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Narradores de Javé

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS 
CENTRO DE EDUCAÇÃO 
 
Disciplina: Saberes de Metodologias do Ensino de História 1
Aluno (a): Flávia de Oliveira Barbosa 
Profª: Andrea Giordana
ANÁLISE E PRODUÇÃO TEXTUAL DO FILME: NARRADORES DE JAVÉ
História é vida, consequentemente, viver é construir história. A partir desta reflexão, ficamos a pensar sobre a relevância do ensino de História desde as séries iniciais. O desenvolvimento da construção de identidade, do tempo cronológico, do despertar para o entendimento da nossa sociedade como um todo, são fundamentais para nossa formação como cidadãos, tendo em vista o resgate do passado para a compreensão do presente e projeção do futuro.
E nessa lógica, observamos o filme “Narradores de Javé”, que conta a história de pessoas nordestinas, simples, que tiveram suas vidas ameaçadas após a notícia de que precisavam se mudar, pois o vilarejo onde moravam, Javé, seria sacrificado para a construção de uma hidrelétrica, com o discurso de que seria em benefício da “maioria”. Este é um problema social que acontece com muitas cidades brasileiras, que são destruídas para que as grandes empresas possam construir represas, rodovias, na maioria das vezes com intenções lucrativas, em detrimento de toda história que o lugar carrega junto com sua população.
As pessoas então, começam a se perguntar o que poderia ser feito para que isso não pudesse vir a acontecer, e então recebem a resposta de que só não seria destruída a cidade, caso ela fosse reconhecida por valor histórico, como patrimônio. No entanto, ficamos a pensar sobre diversos tipos de patrimônio que não aparecem apenas na oficialidade, como a gastronomia, formas de artesanato, práticas cotidianas e histórias locais, isso também é patrimônio. E foi nessa perspectiva que aquelas pessoas tiveram a ideia de resgatar sua origem e montar um documento “científico”, ou seja, com provas, na intenção de reivindicar a desapropriação de Javé.
Porém, a maioria daquelas pessoas não eram letradas, eram ignorantes, as memórias e culturas eram transmitidas oralmente, de geração em geração, de maneiras divergentes e sem fundamentos concretos. Mas, o Antônio Biá, ex-carteiro da cidade, ficou com a responsabilidade de colher os depoimentos e repassá-los para o “livro da salvação”, como ele definiu, e esses registros, segundo ele, precisavam estar escritos de forma grandiosa, pois “uma coisa é o fato acontecido, outra é o fato escrito”. Então o objetivo era mostrar o que aconteceu com os primeiros habitantes daquela região, que foram expulsos de suas terras pelos portugueses que cobiçavam ouro, fazendo-os bater em retirada e procurar um novo local para fazer morada. E em diferentes vozes e versões, mas com a mesma intenção, alguns moradores iam compartilhando suas memórias, definindo o líder desse povo, baseados em suas ancestralidades. Ao ser contada por uma moradora mulher, a heroína era Maria Dina, mulher guerreira. Ao ser contada por um morador negro, o herói principal é um negro chamado Indalêo. Quando um dos mais idosos narra, o herói é Idalécio. 
As memórias revelam aspectos de nosso convívio com o outro; ao narrar uma experiência, nossa fala encontra a todo momento indícios do contato com grupos aos quais pertencemos; sentimentos também marcados pela experiência histórica como o medo, a saudade, o amor; e a noções como a beleza, o trabalho, a moral. A cada narrativa, características como essas nos são reveladas.
A partir dali, Antônio Biá se viu perseguido, onde ele ia, todos iam atrás, para acompanhar as escrituras dos fatos. E ele não se agradava de tantas histórias que ouvia, sempre queria acrescentar algo, floreando a escrita conforme a sua imaginação, assim podemos enxergar o quanto os homens simples são sujeitos da história e como quem é responsável por relatar essa história também é sujeito.
Podemos enfatizar aqui, a realidade no Sertão nordestino, que reflete a simplicidade de um povo e a mistura de etnias e religiões, questões de crença, hábito e cultura expressam-se na linguagem, ilustrando sua importância no processo constante de construção de nossas identidades. Além de um analfabetismo abrangente, que os deixa à mercê daqueles que detém o poder e o conhecimento. 
Desde o início Biá descreditava que pudessem impedir a ação que vinha em forma de “progresso”, apenas com narrativa escrita da história de Javé, no entanto, seguiu na missão, para não perder os privilégios que a situação lhe oferecia. E Ficamos a nos perguntar: Por que Javé só teria valor se registrada de forma escrita? Esta nunca será capaz de registrar a delicadeza, a sutileza, a espontaneidade e a imaginação próprias da oralidade.
Diante de tantas dúvidas, Biá não escreve sequer uma página do livro, e é detestado pelo povo que cultivava a esperança de frear as construções com o registro. Em sua defesa, Biá responde a partir do seu letramento com uma compreensão realista diante do contexto que viviam, afirmando que nada daquilo daria resultado diante do poder e do capital que lideravam as ordens para o fim da cidade.
 Assim como no início da história desse povo, onde foram expulsos pelo rei, porque lá tinha ouro, assim serão novamente, por habitarem em um lugar com um bem mais precioso naquele momento, que era a água.
Nas cenas finais, vendo todo o vale coberto por águas, resolve então, escrever a história de Javé, onde o progresso através da construção da hidrelétrica, trouxe tantas memórias, e afogou tantas outras, porém essa nova experiência na vida dos moradores de Javé, ressalva a resistência, a migração e a possibilidade da construção de novas histórias, novas memórias, de tudo o que será contado e lembrado pelas futuras gerações. 
Comumente ouvimos as marcantes frases: "Quem conta um conto aumenta um ponto", "Existem três verdades: a minha, a sua e a que de fato é", "O povo aumenta, mas não inventa". Enfim, são verdades populares que estão na boca do povo e que são características chaves do filme, levando a um conflito entre verdade e invenção, memória e história. E para além disso enfatiza, principalmente, o valor da escolarização, da informação e da leitura.
REFERÊNCIAS
Texto 1-OLIVEIRA. Sandra Regina Ferreira de. Os tempos que a História tem. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
Texto 2- PAIM, Elison Antonio. Lembrando, eu existo. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
Texto 3-CAIMI, Flávia Eloisa. Meu lugar na história: de onde eu vejo o mundo?. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.
LEITE, Juçara Luzia. Fazendo gênero na história ensinada: uma visão além da (in)visibilidade. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (coord.). História: ensino fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010.

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