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UFRJ – Escola de Comunicação Língua Portuguesa I – LEV 110 – Turmas EC0 e EC3 Professora: Vivian Paixão 2016/1 TEXTOS PARA ANÁLISE – ORALIDADE E ESCRITA 1. Inquérito do Projeto Norma Urbana Culta (NURC-RJ) ELOCUÇÃO FORMAL (EF) Inquérito 356 Tema: Criatividade e redação no nível superior de ensino Duração: 40 minutos Data do registro: 3/5/77 Informante: sexo feminino,30 anos, formação universitária: Letras, carioca, pais cariocas, área residencial: Zona Sul. INF.: eu vou ler a introdução do trabalho para... vocês terem uma noção do que se trata... ((inicia leitura de texto)) "este trabalho visa a analisar o problema da redação e o da criatividade na expressão lingüística... focalizando especificamente o nível superior de ensino... ater-nos-emos à forma escrita da linguagem... já que esta modalidade lingüística é que nos interessa mais de perto... a expressão ORAL... é sem dúvida alguma um fenômeno relevante e criativo da atividade verbal... [...] julgamos que para o desenvolvimento pleno da expressão oral... seriam necessários... em nível superior... cursos específicos de arte dramática... visando ao teatro... e de retórica... campo fértil e interessante sem dúvida... mas que foge um pouco aos nossos interesses imediatos... no presente estudo... tenta-se fazer uma análise do ensino de português... comunicação e expressão... nos primeiro e segundo graus... uma vez que partimos do pressuposto... de que o estudante universitário não pode ser analisado como um fenômeno isolado daquela realidade... [...] este trabalho não quer... portanto... ser uma reforma... do ensino universitário em termos de redação e cria... criatividade... uma vez que isto implicaria medidas e mudanças radicais que alterariam to... todo o sistema... embora concordemos com ele... não temos a pretensão de cumprir o pensamento de George Kneller "para que possa realmente nutrir a criatividade a educação deve ser RECRIADA..." visando apenas contribuir com a nossa experiência pessoal e nossas observações de sala de aula para o ensino mais eficaz de nosso idioma... mormente naquilo que se refere à redação e à criatividade..." ((termina leitura do texto)) bom a partir... desse... dessa introdução... nós podemos... ver o primeiro ponto... que... eu focalizei aqui no trabalho... que é justamente uma análise... uma abordagem crítica dos métodos e dos livros... éh... adotados... no... primeiro e segundo graus de ensino... eu parti da análise... eu fiz a análise de mais ou menos:... vinte e cinco livros didáticos... mas também utilizei os resultados... que saíram... numa reportagem do Jornal do Brasil... do escritor éh... Osman Lins... ele tinha analisado quatrocentos e trinta e cinco trechos de livros didáticos... e chega à conclusão de que... realmente... éh... esses livros didáticos... esse novo ensino de Comunicação e Expressão... tem... deixado muito a desejar... no que tange à parte de literatura... à parte de formação literária... ele faz... uma espécie de levantamento estatístico e diz... que os autores mais citados pelos livros didáticos de Comunicação e Expressão... são Carlos Drummond de Andrade... Stanislaw... éh... Stanislaw Ponte Preta... muitas vezes Edson Arantes do Nascimento... Pelé... e... Chico Anysio... e pessoas... vinculadas sobretudo aos meios... de comunicação de massa... televisão... rádio... cinema... etc... e ele discute esta escolha... na medida em que não é que ela não seja válida... e eu particularmente sou a favor... da inserção de meios de comunicação de massa na divulgação do ensino do idioma... mas ele mostra que houve uma troca... em vez... de se estudarem os autores literários pela literatura em si... se estuda um autor literário a partir dos meios de comunicação de massa... ou seja... o fato de Carlos Drummond de Andrade... que é um dos nossos maiores poetas... encabeçar a lista... dos mais citados não se deve ao fato de ele ser um grande poeta... e sim... ao fato... de ele escrever crônicas no Jornal do Brasil... ou seja... ele é um nome conhecido através de um meio... de divulgação de massa... então para que o trabalho tomasse uma estrutura... tomasse corpo... eu parti da análise dos manuais tradicionais... e cheguei... aos manuais... aos últimos que nós temos em termos de Comunicação e Expressão... parti... éh... dos antigos... manuais... que apenas aquela visão que todos nós conhecemos... e eu não preciso ficar repetindo aqui... ou seja... de trazer um texto de Camões... né? d' Os Lusíadas ... e mandar o aluno simplesmente fazer uma análise sintática... o que acontecia é que o aluno nem sabia fazer a análise sintática... NEM aprendia nada do texto... nem entendia o texto lido e passava a odiar Camões... então o ensino se mostrava totalmente inoperante... os textos eram... escolhidos sobretudo ATÉ Camilo Castello Branco... ou seja... Camões... Dom Dinis... Almeida Garrett... e... até Camilo Castello Branco se ia... até Olavo Bilac se ia... mas depois disso não havia mais citações de texto... não é que eu tenha nada contra... contra Camões... ao contrário... não tenho nada contra Camilo Castello Branco... mas eu acho que no primeiro e no segundo graus... o... aluno ainda não tem a capacidade e a maturidade para entrar em contato com um texto deste tipo... bem... estes manuais tradicionais não funcionavam... eles ensinavam o idioma a partir de textos que não atingiam o nível do aluno... a parte de gramática era dada totalmente DESVINCULADA do texto... ou seja... havia um texto de Olavo Bilac por exemplo... e vinha uma ques/ uma... um capítulo sobre fonética... [...] ... então... de tudo -- e eu já estou passando da hora -- de tudo eu só queria deixar a sugestão pra que vocês no nível médio procurem fazer a gramática... os conceitos normativos emergirem do próprio texto do aluno... que vocês não isolem... uma realidade da outra... e... dentro da Faculdade de Letras... no que for possível... nós estaremos aqui pra transformar aquilo que for transformável... tá? ((palmas)) Transcrição na íntegra e áudio disponíveis em: http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/corpora/ef/ef_356.htm 2. Peça teatral O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna (excertos) CHICÓ Saiu mesmo não, João. Isso eu ouvi um padre dizer uma vez. (Esta cena, a partir daqui, é cortável, a critério do encenador, até a frase “Mas deixe de agonia, que o povo vem aí”.) Foi no dia em que meu pirarucu morreu. JOÃO GRILO Seu pirarucu? CHICÓ Meu, é um modo de dizer, porque, para falar a verdade, acho que eu é que era dele. Nunca lhe contei isso não? JOÃO GRILO Não, já ouvi falar de homem que tem peixe, mas de peixe que tem homem, é a primeira vez. CHICÓ Foi quando eu estive no Amazonas. Eu tinha amarrado a corda do arpão em redor do corpo, de modo que estava com os braços sem movimento. Quando ferrei o bicho, ele deu um puxavante maior e eu caí no rio. JOÃO GRILO O bicho pescou você!... CHICÓ Exatamente, João, o bicho me pescou. Para encurtar a história, o pirarucu me arrastou rio acima três dias e três noites. JOÃO GRILO Três dias e três noites? E você não sentia fome não, Chicó? CHICÓ Fome não, mas era uma vontade de fumar danada. E o engraçado foi que ele deixou para morrer bem na entrada de uma vila, de modo que eu pudesse escapar. O enterro foi no outro dia e nunca mais esqueci o que o padre disse, na beira da cova. JOÃO GRILO E como o avistaram da vila? CHICÓ Ah, eu levantei um braço e acenei, acenei, até que uma lavadeira me avistou e vieram me soltar. JOÃO GRILO E você não estava com os braços amarrados, Chicó? 58 CHICÓ João, na hora do aperto, dá-se um jeito a tudo. JOÃO GRILO Mas que jeito você deu? CHICÓ Não sei, só sei que foi assim. Mas deixe de agonia, que o povo vem aí. [...] __________________________ JOÃO GRILO O senhor não repare não, mas de besta eu só tenhoa cara. Meu trunfo é maior do que qualquer santo. MANUEL Quem é? JOÃO GRILO A mãe da justiça. ENCOURADO, rindo Ah, a mãe da justiça! Quem é essa? MANUEL Não ria, porque ela existe. BISPO E quem é? MANUEL A misericórdia. SEVERINO Foi coisa que nunca conheci. Onde mora? E como chamá-la? JOÃO GRILO Ah isso é comigo. Vou fazer um chamado especial, em verso. Garanto que ela vem, querem ver? (Recitando). Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vaca mansa dá leite, A braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, A braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, Mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, Só me falta ser mulher. ENCOURADO Vá vendo a falta de respeito, viu? JOÃO GRILO Falta de respeito nada, rapaz! Isso é o versinho de Canário Pardo que minha mãe cantava para eu dormir. Isso tem nada de falta de respeito! Já fui barco, fui navio, Mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, Só me falta ser mulher. Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! Cena igual à da aparição de Nosso Senhor, e Nossa Senhora, A Compadecida, entra. ENCOURADO, com raiva surda Lá vem a compadecida! Mulher em tudo se mete! JOÃO GRILO Falta de respeito foi isso agora, viu? A senhora se zangou com o verso que eu recitei? A COMPADECIDA Não, João, por que eu iria me zangar? Aquele é o versinho que Canário Pardo escreveu para mim e que eu agradeço. Não deixa de ser uma oração, uma invocação. Tem umas graças, mas isso até a torna alegre e foi coisa de que eu sempre gostei. Quem gosta de tristeza é o diabo. JOÃO GRILO É porque esse camarada aí, tudo o que se diz ele enrasca a gente, dizendo que é falta de respeito. 3. Textos jornalísticos (manchete / olho / lead): (O Dia online) Textos publitários: "A gente faz bem para o leite. / Somos o segundo maior produtor do paí refletindo na qualidade dos produtos que você consome, foi criado o IGL Outdoor em Vitória da Conquista / BA "A gente faz bem para o leite. / Somos o segundo maior produtor do país e seguimos crescendo. Para coordenar o desenvolvimento do setor, refletindo na qualidade dos produtos que você consome, foi criado o IGL – Instituto Gaúcho do Leite s e seguimos crescendo. Para coordenar o desenvolvimento do setor, Gaúcho do Leite."
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