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DIREITO PENAL
Da Aplicação da Lei Penal
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
1.1. Introdução
“Art. 1º Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”
Esse princípio foi reconhecido pela primeira vez em 1215, na Magna Carta, por imposição dos barões ingleses ao Rei João Sem-Terra. Seu artigo 39 previa que nenhum homem livre poderia ser submetido à pena não cominada em lei local.
Previsto também na Constituição Federal em seu artigo 5.º, XXXIX, tem por finalidade servir como garantia política ao cidadão contra o arbítrio estatal (freio à pretensão punitiva estatal). 
A doutrina majoritária o considera sinônimo do princípio da reserva legal. Discordamos desse posicionamento, pois estendemos que o princípio da legalidade compreende dois princípios distintos: o da reserva legal e o da anterioridade.
1.1.1. Princípio da reserva legal
Não há crime sem lei que o defina, nem pena sem cominação legal. Somente a lei pode descrever crimes e cominar penas.
Podemos estudar o princípio da reserva legal sob dois aspectos:
a) Formal
Reserva absoluta da lei: somente a lei no sentido estrito da palavra, emanada e aprovada pelo Poder Legislativo, por meio de procedimento adequado, poderá criar tipos e impor penas. A medida provisória, embora tenha força de lei, não é lei, pois não nasce no Poder Legislativo, logo, não pode veicular matéria penal. A Constituição Federal veda a adoção de medida provisória sobre matéria relativa a Direito Penal (artigo 62, § 1.º, inciso I, alínea “b”). Lei delegada também não pode abordar matéria penal, uma vez que o artigo 68, § 1.º, inciso II, da Constituição Federal, determina que não serão objeto de delegação as matérias referentes a direitos individuais. 
Taxatividade: refere-se à necessidade da lei descrever o crime em todos os seus pormenores. A descrição da conduta criminosa deve ser detalhada e específica. A lei não pode conter expressões vagas e de sentido equívoco, uma vez que fórmulas excessivamente genéricas criam insegurança no meio social, pois dão ao juiz larga e perigosa margem de discricionariedade. Essa proibição, entretanto, não alcança os crimes culposos, pois seria impossível ao legislador pormenorizar todas as condutas humanas ensejadoras da composição típica. Por isso, os tipos culposos são denominados tipos abertos e excepcionam a regra da descrição pormenorizada (quase todos os tipos dolosos são fechados).
Vedação ao emprego da analogia: o princípio da reserva legal proíbe o emprego da analogia em matéria de norma penal incriminadora. Essa é a analogia in malam partem. Não é vedado, entretanto, o uso da analogia in bonam partem, pois favorece o direito de liberdade, seja com a exclusão da criminalidade, seja pelo tratamento mais favorável ao réu. Exemplo de analogia in bonam partem: O Código Penal, no artigo 128, inciso II, não pune o aborto praticado por médico se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido do consentimento da gestante ou de seu representante, se incapaz. O médico, por analogia, também não deve ser punido se a gravidez resultar de atentado violento ao pudor. Observação: alguns doutrinadores entendem que esse exemplo se trata de interpretação extensiva.
 b) Material
O tipo penal exerce também uma função seletiva, pois é por meio dele que o legislador seleciona, entre todas as condutas humanas, as mais perniciosas à sociedade. Em um tipo penal não podem constar condutas positivas que não representam qualquer ameaça à sociedade. Suponhamos, por exemplo, fosse criado o seguinte tipo penal: sorrir abertamente, em momentos de felicidade – pena de seis meses a um ano de detenção. Formalmente, estariam preenchidas todas as garantias do princípio da reserva legal. Esse tipo, entretanto, é inconstitucional, pois materialmente, a conduta incriminada não apresenta qualquer ameaça à sociedade. Nesses casos, o Poder Judiciário deve exercer controle de conteúdo do tipo penal, expurgando do ordenamento jurídico leis que descrevam como crimes fatos que não sejam materialmente nocivos à sociedade. O exercício deste controle pressupõe a aplicação de três princípios:
Adequação social: de acordo com este princípio, não podem ser considerados criminosos fatos socialmente adequados, condutas aprovadas pela coletividade (exemplo: jogador de futebol que machuca o adversário). Existem alguns obstáculos à aplicação deste princípio:
costume não revoga lei: ainda que leve a norma penal ao desuso, não pode revogá-la (artigo 2.º, caput, da Lei de Introdução ao Código Civil);
não cabe ao Poder Judiciário avocar para si a função típica do Poder Legislativo.
Insignificância: aplica-se aos chamados “delitos de bagatela”. Assenta-se no brocardo de minimis non curat praetor e na conveniência da política criminal. O tipo penal cuida do bem jurídico e da proteção do cidadão assim, se o delito for incapaz de ofender o bem jurídico, não haverá como enquadrá-lo no tipo. O princípio da insignificância não deve ser confundido com o princípio da adequação social, pois um fato pode ser insignificante, em face de sua escassa lesividade, mas ser inadequado à sociedade. Atenção: Esse princípio não deve ser adotado nos concursos de ingresso à carreira do Ministério Público, pois sendo este fiscal da lei, posiciona-se no sentido de que uma vez praticada a infração penal, mister se faz o cumprimento da lei. Observe-se, ainda, que bagatela refere-se ao pequeno valor da coisa, o que desconfigura, por conseguinte, o fato típico mediante a aplicação do princípio da insignificância. Cumpre observar, no entanto, que se a infração for de menor potencial ofensivo, deve incidir a Lei n. 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Criminais.
Alteridade: não podem ser punidas condutas que não lesionem outras pessoas, ou seja, que não transcendam a figura do infrator. Exemplos: tentativa de suicídio, uso pretérito de droga (a Lei n. 6.368/76, no artigo 16, visa reprimir a detenção da droga, pelo risco social que ela representa).
1.1.2. Princípio da anterioridade
Não há crime sem lei “anterior” que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. A lei que descreve um crime deve ser anterior ao fato incriminado. A irretroatividade da lei é uma conseqüência lógica da anterioridade. A lei penal só poderá alcançar fatos anteriores para beneficiar o réu.
2. IRRETROATIVIDADE
2.1. Art. 2.º, caput, do CP 
“Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.”
Lei que revoga um tipo incriminador extingue o direito de punir (abolitio criminis). Assim, a conseqüência da abolitio criminis é a extinção da punibilidade do agente (artigo 107, inciso III, do Código Penal).
Por beneficiar o agente, a abolitio criminis alcança fatos anteriores, devendo ser aplicada pelo juiz do processo, se antes do seu término, o que leva ao afastamento de quaisquer efeitos da sentença. No caso de já existir condenação transitada em julgado, a abolitio criminis causa os seguintes efeitos: a extinção imediata da pena principal e de sua execução, a libertação imediata do condenado preso e extinção dos efeitos penais da sentença condenatória (exemplo: reincidência, inscrição no rol dos culpados, pagamento das custas etc.). Os efeitos extrapenais, contudo, subsistem, como a perda de cargo público, perda de pátrio poder, perda da habilitação, confisco dos instrumentos do crime etc.
A competência para a aplicação da abolitio criminis após o trânsito em julgado é do juízo da execução (Súmula n. 611 do Supremo Tribunal Federal: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação da lei mais benigna”).
2.2. Art. 2.º, par. ún., do CP
“A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.” 
A Constituição Federal, em seu artigo 5.º, inciso XL, dispõeque a lei penal só retroagirá para beneficiar o acusado.
Assim, em regra, a lei penal não pode retroagir. A lei penal retroagirá, excepcionalmente, quando beneficiar o agente.
2.3. Lei Processual 
Nos termos do artigo 2.º do Código de Processo Penal, a lei processual tem incidência imediata sobre todos os processos em andamento, pouco importando se o crime foi cometido antes ou após sua entrada em vigor ou se a inovação é ou não mais benéfica. 
Norma processual não se confunde com norma penal: esta afeta de algum modo o direito de punir do Estado. 
Saliente-se que existem normas processuais híbridas, ou seja, normas processuais capazes de afetar o direito de punir do Estado.
Cite-se como exemplo o artigo 366 do Código de Processo Penal:
- suspensão do processo: parte processual;
- suspensão da prescrição: parte penal.
Se o fato foi praticado antes da entrada em vigor da lei, há duas soluções:
1.ª solução: A parte processual incide imediatamente, mas a parte penal não. O Supremo Tribunal Federal rechaçou esse entendimento: ou a norma é aplicada inteira ou não retroage por ser prejudicial;
2.ª solução: A parte penal sempre tem preponderância sobre a parte processual. Assim, no caso de norma híbrida, deve prevalecer a norma penal. 
A prisão provisória é norma penal ou processual? Atualmente, prevalece o entendimento de que a prisão provisória, por ser prisão decorrente de processo, é norma processual, tendo incidência imediata aos processos em andamento.
Quanto às normas que disciplinam o regime de cumprimento de pena, proibindo progressões de regime e tornando mais severa ou branda a execução da sanção penal, o Supremo Tribunal Federal já firmou posição no sentido de que são normas de caráter penal, submetidas ao princípio da retroatividade “in mellius”.
2.4. Extra-atividade 
O fenômeno jurídico pelo qual a lei regula todas as situações ocorridas durante sua vigência denomina-se atividade.
Quando a lei regula situações fora de seu período de vigência, ocorre a chamada extra-atividade.
A extra-atividade divide-se em duas modalidades: retroatividade e ultra-atividade. 
Na retroatividade, a lei incide sobre fatos anteriores à sua entrada em vigor, se houver benefício para o agente. Na ultra-atividade, a lei regula situações mesmo após o término de sua vigência. Em ambas as situações a lei deve ter natureza penal.
2.5. Leis de Vigência Temporária 
“Art. 3º A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.”
As leis em estudo são auto-revogáveis e constituem exceções à regra de que uma lei só pode ser revogada por outra lei. Dividem-se em duas espécies: 
leis temporárias: trazem no próprio texto a data de cessação de sua vigência.
leis excepcionais: feitas para regular um período de anormalidade, instabilidade. Nesse caso, o término da vigência deve coincidir com o término do fato para o qual ela foi elaborada. Exemplos: guerra, calamidade etc.
Essas duas espécies são ultra-ativas, ainda que prejudiquem o agente, ou seja, aplicam-se aos fatos cometidos durante o seu período de vigência, mesmo após sua auto-revogação (exemplo: num surto de febre amarela é criado um crime de omissão de notificação de febre amarela; caso alguém cometa o crime e logo em seguida o surto seja controlado, cessando a vigência da lei, o agente responderá pelo crime). Se não fosse assim, a lei perderia sua força coercitiva, uma vez que o agente, sabendo qual seria o término da vigência da lei, poderia, por exemplo, retardar o processo para que não fosse apenado pelo crime. Pode ocorrer, excepcionalmente, a retroatividade da lei posterior mais benéfica, desde que esta faça expressa menção à lei excepcional ou temporária revogada.
2.6. Norma Penal em Branco
É a norma cujo preceito primário está incompleto (preceito primário é a parte do tipo que descreve o crime; o preceito secundário descreve a pena). Há duas espécies:
norma penal em branco em sentido lato ou homogênea: quando a norma é complementada por uma lei. O tipo é complementado por uma mesma fonte formal. Exemplo: o artigo 237 do Código Penal é complementado pelo artigo 183 do Código Civil de 1916;
norma penal em branco em sentido estrito ou heterogênea: quando o complemento é ato infra-legal (portaria, regulamento etc.). Exemplos: o artigo 12 da Lei n. 6.368/76 é complementado por uma portaria do Ministério da Saúde que define as substâncias entorpecentes; o artigo 2.º, inciso VI, da Lei n. 1.521/51 é complementado por uma tabela oficial da Sunab.
Qual a conseqüência da modificação posterior do complemento da norma penal em branco? Por exemplo:
1) o lança-perfume é excluído do rol de substâncias entorpecentes;
2) o padeiro vende produto acima da tabela, e posteriormente o preço da tabela sobe.
Na opinião do Professor Damásio de Jesus, a alteração do complemento só retroage quando modificar a estrutura típica do delito. Assim, excluindo-se o lança-perfume do rol de substâncias entorpecentes, o agente que vendia essa substância não poderá ser punido. Na hipótese do padeiro que vendeu acima da tabela, deverá ser punido pelo crime, pois a alteração posterior do preço é irrelevante.
Para o Professor Fernando Capez, se o complemento tiver características de temporariedade (exemplo da tabela de preço vigente em certo período), sua alteração posterior é irrelevante.
3. TEMPO DO CRIME
	
Quando o crime reputa-se praticado? 
Existem três teorias sobre o momento do crime:
teoria da atividade: considera-se praticado o crime no momento da conduta comissiva ou omissiva;
teoria do resultado: admite-se a prática do crime no momento da produção do resultado lesivo, sendo irrelevante o tempo da conduta;
teoria mista ou da ubiqüidade: considera-se praticado o crime tanto no momento da conduta quanto no momento do resultado.
O Código Penal pátrio adotou a teoria da atividade:
“Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado.”
Assim, a imputabilidade do agente deve ser aferida no momento em que o crime é praticado, pouco importando a data em que o resultado venha a ocorrer.
4. CONFLITO APARENTE DE NORMAS
	
O conflito aparente de normas recebe outras denominações: concurso aparente de normas; concurso aparente de normas coexistentes; conflito aparente de disposições penais; concurso fictício de leis; concorrência imprópria; concurso ideal impróprio e concurso impróprio de normas.
O conflito ocorre quando existir:
unidade de fato (há somente uma infração penal);
pluralidade de normas;
aparente aplicação de todas as normas ao mesmo fato;
 efetiva aplicação de somente uma das normas. 
O conflito existente não é real, mas sim aparente, tendo em vista que apenas uma das normas será aplicável. Esses conflitos aparentes só poderão ser solucionados por meio da observação dos seguintes princípios: especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade.
4.1. Princípio da Especialidade
Lex specialis derogat generali (a lei especial prevalece sobre a geral). Se houver um conflito entre uma norma especial e uma norma geral, aplica-se a norma especial, tendo em vista que esta contém todos os elementos da norma geral mais alguns elementos denominados especializantes. A aplicação deste princípio afasta a possibilidade de bis in idem.
A norma especial não é necessariamente mais grave ou mais ampla que a geral, ela é apenas especial.
Uma característica que distingue o princípio da especialidade dos demais é que para saber qual norma é geral e qual norma é especial não é preciso analisar o fato concreto praticado, sendo suficiente que se comparem abstratamente as descrições contidas no tipo penal.
A norma do artigo 123 do Código Penal, por exemplo, que trata do infanticídio, prevalece sobre a norma do artigo 121, que cuida do homicídio,pois além dos elementos genéricos deste último, possui elementos especializantes: “próprio filho”, “durante o parto ou logo após” e “sob a influência do estado puerperal”.
4.2. Princípio da Subsidiariedade
Lex primaria derogat subsidiariae (a lei primária derroga a subsidiária). Se houver um conflito entre uma norma mais ampla e uma menos ampla, aplica-se a norma mais ampla, tendo em vista que a norma subsidiária é compreendida na norma primária como fase de execução desta, que é mais grave. Existem duas formas de subsidiariedade:
implícita ou tácita: não vem expressa no tipo (exemplo: constrangimento ilegal é subsidiário do seqüestro);
explícita ou expressa: vem expressa no tipo (exemplo: o crime previsto no artigo 132 do Código Penal é subsidiário do disparo de arma de fogo, pois consta do preceito sancionador a expressão “se o fato não constitui crime mais grave”).
4.3. Princípio da Consunção
Lex consumens derogat consuptae. Significa consumir, absorver. Um fato mais grave absorve outros fatos menos graves, os quais constituem meios de preparação ou execução. Aqui, o conflito não se dá propriamente entre normas, mas sim entre fatos, tendo em vista ser um mais grave do que o outro. São espécies de consunção a progressão criminosa, o crime progressivo e o crime complexo.
4.3.1. Progressão criminosa
Compreende três subespécies:
a) progressão criminosa em sentido estrito
Existe uma pluralidade de fatos e de desígnios e uma progressividade na lesão, ou seja, cada fato será progressivamente mais grave que o anterior (exemplo: um sujeito tem o dolo de causar uma lesão leve na vítima; após consumado o crime o agente decide causar lesões graves; logo em seguida o agente decide matar a vítima, consumando o crime. Neste caso, o homicídio absorve as lesões).
b) antefactum não punível (fato anterior não punível)
Caracteriza-se quando um fato antecedente menos grave é considerado meio necessário para a prática de outro fato, mais grave, ficando, por conseguinte, o primeiro absorvido. Exemplo: um sujeito acha uma folha de cheques, falsifica a assinatura e a utiliza para fazer uma compra. Nesse caso, a falsificação é um meio necessário para a prática do crime de estelionato e se exaure com ele, ou seja, a falsificação não poderá ser utilizada para a prática de outros crimes. O estelionato absorve a falsificação. Nesse sentido dispõe a Súmula n. 17, STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Critica-se o entendimento sumular, pois nesse caso o crime mais grave (falso) é absorvido pelo menos grave (estelionato). Entretanto, se o agente falsifica uma carteira de identidade e com esta comete um estelionato, responde pelos dois crimes, pois o documento falsificado poderá ser usado em inúmeras outras fraudes.
c) postfactum não punível (fato posterior não punível)
A prática ulterior à consumação do delito, consistente em nova agressão ao mesmo bem jurídico é considerada mero exaurimento (exemplo: um sujeito furta um objeto e o vende. O fato de o agente ter vendido o bem furtado é irrelevante, tendo em vista que o furto não deixará de ser punido).
4.3.2. Crime progressivo
Existe um elemento subjetivo, unidade de fato e pluralidade de atos. Assim, o crime é composto de vários atos, mas a intenção é única desde o início, configurando apenas um só crime (exemplo: um sujeito tem o dolo de matar a vítima; para isso utiliza-se de um instrumento qualquer que vai causando lesões, desde as leves até as gravíssimas, chegando à consumação do crime. Neste caso, o homicídio absorve as lesões).
4.3.3. Crime complexo
Resulta da fusão de dois ou mais crimes autônomos, os quais a lei passa a considerar como elementares ou circunstâncias do tipo complexo (exemplo: latrocínio, extorsão mediante seqüestro, estupro qualificado pela morte etc.).
4.4. Princípio da Alternatividade
Ocorre quando houver uma só norma contendo várias condutas, ou seja, várias formas de realização de um mesmo crime. A prática de várias condutas ou de apenas uma configura um crime único. Tais normas denominam-se tipos mistos alternativos e descrevem crimes de ação múltipla ou conteúdo variado.
Exemplo: o artigo 12 da Lei n. 6.368/76 descreve 18 formas de praticar o tráfico ilícito de entorpecentes.
Critica-se esse princípio, pois não há propriamente conflito entre normas, mas conflito interno na própria norma. Além de que, o princípio da consunção resolve com vantagem o mesmo conflito. Assim, se o agente importa heroína, transporta maconha e vende ópio, comete três crimes diferentes em concurso material. Não há que se falar em alternatividade, pois não existe nexo causal entre as condutas. Ora, se o agente compra, transporta e vende maconha, há um único crime, não por aplicação da alternatividade, mas por aplicação da consunção.
5. LUGAR DO CRIME
	
“Art. 6º Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”
Há três teorias a respeito do lugar do crime:
teoria da atividade: lugar da ação ou omissão;
teoria do resultado: lugar em que foi produzido o resultado;
teoria da ubiqüidade: tanto o lugar da conduta quanto o do resultado.
O Direito Penal pátrio adotou as três teorias.
Nas infrações de competência dos Juizados Especiais Criminais, a Lei n. 9.099/95, em seu artigo 63, seguiu a teoria da atividade, ou seja, o foro competente é o da ação ou omissão.
Para os chamados “delitos plurilocais” (ação se dá em um lugar e o resultado em outro, dentro de um mesmo país), foi adotada a teoria do resultado (artigo 70 do Código de Processo Penal).
Para os crimes de espaço máximo ou a distância (crimes executados em um país e consumados em outro) foi adotada a teoria da ubiqüidade, ou seja, a competência para o julgamento do fato será de ambos os países.
Observação: no homicídio, quando a morte é produzida em local diverso daquele em que foi realizada a conduta, a jurisprudência entende que o foro competente é o da ação ou omissão, e não o do resultado. Essa posição é majoritária na jurisprudência e tem por fundamento a maior facilidade que as partes têm para produzir provas no local em que ocorreu a conduta. Ela é, contudo, contrária à letra expressa da lei, que dispõe ser competente o foro do local do resultado (artigo 70 do Código de Processo Penal).
6. CONTAGEM DO PRAZO
“Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.”
Os prazos podem ser de Direito Material ou de Direito Processual.
Prazos de Direito Material (artigo 10 do Código Penal): Na sua contagem, computa-se o dia do começo como o primeiro dia, qualquer que seja a fração. Exemplo: se o réu é condenado a dois meses e inicia o cumprimento da pena às 23h50min de 7 de outubro, o prazo terminará às 24 horas do dia 6 de dezembro. O prazo não se prorroga quando termina em domingo ou feriado (o sábado é considerado feriado), portanto, não se estende até o dia útil subseqüente. São prazos considerados fatais.
Prazos de Direito Processual (artigo 798, § 1.º, do Código de Processo Penal): não se computa o dia do começo; o primeiro dia será o dia útil subseqüente à data do início (Súmula n. 310 do Supremo Tribunal Federal: “Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que se seguir”); o prazo prorroga-se até o dia útil seguinte quando terminar em domingo ou feriado. São prazos sujeitos à suspensão e interrupção.
6.1. Tipos de Prazo
Todo e qualquer prazo que acarretar a extinção da punibilidade será prazo de direito penal. São eles:
prazo decadencial: é o período no qual o ofendido ou seu representante legal pode ingressar com a queixa ou oferecer a representação.É prazo de Direito Penal, uma vez que acarreta a extinção da punibilidade.
prazo prescricional: também é um prazo de Direito Penal, visto que acarreta a extinção da punibilidade.
perempção: é uma sanção processual, ou seja, é a perda do direito de demandar do querelante decorrente da sua inércia para dar andamento ao processo (artigo 60 do Código de Processo Penal). Exemplo: o prazo de 30 dias para dar andamento ao processo é considerado um prazo de Direito Penal, pois o seu decurso acarreta a extinção do processo e, conseqüentemente, a extinção da punibilidade.
Teoria Geral do Crime
1. introdução
Segundo a doutrina, o termo “infração” é utilizado genericamente, englobando os “crimes” e as “contravenções”. Crime é sinônimo de delito. O Código Penal usa as expressões “infração”, “crime” e “contravenção”, sendo que aquela abrange estes. O Código de Processo Penal algumas vezes utiliza o termo “infração”, em sentido genérico, abrangendo os crimes (ou delitos) e as contravenções (exemplos: artigos 4.º, 70, 72 etc.) e outras vezes usa o termo “delitos” como sinônimo de “infração” (exemplos: artigos 301 e 302). 
1.1. Crime e Contravenção
Como visto, crime e contravenção são espécies do gênero infração. Não há, contudo, diferença ontológica entre crime (ou delito) e contravenção. O mesmo fato pode ser definido como crime ou contravenção, a critério do legislador. O fato que hoje é definido como contravenção pode no futuro vir a ser definido como crime. O critério mais eficiente para distinguir crime e contravenção é o de analisar a pena: se a pena for de prisão simples ou multa (ou ambas, alternativa ou cumulativamente) trata-se de contravenção; se a pena for de detenção ou reclusão trata-se de crime.
2. Conceito de Crime
O crime pode ser conceituado sob os seguintes aspectos:
material;
formal (ou analítico);
formal e material;
formal, material e sintomático.
Desses quatro, predominam dois: o formal (analítico) e o material.
2.1. Conceito Material de Crime
“É aquele que busca estabelecer a essência do conceito, isto é, o porquê de determinado fato ser considerado criminoso e outro não. Sob esse enfoque, crime pode ser definido como todo fato humano que propositada ou descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais para a existência da coletividade e da paz social”�.
2.2. Conceito Formal (Analítico) de Crime
“É aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime. A finalidade deste enfoque é propiciar a correta e mais justa decisão sobre a infração penal e seu autor, fazendo com que o julgador ou intérprete desenvolva o seu raciocínio em etapas. Sob esse ângulo, crime é todo fato típico e ilícito”�.
Crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade constitui pressuposto da pena.
3. Análise e Caracteres do Crime sob o Aspecto Formal (ANALÍTICO)
O crime é um fato; um fato a que se agregam características. Para fins didáticos o crime é dividido em requisitos ou características. O crime costuma ser estudado em etapas: fato típico, antijuridicidade e culpabilidade.
 Como já foi dito, para a maioria da doutrina crime é fato típico e antijurídico.
 Alguns doutrinadores, entretanto, entendem que crime é fato típico, antijurídico e culpável. 
Como podemos perceber, existem, entre as consagradas, duas teorias que estudam a estrutura do crime sob o aspecto formal, de acordo com a concepção por elas adotada a respeito do conceito de conduta. A conduta é um dos elementos do fato típico. Logo, cumpre observar que, a depender da teoria adotada, diferentes serão os requisitos de existência do crime.
3.1. Das Teorias Clássica e Finalista
Teoria clássica: para esta teoria, crime é fato típico, antijurídico e culpável. Segundo seus adeptos, o dolo e a culpa estão na culpabilidade, razão pela qual, ausente o dolo ou a culpa, ausente está o crime. Assume, portanto, concepção obrigatoriamente tripartida a respeito do conceito formal de crime. 
Teoria finalista: os adeptos desta teoria conceituam crime como fato típico e antijurídico, isto em sua acepção bipartida, coerente com a reforma penal operada no ano de 1984, uma vez que, para o Código Penal, a ausência de culpabilidade acarreta a isenção de pena (subsistindo o crime, em todos os seus elementos, como típico e ilícito). Para os finalistas, o dolo e a culpa estão na conduta do agente, sendo que a conduta integra o fato típico. A doutrina majoritária entende que o Código Penal adotou a teoria finalista da ação (conduta). Com efeito, crime é fato, e a culpabilidade recai sobre o sujeito e não sobre o fato, ou seja, não há fato culpável, mas sim sujeito culpável. É a teoria que adotamos.
Note-se que a grande diferença entre as duas teorias reside no fato de que para a teoria clássica o dolo e a culpa estão na culpabilidade, enquanto os finalistas consideram a conduta como sendo dolosa ou culposa. 
Em face da complexidade do assunto, estudaremos mais profundamente a diferença entre as duas teorias quando estudarmos o primeiro elemento que compõe o fato típico: a conduta. 
3.2. Caracteres do Crime
Conceituamos o crime como sendo o fato típico e antijurídico. Para que haja crime, é preciso uma conduta humana positiva ou negativa (ação ou omissão). Nem todo comportamento do homem, porém, constitui delito. Em face do princípio da reserva legal, somente aqueles comportamentos previstos na lei penal é que podem configurar o delito. Imaginemos a seguinte situação: A esfaqueia B, causando-lhe a morte. O artigo 121, caput, do Código Penal assim define o crime de homicídio simples: matar alguém. Assim, a conduta de A corresponde ao fato que a lei penal descreve como crime. Ocorreu nesse exemplo a subsunção do fato a uma norma penal incriminadora, ou seja, ocorreu o fato típico, primeiro requisito do crime. 
Como vimos, crime é fato típico e antijurídico.
Para que exista crime, além de ser típico o fato deve ser contrário ao direito: deve ser antijurídico (ou ilícito). Um fato pode ser típico e lícito, quando, por exemplo, o agente age em legítima defesa. Se A mata B em legítima defesa comete um fato típico (matar alguém), mas lícito, pois a legítima defesa é uma das causas de exclusão da antijuridicidade. Logo, excluída a ilicitude, não há crime.
Quando alguém pratica um fato típico e ilícito deve ser punido. Mas, para que o infrator seja punido, este deve ser culpável. Assim, para que o agente seja punido é necessário que sobre ele incida um juízo de reprovação social. Esse juízo de reprovação social é pressuposto para aplicação da pena. Destarte, um sujeito pode praticar um crime, mas não ser culpável, como ocorre com o menor de 18 anos. 
3.3. Fato Típico, Antijuridicidade e Culpabilidade
3.3.1. Fato típico
Fato típico é a conduta (positiva ou negativa) que provoca um resultado (em regra) que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal.
O fato típico é composto dos seguintes elementos:
conduta dolosa ou culposa; 
resultado (salvo nos crimes de mera conduta);
nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (salvo nos crimes de mera conduta e formais);
tipicidade (enquadramento do fato material a uma norma penal).
No exemplo citado no item anterior, “A esfaqueou B”, logo: A praticou a conduta esfaquear (conduta); B morreu (resultado); B morreu em conseqüência das lesões produzidas pelas facadas (nexo causal); todo esse acontecimento se enquadra no artigo 121 do Código Penal (tipicidade). 
Adotando-se a teoria da imputação objetiva, ela se insere como o quinto elemento do fato típico, devendo ser analisada logo após o nexo causal.
Atenção: nos crimes formais não se exige a produção do resultado.
3.3.2. Antijuridicidade
É a relação de contrariedade entre o fato e o ordenamento jurídico.
“A conduta descrita em norma penal incriminadora será ilícita ou antijurídica quando não for expressamente declaradalícita. Assim, o conceito de ilicitude de um fato típico é encontrado por exclusão: é antijurídico quando não declarado lícito por causas de exclusão da antijuridicidade (CP, art. 23, ou normas permissivas encontradas em sua parte especial ou em leis especiais)”�. 
3.3.3. Culpabilidade
É a reprovação da ordem jurídica, em face de estar ligado o homem a um fato típico e antijurídico. É reprovação que recai sobre o sujeito. Por isso, não é requisito do crime, mas condição de imposição da pena.
4. PUNIBILIDADE
A punibilidade também não é requisito do crime, mas sua conseqüência jurídica. 
Nada mais é que a possibilidade jurídica de se aplicar a sanção.
Se alguém praticar um fato típico e ilícito, praticou um crime. Se o agente for culpável, deverá ser punido, exceto se existir uma causa de extinção da punibilidade.
As causas de extinção da punibilidade, exceto a anistia e a abolitio criminis, não afetam os requisitos do crime, mas somente excluem a possibilidade de aplicação da sanção.
5. REQUISITOS, ELEMENTARES E CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME
5.1. Requisitos
São requisitos do crime: o fato típico e a antijuridicidade. Faltando um deles, não há figura delituosa. 
O fato típico e a ilicitude são requisitos de todo e qualquer crime. Por isso são chamados requisitos genéricos. As várias formas em que os requisitos genéricos se manifestam são os elementos ou elementares. Estes são chamados requisitos específicos. 
5.2. Circunstâncias
São determinados dados agregados à figura típica fundamental. Têm a função de aumentar ou diminuir as conseqüências jurídicas do crime. Em regra, aumenta ou diminui a pena. 
Pergunta: Qual a diferença entre elementar e circunstância?
Resposta: É preciso estabelecer qual a conseqüência da sua “retirada” do contexto do fato. Se excluído do contexto, subsistir um comportamento lícito, trata-se de elementar. Se excluído do contexto, aumentar ou diminuir a pena, subsistindo o crime, trata-se de circunstância. 
Circunstância vem de circum stare, que significa estar ao redor. A falta de uma circunstância não faz com que desapareça o crime.
Já a ausência de uma elementar pode produzir dois efeitos:
atipicidade absoluta: ocorre quando, excluída a elementar, o sujeito não responde por infração alguma;
atipicidade relativa: ocorre quando, excluída a elementar, não subsiste o crime do qual se cuida, havendo a desclassificação para outro delito.
Pergunta: No crime de infanticídio, o elemento temporal durante ou logo após o parto é elementar ou circunstância?
Resposta: É elementar, pois a sua exclusão gera a desclassificação para o crime de homicídio (gera, neste caso, atipicidade relativa). 
6. CRIME E ILÍCITO CIVIL
Não há diferença ontológica entre ilícito penal e ilícito civil. A diferença é legal e extrínseca, ou seja, somente se atendendo à natureza da sanção é que podemos determinar se nos encontramos diante de um ou outro, pois o crime é sancionado com a pena e o ilícito civil gera sanções civis. O legislador, no momento da produção da norma, a depender da gravidade de um fato, estabelece se ele será ilícito penal ou civil. 
7. CRIME E ILÍCITO ADMINISTRATIVO
Aqui cabe as mesmas considerações feitas no item anterior. Não há diferença ontológica entre ilícito penal e administrativo. A diferença reside na gravidade da violação ao ordenamento jurídico. Essa diferença fica evidente quando analisamos a espécie de sanção: se for pena, trata-se de crime. 
8. O CRIME NA TEORIA GERAL DO DIREITO
O crime é um fato. Dentre os fatos, crime constitui um fato jurídico, pois produz efeitos jurídicos, não sendo, assim, indiferente ao Direito. Como elemento jurídico, crime é uma ação (ou omissão) humana de efeitos jurídicos involuntários. Nesta categoria, corresponde ao ilícito penal.
9. SUJEITO ATIVO DO CRIME
Sujeito ativo é quem pratica a conduta descrita na norma penal incriminadora. 
A lei usa de algumas terminologias para se referir ao sujeito ativo. No direito material usa-se a expressão “agente”. No inquérito policial é chamado “indiciado”. Durante o processo é “réu”, “acusado” ou “denunciado”. Se já sofreu sentença condenatória é “sentenciado”, “preso”, “condenado”, “recluso” ou “detento”. Sob o ponto de vista biopsíquico é “criminoso” ou “delinqüente”.
10. capacidade penal
10.1. Conceito
É o conjunto das condições exigidas para que um sujeito possa figurar numa relação processual, a fim de se submeter à aplicação da lei penal.
Não se confunde com a imputabilidade por se referir a momento anterior ao crime, enquanto a imputabilidade constitui momento contemporâneo ao delito. Assim, no caso de doença mental superveniente, por exemplo, o sujeito no momento do crime era imputável, mas perde a capacidade no momento em que está sendo processado (artigo 152 do Código de Processo Penal).
10.2. Da Capacidade Penal das Pessoas Jurídicas
Há algumas teorias que tentam explicar esse assunto. Duas prevalecem: 
Teoria da ficção: a pessoa jurídica não tem consciência e vontade própria. É uma ficção legal. Assim, não tem capacidade penal e não pode cometer crime, sendo responsáveis os seus dirigentes.
Teoria da realidade (teoria organicista): vê na pessoa jurídica um ser real, um verdadeiro organismo, tendo vontade própria. Assim, pode ela delinqüir.
Com a Constituição Federal de 1988, inovou-se no sentido de reconhecer a responsabilidade penal da pessoa jurídica. (artigos 173, § 5.º e 225, § 3.º). A lei ambiental também assim o faz (Lei n. 9.605/98).
10.3. Da Capacidade Especial do Sujeito Ativo
Há crimes que podem ser cometidos por qualquer pessoa. Outros, porém, exigem determinada posição jurídica ou de fato do agente para sua configuração (exemplo: funcionário público). Estes últimos recebem denominação de crimes próprios.
O fenômeno da capacidade especial do sujeito ativo se reveste de relevante interesse na questão do concurso de agentes. Assim, embora sejam próprios os crimes de infanticídio e peculato, respondem por eles não somente a mãe ou o funcionário público, mas também o estranho que dele por ventura participe (dispõe o artigo 30 do Código Penal que não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime). 
Não se confundem os crimes próprios com os crimes de mão-própria, pois os primeiros podem ser cometidos por pessoa intermediária a mando do autor, enquanto os segundos não podem ser cometidos por intermédio de outrem. Exemplo de crime de mão-própria: crime de falso testemunho. Esse é o entendimento do Professor Damásio de Jesus. Há, todavia, entendimento minoritário divergente.
10.4. Da Capacidade Penal em Face das Normas Permissivas
Em determinados casos de exclusão da pena ou do crime, a lei penal exige capacidade especial do agente. Exemplo: só há aborto legal se praticado por médico (artigo 128 do Código Penal).
11. SUJEITO PASSIVO DO CRIME
11.1. Conceito
Para o Professor Damásio de Jesus, sujeito passivo é o titular do interesse, cuja ofensa constitui a essência do crime. Por isso, é preciso indagar qual o interesse tutelado pela lei penal incriminadora.
11.2. Espécies
Sujeito passivo geral, constante ou formal: é o titular do mandamento proibitivo não observado pelo sujeito ativo – é o Estado.
Sujeito passivo eventual, particular, acidental ou material: é aquele que sofre a lesão do bem jurídico, do qual é titular – pode ser o homem, o Estado, a pessoa jurídica e a coletividade.
Crimes vagos: são os crimes em que os sujeitos passivos são coletividades destituídas de personalidade jurídica, como a família, o público ou a sociedade.
11.3. Questão do Incapaz, da Pessoa Jurídica, do Morto, do Feto, dos Animais e Coisas Inanimadas
Todo homem vivo pode ser sujeito passivo material de crime.
Dessa forma, é inegável que o incapaz, titular de direitos, possa ser sujeito passivo de delito, tais como no infanticídio (recém-nascido), homicídio (demente),abandono intelectual (menor em idade escolar) etc. 
Quanto à pessoa jurídica, esta pode ser sujeito passivo material do delito, desde que a descrição típica não pressuponha uma pessoa física. Assim, pode ser vítima de furto, dano etc.
Dúvida surge quanto à possibilidade da pessoa jurídica ser sujeito passivo dos crimes contra a honra. Damásio de Jesus entende que a pessoa jurídica não pode ser vítima de calúnia quanto aos crimes comuns, podendo ser sujeito passivo da calúnia quando lhe imputarem a pratica de um crime ambiental. Ainda, como não possui honra subjetiva, não pode ser vítima de injúria, podendo ser sujeito passivo da difamação por possuir honra objetiva (reputação, boa fama etc.). Essa questão será abordada quando do estudo dos crimes contra a honra.
O morto não pode ser sujeito passivo de delito, pois não é titular de direito, podendo ser objeto material do delito.
O artigo 138, § 2.º, do Código Penal dispõe ser punível a calúnia contra os mortos, pois a ofensa à memória dos mortos reflete nas pessoas de seus parentes, que são os sujeitos passivos.
O homem pode ser sujeito passivo mesmo antes de nascer, pois o feto tem direito à vida (artigos 124, 125 e 126, do Código Penal).
Os animais e coisas inanimadas não podem ser sujeitos passivos de delito, podendo ser objetos materiais (exemplo: crimes contra a fauna, Lei n. 9.605/98). Neste caso, os sujeitos passivos serão seus proprietários, e em certos casos a coletividade.
Pergunta: A pessoa pode ser ao mesmo tempo sujeito ativo e passivo do delito, em face de sua própria conduta?
Resposta: Não. O homem não pode cometer crime contra si mesmo. 
A contravenção do artigo 62 da Lei das Contravenções Penais (embriaguez) dispõe: “Apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia”. Pergunta: esse dispositivo é exceção à regra? Resposta: Não, essa regra não tem exceção. No caso da contravenção de embriaguez, o sujeito passivo é o Estado, pois ela se encontra no capítulo das infrações “relativas à Polícia de Costumes”.
11.4. Sujeito Passivo e Prejudicado pelo Crime
Geralmente, confundem-se na mesma pessoa, mas não necessariamente, como no crime de moeda falsa em que o sujeito passivo é o Estado e o prejudicado é a pessoa a quem se entregou a moeda.
“Prejudicado é, pois, qualquer pessoa a quem o crime haja causado um prejuízo, patrimonial ou não, tendo por conseqüência direito ao ressarcimento, enquanto sujeito passivo é o titular do interesse jurídico violado, que também tem esse direito (salvo exceções).”� 
12. OBJETO DO CRIME
É aquilo contra que se dirige a conduta humana.
Pode ser:
Objeto jurídico: é o bem ou interesse tutelado pela norma penal.
Objeto material: é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do sujeito ativo.
Às vezes, o sujeito passivo coincide com o objeto material, como ocorre no homicídio.
A ausência ou a impropriedade absoluta do objeto material faz surgir a figura do crime impossível ou quase-crime (artigo 17 do Código Penal).
Pode haver crime sem objeto material, como no caso do falso testemunho.
13. TÍTULO DO DELITO (nomen juris)
É a denominação jurídica do crime.
Pode ser:
Genérico: quando a incriminação se refere a um gênero de fatos, o qual recebe título particular. Exemplo: crime contra a vida é o título genérico do fato de “matar alguém”.
Específico: é o nomen juris advindo do título genérico, ou seja, “homicídio” é o título específico do título genérico “crime contra vida”.
O artigo 30, in fine, do Código Penal, que trata da comunicabilidade das elementares de natureza subjetiva, só se aplica ao título do crime (figura típica fundamental), não incidindo sobre os tipos privilegiados e qualificados.
14. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa (exemplo: homicídio, furto, estelionato etc.);
Crime próprio: exige qualidade pessoal para o sujeito ativo (exemplo: infanticídio);
Crime de mão-própria: só pode ser cometido pelo sujeito em pessoa (exemplo: crime de falso testemunho, incesto e prevaricação);
Crime de dano: só se consuma com a efetiva lesão do bem jurídico (exemplo: homicídio);
Crime de perigo: se consuma com a mera possibilidade de dano (exemplo: perigo de contágio venéreo, rixa, incêndio etc.); o perigo pode ser presumido ou concreto, individual ou comum;
Crime material: o tipo menciona conduta e resultado naturalístico, cuja ocorrência é necessária para sua consumação (exemplo: homicídio, infanticídio, furto etc.);
Crime formal: o tipo menciona conduta e resultado naturalístico, cuja ocorrência não é necessária para sua consumação (exemplo: calúnia, rapto etc.);
Crime de mera conduta: o tipo só menciona a conduta (exemplo: violação de domicílio, desobediência etc.);
Crime instantâneo: se consuma num dado momento (exemplo: homicídio);
Crime permanente: a consumação, por vontade do agente, se prolonga no tempo (exemplo: sequestro);
Crime instantâneo de efeitos permanentes: as consequências se prolongam no tempo, independentemente da vontade do agente (exemplo: homicídio);
Crime a prazo: aquele em que a consumação depende de um determinado lapso de tempo (exemplo: artigo 148, § 1.º, inciso III);
Crime comissivo: praticado mediante ação (exemplo: lesão corporal);
Crime omissivo: praticado mediante omissão (exemplo: omissão de socorro, artigo 135);
Crime omissivo próprio ou puro: a omissão é descrita no próprio tipo legal (exemplo: omissão de socorro); essa modalidade não admite a tentativa;
Crime omissivo impróprio: também denominado comissivo por omissão, é aquele no qual o tipo descreve uma ação, mas a inércia do agente que tem o dever jurídico de evitar o resultado, permite a ocorrência do resultado naturalístico (exemplo: policial que assiste inerte o afogamento de uma criança); essa modalidade admite a tentativa;
Crime unissubjetivo: praticado por uma só pessoa;
Crime plurissubjetivo: o tipo exige a presença de dois ou mais agentes;
Crime simples: é o que se enquadra num único tipo legal (exemplo: homicídio);
Crime complexo: é a fusão de dois ou mais crimes (exemplo: latrocínio, extorsão mediante seqüestro);
Crime monoofensivo: atinge apenas um bem jurídico (exemplo: homicídio);
Crime pluriofensivo: atinge mais de um bem jurídico (exemplo: latrocínio, que lesa a vida e o patrimônio);
Crime de forma livre: admite vários meios de execução (exemplo: homicídio, lesão corporal, furto etc.);
Crime de forma vinculada: o tipo especifica os meios pelos quais o crime pode ser praticado (exemplo: curandeirismo, artigo 284);
Crime principal: tem existência autônoma (exemplo: estupro);
Crime acessório: pressupõe a existência de outro crime (exemplo: receptação, favorecimento pessoal etc.);
Crime unissubsistente: a conduta exterioriza-se com um só ato executório, consumando-se: (exemplo: crimes cometidos verbalmente, tais como injúria, desacato, etc);
Crime plurissubsistente: a conduta exterioriza-se em dois ou mais atos executórios (exemplo: crimes cometidos por escrito, como a injúria e outros, como o homicídio, lesão corporal etc.);
Crime independente: não está ligado a nenhum outro;
Crime conexo: está interligado com outra infração. A conexão pode ser: a) teleológica: quando praticado para assegurar a execução de outro crime; b) conseqüencial: praticado para assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime; c) ocasional: praticado em virtude da oportunidade surgida pela prática de outro crime;
Crime a distância: conduta e resultado ocorrem em países diferentes;
Crime plurilocal: conduta e resultado ocorrem em comarcas diferentes (vide artigo 70 do Código de Processo Penal);
Crime em trânsito: quando parte da conduta ocorre num país, sem lesar ou pôr em perigo bem jurídico de seus cidadãos (exemplo: carta de um argentino, na qual ofende um japonês, passa pelo correio brasileiro, antes de ser enviadaao Japão);
Fato Típico
1. INTRODUÇÃO
	
Já estudamos o conceito formal de crime: é o fato típico e antijurídico.
O fato típico é o primeiro requisito do crime. Consiste no fato que se amolda no conjunto de elementos descritivos contidos na lei penal. 
2. ELEMENTOS DO FATO TÍPICO
O fato típico é composto dos seguintes elementos:
conduta dolosa ou culposa; 
resultado (nos crimes materiais);
nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (nos crimes materiais);
tipicidade (enquadramento do fato material a uma norma penal).
2.1. Conduta
Conduta é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, voltada a uma finalidade.
O pensamento não existe para o Direito Penal, ou seja, uma pessoa não pode ser punida somente por pensar em praticar um crime (cogitationis poenam nemo patitur). Se alguém, por exemplo, pensa em matar outrem, somente será punido se exteriorizar seu pensamento praticando a ação ou a omissão delitiva.
A ação é um comportamento positivo, é um fazer. A omissão é uma abstenção de movimento, é um não fazer. A conduta é, portanto, a exteriorização de um pensamento por meio de uma ação ou uma omissão.
A conduta não se confunde com o ato, sendo este momento daquela. Podem existir condutas ou fatos que se compõem de um único ato, havendo uma coincidência entre ato e fato (unissubsistentes). Em contrapartida, existem fatos ou condutas compostas de diversos atos (plurissubsistentes).
Somente a pessoa física pode praticar fato típico, visto que este pressupõe vontade e somente os seres humanos possuem vontade. Quanto à pessoa jurídica, embora haja divergência, grande parte da doutrina sustenta que não poderá praticar o fato típico por não possuir vontade. Hoje, no entanto, em relação aos crimes ambientais (Lei n. 9.605/98, artigos 3.º e 21 a 24), a pessoa jurídica pode praticar fato típico, sendo possível ser responsabilizada criminalmente.
Não haverá conduta sem vontade, ou seja:
o caso fortuito ou força maior eliminam a vontade, inexistindo a conduta e, por conseqüência, o fato típico; 
os reflexos (causados por excitação de um nervo sensitivo) não caracterizam a conduta, pois não há vontade; 
a conduta praticada mediante coação física (vis absoluta) elimina a vontade, no entanto, a conduta praticada mediante coação moral (vis compulsiva), ainda que seja irresistível, não exclui a vontade, apesar de neste caso não haver culpabilidade.
também não há conduta nos casos de movimentos praticados durante o sonho ou sonambulismo, sob sugestão ou hipnose e em estado de inconsciência.
2.1.1. Teorias da conduta
Teoria naturalista ou causal
Essa teoria foi exposta no tratado de Franz Von Liszt, sob influência da filosofia positivista dominante em fins do século XIX. Suas idéias pretendiam incorporar as leis da natureza no Direito Penal (daí o nome naturalista). Para essa teoria, a ação é considerada um puro fator de causalidade (daí o nome causal), uma simples produção do resultado, mediante o emprego de forças físicas. A conduta é simples exteriorização de movimento ou abstenção de comportamento, desprovida de qualquer finalidade, sendo desnecessário para caracterização do crime saber se houve dolo ou culpa, sendo necessário somente indagar quem foi o causador material. Nessa linha de idéias, citamos um exemplo: um sujeito conduz seu veículo com prudência na via pública e, sem que possa prever, um suicida se joga na frente do veículo e, atingido por este, vem a falecer. Para a teoria naturalista, o motorista, que não quis matar nem agiu com culpa, cometeu homicídio, ficando a análise do dolo e da culpa para um momento posterior, quando da aferição da culpabilidade. Hans Welzel criticou essa teoria, pois para ele não se pode considerar apenas o aspecto material do delito, devendo-se também atentar-se para a natureza do comportamento reprovável. Para Welzel, a teoria naturalista só se preocupa com o aspecto causal, o que gera dificuldades para explicar o delito omissivo (uma vez que o delito de omissão não pode originar nenhuma causalidade). A teoria causal também não conseguia explicar a doutrina da tentativa. 
Teoria finalista
O conceito finalista da ação, que começou a ser elaborado no final da década de 20 por Hans Welzel, constitui uma reação à teoria causal. 
Contestando a teoria causal, Welzel e outros doutrinadores do seu tempo questionavam: por que o homicídio culposo tem pena inferior à do homicídio doloso? Acreditava-se não ser possível que tal diferenciação dependesse do resultado, que é sempre o mesmo: a morte. Concluíram, então, que a diferença de tratamento legal não depende da causa do resultado, mas sim da forma como foi praticada a ação. 
Nessa linha de pensamento, podemos imaginar a seguinte hipótese: um homem, vestido de bata branca, toca fisicamente em uma moça despida. Observando esse acontecimento objetivamente, é possível saber se o homem praticou uma conduta desonesta? Não, pois, conforme sua vontade, pode ter praticado um exame médico ou uma ação desonesta punível. Nesse caso, observando somente o resultado, é impossível saber se houve crime ou mero exame clínico, sendo imprescindível descobrir qual era a vontade do agente. 
Esta foi a conclusão a que chegaram: a finalidade é elemento inseparável da conduta, ou seja, não existe conduta típica sem vontade e finalidade. Para a teoria finalista, a vontade gera a conduta. 
Nosso ordenamento legal filiou-se à teoria finalista. O Código Penal, em seu artigo 18, reconhece que o crime deve ser doloso ou culposo. No caso, portanto, de o sujeito vir a matar alguém, sem dolo ou culpa, como no exemplo do motorista, citado anteriormente, embora tenha se produzido o resultado morte, não se pode falar em crime.
Observe-se que o finalismo retirou o dolo e a culpa da culpabilidade, trazendo-os para o fato típico (conduta dolosa ou culposa). Assim, sem dolo e culpa não há fato típico. 
Teoria social
Para essa teoria, defendida por Hans-Heinrich Jescheck, somente haverá crime se a conduta do agente for socialmente inadequada. Para ele, o Direito Penal só deve cuidar daquelas condutas voluntárias que produzam resultados típicos de relevância social. Se, por exemplo, um jogador de futebol, durante o jogo, desfere um pontapé no adversário para evitar que este marque um gol, não comete crime, pois praticou um fato típico, mas socialmente compreensível.
Critica-se essa teoria sob o argumento de que o costume não pode revogar a lei. Ao julgador não é dado legislar, mas somente aplicar as leis postas. O critério para eleger determinada conduta crime ou irrelevante penal, de acordo com a nocividade social do comportamento, deve ficar a cargo do legislador, detentor de mandato popular, e não do juiz, de acordo com as regras jurídicas vigentes.
Outro defeito dessa teoria reside na extensão do conceito de relevância social.
Como se nota, a teoria social da ação pretendeu ir além da teoria finalista, mas, na verdade, ao privilegiar o resultado (“socialmente relevante”), perdeu em essência e caracterizou um retorno à teoria naturalista ou causal, hoje tão criticada. Preferível, portanto, a orientação finalista, que, aliás, foi a adotada pelo Código Penal. 
2.1.2. Conduta comissiva
Ação é o comportamento positivo, movimentação corpórea, facere.
Segundo o Professor Damásio de Jesus, a ação é a que se manifesta por intermédio de um movimento corpóreo tendente a uma finalidade.
A maioria dos núcleos dos tipos se consubstancia em modos positivos de agir, como matar, apropriar-se, destruir etc.
2.1.3. Conduta omissiva
Existem duas teorias a respeito da omissão:
Teoria naturalística da omissão: a omissão é um fazer, é perceptível no mundo natural como algo que muda o estado das coisas, ou seja, quem se omite dá causa ao resultado.
Teoria normativa da omissão: quem se omite não faz nada e o nada não causa coisa alguma, não tem relevância causal. Excepcionalmente, porém, embora não tendo produzido o resultado, o omitenteresponderá por ele quando a lei lhe impuser o dever jurídico de agir. Por isso é chamada teoria normativa, pois, para que a omissão tenha relevância causal (por presunção legal), há necessidade de uma norma impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de agir.
2.1.4. Espécies de crimes omissivos
Existem duas espécies de crimes omissivos:
Crime omissivo próprio ou puro: a conduta negativa é descrita no preceito primário da lei penal. Nesse caso, o omitente responderá por sua própria conduta e não pelo resultado (exemplo: artigo 135 do Código Penal – omissão de socorro). Nesses crimes, a simples omissão é suficiente para a consumação, independente de qualquer resultado. 
Crime omissivo impróprio, espúrio, impuro, promíscuo ou comissivo por omissão: o agente tem o dever jurídico de agir para evitar o resultado e, podendo, não age. Assim, o agente não faz o que deveria ter feito. Há, portanto, a norma dizendo o que ele deveria fazer, passando a omissão a ter relevância causal. Como conseqüência, o omitente não responde só pela omissão como simples conduta, mas pelo resultado produzido, salvo se esse resultado não lhe puder ser atribuído por dolo ou culpa. 
Saliente-se que os crimes omissivos impróprios admitem a tentativa, ao passo que os omissivos próprios não. Outra distinção importante: os omissivos impróprios podem ser dolosos ou culposos; os omissivos próprios são sempre dolosos.
Nos termos do artigo 13, § 2.º, do Código Penal, são três as hipóteses de dever jurídico de agir:
Dever legal: quando a lei impõe a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (exemplo: responderá por homicídio o policial militar que assistir a um jovem sendo morto e, podendo evitar o resultado, nada faz).
Dever do garantidor: hipótese do agente que, por lei, não tem nenhuma obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, no entanto assume essa obrigação por meio de um contrato (exemplo: uma babá contratada para tomar conta de uma criança responderá pelo resultado caso aconteça algo com ela). O garantidor também pode advir da liberalidade, ou seja, alguém que assume livremente a obrigação, independentemente de contrato.
Ingerência dentro da norma: agente que, com seu comportamento anterior, criou o risco para a produção do resultado (exemplo: se alguém empurra um cardíaco na piscina, por brincadeira, deve socorrê-lo e impedir o resultado).
2.2. Resultado
Para grande parte da doutrina, não há diferença entre resultado e evento, entretanto, há quem entenda que evento é qualquer acontecimento (exemplo: um raio provoca um incêndio) e resultado é a conseqüência de uma conduta humana juridicamente relevante.
Há duas espécies de resultado: resultado jurídico e resultado naturalístico.
2.2.1. Resultado jurídico
É a conseqüência jurídica do crime, ou seja, é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido. 
Sob o aspecto jurídico, não há crime sem resultado, pois todo crime fere ou expõe a perigo um bem jurídico. Não aceitamos essa teoria.
2.2.2. Resultado naturalístico
É a modificação que a conduta provoca no mundo natural, no mundo concreto (exemplo: antes do furto, a vítima tinha posse do seu patrimônio). Nem todos os crimes possuem resultado naturalístico. De acordo com a existência ou não do resultado naturalístico, é possível classificar os crimes em três espécies:
Crimes materiais: são crimes que somente se consumam com a produção do resultado naturalístico, ou seja, o resultado naturalístico integra o próprio tipo penal (exemplos: homicídio, furto, seqüestro etc.).
Crimes formais: são crimes em que a ocorrência do resultado naturalístico, apesar de admitida, não é relevante, pois se consumam antes e independentemente de sua produção. O crime formal aloja um tipo incongruente, pois, conforme dito, admite resultado naturalístico, mas não o exige para sua consumação (daí a incongruência). Nesses crimes, a produção do resultado naturalístico é considerada mero exaurimento, o que influenciará a fixação da pena (artigo 59). (exemplo de crime formal: extorsão mediante seqüestro: nesse crime, o resultado naturalístico visado é a obtenção da vantagem econômica e conseqüente diminuição do patrimônio da vítima; no entanto, o crime se consuma no momento em que a vítima é seqüestrada, independentemente do recebimento ou não do resgate).
Crimes de mera conduta: o tipo não prevê a ocorrência de resultado naturalístico (exemplos: crime de desobediência, violação de domicílio).
2.3. Nexo Causal
É o elo que se estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico. O nexo causal é uma relação ditada pelas leis da física, da causa e efeito. Dizer que existe nexo causal é dizer que, por meio das leis da física, a conduta provocou o resultado.
Somente há nexo causal nos crimes materiais e comissivos (praticados por meio de ação).
2.3.1. Teoria da equivalência dos antecedentes
O Código Penal adotou a teoria da equivalência dos antecedentes conhecida como teoria da conditio sine qua non. Para essa teoria, tudo que tenha contribuído, de qualquer modo, para o resultado considera-se sua causa (artigo 13, caput, do Código Penal). A lei atribui relevância causal a todos os antecedentes do resultado, considerando que nenhum elemento de que depende a sua produção pode ser excluído da linha de desdobramento causal. Tudo que retirado da cadeia de causa e efeito provocar a exclusão do resultado considera-se sua causa. 
Para se estabelecer se a conduta foi causa do resultado, basta aplicar o critério da eliminação hipotética que consiste em fingir que uma conduta não foi praticada. Se a eliminação da conduta fizer com que desapareça o resultado é porque a conduta causou o resultado. Se “apagando” a conduta e o resultado permanecer, significa que aquela não foi causa deste.
Pergunta-se: Diante da teoria da equivalência dos antecedentes, não poderia haver uma responsabilização muito ampla, na medida em que são alcançados todos os fatos anteriores ao crime? 
Os pais não responderiam pelos crimes praticados pelo filho? Afinal, sem os pais, não existiria o filho nem o delito por ele praticado.
Nessa linha de raciocínio, não se chegaria a um regressus ad infinitum?
Resposta: Não. A teoria da equivalência dos antecedentes situa-se no plano exclusivamente físico, resultante da aplicação da lei natural de causa e efeito. Assim, é claro que o pai e a mãe, do ponto de vista naturalístico, deram causa ao crime cometido pelo filho, pois se este não existisse, não teria realizado o delito. Não podem, entretanto, ser responsabilizados por essa conduta, ante a total ausência de voluntariedade, ou seja, se não agiram com dolo ou com culpa não existiu ação ou omissão típica. Conclui-se, então, que para o Direito Penal é insuficiente o nexo meramente causal-natural, sendo imprescindível para a existência do fato típico a presença do dolo ou da culpa (necessários para a tipicidade). 
Como se vê, a teoria da conditio sine qua non não resolve a questão do nexo de causalidade, surgindo a teoria da imputação objetiva para solucionar o problema do regresso causal.
2.3.2. Teoria da imputação objetiva
Essa teoria, conforme já foi dito, surgiu para limitar o problema de nexo de causalidade entre a conduta e o resultado naturalístico.
Para a teoria da imputação objetiva, um comportamento socialmente adequado, tolerado, permitido pelo ordenamento jurídico, jamais poderá ser causador de um resultado proibido, típico. Se, por exemplo, em uma luta de boxe (comportamento permitido) houver morte ou lesões graves, o fato será atípico. Não é necessário, nesse caso, questionar se houve dolo ou culpa, pois no plano objetivo a conduta é permitida. 
Para a existência do nexo causal, na teoria da imputação objetiva, é necessário que a conduta do agente crie uma condição de risco relevante e juridicamente proibido. Não basta a pessoa contribuir casualmente para o resultado, deverá haver um risco excepcional, anormal.
Citamos o exemplo dado pelo Professor Damásio de Jesus: suponha-seque um filho, para ficar com a herança do pai, induza-o a visitar, num dia de forte chuva, um monte que, por razões minerárias, sofre muitas descargas elétricas durante as tempestades. Imagine-se que, desavisado, o pai visita o monte e é atingido por um raio. Nesse exemplo, para a teoria da conditio sine qua non, o filho responderia pelo resultado, pois eliminando o induzimento, a vítima não iria ao monte e não encontraria a morte. Essa solução, entretanto, não é correta, pois o filho apenas criou para o pai um risco permitido, um risco normal para a sociedade. Convidar uma pessoa para um passeio não é proibido, mesmo que possa gerar algum risco para o convidado (risco normal, como ir a um parque de diversões, por exemplo). O filho, como se vê, não praticou ato executório de homicídio, pois apenas fez um convite, não tinha, no caso, domínio sobre o fato. 
Essa doutrina vem sendo muito discutida, mas no Brasil ainda não é aplicada. 
2.3.3. Concausa
É uma causa que concorre paralelamente à conduta, contribuindo para a produção do resultado. A reforma penal de 1984 abandonou totalmente o conceito de concausa. Como foi adotada a teoria da conditio sine qua non, não há por que fazer diferenciação entre causa e concausa, tendo em vista que tudo o que acontecer para a produção do resultado será considerado causa.
2.3.4. Espécies de causas
São duas as espécies de causas:
Causas dependentes: são aquelas que se encontram dentro da linha normal de desdobramento causal da conduta. É causa decorrente logicamente da conduta, um encadeamento causal previsível e esperado. As causas dependentes jamais rompem o nexo causal (exemplo: disparo de arma de fogo, ferimento, rompimento de artérias, hemorragia interna e morte).
Causas independentes: são aquelas que se encontram fora da linha normal de desdobramento causal da conduta. Seu surgimento não é uma decorrência esperada, lógica, natural do fato anterior, mas, ao contrário, um fenômeno totalmente inusitado, imprevisível. A causa independente se destaca da conduta, ou seja, não se sabia que, ao praticar a conduta, haveria aquela causa. Exemplo: não é uma conseqüência normal de um simples susto a morte por parada cardíaca.
As causas independentes podem ser absolutamente ou relativamente independentes.
2.3.5. Causas absolutamente independentes
Além de produzir sozinha o resultado, a causa absolutamente independente tem uma origem completamente diversa da conduta, ou seja, ocorreria ainda que a conduta nunca tivesse sido praticada (exemplo: o agente planeja a morte da vítima; quando esta está passando, antes de o agente atirar, a vítima sofre um ataque cardíaco e vem a falecer; independentemente da conduta, o resultado aconteceria). Podem ser:
Preexistentes: atuam antes da conduta. Exemplo: o genro, com intenção de envenenar a sogra, ministra arsênico no jantar da vítima. Ao terminar o jantar, a vítima morre. Constata-se, então, que a causa da morte da vítima foi o envenenamento produzido pela nora no café da manhã. Observe-se que a morte não foi causada pela conduta do genro, pois o arsênico leva 16 horas para fazer efeito. Não há, portanto, nexo causal. Nesse caso, o genro responderá por tentativa de homicídio. 
Concomitantes: atuam ao mesmo tempo da conduta. Exemplo: durante o jantar, 4 assaltantes invadem a residência de uma pessoa que está sendo envenenada. Esta pessoa reage ao assalto e é assassinada. Não há nexo causal.
Supervenientes: atuam após a conduta. Exemplo: após ser envenenada, mas ainda viva, desprende-se o lustre sobre a cabeça da vítima, matando-a. Não há nexo causal.
Observe-se que, nos exemplos citados, as causas rompem totalmente o nexo causal, razão pela qual o agente só responderá pelos atos até então praticados. 
2.3.6. Causas relativamente independentes
A causa relativamente independente produz por si só o resultado, contudo origina-se da conduta, ou seja, a causa apareceu por conta da conduta e, inesperadamente, produziu o resultado. Podem ser:
Preexistentes: atuam antes da conduta. Exemplo: o agente corta o braço da vítima, que é hemofílica, e esta morre em decorrência da hemorragia. A hemofilia é causa preexistente ao resultado. Existe nexo causal, mas o autor deverá responder por lesão corporal, diante da ausência de dolo de matar (se o agente não sabia que a vítima era hemofílica). 
Concomitantes: atuam ao mesmo tempo da conduta. Exemplo: o ladrão anuncia o assalto apontando um estilete para a vítima, que desmaia e morre de infarto. Há nexo causal, mas não houve dolo nem culpa em matar. Nesse caso o agente responderia por tentativa de roubo. 
Supervenientes: atuam após a conduta. Exemplo: uma pessoa baleada no peito está sendo levada ao hospital, quando a ambulância que a transporta capota, fazendo com que a vítima morra em decorrência de ter sua cabeça esmagada. Supondo que o agente teve dolo de matar, por qual crime ele deverá responder? 
As causas relativamente independentes não têm o condão de romper o nexo causal. No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo causal, o agente responderá pelo resultado, a menos que não tenha concorrido para o mesmo com dolo ou culpa. Afinal, dizer que existe nexo causal não dispensa a presença do elemento psicológico (dolo) ou normativo (culpa) da conduta, sem os quais o fato será atípico.
Na hipótese, porém, das supervenientes, embora exista nexo causal físico-naturalístico, o Código Penal, por expressa disposição do artigo 13, § 1.°, excepcionando a regra geral, manda desconsiderá-lo, não respondendo o agente pelo resultado, mas somente por tentativa. 
2.3.7. Complicações cirúrgicas e infecção hospitalar
Nesses casos, a causa é dependente ou relativamente independente?
O Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que nesses casos a causa é dependente, porque estatisticamente complicações cirúrgicas ocorrem com freqüência. Nesse caso o agente responde por homicídio consumado se agiu com dolo ou culpa.
2.4. Tipicidade
O tipo é o modelo descritivo da conduta contido na lei. Quando o fato praticado pelo agente se enquadra no tipo, ocorre a tipicidade.
O tipo legal é composto de elementares e circunstâncias.
2.4.1. Elementares
Elementar é todo componente essencial, imprescindível para a existência do tipo penal. Ausente a elementar, o tipo penal desaparece (atipicidade absoluta) ou o tipo penal será outro (atipicidade relativa). 
Por serem essenciais, os elementos estão sempre no caput da norma incriminadora, por isso o caput é chamado de tipo fundamental. Existem, no entanto, algumas figuras típicas descritas em parágrafos; essas figuras, chamadas de figuras equiparadas, são as únicas exceções.
2.4.2. Circunstâncias
Circunstâncias são dados acessórios que ficam agregados ao tipo penal e cuja função é influenciar na fixação da pena. A circunstância não é imprescindível para a existência do crime, podendo torná-lo mais grave ou menos grave.
Ressalte-se que o crime será mais ou menos grave em decorrência da circunstância, entretanto será sempre o mesmo crime (exemplo: furto durante o repouso noturno; trata-se de circunstância, tendo em vista que, sendo ou não durante o repouso noturno, ainda assim existirá o furto).
A circunstância não integra a essência do tipo penal, ou seja, se for retirado, o tipo não deixa de existir. As circunstâncias estão dispostas em parágrafos (exemplo: qualificadoras, privilégios etc.), não servindo para compor a essência do crime, mas sim para influir na pena.
2.4.3. Espécies de elementos (elementares)
São três as espécies de elementos:
Elementos objetivos ou descritivos: são aqueles cujo significado depende de mera observação, tornando desnecessária qualquer interpretação. Todos os núcleos (verbos) do tipo constituem elementos objetivos (exemplos: matar, falsificar etc.). São aqueles que independem de juízo de valor, existem concretamente no mundo (exemplos: mulher, coisa móvel, filho etc.). Se um tipo penal possui somente elementosobjetivos, ele oferece segurança máxima ao cidadão, visto que, qualquer que seja o aplicador da lei, a interpretação será a mesma. É o chamado tipo normal, pois é normal o tipo penal que ofereça segurança máxima.
Elementos subjetivos: compõem-se da finalidade especial do agente exigida por alguns tipos. Determinados tipos não se satisfazem com a mera realização do verbo. Existirá um elemento de ordem subjetiva sempre que houver no tipo as expressões “com a finalidade de”, “para o fim de” etc. (exemplo: rapto com fim libidinoso). O elemento subjetivo será sempre a finalidade especial que a lei exige. Não confundir o elemento subjetivo do tipo com o elemento subjetivo do injusto, que é a consciência do caráter inadequado do fato, a consciência da ilicitude (elemento da culpabilidade e não do tipo penal). Tipos que exigem finalidade especial são chamados tipos anormais.
Elementos normativos: são aqueles que dependem de interpretação para se extrair o significado, ou seja, é necessário um juízo de valor sobre o elemento (exemplo: mulher honesta). O que é mulher honesta? Observe-se que os elementos normativos trazem a possibilidade de interpretações equívocas, divergentes, oferecendo um certo grau de insegurança, por isso são chamados de tipos anormais. 
Existem duas espécies de elementos normativos:
elemento normativo jurídico: é aquele que depende de interpretação jurídica (exemplos: funcionário público, documento etc.);
 elemento normativo extrajurídico ou moral: é aquele que depende de interpretação não jurídica (exemplo: mulher “honesta”). 
Tipo Penal
Dolo e Culpa
Crimes Qualificados pelo Resultado
Erro de Tipo
1. TIPO PENAL
1.1. Conceito e Importância do Tipo
O tipo legal é um dos postulados básicos do princípio da reserva legal. A Constituição Federal consagra expressamente que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal” (artigo 5.º, inciso XXXIX), deixando à lei a tarefa de definir, descrever, os crimes.
Importante destacar a teoria do tipo, concebida no ano de 1907, por Ernest Beling, segundo a qual o tipo legal realiza e garante o princípio da reserva legal. Consiste na descrição abstrata da conduta humana feita, pormenorizadamente, pela lei penal e correspondente a um fato criminoso – também chamado de tipo incriminador. O tipo é, então, um molde criado pela lei, em que está descrito o crime com todos os seus elementos, sendo que alguém cometerá um delito se realizar uma conduta idêntica à constante no modelo legal.
O conceito de tipo é expresso pelo Professor Fernando Capez como “o modelo descritivo das condutas humanas criminosas, criado pela lei penal, com a função de garantia do direito de liberdade”.
	
1.2. Da Adequação Típica e suas Formas
	Adequação típica é o enquadramento do fato ocorrido concretamente ao tipo legal. Trata-se de conceito idêntico ao de tipicidade.
	Alguns doutrinadores, porém, diferenciam um conceito do outro, considerando a tipicidade mera correspondência formal entre o fato humano e o que está descrito no tipo, enquanto a adequação típica implica um exame mais aprofundado do que a simples correspondência objetiva, investiga-se se houve vontade, para só então efetuar o enquadramento.
Adequação típica de subordinação imediata: é o ajuste integral, perfeito, entre o fato e o tipo legal, sem que para a sua subsunção se exija o concurso de qualquer outra norma.
Adequação típica de subordinação mediata, ampliada ou por extensão: o fato não se enquadra imediatamente na norma penal incriminadora; exige para isto o concurso de outra disposição, por exemplo, tentativa (artigo 14, inciso II, do Código Penal) e concurso de agentes (artigo 29) – há necessidade de se combinar a norma contida na Parte Geral com o dispositivo da Parte Especial para que ocorra a exata modelagem da conduta à norma.
	As normas que ampliam o tipo penal funcionam como um elo, evitando que o fato fique sem enquadramento típico. São chamadas normas de extensão ou ampliação da figura típica.
	No caso da tentativa, a extensão ocorre no tempo, pois o modelo descritivo alcança o fato momentos antes de sua consumação – a conduta só deveria subsumir-se no tipo penal com a consumação, mas a norma que trata da tentativa faz com que retroceda no tempo e alcance o fato antes de sua realização completa. É norma de extensão ou ampliação temporal da figura típica.
	No caso da participação, também não ocorre correspondência entre o fato e o tipo, pois o partícipe é aquele que não pratica o núcleo descrito na norma, decorrendo daí a impossibilidade de adequação direta. O artigo 29 do Código Penal liga a conduta do partícipe ao modelo legal. A extensão opera-se de uma pessoa (autor principal) para outra (partícipe), denominando-se norma de extensão ou ampliação espacial da figura típica.
2. DOLO
2.1. Conceito
Existem três teorias que falam sobre o conceito de dolo:
Teoria da vontade: dolo é a vontade de praticar a conduta e produzir o resultado. O agente quer o resultado.
Teoria do assentimento ou da aceitação: dolo é a vontade de praticar a conduta com a aceitação dos riscos de produzir o resultado. O agente não quer, mas não se importa com o resultado.
Teoria da representação ou da previsão: dolo é a previsão do resultado. Para que haja dolo, basta o agente prever o resultado.
O Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimento. Ao conceituar crime doloso, o legislador indiretamente conceituou dolo: “quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo” (artigo 18, inciso I, do Código Penal). A teoria da representação, que confunde culpa consciente com dolo, não foi adotada.
2.2. Espécies de Dolo
2.2.1. Dolo normativo
É o dolo segundo a teoria clássica, causal ou naturalista. É o dolo que integra a culpabilidade e não a conduta, e tem como elementos a consciência (sei o que faço), a vontade (quero fazer) e a consciência da ilicitude (sei que é errado). É o dolo que depende de um juízo de valor.
2.2.2. Dolo natural
É o dolo segundo a doutrina finalista. Para os finalistas, o dolo passou a constituir elemento do fato típico (conduta dolosa), deixando de ser requisito para a culpabilidade. A consciência da ilicitude se destacou do dolo e passou a integrar a culpabilidade. Assim, o dolo que passou para a conduta é aquele composto apenas por consciência e vontade (sem a consciência da ilicitude, que passou a integrar a culpabilidade). É uma manifestação psicológica, que prescinde de juízo de valor. É o dolo adotado pelo Código Penal.
2.2.3. Dolo genérico
	É a vontade de realizar o verbo do tipo sem qualquer finalidade especial.
2.2.4. Dolo específico
	É a vontade de realizar o verbo do tipo com uma finalidade especial. Sempre que no tipo houver um elemento subjetivo, para que o fato seja típico, será necessário o dolo específico.
2.2.5. Dolo de perigo
É a vontade de expor o bem a uma situação de perigo de dano. O perigo pode ser concreto ou abstrato. Quando o perigo for concreto, é necessária a efetiva comprovação de que o bem jurídico ficou exposto a uma real situação de perigo (exemplo: crime do artigo 132 do Código Penal). O perigo abstrato, também conhecido como presumido, é aquele em que basta a prática da conduta para que a lei presuma o perigo (exemplo: artigo 135 do Código Penal). Os Professores Damásio de Jesus e Luiz Flávio Gomes sustentam que os crimes de perigo abstrato não existem mais na ordem jurídica.
2.2.6. Dolo de dano
 	Existe quando a vontade é de produzir uma efetiva lesão ao bem jurídico. Quase todos os crimes são de dano (exemplos: furto, homicídio etc.).
2.2.7. Dolo direto ou determinado
Existe quando o agente quer produzir resultado certo e determinado; é o dolo da teoria da vontade.
2.2.8. Dolo indireto ou indeterminado
	É aquele que existe quando o agente não quer produzir resultado certo e determinado. Pode ser:
Eventual: quando o agente não quer produzir o resultado, mas

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