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Os Cadernos de Economia formam uma coleção de textos sobre a teoria econômica. O objetivo é tratar de questões centrais da teoria econômica em linguagem informal e buscando ilustrar os pontos abordados com exemplos do dia a dia. Os textos estarão postados em meu site (www.economiaenegociosporsergiobirchal.com). Caderno de Economia 7 COMO PENSAM OS ECONOMISTAS – I Por Sérgio Birchal Os economistas não se entendem (nenhum privilégio da classe). Dizem que Wiston Churchill, com seu sarcasmo britânico, fez a seguinte observação: Se você colocar dois economistas em uma sala e pedir sugestões sobre um dado assunto, você terá pelo menos duas opiniões diferentes. Se um deles for Keynes, você terá pelo menos três opiniões diversas. John Maynard Keynes (britânico e contemporâneo de Churchill) foi um dos mais influentes economistas da primeira metade do século XX. Mas piadas a parte, existem tantas visões sobre a economia quantas as formas de ver e perceber o mundo. Além disso, as visões sobre a economia são dinâmicas. Elas vão se transformando na medida em que a economia vai se transformando também. Por isso essa é uma discussão longa e cheia de meandros. Mas vamos tentar fazer uma breve visita ao pensamento dos principais pensadores da economia. Vamos começar pela figura do filósofo escocês, considerado o pai da economia, Adam Smith (1723-1790). Em 1776 Smith publicou a obra “A Riqueza das Nações”, em que ele analisava – como um brilhante observador que era – as transformações que ocorriam na sua época (a Revolução Industrial). A Inglaterra do final do século XVIII transformava-se na fábrica do mundo, mas as fábricas (tão comuns em nossos dias) ainda eram chamadas de manufaturas. Neste período ocorria o surgimento de um enorme número de fábricas de tecido, que exportavam para o mundo inteiro seus tecidos baratíssimos e com qualidade e que paulatinamente iriam adotar o vapor como fonte de energia. Essas e outras atividades industriais não só incorporavam novas tecnologias e conquistavam novos mercados, como também implantavam novas formas de organização do trabalho baseadas na crescente divisão e especialização do trabalho. Segundo Smith, a divisão e especialização do trabalho trazem importantes ganhos de produtividade. Os ganhos de produtividade são fundamentais para o crescimento da economia acima da taxa de natalidade e, consequentemente, para o aumento do estoque de riqueza da sociedade. A divisão e especialização do trabalho geram ganhos de produtividade por que possibilitam com que os trabalhadores (1) não percam tempo trocando de atividades de natureza distinta (como fazer o cadarço e o solado de um sapato), (2) possam ser empregados para as tarefas para as quais têm maior vocação e (3) criem inovações de modo a abreviar o tempo de trabalho gasto nas tarefas que realizam inúmeras vezes e repetidamente. Da mesma forma com que o trabalhador melhora a produtividade pensando exclusivamente no interesse próprio, os negócios e a economia também proliferariam com a livre concorrência e com o livre comércio, pois os empresários estariam sempre procurando formas de melhorar a produtividade de seus negócios a fim de diminuir os seus custos e aumentar as suas margens de lucros. Assim, cada um perseguindo livremente o próprio interesse acabaria trazendo ganhos para todos: pessoas, organizações e nações. Adam Smith observava que uma economia baseada na livre concorrência e no livre comércio cresceria tanto mais quanto maior fosse a especialização e a divisão do trabalho. A maior divisão e especialização do trabalho trazem maior riqueza, fazendo com que a economia amplie as oportunidades de novas especializações e divisões do trabalho, criando um círculo virtuoso em moto perpétuo. Além disso, o que se aplicava para uma sociedade se aplicava para os países no comércio internacional. Além disso, todo este dinamismo econômico produzido pela divisão e especialização do trabalho e pela livre concorrência seria mais bem coordenado pelo livre jogo do mercado (a oferta/produção e a demanda/consumo). Em outras palavras, pela mão invisível do mercado. Como é possível concluir, Adam Smith era contra os monopólios reais (como a Companhia Britânica das Índias Orientais, uma companhia formada por comerciantes de Londres em 1600 e para quem a rainha Elizabeth I concedeu o monopólio do comércio com as “Índias Orientais” – basicamente, Índia e China). É preciso observar que a livre concorrência era a realidade na nascente indústria britânica em função da pequena dimensão dos mercados, das precárias condições de transporte e comunicações e da relativa simplicidade da tecnologia da época. Adam Smith fez escola e uma série de brilhantes economistas (senão todos) foi ampliando, criticando e atualizando o seu legado.
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