 2015), onde ele informa que no ano de 1989, foi apresentado o Projeto de Lei do Senado Federal Nº 354/89, que dispunha sobre o acondicionamento, a coleta, o tratamento, o transporte e a destinação final dos resíduos de serviços de saúde. Essa proposta é entendida como marco inicial para a elaboração da Política de Resíduos Sólidos a nível nacional. O Projeto de Lei tramitou e foi melhorado na Câmara dos Deputados adquirindo o perfil de processo legislativo. Em 2006, ocorreu a aprovação de um substitutivo pela Comissão Especial da Política Nacional dos Resíduos e, em 2007, a proposta do Executivo Federal foi submetida à apreciação do Plenário da Câmara dos Deputados dando origem a PNRS atual. 3.3.1 A regulamentação da PNRS No ano de 2010, a PNRS - Lei 12.305/10 foi regulamentada pelo Decreto Nº 7.404/2010 com todas as diretrizes para sua criação, onde a União tem responsabilidade de elaboração, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente. Um dos objetivos da PNRS é a implantação da gestão integrada de resíduos sólidos, que segundo o Capítulo II, Art. 3º, XI, da Lei 12.305/10 é o conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. Para que sejam colocadas em prática, essas ações precisam da elaboração dos planos de resíduos, que segundo o Art. 14 da Lei 12.305/10, são: I - o Plano Nacional de Resíduos Sólidos; II - os planos estaduais de resíduos sólidos; 38 III - os planos microrregionais de resíduos sólidos e os planos de resíduos sólidos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas; IV - os planos intermunicipais de resíduos sólidos; V - os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos; VI - os planos de gerenciamento de resíduos sólidos. 3.3.2 Diretrizes básicas da PNRS Conforme Costa (entre 2010 e 2015), a PNRS compreende todos os tipos de resíduos sólidos e define diretrizes, princípios e instrumentos referentes ao tema, como ciclo de vida do produto e logística reversa, buscando o arranjo entre produção e consumo consciente. A Seção IV, do Art. 18 da Lei nº 12.305/10 estabelece que a elaboração de um Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, nos termos previstos pela lei, é condição fundamental para que o Distrito Federal e os Munícipios tenham acesso aos recursos da União destinados aos serviços relacionados ao manejo de resíduos sólidos. De acordo com Costa (entre 2010 e 2015), os responsáveis pelos Planos de Gestão de Resíduos Sólidos deverão disponibilizar, por meio eletrônico e anualmente, ao órgão municipal competente e ao órgão licenciador do SISNAMA, informações sobre a prática e a operacionalização do plano, de acordo com a demanda do Sistema Nacional de Informações Sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR). Desta forma, é preciso que os munícipios se adequem a PNRS, para que não fiquem privados de receber os recursos e possam ter condições de fazer manutenção e preservação do meio ambiente. 3.3.3 Quanto à classificação dos resíduos Para efeitos da Lei 12.305/10, em seu Art. 13, os resíduos sólidos têm a seguinte classificação: I - quanto à origem: a) Resíduos Domiciliares: os originários de atividades domésticas em residências urbanas; 39 b) Resíduos De Limpeza Urbana: os originários da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana; c) Resíduos Sólidos Urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”; d) Resíduos De Estabelecimentos Comerciais E Prestadores De Serviços: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”, “h” e “j”; e) Resíduos dos Serviços Públicos de Saneamento Básico: os gerados nessas atividades, excetuados os referidos na alínea “c”; f) Resíduos Industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações industriais; g) Resíduos De Serviços De Saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS; h) Resíduos Da Construção Civil: os gerados nas construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos para obras civis; i) Resíduos Agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades; j) Resíduos De Serviços De Transportes: os originários de portos, aeroportos, terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira; k) Resíduos De Mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou beneficiamento de minérios; II - quanto à periculosidade: a) Resíduos Perigosos: aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica; b) Resíduos Não Perigosos: aqueles não enquadrados na alínea “a”. 3.3.4 Destinação e disposição final adequada No item VII, do Art. 3º, a Lei nº 12.305/2010 estabelece sobre a destinação e disposição final ambientalmente adequada dos resíduos: 40 (...) VII - destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos; VIII – disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientas adversos (...) (BRASIL, 2010). Para não gerar danos ao meio ambiente, o armazenamento e transporte desses resíduos, até a disposição final, devem ser feitos da forma como estabelecido pelas especificações e requisitos das Normas Brasileiras. 3.4 NORMAS PARA ARMAZENAGEM E TRANSPORTE DE RESÍDUOS 3.4.1 Local de Armazenamento De acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, NBR 11174 (1990), o local para armazenamento de resíduos classes II – não inertes (os que não se enquadram nas classificações de resíduos classe I – perigosos ou classe III – inertes, nos termos da NBR 10004) deve ser de maneira que o risco de contaminação ambiental seja minimizado. A norma explica que “o local de armazenamento deve ser aprovado pelo Órgão Estadual de Controle Ambiente, entendendo a legislação específica”, que “os resíduos devem ser armazenados de maneira a não possibilitar aalteração de sua classificação e de que sejam minimizados os riscos de danos ambientais”, e que “o armazenamento de resíduos classes II e III pode ser realizado em contêineres e/ou tambores, em tanques e a granel” (ABNT, 1990, p. 2). 3.4.2 Transporte Os requisitos para o transporte terrestre de resíduos estão definidos conforme as diretrizes da ABNT NBR 13221 (2003). Esta Norma é aplicada aos resíduos classificados conforme Portaria nº 204 do Ministério dos Transportes, e inclui materiais que possam ser reaproveitados, reciclados e/ou reprocessados. O transporte de resíduos deve ser feito por meio de equipamento adequado, 41 obedecendo às regulamentações vigentes. O estado de conservação do equipamento [veículo] de transporte não pode permitir vazamento ou derrame do resíduo. A referida norma especifica também que durante o transporte, o resíduo deve estar protegido de intempéries, e deve estar acondicionando de modo a evitar que se espalhe em via pública, ou via férrea. Adverte-se que “os resíduos não podem ser transportados juntamente com alimentos, medicamentos ou produtos destinados ao uso e/ou consumo humano ou animal, ou com embalagens destinadas a esse fim. Ela determina ainda que “o transporte de resíduos, deve atender à legislação ambiental específica (federal, estadual ou municipal) quando existente, [...] e as embalagens de resíduos deve atender ao disposto na NBR 7500” (ABNT 2003, p. 2). 42 4 AGENDA AMBIENTAL NA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA (A3P) Visando iniciativas para que haja maior participação das instituições públicas no processo de responsabilidade socioambiental e inserir critérios de sustentabilidade, integrar ações sociais e ambientais com interesse público, e diante da necessidade de enfrentar os desafios ambientais de maneira inovadora, e em harmonia com a necessidade atual de produção e consumo para fins econômicos e sociais, o Ministério do Meio Ambiente lançou, em 2009, a Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P. A A3P “é uma ação voluntária que busca a adoção de novos padrões de produção e consumo sustentáveis, dentro do governo” (BRASIL, 2009, p. 28). Atualmente, a A3P tem como principal desafio promover a Responsabilidade Socioambiental como política governamental, de forma a auxiliar a integração do crescimento econômico ao desenvolvimento sustentável, inserindo princípios e práticas de sustentabilidade socioambiental no âmbito da administração pública (BRASIL, 2009). Além de “estimular a reflexão e a mudança de atitude dos servidores para que os mesmos incorporem os critérios de gestão socioambiental em suas atividades rotineiras” (BRASIL, 2009, p. 33). A A3P também possui como objetivos: a) Sensibilizar os gestores públicos para questões socioambientais; b) Promover o uso racional dos recursos naturais e a redução de gastos institucionais; c) Contribuir para revisão dos padrões de produção e consumo e para a adoção de novos referenciais de sustentabilidade no âmbito da administração pública; d) Reduzir o impacto socioambiental negativo direto e indireto causado pela execução das atividades de caráter administrativo e operacional; e) Contribuir para a melhoria da qualidade de vida. 4.1 EIXOS TEMÁTICOS DA A3P A agenda ambiental tem priorizado como um de seus princípios a política dos 5 R’s: Repensar, Reduzir, Reaproveitar, Reciclar e Recusar consumir produtos que gerem impactos socioambientais significativos (BRASIL, 2009). 43 Diante da importância que as instituições públicas possuem de “dar o exemplo”, a A3P foi estruturada em cinco eixos temáticos prioritários, vistos no Quadro 6 a seguir: Quadro 6: Eixos temáticos da Agenda Ambiental na Administração Pública. EIXOS DESCRIÇÃO Uso racional dos recursos naturais e bens públicos Implica em usá-los de forma econômica e racional evitando o seu desperdício. Gestão adequada dos resíduos gerados Passa pela adoção da política dos 5R´s: Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recusar. Qualidade de Vida no Ambiente de Trabalho Visa facilitar e satisfazer as necessidades do trabalhador ao desenvolver suas atividades na organização através de ações para o desenvolvimento pessoal e profissional. Sensibilização e Capacitação A sensibilização busca criar e consolidar a consciência cidadã da responsabilidade socioambiental nos servidores. O processo de capacitação contribui para o desenvolvimento de competências institucionais e individuais. Licitações Sustentáveis A administração pública deve promover a responsabilidade socioambiental das suas compras. Licitações que levem à aquisição de produtos e serviços sustentáveis. Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil (2009). 4.2 COLETA SELETIVA Segundo Brasil (2009), o processo de implantação da A3P foi iniciado com a coleta seletiva e é decorrente, em grande parte, da edição do Decreto nº 5.940 de 25 de outubro de 2006, que estabelece: Art. 1º A separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis são reguladas pelas disposições deste Decreto (BRASIL, 2006). Brasil (2009, p. 41) discorre sobre o padrão de cores, e diz que a coleta seletiva é efetuada por diferentes tipologias de resíduos sólidos, segundo a 44 Resolução CONAMA nº 275 de 25 de abril de 2001, que estabelece o código de cores para cada tipo dos diferentes resíduos, como demonstrado no Quadro 7. Quadro 7: Código de cores para identificação de resíduos. Fonte: Elaborado pela autora, com base em Brasil (2009, p. 41). Conforme Brasil (2009, p. 42), “a coleta seletiva é também uma maneira de sensibilizar as pessoas para a questão do tratamento dispensando aos resíduos sólidos produzidos no dia-a-dia, quer seja nos ambientes públicos quantos nos privados”. É importante ressaltar que as novas formas de gestão do serviço público devem incentivar ações voltadas ao uso consciente dos recursos, tendo em vista que grande parte dos resíduos gerados na administração pública podem ser destinada à reciclagem, porém, para que isso seja possível, é indispensável a implantação de um sistema de coleta seletiva eficiente (BRASIL, 2009). Como uma forma de estratégia para atender as prioridades estabelecidas pelo Decreto 5.940/06, o governo federal instituiu a Coleta Seletiva Solidária com a finalidade de contribuir com a cidadania, à oportunidade de renda e inclusão social dos catadores de matérias recicláveis, buscando com isso construir uma nova cultura institucional para um novo modelo de gestão de resíduos sólidos no âmbito da administração pública. (BRASIL, 2009) COR IDENTIFICAÇÃO Azul Papel/papelão Vermelho Plástico Verde Vidro Amarelo Metal Preto Madeira Laranja Resíduos perigosos Branco Resíduos ambulatórios Roxo Resíduos radioativos Marrom Resíduos orgânicos Cinza Resíduo geral não reciclável ou misturado, ou contaminado não passível de separação. 45 5 O MUNICÍPIO DE SÃO DOMINGOS DO CAPIM O município de São Domingos do Capim, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), possui uma área territorial de aproximadamente 1.677,249 (km²), com a densidade demográfica de 17,79 (hab./km²), a população do município, em 2010, era de 29.846 habitantes, estima-se que no ano de 2015 seria de 30.847 habitantes. De acordo com informações do IBGE (2010), a origem histórica do município de São Domingos do Capim, localizado no nordeste do estado do Pará, na zona fisiográfica Guajarina, data dos tempos coloniais, quando as primeiras incursões portuguesas atingiram os Rios Guajará, Guamá e Capim.
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