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Antropologia SILVA, Raul Felipe. Resenha sobre o filme: Narradores de Javé (Um filme sobre Memória, História e Exclusão.). Desespero, Sofrimento e Luta: palavras dramáticas recheadas de sutileza, ironia e momentos tragicômicos que desenham em uma "tela" a realidade brasileira em um único cenário: o Sertão Nordestino. O filme, de Eliane Caffé, retrata a história de um povoado do Vale de Javé, situado no sertão baiano, que está prestes a ser inundado para a construção de uma enorme usina hidrelétrica. Diante dessa situação terrível, a comunidade se reúne para discutir diversas formas de como resolver o problema. De acordo com os moradores o ideal seria preparar um documento oficial, contando todos os grandes acontecimentos heroicos de sua história, justificando sua preservação, ou seja, o importante é provar para "todos" que o local abriga um patrimônio que não pode ser perdido e, por causa disso, decidem escrever os feitos da história de Javé, na esperança de impedir o tal desastre. Mas na vila só tem analfabetos, a primeira tarefa seria encontrar alguém que consiga retratar os acontecimentos. O principal candidato a realizar essa missão era o antigo responsável pela Agência de Correios do povoado – o famoso e odiado Antônio Biá, o único do vilarejo que sabe escrever. Ironicamente, ele havia sido expulso da cidade por inventar fofocas escritas sobre os moradores, isto é, forjava cartas falando mal dos vizinhos, só para aumentar a circulação das mesmas, que eram escassas no povoado e, consequentemente, manter em funcionamento a Agência de Correios onde trabalha. Porém, muito a contragosto, é escolhido para escrever o tal livro "científico", ou melhor, o da "salvação", como os moradores dizem. Escrever a história de Javé e salvá-la do afogamento é a sua oportunidade de se redimir diante da população. Mas para isso, precisa colocar por escrito os fatos que só são contados de boca a boca, de pai para filho. Começa então, uma tragicomédia com pitadas de épico e infinitas margens de reflexão. Surge, desde então, uma problemática disputa entre a história oficial e a história oral, incluindo, desta forma, a presença da oralidade e escrita no filme, assim como as tradições e culturas. Neste caminho, o escriba Antônio Biá, vai conhecendo a fundo as fantasias, as memórias e as lembranças do povo de Javé. Mas a escrita destas histórias, tão diferentes uma das outras, não estava fácil, pois as mesmas eram contadas em diferentes versões, variando de narrador a narrador. Surge então, uma pluralidade de fatos fantásticos e lendários. Por causa disso o escriba se vê entre essa impossibilidade de colocar no papel os relatos grandiosos dos moradores e, futuramente, o progresso destruidor e irremediável estava próximo de se concretizar. Nas várias versões os heróis são alterados conforme os narradores / moradores, como se os mesmos contadores fossem os próprios heróis / fundadores de Javé. Uma multiplicidade de fatos incompatíveis que deixou o ex-carteiro confuso, intacto diante de tantas histórias épicas e, consequentemente, sem reação suficiente para produzir o livro salvador. Diante dos relatos surreais e a necessidade de produzir algo convincente para salvar Javé da inundação, o letrado entrega um livro em branco para a população. Cobrado e acuado por todos no meio da rua, o mesmo sai aos berros andando de costas, um ato de muita coragem, dá a entender que seria um recuo e não uma fuga. Além disso, é importante ressaltar que a história que não é escrita por Biá é narrado por Zaqueu, um homem que viveu boa parte de sua vida longe do Vale, pois ele era o único responsável por buscar mantimentos para a população. Portanto, isso pode nos indicar que sua versão também seria o fruto de uma série de outras versões. Enfim, foi um trabalho em vão, o sertão acabou sendo destruído pela modernidade, pela hidrelétrica. A população assistiu aos prantos a transformação do sertão em mar e, com isso, junto com a destruição foi- se embora a memória, a cultura, o local e os antepassados. Uma triste história de um povo sem cultura perante a escrita, mas de uma imaginação fértil capaz de superar todos os obstáculos e dar a volta por cima para construir em conjunto a própria história que desapareceu como palavras ao vento. O filme tem como tema principal a narração, tendo como alicerce as pluralidades orais das personagens. Mostra um Brasil de todos os brasileiros, dando voz as etnias, religiões e classes excluídas... e que todos nós somos narradores de uma história sem fim... Ficha Técnica Título Original: Narradores de Javé Gênero: Drama Tempo de Duração: 100 minutos Ano de Lançamento (Brasil): 2003 Estúdio: Bananeira Filmes / Gullane Filmes / Laterit Productions Distribuição: Riofilme Direção: Eliane Caffé Roteiro: Luiz Alberto de Abreu e Eliane Caffé Produção: Vânia Catani Música: DJ Dolores e Orquestra Santa Massa Fotografia: Hugo Kovensky Direção de Arte: Carla Caffé Edição: Daniel Rezende Antropologia SILVA, Raul Felipe. Questões em síntese: sobre o filme: Narradores de Javé 1) Por que, no filme, há diferentes visões da mesma experiência? R- Apesar de todos viverem uma mesma experiência, a descrição dada por cada um ou o ponto de vista é diferente uns dos outros. Talvez uma mesma experiência vivida, seria boa para uns e não tão boa para outros; 2) Observe que no filme se diz de diferenças entre conhecimento “científico” e o popular. Fale disso. R- O conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou fatos, isto é, com toda "forma de existência que se manifesta de algum modo" (Trujillo, 1974:14). "O conhecimento científico, na sua pretensão de construir uma resposta segura para responder às dúvidas existentes, propõe-se atingir dois ideais: o ideal da racionalidade e o ideal da objetividade". O conhecimento popular é o resultado de uma experiência vivida. “Um fato ocorrido e que pode ser descrito pela experiência vivenciada”. O conhecimento popular é transmitido de geração para geração e também por experiências próprias. E é daí que vem o nome “popular”. Quando se trata de um conhecimento popular, não existe uma explicação “lógica” de como é que funcionam as coisas, uma pessoa simplesmente sabe que tem que ser feito assim, por que ela viu alguém fazendo e deu certo, ou então por que alguém disse para ela que tem que ser feito assim, mas não sabe explicar “cientificamente” como aquilo realmente funciona, ou seja, é uma educação informal. 3) A partir do filme responda o que seria a etnografia? R- Etnografia 1. Estudo descritivo das diversas etnias, de suas características antropológicas, sociais etc. 2. Registro descritivo da cultura material de um determinado povo. Etnografia é o estudo descritivo da cultura dos povos, sua língua, raça, religião, hábitos etc., como também das manifestações materiais de suas atividades. É a ciência das etnias. Do grego ethos (cultura) + graphe (escrita). A etnografia estuda e revela os costumes, as crenças e as tradições de uma sociedade, que são transmitidas de geração em geração e que permitem a continuidade de uma determinada cultura ou de um sistema social. Etnografia é inerente a qualquer aspecto da Antropologia Cultural, que estuda os processos da interação social: os conhecimentos, as ideias, técnicas, habilidades, normas de comportamento e hábitos adquiridos na vida social de um povo. A Etnografia é também parte ou disciplina integrante da etnologia, que se ocupa com o estudo descritivo, classificatório e comparativoda cultura material, ou seja, dos artefatos encontrados nas diversas sociedades. A pesquisa etnográfica tem bases antropológicas ou etnográficas, baseia-se na observação e levantamento de hipóteses, onde o etnólogo procura descrever o que, na sua visão, ou seja, na sua interpretação, está ocorrendo no contexto pesquisado. Uma das características da Etnografia é a presença física do pesquisador e a observação in loco.
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