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República Velha

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República Velha
O período que vai de 1889 a 1930 é conhecido como a República Velha. Este período da História do Brasil é marcado pelo domínio político das elites agrárias mineiras, paulistas e cariocas. O Brasil firmou-se como um país exportador de café, e a indústria deu um significativo salto. Na área social, várias revoltas e problemas sociais aconteceram nos quatro cantos do território brasileiro.
 
As décadas de 1870 e 80 marcaram o declínio do regime imperial no Brasil. O governo monárquico não foi capaz de solucionar os problemas políticos e atender às aspirações sociais que surgiram com o desenvolvimento do país e as transformações da sociedade.
Governo Deodoro da Fonseca (1889-1891): aos 62 anos de idade, o marechal Deodoro da Fonseca foi o líder da insurreição que derrubou o chefe de governo do Império brasileiro a 15 de novembro de 1889 e resultou na proclamação da República. Assumiu também a chefia do governo provisório e foi nosso primeiro presidente, eleito indiretamente pelo Congresso.
Gradualmente a monarquia foi perdendo legitimidade diante dos movimentos republicanos e abolicionistas e entrando em conflito com duas instituições importantes: o Exército e a Igreja. Em 15 de novembro de 1889 foi proclamada a República.
O governo monárquico foi derrubado por um golpe militar. A Proclamação da República foi um movimento eminentemente elitista que ocorreu sem luta e sem a participação direta das camadas populares. Uma aliança entre a elite militar do Exército e os fazendeiros cafeicultores do oeste paulista possibilitou aos republicanos tomarem o poder.
Coube ao marechal Deodoro da Fonseca a liderança do movimento golpista de derrubada do governo monárquico. De 1889 a 1894, os militares controlaram o poder político e comandaram os destinos da nação.
Governo Provisório e República da Espada
A fase em que os militares ocuparam a liderança política do país também ficou conhecida como a República da Espada. Com a derrubada do governo monárquico foi constituído um governo provisório chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca, que governou o país até 1891.
O Governo Provisório tomou algumas medidas importantes tais como a separação oficial entre a Igreja e o Estado, acabando com o regime do Padroado (a Igreja obteve autonomia e liberdade para tomar decisões relativas a questões religiosas e administrativas); a instituição do casamento civil e a criação da bandeira republicana com o lema "Ordem e Progresso".
No Governo Provisório surgiram também disputas políticas em torno do modelo republicano que seria implantado. Os militares defenderam um regime republicano centralizado, com um Poder Executivo forte o bastante para controlar o Poder Legislativo e Judiciário, e no qual os Estados (as antigas províncias) não tivessem autonomia.
Os grandes proprietários agrários, sobretudo os ricos cafeicultores paulistas, se opunham a esse modelo e defenderam um regime republicano federalista, onde os Estados fossem autônomos a ponto de poderem ser controlados econômica e administrativamente em benefício dos seus interesses.
A Constituição de 1891
A mais importante medida do Governo Provisório foi a promulgação da Constituição de 1891. O Brasil passava a ser uma República Federativa presidencialista. A República unia e congregava vinte Estados com ampla autonomia econômica e administrativa.
O texto da Carta assegurou a descentralização política. Os Estados puderam constituir seus poderes Executivo e Legislativo, ou seja, tinham liberdade para eleger seus governadores e deputados, criar impostos, possuir suas próprias forças militares e elaborar constituições.
Mas a autonomia dos Estados não ameaçou a soberania da União. O poder central ficou responsável pela defesa nacional, pelas relações exteriores e deteve as melhores fontes de renda proveniente dos impostos. Os Estados deviam plena obediência à Constituição Federal.
O poder central era constituído por três poderes: o Poder Executivo, ocupado por um presidente e um vice-presidente; o Poder Legislativo formado pelo Senado e pela Câmara Federal (cada Estado da federação era representado por três senadores, enquanto que o número de deputados federais era proporcional ao número de habitantes de cada Estado); e por fim o Poder Judiciário, formado por juízes e tribunais federais, sendo a instituição mais importante o Supremo Tribunal Federal.
A República Oligárquica
Embora a Constituição de 1891 tenha estabelecido eleições diretas por meio do voto popular para a escolha do chefe da nação, determinou, em caráter excepcional, que o primeiro governante fosse escolhido pelo Legislativo Federal. Os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, foram eleitos presidente e vice-presidentes respectivamente.
Deodoro deveria governar até 1894, mas o agravamento da crise econômica e os constantes desentendimentos entre o Poder Executivo e Legislativo e ainda os conflitos entre militares e civis, o levaram a renunciar nove meses após ter assumido o poder. A chefia do governo passou ao vice-presidente, o marechal Floriano Peixoto.
Nas eleições de 1894 Prudente de Moraes foi eleito. Aristocrata paulista e representante da elite cafeicultora, sua posse como primeiro presidente civil encerrou o período de ascendência militar sobre o governo da República Velha e marca o início de um longo período de predomínio dos civis no poder. Os anos que vão de 1894 a 1930 correspondem à fase em que os grandes proprietários de terra detiveram o poder político em defesa de seus interesses dando origem à denominação de República Oligárquica.
República das Oligarquias
 
O período que vai de 1894 a 1930 foi marcado pelo governo de presidentes civis, ligados ao setor agrário. Estes políticos saiam dos seguintes partidos: Partido Republicano Paulista (PRP) e Partido Republicano Mineiro (PRM). Estes dois partidos controlavam as eleições, mantendo-se no poder de maneira alternada. Contavam com o apoio da elite agrária do país.
 
Dominando o poder, estes presidentes implementaram políticas que beneficiaram o setor agrário do país, principalmente, os fazendeiros de café do oeste paulista.
 
Surgiu neste período o tenentismo, que foi um movimento de caráter político-militar, liderado por tenentes, que faziam oposição ao governo oligárquico. Defendiam a moralidade política e mudanças no sistema eleitoral (implantação do voto secreto) e transformações no ensino público do país. A Coluna Prestes e a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana foram dois exemplos do movimento tenentista.
A Constituição de 1891 (Primeira Constituição Republicana)
 
Após o início da República havia a necessidade da elaboração de uma nova Constituição, pois a antiga ainda seguia os ideais da monarquia. A constituição de 1891, garantiu alguns avanços políticos, embora apresentasse algumas limitações, pois representava os interesses das elites agrárias do país. A nova constituição implantou o voto universal para os cidadãos (mulheres, analfabetos, militares de baixa patente ficavam de fora). A constituição instituiu o presidencialismo e o voto aberto.
O Encilhamento
Além da elaboração da Constituição de 1891, o governo provisório de Deodoro da Fonseca foi marcado uma política econômica e financeira, conhecida como Encilhamento. Rui Barbosa, então ministro da Fazenda, procurou estimular a industrialização e a produção agrícola. Para atingir estes objetivos, Rui Barbosa adota a política emissionista, ou seja, o aumento da emissão do papel-moeda, com a intenção de aumentar a moeda em circulação.
O ministro facilitou o estabelecimento de sociedades anônimas fazendo com que boa parte do dinheiro em circulação não fosse aplicado na produção, mas sim na especulação de títulos e ações de empresas fantasmas.
A especulação financeira provocou uma desordem nas finanças do país, acarretando uma enorme desvalorização da moeda, forte inflação e grande número de falências.
Deve-se ressaltar que a burguesia cafeeira não via com bons olhos esta tentativa de RuiBarbosa em industrializar o Brasil, algo que não estava em seus planos.
 
Política do Café-com-Leite
A maioria dos presidentes desta época eram políticos de Minas Gerais e São Paulo. Estes dois estados eram os mais ricos da nação e, por isso, dominavam o cenário político da república. Saídos das elites mineiras e paulistas, os presidentes acabavam favorecendo sempre o setor agrícola, principalmente do café (paulista) e do leite (mineiro). A política do café-com-leite sofreu duras críticas de empresários ligados à indústria, que estava em expansão neste período.
 
Se por um lado a política do café-com-leite privilegiou e favoreceu o crescimento da agricultura e da pecuária na região Sudeste, por outro, acabou provocando um abandono das outras regiões do país. As regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste ganharam pouca atenção destes políticos e tiveram seus problemas sociais agravados.
 
Política dos Governadores
 
Montada no governo do presidente paulista Campos Salles, esta política visava manter no poder as oligarquias. Em suma, era uma troca de favores políticos entre governadores e presidente. O presidente apoiava os candidatos dos partidos governistas nos estados, enquanto estes políticos davam suporte a candidatura presidencial e também durante a época do governo.
 
O coronelismo
 
A figura do "coronel" era muito comum durante os anos iniciais da República, principalmente nas regiões do interior do Brasil. O coronel era um grande fazendeiro que utilizava seu poder econômico para garantir a eleição dos candidatos que apoiava. Era usado o voto de cabresto, em que o coronel (fazendeiro) obrigava e usava até mesmo a violência para que os eleitores de seu "curral eleitoral" votassem nos candidatos apoiados por ele. Como o voto era aberto, os eleitores eram pressionados e fiscalizados por capangas do coronel, para que votasse nos candidatos indicados. O coronel também utilizava outros "recursos" para conseguir seus objetivos políticos, tais como: compra de votos, votos fantasmas, troca de favores, fraudes eleitorais e violência.
 
O Convênio de Taubaté
 
Essa foi uma fórmula encontrada pelo governo republicano para beneficiar os cafeicultores em momentos de crise. Quando o preço do café abaixava muito, o governo federal comprava o excedente de café e estocava. Esperava-se a alta do preço do café e então os estoques eram liberados. Esta política mantinha o preço do café, principal produto de exportação, sempre em alta e garantia os lucros dos fazendeiros de café.
 
A crise da República Velha e o Golpe de 1930
 
Em 1930 ocorreriam eleições para presidência e, de acordo com a política do café-com-leite, era a vez de assumir um político mineiro do PRM. Porém, o Partido Republicano Paulista do presidente Washington Luís indicou um político paulista, Julio Prestes, a sucessão, rompendo com o café-com-leite. Descontente, o PRM junta-se com políticos da Paraíba e do Rio Grande do Sul (forma-se a Aliança Liberal) para lançar a presidência o gaúcho Getúlio Vargas. 
 
Júlio Prestes sai vencedor nas eleições de abril de 1930, deixando descontes os políticos da Aliança Liberal, que alegam fraudes eleitorais. Liderados por Getúlio Vargas, políticos da Aliança Liberal e militares descontentes, provocam a Revolução de 1930. É o fim da República Velha e início da
Tenentismo
 
O tenentismo foi um movimento social de caráter político-militar que ocorreu no Brasil nas décadas de 1920 e 1930, período conhecido como República das Oligarquias. Contou, principalmente, com a participação de jovens tenentes do exército.
 
Este movimento contestava a ação política e social dos governos representantes das oligarquias cafeeiras (coronelismo). Embora tivessem uma posição conservadora e autoritária, os tenentes defendiam reformas políticas e sociais. Queriam a moralidade política no país e combatiam a corrupção. 
 
O movimento tenentista defendia as seguintes mudanças: 
 - Fim do voto de cabresto (sistema de votação baseado em violência e fraudes que só beneficiava os coronéis);
 - Reforma no sistema educacional público do país;
 - Mudança no sistema de voto aberto para secreto.
 
O movimento tenentista perdeu força após a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. Vargas conseguiu produzir uma divisão no movimento, sendo que importantes nomes do tenentismo passaram a atuar como interventores federais. Outros continuaram no movimento, fazendo parte, principalmente, da Coluna Prestes.
Semana da Arte Moderna
 
A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas europeias mais conservadoras. O idealizador deste evento artístico e cultural foi o pintor Di Cavalcanti.
 
Em um período repleto de agitações, os intelectuais brasileiros se viram em um momento em que precisavam abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados em nosso país, para dar lugar a um novo estilo completamente contrário, e do qual, não se sabia ao certo o rumo a ser seguido. 
 
A Semana, realizada entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, foi a explosão de idéias inovadoras que aboliam por completo a perfeição estética tão apreciada no século XIX. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria e a liberdade de expressão; com este propósito, experimentavam diferentes caminhos sem definir nenhum padrão. Isto culminou com a incompreensão e com a completa insatisfação de todos que foram assistir a este novo movimento. Logo na abertura, Manuel Bandeira, ao recitar seu poema Os sapos, foi desaprovado pela platéia através de muitas vaias e gritos. Embora tenha sido alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao inserir suas idéias ao longo do tempo. 
Essa revolta artística era alimentada também por uma nova atitude em relação aos afro-brasileiros. O começo da República havia sido dominado pelo dogma do “branqueamento” – uma crença da elite que aceitava a superioridade “científica” dos brancos e supunha que o Brasil “alvejaria” o elemento não-branco.
Revolta de Canudos
Período: de novembro de 1896 a outubro de 1897.
Local: interior do sertão da Bahia
Envolvidos: de um lado os habitantes do Arraial de Canudos (jagunços, sertanejos pobres e miseráveis, fanáticos religiosos) liderados pelo beato Antônio Conselheiro. Do outro lado as tropas do governo da Bahia com apoio de militares enviados pelo governo federal.
 
O governo da Bahia, com apoio dos latifundiários, não concordava com o fato dos habitantes de Canudos não pagarem impostos e viverem sem seguir as leis estabelecidas. Afirmavam também que Antônio Conselheiro defendia a volta da Monarquia. Por outro lado, Antônio Conselheiro defendia o fim da cobrança dos impostos e era contrário ao casamento civil. Ele afirma ser um enviado de Deus que deveria liderar o movimento contra as diferenças e injustiças sociais. Era também um crítico do sistema republicano, como ele funcionava no período.
 
Nas três primeiras tentativas das tropas governistas em combater o arraial de Canudos nenhuma foi bem sucedida. Os sertanejos e jagunços se armaram e resistiram com força contra os militares. Na quarta tentativa, o governo da Bahia solicitou apoio das tropas federais. Militares de várias regiões do Brasil, usando armas pesadas, foram enviados para o sertão baiano. Massacraram os habitantes do arraial de Canudos de forma brutal e até injusta. Crianças, mulheres e idosos foram mortos sem piedade. Antônio Conselheiro foi assassinado em 22 de setembro de 1897.
 
A Guerra de canudos significou a luta e resistência das populações marginalizadas do sertão nordestino no final do século XIX. Embora derrotados, mostraram que não aceitavam a situação de injustiça social que reinava na região.
Revolta da Vacina
A História da Revolta da Vacina, conflitos populares no início da República,Oswaldo Cruz, reurbanização do Rio de Janeiro, condições sanitárias do Rio de Janeiro no início do século XX. O início do período republicado da História do Brasil foi marcado por vários conflitos e revoltas populares. O Rio de Janeiro não escapou desta situação. No ano de 1904, estourou um movimento de caráter popular na cidade do Rio de Janeiro. O motivo que desencadeou a revolta foi a campanha de vacinação obrigatória, imposta pelo governo federal, contra a varíola. 
 
A situação do Rio de Janeiro, no início do século XX, era precária. A população sofria com a falta de um sistema eficiente de saneamento básico. Este fato desencadeava constantes epidemias, entre elas, febre amarela, peste bubônica e varíola. A população de baixa renda, que morava em habitações precárias, era a principal vítima deste contexto.
 
Preocupado com esta situação, o então presidente Rodrigues Alves colocou em prática um projeto de saneamento básico e reurbanização do centro da cidade. O médico e sanitarista Oswaldo Cruz foi designado pelo presidente para ser o chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública, com o objetivo de melhorar as condições sanitárias da cidade.
 
A campanha de vacinação obrigatória é colocada em prática em novembro de 1904. Embora seu objetivo fosse positivo, ela foi aplicada de forma autoritária e violenta. Em alguns casos, os agentes sanitários invadiam as casas e vacinavam as pessoas à força, provocando revolta nas pessoas. Essa recusa em ser vacinado acontecia, pois grande parte das pessoas não conhecia o que era uma vacina e tinham medo de seus efeitos.
 
Revolta popular 
 
A revolta popular aumentava a cada dia, impulsionada também pela crise econômica (desemprego, inflação e alto custo de vida) e a reforma urbana que retirou a população pobre do centro da cidade, derrubando vários cortiços e outros tipos de habitações mais simples.
 
As manifestações populares e conflitos espalham-se pelas ruas da capital brasileira. Populares destroem bondes, apedrejam prédios públicos e espalham a desordem pela cidade. Em 16 de novembro de 1904, o presidente Rodrigues Alves revoga a lei da vacinação obrigatória, colocando nas ruas o exército, a marinha e a polícia para acabar com os tumultos. Em poucos dias a cidade voltava a calma e a ordem.
Relativismo Cultural
O relativismo cultural é fruto do reconhecimento da incapacidade de mensurar a cultura de um grupo, assim como manifesta-se como uma crítica as abordagens evolucionistas, segundo as quais sociedades e culturas podiam ser classificadas das primitivas às avançadas. O relativismo social foi desenvolvido no seio da antropologia social, buscando romper com as comparações e a utilização de critérios independentes para emitir juízo de valor. Assim a cultura só pode ser considerada dentro de seu próprio contexto cultural.
Trata-se de um conceito antropológico onde é impossível julgar com um olhar externo modelos e valores culturais de qualquer espécie de cultura. Estes valores seriam por exemplo a moralidade, as práticas, as crenças, entre outras. Cada qual tem a sua importância. Do valor mais básico ao mais alto. São diversos, estando assim em impossibilidade de serem julgados.
Este ponto de vista explica que há uma incompatibilidade essencial entre estruturas de valores de diferentes culturas e que inclusive não há normas diretas que permitam classificar uma cultura como melhor e outra como pior. Portanto, culturas sempre terão o mesmo valor, por mais diferentes que sejam.
Pelo relativismo cultural, todas as culturas devem ser vistas da mesma maneira. Sejam africanas, indígenas, europeias, entre outras. O relativismo cultural é dado pela sabedoria de não se medir a cultura de um grupo. As culturas podem ser classificadas como as abordagens evolucionistas: de primitivas à avançada.
Este relativismo cultural foi desenvolvido pela antropologia social, rompendo comparações e critérios. Assim, a cultura segundo o relativismo cultural só pode ser definida dentro se seu contexto social.
O etnocentrismo:
É a atitude característica de quem só reconhece legitimamente às normas e valores em vigor na sua cultura ou sociedade. Tem a sua origem na tendência de julgarmos as realizações culturais de outros povos a partir dos nossos próprios padrões culturais, pelo que não é de admirar que consideremos o nosso modo de vida como preferível e superior a todos os outros. Os valores da sociedade a que pertencemos são, na atitude etnocêntrica, declarados como valores universalizáveis, aplicáveis a todos os homens, ou seja, dada a sua "superioridade" devem ser seguidos por todas as outras sociedades e culturas. Adaptando esta perspectiva, não é de estranhar que alguns povos tendam a intitular-se os únicos legítimos e verdadeiros representantes da espécie humana.
A relação com o grupo de semelhantes nos ajuda a manter aquilo que já nos é próprio ou as categorias pertencentes ao nosso grupo. A relação com os semelhantes é uma relação de manutenção e preservação de valores e não a abertura de novos espaços e oportunidades. Exatamente o contrário é o que acontece na relação com o diferente ou o estranho: essa relação ocorre colocando em cheque os valores e saberes do grupo de semelhantes ao qual nós pertencemos. Além disso o outro coloca em cheque os nossos valores para que possamos nos pré-dispor ao novo. O processo de aprendizagem, assim como o processo de interação só tem perspectivas crescentes quando se consegue ultrapassar as próprias fronteiras, as posturas etnocêntricas, para nos lançar em direção de outros universos.
O proletariado
No Brasil, como em outras partes do mundo, a situação da classe operária era desumana.
Duas grandes tendências políticas destacaram-se no movimento operário até 1922: o anarquismo e o socialismo.
O anarquismo pode ser definido genericamente como uma corrente política cujo princípio básico é a liberdade nas relações humanas. Propunham uma sociedade igualitária, em que a propriedade fosse coletiva, não houvesse patrões nem operários e todos trabalhassem e se divertissem com liberdade. A sociedade capitalista deveria ser transformada por uma revolução que eliminasse as diferenças sociais e a propriedade privada.
Para os socialistas, além da organização sindical, era necessário organizar a classe operária em partidos políticos e lutar pelo direito à participação nas eleições. Os anarquistas recusavam-se a tomar parte em qualquer organismo institucional da sociedade burguesa.
Em 1906 foi fundada a Confederação Operária Brasileira (COB), a primeira central geral de sindicatos de trabalhadores do Brasil sob a direção dos anarco-sindicalistas. Mesmo assim, as reivindicações sociais no Brasil continuaram a ser tratadas como “caso de polícia e não de política”.
A crise do regime oligárquico
A disputa de mercados pelas potências, as rivalidades econômicas, o nacionalismo e a ampliação da capacidade destrutiva do homem, possibilitada pelo crescimento tecnológico, formaram o combustível que incendiara o mundo durante a Primeira Guerra Mundial.
A entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1917, foi decisiva para que o Brasil seguisse a mesma direção, ainda que numa posição secundária, cabendo-lhe o transporte e a vigilância dos mares, a alimentação das tropas, o envio de médicos e aviadores e a apreensão de embarcações alemãs.
Revolução Russa
Em outubro de 1917, na Rússia, os bolcheviques, setor radical influenciado pelo marxismo, assumiram a revolução proletária, cujo impacto seria decisivo sobre o movimento operário internacional.
Os revolucionários assumiriam a tarefa de construir o socialismo no mundo a partir de sua pátria, denominada em 1922 a “União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)”.
Pós Guerra
Os Estados Unidos saíram da Primeira Guerra Mundial como os grandes vitoriosos. Conquistaram mercados na Ásia, afirmaram sua liderança entre as potências capitalistas do mundo e passaram a financiar a reconstrução da Europa, destruída pela guerra. No entanto, a tendênciaeconômica seguida pelos países europeus, caracterizava-se pela restrição à entrada de produtos estrangeiros através de medidas alfandegárias. Além disso, o pós-guerra foi marcado por altas inflacionárias e desemprego acentuado.
O liberalismo econômico entrou em fase de descrédito. As democracias liberais eram questionadas em duas frentes. À esquerda, os socialistas mais radicais denunciavam a farsa parlamentar como um instrumento de dominação da burguesia sobre o proletariado. À direita, surgia o nazi-fascismo, composto por grupos ultranacionalistas, defensores de medidas autoritárias e repressivas contra o movimento operário. 
Ao contrário do princípio da luta de classes, defendido pelos marxistas, o nazi-fascismo tomava a sociedade como um corpo, um organismo onde as classes sociais deveriam estar subordinadas aos interesses gerais do Estado. Defendiam a construção de um sistema totalitário de dominação, mantendo a base econômica capitalista, mas eliminando o jogo político liberal.
A desintegração da velha política
A prolongada fraqueza do Exército nacional havia estimulado os principais estados a constituir suas próprias forças militares. 
A baixa oficialidade, especialmente os tenentes, revoltou-se contra um regime que os mantinha fora das principais esferas do poder. Depois de uma revolta fracassada no Forte de Copacabana, em 1922, o movimento tenentista eclodiu em 1924.
Outro fator de desgaste do regime foi a divisão interna das oligarquias estaduais, em que um pequeno grupo submetia os demais.
O apoio da oligarquia mineira e da paraibana – em troca da vice-presidência – permitiu a constituição da Aliança Liberal, que se contrapunha aos interesses da oligarquia cafeeira, atraindo as camadas urbanas e os remanescentes do movimento tenentista. O resultado foi o surgimento de conflitos locais na Paraíba, que culminou com uma revolta em Princesa Isabel e o assassinato de João Pessoa – o candidato a vice-presidente da Aliança Liberal.
A derrota eleitoral levou aliancistas e tenentistas a uma revolta armada, pela qual impuseram uma derrota militar ao regime já enfraquecido. Foi a Revolução de 30, que levou Getúlio Vargas ao Poder. Calcada numa produção cafeeira superior ao consumo mundial, e sustentando artificialmente os preços altos do café, a República Velha enfraqueceu-se e extinguiu-se.
ANO 1930: GILBERTO FREYRE – O REELOGIO DA COLONIZAÇÃO PORTUGUESA
Este capítulo do livro de José Carlos Reis vem debater o novo impulso a historiografia local, traga por Gilberto Freyre na obra Casa-grande & Senzala, que segundo o autor, reelaborando a dominação portuguesa na organização da identidade brasileira.
Ele começa pincelando a visão dos analistas apologéticos de Freyre: Leite, Merquior, Motta, dentre outros. Esses primeiros analistas vão delimitar a sua visão sobre a obra de Gilberto Freyre como um complexo do passado, em sua representatividade, vivida pelo autor de Casa-grande & Senzala. Ele fala do passado brasileiro como se fosse intimo do ocorrido, trazendo uma trajetória social apreciável da época, para os dias atuais.
Outros analistas como Costa, Barbu, Chacon e Lima, incrementam contextualizando a formação de Freyre como sendo norte–americana, mas com nítida influencia alemã, o tornando um historicista. Para tais analistas, essa obra é considerada perfeita, mostrando toda uma perspectiva potencial de um Brasil mestiço.
Freyre e Varnhagen
O autor Carlos Reis faz uma comparação entre as obras de Freyre e Varnhagen, como mentoras do elogio a colonização portuguesa, mostrando os pontos em que ambas convergem e que se tornam convexas.
Tais autores se afirmam que somente o sistema escravocrata e o latifúndio implantado pelos portugueses teriam a capacidade de sobreviver aos intemperes vividos no Brasil. Para Freyre, contrariando Varnhagen, a escravidão não “manchou” o nosso país, ao contrário, ela se tornou necessário para o desenvolvimento da sociedade da época. Acrescenta ainda que as alternativas propostas por Varnhagen a substituir a escravidão daria margens apenas para o inchaço de europeus no Brasil, criando uma sociedade homogênea, com menos riqueza cultural que a de hoje. Freyre vê a cultura negra como rica, e sua existência no Brasil necessário como suporte para a permanência dos portugueses nesse país. Se Varnhagen não vê com bons olhos o latifúndio e a escravidão o mesmo não acontece com Freyre.
Reis vai debater a ausência de criticidade a obra de Freyre, pois este, segundo o autor, em vez de projetar um futuro para o Brasil que entrava em um período moderno e de mudanças volta-se ao passado para tentar legitimar a dominação e a colonização portuguesa.
Freyre e Capistrano
As obras de Freyre e Capistrano são similares, segundo o texto, por muitos aspectos, principalmente quando adentram na perspectiva de uma história cultural, mas segundo Reis se distanciam quando a posição social tomada pelos autores: Freyre da continuidade a percepção varnhageniana quando a dominação portuguesa, é “continuísta, conservadora, passeísta, lusófila, patriarcalista, escravista, conservadora. Seu olhar é um olhar ‘branco’, aristocrático, elitista, embora sofisticado”. Já Capristano quebra essa perspectiva tomando uma corrente de pensamento diferente.
Freyre e os marxistas
Segundo o texto os maiores opositores a obra de Freyre são os marxistas por seguirem a perspectiva de lutas de classe e classe social. Para eles o livro Casa-grande & Senzala encobre as reais contradições existentes entre senhor e escravo, alinhando-os harmonicamente em conjunto chamando de democracia cultural.
Casa grande & senzala: pressupostos e Teses
I. A visão de Freyre do mestiço brasileiro a partir de um olhar externo ao Brasil;
II. A quebra com o marxismo, elaborando uma abordagem psicológica ou psicofisiológica;
III. A defesa portuguesa com que Freyre toma partido.
O autor vai destacar cinco teses da obra de Gilberto Freyre, que vão caracteriza sua obra:
Na primeira tese Freyre responde como aconteceu o encontro entre as três raças que formaram o povo brasileiro. Para ele esse encontro aconteceu primeiro pela dominação técnica e militar dos portugueses sobre índios e negros, que em seguida formou uma confraternização tensa e masoquista, que os tornou desiguais. Mas as necessidades sexuais e sociais obrigaram os vencedores e vencidos a se unirem, formando a miscigenação brasileira.
A segunda tese discorre por que os portugueses vencedores não se isolaram das demais raças, mas deixaram ser possível a miscigenação. Segundo Freyre, citado pelo autor, o português já era miscigenado antes de chegar ao Brasil, social e culturalmente, pertencendo a Europa e com influência africana, por isso, permitiu-se a misturar a outras raças, formando uma democracia racial. Segundo ele essa miscigenação só fez bem a formação do povo brasileiro.
A terceira tese trará a resposta sobre onde aconteceu o encontro dessas três raças, lideradas pelos portugueses. Pensado a partir do ponto de vista do português, Freyre descreve esse encontro tendo como ponto crucial a casa grande e a senzala como extensão dessa. Para ela, somente a criação de uma nova sociedade, formada a partir das plantations e escravismo, seriam capazes de favorecer a estadia do europeu nos trópicos.
A quarta tese trabalhará a questão da debilitação da raça brasileira a partir da miscigenação. Freyre discorda dessa afirmativa, revelando que a falta de robustez do povo brasileiro se deveu a carência alimentícia, a sifilizarão, o alcoolismo e a ausência de higiene. Esses pontos vão ser causas mais relevantes do que cruzamento de raças. Para ele a miscigenação criou um tipo de homem adaptável aos trópicos.
A quinta tese vem debater os anseios sociais e políticos dessa sociedade mestiça oriunda da mistura das três raças no Brasil. Freyre vê essa relação entre senhor e escravo como uma relação masoquista, onde o escravo vê seu senhor como um exemplo daquilo que ele deveria ser, ou seja, aquele que aceitaa condição social imposta. Ele descreve que a presença do negro no Brasil, formando a miscigenação, conseguiu equilibrar o antagonismo entre as três raças e os diferentes modos de produzir, reinando aqui uma democracia social. Quanto a política ele aponta o poder absoluto como o mais adequado, porquanto o pai, ou senhor, é aquele que rege o poder, pois sendo que sua família (entendo o escravo e o mestiço em sua relação afetiva com o senhor, portanto é parte da família) é um todo coesa com as decisões por aquele tomada.
O tempo histórico para G. Freyre é um tempo lento, do ócio e do lazer. Os brasileiros não gostam do trabalho, pois preferem mandar fazer. Existe o preconceito, mas não a separação das raças. Freyre acredita em uma confraternização social entre os brasileiros, mostrando que há uma democracia social.
Para os interpretadores de Freyre ele trabalha o tempo unificando a tradição com a modernidade, contornando os conflitos, colocando-os ao encontro com a doçura existente entre o senhor e o escravo. O tempo é estático, ignorando as transformações. Ele olha para o futuro do Brasil com pessimismo, prefere o passado ao presente.
Considerações sobre o texto
Primeiro a crítica a obra, que vai explicitar o olhar português de Freyre sobre a formação do povo brasileiro, colocando o luso como superior, dominante por meios legais, vencedor de uma disputa econômica e política.
Segundo, a contribuição a historiografia brasileira, sendo que esse autor vai tentar derrubar as barreiras que impulsionava o Brasil a uma sociedade inferior as demais pela sua formação racial miscigenada. O grande erro nesse embate é exatamente a influência portuguesa ainda como dominante.
Raízes do Brasil
Apresenta uma importante reflexão com relação ao processo de colonização e suas consequências na formação do povo brasileiro. Aspectos históricos, políticos, econômicos e culturais são amplamente discutidos e analisados pelo antropólogo, mostrando aos leitores que as características dos países europeus foram fundamentais na construção dos países latino-americanos.
O primeiro capítulo, “Fronteiras da Europa”, dispõe características dos países da Península Ibérica e suas diferenças no processo de colonização da América. O autor proporciona a reflexão sobre os defeitos dos brasileiros dos dias atuais, tais como frouxidão das instituições e a falta de coesão social, mostrando que esses sempre existiram desde a origem. Em outras palavras, possibilita o entendimento da origem do brasileiro, cujos defeitos foram herdados de nossos colonizadores. Alude a um dos temas fundamentais dos livros: a repulsa pelo trabalho regular e as atividades utilitárias.
No segundo capítulo, “Trabalho e aventura”, o autor distingue o trabalhador e o aventureiro, os quais possuem éticas opostas. O primeiro busca segurança e recompensa a longo prazo, já o segundo busca novas experiências e a riqueza a curto prazo. Dessa forma, considera que espanhóis e portugueses foram aventureiros no novo continente e Holanda afirma que essas características foram positivas para o Brasil.
O capítulo seguinte, “Herança rural”, analisa a marca da vida rural na formação da sociedade brasileira. Expõe sobre os donos de terras brasileiros, que ao contrário dos europeus, viviam nas colônias, providenciavam sua própria segurança e faziam suas próprias leis, direito esse concedido pelo pátrio poder. As pessoas iam aos centros urbanos a fim de participar de solenidades e festejos. O autor termina o capítulo afirmando que o ruralismo predominou pelo esforço dos colonizadores e não por imposição do meio.
O quarto capítulo, “O semeador e o ladrilhador” estuda a importância da cidade como instrumento de dominação e a diferença entre espanhol e português nesse aspecto. O espanhol teve como intuito estabelecer um prolongamento estável da Metrópole, enquanto que os portugueses foram “semeadores” de cidades irregulares nascidas e criadas no litoral.
O quinto capítulo, “O homem cordial”, aborda as consequências do desenvolvimento da urbanização, que acarretaria um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos ainda hoje. O título do capítulo não pressupõe bondade, mas o predomínio dos comportamentos de aparência afetiva não necessariamente sinceras nem profundas.
O sexto capítulo, “Novos tempos”, estuda consequências dos aspectos dispostos anteriormente na configuração da sociedade brasileira, a partir de 1808 com a vinda da Corte portuguesa, que causou o primeiro choque nos velhos padrões coloniais.
O sétimo e último capítulo, “Nossa revolução”, sugere como a dissolução da ordem tradicional ocasiona contradições não resolvidas, que nascem no nível da estrutura social e se manifestam no das instituições e ideias políticas.
Sergio Buarque de Holanda tem uma avaliação diferente da avaliação de G. Freyre. Este considera o tempo ibérico sem pressa, sem regras, sem relógio, caprichoso, ocioso, que não se preocupa em se enquadrar, ignorando prescrições, regras, imposições. E esse espírito português se acentuou com a liberdade indígena e a alegria do negro. Freyre tem saudade do espírito português. Quanto a Sérgio Buarque de Holanda, ele quer extingui-lo do coração brasileiro. 
Dadas as características culturais ibéricas, a exploração dos trópicos não seria feita por um empreendimento metódico e racional. Foi feita com abandono e desleixo. Para conhecer e analisar a colonização tropical ibérica, Sérgio Buarque de Holanda constrói dois tipos: o do aventureiro e o do trabalhador.
AVENTUREIRO: O objetivo final é mais importante do que os meios; seu ideal é colher o fruto sem plantar a árvore. Ignora fronteiras, é espaçoso, invasor, ladrão, aceita riscos, ignora obstáculos, e quando os encontra, transforma-os em trampolins. É audaz, imprevidente, criativo, ocioso e vê longe. Quer a recompensa sem esforço. Não visa à estabilidade, à paz, à segurança pessoal. O trabalhador lhe parece estúpido e mesquinho. Esse tipo aventureiro encarna-se em ladrões, traficantes, empresários desonestos, estelionatários, gente que manda fazer e explora o esforço do trabalhador. Entretanto esse tipo não precisa se encarnar necessariamente nesses personagens que agem contra a sociedade. A audácia pode servir à sociedade, aliando aventura e trabalho.
TRABALHADOR: Vê primeiro a dificuldade a vencer; está dominado pelos meios, é econômico, metódico, lento. Seu horizonte é mais curto, restrito. Realista, ele vê mais a parte que o todo. Não tolera a ética aventureira, que é desestabilizadora e contrária à segurança e à paz.
Raízes do Brasil é otimista, renova a esperança no Brasil. A libertação da dominação tradicional, a reaproximação do Estado da sociedade, a criação de novas formas de convívio, com novos valores, abre o horizonte do Brasil à democracia.
Raízes do Brasil abriu e orientou um debate fecundo sobre o passado e o futuro do Brasil; tornou-se um quadro teórico indispensável.

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